Outubro /2017
Mariana
Revista Histórica e Cultural
A Mariana - Revista Histórica e Cultural é
uma publicação eletrônica da Associação
Memória, Arte, Comunicação e Cultural de
Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram
estes 321 anos da primeira cidade de Minas.
Mariana - Revista Histórica e Cultural Revista
Belas Artes é um passo importante para a
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a
cidade de Mariana. Esperamos que os textos
publicados contribuam para a formação de uma
consciência de preservação e incentivem a
pesquisa.
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos
são de inteira responsabilidade dos autores.
Colaboradores:
Prof. Cristiano Casimiro
Prof. Vitor Gomes
Agradecimentos:
Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana
IPHAN - Escritório Mariana
Arquivo Fotográfico Marezza
Museu da Música de Mariana,
Fotografias:
Cristiano Casimiro, Vitor Gomes, Caetano Etrusco e
Arquivo Marrrezza - Marcio Lima
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro
Capa: Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana
Associação Memória Arte Comunicação e Cultura
CNPJ: 06.002.739/0001-19
Rua Senador Bawden, 122, casa 02
Indice
Mariana de Athaide
O Maior Pinto do Barroco Mineiro
04
Festa de Nossa Senhora do Rosário
As três Irmandades do Rosário em Mariana
Pedro Aleixo
O Presidente nascido em Mariana
12
22
Conde de Assumar
300 anos da chegada do Conde de Assumar a Vila de Nossa
Senhora do Carmo
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Santa Ceia - Manoel da Costa Athaide - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
Manoel da Costa Athayde
O Maior Pintor do Barroco Mineiro
Filho de um alferes português e de uma
carioca, Manoel da Costa Athaide foi um
dos mais importantes artistas do barroco
mineiro. Seus modelos eram livros como os
catecismos e as bíblias que vinham da
Europa, como as gravuras de Jean-Louis
Demarne e Francesco Bartolozzi. As
pinturas perspectivistas que executou em
várias igrejas mineiras representam
tesouros da arte colonial brasileira. Sua
vida, assim como a de muitos outros artistas
seus contemporâneos, permanece pouco
conhecida em várias passagens.
Manoel da Costa Athaide nasceu Mariana
em 18 de outubro de 1762. Pintor, dourador,
encarnador, entalhador. mineiro. Suas
obras mais destacadas são as pinturas na
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
de Assis de Ouro Preto, realizadas entre
1801 e 1812; e as do forro da capela-mor da
Igreja Matriz de Santo Antônio na cidade de
Santa Bárbara, de 1806; o painel A Última
Ceia, no Colégio do Caraça, executado em
1828; a pintura do forro da capela-mor da
Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade de
Itaverava, de 1811, e a do forro da capelamor
da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
de Mariana, de 1823. No período de 1781 a
1818, encarna e doura as imagens de
Aleijadinho (1730 - 1814) para o Santuário
do Bom Jesus de Matosinhos, em
Congonhas do Campo. Segundo a crítica
Lélia Coelho Frota, o artista teria utilizado
seus quatro filhos como modelos para a
confecção dos anjos que adornam os
diversos forros e painéis por ele executados
e sua esposa para a execução da madona
mulata, retratada no forro da Igreja da
Ordem Terceira de São Francisco de Assis
de Ouro Preto.
Manoel da Costa Athaide destaca-se como
um dos principais nomes da pintura rococó
mineira do início do século XIX. A exemplo
dos artistas da época, sua atividade como
pintor abarca o exercício de douramento e
encarnação de imagens e elementos
decorativos em talha, pinturas parietais e
sobre painel, mas fundamentalmente
pintura decorativa de forros e tetos de
igrejas. As mais antigas notícias sobre seu
trabalho como artista datam de 1781 e
referem-se a obras de pintura e douramento
de retábulos. Contudo é já adentrando o
século XIX que realiza trabalhos de vulto
como, a encarnação das estátuas em
madeira dos Passos da Paixão, esculpidas
por Aleijadinho e seu ateliê, o retoque da
pintura do teto da nave e a pintura das
Capelas dos Passos do Horto e da Prisão
n o S a n t u á r i o d o B o m J e s u s d o s
Matosinhos, em Congonhas do Campo,
entre 1799 e 1819. Seu mais bem-sucedido
trabalho é novamente realizado com
Aleijadinho, na Igreja de São Francisco de
Assis, em Ouro Preto: entre 1801 e 1812,
Athaide pinta o teto da nave da capela
representando como tema central a
Assunção da Virgem, legando-nos um dos
exemplares mais perfeitos da pintura de
perspectiva do período colonial brasileiro.
05
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
Não se sabe ao certo como se dá a
formação artística de Athaide. Seu pai, Luiz
da Costa Athaide, aparece eventualmente
nos livros de registros de Ordens Religiosas
c o m o p r e s t a d o r d e s e r v i ç o s n ã o
especificados, sendo provável que tenha
contribuído para a formação do filho.
Segundo o historiador Carlos Del Negro, a
semelhança entre as pinturas de forro de
João Batista de Figueiredo e Athaide
indicam que o primeiro teria sido mestre do
segundo. Entretanto outros nomes
aparecem associados ao pintor, como o de
João Nepomuceno Correia e Castro autor,
entre outras, da pintura da nave do referido
santuário e de Antônio Martins da Silveira,
autor da decoração pictórica do teto da
capela-mor do Seminário Nossa Senhora
da Boa Morte de Mariana. Ambos figuram
como introdutores do estilo rococó em
Minas Gerais, cuja primeira fase na pintura
abrange o período entre os anos de 1770 e
1800. Não se sabe ao certo quem foram os
mestres do pintor mineiro, tem-se
conhecimento, entretanto, da figura de
Athaide como mestre. Em 1818 recebe do
Senado da Câmara de Mariana atestado de
professor das "Artes de Arquitetura e
Pintura". Com ele, dirige-se ao Rei Dom
João VI (1767 - 1826) a fim de pleitear, sem
sucesso, a criação oficial da "Aula de
Desenho de Arquitetura Civil e Militar e da
Arte da Pintura" em sua cidade natal.
Como os artistas-artesãos da época,
Athaide segue cânones importados de
Portugal. Em geral, as cenas a serem
executadas eram copiadas de gravuras e
estampas de missais e livros sagrados,
sendo o artista responsável apenas pela
adaptação da imagem ao espaço e aos
recursos técnicos disponíveis. Por
exemplo, no caso dos seis painéis imitando
azulejo (executados entre 1803 e 1804),
que representam cenas da vida de Abraão e
decoram a capela-mor da Igreja de São
Francisco de Assis, em Ouro Preto, Athaide
copia seis gravuras de uma edição francesa
da Bíblia ilustrada por Demarne. Tal fato não
representa demérito nenhum ao artista
colonial, pois seu talento se revela
exatamente na sabedoria com que faz tal
t r a n s p o s i ç ã o , s i m p l i fi c a n d o a s
composições originais a fim de adaptá-las
ao reduzido espaço. Em comparação com
elas, percebe-se um caráter intimista no
tratamento das cenas e uma maior
expressividade do desenho, que elimina o
aspecto solene presente no modelo. Essa
linha expressiva que tende a criar corpos
volumosos e lânguidos, que quase não
conhece ângulos retos e transforma a
anatomia dos corpos em traços curvos, é
uma das características mais marcantes da
obra de Athaide.
No que diz respeito à pintura de perspectiva
de forro, o artista mineiro segue esquema
de inspiração rococó elaborado em meados
da segunda metade do século XVIII, em
Minas Gerais: medalhão em forma de
"quadro recolocado" emoldurado de
rocalhas e colocado no centro do teto,
sendo sustentado por maciços elementos
arquitetônicos (pilastra, coluna, arco e
frontão curvilíneo), que assentam na parte
média das paredes reais da igreja. O
espaço arquitetônico ilusório tende a ser
recheado de anjos, figuras bíblicas,
concheados, laçarias, ramalhetes de flores
e outros motivos delicados que se prendem
uns aos outros por curvas e contracurvas,
dando leveza e ritmo à totalidade da
composição. Do mesmo modo, a paleta do
artista, rica em tons de vermelho, azul,
branco, amarelo, sépia e marrom, deve ser
compreendida segundo os padrões do
período. O alto valor artístico de Manoel da
C o s t a A t h a i d e e n c o n t r a - s e n a
superioridade técnica de suas realizações,
marcadas pelo perfeito desenho de
perspectiva e corpos em escorço, pela
harmonia cromática e pelo já citado
desenho altamente expressivo. No entanto,
o artista também ficou conhecido por seus
anjos e virgens mulatos, cuja inspiração
teria encontrado em sua companheira e
seus filhos.
CAVANCANTI e Ayala. Dicionário Brasileiro de Ar stas Plás cos. MEC/INL, 1973-77.
DEL NEGRO, Carlos. Dois mestres de Minas: José Soares de Araújo e Manoel da Costa
Ataíde. Universitas, Salvador, nº 2, 1969.
07
Pia Batismal e Tela e Manoel da Costa Athaide - Sé de Mariana- Foto: Caetano Etrusco
Tela e Manoel da Costa Athaide - Sé de Mariana- Foto: Caetano Etrusco
Teto da Igreja do Rosário de Mariana Manoel da Costa Athaide - Foto: Cristiano Casimiro
O VI COLÓQUIO INTERNACIONAL HISTÓRIA DA ARTE: Imagem Ilusionista –
Imagem Perspéctica: Pintura e arquitetura do Tempo Colonial - Manuel da Costa
Ataíde e sua pintura ilusionista, busca refletir sobre as manifestações artísticas,
culturais e metodológicas da obra de arte entre os séculos XVI e XX na Europa e
na América, evidenciando a pintura ilusionista, análise sobre a representação
perspéctica e arquitetônica, como ainda estudos específicos sobre a tratadística
entre o Renascimento e o Rococó.
A edição 2017, deste evento que é bianual, se realizará em Mariana (MG) entre os
dias 27 e 29 de Outubro de 2017 e discutirá ainda, a produção artística de Manuel
da Costa Ataíde, pintor marianense do século XVIII/XIX e importante expoente da
pintura em perspectiva do período colonial em Minas Gerais
Local de Realização do Evento:
Auditório do Hotel Providência - Rua Dom Silvério, 233 - Mariana - MG
informações:www.coloquioperspectiva.com.br
Festa de Nossa Senhora do Rosário
A palavra Rosário quer dizer um tanto de
rosas, um buquê de rosas que se oferece a
Nossa Senhora. Cada Ave Maria é uma
rosa que oferecemos à Mãe, com carinho e
esperança. Assim, quando rezamos o
Santo Rosário completo, oferecemos um
buquê de duzentas rosas a Nossa
Senhora.
Nossa Senhora do Rosário (ou Nossa
Senhora do Santo Rosário ou Nossa
Senhora do Santíssimo Rosário) é o título
mariano apresentado aquando da aparição
da Santíssima Virgem Maria a São
Domingos de Gusmão em 1208 na igreja
do mosteiro de Prouille, na qual a mãe de
Jesus entregou o Santo Rosário ao frade
dominicano. É também o título pelo qual a
Virgem Maria se apresentou aos três
pastorinhos nas Suas aparições em
Fátima.
Em agradecimento pela vitória da Batalha
de Muret, o nobre Simão IV de Monforte
mandou construir o primeiro santuário
dedicado a Nossa Senhora da Vitória. Em
1572, o Papa Pio V instituiu "Nossa
Senhora da Vitória" como uma festa
litúrgica para comemorar a vitória da
Batalha de Lepanto. A vitória foi atribuída à
intercessão da Virgem Maria por ter sido
feita uma procissão do rosário naquele dia
na Praça de São Pedro, em Roma, para o
sucesso da missão da Liga Santa contra os
turcos otomanos no oeste da Europa. Em
1573, Papa Gregório XIII mudou o título da
comemoração para "Festa do Santo
Rosário" e esta festa foi estendida pelo
Papa Clemente XII a toda a Igreja Católica.
Após as reformas do Concílio Vaticano II a
festa foi renomeada para Nossa Senhora
do Rosário. A festa tem a classificação
litúrgica de memória universal e é
comemorada dia 7 de outubro, aniversário
da batalha.
A festa do Rosário de Nossa Senhora no
Brasil está ligada a grupos negros que
realizam os autos populares conhecidos
pelos nomes de Congada, Congado ou
Congos. Por essa vinculação aos negros, o
Congado se tornou também uma festa de
santos de cor, como São Benedito e Santa
Efigênia.
A Festa de Nossa Senhora do Rosário
celebra a vitória dos cristãos na Batalha de
Lepanto, durante a qual as forças do Islão
foram derrotadas sob a proteção da Virgem
do Rosário, acontecimento que motivou
uma comemoração especial pela liturgia da
Igreja por determinação do Papa Gregório
XII.
Desde o início da colonização brasileira, a
Igreja Católica ensinou que os festejos
religiosos deveriam ter a novena, a missa
cantada, a benção do Santíssimo, o Te
Deum – cerimônia de ação de graças - e a
procissão. Esta determinação valia para
qualquer tipo de irmandade ou confraria de
qualquer que fosse a classe social. O missal
vinha do Vaticano com as orações, ofícios e
regras de como realizar o ritual.
N a C o l ô n i a , o s a d m i n i s t r a d o r e s
portugueses definiram que os negros,
alforriados ou não, deveriam se organizar
em Irmandades ou Confrarias enquanto
grupos sociais. A Igreja Católica, por sua
vez, definiu que a devoção desses grupos
deveria ser a Nossa Senhora do Rosário.
Desde suas origens, na África, os negros já
a conheciam. Outros vieram a conhecê-la
aqui, através da catequização. Em Minas
Gerais, a Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos foi fundada no
início do século 18, com a finalidade de
atender as necessidades sociais, religiosas,
jurídicas e de saúde dos negros. Assim,
sabe-se que, desde 1717, os negros se
organizaram em Irmandades de Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Negros,
com estatutos registrados, para receberem
a prestação de serviços oferecidos por elas.
Para uma Irmandade se auto-sustentar, os
irmãos negros deveriam pagar uma taxa
mensal como a de qualquer outra irmandade
de brancos ricos, brancos pobres ou
mulatos
Os jesuítas escolheram a devoção a Nossa
Senhora do Rosário para os negros porque
a iconografia da Virgem com o rosário nas
mãos lhes lembrava a deusa Afã ou Ifã, cujo
sacerdote responsável utilizava as
sementes de uma palmeira para jogá-las
como búzios para ficar sabendo do futuro
dos devotos. A imagem de Menino Jesus
que a Nossa Senhora carrega tem
significado especial, pois os negros, desde
então, valorizavam a procriação e a
maternidade. Logo, não foi difícil convencêlos
a seguir a devoção a Nossa Senhora do
Rosário. Este é o verdadeiro porquê da
Igreja Católica ter definido ser a devoção a
Nossa Senhora do Rosário a ideal para os
negros, dentre as inúmeras devoções e
iconografias de Nossa Senhora.
Festa de Nossa Senhora do Rosário em Padre Viegas - Mariana - Mg - 2017.
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Brasão e coroa de Nossa Senhora do Rosário- Igreja do Rosário de Mariana - foto Cristiano Casimiro
Igreja NS do Rosário de Padre Viegas - Marezza PHOTO
Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Padre Viegas
A respeito dessa igreja, consta que no local
havia uma primitiva capela dedicada a
Santa Efigênia, construída pelo casal
Antônio Lopes Chaves e Helena Maria de
Jesus. A construção de uma igreja maior
teria sido iniciada a partir de 1740, no
mesmo local, sendo que o mesmo casal
também teria colaborado nas suas obras.
Consta também que um certo padre
Francisco Fernandes Fialho também
esteve envolvido nas atividades da nova
matriz O Cônego Raimundo Trindade,
principal referência a respeito das igrejas
do bispado de Mariana, anota: “A freguesia
de Nossa Senhora do Rosário do
Sumidouro, na Comarca de Mariana, é de
instituição remota. Deu-lhe a qualidade de
colativa o alvará régio de 16 de janeiro de
1752“.
Consta que em inicio do século XIX essa
igreja estava em situação de ruína, e há
registros acerca de uma possível obra de
reconstrução, sendo que é não possível
inferir a amplitude dessa obra. O que se
pode ver é que a igreja possui uma bela
fachada, discretamente avançada em
relação às torres, que, por sua vez, se
parecem com as da igreja da Ordem
Terceira de São Francisco em Mariana.
O interior é simples, porém harmônico, com
o altar-mor e os dois colaterais ornados de
talha tendente ao rococó. A igreja possui
colunas e tribunas nas laterais da nave
principal, e a capela do santíssimo possui
um belo e piedoso crucifixo, provavelmente
da mesma época da edificação da matriz.
Essa igreja sempre passou por diversas
obras de reparação, todas elas conduzidas
por moradores do próprio local. Em meados
do século XX, parte do templo desmoronou,
e as obras de reparos foram financiadas
pela própria comunidade, com uma equipe
encabeçada por Sebastião Gomes,
Roberto de Castro e Pedro Gomes, sob os
auspícios do Cônego Jadir Trindade.
Nos anos 1990 a igreja novamente passou
por grandes reparos, nos quais atuaram
José Calixto da Silva, Morais Guido de
Lima, João Facundo de Souza, Geraldo de
Jesus Gomes e o carpinteiro Antônio
Zacarias.
O interessante na história dessa igreja é
que ela ainda mantém todas as suas
características setecentistas e a pureza do
estilo original – algo raro quando se trata de
templos históricos brasileiros que passam
por muitas reformas.
www. patrimonioespiritual.org
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Igreja NS do Rosário de Santa Rita Durão - Marezza PHOTO
Igreja Nossa Senhora do Rosário de Santa Rita Durão
É desconhecida a história da capela de Nossa Senhora do Rosário, localizada em Santa Rita
Durão, distrito de Mariana, a 40 km da sede urbana. Tudo indica, a julgar por seu sistema
construtivo, que seja da primeira metade do século XVIII. Para Germain Bazin, entretanto, a
construção do monumento data possivelmente da segunda metade do século XVIII,
conservando as características do estilo sóbrio de 1720. A capela de Nossa Senhora do Rosário
possui estrutura independente de madeira, com vedação em adobe e pau-a-pique, o que a
aproxima bastante da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Sabará. Cercada por muro
baixo e precedida por pequeno adro e um mata-burros - ambos de pedra - constitui uma
composição típica de igrejas mineiras. A fachada principal é composta por porta única central, de
grandes dimensões, com folhas almofadadas e duas janelas rasgadas, com vergas curvas e
guarda-corpo em balaústres. Duas torres sineiras de base retangular e telhado piramidal,
encimado por coruchéu, ladeiam a fachada, incorporando-se ao corpo da igreja. Uma cimalha
de madeira, protegida por beiral, separa o corpo da igreja do frontão e divide as torres dos
campanários. O frontão triangular, encimado por uma cruz, tem, ao centro, óculo envidraçado,
em forma de trevo. Nos corpos das torres, encontra-se uma seteira simples, vazada na altura do
guarda-corpo das janelas. A capela possui alguns elementos que não são comuns em sua
tipologia, como os dois corredores que ladeiam a nave e se abrem para ela através de arcos.
Encimado por galerias superiores, estes corredores laterais conferem ao prédio a aparência de
possuir três naves. Outra singularidade consiste na existência de uma varanda, na parte
posterior da igreja, formada pela continuação do telhado da capela-mor, que possivelmente era
usada como abrigo de animais. Internamente, a capela de Nossa Senhora do Rosário é
valorizada pela presença intensa de elementos artísticos e decorativos. Informa Germain Bazin
que o altar colateral do lado do Evangelho pode, com certeza, ser atribuído ao Aleijadinho. Já o
outro, trata-se de cópia de entalhador anônimo. Quanto à pintura, esta abrange todo o seu forro,
que se estende da nave à capela-mor. Na inscrição existente no painel sob o coro, datada de
1792, figura a assinatura de João Batista de Figueiredo. Segundo a especialista Myriam Ribeiro
de Oliveira, como geralmente esta parte do edifício é a última a ser decorada, pode-se situar a
data das pinturas da nave e capela-mor entre 1788-90. Além dos painéis do forro, todos a
têmpera, as colunas e os arcos são revestidos de tábuas pintadas. Desde 1940, a capela de
Nossa Senhora do Rosário vem exigindo obras sucessivas de reforma para garantir sua
integridade física. Em 1957-58, por exemplo, ela. foi totalmente restaurada pelo IPHAN, quando
uma das torres teve que ser totalmente refeita. A precariedade dos materiais empregados
originalmente na construção - estrutura de madeira com vedação em taipa-de-pilão e pau-apique
- explica, em parte, a necessidade periódica de obras e reformas, considerando-se
também, o alto índice de chuvas na região. Soma-se ainda, a falta de uso constante da capela,
por não ser sede de paróquia e por estar situada em local de difícil acesso, dificultando os
trabalhos rotineiros de conservação. Texto extraído de: Inventário Nacional de Bens Móveis e
Integrados. VITAE/IPHAN. Boletim SPHAN/ PRÓ-MEMÓRIA. Memórias de Restauração.
Texto: Instituto do Patrimônio Hstórico Artístico e Cultural Nacional - IPHAN
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Igreja do Rosário de Mariana - Foto: Cristiano Casimiro
Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Mariana
Iinicialmente uma devoção dominicana, a
partir do século XVI, o Rosário passa a ser
um dos principais meios de conquista e conversão
para com os chamados gentios.
Esse destaque que a devoção do Rosário
toma dentro das ordens missionárias pode
explicar, em um primeiro momento, o sucesso
alcançado por esta invocação entre os
convertidos. Mais tarde os africanos colonizados
e descendentes parecem ter encontrado
nas irmandades dedicadas à Nossa
Senhora do Rosário um espaço próprio,
reservado a seu povo. As irmandades foram
um fenômeno típico do século XVIII e tiveram
especial abrangência no território mineiro,
tendo em vista a proibição das Ordens
Religiosas no território. Instituídas nas
matrizes, com seus santos padroeiros
entronizados nos altares laterais das naves,
as irmandades foram aos poucos alcançando
autonomia financeira para construção de
igreja própria. Curiosamente, as irmandades
de Nossa Senhora do Rosário, são sempre
as primeiras a sair das matrizes e suas
capelas são construídas em locais afastados,
revelando a polarização inicial das
populações entre os brancos proprietários,
ou comerciantes, e os negros escravos. As
igrejas de Nossa Senhora do Rosário e São
Pedro dos Clérigos são exemplos de igrejas
mais recentes ocupando novas áreas de
expansão urbana no topo dos morros.
Localizada na Praça do Rosário, a Igreja
Nossa Senhora dos Pretos de Mariana foi
construída entre 1752 e 1758 por iniciativa
das irmandades de São Benedito, de Santa
Ifigênia e do Rosário. Erguida em alvenaria,
ela pertence à terceira fase do barroco mineiro,
o estilo rococó. O templo foi construído
em alvenaria de pedra. Os destaques internos
vão para as obras do pintor Ataíde e do
escultor e entalhador Servas
21
PEDRO ALEIXO
Um presidente da República nascido em Mariana
22
Pedro Aleixo nasceu em Mariana no dia 1 de
agosto de 1901, fez seus primeiros estudos
na cidade e , também em ouro preto, Ingressou
em 1918 no curso de direito da Faculdade
de Direito de Minas Gerais, formando-se
em 1922. Exerceu a advocacia no escritório
do Dr. Abílio Machado, junto com o seu colega
de turma Milton Campos. Paralelamente
a sua formação jurídica, exercia também o
jornalismo e em 1928, foi um dos fundadores
e diretor do jornal Estado de Minas. Foi
eleito para o cargo de conselheiro municipal
de Belo Horizonte (1927-1930). Em 1928 foi
aprovado como professor de Direito Penal,
passando dar aulas no curso de doutorado
na mesma Faculdade que se formara.
Na política, apoiou a Aliança Liberal e foi um
dos mentores intelectuais da Revolução de
1930. Elegeu-se deputado à constituinte de
1934. Em 4 de maio de 1937, apoiado por
Getúlio Vargas, derrotou o líder mineiro, também
da Aliança Liberal, Antônio Carlos na
disputa pela presidência da Câmara dos
Deputados, sendo portanto o primeiro substituto
de Getúlio, pois não havia a figura do
vice-presidente na Constituição de 1934.
Foi em sua gestão que o presidente Getúlio
Vargas instaurou o Estado Novo no Brasil
através do golpe de 10 de novembro de
1937.
Com o Congresso Nacional fechado, Pedro
Aleixo voltou a advogar, sendo eleito, em
1938, Presidente do Instituto da Ordem dos
Advogados de Minas Gerais. Alguns anos
depois voltou-se contra Getúlio Vargas,
sendo um dos signatários do Manifesto dos
Mineiros, em 24 de outubro de 1943, em
favor do retorno ao estado de direito.
Fundador da União Democrática Nacional,
tendo sido eleito presidente da seção mineira
deste partido. Elegeu-se deputado estadual
e foi secretário de estado do Interior e
Justiça no governo Milton Campos, de 1947
até julho de 1950. Eleito novamente deputado
federal em 1958 e 1962, pela UDN, destacou-se
por fazer acirrada oposição aos
governos de Juscelino Kubitschek e João
Goulart. Foi um dos líderes civis do golpe
militar de 1964, tendo se filiado à ARENA.
Entre 10 de janeiro e 30 de junho de 1966
exerceu o cargo de ministro da Educação e
Cultura no governo Castelo Branco.
Eleito vice-presidente da república na chapa
do marechal Artur da Costa e Silva, pela Aliança
Renovadora Nacional, em 3 de outubro
de 1966, Pedro Aleixo se posicionou contra
a edição do AI-5 chegando inclusive a
elaborar uma revisão da constituição de
1967, a fim de restaurar a legalidade. Contudo,
a doença do presidente da república
impediu que tal intenção se concretizasse.
Consumado o afastamento de Costa e Silva
em 31 de agosto de 1969, em virtude de uma
trombose, foi impedido de exercer seu direito
constitucional de assumir o cargo pelos
ministros militares, que mais tarde consideraram
extinto seu mandato por força do AI-
12 de 6 de outubro de 1969. Em 1970 desligou-se
da ARENA e tentou organizar, sem
sucesso, o Partido Democrático Republicano.
Como vice-presidente da república, foi o
último nesta condição a exercer a presidência
do Senado Federal. Assumiu a presidência
da república entre 11 e 14 de abril de
1967, em razão de uma viagem de Costa e
Silva ao Uruguai.
Em 2011, conforme a Lei n° 12.486, de 12
de setembro, o nome do cidadão Pedro
Aleixo foi incluído na galeria dos que foram
ungidos pela Nação Brasileira para a
Suprema Magistratura. Isso significa que
ele deve ser considerado um ex-presidente
da República, para todos os efeitos legais.
Foto: acervo de família.
Dona Mariquita,a lha Eloisa e Pedro Aleixo, desembarcando em Brasília
para a posse, em 15 de março de 1967, do governo do general Costa e Silva.
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Casa onde nasceu o Presidente Pedro Aleixo.
Distrito de Bandeirantes (Ribeirão do Carmo)
25
Foto Acervo Marezza PHOTO
Matéria veiculada na primeira edição da Revista Mariana histórica e Cultural e
e publicada, novamente, pelos 300 anos da chegada do Conde de Assumar
na Vila do Ribeirão do Carmo em outubro de 1717
300 Anos da Chegada do
Conde de Assumar na Vila do
Ribeirão do Carmo
Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal
nasceu em 17 de outubro de 1688 e
morreu em 1756. Foi 3.° Conde de
Assumar, 1.º Marquês de Castelo Novo e
1.° Marquês de Alorna, 3.° Governador e
Capitão-mor da Capitania de São Paulo e
Minas do Ouro, no Brasil, e ainda 44.º
Vice-Rei da Índia.
Foi indicado pela Coroa de Portugal como
terceiro governador da Capitania de São
Paulo e Minas de Ouro (Real Capitania das
Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos
Cataguases), visando manter a ordem
entre os mineiros da região e garantir as
rendas da Coroa.
Chegou ao Brasil em 24 de Julho de 1717,
desembarcando no Rio de Janeiro, onde
permaneceu por alguns dias, seguindo
viagem por mar até Santos e depois por
terra até São Paulo, onde tomou posse da
Capitania a 4 de Setembro, em cerimônia
na Igreja do Carmo. No final de setembro
iniciou visita de inspeção às Minas Gerais.
D.Pedro Miguel de Almeida Portugal, o
Conde de Assumar, governou as Minas
Gerais dos anos de 1717 a 1721. Esta
figura vem obtido um destacado lugar na
historiografia tradicional sobre Minas
Colonial assim como nas recentes
produções acerca da temática. No
entanto, nenhum estudo aprofundado
sobre sua administração nas Minas
setecentista é encontrado.
Neste sentido, destacamos a figura do
Governador D. Pedro de Almeida, o Conde
de Assumar, por inaugurar a repressão aos
habitantes das Minas e demonstrar-se
especialmente zeloso no cumprimento dos
intentos da Coroa portuguesa. Tal qual se
pode perceber na carta do Conde de
Assumar ao Rei de Portugal, datada de 17
de Novembro de 1720 pela qual se
demonstra bastante preocupado em
estabelecer a lei e defender os interesses
da coroa, chegando ao ponto até de
denunciar ao Rei os Ministros que
acobertavam negros:
Todo esse cuidado de Assumar para que
as leis fossem cumpridas nas Minas não
foi capaz, porém, de garantir a ordem; ao
contrário, foram os anos de seu governo os
de maior instabilidade política devido aos
inúmeros motins e tumultos por parte dos
colonos e escravos. Cabe ressaltar neste
sentido que os anos de governo do Conde
de Assumar vão de 1717 a 1721, e acerca
deste período Donald Ramos (2005,
p.178) afirma que “representaram um
divisor de águas na história de Minas
Gerais” em virtude das inúmeras
conspirações escravas e levantes de
quilombos contra a ordem escravista
vigente na época.
D. João V nomeou D. Pedro Miguel de
Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde
de Assumar governador para aplicar nas
Minas três disposições que contrariavam
os interesses locais:
1) Anunciar a instalação, na capitania, de
um bispado, objetivando a moralização do
clero que ali vivia dissolutamente,
praticando desde delitos ao desrespeito do
celibato, como também envolvia-se no
tráfico do ouro.
2) Aplicação da Carta Régia de 25 de abril
de 1719, onde se extinguiam funções,
aumentava-se o poder do governador e,
ainda, trazia para as Minas um contingente
de Dragões (Duas Companhias de
Dragões que se instalaram na Vila do
Carmo).
3) Criar Casas de Fundições para o ouro e
estabelecer a cobrança do Quinto, que.
correspondia a 20% do metal extraído.
27
Passaram 300 anos e os milagres da Virgem
negra de Aparecida se multiplicaram pelo
Brasil e o mundo.
Outubro é o mês que os católicos no Brasil
dedicam à Nossa Senhora da Conceição
Aparecida. A festa litúrgica do dia 12 foi
instituída em 1953 pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil e tornou-se feriado
nacional em 1980, por ocasião da visita de
São João Paulo II naquele ano. Antes disso, a
Igreja celebrava sua Padroeira em 7 de
setembro. A mudança aproximou as
comemorações ao momento estimado em
que a Imagem foi retirada das águas do Rio
Paraíba do Sul – 17 a 30 de outubro de 1717.
ocorrido é baseada no relato do “Diário da
Jornada do Conde de Assumar”, que passou
treze dias na comunidade. O período é
confirmado no Arquivo da Cúria Metropolitana
de Aparecida (I Livro do Tombo da Paróquia
de Santo Antônio de Guaratinguetá - 1757) e
no Arquivo Romano da Companhia de Jesus,
em Roma (1748-1749).
Dom Pedro de Almeida, governante da
capitania de São Paulo e Minas de Ouro,
homem que detinha também o título de Conde
de Assumar, passava por Guaratinguetá, SP,
quando viajava para Vila do Carmo (Mariana)
nas Minas Gerais. A população organizou
uma festa para receber o conde de Assumar.
Para prepararem a comida, pescadores
foram para o rio Paraíba com a difícil missão
de conseguirem muitos peixes para a
comitiva do governador, mesmo não sendo
tempo de pesca. Domingos Garcia, Filipe
Pedroso e João Alves, sentindo o peso de sua
responsabilidade, fizeram uma oração
pedindo a ajuda da Mãe de Deus. Depois de
tentar várias vezes sem sucesso, na altura do
Porto Itaguaçu, já desistindo da pescaria,
João Alves lançou a rede novamente. Não
pegou nenhum peixe, mas apanhou a
imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Porém, faltando a cabeça. Emocionado,
lançou de novo a rede e, desta vez, pegou a
cabeça que se encaixou perfeitamente na
pequena imagem. Só este fato, já foi um
grande milagre. Mas, após esse achado, eles
apanharam tamanha quantidade de peixes
que tiveram que retornar ao porto com medo
de a canoa virar. Os pescadores chegaram a
Guaratinguetá eufóricos e emocionados com
o que presenciaram e toda a população
entendeu o fato como intervenção divina.
Assim aconteceu o primeiro de muitos
milagres pela ação de Nossa Senhora
Aparecida.
Após tentativas frustradas de pesca, os
humildes servos de Deus ‘pescaram’ o corpo
da santa e, em seguida, sua cabeça. A data do
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Antiga Residência do Conde de
Assumar em Mariana
A vila, em pouco tempo, transformou-se em principal centro de comércio e instrução de Minas
Gerais. Uma das construções mais imponentes do início secXVIII foi o Palácio do Governador,
situado na parte alta da cidade, possui dois pavimentos mais de 20 aposentos, jardins e salas
para reuniões. Construído por Dom Brás , segundo Governador da Capitânia foi residência
último governador da Capitania de São Paulo e das Minas, Dom Pedro de Almeida e Portugal, o
Conde de Assumar, entre 1717 e 1720. Posteriormente foi passado para a Igreja católica. Dom
Frei Manoel da Cruz, primeiro Bispo de Minas, residiu no prédio durante seu bispado. instalou
em 1748. Pertence há mais de cem anos à Ordem Terceira Franciscana.
Foto:Vitor Gomes