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inflações do pós-guerra (e das hiperinflações na Alemanha, na Áustria, na Hungria e na<br />
Polônia de 1922 a 1926) levaram a redefinições das moedas européias em relação ao ouro, ou<br />
umas em relação às outras, totalmente heterogêneas e segundo um calendário discordante.<br />
Esse patchwork monetário foi acompanhado, nos anos 1920, de importantes tensões<br />
financeiras que encontraram apenas soluções provisórias e de curtíssimo prazo. <strong>De</strong> fato, a<br />
liquidação da guerra implicou duas séries de compensações, seguindo modalidades<br />
complexas. <strong>De</strong> um lado, o reembolso das dívidas de guerra; de outro, a delicada questão das<br />
reparações que a Alemanha deveria pagar por ter perdido o conflito. Os dois fatores estão<br />
interligados: primeiro, porque acaba se estabelecendo uma cadeia, com os pagamentos<br />
alemães servindo para regular ou compensar as dívidas entre os aliados; segundo porque<br />
outros empréstimos são necessários para o financiamento dos pagamentos alemães – que<br />
logicamente viriam dos Estados Unidos, promovidos a credores em última instância do mundo<br />
europeu. Daí a simultaneidade, durante os anos 1920, do progressivo escalonamento das<br />
indenizações alemãs (Plano Dawes, de 1924; Plano Young, de <strong>1929</strong>) e de uma série de<br />
acordos que reduziram massivamente as dívidas entre os aliados. A Conferência de Lausanne,<br />
em 1932, anularia reparações e dívidas de guerra no auge da crise.<br />
Nem tudo foi pago, bem pelo contrário (dos 132 bilhões de marcos-ouro exigidos dos<br />
alemães, por exemplo, 22,5 bilhões foram efetivamente restituídos), mas o que chama a<br />
atenção aqui é a fraqueza da posição das nações devedoras: uma maciça dívida de longo<br />
prazo pesa sobre suas economias, e elas são obrigadas a recorrer cada vez mais a capitais de<br />
curto prazo para equilibrar o sistema. Na ausência de uma organização financeira<br />
internacional (o Banco de Compensações Internacionais data de 1930), as nações estão<br />
sujeitas à boa vontade bancária, em especial a americana. Essas contribuições privadas são<br />
voláteis, e seu término pode levar a bancarrotas puras e simples. Foi construída, portanto, uma<br />
estrutura muito vulnerável. Apesar de o problema dominante ter sido o das dívidas de guerra,<br />
a análise pode ser estendida para levar em conta, ao mesmo tempo, a dimensão monetária e a<br />
dimensão financeira. As reservas cambiais são créditos de curto prazo e dependem do grau de<br />
confiança que lhes é atribuído: o bom funcionamento das trocas internacionais como um todo<br />
dependia da manutenção de uma confiança que facilmente poderia desaparecer.<br />
A situação dos grandes mercados internacionais de matérias-primas, de produtos agrícolas<br />
e industriais também era tensa e precária durante os anos 1920. <strong>De</strong> fato, ao acelerar o declínio<br />
da porção européia da produção mundial, a Grande Guerra praticamente interrompeu as<br />
exportações dos beligerantes – em 1913, a Inglaterra, a Alemanha e a França exportavam<br />
juntas 60% dos bens manufaturados do mundo. Conseqüentemente, todo um processo de<br />
desenvolvimento das contribuições americanas e japonesas, entre outras, foi iniciado para<br />
prover os antigos clientes da Europa. Essa substituição ainda ocasionou um período de avanço<br />
agrícola de países novos. As metrópoles européias se descobriram com graves problemas de<br />
escoamento e com indústrias de base bastante envelhecidas quando, por volta de 1925,<br />
terminaram suas reconstruções. As tensões se reforçaram mutuamente. As dificuldades da<br />
recuperação industrial européia têm como conseqüência uma fraca demanda de matériasprimas,<br />
cuja exportação permitia aos países pouco industrializados pagarem suas compras de<br />
produtos manufaturados: tudo dependia da continuação da expansão industrial mundial e do<br />
equilíbrio dessas balanças de pagamentos periféricos – aqui encontramos a estrutura do