Novembro /2017
Mariana
Revista Histórica e Cultural
A Mariana - Revista Histórica e Cultural é
uma publicação eletrônica
O periódico tem o objetivo divulgar
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram
estes 321 anos da primeira cidade de Minas.
Mariana - Revista Histórica e Cultural Revista
Belas Artes é um passo importante para a
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a
cidade de Mariana. Esperamos que os textos
publicados contribuam para a formação de uma
consciência de preservação e incentivem a
pesquisa.
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos
são de inteira responsabilidade dos autores.
Colaboradores:
Prof. Cristiano Casimiro
Prof (a) Dra Alenice Baeta
Adeuzi Batista
Agradecimentos:
Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana
Arquivo União XV Novembro
Arquivo Fotográfico Marezza
Circo Volante
Fotografias:
Cristiano Casimiro
Arquivo Marrrezza - Marcio Lima
Acervo União XV Novembro
Atefactto - Alenice Baeta / Henrique Piló
Adeuzi Batista
Acervo Circo Volante
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro
Capa: Fotografia de um buraco de sarilho no Morro Santana - Mariana
Foto: Alenice Baeta
Indice
ARQUEOLOGIA, PATRIMÔNIO E PAISAGENS NOS
MORROS SANTANA E SANTO ANTÔNIO .
ESTRADA ESQUECIDA E DEGRADADA DO DEZOITO
10 ANOS DO CORAL TOM MAIOR
04
22
26
116 ANOS DA UNIÃO XV DE NOVEMBRO.
32
9º ENCONTRO INTERNACIONAL DE PALHAÇOS EM
MARIANA
36
Santa Ceia - Manoel da Costa Athaide - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo
Imagem : Alenice Baeta
Especial
04
Patrimônio Arqueológico em Mariana
Foto jornal O Espeto Leandro Henrique
Alenice Baeta*
Henrique Piló*
*Arqueólogos e Historiadores, responsáveis técnicos pelo tema: 'Arqueologia'no Dossiê de
Tombamento do Conjunto Paisagístico e Arqueológico elaborado para a Prefeitura
Municipal de Mariana pela Memória e Arquitetura, em julho de 2007. 270p.
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
05
Arqueologia, Patrimônio e Paisagens
nos Morros Santana e Santo Antônio
Em Mariana, os Morros Santana ou Gogô e
Santo Antônio fazem parte de um
expressivo complexo arqueológico de
mineração e de ocupação colonial. Nos
cumes e encostas das serras podem ser
notadas cicatrizes típicas da atividade
mineradora. Trata-se de centenas de
vestígios compostos por antigas lavras a
céu aberto, canais, catas, sarilhos, acessos
e estruturas compostas por escoros e
alvenarias de pedra relacionadas ao
processo e diferentes tecnologias de
explotação mineral ao longo dos séculos
XVIII, XIX e XX.
A história do escravismo e da exploração
aurífera encontra-se muito arraigada na
memória e no cotidiano da população de
Mariana, sobretudo para os moradores dos
arredores destes morros. Ainda é comum
avistar no Ribeirão do Carmo, apesar da
sua poluição e assoreamento, a utilização
da bateia por parte de alguns moradores.
Algumas famílias do Bairro Vila Gogô são
descendentes dos antigos habitantes do
Arraial Velho no Morro de Santana, dentre
eles, garimpeiros e escravos. Apesar da
proximidade de áreas urbanizadas,
apresenta, em algumas localidades dos
mesmos, edificações e estruturas em bom
estado de conservação, o que vem
subsidiando a identificação e interpretação
de outros sítios nas adjacências com
i n d í c i o s a r q u e o l ó g i c o s d e m e n o r
visibilidade e/ou conservação.
No entanto, as zonas mais baixas,
aplainadas e meia-encostas destas serras
também foram sotopostas por ocupação
urbana desordenada, na maioria das vezes
por famílias muito carentes, com o
aproveitamento de alguns alicerces antigos
como bases para novas moradias. Ainda
ocorre a retirada de peças de edificações,
tais como blocos, madeirame e telhas, para
sua reutilização em novas construções nos
arredores.
Visando a valorização patrimonial e
preservação dos conjuntos que compõem
os Morros Gogô e Santo Antônio foi
realizado em 2007 dentro da política
cultural do município de Mariana o seu
processo de tombamento municipal.
05
Foto jornal O Espeto Leandro Henrique
06
Análise Espacial e Interpretação dos Indícios
Com o objetivo de diagnosticar todo o perímetro de tombamento e de entorno, levando em
consideração o tamanho das áreas do Morro de Santana (131,70 ha) e do Morro de Santo
Antônio (131,16 ha) foram realizados levantamentos topográficos, mapeamento e identificação
de estruturas, tipologiase estado de conservação. Cada conjunto identificado foi numerado e
suas estruturas componentes descritas em quadro com as respectivas fotos. Após a
identificação de todos os conjuntos e suas principais estruturas componentes, foi possível
seccionar as principais zonas ou setores de ocorrência de vestígios, baseando-se, sobretudo,
em critérios tipológicos, topográficos e paisagísticos.
Zonas ou Setores de Ocorrência
A- Morro de Santo Antônio - Passagem de Mariana
B- Morro de Santo Antônio - Cume
C- Morro de Santo Antônio - Cia da Passagem
D- Morro de Santana ou Gogô - Parte Alta (“Arraial Velho”)
E- Morro de Santana ou Gogô - Parte Baixa
Morro de Santo Antônio
ou Mata Cavalos
Morro de Santana
ou Gogô
D
E
N
A
B
C
Imagem de Satélite- Google Earth 2017
Mariana Distrito Sede
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
07
Após o mapeamento e distribuição das estruturasporzonasouáreas e avaliação prévia do
estado de conservação das mesmas, foi possívelestabelecer uma tipologiageral das
estruturas, distribuindo-as por sua vez, emplanta de situação, pormeio de uma legenda de
cores e formas com o objetivo de representar graficamente agrandevariedade, potencialidade
e complexidade das estruturas arqueológicas contidas nosperímetros de tombamento e
entorno.
Localização das estruturas mapeadas no Morro de Santana (Gogô)
Mapa esquemático, sem escala
Fonte: Memória e Arquitetura, 2007.
IGREJA DE
SANTANA
LEGENDA
PILÃO
CONJUNTO DE RUÍNAS / SARILHOS
MUNDÉU
SARILHO
LAGOA
FUNDIÇÃO
REGO / CANAL
MONTES DE ENTULHO E MINÉRIO
BRUNIDOR
LAVRA
GALERIA
RUA / ESTRADA / CAMINHO
VALA
CEMITÉRIO
IGREJA / CASA PAROQUIAL
UNIDADE RESIDENCIAL COM REBOCO
CURRAL
BANCADAS PARA HORTA
MURO DE ARRIMO
MONJOLO / ENGENHO
UNIDADE RESIDENCIAL
PAIOL
HOSPITAL
RUÍNA
CANOAS
MINA DE ARSÊNICO (CHAMINÉ, SALAS, FORNO E CAIXA D'ÁGUA)
BARRAGEM
BUEIRO
PERÍMETRO DE TOMBAMENTO
PERÍMETRO DE ENTORNO
ESTAÇÃ O
FERROVIARI A
07
08
Localização das estruturas mapeadas no Morro de Santo Antônio (Mata-Cavalos)
Mapa esquemático, sem escala.
Fonte: Memória e Arquitetura, 2007.
LEGENDA
PILÃO
CONJUNTO DE RUÍNAS / SARILHOS
MUNDÉU
SARILHO
LAGOA
FUNDIÇÃO
REGO / CANAL
MONTES DE ENTULHO E MINÉRIO
BRUNIDOR
LAVRA
GALERIA
RUA / ESTRADA / CAMINHO
VALA
CEMITÉRIO
IGREJA / CASA PAROQUIAL
UNIDADE RESIDENCIAL COM REBOCO
CURRAL
BANCADAS PARA HORTA
MURO DE ARRIMO
MONJOLO / ENGENHO
UNIDADE RESIDENCIAL
PAIOL
HOSPITAL
RUÍNA
CANOAS
MINA DE ARSÊNICO (CHAMINÉ, SALAS, FORNO E CAIXA D'ÁGUA)
BARRAGEM
BUEIRO
PERÍMETRO DE TOMBAMENTO
PERÍMETRO DE ENTORNO
IGREJA DE
SANTO
ANTÔNIO
ESTAÇÃ O
FERROVIARI A
CAP ELA E
CEMITÉRIO
DOS INGLESES
IA
Posteriormente, foi possível estabelecer quais eram as melhores amostras de cada tipo,
focalizando e registrando-as como modelos. Os critérios para definição das amostras-tipo
foram: estado de conservação, morfologia, tecnologia de fabricação e peculiaridades. Dentro
de alguns tipos, foi também possível estabelecer, uma variedade interna ou subtipos. Foi o que
aconteceu com os mundéus – identificados em formato retangular, ovoides e semicirculares e
sistema de implantação, aproveitando, neste último caso, a curvatura do terreno e suas ravinas.
09
Em linhas gerais, os tipos identificados foram organizados em sete grupos principais:
1 - Domésticos e afins: unidade residencial, curral, horta, hospital, engenho e paiol;
2 - Religiosos: capela, cemitério, casa paroquial;
3 - Acessos e divisas: caminhos, trilhas, valas de divisa, muros de arrimo;
4 - Estruturas de mineração: lavra a céu aberto; mundéu, represa, pilão; rego ou aqueduto,
canoa, galeria, buraco de sarilho, fundição, montes de entulho, brunidor e fio de pedra (estas
duas, estruturas móveis), além da usina de cloretação. Também entrou nesta categoria uma
lagoa, originalmente cata, que foi represada posteriormente;
5 - Natural: caverna de canga;
6 - Fragmentos de utensílios domésticos: cerâmica vitrificada, cerâmica histórica ou “cabocla”
e de esteatita;
7 - Não identificados (sobretudo em função do péssimo estado de conservação. É o caso de
algumas estruturas que sofreram demolições).
Foto jornal O Espeto - Leandro Henrique.
10
Contexto Sócio Histórico, Tecnologias e Lavras Principais
Em localidades próximas ao Pico do Itacolomi
diferentes grupos de mineradores se
embrenhavam pelos sertões a cata de novos
veios. Um grupo liderado por Salvador
Fernandes Furtado chegou às margens de um
ribeirão que, em homenagem à Nossa Senhora,
recebeu o topônimo de Ribeirão do Carmo, atual
cidade de Mariana. A chegada destes
mineradores e a divulgação de novas
descobertas fizeram com que estas paragens
se tornassem um populoso centro de
mineração. Apesar da pouca distância entre as
vilas de Vila Rica e Ribeirão do Carmo, apenas
12 quilômetros, não havia contato direto entre
as duas populações. Seus descobertos
auríferos foram contíguos e praticamente
simultâneos.
“Na verdade, ninguém procurava abrir
caminho através de sítios tão agrestes. Os
mineiros do Arraial do Carmo, entretanto,
tiveram conhecimento da existência de
trabalhos de mineração em Ouro Preto pelas
águas turvas do ribeirão. Assim, foram eles os
primeiros a estabelecer comunicação entre o
Carmo e Ouro Preto, abrindo uma pica da
através de quase inacessíveis rochedos e
impenetráveis florestas, guiando-se sempre
pelas águas turvas do ribeirão do Ouro Preto”
(ESCHWEGE,1979:29).
Segundo Antonil (1982) apesar da curta
distância entre as duas regiões auríferas, o
caminho bastante fechado dificultava o acesso
inicial à região. Gastava-se, na verdade “três
dias de caminho moderado até o jantar” para se
chegar ao ribeirão de Nossa Senhora do Carmo,
que, segundo ele, teria sido descoberto por
João Lopes de Lima.
A extração mineral nesse período tinha caráter
bastante rudimentar. Com o esgotamento das
reservas de ouro aluvionar, as explotações
foram transferidas para as montanhas, onde as
atividades extrativas se mostravam bem mais
onerosas. Neste período, procurou-se aplicar
os mesmos métodos utilizados nos rios,
fazendo aberturas no solo e em rochas
alteradas, cujo material era transportado para a
lavação e apuração em bateias junto ao rio.
Os primeiros trabalhos de explotação eram
realizados em leitos de rios, sendo os primeiros
c a s c a l h o s a u r í f e r o s e n c o n t r a d o s e m
descoberto em seus leitos.
“No princípio, esses homens, desprovidos de
todos os meios, extraíam o ouro entrando na
água para remexer as areias com estacas
afiadas, que recolhiam em seguida em
pequenos recipientes, pratos de estanho ou
gamelas de madeira, nos quais separavam os
grãos de ouro com os dedos, rejeitando em
seguida a areia para o rio. As gamelas de
madeira foram substituídas mais tarde por um
vaso em forma de funil ou de cone muito aberto,
a bateia (...)” (FERRAND,1998: 98).
Faiscador utilizando a bateia
FONTE: FERRAND, 1988:98.
11
Outro sistema surgido posteriormente ao da
bateia era o de desvio dos cursos de água
por barragem e canal lateral, consistindo em
desviar as águas do leito principal do rio,
abrindo um canal lateral dirigindo assim, as
águas para este novo leito construído.
Desta forma, os mineradores começavam
seus trabalhos no leito seco do rio. Como as
represas eram construídas de modo
bastante rudimentar, estas cediam com
f r e q ü ê n c i a , a f o g a n d o a s s i m o s
trabalhadores. Como o cascalho aurífero do
leito dos rios era bastante superficial, com
seu esgotamento era natural a mudança da
explotação para as margens do rio. Tendo
em vista que esses depósitos possuem a
mesma origem dos rios,
“...era bastante natural que, quando estes
últimos começaram a se esgotar, os
mineradores fossem atraídos para os
mesmos, procurando o metal que tinham
tanta dificuldade para recolherem outras
partes, tanto mais que sua explotação era
relativamente mais fácil que a dos rios, cujo
curso era preciso desviar para extrair o
cascalho. Bastava, de fato, para isso, retirar
as camadas de terra e de saibro que
cobriam o cascalho virgem formado de
seixos maiores” (FERRAND,1988: 105).
A forma mais primitiva para o tratamento
dessas camadas de aluviões eram as catas,
escavações redondas, aberta sem forma de
funil, com inclinação suficiente para evitar
um possível desabamento para o interior, e
que sua abertura se alarga à medida em que
se aprofunda. Este método só era aplicado
nas estações secas, tendo em vista que as
c h u v a s i n u n d a v a m o s t r a b a l h o s ,
inviabilizando-os.Com o esgotamento do
ouro de mais fácil exploração foi necessário
emprego de tecnologia para a realização
dos trabalhos nos flancos das montanhas.
Esses trabalhos eram aplicados às rochas
friáveis ou decompostas, atravessadas
pelos filões de quartzo aurífero. O método
aplicado por esses mineradores era o de
utilizar as águas como auxiliar na lavagem
do terreno e evidenciação do minério
aurífero. Para isso, era necessário seu
acúmulo em reservatórios nas partes mais
altas da exploração. Quando se abria a
porta do reservatório, as águas eram
lançadas abruptamente pelo terreno,
arrastando e carreando terras e pedras até
um canal inferior, e assim era dirigido para
grandes reservatórios de alvenaria,
chamados mundéus, destinados a recolher
as lamas auríferas.
“Os mundéus, geralmente encostados no
flanco de uma montanha vizinha da
explotação, eram grandes reservatórios
retangulares ou semi circulares. Mediam
internamente até 16 metros, e mesmo 24
metros de lados. Tinham 3 a 6 metros de
profundidade, com paredes de quase dois
metros de espessura, em alvenaria de
blocos de pedra simplesmente cimentados
com uma mistura de argila e areia. Eram
dispostos em série, uns ao lado de outros, e
com ligeiro desnível, em função do canal
lateral que levava as águas carregadas de
lamas auríferas para os mesmos, por um
escoadouro colocado em saliência no meio
da parede do fundo, um pouco acima do
reservatório” (FERRAND,1988: 111).
12
DESENHO ESQUEMÁTICO DE MUNDÉU
Desenho do Barão de Eschwege 1833
Ilustração Palestra:História do Ouro no Brasil Prof. Dr. Friedrich E. Renger Instituto de Geociências / UFMG
Ruínas de mundéu, no Morro de Santana
FOTO: Henrique Piló (2007).
13
O trabalho no interior das montanhasera realizado quando os mineradores encontravam
jazidascompletamente embutidas nas montanhas. Deste modo, era seguido o veioaurífero,
realizando galeriasque seguiam esta linha do mineral. Assim, explotavam as jazidaspormeio de
uma série de galeriasque chegavam a uma câmara isolada, realizada na partemaisrica. Se por
alguma razão, quer seja inundaçãopelolençolfreático, querpordesabamentosque
impossibilitavam a continuação da galeria, tentava-se encontrar o filãopormeio da abertura de
uma novagaleria.
“Um notável exemplo desse sistema é ainda visível na mina da Passagem. A
jazida é formada por um filão de contato, que penetra no flanco de uma
montanha escarpada, aprofundando segundo um ângulo de 18 a 20º. Nos
afloramentos, abriram espaçadamente galerias que avançam 20 ou 40
metros, seguindo o mergulho. Em seguida foram alargadas, de modo a
formar salões de dimensões algumas vezes consideráveis”
(FERRAND,1988:114).
O processo de concentração das areias e terras auríferas era feito submetendo-se estas a uma
corrente de água em lavadores manuais. Estes lavadouros eram chamados canoas e tinham
como função reter as parcelas pesadas em mesas com telas ou baetas, situadas após os
mesmos. A canoa era de instalação simples, consistindo em um poço pouco profundo feito no
local onde se queria lavar as areias. Estas canoas também podiam ser construídas empedras,
quando o processo de lavação era executado no mesmo local. Situavam-se no pé dos
mundéus, com fundo formado por lajes e grandes blocos de pedras.
Representações de canoas
FONTE: FERRAND,1988:119-121.
Estrutura de Canoa noMorro de Santana
FOTO: Henrique Piló (2007).
14
O trabalho na canoa compreendia duas
fases distintas sendo que na primeira,
acumulava-se a massa aurífera na caixa,
fazendo a passar por um processo de
limpeza e na segunda fase executava-se
a concentração da massa, separando a
parte rica e o resto passando sobre as
mesas, onde as parcelas pesadas eram
r e t i r a d a s . E s t e s d e p ó s i t o s i a m
diretamente para a apuração, mas as
areias concentradas nas canoas não
eram suficientemente finas para delas se
extrair o ouro; visando este fim, sofriam
uma pulverização complementar, sendo
esfregadas fortemente entre duas
pedras, denominadas brunidores.
Utilização do brunidor
FONTE: FERRAND,1988: 127.
Apenas quando da chegada da família real
no Brasil e da abertura dos portos “às
nações amigas” é que foram elaboradas
diretrizes para o re-incremento da produção
aurífera da região. Em 1811, Wilhelm
Ludwig Von Eschwege foi enviado a Minas
no intuito de estudar as formas de minerar e
introduzir técnicas mais produtivas. Em
1803, através do Alvará de 03 de maio,
proibi-se a circulação do ouro em pó,
substituto da moeda em transações
comerciais e reduz-se o quinto à metade,
em uma tentativa de diminuir a sonegação e
incentivar a produção mineral. Em 1822,
após a independência do Brasil, com a
liberação da exploração para empresas
estrangeiras, toma-se um novo rumo na
extração do metal aurífero nas minas
(FÉLIX, 1988:57-59). Esta nova fase teria
Brunidor no Morro de Santana
FOTO: Henrique Piló (2007).
início, na verdade, pouco antes, em 1817,
com a criação da Sociedade Mineralógica
de Passagem, organizada por Eschwege.
Este teria sido o momento da transformação
da mineração na Mina da Passagem de
garimpo para a primeira atividade
empresarial organizada. Em 1824, Edward
Oxenford obteve por meio de decreto
imperial, autorização para realizar trabalhos
em minas brasileiras, o que permitiu que ele
organizasse em Londres uma companhia
com capital de 350.000 libras esterlinas,
com o nome de Imperial Brazilian Mining
Association, a primeira companhia de
capital estrangeiro, que era proprietária das
minas de Gongo Soco, Cata Preta, Antônio
Pereira, além das terras auríferas da Serra
do Socorro (FERRAND,1988: 1964).
15
O histórico das explorações na Mina da
Passagem remete aos primeiros anos de
exploração mineral na região. Esta
propriedade mineral abarcava quatro
minas, a do Fundão, Mineralógica, Paredão
e Mata Cavalos. A lavra de Mineralógica era
composta por 49 datas (FERRAND,1988)
provenientes da reunião de várias
concessõesfeitasentre1729 a1756 a vários
mineradores. Após passarem por diversos
proprietários foram compradas por José
Botelho Borges, em 1784. Após a sua
morte, seus bens foram leiloados e a mina
foi entregue ao barão de Eschwege, em
1819. Segundo Ferrand, a jazida tinha sido
apenas “arranhada” pelos mineradores em
vários pontos do afloramento. Neste
período, adota-se uma exploração mais
regular dos recursos minerais existentes.
“Eschwege formou a primeira companhia
existente no país, com o nome de
Sociedade Mineralógica da Passagem, e
instalou um moinho de nove pilões.
Infelizmente, depois de vários anos de
prosperidade, a sociedade entrou em
falência e os trabalhos foram interrompidos.
A propriedade foi vendida em 1º de junho de
1859 pelo liquidante a um minerador inglês,
Thomas Bawden, que trabalhara algum
tempo em Fundão, mina vizinha, e este
último a revendeu quatro anos depois, em
26 de novembro de 1863, a Thomas Treolar,
representante da nova companhia em
formação, a Anglo-Brazilian Gold Mining
Company Limited”
(FERRAND,1988: 232).
Plano de lavra da Mina da Passagem
FONTE: FERRAND, 1988: 223.
16
A Lavra do Fundão era composta de 76
datas minerais e também era formada por
várias concessões dadas no período de
1735 a1778 a diferentes mineradores.
Foram agrupadas por um minerador que,
em 1835 as revendeu ao comendador
Francisco de Paula Santos. Este formou
uma associação denominada Sociedade
União Mineira. Foi comprada em 1850 por
Thomas Bawden e Antônio Buzelin e
depois revendida à Anglo-Brazilian Gold
Mining Company Limited, junta mente com
a mina da Mineralógica.A Lavra do
Paredão, por sua vez, possuía uma
superfície de 12 datas. Alvo de várias
concessões datadas de 1758 a Antônio
Mendes da Fonseca, passou às mãos da
família Martins Coelho e posteriormente foi
vendida à Anglo-Brazilian Gold Mining
Company Limited, no mesmo período das
duas anteriores. A companhia inglesa se
apossou das três lavra sem 26 de
novembro de 1863 e em 30 de setembro de
1865, adquiriu a lavra de Mata-Cavalos
(FERRAND,1988).Esta empresa operou a
mina durante nove anos, tendo produzido
neste período, 753.560 gramas de ouro.
Em1875 amina foi vendida a um sindicato
francês que criou a empresa The Ouro Preto
Gold Mine Company, tendo sido vendida em
1895 à Companhia Minas de Passagem,
uma empresa brasileira de propriedade da
família Guimarães. Esta foi a época de
maior exploração contínua, alcançando de
1933 a1939 a produção de 1870,4 kg de
ouro; em 1941, 360 kg; em 1943, 430 kg e
no período de 1951 a 1954, uma produção
de 1100 kg de ouro.
Foi adquirida por novos proprietários a partir
dos anos 70, sendo que o local vem sendo
utilizado parcialmente como área de turismo
ecológico explorada pela iniciativa privada.
O conjunto mais próximo à Estação
Ferroviária de Passagem de Mariana (aqui
designado Setor A), é o que apresenta um
melhor estado de conservação, sendo,
inclusive o mais apto a um programa de
visitação pública controlada, caso seja
decidido este tipo de atividade no Plano de
Manejo a ser elaborado para a área
tombada. Existe ainda o uso para pastagem
de animais, mesmo apresentando algum
risco de acidentes, devido a ocorrência de
buracos de sarilho, muitas vezes
encobertos pela vegetação. Há, também,
extração de material lenhoso por parte de
alguns moradores da circunvizinhança.
De acordo com informações orais, os
últimos habitantes do Morro de Santana
foram Dona Teresa, Roque “Pode Deixar”,
Dona Angelina e seus pais; José Jorge,
Dona Guida, Calazans, Dona Ana da Luz.
Algumas galerias do Morro de Santana
foram ativadas anos atrás, mas já se
encontram novamente em desuso.
Igreja NS do Rosário de Padre Viegas - Marezza PHOTO
Caverna natural associada a estruturas de mineração e ruínas no Morro de Santo Antônio.
Município: Mariana, MG (Foto: Alenice Baeta, 2012).
Presentemente os Morros de Santana e
S a n t o A n t ô n i o , s ã o u t i l i z a d o s
principalmente como pastagem de animais
mesmo apresentando riscos de acidentes
devido aos inúmeros buracos de sarilho,
muitas vezes encobertos pela vegetação. A
Lagoa Seca, no extremo sul da área de
Santana, é utilizada, também, como área de
lazer para jogos de várzea e piqueniques. O
Córrego do Fundão ao norte da área é
utilizado como fonte abastecimento hídrico
do município de Mariana. Tal córrego, por se
tratar de trecho encachoeirado, possui
diversas quedas d`água que são utilizadas
p a r a l a z e r d a c o m u n i d a d e l o c a l
principalmente os moradores do Bairro Vila
Gogô. Em suas margens observou-se
extração de quartzito (Pedra de São Tomé)
feita artesanalmente por moradores locais.
A prefeitura municipal mantém serviço de
manutenção e controle do manancial do
Córrego do Fundão. A área da ruína da
Capela de Santana tem sido utilizada
anualmente por romeiros por ocasião da
festa de Santana. Alguns moradores,
antigos garimpeiros, mantêm a tradição de
percorrer a área com as crianças da escola
local. Ainda que de maneira incipiente,
ocorre algum tipo de atividade minerária em
busca de ouro.
Em localidade abrangida pelo Setor C, há
ainda o “Cemitério dos Ingleses”, “Capela
dos Ingleses” e “Usina de Cloretação”,
neste caso, situados no entorno dos
perímetros de tombamento, apresentando
sinais mais recentes de depredação ou
mutilação.
17
Representante da última época de
exploração, já em fase industrial, ali estão
estruturas da usina ou fábrica de
cloretação, desativada definitivamente nos
anos setenta. Como o ouro está inserido
dentro do tipo arsenopirita (sulfeto de
arsênio), mineral esse que ocorre
disseminado em filitos carbonáticos, fez-se
necessário, após a britagem e moagem dos
filitos e concentração dos minerais pesados
(incluindo a arsenopirita), um processo
q u í m i c o p a r a e x t r a i r o o u r o d a
arsenopirita.O arsênico foi utilizado na
indústria bélica (arma química, sob forma
de gás letal), na agricultura (defensivo
agrícola), na indústria química (como
corante) e na indústria farmacêutica (muito
usado para suprimir febre, hoje não mais;
atualmente é utilizado na medicina
homeopática). Possivelmente, em
Passagem de Mariana, seu uso mais
comum foi para fins farmacêuticos. Como
as preocupações e a legislação ambiental
eram incipientes até os anos 70, do século
passado, muito arsênico foi jogado no solo
e contaminou a água subterrânea e das
drenagens próximas à mina. Existe,
inclusive, outra mina paralisada de
arsênico, denominada Mina do Galo, entre
Nova Lima e Raposos, cujo principal uso foi
para fins bélicos durante a I Guerra Mundial.
Detalhe Chaminé e Usina de cloretação
FOTO: Henrique Piló (2007).
O processo de cloretação consiste em realizar combustão em areias ricas em ouro após o processo de amalgamação, no intuito de eliminar completamente o
enxofre e o arsênio das piritas e peroxidar o ferro. No começo da operação da cia pelos ingleses, não se utilizava este processo, contentando-se apenas com a
separação manual do estéril e do quartzo pobre. Somente em 1889 o diretor da Mina Henry Gifford introduziu o processo de cloretação. Segundo dados orais, o
processo teria sido utilizado até pelo menos 1975.
18
A capela e o cemitério dos Ingleses foram
c o n s t r u í d o s n a m e s m a é p o c a ,
possivelmente quando da aquisição da
mina no terceiro quartel do século XIX por
mineiros ingleses. Naquela ocasião, era
comum aos estrangeiros construir
cemitérios apartados dos brasileiros; foi o
que aconteceu com a comunidade
anglicana da região de Passagem.
Atualmente, estas importantes estruturas
encontram-se em estado de abandono. O
telhado da igreja já desabou, sendo que
suas paredes de alvenaria de pedra, que
ainda guardam testemunhos de reboco
com pintura apresentam evoluído processo
de degradação, acelerado pela intrusão de
raízes de árvores. No interior da mesma, há
vários focos de vandalismos nos pisos,
sendo que seus alisares de pedra sabão
estão caídos. O cemitério apresenta as
l á p i d e s d e s l o c a d a s e o s t ú m u l o s
aparentemente violados. Algumas placas
de bronze foram extraídas. A cobertura
vegetal ocupou quase totalidade da área
interna, sendo que parte do muro em
alvenaria de pedra também está em ruína. A
usina de cloretação, também sofreu vários
tipos de dilapidações. Nos últimos
decênios, parte do maquinário e demais
equipamentos vem sendo retirado por
m o r a d o r e s d a r e g i ã o , d e v i d o ,
principalmente, à falta de vigilância e
medidas de proteção deste raro acervo da
arqueologia industrial mineira.
19
Capela dos Ingleses - Jornal o Espeto
Fotografia de um buraco de sarilho no Morro Santana - Mariana
Foto: Alenice Baeta
21
Desdobramentos, Preocupações e Diretrizes de Proteção
Todos os conjuntos aqui indicados foram
objeto de avaliação do estado de
conservação das suas estruturas
componentes, observando a origem das
ações que comprometeram ou que ainda
ameaçam a integridade dos mesmos. A
partir destas avaliações, foi possível
estabelecer diretrizes gerais para a área
tombada e seu entorno.
Muitíssimo preocupante e necessárias
a ç õ e s r e l a t i v a s a m a n u t e n ç ã o ,
conservação e integridade do conjunto
situado às margens do ribeirão do Carmo
em especial da chaminé de tijolinhos ( Zona
C). Trata-se de um patrimônio histórico e
visual único neste vale já tão degradado e
assoreado devido expansão urbana,
contaminação, assoreamento e lixo.
Ainda mais preocupante e alarmante os
acidentes envolvendo crianças que caíram
nos buracos de sarilhos que se encontram
espalhados nos morros, muitas vezes
escondidos por entre a vegetação. Trata-se
de verdadeiras armadilhas. Em 2015, a
criança Alberto dos Santos, de nove anos,
enquanto empinava papagaio no Morro
Santana caiu em um fundo buraco e
faleceu- outra grande tragédia em Mariana.
Estes sarilhos deveriam ser monitorados e
gradeados emergencialmente, sobretudo
os que se encontram próximos às
moradias, trilhas e ou travessias dos
moradores locais.
Fica premente tendo em vista a riqueza de
informações e estruturas a necessidade
urgente de um Plano de Manejo ou de
G e s t ã o e m e r g e n c i a l , a p ó s o s e u
tombamento, visando estabelecer os tipos
de usos e ações para a valorização e
conservação de cada setor que as
compõem, levando em consideração os
elementos arqueológicos, arquitetônicos,
imateriais, etnohistóricos, bióticos e físicos.
Apesar das dificuldades permanentes em
concretizar o tão necessárioPlano de
Gestão devido, lamentavelmente,
interferências de interesses econômicos e
fundiários, nenhuma ação poderá ser
eficaz ou bem sucedida se desenvolvida
sem a participação e colaboração, desde a
sua fase inicial das comunidades locais.
Por isto, iniciativas ligadas a um plano
integrado e participativo são fundamentais
para o estabelecimento de uma política
cultural eficaz que proteja a curto e a longo
prazo o magnífico patrimônio existente nos
Morros Santo Antônio e Santana.
Agradecemos às comunidades de Morro de
Santana, Rosário, Prainhae Passagem de
Mariana, à Memória e Arquitetura, ao
topógrafo V. Rodrigues, a Lélio Pedrosa
Mendes, ao prof. Cristiano Casimiro dos
Santos, a Olga Tokoff, Roque Camello in
memorian e a Prefeitura Municipal de
Marina.
Referências Bibliográficas:
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do
Brasil. BeloHorizonte: Itatiaia, 1982.
M E M Ó R I A E A R Q U I T E T U R A D o s s i ê d e
Tombamento do Conjunto Paisagístico e
Arqueológico Morros Santana e Santo Antônio
(Relatório/Tema: 'Arqueologia', por Baeta, A. & Piló,
H.)Prefeitura Municipal de Mariana/Memória e
Arquitetura, Mariana, Julho de 2007.270 p.
FÉLIX, Juvenil. Práticas de Mineração na Mina de
P a s s a g e m . I n : F E R R A N D , P a u l . O
OuroemMinasGerais. Trad: Júlio Castanõn
Guimarães. BeloHorizonte: Fundação João
Pinheiro, 1988.
FERRAND, Paul. O OuroemMinasGerais. Trad:
Júlio Castanõn Guimarães. BeloHorizonte:
Fundação João Pinheiro, 1988.
Estrada esquecida
e degradada do Dezoito
Conexão antiga interrompida entre Mariana e Vila Rica (Ouro Preto)..
Alenice Baeta
Luiz Fernando Costa Miranda
Cristiano Casimiro
21
- Detalhe de antigo calçamento residual em trecho do antigo caminho do Taquaral. Foto: A. Baeta,
23
Seguindo o trajeto original de antigo trecho
de caminho que interligava em seus
primórdios Vila Rica (Ouro Preto) a Ribeirão
do Carmo (Mariana) pelo Morro Taquaral,
constata-se o abandono de importante
conjunto histórico-arqueológico, agora com
focos de desmoronamento dos seus muros
e escoros originais e de erosão em seu leito.
Há ainda inúmeros segmentos escoros de
alvenaria de pedras e sistema de drenagem
pétrea do período colonial conservados.
Um belíssimo patrimônio que indica as
antigas técnicas construtivas de estradas e
sistema de drenagem nas antigas serras
mineiras.
Todavia,há localidades lindeiras a esse
belíssimo caminho muito degradadas
devido recentes pedreiras ou frentes de
e x p l o r a ç ã o m i n e r a l ( e x t r a ç ã o d e
quartzito),sobretudo no alto do Morro
Taquaral.Lajes retiradas das pedreiras que
ficaram para trás formam pilhas de detritos,
entulhame cobrem trechos da estrada,
desfigurando e encobrindo a paisagem
histórica, a visibilidade dos elementos
culturais e a acessibilidade segura a este
importante sítio histórico linear.
Este cenário preocupante deveria ser
averiguado com muita atenção pelas
autoridades ambientais e patrimoniais que
atuam em Ouro Preto e Mariana. O
segmento da estrada real aqui tratado é
desconsiderado 'oficialmente' como tal
interligava as zonas altas de Ouro Preto (via
Morros São Sebastião, da Queimada e do
Taquaral)- as localidades mais antigas de
Vila Rica, à porção também primeira de
Mariana, no caso, o Córrego Seco, Mata
Cavalos e Rosário Velho (antiga rua Direita -
hoje local abrangido pelo bairro santo
Antônio (Prainha) a partir, sobretudo, da
primeira metade do século XVIII.
Detalhe de escoro de alvenaria de pedra encoberto por vegetação em trecho de caminho antigo.
Município Ouro Preto, próximo à divisa de Mariana, MG. Foto: A. Baeta, 2015.
24
Ao longo do caminho antigo há inúmeras localidades onde há pedreiras abandonadas e área degradadas
e drenagens naturais comprometidas. Este local merece um plano de recuperação ambiental urgente.
Foto: A. Baeta, 2015.
25
E s t e c a m i n h o f o i s u b s t i t u í d o
posteriormente por outros tantos acessos
mais baixos. Em 1782, José Pereira Arouca
foi encarregado de dirigir as obras da nova
estrada entre Vila Rica e Mariana,
passando pela Vila de São Vicente
(Passagem de Mariana). A nova estrada foi
construída a mando do governador Dom
Rodrigo José de Meneses. Assim o
caminho antigo ficou, paulatinamente, em
desuso.
Este trecho de antiga estrada e as
estruturas associadas a este complexo
arqueológico, merece especial atenção por
meio de programas de recuperação de
áreas degradadas ou reconversão
ambiental e paisagística, bem como, ações
e projetos que visem a sua valorização, pois
trata-se de um dos primeiros sítio-estrada e
estruturas compostas , tais como,
fazendas, comércio, moradias rurais,
capela, ruínas, algumas ainda não
identificadas, dessas duas importantes
cidades históricas.
Considerando as iniciativas a respeito da
proteção e valorização do patrimônio
arqueológico de Ouro Preto (Morro da
Queimada) e de Mariana (Morros do Gogô e
Santo Antônio);reitera-se a necessidade de
preservação desse antigo trecho de
caminho real como percurso arqueológico e
cultural, que se pode constituir em um dos
mais importantes empreendimentos
culturais e socioambientais das cidades do
ciclo do ouro.
Esta conectividade patrimonial e umbilical
entre estas antigas vilas coloniais não pode
continuar abandonada e relegada ao
descaso.
Detalhe de ruína no trecho inicial do caminho (Taquaral) Ouro Preto. Foto: A. Baeta, 2015.
24
CORAL
TOM MAIOR
25
10 anos
EnCantando
Apresentação em Vinhedo-SP
Acervo : Adeuzi Batista
Tom Maior -10 anos EnCantando
Cristiano Casimiro
Santuário do Carmo - Mariana- Missa Festiva de John Leavitt.
Foto - acervo Adeuzi Batista
primeiro ensaio do Coral Tom
Omaior aconteceu no dia 27
de agosto de 2007 e a sua primeira
apresentação no dia 11 de novembro do
mesmo ano, durante o “Vozes que Cantam
– V Encontro de Corais de Mariana”.
O Coral Tom Maior é formado em sua
quase totalidade por adolescentes e jovens
advindos do Coral infantil Allegretto,
composto por crianças. É a oportunidade
de continuidade à trajetória musical das
crianças que chegam pequenas ao Coral
Allegretto e quando alcançam a
adolescência, migram para o Coral Tom
Maior.
A maioria dos jovens que participam do
coral Tom Maior moram em bairros
distantes do centro da cidade e estuda na
rede pública de ensino. O coral é uma
importante forma de integração para estes
jovens e uma ação sociocultural.
A regência, desde o primeiro ensaio, está
incumbida ao competente maestro Adeuzi
Batista Filho, que, com seu trabalho, tem
atraído a atenção e o carinho dos
c o m p o n e n t e s d o c o r a l e d e t o d a
Comunidade Marianense.
Com um repertório que ressalta a música
c o l o n i a l m i n e i r a , p a s s a n d o p e l o
sacro/erudito, folclore nacional e
internacional, MPB, rock and roll entre
outros, o Coral Tom Maior tem se
apresentado em muitas ocasiões festivas e
eventos culturais em Mariana, outras
cidades de Minas Gerais, outros estados
da federação e no exterior. Sempre levando
o nome da cidade de Mariana , um pouco
de nossa música, nossa cultural e alegria.
29
Entre as apresentações podemos destacar:
Ouro Preto, na Casa da Ópera, juntamente
com o Coral Querubins do Horizonte (de
Ouro Preto) e com Corais internacionais,
além de apresentações nas cidades
mineiras de Catas Altas, Santa Bárbara, Rio
Piracicaba, Santa Maria de Itabira,
Guanhães, Serro, Diamantina, Contagem,
Belo Horizonte, Ponte Nova, Conselheiro
Lafaiete, Piranga, Esmeraldas, Rio Doce,
Canaã, Santa Bárbara do Tugúrio, Jeceaba,
Alvinópolis, Juiz de Fora, São João Del Rei,
Piedade de Ponte Nova, Tiradentes, Betim,
Ribeirão das Neves, Caxambu e Baependi.
Em outros Estados, apresentou-se em
Anchieta (ES); Pilar (PB); João Pessoa
(PB); Criciúma (SC), Vinhedo (SP) e
Petrópolis (RJ). Participou em 2008 e 2009
do Concurso de Corais Infanto-Juvenis do
ITAÚ POWER SHOPPING, na região
metropolitana de Belo Horizonte, obtendo
respectivamente o 1º e 3º lugares.
Em outubro de 2011 viveu a sua primeira
experiência internacional, apresentando-se
na Bolívia e no Peru, especialmente no
Festival Internacional de Coros, na cidade
de Cuzco, onde mereceu Menção Especial
como um dos mais melhores coros
participantes daquele participaram do
encontro.
Neste, foi convidado pela Prefeitura
Municipal de Mariana para gravar um ou um
DVD em comemoração aos 100 anos da
criação do Hino de Mariana.
Coral Tom Maior em Machu Picchu - Peru
Foto acervo Adeuzi Batistal
28
Apresentação na Caderal da Virgem da Assunção
Cusco - Peru. Acervo Adeuzi Batista.
31
Em dezembro de 2009, apresentou-se pela
primeira vez na Catedral Basílica de
Mariana (dia 20), ao som do famoso Órgão
ArpSchnitger, num concerto em comemoração
aos 25 anos de restauração deste
precioso instrumento. Voltou a apresentarse
ao som do ArpSchnitger em abril de
2010, no Concerto de Páscoa.
A Musicista e Organista Josineia Godinho à
ocasião do concerto se referiu ao Coral Tom
Maior, dizendo que “estes meninos e meninas
são um verdadeiro patrimônio vivo de
nossa cidade”.
Em 28 de agosto de 2016 abriu as atividades
de seus 10 Anos, cantando no
Santuário do Carmo, em Mariana, a Missa
Festiva de John Leavitt. À oportunidade,
contou com a participação, ao final, de ex-
Coralistas e de familiares de todos os
Coralistas.
Através do canto-coral, o “Tom Maior”
exerce em seus integrantes um forte papel
na socialização e formação do caráter de
cada um, incentivando as boas práticas da
vida.
O Coral Tom Maior é vinculado ao
Conservatório de Música Mestre Vicente
Ângelo das Mercês, de Mariana, Minas
Gerais.
Neste dez anos de existência , além de
alegrarmos com uma musica de alta
qualidade e apresentações memoráveis .
Não posso deixar de registrar o trabalho de
ardo de Adeuzi Batista e Efraim Rocha na
condução deste grande trabalho cultural em
Mariana.
O Coral Tom Maior será uma das atrações do Vozes que Cantam – XV Encontro de
Corais de Ouro Preto e Mariana, que acontece de 17 a 19 de novembro. Promovido pelo
Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês.
Apresentação no Cine-Teatro Central - Juiz de Fora Mg
acervo do Adeuzi Batista
116 anos da
" FURIOSA "
A Sede da União XV de Novembro tem fama. Muito da história de nossa cidade passou-se no interior desta
Casa tão identificada com os marianenses. Tão famoso este prédio é, que qualquer um que for perguntado
sobre a sua localização logo responderá: “Ah, sei sim. Fica ali na Rua Direita”.
Foto: CristianoCasimiro
33
116 ANOS DA UNIÃO XV DE NOVEMBRO
Desde a sua origem as associações
m u s i c a i s , e m g e r a l , s e m p r e s e
mantiveram próximas do poder. As
referências encontradas são sempre
associadas à figura do rei ou do
imperador, de uma irmandade religiosa
ou de partidos políticos. A sua existência
sempre esteve condicionada a realização
de eventos e comemorações em que se
fazia necessário o destaque através da
música.
Não foi diferente com a União XV de
Novembro. Em 1889 foi proclamada a
República Brasileira. O Brasil deixou de
ser um império e os ideais da filosofia
positivista que exaltava a ciência e o
governo baseado na “ordem e progresso”
entusiasmaram a juventude civil e militar.
Para muitos, o Brasil só se tornaria
m o d e r n o s e f o s s e r e p u b l i c a n o .
Miguel de Souza, José Antônio Soares,
José Ornelas Alves Pereira, para
discutirem as possibilidades da formação
de uma Banda de Música, cujo principal
objetivo seria a sua integração nas novas
forças políticas, identificadas com os
idéias republicanas, cujo partido chefiado
pelos adeptos fervorosos da democracia
estava inteiramente ligado às correntes
revolucionárias que implantaram a nova
ideologia, em substituição ao regime
monárquico.
Para divulgar as idéias republicanas no
Brasil, foram criados no início do século
XX, vários instrumentos de propaganda,
veículos de comunicação de massas com
o intuito de divulgar as novas idéias.
Havia muita resistência por parte dos
monarquistas, e isso ocasionou o
surgimento de várias revoltas e
movimentos populares o que levou com
que os militares só conseguissem
c o n s o l i d a r a R e p ú b l i c a
aproximadamente cinco anos após a sua
proclamação.
Nesse contexto, nasceu em Mariana, no
ano de 1901, a Sociedade Musical União
XV de Novembro, por iniciativa do Dr.
Gomes Freire de Andrade: médico,
professor, liderança política local e diretor
do Partido Republicano na cidade. O
objetivo claro da criação da sociedade
musical foi a propaganda republicana. Na
tarde do dia 15 de novembro de 1901, no
seu solar, reuniu os poucos músicos da
época: Antônio de Pádua Coelho, José
Caetano Corrêa, Augusto Walter, Antônio
Documento com assinatura dos participantes da criação da União
XV de novembro em 1901.Arquivo União XV de Novembro
34
Mariana foi um dos primeiros municípios que
aderiram entusiasticamente às novas
diretrizes democráticas do Partido
Republicano, fundado aqui pelo Dr. Gomes
Freire de Andrade, que elaborou o programa
e estabeleceu as bases doutrinárias e
liberais do estatuto partidário a vigorar em
todo o município.
Os primeiros instrumentos musicais foram
adquiridos da banda que pertencera ao
Partido Conservador no tempo da Monarquia
e o seu primeiro professor de música,
Antônio Miguel de Souza, veio da corporação
musical do 31º Batalhão do Exército
Nacional. Iniciaram-se, em agosto de 1901,
o s e n s a i o s p r e p a r a t ó r i o s d a n o v a
agremiação, cujo sustentáculo estava
menos nos recursos materiais do que na boa
v o n t a d e e p e r s e v e r a n ç a d e s e u s
componentes. Cedida graciosamente pelos
herdeiros do saudoso Manoel Pereira
Bernardino, uma sala de sua residência, à
Rua Direita, ali se fizeram ouvir as primeiras
clarinadas, que aguçavam curiosidade da
vizinhança, aumentando, ao mesmo passo,
a afluência da mocidade sonhadora. A
primeira apresentação, três meses após a
sua criação, aconteceu na porta da casa do
seu principal fundador, o Dr. Gomes Freire de
Andrade.
Por mais incrível que pareça, o conjunto,
recém-formado, possuía o dom de arrebatar
multidões, arrastando-as aos vibrantes
comícios de propaganda, aliciando
prosélitos e, dir-se-ia, que as adesões se
multiplicavam quase milagrosamente com os
acordes da Banda que, sem favor, foi a alma
mater da consolidação dos ideais políticos da
nova facção, dirigida pelo Dr. Gomes Freire
de Andrade.
Junto com a Sociedade Musical União XV de
Novembro, foi fundado, também, o jornal Rio
do Carmo, desaparecido em 1903 e
renascido em 1905 com o nome O Germinal.
A Banda e o jornal, com os mesmos
objetivos, caminhavam em parceria,
sintonizados com a propaganda republicana.
No jornal eram publicados os artigos em
defesa dos ideais da República e noticiadas
as principais ações, inclusive todos os
eventos em que havia a presença da Banda
da União. Na mesma época foi fundada
também a Banda São José. Esta, porém, a
princípio, se dedicava mais à participação de
festas e ofícios estritamente religiosos.
União XV de Novembro de Uniforme Branco - Rua de Direita Mariana -1930- Arquivo União XV de Novembro
Imagem acervo da União XV Novembro
Aos poucos a Banda foi aumentando a
freqüência das suas apresentações. Em
retretas e passeatas, alvoradas e
homenagens a personalidades ilustres, a
Banda da União estava presente em todas
as comemorações cívicas, sociais e
religiosas da cidade. Hoje, centenária,
procura com auxílio da comunidade local e
do poder público, aprimorar cada vez mais
as suas apresentações. Da principal função
que lhe foi dada no ato de sua criação, a
propaganda republicana, restam a tradição
e a história musical contadas em partituras.
Firmada como tradição da cidade, a
Sociedade Musical União XV de Novembro
o u a “ F u r i o s a ” , a p e l i d o d a d o
carinhosamente pela população, é
conhecida pelos marianenses há longos
anos. Seu toque, hoje completamente
desvinculado da participação políticopartidária,
faz parte do Patrimônio Histórico
e Cultural da cidade de Mariana.
Foto: CristianoCasimiro
Respeitável público... Oshow vai começar !
Praça Minas Gerais - LINCON ZARBIETTI - Circo Volante Divulgação
37
De 16 a 19 de novembro, Mariana/MG
recebe o Circovolante – 9° Encontro
Internacional de Palhaços. Serão muitos os
malabarismos, cambalhotas e piruetas –
simbólicos e literais – para realizar um dos
maiores eventos circenses do país. Com a
presença de mais de uma centena de
palhaços de diversas cores, estilos,
tamanhos e nacionalidades, o festival tem
quatro dias de programação gratuita na
Praça da Sé, Praça Gomes Freire, Rua Frei
Durão, asilos e hospitais, além da
descentralização, que leva espetáculos a
bairros e distritos próximos à cidade.
Serão espetáculos, rodas de conversa,
shows de música, lançamento de livro e
exibição de filmes. Com artistas e grupos
de vários cantos do Brasil e várias partes do
mundo como: Mauro Cosenza (Uruguai),
Francois Buille (França), Umberto
Rosichetti (Itália), Atalwalpa Coello (Peru),
Circo Amarillo (Argentina/Brasil), Irmãs
Cola (Brasil/SP), Artetude (Brasil/Brasília),
Pé de Cana (Brasil/SP), Cia. Lunática
(Brasil/MG), Palhaço Furreca (Brasil/MG),
Cia. Circunstância (Brasil/MG), Palhaço
Viralata (Brasil/MG), Uniclown (Brasil/MG),
Cia. Sapato Velho (Brasil/RJ), Guga
M o r a l e s ( B r a s i l / R J ) , N o p o k
(Argentina/Brasil) estão entre os
confirmados.
O homenageado
O grande homenageado da edição é o palhaço Saracura. Descendente da terceira
geração de uma família circense, Deusa Aparecida Reis fazia números de trapézio e
equilíbrio com o pai, quando criança. Sua mãe até hoje, com 80 anos, arrisca alguns
truques. “Quando surgiu uma vaga para palhaço eu me candidatei e nasceu o
Saracura. O público gostou, eu também e fiquei 20 anos sendo palhaço, tirando o
sorriso das pessoas sem contar uma piada. Realizei-me nessa arte e hoje sou
jardineiro. Saber da homenagem me emocionou, nunca esperaria ser escolhido
entre tantos artistas. "Fiquei muito feliz e já estou ensaiando para desenferrujar, não
quero fazer feio!", conta Saracura.
CORTEJO - LINCON ZARBIETTI - Circo Volante Divulgação
A abertura do Circovolante
9° Encontro Internacional de
Palhaços será na Feira
Noturna de Mariana.
No dia 16 de novembro, o Circovolante leva
dois espetáculos e um show para marcar o
início do evento, na Praça dos Ferroviários.
Entre os destaques, está o Samba no Pé de
Moleque, que acontece no sábado, 18 de
novembro, quando todos os palhaços se
reúnem - e o público também entra no clima
com roupas coloridas e pinturas – e um grande
cortejo segue contagiando as ladeiras da
cidade histórica. Uma novidade é a
programação simultânea, com espetáculos
acontecendo em locais diferentes, ao mesmo
tempo, para que todos possam desfrutar
melhor das atrações.
O número 9 simboliza a crise seguida da
superação. E a 9ª edição do festival não negou
esta previsão. “Em um ano como este, o
esforço para a realização do Encontro foi
grande. Tivemos inclusive que adiar para
novembro, na expectativa de conseguir mais
apoio. A comunidade de Mariana ficou muito
ansiosa, pois o evento normalmente ocorre
em setembro. Todos os dias recebíamos
ligações e mensagens e agora, com as datas
confirmadas, estão todos animados. Vai ser
um Encontro lindo”, comenta Xisto Siman,
palhaço e um dos idealizadores do evento.
O Circovolante – 9° Encontro Internacional de
Palhaços é realizado pelo Circovolante e
Circo Para Todos, com patrocínio da
Prefeitura de Mariana. Apoio cultural: Câmara
de Vereadores e Secretaria de Cultura de
Mariana. Parceiros: Neaspoc, Marianatur,
Clube Osquindô e Uniclown.
Circovolante
9° Encontro Internacional de Palhaços
Data: de 16 a 19 de novembro.
Local: eventos concentrados na Praça Gomes
Freire, Praça da Sé e Rua Frei Durão (em frente
à Casa de Cultura) – Mariana/ MG.
Todos os eventos são gratuitos.
Desenho:Ermerson Camaleão - Cartoon
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