Dezembro - 2017
Mariana
Revista Histórica e Cultural
A Mariana - Revista Histórica e Cultural é
uma publicação eletrônica da Associação
Memória, Arte, Comunicação e Cultural de
Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram
estes 321 anos da primeira cidade de Minas.
Mariana - Revista Histórica e Cultural Revista
Belas Artes é um passo importante para a
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a
cidade de Mariana. Esperamos que os textos
publicados contribuam para a formação de uma
consciência de preservação e incentivem a
pesquisa.
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos
são de inteira responsabilidade dos autores.
Colaboradores:
Prof. Cristiano Casimiro
Prof. Vitor Gomes
Agradecimentos:
Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana
IPHAN - Escritório Mariana
Arquivo Fotográfico Marezza
Museu da Música de Mariana
Paróquia de Nossa Senhora da Assunção
Fotografias:
Cristiano Casimiro, Vitor Gomes, Caetano Etrusco e
Arquivo Marrrezza - Marcio Lima
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro
Capa: Sé de Mariana - Cristiano Casimiro
Associação Memória Arte Comunicação e Cultura
CNPJ: 06.002.739/0001-19
Rua Senador Bawden, 122, casa 02
Indice
272 anos da Arquidiocese de Mariana
04
A Guarda Nacional em Mariana
14
A Origem dos Presépios
18
Novo espaço cultural em Mariana
26
Caetano Etrusco - retábulo Sé de Mariana
Santa Ceia - Manoel da Costa Athaide - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo
A Primeira Diocese de
Minas
272 anos da
Arquidiocese de Mariana
Aqui nasceu Minas Gerais. Aos 16 de julho
de 1696 chegaram os bandeirantes, vindos
de Taubaté – SP, tendo à frente o Coronel
Salvador Furtado de Mendonça, e se
localizaram às margens de um riacho a que
denominaram Ribeirão do Carmo, por ser
esse dia dedicado à Nossa Senhora do
Carmo. Em 1711 o arraial torna-se a
primeira vila de Minas Gerais que, em vista
da criação da nova diocese, foi elevada à
categoria de cidade, no dia 23 de abril de
1745, pelo rei Dom João V que lhe deu o
nome de Mariana, em homenagem à sua
esposa a rainha Maria Anna d'Áustria.
Cumpria-se, dessa forma, um requisito
medieval, pois os bispos não podiam residir
em vilas, mas somente em cidades. A planta
da nova cidade foi traçada por José
Fernandes Pinto Alpoim, e a construção das
casas se deu entre os anos de 1746 até
1809.
Mariana é a primeira vila, primeira cidade,
primeira capital e primeira diocese de Minas
Gerais. Por isso é intitulada Primaz de
Minas. “É aqui, incontroversamente, que se
abre o período histórico da Igreja, em
Minas; foi à tarde desse luminoso domingo,
no momento em que ali, no Mata Cavalos, o
capelão da comitiva, esse benemérito e,
ingratamente, olvidado apóstolo da zona do
Carmo – Padre Francisco Gonçalves Lopes
- erguia o primeiro definitivo altar da terra
mineira, que se há de fixar, na realidade, a
era cristã de Minas Gerais” diz o Côn.
Raymundo Trindade.
A diocese de Mariana, criada em 1745, é a
primeira do interior do Brasil, pois, a
colonização portuguesa das terras
brasileiras iniciou-se na costa. Foi o Conde
de Assumar quem propôs a criação de uma
diocese em Minas Gerais e outra em São
Paulo. Tendo recebido essa proposta, o rei
de Portugal, em 06 de setembro 1720,
dirige carta ao conde informando-lhe que
havia recomendado ao arcebispo da Bahia
e ao bispo do Rio de Janeiro que se
manifestassem junto ao papa a favor dessa
medida tão necessária.
Essa proposta vinha ao encontro dos
interesses geopolíticos de Portugal, pois,
preparava o terreno para o reconhecimento
papal da expansão portuguesa em direção
a o O e s t e , d e s l o c a n d o a s s i m
definitivamente a linha divisória do Tratado
de Tordesilhas. Além disso, a criação das
novas dioceses somava os interesses do
expansionismo português com o projeto
eclesiástico de constituir um clero nativo
nas colônias ultramarinas. “As dioceses,
centro de poder da coroa nas conquistas do
i m p é r i o p o r t u g u ê s . R e v e l a r a m - s e
fundamentais na tentativa de união de
forças a serviço da colonização”.
Os motivos da escolha de Mariana para
sede do novo bispado foram apresentados
pelo cronista do panegírico intitulado Áureo
Trono Episcopal, elaborado por ocasião da
entrada solene do primeiro bispo de
Mariana. Esse precioso documento para a
historiografia do período colonial diz que
são três as razões que justificam essa
predileção por parte do rei de Portugal: A
primeira é de natureza cronológica, pois a
vila de Nossa Senhora do Ribeirão do
Carmo é a mais antiga povoação da região
mineradora e aqui foi erguida a primeira
capela.
05
Caetano estruco - Sé de Mariana
A segunda razão é de ordem política, talvez
a mais determinante, pois evoca a sedição
de Vila Rica, em 1720, contra o Conde de
Assumar, governador da Capitania de
Minas Gerais. Os moradores de Ribeirão do
Carmo ofereceram apoio ao governador. A
fidelidade para com a coroa portuguesa
pode ter sido recompensada com o trono
episcopal. A terceira razão é de ordem
geográfica, pois a vila do Ribeirão do Carmo
fica no meio, no coração do território da
nova diocese. Para Dom João V, a Vila do
Carmo havia se distinguido pela fidelidade a
sua coroa. Por isso, prometera gratificá-la. A
ocasião que se apresentava foi a criação do
bispado. Em 1727, o rei ordenou a
paralisação do canteiro de obras da
catedral em Vila Rica. Em 1745 o rei
anuncia a escolha da Vila do Carmo à
revelia dos pareceres contrários e debaixo
dos protestos de São João del Rei.
Em 06 de dezembro de 1745, pela Bula
Candor Lucis Aeternae, o Papa Bento XIV
criou a diocese de Mariana, desmembrada
do Rio de Janeiro, juntamente com a
diocese de São Paulo e as prelazias de
Goiás e Cuiabá. A criação dessa diocese
marca novo momento na geopolítica de
colonização do sertão mineiro. Com sua
instalação, modificam-se as relações entre
as diversas esferas do poder. Torna-se mais
complexo o quadro de forças políticas
configurado pela atuação das irmandades,
câmaras locais, clero e autoridades.
essa vitória como um verdadeiro milagre e o
atribuíram a Nossa Senhora da Assunção.
Para agradecer à Senhora, os benefícios e
a salvação de Portugal nesse momento de
tantos perigos, Dom João I determinou que
de então em diante, todas as catedrais do
Reino fossem consagradas a Nossa
Senhora da Assunção. Ao que tudo indica,
D. João V, em 1745, fez cumprir esse voto
em Mariana e São Paulo, as duas dioceses
irmãs gêmeas, criadas pela mesma bula
pontifícia.
O documento papal estabelecia que o
bispado de Mariana se limitava com os
bispados do Rio de Janeiro e de São Paulo,
a prelazia de Goiás, a arquidiocese de São
Salvador da Bahia e o bispado de
Pernambuco. A jurisdição do bispado de
Mariana não correspondia exatamente à
Capitania de Minas Gerais. Seu território foi
delimitado pelos rios: Jequitinhonha, ao
Norte; São Francisco, a Oeste; Rio Doce, a
Leste; Rio Paraíba, ao Sul. Assim, parte do
território do Norte de Minas pertencia ao
arcebispado da Bahia; a parte que se
encontrava além do Rio São Francisco era
do bispado de Pernambuco; o Triângulo
mineiro estava ligado à prelazia de Goiás, e
parte do Sul de Minas ficava no bispado de
São Paulo.
A igreja matriz dedicada a Nossa Senhora
da Conceição foi elevada à categoria de
catedral de Nossa Senhora da Assunção. A
mudança do título se deve a um voto do rei
de Portugal quando, em 1385, o reino
português se encontrava ameaçado pelo
reino de Castela. A razão era a sucessão ao
trono de Portugal, ambicionado pelo rei de
Castela que, através das complicadas
linhas dinásticas, era um dos pretendentes.
Os portugueses, comandados por aquele
que seria D. João I, resistiram às
pretensões de Castela. O momento
decisivo da disputa se deu na manhã de 14
de agosto de 1385, na célebre batalha de
Aljubarrota onde os portugueses, com um
exército visivelmente inferior, venceram as
armas de Castela, na véspera da festa da
Assunção de Maria. Os lusitanos tomaram
07
Caetano estruco - Sé de Mariana
Caetano estruco - Sé de Mariana
Com seu inconfundível estilo, diz-nos Mons.
Flávio Carneiro Rodrigues, Diretor do
Arquivo Eclesiástico de Mariana: “O
território coberto pela diocese primaz de
Minas, que compreendia a região mineira
então habitada (centro e sudeste),
aproximadamente um quinto do Estado,
hoje repartido entre sete províncias
eclesiásticas, se subdividiu numa radiosa
constelação de bispados: Diamantina,
Pouso Alegre (parte), Campanha (parte),
Belo Horizonte, Caratinga, Juiz de Fora, Luz
(parte), Leopoldina, São João del Rei e
Itabira-Fabriciano. A sua catedral tornou-se
assim a mãe dadivosa de tantas outras
catedrais”.
Novo tempo na história da Igreja em Minas
Gerais e no Brasil foi marcado com a criação
da diocese de Mariana e a chegada de seu
primeiro bispo. Com expressão poética e
autenticidade histórica, diz Mons. Flávio:
“De Mariana, irradiou-se para todos os
horizontes mineiros o facho sagrado do
Evangelho que civilizou, educou e
engrandeceu a gente mineira. Em Mariana,
se ergueram sólidos os umbrais da Religião
Católica para os montanheses”.
Texto: Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Livro: Sé de Mariana: monumento de fé, devoção e
expressão artística.
Acervo Márcio Lima-Marezza
Caetano estruco - Sé de Mariana
EM 272 ANOS, OITO BISPOS E CINCO ARCEBISPOS OCUPARAM A
CÁTEDRA MARIANENSE.
Dom Frei
Manoel da Cruz
Dom Bartolomeu
Manuel Mendes dos Reis
Dom Frei Cipriano
de São José
1748 1772 1773 1779 1789
1745
Criação da
Diocese de Mariana
Dom Joaquim
Borges de Figueroa
Dom Frei Domingos
da Encarnação Pontével
1897 1877 1844 1820
Dom Silvério
Gomes Pimenta
Dom Antônio Maria
Corrêa de Sá e Benevides
Dom Antônio
Ferreira Viçoso
Dom Frei José da
Santíssima Trindade
1922 1960 1988 2007
Dom Helvécio
Gomes de Oliveira
Dom Oscar
de Oliveira
Dom Luciano Pedro
Mendes de Almeida
Dom Geraldo
Lyrio Rocha
1906
A Diocese de Mariana
é elevada à categoria
de Arquidiocese
A Guarda Nacional em Mariana
A Legião da Guarda Nacional do Município de Mariana
As Guardas Nacionais são criadas para
defender a Constituição, a Liberdade,
Independência e Integridade do Império;
para manter a obediência às Leis, conservar
ou restabelecer a ordem e a tranqüilidade
pública; e auxiliar o Exército de Linha na
defesa das fronteiras e costas
Após a abdicação de D. Pedro I, o governo
imperial foi assumido pela chamada
“Regência Trina Permanente”. Uma das
primeiras medidas, pois, do novo governo,
foi a criação da Guarda Nacional, no dia 18
de agosto de 1831.
A Guarda Nacional foi criada com base na
experiência da França, que havia
transferido a segurança do país para os
próprios cidadãos, que teriam a função de
auxiliar as forças policiais e o Exército a
manter a ordem no país. Aqui no Brasil, no
entanto, no início do período regencial, o
Exército era mal visto por aqueles que
consideravam as tropas oficiais uma
ameaça à ordem política e por aqueles que
viam no Exército um instrumento de
dominação do poder central, que agora
estava nas mãos dos príncipes regentes.
O país vivia um momento de intensa luta
política e social, pois enquanto os membros
do Partido Restaurador defendiam o retorno
de D. Pedro I, as forças liberais apoiavam a
Regência Trina e viam no Exército um pilar
de sustentação do despotismo de D. Pedro
I. Sendo assim, era preciso garantir o
fortalecimento do poder central, conciliar os
interesses do governo imperial com os dos
mandatários locais. Foi neste contexto que a
Guarda Nacional foi criada.
Durante o período regencial, a Guarda
Nacional teve importância na articulação do
poder central e local nos meses seguintes à
abdicação de D. Pedro I, contribuiu para o
fortalecimento da Regência e beneficiou os
mandatários locais, já que sua organização
era feita por critério de renda, dando a eles
poderes e privilégios. Nos anos de 1860 o
número de praças era mais de 500 mil.
Uniformes da Guarda Nacional (1831- 1852):
Adilson José de Almeida
Museu Paulista da USP
SI VIS PACEM PARA BELLUM - Se deseja a paz prepara ti para a guerra
15
Uniformes da Guarda Nacional (1831- 1852):
Adilson José de Almeida
Museu Paulista da USP
Igreja NS do Rosário de Padre Viegas - Marezza PHOTO
Mariana, como primeira cidade de Minas, no
ano de 1830 tinha uma área equivalente
10% do Estado de Minas e muitas das atuais
cidades mineiras pertenciam ao seu termo.
A Cidade contar chegou a contar com duas
legiões da Guarda Nacional. A Legião era a
maior unidade de comando da Guarda
Nacional. Esta era formada pelos
municípios cujo número de efetivos
qualificados para o serviço ativo da
corporação excedesse mais de mil homens.
O comando da legião ficava sob a
responsabilidade de um coronel que
formava o estado-maior composto por um
major, um quartel-mestre, um cirurgião-mor
e um tambor-mor.
As duas Legiões da Guarda Nacional em
Mariana contavam com duas legiões, cuja
estrutura organizacional pode ser
observada por meio do organograma abaixo
Câmara Municipal e Guarda Nacional
seriam duas importantes estruturas
componentes da esfera de poder durante o
Império. Considerando ainda que a partir de
1836 a nomeação dos oficiais milicianos
passava a depender das propostas
enviadas pelas Câmaras, essas duas
instituições teriam fundamental papel na
condução da política local, refletindo-se nos
demais âmbitos.
O termo de Mariana, Província de Minas
Gerais. A cidade que possuía, até a primeira
metade do século XIX, uma grande
extensão territorial e uma Câmara Municipal
que organizava e definia as patentes dos
oficiais e sua distribuição geográfica nas
regiões do termo.
A força total da legião de Mariana contava
com 2.991 guardas nacionais, assim
distribuídos: oficiais do estado maior: dois;
1º batalhão com parada na cidade de
Mariana, 718 milicianos; 2º batalhão com
parada no distrito de Furquim, 532; 3º
batalhão com parada no distrito de Barra
Longa, 742; 4º batalhão com parada no
distrito de Ponte Nova, 997. Cavalaria 10º S.
Sebastião da Pedra do Anta, Infantaria: 59º
Mariana, Camargos, S. Sebastião (atual
Bandeirantes),Sumidouro (atual Padre
Viegas) e N. S.ª do Nazaré do Inficionado
(atual Santa Rita Durão),60º Cachoeira do
Brumado, S. Caetano (atual Monsenhor
Horta) e Furquim, 61º Barra Longa, Paulo
Moreira (atual Alvinópolis) e N. S.ª da Saúde
(atual Dom Silvério) 62º Ponte Nova*, Abre
Campo e S. Sebastião da Pedra do Anta.
Reserva: 9º Mariana, N. S.ª do Nazaré do
Inficionado, Barra Longa, Ponte Nova, S.
Sebastião da Pedra do Anta e Abre Campo.
A Guarda Nacional foi desmobilizada em
1922. Mas esta história da Guarda Nacional
em Mariana deve ser mais pesquisada e
l e v a d a a o c o n h e c i m e n t o d e t o d a
comunidade.
Estrutura e Hierarquia de Comando da Guarda Nacional em Mariana
Decreto n ͦ 1.020,de 16 de Julho de 1852
MANTER E DEFENDER A ORDEM: O PERFIL SOCIOECONÔMICO DA GUARDA NACIONAL
DE MARIANA/MG, 1850-1873
Flávio Henrique Dias Saldanha
Fundação Universidade Federal do Tocantins
Infantaria
59 ͦ Batalhão
60 ͦ Batalhão
6ª Companhia
6ª Companhia
Comando
Superior
Serviço
Ativo
Cavalaria
61 ͦ Batalhão
62 ͦ Batalhão
Tenente Coronel
10 ͦ Esquadrão
6ª Companhia
6ª Companhia
2ª Companhia
Major
Reserva
9 ͦ Batalhão
6ª Companhia
Coronel Tenente Coronel Capitão
A Origem dos
PRESÉPIOS
Igreja NS do Rosário de Santa Rita Durão - Marezza PHOTO
Os presépios são montados desde o tempo
dos primeiros cristãos. A incorporação de
cenas do cotidiano de cada localidade do
mundo por onde a fé cristã se espalhou foi a
forma de significar a aceitação do
cristianismo e também registrar para a
História a evolução dessas culturas.
O termo presépio significa originalmente
estábulo, lugar onde se recolhe os animais.
A palavra origina-se do latim praesaepe, e é
formada por prae= diante, saepes =recinto,
significando: lugar que há diante de um
recinto. Posteriormente passou a ser
aplicada à representação do nascimento de
Jesus. A inspiração para a criação do
presépio são os textos evangélicos escritos
por Mateus e Lucas.
Nascidos da devoção cristã, os presépios
são montados desde o tempo dos primeiros
cristãos. A representação plástica da época
de Jesus tinha uma função educativa - servia
para contar uma história ou registrar um
acontecimento para os iletrados. Que eram
maioria na sociedade. Essa função está
preservada até hoje. Quem monta um
presépio, mesmo sem saber, recria o
nascimento de Jesus e traz para a sala de
estar o espírito de renovação e benevolência
contido na simbologia do Natal. A
incorporação de cenas do cotidiano de cada
localidade do mundo por onde a fé cristã se
espalhou foi a forma de dizer que aquela
família, comunidade ou cultura o aceitou e
s e c o m p r o m e t e a s e g u i r s e u s
ensinamentos. E também registrou para a
História a evolução dessas culturas.
O primeiro presépio de que se tem notícia é
uma cena esculpida no século 4 (325 d.C.),
um baixo-relevo que enfeita um sarcófago
(não se sabe a origem e nem a quem
pertenceu), atualmente parte do acervo do
Museu das Termas, em Roma, na Itália.
Nesta cena, Maria e José não estão
presentes. Há apenas um pastor, uma
árvore, a cabana e o menino Jesus envolto
em faixas no coxo que lhe serviu de berço.
Inclinados sobre ele, as cabeças de um
burro e um boi.
A representação de presépio esculpida em friso de sarcófago de cristão do século III. A foto foi feita a partir de uma
reprodução arqueológica do original que se encontra no Museu V aticano (Foto: Pe. Francisco José - 2010)
Esta simbologia se perdeu no tempo, mas os
animais continuam sendo personagens
essenciais em qualquer presépio. Alguns
instrumentos litúrgicos e afrescos desta
mesma época mostram uma cena mais
completa, com a Virgem Maria, a adoração
dos Reis Magos e o menino. A primeira
réplica da gruta no Ocidente é do século 7 e
foi feita em Roma. Nenhuma destas obras,
porém, são o presépio que conhecemos
hoje.
Embora os cristãos festejem o nascimento
de Jesus desde o século 3, o culto à
Natividade só surgiu no século seguinte com
S a n t a H e l e n a , m ã e d o I m p e r a d o r
Constantino de Roma. As pequenas
esculturas representando os personagens
envolvidos no nascimento de Jesus
começaram a surgir como instrumentos
desse culto. E a força que envolve esta arte
foi gerada por São Francisco de Assis, que
muitos apontam como o "inventor" do
presépio.
19
Cristiano Casimiro - Presépio Elias Layon: Exposição Casa do Barão de Pontal
A representação teatral realizada por São
Francisco em 1223, numa gruta perdida na
mata ao redor do povoado de Greccio, no
Vale da Umbria na Itália, três anos antes de
morrer, inaugurou o que hoje conhecemos
como "presépio vivo" e definiu o conceito
que norteia os presépios atuais - sejam eles
e n c e n a d o s o u r e p r e s e n t a d o s p o r
esculturas.
Segundo frei Pedro Pinheiro, que há 13 anos
organiza uma exposição internacional de
presépios no claustro do mosteiro da Ordem
do Largo São Francisco, no centro de São
P a u l o , e s t a o b r a é a p e n a s u m a
representação simbólica. Nela, o boi é o
povo de Israel e o burro, os gentios
carregados do pecado da idolatria; os dois,
no entanto, rendem homenagem e
reconhecem a origem divina do bebê.
Objetivo desta representação era permitir
que as pessoas mais simples entendessem
a encarnação descrita nas escrituras,
absolutamente incompreensível para os que
não eram estudiosos. Não havia menino
Jesus. São Francisco queria que as pessoas
trouxessem Jesus no coração", diz frei
Pedro. Segundo o frei, há relatos contando
que, apesar de não haver crianças presente,
nesta noite todos ouviram o choro de um
bebê no auge da encenação. Foi talvez a
primeira "vivência" de que se tem notícia na
história - técnica atualmente muito usada
nos consultórios psicológicos.
O sucesso foi tão grande que tornou a
pequena Greccio conhecida no mundo
como a "Belém italiana" e disseminou o
presépio por toda Europa. Cerca de 300
anos depois, este costume tinha extrapolado
os limites dos ambientes sagrados, e
c o m e ç a v a a a p a r e c e r n a s c a s a s ,
especialmente nas dos nobres. O primeiro
registro acerca de um presépio em casa
particular está no inventário do Castelo de
Piccolomini em Celano, supostamente
elaborado em 1567. Segundo o documento,
a d u q u e s a d e A m a l fi , C o n s t a n z a
Piccolomini, possuía dois baús com 116
figuras de presépios que representavam
muito mais que o nascimento e a adoração
dos Reis Magos. As cortes européias foram
os grandes mecenas desta arte até o final do
século 18 e uma das mais extraordinárias
expressões desta fase são os presépios
Napolitanos, repletos de figuras minúsculas
e impressionantemente reais, que recriam
em detalhes o cotidiano e os personagens
da cidade.
O sucesso foi tão grande que tornou a
pequena Greccio conhecida no mundo
como a "Belém italiana" e disseminou o
presépio por toda Europa. Cerca de 300
anos depois, este costume tinha extrapolado
os limites dos ambientes sagrados, e
c o m e ç a v a a a p a r e c e r n a s c a s a s ,
especialmente nas dos nobres. O primeiro
registro acerca de um presépio em casa
particular está no inventário do Castelo de
Piccolomini em Celano, supostamente
elaborado em 1567. Segundo o documento,
a d u q u e s a d e A m a l fi , C o n s t a n z a
Piccolomini, possuía dois baús com 116
figuras de presépios que representavam
muito mais que o nascimento e a adoração
dos Reis Magos. As cortes européias foram
os grandes mecenas desta arte até o final do
século 18 e uma das mais extraordinárias
expressões desta fase são os presépios
Napolitanos, repletos de figuras minúsculas
e impressionantemente reais, que recriam
em detalhes o cotidiano e os personagens
da cidade.
Cristiano Casimiro - Presépio Mariana - MG: Exposição Casa do Barão de Pontal
21
Foto: Cristiano Casimiro - Presépio São Paulo - SP: Exposição Casa do Barão de Pontal
Foto:Cristiano Casimiro - Presépio Africano: Exposição Casa do Barão de Pontal
Um tradicional presépio do interior do
Estado de São Paulo e Minas, além da
manjedoura, tem 21 figuras: Deus Menino,
José e Maria, Anjo Glória (com a faixa de
inscrição), Anjo da Guarda, Gaspar,
Melchior, Baltazar (os três reis magos),
pastor (com a ovelha nos ombros), músicos
(pastores tocando pífano, saltério ou
sanfona), camponesa (com flores e frutos
na cesta), caçador (com o cão ao seu lado),
o profeta Simeão (apoiado no bastão), galo
do céu, carneirinho de São João, vaca,
jumenta, gambá, cabrita e mula. Os
exemplos mais expressivos deste modelo
de presépio estão em São Luís do
Paraitinga (SP), que tem nas tradições
populares sua principal atração turística.
No Norte e Nordeste o grande diferencial é a
alegria revelada no colorido das peças e na
representação de etnias locais. "Os
personagens têm feições dos negros, há
muitos pescadores e os pés são sempre
muito alargados", conta. O material mais
usado é a terracota, mas há também peças
em madeira. "Na Amazônia, os artesãos
usam muito a balota, um látex retirado de
uma palmeira que é desprezado pelo
mercado." Além dos personagens centrais,
nesta região os presépios contam também
com a participação de animais típicos da
localidade. "Eles colocam golfinhos, por
exemplo", diz.
Na região Sul, há uma predominância maior
das influências tradicionais (européias) .
Em outras regiões do Brasil e em outros
paises a cultura local é colocada na cena do
nascimento de Jesus.
Em Mariana, a tradição de4 montar presépio
é muito antiga. As irmãs do colégio
providência sempre montavam uma grande
p r e s é p i o n a c a p e l a , o u t r o m u i t o
impressionante era o presépio montado
pela família Sacramento na Igreja do
Rosário. Este ano foi montada uma grande
exposição de presépios na Casa do Barão
de Pontal ( Rua Direita). A exposição conta
com mais de 70 presépios de todas regiões
do Brasil e de vários países. Organizada
pela Paróquia de Nossa Senhora da
Assunção e com apoio da Secretaria
Municipal de Turismo é uma ótima atração
para este Natal.
Presépio dos Índios da Amazônia.
Foto: Cristiano Casimiro - Presépio Índios do Amazonas: Exposição Casa do Barão de Pontal
"’Há relatos que por volta de 1532, mais ou menos, o padre Jose de Anchieta, ajudado pelos
índios, já modelava em barro pequenas figuras representando o presépio, com o propósito de
incutir-lhes esta tradição e honrar o menino Jesus no dia de Natal. Mas não ha a menor duvida
de que foi entre os séculos XVII e XVIII que os presépios foram efetivamente introduzidos e
difundidos no Brasil pelos padres jesuítas, portugueses, franceses e espanhóis, que aqui
aportaram para catequese do gentio.’ Inicialmente, copiando ou se inspirando nos modelos
importados de Portugal e Espanha, a arte presepista brasileira só bem mais tarde adquiriu uma
fisionomia própria e a riqueza de linhas e de material que marcaram o barroco nacional”
Foto:Cristiano Casimiro - Presépio São Boliviano: Paulo - Exposição SP: Exposição Casa Casa do Barão do Barão de Pontal de Po
Um Centro Cultural com muita história...
Casa onde morou o Conselheiro José Joaquim da Rocha, um dos principais idealizadores da Independência
do Brasil. Nesta casa nasceu o historiador mineiro Diogo Luis de Almeida Pereira de Vasconcellos
Imagem- Livro Dia do Fico: Salomão de Vasconcelos
Novo espaço cultural em Mariana
Mariana vai ganhar um grande centro
cultural para acolher a biblioteca do escritor
Fernando Morais, nascido na cidade.
Terreno pertencente ao Estado e vinculado
à Secretaria de Estado de Cultura foi cedido
à Academia Marianense, por meio de
convênio firmado ontem pelo secretário
Angelo Oswaldo e a presidente da entidade,
professora Hebe Rolla Santos. A Academia
e o Instituto Fernando Morais vão viabilizar a
construção do centro cultural no terreno que
p e r t e n c e u a o p r i m e i r o D i o g o d e
Vasconcelos, no século XVIII e ao Capitão
José Joaquim da Rocha figura importante
na independência do Brasil
O secretário Angelo Oswaldo destacou a
importância de Mariana e Minas Gerais
receberem o acervo Fernando Morais. “A
Universidade do Texas e várias instituições
paulistas haviam manifestado interesse até
na aquisição da coleção bibliográfica
constituída pelo escritor, mas Fernando
Morais fez questão de doa-la à primeira
cidade mineira, sua terra natal. É um
presente admirável a Mariana e ao Estado”.
Localizada em pleno centro histórico da
cidade, a área receberá a edificação, na
qual serão realizadas atividades culturais
variadas e funcionará, aberta ao público, a
biblioteca de Fernando Morais. As obras
devem começar no início de 2018.
Ângelo Oswaldo e Hebe Maria Rôla Santos assinam convênio
Imagem Secretaria de Estado da Cultura.
27
Fernando de
MORAIS
Imagem Lucas Figueiredo
Fernando Gomes de Morais nasceu em
Mariana em 1946 é um jornalista, biógrafo,
político e escritor brasileiro. Sua obra
literária é constituída por biografias e
reportagens.
Começou no jornalismo aos 15 anos. Em
1961, era então um office boy, numa revista
editada por um banco em Belo Horizonte,
quando teve que cobrir a ausência do único
jornalista da publicação numa entrevista
coletiva. Aos 18 mudou-se para São Paulo e
passou pelas redações de Veja, Jornal da
Tarde, Folha de S. Paulo, TV Cultura e portal
IG. Recebeu três vezes o Prêmio Esso e
quatro vezes o Prêmio Abril.
Na área política, foi deputado estadual
durante oito anos e Secretário de Cultura
(1988-1991) e de Educação (1991-1993) do
Estado de São Paulo, nos governos Orestes
Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho.
Seu primeiro sucesso editorial foi A Ilha,
relato de uma viagem a Cuba. A partir daí,
abandonou a rotina das redações para se
dedicar à literatura. Pesquisador dedicado e
exímio no tratamento de textos, publicou
biografias e reportagens que venderam
mais de dois milhões de exemplares no
Brasil e em outros países, tornando-se um
dos escritores brasileiros mais lidos de
todos os tempos.
Desde 2006, Morais trabalha em dois
projetos polêmicos: a biografia do político
baiano Antônio Carlos Magalhães e um livro
em que o ex-ministro José Dirceu narra sua
passagem pelo Governo Lula.
A Ilha - lançada em 1976, esta reportagem
sobre Cuba tornou-se um dos maiores
sucessos editoriais brasileiros e se
converteu num ícone da esquerda brasileira
nos anos 70. Reeditada em 2001, a obra,
ampliada, inclui um caderno de fotos e um
prefácio em que Morais apresenta suas
impressões sobre a ilha 25 anos depois da
primeira viagem.
Olga - lançada em 1985 e reeditada em
1994, narra a trajetória trágica de Olga
Benário, recrutada pelo governo soviético
para dar proteção ao líder comunista
brasileiro Luís Carlos Prestes, com quem
viveria um romance antes de ser presa e
deportada pelo governo Vargas e morta na
Alemanha nazista.
Chatô, o Rei do Brasil (1994) - biografia de
Assis Chateaubriand, na qual são narrados
sem retoques os expedientes pouco
ortodoxos por ele utilizados para construir
seu império jornalístico.
Corações Sujos (2000) - reconstitui a mais
sangrenta página da história da imigração
japonesa, a aventura da Shindo Renmei e
sua vingança contra os corações sujos,
assim chamados os japoneses acusados de
trair sua pátria por "acreditarem" na derrota
do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Cem Quilos de Ouro (2003) - coletânea na
qual o autor apresenta e comenta doze
reportagens assinadas por ele entre as
décadas de 1970 e 1990.
Na Toca dos Leões (2005) - o autor esmiúça
a vida de Washington Olivetto, Javier Llussá
Ciuret e Gabriel Zellmeister, os fundadores
da W/Brasil, uma das agências de
propaganda mais premiadas do mundo.
Montenegro, as aventuras do Marechal que
fez uma revolução nos céus do Brasil (2006)
- biografia de Casimiro Montenegro Filho, o
Marechal Montenegro, pioneiro da aviação
e revolucionário de 1930, que, em 1950,
enfrentou Presidente da República,
ministros e companheiros de farda para
criar o Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA).
O Mago (2008) - biografia do polêmico
escritor Paulo Coelho. Tentativa de suicídio,
satanismo, homossexualidade, drogas e
Raul Seixas fazem parte das revelações.
Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011) -
livro sobre agentes secretos de Cuba nos
Estados Unidos.
Revista Mariana
Histórica e Cultural