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<strong>Novembro</strong> /<strong>2017</strong><br />
Mariana<br />
<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural
A Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural é<br />
uma publicação eletrônica<br />
O periódico tem o objetivo divulgar<br />
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.<br />
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos<br />
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma<br />
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram<br />
estes 321 anos da primeira cidade de Minas.<br />
Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong><br />
Belas Artes é um passo importante para a<br />
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a<br />
cidade de Mariana. Esperamos que os textos<br />
publicados contribuam para a formação de uma<br />
consciência de preservação e incentivem a<br />
pesquisa.<br />
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />
são de inteira responsabilidade dos autores.<br />
Colaboradores:<br />
Prof. Cristiano Casimiro<br />
Prof (a) Dra Alenice Baeta<br />
Adeuzi Batista<br />
Agradecimentos:<br />
Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana<br />
Arquivo União XV <strong>Novembro</strong><br />
Arquivo Fotográfico Marezza<br />
Circo Volante<br />
Fotografias:<br />
Cristiano Casimiro<br />
Arquivo Marrrezza - Marcio Lima<br />
Acervo União XV <strong>Novembro</strong><br />
Atefactto - Alenice Baeta / Henrique Piló<br />
Adeuzi Batista<br />
Acervo Circo Volante<br />
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />
Capa: Fotografia de um buraco de sarilho no Morro Santana - Mariana<br />
Foto: Alenice Baeta
Indice<br />
ARQUEOLOGIA, PATRIMÔNIO E PAISAGENS NOS<br />
MORROS SANTANA E SANTO ANTÔNIO .<br />
ESTRADA ESQUECIDA E DEGRADADA DO DEZOITO<br />
10 ANOS DO CORAL TOM MAIOR<br />
04<br />
22<br />
26<br />
116 ANOS DA UNIÃO XV DE NOVEMBRO.<br />
32<br />
9º ENCONTRO INTERNACIONAL DE PALHAÇOS EM<br />
MARIANA<br />
36<br />
Santa Ceia - Manoel da Costa Athaide - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo<br />
Imagem : Alenice Baeta
Especial<br />
04<br />
Patrimônio Arqueológico em Mariana<br />
Foto jornal O Espeto Leandro Henrique<br />
Alenice Baeta*<br />
Henrique Piló*<br />
*Arqueólogos e Historiadores, responsáveis técnicos pelo tema: 'Arqueologia'no Dossiê de<br />
Tombamento do Conjunto Paisagístico e Arqueológico elaborado para a Prefeitura<br />
Municipal de Mariana pela Memória e Arquitetura, em julho de 2007. 270p.<br />
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
05<br />
Arqueologia, Patrimônio e Paisagens<br />
nos Morros Santana e Santo Antônio<br />
Em Mariana, os Morros Santana ou Gogô e<br />
Santo Antônio fazem parte de um<br />
expressivo complexo arqueológico de<br />
mineração e de ocupação colonial. Nos<br />
cumes e encostas das serras podem ser<br />
notadas cicatrizes típicas da atividade<br />
mineradora. Trata-se de centenas de<br />
vestígios compostos por antigas lavras a<br />
céu aberto, canais, catas, sarilhos, acessos<br />
e estruturas compostas por escoros e<br />
alvenarias de pedra relacionadas ao<br />
processo e diferentes tecnologias de<br />
explotação mineral ao longo dos séculos<br />
XVIII, XIX e XX.<br />
A história do escravismo e da exploração<br />
aurífera encontra-se muito arraigada na<br />
memória e no cotidiano da população de<br />
Mariana, sobretudo para os moradores dos<br />
arredores destes morros. Ainda é comum<br />
avistar no Ribeirão do Carmo, apesar da<br />
sua poluição e assoreamento, a utilização<br />
da bateia por parte de alguns moradores.<br />
Algumas famílias do Bairro Vila Gogô são<br />
descendentes dos antigos habitantes do<br />
Arraial Velho no Morro de Santana, dentre<br />
eles, garimpeiros e escravos. Apesar da<br />
proximidade de áreas urbanizadas,<br />
apresenta, em algumas localidades dos<br />
mesmos, edificações e estruturas em bom<br />
estado de conservação, o que vem<br />
subsidiando a identificação e interpretação<br />
de outros sítios nas adjacências com<br />
i n d í c i o s a r q u e o l ó g i c o s d e m e n o r<br />
visibilidade e/ou conservação.<br />
No entanto, as zonas mais baixas,<br />
aplainadas e meia-encostas destas serras<br />
também foram sotopostas por ocupação<br />
urbana desordenada, na maioria das vezes<br />
por famílias muito carentes, com o<br />
aproveitamento de alguns alicerces antigos<br />
como bases para novas moradias. Ainda<br />
ocorre a retirada de peças de edificações,<br />
tais como blocos, madeirame e telhas, para<br />
sua reutilização em novas construções nos<br />
arredores.<br />
Visando a valorização patrimonial e<br />
preservação dos conjuntos que compõem<br />
os Morros Gogô e Santo Antônio foi<br />
realizado em 2007 dentro da política<br />
cultural do município de Mariana o seu<br />
processo de tombamento municipal.<br />
05<br />
Foto jornal O Espeto Leandro Henrique
06<br />
Análise Espacial e Interpretação dos Indícios<br />
Com o objetivo de diagnosticar todo o perímetro de tombamento e de entorno, levando em<br />
consideração o tamanho das áreas do Morro de Santana (131,70 ha) e do Morro de Santo<br />
Antônio (131,16 ha) foram realizados levantamentos topográficos, mapeamento e identificação<br />
de estruturas, tipologiase estado de conservação. Cada conjunto identificado foi numerado e<br />
suas estruturas componentes descritas em quadro com as respectivas fotos. Após a<br />
identificação de todos os conjuntos e suas principais estruturas componentes, foi possível<br />
seccionar as principais zonas ou setores de ocorrência de vestígios, baseando-se, sobretudo,<br />
em critérios tipológicos, topográficos e paisagísticos.<br />
Zonas ou Setores de Ocorrência<br />
A- Morro de Santo Antônio - Passagem de Mariana<br />
B- Morro de Santo Antônio - Cume<br />
C- Morro de Santo Antônio - Cia da Passagem<br />
D- Morro de Santana ou Gogô - Parte Alta (“Arraial Velho”)<br />
E- Morro de Santana ou Gogô - Parte Baixa<br />
Morro de Santo Antônio<br />
ou Mata Cavalos<br />
Morro de Santana<br />
ou Gogô<br />
D<br />
E<br />
N<br />
A<br />
B<br />
C<br />
Imagem de Satélite- Google Earth <strong>2017</strong><br />
Mariana Distrito Sede<br />
Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima
07<br />
Após o mapeamento e distribuição das estruturasporzonasouáreas e avaliação prévia do<br />
estado de conservação das mesmas, foi possívelestabelecer uma tipologiageral das<br />
estruturas, distribuindo-as por sua vez, emplanta de situação, pormeio de uma legenda de<br />
cores e formas com o objetivo de representar graficamente agrandevariedade, potencialidade<br />
e complexidade das estruturas arqueológicas contidas nosperímetros de tombamento e<br />
entorno.<br />
Localização das estruturas mapeadas no Morro de Santana (Gogô)<br />
Mapa esquemático, sem escala<br />
Fonte: Memória e Arquitetura, 2007.<br />
IGREJA DE<br />
SANTANA<br />
LEGENDA<br />
PILÃO<br />
CONJUNTO DE RUÍNAS / SARILHOS<br />
MUNDÉU<br />
SARILHO<br />
LAGOA<br />
FUNDIÇÃO<br />
REGO / CANAL<br />
MONTES DE ENTULHO E MINÉRIO<br />
BRUNIDOR<br />
LAVRA<br />
GALERIA<br />
RUA / ESTRADA / CAMINHO<br />
VALA<br />
CEMITÉRIO<br />
IGREJA / CASA PAROQUIAL<br />
UNIDADE RESIDENCIAL COM REBOCO<br />
CURRAL<br />
BANCADAS PARA HORTA<br />
MURO DE ARRIMO<br />
MONJOLO / ENGENHO<br />
UNIDADE RESIDENCIAL<br />
PAIOL<br />
HOSPITAL<br />
RUÍNA<br />
CANOAS<br />
MINA DE ARSÊNICO (CHAMINÉ, SALAS, FORNO E CAIXA D'ÁGUA)<br />
BARRAGEM<br />
BUEIRO<br />
PERÍMETRO DE TOMBAMENTO<br />
PERÍMETRO DE ENTORNO<br />
ESTAÇÃ O<br />
FERROVIARI A<br />
07
08<br />
Localização das estruturas mapeadas no Morro de Santo Antônio (Mata-Cavalos)<br />
Mapa esquemático, sem escala.<br />
Fonte: Memória e Arquitetura, 2007.<br />
LEGENDA<br />
PILÃO<br />
CONJUNTO DE RUÍNAS / SARILHOS<br />
MUNDÉU<br />
SARILHO<br />
LAGOA<br />
FUNDIÇÃO<br />
REGO / CANAL<br />
MONTES DE ENTULHO E MINÉRIO<br />
BRUNIDOR<br />
LAVRA<br />
GALERIA<br />
RUA / ESTRADA / CAMINHO<br />
VALA<br />
CEMITÉRIO<br />
IGREJA / CASA PAROQUIAL<br />
UNIDADE RESIDENCIAL COM REBOCO<br />
CURRAL<br />
BANCADAS PARA HORTA<br />
MURO DE ARRIMO<br />
MONJOLO / ENGENHO<br />
UNIDADE RESIDENCIAL<br />
PAIOL<br />
HOSPITAL<br />
RUÍNA<br />
CANOAS<br />
MINA DE ARSÊNICO (CHAMINÉ, SALAS, FORNO E CAIXA D'ÁGUA)<br />
BARRAGEM<br />
BUEIRO<br />
PERÍMETRO DE TOMBAMENTO<br />
PERÍMETRO DE ENTORNO<br />
IGREJA DE<br />
SANTO<br />
ANTÔNIO<br />
ESTAÇÃ O<br />
FERROVIARI A<br />
CAP ELA E<br />
CEMITÉRIO<br />
DOS INGLESES<br />
IA<br />
Posteriormente, foi possível estabelecer quais eram as melhores amostras de cada tipo,<br />
focalizando e registrando-as como modelos. Os critérios para definição das amostras-tipo<br />
foram: estado de conservação, morfologia, tecnologia de fabricação e peculiaridades. Dentro<br />
de alguns tipos, foi também possível estabelecer, uma variedade interna ou subtipos. Foi o que<br />
aconteceu com os mundéus – identificados em formato retangular, ovoides e semicirculares e<br />
sistema de implantação, aproveitando, neste último caso, a curvatura do terreno e suas ravinas.
09<br />
Em linhas gerais, os tipos identificados foram organizados em sete grupos principais:<br />
1 - Domésticos e afins: unidade residencial, curral, horta, hospital, engenho e paiol;<br />
2 - Religiosos: capela, cemitério, casa paroquial;<br />
3 - Acessos e divisas: caminhos, trilhas, valas de divisa, muros de arrimo;<br />
4 - Estruturas de mineração: lavra a céu aberto; mundéu, represa, pilão; rego ou aqueduto,<br />
canoa, galeria, buraco de sarilho, fundição, montes de entulho, brunidor e fio de pedra (estas<br />
duas, estruturas móveis), além da usina de cloretação. Também entrou nesta categoria uma<br />
lagoa, originalmente cata, que foi represada posteriormente;<br />
5 - Natural: caverna de canga;<br />
6 - Fragmentos de utensílios domésticos: cerâmica vitrificada, cerâmica histórica ou “cabocla”<br />
e de esteatita;<br />
7 - Não identificados (sobretudo em função do péssimo estado de conservação. É o caso de<br />
algumas estruturas que sofreram demolições).<br />
Foto jornal O Espeto - Leandro Henrique.
10<br />
Contexto Sócio Histórico, Tecnologias e Lavras Principais<br />
Em localidades próximas ao Pico do Itacolomi<br />
diferentes grupos de mineradores se<br />
embrenhavam pelos sertões a cata de novos<br />
veios. Um grupo liderado por Salvador<br />
Fernandes Furtado chegou às margens de um<br />
ribeirão que, em homenagem à Nossa Senhora,<br />
recebeu o topônimo de Ribeirão do Carmo, atual<br />
cidade de Mariana. A chegada destes<br />
mineradores e a divulgação de novas<br />
descobertas fizeram com que estas paragens<br />
se tornassem um populoso centro de<br />
mineração. Apesar da pouca distância entre as<br />
vilas de Vila Rica e Ribeirão do Carmo, apenas<br />
12 quilômetros, não havia contato direto entre<br />
as duas populações. Seus descobertos<br />
auríferos foram contíguos e praticamente<br />
simultâneos.<br />
“Na verdade, ninguém procurava abrir<br />
caminho através de sítios tão agrestes. Os<br />
mineiros do Arraial do Carmo, entretanto,<br />
tiveram conhecimento da existência de<br />
trabalhos de mineração em Ouro Preto pelas<br />
águas turvas do ribeirão. Assim, foram eles os<br />
primeiros a estabelecer comunicação entre o<br />
Carmo e Ouro Preto, abrindo uma pica da<br />
através de quase inacessíveis rochedos e<br />
impenetráveis florestas, guiando-se sempre<br />
pelas águas turvas do ribeirão do Ouro Preto”<br />
(ESCHWEGE,1979:29).<br />
Segundo Antonil (1982) apesar da curta<br />
distância entre as duas regiões auríferas, o<br />
caminho bastante fechado dificultava o acesso<br />
inicial à região. Gastava-se, na verdade “três<br />
dias de caminho moderado até o jantar” para se<br />
chegar ao ribeirão de Nossa Senhora do Carmo,<br />
que, segundo ele, teria sido descoberto por<br />
João Lopes de Lima.<br />
A extração mineral nesse período tinha caráter<br />
bastante rudimentar. Com o esgotamento das<br />
reservas de ouro aluvionar, as explotações<br />
foram transferidas para as montanhas, onde as<br />
atividades extrativas se mostravam bem mais<br />
onerosas. Neste período, procurou-se aplicar<br />
os mesmos métodos utilizados nos rios,<br />
fazendo aberturas no solo e em rochas<br />
alteradas, cujo material era transportado para a<br />
lavação e apuração em bateias junto ao rio.<br />
Os primeiros trabalhos de explotação eram<br />
realizados em leitos de rios, sendo os primeiros<br />
c a s c a l h o s a u r í f e r o s e n c o n t r a d o s e m<br />
descoberto em seus leitos.<br />
“No princípio, esses homens, desprovidos de<br />
todos os meios, extraíam o ouro entrando na<br />
água para remexer as areias com estacas<br />
afiadas, que recolhiam em seguida em<br />
pequenos recipientes, pratos de estanho ou<br />
gamelas de madeira, nos quais separavam os<br />
grãos de ouro com os dedos, rejeitando em<br />
seguida a areia para o rio. As gamelas de<br />
madeira foram substituídas mais tarde por um<br />
vaso em forma de funil ou de cone muito aberto,<br />
a bateia (...)” (FERRAND,1998: 98).<br />
Faiscador utilizando a bateia<br />
FONTE: FERRAND, 1988:98.
11<br />
Outro sistema surgido posteriormente ao da<br />
bateia era o de desvio dos cursos de água<br />
por barragem e canal lateral, consistindo em<br />
desviar as águas do leito principal do rio,<br />
abrindo um canal lateral dirigindo assim, as<br />
águas para este novo leito construído.<br />
Desta forma, os mineradores começavam<br />
seus trabalhos no leito seco do rio. Como as<br />
represas eram construídas de modo<br />
bastante rudimentar, estas cediam com<br />
f r e q ü ê n c i a , a f o g a n d o a s s i m o s<br />
trabalhadores. Como o cascalho aurífero do<br />
leito dos rios era bastante superficial, com<br />
seu esgotamento era natural a mudança da<br />
explotação para as margens do rio. Tendo<br />
em vista que esses depósitos possuem a<br />
mesma origem dos rios,<br />
“...era bastante natural que, quando estes<br />
últimos começaram a se esgotar, os<br />
mineradores fossem atraídos para os<br />
mesmos, procurando o metal que tinham<br />
tanta dificuldade para recolherem outras<br />
partes, tanto mais que sua explotação era<br />
relativamente mais fácil que a dos rios, cujo<br />
curso era preciso desviar para extrair o<br />
cascalho. Bastava, de fato, para isso, retirar<br />
as camadas de terra e de saibro que<br />
cobriam o cascalho virgem formado de<br />
seixos maiores” (FERRAND,1988: 105).<br />
A forma mais primitiva para o tratamento<br />
dessas camadas de aluviões eram as catas,<br />
escavações redondas, aberta sem forma de<br />
funil, com inclinação suficiente para evitar<br />
um possível desabamento para o interior, e<br />
que sua abertura se alarga à medida em que<br />
se aprofunda. Este método só era aplicado<br />
nas estações secas, tendo em vista que as<br />
c h u v a s i n u n d a v a m o s t r a b a l h o s ,<br />
inviabilizando-os.Com o esgotamento do<br />
ouro de mais fácil exploração foi necessário<br />
emprego de tecnologia para a realização<br />
dos trabalhos nos flancos das montanhas.<br />
Esses trabalhos eram aplicados às rochas<br />
friáveis ou decompostas, atravessadas<br />
pelos filões de quartzo aurífero. O método<br />
aplicado por esses mineradores era o de<br />
utilizar as águas como auxiliar na lavagem<br />
do terreno e evidenciação do minério<br />
aurífero. Para isso, era necessário seu<br />
acúmulo em reservatórios nas partes mais<br />
altas da exploração. Quando se abria a<br />
porta do reservatório, as águas eram<br />
lançadas abruptamente pelo terreno,<br />
arrastando e carreando terras e pedras até<br />
um canal inferior, e assim era dirigido para<br />
grandes reservatórios de alvenaria,<br />
chamados mundéus, destinados a recolher<br />
as lamas auríferas.<br />
“Os mundéus, geralmente encostados no<br />
flanco de uma montanha vizinha da<br />
explotação, eram grandes reservatórios<br />
retangulares ou semi circulares. Mediam<br />
internamente até 16 metros, e mesmo 24<br />
metros de lados. Tinham 3 a 6 metros de<br />
profundidade, com paredes de quase dois<br />
metros de espessura, em alvenaria de<br />
blocos de pedra simplesmente cimentados<br />
com uma mistura de argila e areia. Eram<br />
dispostos em série, uns ao lado de outros, e<br />
com ligeiro desnível, em função do canal<br />
lateral que levava as águas carregadas de<br />
lamas auríferas para os mesmos, por um<br />
escoadouro colocado em saliência no meio<br />
da parede do fundo, um pouco acima do<br />
reservatório” (FERRAND,1988: 111).
12<br />
DESENHO ESQUEMÁTICO DE MUNDÉU<br />
Desenho do Barão de Eschwege 1833<br />
Ilustração Palestra:História do Ouro no Brasil Prof. Dr. Friedrich E. Renger Instituto de Geociências / UFMG<br />
Ruínas de mundéu, no Morro de Santana<br />
FOTO: Henrique Piló (2007).
13<br />
O trabalho no interior das montanhasera realizado quando os mineradores encontravam<br />
jazidascompletamente embutidas nas montanhas. Deste modo, era seguido o veioaurífero,<br />
realizando galeriasque seguiam esta linha do mineral. Assim, explotavam as jazidaspormeio de<br />
uma série de galeriasque chegavam a uma câmara isolada, realizada na partemaisrica. Se por<br />
alguma razão, quer seja inundaçãopelolençolfreático, querpordesabamentosque<br />
impossibilitavam a continuação da galeria, tentava-se encontrar o filãopormeio da abertura de<br />
uma novagaleria.<br />
“Um notável exemplo desse sistema é ainda visível na mina da Passagem. A<br />
jazida é formada por um filão de contato, que penetra no flanco de uma<br />
montanha escarpada, aprofundando segundo um ângulo de 18 a 20º. Nos<br />
afloramentos, abriram espaçadamente galerias que avançam 20 ou 40<br />
metros, seguindo o mergulho. Em seguida foram alargadas, de modo a<br />
formar salões de dimensões algumas vezes consideráveis”<br />
(FERRAND,1988:114).<br />
O processo de concentração das areias e terras auríferas era feito submetendo-se estas a uma<br />
corrente de água em lavadores manuais. Estes lavadouros eram chamados canoas e tinham<br />
como função reter as parcelas pesadas em mesas com telas ou baetas, situadas após os<br />
mesmos. A canoa era de instalação simples, consistindo em um poço pouco profundo feito no<br />
local onde se queria lavar as areias. Estas canoas também podiam ser construídas empedras,<br />
quando o processo de lavação era executado no mesmo local. Situavam-se no pé dos<br />
mundéus, com fundo formado por lajes e grandes blocos de pedras.<br />
Representações de canoas<br />
FONTE: FERRAND,1988:119-121.<br />
Estrutura de Canoa noMorro de Santana<br />
FOTO: Henrique Piló (2007).
14<br />
O trabalho na canoa compreendia duas<br />
fases distintas sendo que na primeira,<br />
acumulava-se a massa aurífera na caixa,<br />
fazendo a passar por um processo de<br />
limpeza e na segunda fase executava-se<br />
a concentração da massa, separando a<br />
parte rica e o resto passando sobre as<br />
mesas, onde as parcelas pesadas eram<br />
r e t i r a d a s . E s t e s d e p ó s i t o s i a m<br />
diretamente para a apuração, mas as<br />
areias concentradas nas canoas não<br />
eram suficientemente finas para delas se<br />
extrair o ouro; visando este fim, sofriam<br />
uma pulverização complementar, sendo<br />
esfregadas fortemente entre duas<br />
pedras, denominadas brunidores.<br />
Utilização do brunidor<br />
FONTE: FERRAND,1988: 127.<br />
Apenas quando da chegada da família real<br />
no Brasil e da abertura dos portos “às<br />
nações amigas” é que foram elaboradas<br />
diretrizes para o re-incremento da produção<br />
aurífera da região. Em 1811, Wilhelm<br />
Ludwig Von Eschwege foi enviado a Minas<br />
no intuito de estudar as formas de minerar e<br />
introduzir técnicas mais produtivas. Em<br />
1803, através do Alvará de 03 de maio,<br />
proibi-se a circulação do ouro em pó,<br />
substituto da moeda em transações<br />
comerciais e reduz-se o quinto à metade,<br />
em uma tentativa de diminuir a sonegação e<br />
incentivar a produção mineral. Em 1822,<br />
após a independência do Brasil, com a<br />
liberação da exploração para empresas<br />
estrangeiras, toma-se um novo rumo na<br />
extração do metal aurífero nas minas<br />
(FÉLIX, 1988:57-59). Esta nova fase teria<br />
Brunidor no Morro de Santana<br />
FOTO: Henrique Piló (2007).<br />
início, na verdade, pouco antes, em 1817,<br />
com a criação da Sociedade Mineralógica<br />
de Passagem, organizada por Eschwege.<br />
Este teria sido o momento da transformação<br />
da mineração na Mina da Passagem de<br />
garimpo para a primeira atividade<br />
empresarial organizada. Em 1824, Edward<br />
Oxenford obteve por meio de decreto<br />
imperial, autorização para realizar trabalhos<br />
em minas brasileiras, o que permitiu que ele<br />
organizasse em Londres uma companhia<br />
com capital de 350.000 libras esterlinas,<br />
com o nome de Imperial Brazilian Mining<br />
Association, a primeira companhia de<br />
capital estrangeiro, que era proprietária das<br />
minas de Gongo Soco, Cata Preta, Antônio<br />
Pereira, além das terras auríferas da Serra<br />
do Socorro (FERRAND,1988: 1964).
15<br />
O histórico das explorações na Mina da<br />
Passagem remete aos primeiros anos de<br />
exploração mineral na região. Esta<br />
propriedade mineral abarcava quatro<br />
minas, a do Fundão, Mineralógica, Paredão<br />
e Mata Cavalos. A lavra de Mineralógica era<br />
composta por 49 datas (FERRAND,1988)<br />
provenientes da reunião de várias<br />
concessõesfeitasentre1729 a1756 a vários<br />
mineradores. Após passarem por diversos<br />
proprietários foram compradas por José<br />
Botelho Borges, em 1784. Após a sua<br />
morte, seus bens foram leiloados e a mina<br />
foi entregue ao barão de Eschwege, em<br />
1819. Segundo Ferrand, a jazida tinha sido<br />
apenas “arranhada” pelos mineradores em<br />
vários pontos do afloramento. Neste<br />
período, adota-se uma exploração mais<br />
regular dos recursos minerais existentes.<br />
“Eschwege formou a primeira companhia<br />
existente no país, com o nome de<br />
Sociedade Mineralógica da Passagem, e<br />
instalou um moinho de nove pilões.<br />
Infelizmente, depois de vários anos de<br />
prosperidade, a sociedade entrou em<br />
falência e os trabalhos foram interrompidos.<br />
A propriedade foi vendida em 1º de junho de<br />
1859 pelo liquidante a um minerador inglês,<br />
Thomas Bawden, que trabalhara algum<br />
tempo em Fundão, mina vizinha, e este<br />
último a revendeu quatro anos depois, em<br />
26 de novembro de 1863, a Thomas Treolar,<br />
representante da nova companhia em<br />
formação, a Anglo-Brazilian Gold Mining<br />
Company Limited”<br />
(FERRAND,1988: 232).<br />
Plano de lavra da Mina da Passagem<br />
FONTE: FERRAND, 1988: 223.
16<br />
A Lavra do Fundão era composta de 76<br />
datas minerais e também era formada por<br />
várias concessões dadas no período de<br />
1735 a1778 a diferentes mineradores.<br />
Foram agrupadas por um minerador que,<br />
em 1835 as revendeu ao comendador<br />
Francisco de Paula Santos. Este formou<br />
uma associação denominada Sociedade<br />
União Mineira. Foi comprada em 1850 por<br />
Thomas Bawden e Antônio Buzelin e<br />
depois revendida à Anglo-Brazilian Gold<br />
Mining Company Limited, junta mente com<br />
a mina da Mineralógica.A Lavra do<br />
Paredão, por sua vez, possuía uma<br />
superfície de 12 datas. Alvo de várias<br />
concessões datadas de 1758 a Antônio<br />
Mendes da Fonseca, passou às mãos da<br />
família Martins Coelho e posteriormente foi<br />
vendida à Anglo-Brazilian Gold Mining<br />
Company Limited, no mesmo período das<br />
duas anteriores. A companhia inglesa se<br />
apossou das três lavra sem 26 de<br />
novembro de 1863 e em 30 de setembro de<br />
1865, adquiriu a lavra de Mata-Cavalos<br />
(FERRAND,1988).Esta empresa operou a<br />
mina durante nove anos, tendo produzido<br />
neste período, 753.560 gramas de ouro.<br />
Em1875 amina foi vendida a um sindicato<br />
francês que criou a empresa The Ouro Preto<br />
Gold Mine Company, tendo sido vendida em<br />
1895 à Companhia Minas de Passagem,<br />
uma empresa brasileira de propriedade da<br />
família Guimarães. Esta foi a época de<br />
maior exploração contínua, alcançando de<br />
1933 a1939 a produção de 1870,4 kg de<br />
ouro; em 1941, 360 kg; em 1943, 430 kg e<br />
no período de 1951 a 1954, uma produção<br />
de 1100 kg de ouro.<br />
Foi adquirida por novos proprietários a partir<br />
dos anos 70, sendo que o local vem sendo<br />
utilizado parcialmente como área de turismo<br />
ecológico explorada pela iniciativa privada.<br />
O conjunto mais próximo à Estação<br />
Ferroviária de Passagem de Mariana (aqui<br />
designado Setor A), é o que apresenta um<br />
melhor estado de conservação, sendo,<br />
inclusive o mais apto a um programa de<br />
visitação pública controlada, caso seja<br />
decidido este tipo de atividade no Plano de<br />
Manejo a ser elaborado para a área<br />
tombada. Existe ainda o uso para pastagem<br />
de animais, mesmo apresentando algum<br />
risco de acidentes, devido a ocorrência de<br />
buracos de sarilho, muitas vezes<br />
encobertos pela vegetação. Há, também,<br />
extração de material lenhoso por parte de<br />
alguns moradores da circunvizinhança.<br />
De acordo com informações orais, os<br />
últimos habitantes do Morro de Santana<br />
foram Dona Teresa, Roque “Pode Deixar”,<br />
Dona Angelina e seus pais; José Jorge,<br />
Dona Guida, Calazans, Dona Ana da Luz.<br />
Algumas galerias do Morro de Santana<br />
foram ativadas anos atrás, mas já se<br />
encontram novamente em desuso.<br />
Igreja NS do Rosário de Padre Viegas - Marezza PHOTO
Caverna natural associada a estruturas de mineração e ruínas no Morro de Santo Antônio.<br />
Município: Mariana, MG (Foto: Alenice Baeta, 2012).<br />
Presentemente os Morros de Santana e<br />
S a n t o A n t ô n i o , s ã o u t i l i z a d o s<br />
principalmente como pastagem de animais<br />
mesmo apresentando riscos de acidentes<br />
devido aos inúmeros buracos de sarilho,<br />
muitas vezes encobertos pela vegetação. A<br />
Lagoa Seca, no extremo sul da área de<br />
Santana, é utilizada, também, como área de<br />
lazer para jogos de várzea e piqueniques. O<br />
Córrego do Fundão ao norte da área é<br />
utilizado como fonte abastecimento hídrico<br />
do município de Mariana. Tal córrego, por se<br />
tratar de trecho encachoeirado, possui<br />
diversas quedas d`água que são utilizadas<br />
p a r a l a z e r d a c o m u n i d a d e l o c a l<br />
principalmente os moradores do Bairro Vila<br />
Gogô. Em suas margens observou-se<br />
extração de quartzito (Pedra de São Tomé)<br />
feita artesanalmente por moradores locais.<br />
A prefeitura municipal mantém serviço de<br />
manutenção e controle do manancial do<br />
Córrego do Fundão. A área da ruína da<br />
Capela de Santana tem sido utilizada<br />
anualmente por romeiros por ocasião da<br />
festa de Santana. Alguns moradores,<br />
antigos garimpeiros, mantêm a tradição de<br />
percorrer a área com as crianças da escola<br />
local. Ainda que de maneira incipiente,<br />
ocorre algum tipo de atividade minerária em<br />
busca de ouro.<br />
Em localidade abrangida pelo Setor C, há<br />
ainda o “Cemitério dos Ingleses”, “Capela<br />
dos Ingleses” e “Usina de Cloretação”,<br />
neste caso, situados no entorno dos<br />
perímetros de tombamento, apresentando<br />
sinais mais recentes de depredação ou<br />
mutilação.
17<br />
Representante da última época de<br />
exploração, já em fase industrial, ali estão<br />
estruturas da usina ou fábrica de<br />
cloretação, desativada definitivamente nos<br />
anos setenta. Como o ouro está inserido<br />
dentro do tipo arsenopirita (sulfeto de<br />
arsênio), mineral esse que ocorre<br />
disseminado em filitos carbonáticos, fez-se<br />
necessário, após a britagem e moagem dos<br />
filitos e concentração dos minerais pesados<br />
(incluindo a arsenopirita), um processo<br />
q u í m i c o p a r a e x t r a i r o o u r o d a<br />
arsenopirita.O arsênico foi utilizado na<br />
indústria bélica (arma química, sob forma<br />
de gás letal), na agricultura (defensivo<br />
agrícola), na indústria química (como<br />
corante) e na indústria farmacêutica (muito<br />
usado para suprimir febre, hoje não mais;<br />
atualmente é utilizado na medicina<br />
homeopática). Possivelmente, em<br />
Passagem de Mariana, seu uso mais<br />
comum foi para fins farmacêuticos. Como<br />
as preocupações e a legislação ambiental<br />
eram incipientes até os anos 70, do século<br />
passado, muito arsênico foi jogado no solo<br />
e contaminou a água subterrânea e das<br />
drenagens próximas à mina. Existe,<br />
inclusive, outra mina paralisada de<br />
arsênico, denominada Mina do Galo, entre<br />
Nova Lima e Raposos, cujo principal uso foi<br />
para fins bélicos durante a I Guerra Mundial.<br />
Detalhe Chaminé e Usina de cloretação<br />
FOTO: Henrique Piló (2007).<br />
O processo de cloretação consiste em realizar combustão em areias ricas em ouro após o processo de amalgamação, no intuito de eliminar completamente o<br />
enxofre e o arsênio das piritas e peroxidar o ferro. No começo da operação da cia pelos ingleses, não se utilizava este processo, contentando-se apenas com a<br />
separação manual do estéril e do quartzo pobre. Somente em 1889 o diretor da Mina Henry Gifford introduziu o processo de cloretação. Segundo dados orais, o<br />
processo teria sido utilizado até pelo menos 1975.
18<br />
A capela e o cemitério dos Ingleses foram<br />
c o n s t r u í d o s n a m e s m a é p o c a ,<br />
possivelmente quando da aquisição da<br />
mina no terceiro quartel do século XIX por<br />
mineiros ingleses. Naquela ocasião, era<br />
comum aos estrangeiros construir<br />
cemitérios apartados dos brasileiros; foi o<br />
que aconteceu com a comunidade<br />
anglicana da região de Passagem.<br />
Atualmente, estas importantes estruturas<br />
encontram-se em estado de abandono. O<br />
telhado da igreja já desabou, sendo que<br />
suas paredes de alvenaria de pedra, que<br />
ainda guardam testemunhos de reboco<br />
com pintura apresentam evoluído processo<br />
de degradação, acelerado pela intrusão de<br />
raízes de árvores. No interior da mesma, há<br />
vários focos de vandalismos nos pisos,<br />
sendo que seus alisares de pedra sabão<br />
estão caídos. O cemitério apresenta as<br />
l á p i d e s d e s l o c a d a s e o s t ú m u l o s<br />
aparentemente violados. Algumas placas<br />
de bronze foram extraídas. A cobertura<br />
vegetal ocupou quase totalidade da área<br />
interna, sendo que parte do muro em<br />
alvenaria de pedra também está em ruína. A<br />
usina de cloretação, também sofreu vários<br />
tipos de dilapidações. Nos últimos<br />
decênios, parte do maquinário e demais<br />
equipamentos vem sendo retirado por<br />
m o r a d o r e s d a r e g i ã o , d e v i d o ,<br />
principalmente, à falta de vigilância e<br />
medidas de proteção deste raro acervo da<br />
arqueologia industrial mineira.<br />
19<br />
Capela dos Ingleses - Jornal o Espeto
Fotografia de um buraco de sarilho no Morro Santana - Mariana<br />
Foto: Alenice Baeta
21<br />
Desdobramentos, Preocupações e Diretrizes de Proteção<br />
Todos os conjuntos aqui indicados foram<br />
objeto de avaliação do estado de<br />
conservação das suas estruturas<br />
componentes, observando a origem das<br />
ações que comprometeram ou que ainda<br />
ameaçam a integridade dos mesmos. A<br />
partir destas avaliações, foi possível<br />
estabelecer diretrizes gerais para a área<br />
tombada e seu entorno.<br />
Muitíssimo preocupante e necessárias<br />
a ç õ e s r e l a t i v a s a m a n u t e n ç ã o ,<br />
conservação e integridade do conjunto<br />
situado às margens do ribeirão do Carmo<br />
em especial da chaminé de tijolinhos ( Zona<br />
C). Trata-se de um patrimônio histórico e<br />
visual único neste vale já tão degradado e<br />
assoreado devido expansão urbana,<br />
contaminação, assoreamento e lixo.<br />
Ainda mais preocupante e alarmante os<br />
acidentes envolvendo crianças que caíram<br />
nos buracos de sarilhos que se encontram<br />
espalhados nos morros, muitas vezes<br />
escondidos por entre a vegetação. Trata-se<br />
de verdadeiras armadilhas. Em 2015, a<br />
criança Alberto dos Santos, de nove anos,<br />
enquanto empinava papagaio no Morro<br />
Santana caiu em um fundo buraco e<br />
faleceu- outra grande tragédia em Mariana.<br />
Estes sarilhos deveriam ser monitorados e<br />
gradeados emergencialmente, sobretudo<br />
os que se encontram próximos às<br />
moradias, trilhas e ou travessias dos<br />
moradores locais.<br />
Fica premente tendo em vista a riqueza de<br />
informações e estruturas a necessidade<br />
urgente de um Plano de Manejo ou de<br />
G e s t ã o e m e r g e n c i a l , a p ó s o s e u<br />
tombamento, visando estabelecer os tipos<br />
de usos e ações para a valorização e<br />
conservação de cada setor que as<br />
compõem, levando em consideração os<br />
elementos arqueológicos, arquitetônicos,<br />
imateriais, etnohistóricos, bióticos e físicos.<br />
Apesar das dificuldades permanentes em<br />
concretizar o tão necessárioPlano de<br />
Gestão devido, lamentavelmente,<br />
interferências de interesses econômicos e<br />
fundiários, nenhuma ação poderá ser<br />
eficaz ou bem sucedida se desenvolvida<br />
sem a participação e colaboração, desde a<br />
sua fase inicial das comunidades locais.<br />
Por isto, iniciativas ligadas a um plano<br />
integrado e participativo são fundamentais<br />
para o estabelecimento de uma política<br />
cultural eficaz que proteja a curto e a longo<br />
prazo o magnífico patrimônio existente nos<br />
Morros Santo Antônio e Santana.<br />
Agradecemos às comunidades de Morro de<br />
Santana, Rosário, Prainhae Passagem de<br />
Mariana, à Memória e Arquitetura, ao<br />
topógrafo V. Rodrigues, a Lélio Pedrosa<br />
Mendes, ao prof. Cristiano Casimiro dos<br />
Santos, a Olga Tokoff, Roque Camello in<br />
memorian e a Prefeitura Municipal de<br />
Marina.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do<br />
Brasil. BeloHorizonte: Itatiaia, 1982.<br />
M E M Ó R I A E A R Q U I T E T U R A D o s s i ê d e<br />
Tombamento do Conjunto Paisagístico e<br />
Arqueológico Morros Santana e Santo Antônio<br />
(Relatório/Tema: 'Arqueologia', por Baeta, A. & Piló,<br />
H.)Prefeitura Municipal de Mariana/Memória e<br />
Arquitetura, Mariana, Julho de 2007.270 p.<br />
FÉLIX, Juvenil. Práticas de Mineração na Mina de<br />
P a s s a g e m . I n : F E R R A N D , P a u l . O<br />
OuroemMinasGerais. Trad: Júlio Castanõn<br />
Guimarães. BeloHorizonte: Fundação João<br />
Pinheiro, 1988.<br />
FERRAND, Paul. O OuroemMinasGerais. Trad:<br />
Júlio Castanõn Guimarães. BeloHorizonte:<br />
Fundação João Pinheiro, 1988.
Estrada esquecida<br />
e degradada do Dezoito<br />
Conexão antiga interrompida entre Mariana e Vila Rica (Ouro Preto)..<br />
Alenice Baeta<br />
Luiz Fernando Costa Miranda<br />
Cristiano Casimiro<br />
21<br />
- Detalhe de antigo calçamento residual em trecho do antigo caminho do Taquaral. Foto: A. Baeta,
23<br />
Seguindo o trajeto original de antigo trecho<br />
de caminho que interligava em seus<br />
primórdios Vila Rica (Ouro Preto) a Ribeirão<br />
do Carmo (Mariana) pelo Morro Taquaral,<br />
constata-se o abandono de importante<br />
conjunto histórico-arqueológico, agora com<br />
focos de desmoronamento dos seus muros<br />
e escoros originais e de erosão em seu leito.<br />
Há ainda inúmeros segmentos escoros de<br />
alvenaria de pedras e sistema de drenagem<br />
pétrea do período colonial conservados.<br />
Um belíssimo patrimônio que indica as<br />
antigas técnicas construtivas de estradas e<br />
sistema de drenagem nas antigas serras<br />
mineiras.<br />
Todavia,há localidades lindeiras a esse<br />
belíssimo caminho muito degradadas<br />
devido recentes pedreiras ou frentes de<br />
e x p l o r a ç ã o m i n e r a l ( e x t r a ç ã o d e<br />
quartzito),sobretudo no alto do Morro<br />
Taquaral.Lajes retiradas das pedreiras que<br />
ficaram para trás formam pilhas de detritos,<br />
entulhame cobrem trechos da estrada,<br />
desfigurando e encobrindo a paisagem<br />
histórica, a visibilidade dos elementos<br />
culturais e a acessibilidade segura a este<br />
importante sítio histórico linear.<br />
Este cenário preocupante deveria ser<br />
averiguado com muita atenção pelas<br />
autoridades ambientais e patrimoniais que<br />
atuam em Ouro Preto e Mariana. O<br />
segmento da estrada real aqui tratado é<br />
desconsiderado 'oficialmente' como tal<br />
interligava as zonas altas de Ouro Preto (via<br />
Morros São Sebastião, da Queimada e do<br />
Taquaral)- as localidades mais antigas de<br />
Vila Rica, à porção também primeira de<br />
Mariana, no caso, o Córrego Seco, Mata<br />
Cavalos e Rosário Velho (antiga rua Direita -<br />
hoje local abrangido pelo bairro santo<br />
Antônio (Prainha) a partir, sobretudo, da<br />
primeira metade do século XVIII.<br />
Detalhe de escoro de alvenaria de pedra encoberto por vegetação em trecho de caminho antigo.<br />
Município Ouro Preto, próximo à divisa de Mariana, MG. Foto: A. Baeta, 2015.
24<br />
Ao longo do caminho antigo há inúmeras localidades onde há pedreiras abandonadas e área degradadas<br />
e drenagens naturais comprometidas. Este local merece um plano de recuperação ambiental urgente.<br />
Foto: A. Baeta, 2015.
25<br />
E s t e c a m i n h o f o i s u b s t i t u í d o<br />
posteriormente por outros tantos acessos<br />
mais baixos. Em 1782, José Pereira Arouca<br />
foi encarregado de dirigir as obras da nova<br />
estrada entre Vila Rica e Mariana,<br />
passando pela Vila de São Vicente<br />
(Passagem de Mariana). A nova estrada foi<br />
construída a mando do governador Dom<br />
Rodrigo José de Meneses. Assim o<br />
caminho antigo ficou, paulatinamente, em<br />
desuso.<br />
Este trecho de antiga estrada e as<br />
estruturas associadas a este complexo<br />
arqueológico, merece especial atenção por<br />
meio de programas de recuperação de<br />
áreas degradadas ou reconversão<br />
ambiental e paisagística, bem como, ações<br />
e projetos que visem a sua valorização, pois<br />
trata-se de um dos primeiros sítio-estrada e<br />
estruturas compostas , tais como,<br />
fazendas, comércio, moradias rurais,<br />
capela, ruínas, algumas ainda não<br />
identificadas, dessas duas importantes<br />
cidades históricas.<br />
Considerando as iniciativas a respeito da<br />
proteção e valorização do patrimônio<br />
arqueológico de Ouro Preto (Morro da<br />
Queimada) e de Mariana (Morros do Gogô e<br />
Santo Antônio);reitera-se a necessidade de<br />
preservação desse antigo trecho de<br />
caminho real como percurso arqueológico e<br />
cultural, que se pode constituir em um dos<br />
mais importantes empreendimentos<br />
culturais e socioambientais das cidades do<br />
ciclo do ouro.<br />
Esta conectividade patrimonial e umbilical<br />
entre estas antigas vilas coloniais não pode<br />
continuar abandonada e relegada ao<br />
descaso.<br />
Detalhe de ruína no trecho inicial do caminho (Taquaral) Ouro Preto. Foto: A. Baeta, 2015.<br />
24
CORAL<br />
TOM MAIOR<br />
25
10 anos<br />
EnCantando<br />
Apresentação em Vinhedo-SP<br />
Acervo : Adeuzi Batista
Tom Maior -10 anos EnCantando<br />
Cristiano Casimiro<br />
Santuário do Carmo - Mariana- Missa Festiva de John Leavitt.<br />
Foto - acervo Adeuzi Batista<br />
primeiro ensaio do Coral Tom<br />
Omaior aconteceu no dia 27<br />
de agosto de 2007 e a sua primeira<br />
apresentação no dia 11 de novembro do<br />
mesmo ano, durante o “Vozes que Cantam<br />
– V Encontro de Corais de Mariana”.<br />
O Coral Tom Maior é formado em sua<br />
quase totalidade por adolescentes e jovens<br />
advindos do Coral infantil Allegretto,<br />
composto por crianças. É a oportunidade<br />
de continuidade à trajetória musical das<br />
crianças que chegam pequenas ao Coral<br />
Allegretto e quando alcançam a<br />
adolescência, migram para o Coral Tom<br />
Maior.<br />
A maioria dos jovens que participam do<br />
coral Tom Maior moram em bairros<br />
distantes do centro da cidade e estuda na<br />
rede pública de ensino. O coral é uma<br />
importante forma de integração para estes<br />
jovens e uma ação sociocultural.<br />
A regência, desde o primeiro ensaio, está<br />
incumbida ao competente maestro Adeuzi<br />
Batista Filho, que, com seu trabalho, tem<br />
atraído a atenção e o carinho dos<br />
c o m p o n e n t e s d o c o r a l e d e t o d a<br />
Comunidade Marianense.<br />
Com um repertório que ressalta a música<br />
c o l o n i a l m i n e i r a , p a s s a n d o p e l o<br />
sacro/erudito, folclore nacional e<br />
internacional, MPB, rock and roll entre<br />
outros, o Coral Tom Maior tem se<br />
apresentado em muitas ocasiões festivas e<br />
eventos culturais em Mariana, outras<br />
cidades de Minas Gerais, outros estados<br />
da federação e no exterior. Sempre levando<br />
o nome da cidade de Mariana , um pouco<br />
de nossa música, nossa cultural e alegria.
29<br />
Entre as apresentações podemos destacar:<br />
Ouro Preto, na Casa da Ópera, juntamente<br />
com o Coral Querubins do Horizonte (de<br />
Ouro Preto) e com Corais internacionais,<br />
além de apresentações nas cidades<br />
mineiras de Catas Altas, Santa Bárbara, Rio<br />
Piracicaba, Santa Maria de Itabira,<br />
Guanhães, Serro, Diamantina, Contagem,<br />
Belo Horizonte, Ponte Nova, Conselheiro<br />
Lafaiete, Piranga, Esmeraldas, Rio Doce,<br />
Canaã, Santa Bárbara do Tugúrio, Jeceaba,<br />
Alvinópolis, Juiz de Fora, São João Del Rei,<br />
Piedade de Ponte Nova, Tiradentes, Betim,<br />
Ribeirão das Neves, Caxambu e Baependi.<br />
Em outros Estados, apresentou-se em<br />
Anchieta (ES); Pilar (PB); João Pessoa<br />
(PB); Criciúma (SC), Vinhedo (SP) e<br />
Petrópolis (RJ). Participou em 2008 e 2009<br />
do Concurso de Corais Infanto-Juvenis do<br />
ITAÚ POWER SHOPPING, na região<br />
metropolitana de Belo Horizonte, obtendo<br />
respectivamente o 1º e 3º lugares.<br />
Em outubro de 2011 viveu a sua primeira<br />
experiência internacional, apresentando-se<br />
na Bolívia e no Peru, especialmente no<br />
Festival Internacional de Coros, na cidade<br />
de Cuzco, onde mereceu Menção Especial<br />
como um dos mais melhores coros<br />
participantes daquele participaram do<br />
encontro.<br />
Neste, foi convidado pela Prefeitura<br />
Municipal de Mariana para gravar um ou um<br />
DVD em comemoração aos 100 anos da<br />
criação do Hino de Mariana.<br />
Coral Tom Maior em Machu Picchu - Peru<br />
Foto acervo Adeuzi Batistal<br />
28
Apresentação na Caderal da Virgem da Assunção<br />
Cusco - Peru. Acervo Adeuzi Batista.
31<br />
Em dezembro de 2009, apresentou-se pela<br />
primeira vez na Catedral Basílica de<br />
Mariana (dia 20), ao som do famoso Órgão<br />
ArpSchnitger, num concerto em comemoração<br />
aos 25 anos de restauração deste<br />
precioso instrumento. Voltou a apresentarse<br />
ao som do ArpSchnitger em abril de<br />
2010, no Concerto de Páscoa.<br />
A Musicista e Organista Josineia Godinho à<br />
ocasião do concerto se referiu ao Coral Tom<br />
Maior, dizendo que “estes meninos e meninas<br />
são um verdadeiro patrimônio vivo de<br />
nossa cidade”.<br />
Em 28 de agosto de 2016 abriu as atividades<br />
de seus 10 Anos, cantando no<br />
Santuário do Carmo, em Mariana, a Missa<br />
Festiva de John Leavitt. À oportunidade,<br />
contou com a participação, ao final, de ex-<br />
Coralistas e de familiares de todos os<br />
Coralistas.<br />
Através do canto-coral, o “Tom Maior”<br />
exerce em seus integrantes um forte papel<br />
na socialização e formação do caráter de<br />
cada um, incentivando as boas práticas da<br />
vida.<br />
O Coral Tom Maior é vinculado ao<br />
Conservatório de Música Mestre Vicente<br />
Ângelo das Mercês, de Mariana, Minas<br />
Gerais.<br />
Neste dez anos de existência , além de<br />
alegrarmos com uma musica de alta<br />
qualidade e apresentações memoráveis .<br />
Não posso deixar de registrar o trabalho de<br />
ardo de Adeuzi Batista e Efraim Rocha na<br />
condução deste grande trabalho cultural em<br />
Mariana.<br />
O Coral Tom Maior será uma das atrações do Vozes que Cantam – XV Encontro de<br />
Corais de Ouro Preto e Mariana, que acontece de 17 a 19 de novembro. Promovido pelo<br />
Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês.<br />
Apresentação no Cine-Teatro Central - Juiz de Fora Mg<br />
acervo do Adeuzi Batista
116 anos da<br />
" FURIOSA "<br />
A Sede da União XV de <strong>Novembro</strong> tem fama. Muito da história de nossa cidade passou-se no interior desta<br />
Casa tão identificada com os marianenses. Tão famoso este prédio é, que qualquer um que for perguntado<br />
sobre a sua localização logo responderá: “Ah, sei sim. Fica ali na Rua Direita”.<br />
Foto: CristianoCasimiro
33<br />
116 ANOS DA UNIÃO XV DE NOVEMBRO<br />
Desde a sua origem as associações<br />
m u s i c a i s , e m g e r a l , s e m p r e s e<br />
mantiveram próximas do poder. As<br />
referências encontradas são sempre<br />
associadas à figura do rei ou do<br />
imperador, de uma irmandade religiosa<br />
ou de partidos políticos. A sua existência<br />
sempre esteve condicionada a realização<br />
de eventos e comemorações em que se<br />
fazia necessário o destaque através da<br />
música.<br />
Não foi diferente com a União XV de<br />
<strong>Novembro</strong>. Em 1889 foi proclamada a<br />
República Brasileira. O Brasil deixou de<br />
ser um império e os ideais da filosofia<br />
positivista que exaltava a ciência e o<br />
governo baseado na “ordem e progresso”<br />
entusiasmaram a juventude civil e militar.<br />
Para muitos, o Brasil só se tornaria<br />
m o d e r n o s e f o s s e r e p u b l i c a n o .<br />
Miguel de Souza, José Antônio Soares,<br />
José Ornelas Alves Pereira, para<br />
discutirem as possibilidades da formação<br />
de uma Banda de Música, cujo principal<br />
objetivo seria a sua integração nas novas<br />
forças políticas, identificadas com os<br />
idéias republicanas, cujo partido chefiado<br />
pelos adeptos fervorosos da democracia<br />
estava inteiramente ligado às correntes<br />
revolucionárias que implantaram a nova<br />
ideologia, em substituição ao regime<br />
monárquico.<br />
Para divulgar as idéias republicanas no<br />
Brasil, foram criados no início do século<br />
XX, vários instrumentos de propaganda,<br />
veículos de comunicação de massas com<br />
o intuito de divulgar as novas idéias.<br />
Havia muita resistência por parte dos<br />
monarquistas, e isso ocasionou o<br />
surgimento de várias revoltas e<br />
movimentos populares o que levou com<br />
que os militares só conseguissem<br />
c o n s o l i d a r a R e p ú b l i c a<br />
aproximadamente cinco anos após a sua<br />
proclamação.<br />
Nesse contexto, nasceu em Mariana, no<br />
ano de 1901, a Sociedade Musical União<br />
XV de <strong>Novembro</strong>, por iniciativa do Dr.<br />
Gomes Freire de Andrade: médico,<br />
professor, liderança política local e diretor<br />
do Partido Republicano na cidade. O<br />
objetivo claro da criação da sociedade<br />
musical foi a propaganda republicana. Na<br />
tarde do dia 15 de novembro de 1901, no<br />
seu solar, reuniu os poucos músicos da<br />
época: Antônio de Pádua Coelho, José<br />
Caetano Corrêa, Augusto Walter, Antônio<br />
Documento com assinatura dos participantes da criação da União<br />
XV de novembro em 1901.Arquivo União XV de <strong>Novembro</strong>
34<br />
Mariana foi um dos primeiros municípios que<br />
aderiram entusiasticamente às novas<br />
diretrizes democráticas do Partido<br />
Republicano, fundado aqui pelo Dr. Gomes<br />
Freire de Andrade, que elaborou o programa<br />
e estabeleceu as bases doutrinárias e<br />
liberais do estatuto partidário a vigorar em<br />
todo o município.<br />
Os primeiros instrumentos musicais foram<br />
adquiridos da banda que pertencera ao<br />
Partido Conservador no tempo da Monarquia<br />
e o seu primeiro professor de música,<br />
Antônio Miguel de Souza, veio da corporação<br />
musical do 31º Batalhão do Exército<br />
Nacional. Iniciaram-se, em agosto de 1901,<br />
o s e n s a i o s p r e p a r a t ó r i o s d a n o v a<br />
agremiação, cujo sustentáculo estava<br />
menos nos recursos materiais do que na boa<br />
v o n t a d e e p e r s e v e r a n ç a d e s e u s<br />
componentes. Cedida graciosamente pelos<br />
herdeiros do saudoso Manoel Pereira<br />
Bernardino, uma sala de sua residência, à<br />
Rua Direita, ali se fizeram ouvir as primeiras<br />
clarinadas, que aguçavam curiosidade da<br />
vizinhança, aumentando, ao mesmo passo,<br />
a afluência da mocidade sonhadora. A<br />
primeira apresentação, três meses após a<br />
sua criação, aconteceu na porta da casa do<br />
seu principal fundador, o Dr. Gomes Freire de<br />
Andrade.<br />
Por mais incrível que pareça, o conjunto,<br />
recém-formado, possuía o dom de arrebatar<br />
multidões, arrastando-as aos vibrantes<br />
comícios de propaganda, aliciando<br />
prosélitos e, dir-se-ia, que as adesões se<br />
multiplicavam quase milagrosamente com os<br />
acordes da Banda que, sem favor, foi a alma<br />
mater da consolidação dos ideais políticos da<br />
nova facção, dirigida pelo Dr. Gomes Freire<br />
de Andrade.<br />
Junto com a Sociedade Musical União XV de<br />
<strong>Novembro</strong>, foi fundado, também, o jornal Rio<br />
do Carmo, desaparecido em 1903 e<br />
renascido em 1905 com o nome O Germinal.<br />
A Banda e o jornal, com os mesmos<br />
objetivos, caminhavam em parceria,<br />
sintonizados com a propaganda republicana.<br />
No jornal eram publicados os artigos em<br />
defesa dos ideais da República e noticiadas<br />
as principais ações, inclusive todos os<br />
eventos em que havia a presença da Banda<br />
da União. Na mesma época foi fundada<br />
também a Banda São José. Esta, porém, a<br />
princípio, se dedicava mais à participação de<br />
festas e ofícios estritamente religiosos.<br />
União XV de <strong>Novembro</strong> de Uniforme Branco - Rua de Direita Mariana -1930- Arquivo União XV de <strong>Novembro</strong>
Imagem acervo da União XV <strong>Novembro</strong><br />
Aos poucos a Banda foi aumentando a<br />
freqüência das suas apresentações. Em<br />
retretas e passeatas, alvoradas e<br />
homenagens a personalidades ilustres, a<br />
Banda da União estava presente em todas<br />
as comemorações cívicas, sociais e<br />
religiosas da cidade. Hoje, centenária,<br />
procura com auxílio da comunidade local e<br />
do poder público, aprimorar cada vez mais<br />
as suas apresentações. Da principal função<br />
que lhe foi dada no ato de sua criação, a<br />
propaganda republicana, restam a tradição<br />
e a história musical contadas em partituras.<br />
Firmada como tradição da cidade, a<br />
Sociedade Musical União XV de <strong>Novembro</strong><br />
o u a “ F u r i o s a ” , a p e l i d o d a d o<br />
carinhosamente pela população, é<br />
conhecida pelos marianenses há longos<br />
anos. Seu toque, hoje completamente<br />
desvinculado da participação políticopartidária,<br />
faz parte do Patrimônio Histórico<br />
e Cultural da cidade de Mariana.<br />
Foto: CristianoCasimiro
Respeitável público... Oshow vai começar !<br />
Praça Minas Gerais - LINCON ZARBIETTI - Circo Volante Divulgação
37<br />
De 16 a 19 de novembro, Mariana/MG<br />
recebe o Circovolante – 9° Encontro<br />
Internacional de Palhaços. Serão muitos os<br />
malabarismos, cambalhotas e piruetas –<br />
simbólicos e literais – para realizar um dos<br />
maiores eventos circenses do país. Com a<br />
presença de mais de uma centena de<br />
palhaços de diversas cores, estilos,<br />
tamanhos e nacionalidades, o festival tem<br />
quatro dias de programação gratuita na<br />
Praça da Sé, Praça Gomes Freire, Rua Frei<br />
Durão, asilos e hospitais, além da<br />
descentralização, que leva espetáculos a<br />
bairros e distritos próximos à cidade.<br />
Serão espetáculos, rodas de conversa,<br />
shows de música, lançamento de livro e<br />
exibição de filmes. Com artistas e grupos<br />
de vários cantos do Brasil e várias partes do<br />
mundo como: Mauro Cosenza (Uruguai),<br />
Francois Buille (França), Umberto<br />
Rosichetti (Itália), Atalwalpa Coello (Peru),<br />
Circo Amarillo (Argentina/Brasil), Irmãs<br />
Cola (Brasil/SP), Artetude (Brasil/Brasília),<br />
Pé de Cana (Brasil/SP), Cia. Lunática<br />
(Brasil/MG), Palhaço Furreca (Brasil/MG),<br />
Cia. Circunstância (Brasil/MG), Palhaço<br />
Viralata (Brasil/MG), Uniclown (Brasil/MG),<br />
Cia. Sapato Velho (Brasil/RJ), Guga<br />
M o r a l e s ( B r a s i l / R J ) , N o p o k<br />
(Argentina/Brasil) estão entre os<br />
confirmados.<br />
O homenageado<br />
O grande homenageado da edição é o palhaço Saracura. Descendente da terceira<br />
geração de uma família circense, Deusa Aparecida Reis fazia números de trapézio e<br />
equilíbrio com o pai, quando criança. Sua mãe até hoje, com 80 anos, arrisca alguns<br />
truques. “Quando surgiu uma vaga para palhaço eu me candidatei e nasceu o<br />
Saracura. O público gostou, eu também e fiquei 20 anos sendo palhaço, tirando o<br />
sorriso das pessoas sem contar uma piada. Realizei-me nessa arte e hoje sou<br />
jardineiro. Saber da homenagem me emocionou, nunca esperaria ser escolhido<br />
entre tantos artistas. "Fiquei muito feliz e já estou ensaiando para desenferrujar, não<br />
quero fazer feio!", conta Saracura.<br />
CORTEJO - LINCON ZARBIETTI - Circo Volante Divulgação
A abertura do Circovolante<br />
9° Encontro Internacional de<br />
Palhaços será na Feira<br />
Noturna de Mariana.<br />
No dia 16 de novembro, o Circovolante leva<br />
dois espetáculos e um show para marcar o<br />
início do evento, na Praça dos Ferroviários.<br />
Entre os destaques, está o Samba no Pé de<br />
Moleque, que acontece no sábado, 18 de<br />
novembro, quando todos os palhaços se<br />
reúnem - e o público também entra no clima<br />
com roupas coloridas e pinturas – e um grande<br />
cortejo segue contagiando as ladeiras da<br />
cidade histórica. Uma novidade é a<br />
programação simultânea, com espetáculos<br />
acontecendo em locais diferentes, ao mesmo<br />
tempo, para que todos possam desfrutar<br />
melhor das atrações.<br />
O número 9 simboliza a crise seguida da<br />
superação. E a 9ª edição do festival não negou<br />
esta previsão. “Em um ano como este, o<br />
esforço para a realização do Encontro foi<br />
grande. Tivemos inclusive que adiar para<br />
novembro, na expectativa de conseguir mais<br />
apoio. A comunidade de Mariana ficou muito<br />
ansiosa, pois o evento normalmente ocorre<br />
em setembro. Todos os dias recebíamos<br />
ligações e mensagens e agora, com as datas<br />
confirmadas, estão todos animados. Vai ser<br />
um Encontro lindo”, comenta Xisto Siman,<br />
palhaço e um dos idealizadores do evento.<br />
O Circovolante – 9° Encontro Internacional de<br />
Palhaços é realizado pelo Circovolante e<br />
Circo Para Todos, com patrocínio da<br />
Prefeitura de Mariana. Apoio cultural: Câmara<br />
de Vereadores e Secretaria de Cultura de<br />
Mariana. Parceiros: Neaspoc, Marianatur,<br />
Clube Osquindô e Uniclown.<br />
Circovolante<br />
9° Encontro Internacional de Palhaços<br />
Data: de 16 a 19 de novembro.<br />
Local: eventos concentrados na Praça Gomes<br />
Freire, Praça da Sé e Rua Frei Durão (em frente<br />
à Casa de Cultura) – Mariana/ MG.<br />
Todos os eventos são gratuitos.<br />
Desenho:Ermerson Camaleão - Cartoon
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