Perfil
Mil tons de um sanfoneiro Texto: Filipe Barboza <strong>Edição</strong> gráfica: Bárbara Costa Fotos: Bruna Silveira Por telefone, ele não me passou o endereço completo. Com a referência de que a sua moradia “é a única da vizinhança que tem uma porteira na entrada”, chego ao movimentado e populoso bairro Cabanas, em Mariana, com a impressão de que encontraria dificuldades em procurar a casa do sujeito. Ao adentrar na região, percebo que a referência dada está suficientemente adequada, já que não foi tão complicado assim descobrir uma grande porteira de madeira em uma região de características urbanas. Entro no terreno e, logo de cara, vejo galinhas, patos, cachorros e um cavalo branco arreado. A princípio penso que estou em um sítio ou, como se diz, em um rancho bem distante de tudo. Observo atentamente o ambiente na tentativa de encontrar uma boa expressão para descrever o recinto, até que o homem, que se aproxima para me receber, comenta: “eu moro em uma espécie de roça dentro da cidade”. Quem diz a frase é Milton, 43, o sanfoneiro mais conhecido do município. Ele, que mora em um recanto rural no meio de um bairro agitado e que nos finais de semana costuma rodar a região com animadas apresentações musicais, tem um sugestivo nome artístico. “Nos lugares que eu ia tocar, todo mundo me via com a sanfona na mão. Então começaram a falar ‘Milton Sanfoneiro’... ‘Milton Sanfoneiro’... até que pegou. Hoje, se perguntarem aqui na cidade sobre Milton Ângelo Martins, ninguém sabe quem é, mas todo mundo conhece ou já ouviu falar de Milton Sanfoneiro”, conta o artista. Milton, que toca sanfona desde os cinco anos de idade (aprendeu com o pai na cidade natal de Diogo de Vasconcelos – localizada a cerca de 50 km de Mariana), faz de tudo um pouco dentro do rancho arrendado. Cria, compra e vende animais, trabalha como domador de cavalos e também aproveita para ensaiar sozinho (ou com outros músicos), de vez em quando, na varanda de sua casa. “Os vizinhos nunca reclamaram, até porque eu sei onde posso ir com o som. Aliás, o que acontece, na maioria das vezes, é o oposto. Quando se inicia o ensaio, começa a chegar gente para acompanhar”, relata. Se pudesse o sanfoneiro só viveria de música, mas ele sabe que não é tão simples assim. “A gente toca muito em determinados períodos do ano, como junho, julho e agosto, devido à quantidade de festas na região. Tem época que essa demanda diminui. Por isso é preciso correr atrás de outras coisas”. A luta não é em vão, afinal de contas,