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<strong>Dezembro</strong> - 2017<br />
Mariana<br />
<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural
A Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural é<br />
uma publicação eletrônica da Associação<br />
Memória, Arte, Comunicação e Cultural <strong>de</strong><br />
Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar<br />
artigos, entrevistas sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana.<br />
A revista é uma vitrine para publicação <strong>de</strong> trabalhos<br />
<strong>de</strong> pesquisadores. Mostrar a cultura <strong>de</strong> uma<br />
forma leve, histórias e curiosida<strong>de</strong>s que marcaram<br />
estes 321 anos da primeira cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas.<br />
Mariana - <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong><br />
Belas Artes é um passo importante para a<br />
divulgação e pesquisa <strong>de</strong> conteúdos sobre a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana. Esperamos que os textos<br />
publicados contribuam para a formação <strong>de</strong> uma<br />
consciência <strong>de</strong> preservação e incentivem a<br />
pesquisa.<br />
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />
são <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores.<br />
Colaboradores:<br />
Prof. Cristiano Casimiro<br />
Prof. Vitor Gomes<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />
Arquivo Histórico da Municipal Câmara <strong>de</strong> Mariana<br />
IPHAN - Escritório Mariana<br />
Arquivo Fotográfico Marezza<br />
Museu da Música <strong>de</strong> Mariana<br />
Paróquia <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção<br />
Fotografias:<br />
Cristiano Casimiro, Vitor Gomes, Caetano Etrusco e<br />
Arquivo Marrrezza - Marcio Lima<br />
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />
Capa: Sé <strong>de</strong> Mariana - Cristiano Casimiro<br />
Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />
CNPJ: 06.002.739/0001-19<br />
Rua Senador Baw<strong>de</strong>n, 122, casa 02
Indice<br />
272 anos da Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana<br />
04<br />
A Guarda Nacional em Mariana<br />
14<br />
A Origem dos Presépios<br />
18<br />
Novo espaço cultural em Mariana<br />
26<br />
Caetano Etrusco - retábulo Sé <strong>de</strong> Mariana<br />
Santa Ceia - Manoel da Costa Athai<strong>de</strong> - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo
A Primeira Diocese <strong>de</strong><br />
Minas
272 anos da<br />
Arquidiocese <strong>de</strong> Mariana<br />
Aqui nasceu Minas Gerais. Aos 16 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1696 chegaram os ban<strong>de</strong>irantes, vindos<br />
<strong>de</strong> Taubaté – SP, tendo à frente o Coronel<br />
Salvador Furtado <strong>de</strong> Mendonça, e se<br />
localizaram às margens <strong>de</strong> um riacho a que<br />
<strong>de</strong>nominaram Ribeirão do Carmo, por ser<br />
esse dia <strong>de</strong>dicado à Nossa Senhora do<br />
Carmo. Em 1711 o arraial torna-se a<br />
primeira vila <strong>de</strong> Minas Gerais que, em vista<br />
da criação da nova diocese, foi elevada à<br />
categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, no dia 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1745, pelo rei Dom João V que lhe <strong>de</strong>u o<br />
nome <strong>de</strong> Mariana, em homenagem à sua<br />
esposa a rainha Maria Anna d'Áustria.<br />
Cumpria-se, <strong>de</strong>ssa forma, um requisito<br />
medieval, pois os bispos não podiam residir<br />
em vilas, mas somente em cida<strong>de</strong>s. A planta<br />
da nova cida<strong>de</strong> foi traçada por José<br />
Fernan<strong>de</strong>s Pinto Alpoim, e a construção das<br />
casas se <strong>de</strong>u entre os anos <strong>de</strong> 1746 até<br />
1809.<br />
Mariana é a primeira vila, primeira cida<strong>de</strong>,<br />
primeira capital e primeira diocese <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais. Por isso é intitulada Primaz <strong>de</strong><br />
Minas. “É aqui, incontroversamente, que se<br />
abre o período histórico da Igreja, em<br />
Minas; foi à tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse luminoso domingo,<br />
no momento em que ali, no Mata Cavalos, o<br />
capelão da comitiva, esse benemérito e,<br />
ingratamente, olvidado apóstolo da zona do<br />
Carmo – Padre Francisco Gonçalves Lopes<br />
- erguia o primeiro <strong>de</strong>finitivo altar da terra<br />
mineira, que se há <strong>de</strong> fixar, na realida<strong>de</strong>, a<br />
era cristã <strong>de</strong> Minas Gerais” diz o Côn.<br />
Raymundo Trinda<strong>de</strong>.<br />
A diocese <strong>de</strong> Mariana, criada em 1745, é a<br />
primeira do interior do Brasil, pois, a<br />
colonização portuguesa das terras<br />
brasileiras iniciou-se na costa. Foi o Con<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Assumar quem propôs a criação <strong>de</strong> uma<br />
diocese em Minas Gerais e outra em São<br />
Paulo. Tendo recebido essa proposta, o rei<br />
<strong>de</strong> Portugal, em 06 <strong>de</strong> setembro 1720,<br />
dirige carta ao con<strong>de</strong> informando-lhe que<br />
havia recomendado ao arcebispo da Bahia<br />
e ao bispo do Rio <strong>de</strong> Janeiro que se<br />
manifestassem junto ao papa a favor <strong>de</strong>ssa<br />
medida tão necessária.<br />
Essa proposta vinha ao encontro dos<br />
interesses geopolíticos <strong>de</strong> Portugal, pois,<br />
preparava o terreno para o reconhecimento<br />
papal da expansão portuguesa em direção<br />
a o O e s t e , d e s l o c a n d o a s s i m<br />
<strong>de</strong>finitivamente a linha divisória do Tratado<br />
<strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas. Além disso, a criação das<br />
novas dioceses somava os interesses do<br />
expansionismo português com o projeto<br />
eclesiástico <strong>de</strong> constituir um clero nativo<br />
nas colônias ultramarinas. “As dioceses,<br />
centro <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da coroa nas conquistas do<br />
i m p é r i o p o r t u g u ê s . R e v e l a r a m - s e<br />
fundamentais na tentativa <strong>de</strong> união <strong>de</strong><br />
forças a serviço da colonização”.<br />
Os motivos da escolha <strong>de</strong> Mariana para<br />
se<strong>de</strong> do novo bispado foram apresentados<br />
pelo cronista do panegírico intitulado Áureo<br />
Trono Episcopal, elaborado por ocasião da<br />
entrada solene do primeiro bispo <strong>de</strong><br />
Mariana. Esse precioso documento para a<br />
historiografia do período colonial diz que<br />
são três as razões que justificam essa<br />
predileção por parte do rei <strong>de</strong> Portugal: A<br />
primeira é <strong>de</strong> natureza cronológica, pois a<br />
vila <strong>de</strong> Nossa Senhora do Ribeirão do<br />
Carmo é a mais antiga povoação da região<br />
mineradora e aqui foi erguida a primeira<br />
capela.<br />
05
Caetano estruco - Sé <strong>de</strong> Mariana
A segunda razão é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política, talvez<br />
a mais <strong>de</strong>terminante, pois evoca a sedição<br />
<strong>de</strong> Vila Rica, em 1720, contra o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Assumar, governador da Capitania <strong>de</strong><br />
Minas Gerais. Os moradores <strong>de</strong> Ribeirão do<br />
Carmo ofereceram apoio ao governador. A<br />
fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> para com a coroa portuguesa<br />
po<strong>de</strong> ter sido recompensada com o trono<br />
episcopal. A terceira razão é <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
geográfica, pois a vila do Ribeirão do Carmo<br />
fica no meio, no coração do território da<br />
nova diocese. Para Dom João V, a Vila do<br />
Carmo havia se distinguido pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a<br />
sua coroa. Por isso, prometera gratificá-la. A<br />
ocasião que se apresentava foi a criação do<br />
bispado. Em 1727, o rei or<strong>de</strong>nou a<br />
paralisação do canteiro <strong>de</strong> obras da<br />
catedral em Vila Rica. Em 1745 o rei<br />
anuncia a escolha da Vila do Carmo à<br />
revelia dos pareceres contrários e <strong>de</strong>baixo<br />
dos protestos <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>l Rei.<br />
Em 06 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1745, pela Bula<br />
Candor Lucis Aeternae, o Papa Bento XIV<br />
criou a diocese <strong>de</strong> Mariana, <strong>de</strong>smembrada<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, juntamente com a<br />
diocese <strong>de</strong> São Paulo e as prelazias <strong>de</strong><br />
Goiás e Cuiabá. A criação <strong>de</strong>ssa diocese<br />
marca novo momento na geopolítica <strong>de</strong><br />
colonização do sertão mineiro. Com sua<br />
instalação, modificam-se as relações entre<br />
as diversas esferas do po<strong>de</strong>r. Torna-se mais<br />
complexo o quadro <strong>de</strong> forças políticas<br />
configurado pela atuação das irmanda<strong>de</strong>s,<br />
câmaras locais, clero e autorida<strong>de</strong>s.<br />
essa vitória como um verda<strong>de</strong>iro milagre e o<br />
atribuíram a Nossa Senhora da Assunção.<br />
Para agra<strong>de</strong>cer à Senhora, os benefícios e<br />
a salvação <strong>de</strong> Portugal nesse momento <strong>de</strong><br />
tantos perigos, Dom João I <strong>de</strong>terminou que<br />
<strong>de</strong> então em diante, todas as catedrais do<br />
Reino fossem consagradas a Nossa<br />
Senhora da Assunção. Ao que tudo indica,<br />
D. João V, em 1745, fez cumprir esse voto<br />
em Mariana e São Paulo, as duas dioceses<br />
irmãs gêmeas, criadas pela mesma bula<br />
pontifícia.<br />
O documento papal estabelecia que o<br />
bispado <strong>de</strong> Mariana se limitava com os<br />
bispados do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong> São Paulo,<br />
a prelazia <strong>de</strong> Goiás, a arquidiocese <strong>de</strong> São<br />
Salvador da Bahia e o bispado <strong>de</strong><br />
Pernambuco. A jurisdição do bispado <strong>de</strong><br />
Mariana não correspondia exatamente à<br />
Capitania <strong>de</strong> Minas Gerais. Seu território foi<br />
<strong>de</strong>limitado pelos rios: Jequitinhonha, ao<br />
Norte; São Francisco, a Oeste; Rio Doce, a<br />
Leste; Rio Paraíba, ao Sul. Assim, parte do<br />
território do Norte <strong>de</strong> Minas pertencia ao<br />
arcebispado da Bahia; a parte que se<br />
encontrava além do Rio São Francisco era<br />
do bispado <strong>de</strong> Pernambuco; o Triângulo<br />
mineiro estava ligado à prelazia <strong>de</strong> Goiás, e<br />
parte do Sul <strong>de</strong> Minas ficava no bispado <strong>de</strong><br />
São Paulo.<br />
A igreja matriz <strong>de</strong>dicada a Nossa Senhora<br />
da Conceição foi elevada à categoria <strong>de</strong><br />
catedral <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção. A<br />
mudança do título se <strong>de</strong>ve a um voto do rei<br />
<strong>de</strong> Portugal quando, em 1385, o reino<br />
português se encontrava ameaçado pelo<br />
reino <strong>de</strong> Castela. A razão era a sucessão ao<br />
trono <strong>de</strong> Portugal, ambicionado pelo rei <strong>de</strong><br />
Castela que, através das complicadas<br />
linhas dinásticas, era um dos preten<strong>de</strong>ntes.<br />
Os portugueses, comandados por aquele<br />
que seria D. João I, resistiram às<br />
pretensões <strong>de</strong> Castela. O momento<br />
<strong>de</strong>cisivo da disputa se <strong>de</strong>u na manhã <strong>de</strong> 14<br />
<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1385, na célebre batalha <strong>de</strong><br />
Aljubarrota on<strong>de</strong> os portugueses, com um<br />
exército visivelmente inferior, venceram as<br />
armas <strong>de</strong> Castela, na véspera da festa da<br />
Assunção <strong>de</strong> Maria. Os lusitanos tomaram<br />
07
Caetano estruco - Sé <strong>de</strong> Mariana
Caetano estruco - Sé <strong>de</strong> Mariana
Com seu inconfundível estilo, diz-nos Mons.<br />
Flávio Carneiro Rodrigues, Diretor do<br />
Arquivo Eclesiástico <strong>de</strong> Mariana: “O<br />
território coberto pela diocese primaz <strong>de</strong><br />
Minas, que compreendia a região mineira<br />
então habitada (centro e su<strong>de</strong>ste),<br />
aproximadamente um quinto do Estado,<br />
hoje repartido entre sete províncias<br />
eclesiásticas, se subdividiu numa radiosa<br />
constelação <strong>de</strong> bispados: Diamantina,<br />
Pouso Alegre (parte), Campanha (parte),<br />
Belo Horizonte, Caratinga, Juiz <strong>de</strong> Fora, Luz<br />
(parte), Leopoldina, São João <strong>de</strong>l Rei e<br />
Itabira-Fabriciano. A sua catedral tornou-se<br />
assim a mãe dadivosa <strong>de</strong> tantas outras<br />
catedrais”.<br />
Novo tempo na história da Igreja em Minas<br />
Gerais e no Brasil foi marcado com a criação<br />
da diocese <strong>de</strong> Mariana e a chegada <strong>de</strong> seu<br />
primeiro bispo. Com expressão poética e<br />
autenticida<strong>de</strong> histórica, diz Mons. Flávio:<br />
“De Mariana, irradiou-se para todos os<br />
horizontes mineiros o facho sagrado do<br />
Evangelho que civilizou, educou e<br />
engran<strong>de</strong>ceu a gente mineira. Em Mariana,<br />
se ergueram sólidos os umbrais da Religião<br />
Católica para os montanheses”.<br />
Texto: Dom Geraldo Lyrio Rocha<br />
Arcebispo <strong>de</strong> Mariana<br />
Livro: Sé <strong>de</strong> Mariana: monumento <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong>voção e<br />
expressão artística.<br />
Acervo Márcio Lima-Marezza
Caetano estruco - Sé <strong>de</strong> Mariana
EM 272 ANOS, OITO BISPOS E CINCO ARCEBISPOS OCUPARAM A<br />
CÁTEDRA MARIANENSE.<br />
Dom Frei<br />
Manoel da Cruz<br />
Dom Bartolomeu<br />
Manuel Men<strong>de</strong>s dos Reis<br />
Dom Frei Cipriano<br />
<strong>de</strong> São José<br />
1748 1772 1773 1779 1789<br />
1745<br />
Criação da<br />
Diocese <strong>de</strong> Mariana<br />
Dom Joaquim<br />
Borges <strong>de</strong> Figueroa<br />
Dom Frei Domingos<br />
da Encarnação Pontével<br />
1897 1877 1844 1820<br />
Dom Silvério<br />
Gomes Pimenta<br />
Dom Antônio Maria<br />
Corrêa <strong>de</strong> Sá e Benevi<strong>de</strong>s<br />
Dom Antônio<br />
Ferreira Viçoso<br />
Dom Frei José da<br />
Santíssima Trinda<strong>de</strong><br />
1922 1960 1988 2007<br />
Dom Helvécio<br />
Gomes <strong>de</strong> Oliveira<br />
Dom Oscar<br />
<strong>de</strong> Oliveira<br />
Dom Luciano Pedro<br />
Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida<br />
Dom Geraldo<br />
Lyrio Rocha<br />
1906<br />
A Diocese <strong>de</strong> Mariana<br />
é elevada à categoria<br />
<strong>de</strong> Arquidiocese
A Guarda Nacional em Mariana<br />
A Legião da Guarda Nacional do Município <strong>de</strong> Mariana<br />
As Guardas Nacionais são criadas para<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Constituição, a Liberda<strong>de</strong>,<br />
In<strong>de</strong>pendência e Integrida<strong>de</strong> do Império;<br />
para manter a obediência às Leis, conservar<br />
ou restabelecer a or<strong>de</strong>m e a tranqüilida<strong>de</strong><br />
pública; e auxiliar o Exército <strong>de</strong> Linha na<br />
<strong>de</strong>fesa das fronteiras e costas<br />
Após a abdicação <strong>de</strong> D. Pedro I, o governo<br />
imperial foi assumido pela chamada<br />
“Regência Trina Permanente”. Uma das<br />
primeiras medidas, pois, do novo governo,<br />
foi a criação da Guarda Nacional, no dia 18<br />
<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831.<br />
A Guarda Nacional foi criada com base na<br />
experiência da França, que havia<br />
transferido a segurança do país para os<br />
próprios cidadãos, que teriam a função <strong>de</strong><br />
auxiliar as forças policiais e o Exército a<br />
manter a or<strong>de</strong>m no país. Aqui no Brasil, no<br />
entanto, no início do período regencial, o<br />
Exército era mal visto por aqueles que<br />
consi<strong>de</strong>ravam as tropas oficiais uma<br />
ameaça à or<strong>de</strong>m política e por aqueles que<br />
viam no Exército um instrumento <strong>de</strong><br />
dominação do po<strong>de</strong>r central, que agora<br />
estava nas mãos dos príncipes regentes.<br />
O país vivia um momento <strong>de</strong> intensa luta<br />
política e social, pois enquanto os membros<br />
do Partido Restaurador <strong>de</strong>fendiam o retorno<br />
<strong>de</strong> D. Pedro I, as forças liberais apoiavam a<br />
Regência Trina e viam no Exército um pilar<br />
<strong>de</strong> sustentação do <strong>de</strong>spotismo <strong>de</strong> D. Pedro<br />
I. Sendo assim, era preciso garantir o<br />
fortalecimento do po<strong>de</strong>r central, conciliar os<br />
interesses do governo imperial com os dos<br />
mandatários locais. Foi neste contexto que a<br />
Guarda Nacional foi criada.<br />
Durante o período regencial, a Guarda<br />
Nacional teve importância na articulação do<br />
po<strong>de</strong>r central e local nos meses seguintes à<br />
abdicação <strong>de</strong> D. Pedro I, contribuiu para o<br />
fortalecimento da Regência e beneficiou os<br />
mandatários locais, já que sua organização<br />
era feita por critério <strong>de</strong> renda, dando a eles<br />
po<strong>de</strong>res e privilégios. Nos anos <strong>de</strong> 1860 o<br />
número <strong>de</strong> praças era mais <strong>de</strong> 500 mil.<br />
Uniformes da Guarda Nacional (1831- 1852):<br />
Adilson José <strong>de</strong> Almeida<br />
Museu Paulista da USP<br />
SI VIS PACEM PARA BELLUM - Se <strong>de</strong>seja a paz prepara ti para a guerra<br />
15
Uniformes da Guarda Nacional (1831- 1852):<br />
Adilson José <strong>de</strong> Almeida<br />
Museu Paulista da USP<br />
Igreja NS do Rosário <strong>de</strong> Padre Viegas - Marezza PHOTO
Mariana, como primeira cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas, no<br />
ano <strong>de</strong> 1830 tinha uma área equivalente<br />
10% do Estado <strong>de</strong> Minas e muitas das atuais<br />
cida<strong>de</strong>s mineiras pertenciam ao seu termo.<br />
A Cida<strong>de</strong> contar chegou a contar com duas<br />
legiões da Guarda Nacional. A Legião era a<br />
maior unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comando da Guarda<br />
Nacional. Esta era formada pelos<br />
municípios cujo número <strong>de</strong> efetivos<br />
qualificados para o serviço ativo da<br />
corporação exce<strong>de</strong>sse mais <strong>de</strong> mil homens.<br />
O comando da legião ficava sob a<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um coronel que<br />
formava o estado-maior composto por um<br />
major, um quartel-mestre, um cirurgião-mor<br />
e um tambor-mor.<br />
As duas Legiões da Guarda Nacional em<br />
Mariana contavam com duas legiões, cuja<br />
estrutura organizacional po<strong>de</strong> ser<br />
observada por meio do organograma abaixo<br />
Câmara Municipal e Guarda Nacional<br />
seriam duas importantes estruturas<br />
componentes da esfera <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r durante o<br />
Império. Consi<strong>de</strong>rando ainda que a partir <strong>de</strong><br />
1836 a nomeação dos oficiais milicianos<br />
passava a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das propostas<br />
enviadas pelas Câmaras, essas duas<br />
instituições teriam fundamental papel na<br />
condução da política local, refletindo-se nos<br />
<strong>de</strong>mais âmbitos.<br />
O termo <strong>de</strong> Mariana, Província <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais. A cida<strong>de</strong> que possuía, até a primeira<br />
meta<strong>de</strong> do século XIX, uma gran<strong>de</strong><br />
extensão territorial e uma Câmara Municipal<br />
que organizava e <strong>de</strong>finia as patentes dos<br />
oficiais e sua distribuição geográfica nas<br />
regiões do termo.<br />
A força total da legião <strong>de</strong> Mariana contava<br />
com 2.991 guardas nacionais, assim<br />
distribuídos: oficiais do estado maior: dois;<br />
1º batalhão com parada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Mariana, 718 milicianos; 2º batalhão com<br />
parada no distrito <strong>de</strong> Furquim, 532; 3º<br />
batalhão com parada no distrito <strong>de</strong> Barra<br />
Longa, 742; 4º batalhão com parada no<br />
distrito <strong>de</strong> Ponte Nova, 997. Cavalaria 10º S.<br />
Sebastião da Pedra do Anta, Infantaria: 59º<br />
Mariana, Camargos, S. Sebastião (atual<br />
Ban<strong>de</strong>irantes),Sumidouro (atual Padre<br />
Viegas) e N. S.ª do Nazaré do Inficionado<br />
(atual Santa Rita Durão),60º Cachoeira do<br />
Brumado, S. Caetano (atual Monsenhor<br />
Horta) e Furquim, 61º Barra Longa, Paulo<br />
Moreira (atual Alvinópolis) e N. S.ª da Saú<strong>de</strong><br />
(atual Dom Silvério) 62º Ponte Nova*, Abre<br />
Campo e S. Sebastião da Pedra do Anta.<br />
Reserva: 9º Mariana, N. S.ª do Nazaré do<br />
Inficionado, Barra Longa, Ponte Nova, S.<br />
Sebastião da Pedra do Anta e Abre Campo.<br />
A Guarda Nacional foi <strong>de</strong>smobilizada em<br />
1922. Mas esta história da Guarda Nacional<br />
em Mariana <strong>de</strong>ve ser mais pesquisada e<br />
l e v a d a a o c o n h e c i m e n t o d e t o d a<br />
comunida<strong>de</strong>.<br />
Estrutura e Hierarquia <strong>de</strong> Comando da Guarda Nacional em Mariana<br />
Decreto n ͦ 1.020,<strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1852<br />
MANTER E DEFENDER A ORDEM: O PERFIL SOCIOECONÔMICO DA GUARDA NACIONAL<br />
DE MARIANA/MG, 1850-1873<br />
Flávio Henrique Dias Saldanha<br />
Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins<br />
Infantaria<br />
59 ͦ Batalhão<br />
60 ͦ Batalhão<br />
6ª Companhia<br />
6ª Companhia<br />
Comando<br />
Superior<br />
Serviço<br />
Ativo<br />
Cavalaria<br />
61 ͦ Batalhão<br />
62 ͦ Batalhão<br />
Tenente Coronel<br />
10 ͦ Esquadrão<br />
6ª Companhia<br />
6ª Companhia<br />
2ª Companhia<br />
Major<br />
Reserva<br />
9 ͦ Batalhão<br />
6ª Companhia<br />
Coronel Tenente Coronel Capitão
A Origem dos<br />
PRESÉPIOS<br />
Igreja NS do Rosário <strong>de</strong> Santa Rita Durão - Marezza PHOTO
Os presépios são montados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo<br />
dos primeiros cristãos. A incorporação <strong>de</strong><br />
cenas do cotidiano <strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong> do<br />
mundo por on<strong>de</strong> a fé cristã se espalhou foi a<br />
forma <strong>de</strong> significar a aceitação do<br />
cristianismo e também registrar para a<br />
História a evolução <strong>de</strong>ssas culturas.<br />
O termo presépio significa originalmente<br />
estábulo, lugar on<strong>de</strong> se recolhe os animais.<br />
A palavra origina-se do latim praesaepe, e é<br />
formada por prae= diante, saepes =recinto,<br />
significando: lugar que há diante <strong>de</strong> um<br />
recinto. Posteriormente passou a ser<br />
aplicada à representação do nascimento <strong>de</strong><br />
Jesus. A inspiração para a criação do<br />
presépio são os textos evangélicos escritos<br />
por Mateus e Lucas.<br />
Nascidos da <strong>de</strong>voção cristã, os presépios<br />
são montados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo dos primeiros<br />
cristãos. A representação plástica da época<br />
<strong>de</strong> Jesus tinha uma função educativa - servia<br />
para contar uma história ou registrar um<br />
acontecimento para os iletrados. Que eram<br />
maioria na socieda<strong>de</strong>. Essa função está<br />
preservada até hoje. Quem monta um<br />
presépio, mesmo sem saber, recria o<br />
nascimento <strong>de</strong> Jesus e traz para a sala <strong>de</strong><br />
estar o espírito <strong>de</strong> renovação e benevolência<br />
contido na simbologia do Natal. A<br />
incorporação <strong>de</strong> cenas do cotidiano <strong>de</strong> cada<br />
localida<strong>de</strong> do mundo por on<strong>de</strong> a fé cristã se<br />
espalhou foi a forma <strong>de</strong> dizer que aquela<br />
família, comunida<strong>de</strong> ou cultura o aceitou e<br />
s e c o m p r o m e t e a s e g u i r s e u s<br />
ensinamentos. E também registrou para a<br />
História a evolução <strong>de</strong>ssas culturas.<br />
O primeiro presépio <strong>de</strong> que se tem notícia é<br />
uma cena esculpida no século 4 (325 d.C.),<br />
um baixo-relevo que enfeita um sarcófago<br />
(não se sabe a origem e nem a quem<br />
pertenceu), atualmente parte do acervo do<br />
Museu das Termas, em Roma, na Itália.<br />
Nesta cena, Maria e José não estão<br />
presentes. Há apenas um pastor, uma<br />
árvore, a cabana e o menino Jesus envolto<br />
em faixas no coxo que lhe serviu <strong>de</strong> berço.<br />
Inclinados sobre ele, as cabeças <strong>de</strong> um<br />
burro e um boi.<br />
A representação <strong>de</strong> presépio esculpida em friso <strong>de</strong> sarcófago <strong>de</strong> cristão do século III. A foto foi feita a partir <strong>de</strong> uma<br />
reprodução arqueológica do original que se encontra no Museu V aticano (Foto: Pe. Francisco José - 2010)<br />
Esta simbologia se per<strong>de</strong>u no tempo, mas os<br />
animais continuam sendo personagens<br />
essenciais em qualquer presépio. Alguns<br />
instrumentos litúrgicos e afrescos <strong>de</strong>sta<br />
mesma época mostram uma cena mais<br />
completa, com a Virgem Maria, a adoração<br />
dos Reis Magos e o menino. A primeira<br />
réplica da gruta no Oci<strong>de</strong>nte é do século 7 e<br />
foi feita em Roma. Nenhuma <strong>de</strong>stas obras,<br />
porém, são o presépio que conhecemos<br />
hoje.<br />
Embora os cristãos festejem o nascimento<br />
<strong>de</strong> Jesus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século 3, o culto à<br />
Nativida<strong>de</strong> só surgiu no século seguinte com<br />
S a n t a H e l e n a , m ã e d o I m p e r a d o r<br />
Constantino <strong>de</strong> Roma. As pequenas<br />
esculturas representando os personagens<br />
envolvidos no nascimento <strong>de</strong> Jesus<br />
começaram a surgir como instrumentos<br />
<strong>de</strong>sse culto. E a força que envolve esta arte<br />
foi gerada por São Francisco <strong>de</strong> Assis, que<br />
muitos apontam como o "inventor" do<br />
presépio.<br />
19
Cristiano Casimiro - Presépio Elias Layon: Exposição Casa do Barão <strong>de</strong> Pontal
A representação teatral realizada por São<br />
Francisco em 1223, numa gruta perdida na<br />
mata ao redor do povoado <strong>de</strong> Greccio, no<br />
Vale da Umbria na Itália, três anos antes <strong>de</strong><br />
morrer, inaugurou o que hoje conhecemos<br />
como "presépio vivo" e <strong>de</strong>finiu o conceito<br />
que norteia os presépios atuais - sejam eles<br />
e n c e n a d o s o u r e p r e s e n t a d o s p o r<br />
esculturas.<br />
Segundo frei Pedro Pinheiro, que há 13 anos<br />
organiza uma exposição internacional <strong>de</strong><br />
presépios no claustro do mosteiro da Or<strong>de</strong>m<br />
do Largo São Francisco, no centro <strong>de</strong> São<br />
P a u l o , e s t a o b r a é a p e n a s u m a<br />
representação simbólica. Nela, o boi é o<br />
povo <strong>de</strong> Israel e o burro, os gentios<br />
carregados do pecado da idolatria; os dois,<br />
no entanto, ren<strong>de</strong>m homenagem e<br />
reconhecem a origem divina do bebê.<br />
Objetivo <strong>de</strong>sta representação era permitir<br />
que as pessoas mais simples enten<strong>de</strong>ssem<br />
a encarnação <strong>de</strong>scrita nas escrituras,<br />
absolutamente incompreensível para os que<br />
não eram estudiosos. Não havia menino<br />
Jesus. São Francisco queria que as pessoas<br />
trouxessem Jesus no coração", diz frei<br />
Pedro. Segundo o frei, há relatos contando<br />
que, apesar <strong>de</strong> não haver crianças presente,<br />
nesta noite todos ouviram o choro <strong>de</strong> um<br />
bebê no auge da encenação. Foi talvez a<br />
primeira "vivência" <strong>de</strong> que se tem notícia na<br />
história - técnica atualmente muito usada<br />
nos consultórios psicológicos.<br />
O sucesso foi tão gran<strong>de</strong> que tornou a<br />
pequena Greccio conhecida no mundo<br />
como a "Belém italiana" e disseminou o<br />
presépio por toda Europa. Cerca <strong>de</strong> 300<br />
anos <strong>de</strong>pois, este costume tinha extrapolado<br />
os limites dos ambientes sagrados, e<br />
c o m e ç a v a a a p a r e c e r n a s c a s a s ,<br />
especialmente nas dos nobres. O primeiro<br />
registro acerca <strong>de</strong> um presépio em casa<br />
particular está no inventário do Castelo <strong>de</strong><br />
Piccolomini em Celano, supostamente<br />
elaborado em 1567. Segundo o documento,<br />
a d u q u e s a d e A m a l fi , C o n s t a n z a<br />
Piccolomini, possuía dois baús com 116<br />
figuras <strong>de</strong> presépios que representavam<br />
muito mais que o nascimento e a adoração<br />
dos Reis Magos. As cortes européias foram<br />
os gran<strong>de</strong>s mecenas <strong>de</strong>sta arte até o final do<br />
século 18 e uma das mais extraordinárias<br />
expressões <strong>de</strong>sta fase são os presépios<br />
Napolitanos, repletos <strong>de</strong> figuras minúsculas<br />
e impressionantemente reais, que recriam<br />
em <strong>de</strong>talhes o cotidiano e os personagens<br />
da cida<strong>de</strong>.<br />
O sucesso foi tão gran<strong>de</strong> que tornou a<br />
pequena Greccio conhecida no mundo<br />
como a "Belém italiana" e disseminou o<br />
presépio por toda Europa. Cerca <strong>de</strong> 300<br />
anos <strong>de</strong>pois, este costume tinha extrapolado<br />
os limites dos ambientes sagrados, e<br />
c o m e ç a v a a a p a r e c e r n a s c a s a s ,<br />
especialmente nas dos nobres. O primeiro<br />
registro acerca <strong>de</strong> um presépio em casa<br />
particular está no inventário do Castelo <strong>de</strong><br />
Piccolomini em Celano, supostamente<br />
elaborado em 1567. Segundo o documento,<br />
a d u q u e s a d e A m a l fi , C o n s t a n z a<br />
Piccolomini, possuía dois baús com 116<br />
figuras <strong>de</strong> presépios que representavam<br />
muito mais que o nascimento e a adoração<br />
dos Reis Magos. As cortes européias foram<br />
os gran<strong>de</strong>s mecenas <strong>de</strong>sta arte até o final do<br />
século 18 e uma das mais extraordinárias<br />
expressões <strong>de</strong>sta fase são os presépios<br />
Napolitanos, repletos <strong>de</strong> figuras minúsculas<br />
e impressionantemente reais, que recriam<br />
em <strong>de</strong>talhes o cotidiano e os personagens<br />
da cida<strong>de</strong>.<br />
Cristiano Casimiro - Presépio Mariana - MG: Exposição Casa do Barão <strong>de</strong> Pontal<br />
21
Foto: Cristiano Casimiro - Presépio São Paulo - SP: Exposição Casa do Barão <strong>de</strong> Pontal
Foto:Cristiano Casimiro - Presépio Africano: Exposição Casa do Barão <strong>de</strong> Pontal
Um tradicional presépio do interior do<br />
Estado <strong>de</strong> São Paulo e Minas, além da<br />
manjedoura, tem 21 figuras: Deus Menino,<br />
José e Maria, Anjo Glória (com a faixa <strong>de</strong><br />
inscrição), Anjo da Guarda, Gaspar,<br />
Melchior, Baltazar (os três reis magos),<br />
pastor (com a ovelha nos ombros), músicos<br />
(pastores tocando pífano, saltério ou<br />
sanfona), camponesa (com flores e frutos<br />
na cesta), caçador (com o cão ao seu lado),<br />
o profeta Simeão (apoiado no bastão), galo<br />
do céu, carneirinho <strong>de</strong> São João, vaca,<br />
jumenta, gambá, cabrita e mula. Os<br />
exemplos mais expressivos <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> presépio estão em São Luís do<br />
Paraitinga (SP), que tem nas tradições<br />
populares sua principal atração turística.<br />
No Norte e Nor<strong>de</strong>ste o gran<strong>de</strong> diferencial é a<br />
alegria revelada no colorido das peças e na<br />
representação <strong>de</strong> etnias locais. "Os<br />
personagens têm feições dos negros, há<br />
muitos pescadores e os pés são sempre<br />
muito alargados", conta. O material mais<br />
usado é a terracota, mas há também peças<br />
em ma<strong>de</strong>ira. "Na Amazônia, os artesãos<br />
usam muito a balota, um látex retirado <strong>de</strong><br />
uma palmeira que é <strong>de</strong>sprezado pelo<br />
mercado." Além dos personagens centrais,<br />
nesta região os presépios contam também<br />
com a participação <strong>de</strong> animais típicos da<br />
localida<strong>de</strong>. "Eles colocam golfinhos, por<br />
exemplo", diz.<br />
Na região Sul, há uma predominância maior<br />
das influências tradicionais (européias) .<br />
Em outras regiões do Brasil e em outros<br />
paises a cultura local é colocada na cena do<br />
nascimento <strong>de</strong> Jesus.<br />
Em Mariana, a tradição <strong>de</strong>4 montar presépio<br />
é muito antiga. As irmãs do colégio<br />
providência sempre montavam uma gran<strong>de</strong><br />
p r e s é p i o n a c a p e l a , o u t r o m u i t o<br />
impressionante era o presépio montado<br />
pela família Sacramento na Igreja do<br />
Rosário. Este ano foi montada uma gran<strong>de</strong><br />
exposição <strong>de</strong> presépios na Casa do Barão<br />
<strong>de</strong> Pontal ( Rua Direita). A exposição conta<br />
com mais <strong>de</strong> 70 presépios <strong>de</strong> todas regiões<br />
do Brasil e <strong>de</strong> vários países. Organizada<br />
pela Paróquia <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Assunção e com apoio da Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Turismo é uma ótima atração<br />
para este Natal.<br />
Presépio dos Índios da Amazônia.<br />
Foto: Cristiano Casimiro - Presépio Índios do Amazonas: Exposição Casa do Barão <strong>de</strong> Pontal
"’Há relatos que por volta <strong>de</strong> 1532, mais ou menos, o padre Jose <strong>de</strong> Anchieta, ajudado pelos<br />
índios, já mo<strong>de</strong>lava em barro pequenas figuras representando o presépio, com o propósito <strong>de</strong><br />
incutir-lhes esta tradição e honrar o menino Jesus no dia <strong>de</strong> Natal. Mas não ha a menor duvida<br />
<strong>de</strong> que foi entre os séculos XVII e XVIII que os presépios foram efetivamente introduzidos e<br />
difundidos no Brasil pelos padres jesuítas, portugueses, franceses e espanhóis, que aqui<br />
aportaram para catequese do gentio.’ Inicialmente, copiando ou se inspirando nos mo<strong>de</strong>los<br />
importados <strong>de</strong> Portugal e Espanha, a arte presepista brasileira só bem mais tar<strong>de</strong> adquiriu uma<br />
fisionomia própria e a riqueza <strong>de</strong> linhas e <strong>de</strong> material que marcaram o barroco nacional”<br />
Foto:Cristiano Casimiro - Presépio São Boliviano: Paulo - Exposição SP: Exposição Casa Casa do Barão do Barão <strong>de</strong> Pontal <strong>de</strong> Po
Um Centro Cultural com muita história...<br />
Casa on<strong>de</strong> morou o Conselheiro José Joaquim da Rocha, um dos principais i<strong>de</strong>alizadores da In<strong>de</strong>pendência<br />
do Brasil. Nesta casa nasceu o historiador mineiro Diogo Luis <strong>de</strong> Almeida Pereira <strong>de</strong> Vasconcellos<br />
Imagem- Livro Dia do Fico: Salomão <strong>de</strong> Vasconcelos
Novo espaço cultural em Mariana<br />
Mariana vai ganhar um gran<strong>de</strong> centro<br />
cultural para acolher a biblioteca do escritor<br />
Fernando Morais, nascido na cida<strong>de</strong>.<br />
Terreno pertencente ao Estado e vinculado<br />
à Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Cultura foi cedido<br />
à Aca<strong>de</strong>mia Marianense, por meio <strong>de</strong><br />
convênio firmado ontem pelo secretário<br />
Angelo Oswaldo e a presi<strong>de</strong>nte da entida<strong>de</strong>,<br />
professora Hebe Rolla Santos. A Aca<strong>de</strong>mia<br />
e o Instituto Fernando Morais vão viabilizar a<br />
construção do centro cultural no terreno que<br />
p e r t e n c e u a o p r i m e i r o D i o g o d e<br />
Vasconcelos, no século XVIII e ao Capitão<br />
José Joaquim da Rocha figura importante<br />
na in<strong>de</strong>pendência do Brasil<br />
O secretário Angelo Oswaldo <strong>de</strong>stacou a<br />
importância <strong>de</strong> Mariana e Minas Gerais<br />
receberem o acervo Fernando Morais. “A<br />
Universida<strong>de</strong> do Texas e várias instituições<br />
paulistas haviam manifestado interesse até<br />
na aquisição da coleção bibliográfica<br />
constituída pelo escritor, mas Fernando<br />
Morais fez questão <strong>de</strong> doa-la à primeira<br />
cida<strong>de</strong> mineira, sua terra natal. É um<br />
presente admirável a Mariana e ao Estado”.<br />
Localizada em pleno centro histórico da<br />
cida<strong>de</strong>, a área receberá a edificação, na<br />
qual serão realizadas ativida<strong>de</strong>s culturais<br />
variadas e funcionará, aberta ao público, a<br />
biblioteca <strong>de</strong> Fernando Morais. As obras<br />
<strong>de</strong>vem começar no início <strong>de</strong> 2018.<br />
Ângelo Oswaldo e Hebe Maria Rôla Santos assinam convênio<br />
Imagem Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura.<br />
27
Fernando <strong>de</strong><br />
MORAIS<br />
Imagem Lucas Figueiredo
Fernando Gomes <strong>de</strong> Morais nasceu em<br />
Mariana em 1946 é um jornalista, biógrafo,<br />
político e escritor brasileiro. Sua obra<br />
literária é constituída por biografias e<br />
reportagens.<br />
Começou no jornalismo aos 15 anos. Em<br />
1961, era então um office boy, numa revista<br />
editada por um banco em Belo Horizonte,<br />
quando teve que cobrir a ausência do único<br />
jornalista da publicação numa entrevista<br />
coletiva. Aos 18 mudou-se para São Paulo e<br />
passou pelas redações <strong>de</strong> Veja, Jornal da<br />
Tar<strong>de</strong>, Folha <strong>de</strong> S. Paulo, TV Cultura e portal<br />
IG. Recebeu três vezes o Prêmio Esso e<br />
quatro vezes o Prêmio Abril.<br />
Na área política, foi <strong>de</strong>putado estadual<br />
durante oito anos e Secretário <strong>de</strong> Cultura<br />
(1988-1991) e <strong>de</strong> Educação (1991-1993) do<br />
Estado <strong>de</strong> São Paulo, nos governos Orestes<br />
Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho.<br />
Seu primeiro sucesso editorial foi A Ilha,<br />
relato <strong>de</strong> uma viagem a Cuba. A partir daí,<br />
abandonou a rotina das redações para se<br />
<strong>de</strong>dicar à literatura. Pesquisador <strong>de</strong>dicado e<br />
exímio no tratamento <strong>de</strong> textos, publicou<br />
biografias e reportagens que ven<strong>de</strong>ram<br />
mais <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong> exemplares no<br />
Brasil e em outros países, tornando-se um<br />
dos escritores brasileiros mais lidos <strong>de</strong><br />
todos os tempos.<br />
Des<strong>de</strong> 2006, Morais trabalha em dois<br />
projetos polêmicos: a biografia do político<br />
baiano Antônio Carlos Magalhães e um livro<br />
em que o ex-ministro José Dirceu narra sua<br />
passagem pelo Governo Lula.<br />
A Ilha - lançada em 1976, esta reportagem<br />
sobre Cuba tornou-se um dos maiores<br />
sucessos editoriais brasileiros e se<br />
converteu num ícone da esquerda brasileira<br />
nos anos 70. Reeditada em 2001, a obra,<br />
ampliada, inclui um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> fotos e um<br />
prefácio em que Morais apresenta suas<br />
impressões sobre a ilha 25 anos <strong>de</strong>pois da<br />
primeira viagem.<br />
Olga - lançada em 1985 e reeditada em<br />
1994, narra a trajetória trágica <strong>de</strong> Olga<br />
Benário, recrutada pelo governo soviético<br />
para dar proteção ao lí<strong>de</strong>r comunista<br />
brasileiro Luís Carlos Prestes, com quem<br />
viveria um romance antes <strong>de</strong> ser presa e<br />
<strong>de</strong>portada pelo governo Vargas e morta na<br />
Alemanha nazista.<br />
Chatô, o Rei do Brasil (1994) - biografia <strong>de</strong><br />
Assis Chateaubriand, na qual são narrados<br />
sem retoques os expedientes pouco<br />
ortodoxos por ele utilizados para construir<br />
seu império jornalístico.<br />
Corações Sujos (2000) - reconstitui a mais<br />
sangrenta página da história da imigração<br />
japonesa, a aventura da Shindo Renmei e<br />
sua vingança contra os corações sujos,<br />
assim chamados os japoneses acusados <strong>de</strong><br />
trair sua pátria por "acreditarem" na <strong>de</strong>rrota<br />
do Japão na Segunda Guerra Mundial.<br />
Cem Quilos <strong>de</strong> Ouro (2003) - coletânea na<br />
qual o autor apresenta e comenta doze<br />
reportagens assinadas por ele entre as<br />
décadas <strong>de</strong> 1970 e 1990.<br />
Na Toca dos Leões (2005) - o autor esmiúça<br />
a vida <strong>de</strong> Washington Olivetto, Javier Llussá<br />
Ciuret e Gabriel Zellmeister, os fundadores<br />
da W/Brasil, uma das agências <strong>de</strong><br />
propaganda mais premiadas do mundo.<br />
Montenegro, as aventuras do Marechal que<br />
fez uma revolução nos céus do Brasil (2006)<br />
- biografia <strong>de</strong> Casimiro Montenegro Filho, o<br />
Marechal Montenegro, pioneiro da aviação<br />
e revolucionário <strong>de</strong> 1930, que, em 1950,<br />
enfrentou Presi<strong>de</strong>nte da República,<br />
ministros e companheiros <strong>de</strong> farda para<br />
criar o Instituto Tecnológico <strong>de</strong> Aeronáutica<br />
(ITA).<br />
O Mago (2008) - biografia do polêmico<br />
escritor Paulo Coelho. Tentativa <strong>de</strong> suicídio,<br />
satanismo, homossexualida<strong>de</strong>, drogas e<br />
Raul Seixas fazem parte das revelações.<br />
Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011) -<br />
livro sobre agentes secretos <strong>de</strong> Cuba nos<br />
Estados Unidos.
<strong>Revista</strong> Mariana<br />
Histórica e Cultural