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Revista Setembro 2017final2

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<strong>Setembro</strong>o /2017<br />

Mariana<br />

<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural


A Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural é<br />

uma publicação eletrônica da Associação<br />

Memória, Arte, Comunicação e Cultural de<br />

Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar<br />

artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.<br />

A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos<br />

de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma<br />

forma leve, histórias e curiosidades que marcaram<br />

estes 321 anos da primeira cidade de Minas.<br />

Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong><br />

Belas Artes é um passo importante para a<br />

divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a<br />

cidade de Mariana. Esperamos que os textos<br />

publicados contribuam para a formação de uma<br />

consciência de preservação e incentivem a<br />

pesquisa.<br />

Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />

são de inteira responsabilidade dos autores.<br />

Colaboradores:<br />

Prof. Cristiano Casimiro<br />

Cássio Vinício Sales<br />

Bruna Santos<br />

Thalia Gonçalves<br />

Agradecimentos:<br />

Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana<br />

IPHAN - Escritório Mariana<br />

Arquivo Fotográfico Marezza<br />

Museu Paulista / Museu do Impiranga<br />

Fotografias:<br />

Cristiano Casimiro, Fábio Júlio,Vitor Gomes, Arquivo da Cãmara<br />

Arquivo Marrrezza - Marcio Lima<br />

Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />

Capa: Brasão das Armas do Império - Câmara Municipal de Mariana<br />

Foto - Cristiano Casimiro<br />

Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />

CNPJ: 06.002.739/0001-19<br />

Rua Senador Bawden, 122, casa 02


Indice<br />

Marianenses que ajudaram na Independência do Brasil.<br />

O Processo de Independência e a participação de Marianenses.<br />

04<br />

O Legado de Gomes Freire<br />

Politico, Médico, Advogado e Professor<br />

12<br />

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré<br />

A Matriz de Santa Rita Durão<br />

O último Tropeiro<br />

A História de Sô Mário da Cachoeira<br />

24<br />

28


Independência ou Morte!, também conhecido como O Grito do Ipiranga, 4,15×7,6m, 1888, Museu Paulista<br />

O artista Pedro Américo de Figueiredo e Melo terminou de pintar o quadro em 1888 em<br />

Florença, na Itália (66 anos após a independência ser proclamada). Foi a Família Real que<br />

encomendou a obra, pois ela investia na construção do Museu do Ipiranga (atual Museu<br />

Paulista). A ideia da obra era ressaltar o poder monárquico do recém-instaurado império. A<br />

tela foi encomendada pela família imperial para registrar o momento da independência do<br />

Brasil ou grito do Ipiranga.<br />

04


Marianenses que ajudaram<br />

na Independência do Brasil<br />

Cristiano Casimiro<br />

˝Um povo sem memória é um povo sem futuro˝. A frase não é minha, está escrita no<br />

Estádio Monumental David Arellano, Santiago – Chile, mas ela traduz, com clareza e<br />

simplicidade, a importância da preservação da nossa memória .<br />

A história de Mariana é entremeada por personalidades cuja expressão histórica requer<br />

estudos e menções, sem os quais as novas gerações permanecerão privadas dos elementos<br />

vitais, formadores da consciência cívica e da cidadania.<br />

Em todos os momentos, as circunstâncias da nossa história inspiram homens que se<br />

tornaram emblemáticos, lutando pela liberdade, Igualmente e a fraternidade.<br />

Mariana possui credenciais para ser reconhecida como uma das cidades brasileiras que<br />

tem oferecido ao País um expressivo número de personalidades com inegáveis dimensões<br />

históricas.<br />

A Independência do Brasil, , foi um dos mais importantes fatos históricos da História do<br />

Brasil., tirou o Brasil da situação de colônia portuguesa, possibilitando sua independência<br />

política e econômica. Este fato histórico contou com participação importante de alguns<br />

Marianenses.<br />

O processo de independência do Brasil foi mais complexo e menos apoteótico do que, a<br />

imagem da tela do artista paraibano Pedro Américo, em sua obra mais conhecida, o famoso<br />

quadro Independência ou Morte!, também conhecido como O Grito do Ipiranga.<br />

No final do século XVIII e início do XIX, aumentaram no Brasil as pressões e descontentamento<br />

contra o monopólio comercial imposto por Portugal ao Brasil. As elites agrária e<br />

comercial brasileira desejavam liberdade econômica para poder ampliar o comércio de<br />

seus produtos. Esta liberdade só seria obtida com a independência do país.<br />

Outros movimentos e tentativas anteriores ocorreram e muitas pessoas morreram na luta<br />

por este ideal. Podemos citar o caso mais conhecido: a Inconfidência Mineira (1789), com a<br />

participação do poeta e advogado Marianense Cláudio Manoel da Costa .ardo defensor da<br />

independência do nosso país.<br />

No processo que culminou com a Independência do Brasil, ocorrida em 7 de setembro de<br />

1822, tivemos a participação fundamental de três Marianenses , cuja a história e desconhecida<br />

por muitos em nossa terra. São eles: Capitão-mor José Joaquim da Rocha, João<br />

Severiano Maciel da Costa, Marquez de Queluz e o Felisberto Caldeira Brant Pontes de<br />

Oliveira Horta, Marquez de Barbacena.<br />

05


CAPITÃO-MOR JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA<br />

O Capitão-mor José Joaquim da Rocha,<br />

do conselho de Sua Majestade o<br />

Imperador, dignitário da ordem imperial<br />

do Cruzeiro, nasceu na cidade de<br />

Mariana, em Minas Gerais, em 19 de<br />

outubro de 1777; fez seus estudos no<br />

Seminário Nossa Senhora da Boa Morte e<br />

com tanto aproveitamento, que com 16<br />

anos de idade, por escolha de seu mestre<br />

o padre Pascoal Bernardino de Matos,<br />

tornou-se professor de latim. Casou-se<br />

em 25 de abril de 1798.<br />

Serviu vários cargos da governança e<br />

ofícios de justiça, únicos empregos que<br />

então havia em sua cidade natal, e com tal<br />

perícia e bom desempenho que , foi<br />

promovido ao posto de capitão-mor.<br />

Em 1808, quando a família real portuguesa<br />

chegou ao Rio de Janeiro, estabeleceu<br />

como advogado na então capital; logo<br />

se destacou como um dos mais hábeis<br />

advogados de seu tempo, mesmo não<br />

tendo a formação completa, tanto no cível<br />

como no eclesiástico, o seu trabalho foi<br />

sempre prestado gratuitamente aos<br />

homens do foro, aos pobres, e às viúvas<br />

desvalidas; e aos ricos mesmo só exigia o<br />

pagamento de seu trabalho antes pelo<br />

valor da causa do que pelo valor do<br />

mesmo trabalho.<br />

Em 1821, quando se proclamou no Rio de<br />

Janeiro a Constituição de Portugal, o<br />

capitão-mor Rocha aderiu a ela como o<br />

meio mais seguro de manter-se a união<br />

das províncias do Brasil, que por vezes<br />

tinham dado mostras de quererem-se<br />

separar uma das outras; nas primeiras<br />

reuniões para a escolha dos eleitores que<br />

deviam nomear os deputados às Cortes<br />

Constituintes de Portugal foi ele sempre<br />

contemplado; já para compromissário<br />

paroquial, já para eleitor de comarca, e já<br />

para eleitor de província; a província de<br />

Minas o elegeu deputado suplente às<br />

Cortes de Portugal.<br />

No momento que antecedeu o 7 de<br />

setembro 1822, fundou em sua casa o<br />

Clube da Resistência, mais tarde chamado<br />

de Clube da Independência, do qual<br />

tomam parte alguns dos articuladores do<br />

movimento no Rio de Janeiro, como José<br />

Clemente Pereira, Luís Pereira da<br />

Nóbrega de Sousa Coutinho, Luís de<br />

Menezes Vasconcelos de Drummond,<br />

entre<br />

O clube liderado pr o José Joaquim da<br />

Rocha começou a luta pela permanência<br />

do príncipe Dom Pedro no Brasil . A de<br />

José Joaquim da Rocha era conquista o<br />

príncipe na causa da independência e<br />

conseguir o apoio das províncias de<br />

Minas , Rio e São Paulo.<br />

"Agindo, conspirando, falando em clubes<br />

políticos, secretos e até em reuniões, de<br />

público; escrevendo em jornais e panfletos,<br />

ou mantendo-se em constante<br />

entendimento com seus amigos mineiros,<br />

fluminenses e paulistas; estimulando<br />

a formação da consciência nacional e<br />

preparando ambiente favorável ao golpe<br />

final, José Joaquim da Rocha se<br />

multiplicou nessa época numa assombrosa<br />

atividade e teve a seu lado outros<br />

preciosos e destemidos colaboradores<br />

de tão grata causa". Rocha Pombo:<br />

Seu Clube da rua da Ajuda na cidade do<br />

Rio de janeiro, fundado especialmente<br />

para a propaganda da Independência, foi<br />

efetivamente o centro indicador e propulsor,<br />

de toda a ação libertária, e onde tudo<br />

se tramou e movimentou, com segurança<br />

de êxito, desde o regresso da Família<br />

Imperial até a eclosão memorável do DIA<br />

do FICO em 9 de janeiro, e mais tarde,<br />

ainda, para o 7 de setembro de1822.<br />

Após o fechamento da Constituinte por d.<br />

Pedro I, em 1823, acompanha Bonifácio<br />

em seu exílio na França. Eles mantêm<br />

longa e sincera amizade. Morreu em 28<br />

de janeiro de 1868, no Rio de Janeiro.<br />

07


Vitor Gomes<br />

JOÃO SEVERIANO MACIEL DA COSTA<br />

Marquês de Queluz<br />

joão Severiano Maciel da Costa nasceu<br />

em Mariana - MG em 1760.<br />

Formado em Direito pela Universidade<br />

de Coimbra. Pertenceu ao Conselho de<br />

D. João VI .<br />

Ingressou na Magistratura e, em 1808,<br />

alcançou o cargo de Desembargador<br />

do Paço, no Rio de Janeiro. Nomeado<br />

Governador da Guiana Francesa,<br />

permaneceu no cargo de 1809 até<br />

1819. Foi Conselho do Imperador D.<br />

Pedro I, ministro do Império e do<br />

Estrangeiro. Homem dedicado ao<br />

números, período em que exerceu o<br />

cargo de Ministro da Fazenda, entre<br />

outras iniciativas, destacaram-se:<br />

promulgação das primeiras leis orçamentárias,<br />

criação do grande Livro da<br />

Dívida Pública:<br />

“O ministro de Estado da Fazenda,<br />

havendo recebido dos outros ministros<br />

os orçamentos relativos às despesas<br />

das suas repartições, apresentará na<br />

Câmara dos Deputados anualmente,<br />

logo que esta estiver reunida, um<br />

balanço geral da receita e despesa do<br />

Tesouro Nacional do ano antecedente,<br />

e igualmente o orçamento geral de<br />

todas as despesas púbicas do ano<br />

futuro e da importância de todas as<br />

contribuições e rendas públicas”.<br />

instalação da Caixa de Amortização,<br />

Implantou a redução para 5% a cobrança<br />

do quinto do ouro e criação da Em<br />

18 de junho de 1827 criou a Alfândega<br />

em Paranaguá. Alfândega é uma<br />

espécie de Repartição Pública encarregada<br />

de vistoriar bagagens e mercadorias,<br />

além de cobrar os correspondentes<br />

direitos de entrada e saída.<br />

Escreveu vários livros entre os quais se<br />

destacam:<br />

Reflexões sobre a união das três<br />

Guianas: Francesa, Portuguesa e<br />

Hola desa, para formarem um reino<br />

anexo ao governo do príncipe D.<br />

João.<br />

Ÿ Memória sobre a necessidade de<br />

abolir a introdução dos escravos no<br />

Brasil.<br />

Ÿ O Barão do Rio da Prata nu e cru,<br />

Ÿ Projeto de Constituição para o<br />

Império do Brasil.<br />

Foi um dos pilares da consolidação do<br />

Brasil como país independente<br />

08


FELISBERTO CALDEIRA BRANT PONTES<br />

DE OLIVEIRA HORTA Marquês de Barbacena<br />

Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira<br />

Horta,Marquês de Barbacena, nasceu<br />

em Mariana, 19 de setembro de 1772 —<br />

13 de junho de 1842) foi um militar, diplomata<br />

e político brasileiro.<br />

Foi para portugal ainda bem jovem, na<br />

capital portuguesa frequentou o Colégio<br />

dos Nobres e, posteriormente, a Academia<br />

de Marinha. Transferiu-se para o Estado-maior<br />

do exército português e foi ajudante<br />

de ordens do governador de Angola.<br />

voltou ao Brasil em 1808 junto com a corte<br />

de Dom João VI. Após a Independência<br />

do Brasil foi nomeado encarregado de<br />

negócios do Brasil em Londres, para tratar<br />

do reconhecimento da independência<br />

do Brasil pelo Reino Unido. Sendo, o primeiro<br />

embaixador do Brasil.<br />

Foi pioneiro da navegação a vapor, introduzindo<br />

este tipo de navegação no Brasil,<br />

também, foi o precursor das ferrovias<br />

coma a máquina à vapor.<br />

Depois ministro da Fazenda, ministro do<br />

Império, deputado geral e senador do<br />

Império do Brasil de 1826 a 1842.<br />

Enviado como comandante-chefe das<br />

tropas brasileiras na guerra Cisplatina.<br />

Já em dezembro lhe coube organizar o<br />

ministério e fez reformas salutares. Por ter<br />

influência sobre D. Pedro I, conseguiu a<br />

partida de Rocha Pinto e do Chalaça, Francisco<br />

Gomes da Silva. Há historiadores<br />

que o elogiam como o mais inteligente dos<br />

auxiliares de D. Pedro.<br />

Foi figura extremanente importante para a<br />

concretização da independência do Brasil.<br />

Este homens forjaram a história do<br />

Brasil. Lutaram para nossa Independência<br />

Seu feitos devem ser lembrados por cada<br />

Marianense com muito orgulho.<br />

Vitor Gomes<br />

09


Obra : O Fico - Minas e os mineiros na Independência(1937)<br />

Autor: Salomão de Vasconcellos<br />

10


O Fico - Minas e os mineiros na Independência<br />

O livro apresenta a participação de Minas Gerais no movimento que culminou na independência<br />

do Brasil, detendo-se no episódio do Fico (janeiro de 1822). O texto destaca a<br />

participação diversos políticos mineiros nas negociações para a permanência de D. Pedro<br />

e coloca em discussão a importância do Fico, atribuindo-lhe centralidade no processo de<br />

ruptura política do país em relação a Portugal. logo no prefácio o autor, Salomão de<br />

Vascioncelos, nos mostra a importãncia dos Mineiros e principalmente do Marianense José<br />

Joaquim da Rocha neste processo.<br />

‟O Brasil republicano tem lamentavelmente relegado para ingrato olvido o nome e a lembrança<br />

de muitos dos seus gloriosos filhos, que, tendo sido magna pars na grandiosa<br />

cruzada da liberdade nacional, não mereceram até hoje, dos homens e da pátria, o mais<br />

singelo preito.<br />

No que se refere, particularmente, à cooperação mineira, deu-se mesmo um salto inexplicável<br />

do episódio da Inconfidência ao 7 de setembro, deixando-se destarte no esquecimento<br />

um longo período de 33 anos, durante o qual, modestos, mas abnegados compatriotas,<br />

no seio das lojas maçônicas, ou ostensivamente, prestaram à causa da pátria os mais<br />

arrojados serviços.<br />

O Conselheiro José Joaquim da Rocha, tido com razão como o primeiro motor da<br />

Independência, o desembargador José Teixeira da Fonseca Vasconcellos (Visconde de<br />

Caeté), Pedro Dias Pais Leme (Marquês de Quixeramobim), o Conselheiro Paulo Barbosa<br />

da Silva, o padre Belchior Pinheiro de Oliveira, o tenente-coronel Joaquim José de<br />

Almeida, Juvencio Maciel da Rocha e Innocencio Maciel da Rocha, mineiros todos, e que<br />

´tão destacado papel desempenharam nos acontecimentos políticos de 1812 a 1822 — tais<br />

são, entre outros, obreiros devotados da formação da nossa pátria, condenados, entretanto,<br />

uns, ao indiferentismo, e outros apenas relembrados como figuras secundárias do<br />

quadro histórico.<br />

A memória de tão beneméritos cidadãos, relembrando-lhes os serviços e a coragem cívica,<br />

que procuraremos, nas páginas singelas deste livrinho; render e prestar o merecido culto.‟<br />

Salomão de Vasconcellos<br />

Belo Horizonte — 1937.<br />

11


Mariana de G


omes Freire<br />

Foto: Fábio Júlio


A Mariana de Gomes Freire<br />

A professora Manuela Costa Areias em na sua tese de mestrado Viva a Republica- Representações<br />

da Banda União XV de Novembro e em sua tese de doutorado A Primeira República<br />

na Cidade dos Bispos nos mostra a dimensão da grandiosidade de Gomes Freire e<br />

sua importante participação do desenvolvimento de Mariana. material abaixo extraido do<br />

trabalho da professora.<br />

A administração do Dr Gomes Freire com presidente da Câmara Municipal de Mariana, nos<br />

primeiros anos da República, foi marcada pela mudança radical na estrutura da cidade.<br />

Houve uma luta homérica para criar uma rede ferroviária local. O forte desenvolvimento<br />

das ferrovias indicava o dinamismo econômico e a modernização da cidade.<br />

O meio de transporte ferroviário, que começou a prosperar, em Minas, no final do século<br />

XIX. Chegaria à Mariana no início do sec XIX. Nas atas das sessões da Câmara Municipal<br />

de Mariana, do final do séc XIX e início do séc XX, podem ser detectadas propostas de<br />

projetos para construção de linhas de bonde a vapor, teatro, jardim, sistema de abastecimento<br />

e escoamento de água e esgoto, eletrificação urbana, hospital e a extensão do sistema<br />

ferroviário.<br />

A expansão da estrada de ferro na região colaborou com o avanço do comércio na cidade<br />

de Mariana. A inauguração do ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil, ligando Ouro<br />

Preto a Mariana, em 1914, revela a ansiedade das elites políticas regionais em sintonizar o<br />

espaço urbano do município ao novo modelo de modernização estruturado em outras localidades.<br />

Diante disso, “as estradas de ferro começaram a penetrar no interior de Minas, promovendo<br />

a circulação rápida de produtos, hábitos e ideias . Conforme Cláudia Damasceno<br />

Fonseca, pouco tempo depois, inaugurava-se o prédio da estação rodoviária de Mariana,<br />

no mesmo ano (1921) e no mesmo estilo “moderno” que o da capital Belo Horizonte, para o<br />

assombro da conservadora sociedade marianense .O meio de transporte férreo também<br />

colaborou com a circulação de novas ideias vindas dos grandes centros urbanos. O Germinal,<br />

jornal fundado pelo Dr Gomes Freires, divulgou matéria em 1917: “No interior já estão a<br />

par de tudo quanto ocorre no Rio, especialmente em Mariana, onde a estrada de ferro levou<br />

nestes últimos anos notável progresso” .<br />

Assim a transformação urbana e social implantada pelo Dr Gomes Freire mudou completamente<br />

a Mariana colonial.<br />

Foto: Cristiano Casimiro<br />

Antigo Hospital criado por Gomes Freire e as Irmãs Vicentinas


Dessa maneira, desde fins do século XIX, Mariana passou a absorver diferentes traços que<br />

influenciaram os hábitos e costumes da população. O jornal O Espeto, de setembro de 1928,<br />

chama a atenção para alguns aspectos relacionados ao distrito de Passagem, oriundo de<br />

Mariana:<br />

É iluminado a luz elétrica, tem uma excelente rede de telefonia, telégrafo, correio e é<br />

servido pela Estrada de Ferro Central. É sede da Companhia Minas de Passagem que<br />

explora a extração do ouro e a fabricação do arsênico e, que, em importância na<br />

espécie, é a segunda do Brasil. Este distrito possui um bom cinema, um teatrinho,<br />

importantes sociedades de beneficência, três sociedades recreativas, uma dramática<br />

e literária, duas de Sport, duas de bandas, quatro escolas públicas, sendo uma<br />

noturna, importantes casas comerciais [...] (Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de<br />

Mariana. Jornal, O Espeto. Mariana, 30 de set. 1928, ano I, n° 1, p. s/p).<br />

Em 1918, foi instalada a luz elétrica em Mariana, pelo convênio com a Companhia Ouro Preto<br />

Gold Mines of Brasil. “Este acontecimento era aguardado pela população com impaciência,<br />

pois dela dependia a viabilidade do sonhado processo de industrialização de Mariana,<br />

processo já ocorrido em outras cidades mineiras como Juiz de Fora, desde fins do século<br />

anterior”<br />

Da mesma forma que houve a grande circulação de produtos e ideias, as revistas e os<br />

jornais também se proliferaram no município através do transporte férreo. Essas revistas<br />

traziam notícias diversas sobre moda, política, cotidiano, comportamentos sociais, e<br />

propagavam a imagem de um novo modo de viver frente à época moderna.<br />

Apesar de terem acontecido todos esses esforços para enquadrar o município no projeto de<br />

modernização do país, Mariana, assim como outras cidades históricas, entre elas Ouro<br />

Preto, tiveram dificuldades de acomodar satisfatoriamente valores e “estilos de vida”.<br />

Caixa D´água da Rua Dom Silvério<br />

Foto: Cristiano Casimiro


Dr Gomes Freire - Sala dos Ex- Presidentes da Câmara Municipal de Mariana<br />

16


Gomes Freire de Andrade Médico, Politico e Professor<br />

Nasceu em Mariana (Minas Gerais) em 3<br />

de janeiro de 1865, filho de Antonio<br />

Gomes Freire de Andrade (Totó Barão) e<br />

de Maria Augusta Lebet Freire de<br />

Andrade. Falecido em Belo Horizonte em<br />

9 de fevereiro de 1938, onde o seu corpo<br />

foi sepultado. Neto de Gomes Freire de<br />

Andrade, Coronel do Exército (Regimento<br />

de Minas) e Barão de Itabira.<br />

Menino ainda ficou órfão do pai,<br />

assumindo sua mãe por decisão judicial o<br />

dever de educá-lo. A ele e a seu irmão<br />

Augusto Freire de Andrade. Juntos não<br />

haviam chegado, na ocasião, à casa dos<br />

oito anos de idade. Matriculados no<br />

Seminário de Mariana, ainda hoje<br />

mantido pela Arquidiocese, nele fizeram<br />

os estudos indispensáveis à inscrição aos<br />

exames de admissão dos cursos<br />

superiores de Medicina, o primeiro, e de<br />

Direito, o segundo, na Escola de Medicina<br />

do Rio de Janeiro e na Escola de Direito<br />

do Largo São Francisco em São Paulo,<br />

respectivamente.<br />

Carente de recursos materiais, Gomes<br />

Freire de Andrade contraiu empréstimo<br />

p e c u n i á r i o e m q u e e s t a v a m<br />

discriminadas ano a ano do curso as<br />

parcelas da operação financeira de seis<br />

anos, acrescidas de outros valores<br />

imprescindíveis à sua permanência na<br />

capital federal.<br />

Colou grau em 19 de janeiro de 1888 e<br />

obteve Carta de Doutor em Medicina em<br />

21 de maio de 1890, passando a exercer a<br />

profissão em Mariana.<br />

Quanto a Augusto, conseguiu, no início do<br />

curso, emprego remunerado na imprensa<br />

paulista, sustentando-se assim na capital<br />

daquele Estado.<br />

Gomes Freire de Andrade casou-se em<br />

Mariana com Maria do Carmo Breyner<br />

Freire de Andrade que lhe deu três filhos:<br />

1) Augusto Gomes Freire de Andrade<br />

seguiu a mesma carreira do pai.<br />

2)Henrique Gomes Freire de Andrade<br />

que, feito o curso médio também em Ouro<br />

Preto, concluiu o de Direito na Faculdade<br />

de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio<br />

3) Carmen Freire de Andrade que<br />

frequentou o Colégio Providência a tempo<br />

próprio e faleceu solteira.<br />

Ganhou acento na República Velha a<br />

carreira política que empreendeu, iniciada<br />

pelo mandato de Vereador à Câmara<br />

Municipal da qual se tornou Presidente,<br />

exercido cumulativamente com o de<br />

Chefe do Poder Executivo Municipal de<br />

1908 a 1916, conforme inscrição abaixo<br />

da sua fotografia no salão de entrada do<br />

p r é d i o d o Ó r g ã o L e g i s l a t i v o .<br />

Ardente defensor do ideal republicano, a<br />

favor de cujos princípios se converteu em<br />

arauto de intensa propaganda, se elegeu<br />

Deputado Estadual Constituinte para a<br />

primeira legislatura de 1891, em Ouro<br />

Preto.<br />

.<br />

Fonte: http://www.gomesfreiredeandrade.xpg.com.br/2.html<br />

17


A Sociedade Musical União XV de Novembro nasceu, em 1901, pelar iniciativa do Dr.<br />

Gomes Freire de Andrade: médico, professor, liderança política local e diretor do Partido<br />

Republicano na cidade. O objetivo claro da criação da sociedade musical foi a propaganda<br />

republicana.<br />

Foto Arquivo Márcio Lima


E, em seguida por razões compreensíveis,<br />

Senador em Minas para as quinta ,<br />

sexta e sétima legislaturas (1907 a 1918).<br />

Em virtude de sua eleição para Deputado<br />

Federal, nona legislatura, renunciou ao<br />

restante do mandato de Senador, dedicando-se<br />

integralmente aos desafios do<br />

de Deputado Federal. Primoroso orador.<br />

Integrou o Partido Republicano Mineiro,<br />

havendo assinado com João Pinheiro da<br />

Silva e outros companheiros de credo político,<br />

em 1888, o Manifesto de Ouro Preto.<br />

Com o advento da República Nova caiu<br />

em desgraça dos que assumiram o poder<br />

e m 1 9 3 0 .<br />

No campo do magistério grangeou o respeito<br />

de colegas e alunos da Escola de<br />

Farmácia de Ouro Preto à qual chegou em<br />

1891, por concurso, como catedrático de<br />

Higiene e Microbiologia. Quanto ao cargo<br />

de Professor de Patologia na Faculdade<br />

de Medicina de<br />

Minas Gerais, fundada em Belo Horizonte<br />

em 1911, para o qual foi contratado no ano<br />

seguinte, não pôde assumi-lo diante da<br />

impossibilidade de presença diária na<br />

Capital. Ficam registrados, a propósito, os<br />

dados a seguir: Gomes Freire de Andrade<br />

foi orador da sua turma, paraninfada pela<br />

Princesa Isabel e, para receber o título de<br />

Doutor, defendeu a tese ¨Raiva Hidrofóbica¨,<br />

momentoso assunto do seu tempo.<br />

Depois de permuta de imóveis em Mariana,<br />

devidamente registrada, passou a residir<br />

no sobrado da praça que ainda hoje<br />

tem o seu nome (sede atual do Marianense),<br />

dela fazendo centro de reuniões e convivência<br />

de políticos e líderes dos distritos,<br />

subdistritos e povoados do município,<br />

para discussão e decisão de assuntos pert<br />

i n e n t e s à c o m u n i d a d e .<br />

Certas obras são, na atualidade, retratos<br />

vivos da administração realizada sob o<br />

seu comando com o apoio decisivo da<br />

Arquidiocese: calçamento em seixos rolados<br />

de ruas dos diversos distritos, incluído<br />

o da sede; manutenção e extensão da<br />

rede hidráulica e de esgotamento; Cemitério<br />

de Santana; Instalação da primeira<br />

casa de saúde na rua Nova, hoje Dom Silvério,<br />

coadjuvado pelas irmãs da congregação<br />

local; e extensão da linha ferroviária<br />

d e O u r o P r e t o à c i d a d e .<br />

A peculiaridade mais perceptível de sua<br />

personalidade no tocante à boa saúde da<br />

população está em que, no princípio da<br />

sua atividade médica não dispunha de<br />

meio de transporte rápido, fato que o obrigava<br />

a deslocar-se usando montaria de<br />

animais que mantinha em estrebaria existente<br />

em terreno de sua casa. Mesmo<br />

assim, chamado, não se fazia de rogado,<br />

pondo-se a caminho do endereço do doent<br />

e n e c e s s i t a d o d a s u a a t e n ç ã o .<br />

Transitava bem, ao lado disso, por textos<br />

em grego e latim não fosse ele egresso do<br />

Seminário. Tinha por costume usar nas<br />

viagens no lombo de animais calças cortadas<br />

em tecido caqui e o par de óculos,<br />

quando não o pince-nez, era o seu indisp<br />

e n s á v e l c o m p a n h e i r o .<br />

Nunca dirigiu automóvel, mesmo quando,<br />

premido pela necessidade tecnológica, o<br />

adquiriu como facilitador da sua locomoção.<br />

A leitura era como que sua predileta<br />

opção, se o tempo lhe permitia esse prazer.<br />

Ia dos clássicos, de preferência, à literatura<br />

popular. Amava a poesia e a música.<br />

FONTES<br />

1) Casasanta. Mário, Grandes Vultos de Minas Gerais,<br />

in: <strong>Revista</strong> Alterosa, Belo Horizonte 4(28), ago, 1942./<br />

ABRANCHES, Dunshee de. Governo e Congresso da<br />

República dos Estados Unidos do Brasil, 1889 a 1917,<br />

Rio de Janeiro. M. Abranches, 1918, v. 2 / Minas Gerais,<br />

Belo Horizonte, 10, fev. l938, p. 18 (apud tomo I de dois<br />

mandados imprimir pela Assembléia Legislativa do Estado<br />

com ligeira biografia de personalidades mineiras que<br />

se destacaram nas duas Repúblicas: a Velha e a Nova,<br />

In: Biblioteca do Órgão Legislativo.<br />

19


Bruna Santos<br />

Há 15 anos, a Câmara de Mariana reconhece os filhos da terra que se destacam em outros<br />

municípios. Criada pela Resolução nº 41 de 2003, a Menção Honrosa Dr. Gomes Freire de<br />

Andrade é uma homenagem aos marianenses que se destacam profissionalmente e em<br />

atividades sociais, culturais, filantrópicas ou religiosas além dos limites municipais, e,<br />

assim, difundem o nome de Mariana em outras cidades.<br />

Na última sexta-feira, dia 15 de setembro, quatorze marianenses receberam a placa que<br />

registra a honraria. A cerimônia foi realizada no Cine-Teatro Municipal Sesi-Mariana e<br />

destacou o expressivo legado do patrono homônimo da comenda: o ex-presidente da<br />

Câmara, médico e professor marianense, Dr. Gomes Freire de Andrade.<br />

Adélia Porto discursou em nome dos homenageados e falou com orgulho da sua trajetória<br />

na cidade. A oradora não poupou elogios às instituições de ensino da cidade que fazem<br />

parte da sua história e destacou como cada uma delas contribuiu para a sua formação. "O<br />

coração fica palpitante. Senti uma grande emoção em retornar para a minha cidade e poder<br />

representar outros marianenses em uma noite tão especial. É muito gratificante e muito<br />

honroso", afirma a homenageada.<br />

.


O vereador Ronaldo Bento foi o orador da cerimônia representando o legislativo. O<br />

parlamentar falou da contribuição de Gomes Freire de Andrade para o desenvolvimento de<br />

Mariana. "Devemos nos inspirar neste marianense. Os marianenses que vivem o dia a dia<br />

da cidade e outros, como os homenageados que estão em outros municípios por<br />

compromissos de trabalho, mas que nunca deixam de ser “gaveteiros” e sempre sentem<br />

orgulho de suas origens", destaca.<br />

Durante a solenidade, o presidente do Legislativo Municipal, vereador Fernando Sampaio,<br />

entregou para a diretora da Escola Estadual Dr. Gomes Freire de Andrade, Renata Coelho<br />

Correia, a revistinha em quadrinhos confeccionada pela Câmara sobre a história do<br />

patrono da Menção Honrosa, da escola e da Banda União XV de Novembro, que encerrou<br />

a cerimônia com um repertório diversificado<br />

Presidente Fernando Sampaio de Castro<br />

e homenageada Marina Fonseca Cotta<br />

Vice-presidente Deyvson de Nazareth Ribeiro e<br />

homenageada Olívia Cristina Silva Ferreira<br />

1º Secretário Antônio Marcos Ramos de Freitas<br />

e homenageado Frederick Ibraim<br />

2º Secretário Juliano Vasconcelos Gonçalves e<br />

homenageada Fernanda de Lima Menezes<br />

MARIANA


Vereador Adimar José Cota<br />

e homenageado Willy Ank de Morais<br />

Vereador Antônio Marcos Ramos de Freitas<br />

e homenageada do Vereador Bruno Mól -<br />

Maria Geralda Dutra Cerceau<br />

Vereador Cristiano Silva Vilas Boas e<br />

homenageado Paulo Henrique de Oliveira<br />

Vereadora Daniely Cristina Souza Alves<br />

e homenageado Marcelo Dias Teixeira<br />

Vereador Edson Agostinho de Castro Carneiro<br />

e homenageado Júnio Quintão Pereira<br />

Vereador Geraldo Sales de Souza<br />

e homenageada Adélia Miranda Porto<br />

Vereador Gerson Teixeira da Cunha<br />

e homenageada Ângela Maria de Oliveira Alvarez<br />

Vereador José Jarbas Ramos Filho<br />

e homenageada Juçara Moreira Teixeira<br />

Verador Marcelo Monteiro Macedo<br />

e homenageada Carolina de Oliveira Souza<br />

Vereador Ronaldo Alves Bento<br />

e homenageado Luciano Gustavo Valentim


EM QUADRINHOS<br />

A revista em quadrinhos registra o legado deste grande marianense com o obje vo de que<br />

possamos ser mul plicadores dos seus feitos. Traduz o reconhecimento e gra dão no intuito que a<br />

sua história Dr Gomes Freire, possa inspirar outros marianenses. E parte do Projeto de Educação<br />

Patrimonial da Câmara Municipal de Mariana. O material foi criado pelo professor Cris ano<br />

Casimiro e pela Jornalista Bruna Santos e tem como público alvo os alunos da Escola Estadual Dr<br />

Gomes Freire.


IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DE NAZARÉ<br />

“[...], construída de madeira, taipa e adobe, é excepcional pelo seu risco. [...]”<br />

Conego Raimundo Trindade:


Data de construção: Primeira metade<br />

Séc. XVIII tem data que foi benta em 28<br />

de maio de 1729, segundo o Cônego<br />

Raimundo Trindade foi construída pelo<br />

Sargento-Mor Paulo Rodrigues Durão.<br />

Germain Bazan informa que o atual não<br />

é o templo primitivo, acrescentando que<br />

o Livro de Receitas e Despesas da<br />

Irmandade do Santíssimo Sacramento,<br />

faz alusão aos trabalhos executados na<br />

segunda metade do Séc. XVIII por<br />

Domingo Francisco Teixeira. Concedeuse<br />

licença para reedificar a capela-mor<br />

em 1779, tendo sido dadas as condições<br />

e orçamento para essa reedificação em<br />

1780 pelo conhecido construtor Jose<br />

Pereira Arouca. Domingo Francisco<br />

Teixeira executou toda a obra de<br />

carpinteiro e de pedreiro pertencente a<br />

esta Irmandade até 1794, ano em que<br />

ainda trabalhava.<br />

A igreja foi construída de madeira,<br />

adobe, e taipa. Possui duas sacristias<br />

laterais. A nave apresenta uma<br />

disposição muito rara: na entrada o<br />

corredor se abre para a nave por meio de<br />

duas arcadas que se curvam sobre um<br />

pilar, e esta disposição repete-se no<br />

andar das tribunas.<br />

O frontispício tem a composição<br />

habitual, com duas torres sineiras,<br />

cobertas com telhados piramidais,<br />

curvilíneos, com esfera armilar e catavento.<br />

A porta central é almofada, de<br />

verga curvilínea, encimada por uma<br />

c o m p o s i ç ã o a r c a i c a d e g o s t o<br />

renascentista e nicho com imagem.<br />

Apresenta duas janelas rasgadas de<br />

verga curva, almofadadas, com postigo<br />

envidraçado central.<br />

No interior, destacas se nos quatro<br />

cantos em balcões estão os quatro<br />

doutores da Igreja.<br />

Deve ser atribuída a Ataíde. A pintura<br />

parece contemporânea da capela-mor<br />

de Santa Bárbara. Aqui, nos balcões<br />

centrais apoiados sobre as paredes<br />

laterais se apresentam dois anjos<br />

cantores, sobre a parede do coro um só<br />

cantor é sobre o arco cruzeiro, outro com<br />

livros.<br />

Nos balcões-púlpitos vermelhos dos<br />

cantos estão de pé:<br />

Santa Clara com o báculo, Santa<br />

Gertrudes Magna com o báculo, São<br />

Gonçalo de Lagos e<br />

São Jerônimo Emiliano.


26


Cássio Vinício Sales<br />

Monumento tombado pelo IPHAN conforme ao processo Nº 356-T-45<br />

Inscrição Nº 240, Livro Histórico, vol.1, fls.40, e<br />

Inscrição Nº 306 Livro de Belas Artes, vol.1, fls.64.<br />

Data: 05.11.1945<br />

INVENTARIO DE BENS MÓVEIS E INTEGRADOS VITAE/IPHAN<br />

IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DE NAZARÉ<br />

Distrito Santa Rita Durão, Mariana, MG.


Foto Arquivo Nicim Ramos<br />

Sô Mário da Cachoeira<br />

O último Tropeiro<br />

28


Na sua forma simples e alegre de ser, o<br />

senhor Mário foi revivendo todo o seu passado.<br />

“A vida dos tropeiros não era fácil. Às<br />

vezes, chegávamos a ficar de 15 até 60<br />

dias fora deixando a nossa casa, família.<br />

Por que tropas? Tropas, porque viajávamos<br />

em vários burros e sempre com um<br />

grupo de amigos.<br />

As panelas levávamos em balaios. Os<br />

alimentos, também. Pois, quem cozinhava<br />

éramos nós.<br />

O maior pesar era deixar o meu pequeno<br />

distrito de Cachoeira do Brumado, - Mariana<br />

MG. Mas não tínhamos opção. Essa<br />

era a luta! Tínhamos que buscar o pão de<br />

cada dia!<br />

O tropeiro era um homem que trabalhava<br />

e não tinha dinheiro, pois as nossas panelas<br />

de pedra-sabão, na maioria das<br />

vezes, eram trocadas por algo. Realizávamos<br />

a permuta.<br />

Viagem seguia..., sempre ao som das marchas<br />

dos cavalos que montávamos: “Pocotó,<br />

pocotó, pocotó...”<br />

Antes às coisas eram difíceis. Hoje nem<br />

tanto. Antes, não era possível comunicar<br />

com a família, não existia celular. Hoje, as<br />

viagens são com transportes de rodas.<br />

Banho não era diário, não! E era o “tradicional<br />

banho de cavalo”, que é quando você<br />

toma banho com um caneco derrubando a<br />

água sobre o corpo.<br />

A nossa alimentação era sempre baseada<br />

em arroz, feijão, torresmo e farinha. Não<br />

levávamos gordura. Poderia derramar!<br />

Então, levávamos o torresmo e o fritávamos.<br />

Com a gordura que sobrava, preparávamos<br />

os alimentos. Também, usávamos<br />

comer muito o “capitão”. O capitão é<br />

feijão com farinha amassados na mão.<br />

Sabe, um dos pratos típicos de Minas, o<br />

“feijão tropeiro”, ganhou esse nome, por<br />

causa de nós, tropeiros, que, na maioria<br />

das vezes, comíamos feijão com farinha e<br />

torresmo.<br />

O café da manhã era gemada. A Receita?<br />

Gema do ovo, rapadura e café. O modo de<br />

fazer: Raspe um pouco da rapadura.<br />

Depois a misture com a gema do ovo e<br />

bata. Em seguida, acrescente café (já coado).<br />

E pronto! Pode beber!Era a gemada<br />

que nos sustentava até a hora do almoço.<br />

Passavam-se dias e dias e nada de chegarmos.<br />

Às vezes, eram tantos, que os<br />

alimentos em casa acabavam e só restava<br />

chuchu. Eu mesmo, quando criança,<br />

cantava para a minha mãe: “Chuchu no<br />

almoço, chuchu no jantar, chuchu na peneira<br />

de coar fubá”.<br />

Não tínhamos fogão. Mas os viajantes de<br />

atualmente, que cozinham, têm fogão.<br />

Usávamos uma trempe, que colocávamos<br />

no chão. Ela tinha uns ganchinhos,<br />

onde pendurávamos os caldeirões.<br />

Não sei se vocês acreditam, mas..., no<br />

meio de todas essas viagens em tropas,<br />

eu encontrei a minha primeira namorada.<br />

Foi lá em São Miguel do Anta. Eu tinha 17<br />

anos. O nome dela era Francisca, mas a<br />

chamava de Chica. Não era Chica da Silva,<br />

mas era Chica e até bonita. Só que ela<br />

foi embora para o Paraná. Meu destino<br />

era Nazinha.<br />

Chegava a noite. Hora de dormir. Então<br />

cada um pegava o seu couro e o abria.<br />

Uns, além do couro, tinham o seu colchão<br />

de palha ou a capa gaúcha. E dizíamos: “<br />

É do couro que sai a correia. ”<br />

Cocoriocó... Cocoriocó..., galo cantando.<br />

Hora de acordar e retornar às nossas obrigações.<br />

E isso até no dia em que as panelas<br />

acabassem.<br />

Quando esse dia chegava, era dia de festa.<br />

Hora de voltar para casa!<br />

Ao avistarmos Cachoeira do Brumado, o<br />

coração começava a bater mais forte e<br />

veloz, de tanta saudade. Os olhos se<br />

enchiam d'água. Eram lágrimas. Lágrimas<br />

de emoção. Lágrimas daqueles que<br />

encontram a família depois de muito tempo.<br />

”<br />

Thalia Gonçalves<br />

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