LUNARIS
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© Fotografia NASA<br />
Kepler e<br />
os Aliens<br />
Informações enviadas do espaço<br />
pelo telescópio espacial mostram<br />
construção alienígena.<br />
01
No mês de Outubro, o telescópio espacial<br />
Kepler fez uma descoberta um<br />
tanto ou quanto bizarra na órbita de<br />
uma estrela que está a 1480 anosluz<br />
da Terra: a luz emitida pelo astro<br />
está bloqueada por um objeto de dimensões<br />
gigantes e os astrónomos admitem<br />
neste momento todas as hipóteses,<br />
inclusive a de se tratar de uma<br />
construção alienígena.<br />
Esta é das primeiras vezes que é admitida<br />
abertamente esta hipótese a nível<br />
científico. A mega-estrutura não tem<br />
uma “órbita” regular e as medições<br />
feitas posteriormente mostram as evidências<br />
de não se tratar de um planeta.<br />
Outro aspeto fascinante desta descoberta<br />
é olhá-la à luz da Teoria da<br />
Relatividade. A estrutura está a 1480<br />
anos-luz, pelo que os dados de observação<br />
que nos chegam mostram como<br />
ela era há 1480 anos atrás. Se, por<br />
hipótese, “alguém” estivesse a observar-nos<br />
neste momento a partir de lá,<br />
talvez visse o nosso mundo no final da<br />
Idade Média (séc. XV). Isto considerando,<br />
claro, que “eles” desconheçam<br />
algo mais rápido que a luz (velocidade<br />
máxima humanamente conhecida).<br />
Portanto, na realidade de lá, este texto<br />
nunca estaria a ser escrito neste momento,<br />
apesar de o estar a ser na nossa<br />
realidade. Estas noções da relação<br />
espaço-tempo são muito “terrenas”<br />
e pensar para além delas torna-se tão<br />
fascinante como, por vezes, confuso.<br />
E fica a questão: Como será – e o que<br />
será - esta estranha estrutura em pleno<br />
séc. XXI? Será que só saberemos daqui<br />
a outros cinco séculos?
© Fotografia D. van Ravenswaay<br />
E fica a questão:<br />
Como será – e o<br />
que será - esta<br />
estranha estrutura<br />
em pleno<br />
séc. XXI?<br />
03
© Fotografia CSEG<br />
O NADA<br />
‘Nada’ é uma palavra muito utilizada para descrever a falta<br />
de argumentos para falar sobre alguma coisa.<br />
Na Matemática, o nada é equivalente ao conjunto que não<br />
possui elementos, ou seja, ao de conjunto vazio.<br />
Vários filósofos escreveram sobre o conceito de nada, entre<br />
eles Aristóteles, Descartes, Kant, Heidegger e Sartre.<br />
Em Física, o ‘nada’ é diferente do vácuo ou do vazio.<br />
Apesar de não ser preenchido pela matéria, o vácuo possui<br />
campos eléctricos e o vazio possui energia que pode dar<br />
origem a partículas e antipartículas. Já o ‘nada’ não possui<br />
nada disso.<br />
Um facto curioso: se fizéssemos desaparecer átomos, seres<br />
vivos, planetas, constelações e galáxias, o universo continuaria<br />
a pesar três quartos do que pesava antes – ou seja,<br />
restarão 73% da sua massa original.<br />
Isto porque os planetas, constelações e galáxias formam<br />
apenas 4% do nosso universo. O resto é constituído<br />
do que se chama de ‘matéria escura’, um tipo es-<br />
© Fotografia NOAJ
© Fotografia Topham Picturepoint<br />
© Fotografia Wikipedia<br />
© Fotografia Counter-Currents Publishing<br />
© Fotografia Ruíz-Healthy Times<br />
tranho de matéria sobre a qual os cientistas pouco ou<br />
nada sabem.<br />
Se o Universo é finito e está em expansão, o que existe<br />
para além e para fora dele? O ‘nada absoluto’.<br />
A matéria, bem como o tempo e o espaço simplesmente<br />
não existem fora do nosso Universo. É o que a Ciência<br />
chama de singularidade.<br />
A singularidade não existe apenas fora do universo, mas<br />
também dentro dele, no interior de buracos negros. A<br />
gravidade enormíssima dos buracos negros é capaz de<br />
absorver tudo ao redor, até mesmo a luz. Então, torna-se<br />
num ponto de dimensão zero, ou seja, uma singularidade.<br />
Portanto, tenha cuidado quando disser que “não está a<br />
fazer nada”.<br />
Pode estar a ‘comprovar’ a sua própria inexistência.<br />
05
A vida de um<br />
Astronauta<br />
© Fotografia NASA
© Fotografia NASA<br />
O que é preciso para ser um Astronauta? Certamente<br />
que muitos de nós já desejámos alguma vez viajar num<br />
foguetão para fora dos limites terrenos conhecidos.<br />
Primeiro é preciso saber falar um bom Inglês e ter uma<br />
muito boa saúde.<br />
Antes de ir para o espaço, os candidatos têm de passar por<br />
treinos em astronomia e mergulho.<br />
Além disso, é preciso paciência. Sabia que um fato espacial<br />
pesa aproximadamente 127 quilos e leva 45 minutos para<br />
ser vestido?<br />
O fato do astronauta possui várias camadas – cerca de 12<br />
- que o protegem da radiação, do frio e do calor.<br />
Um astronauta a bordo da Estação Espacial Internacional<br />
(EEI) dorme cerca de 8 horas e trabalha de 10 a 12 horas<br />
por dia.<br />
Para evitar o atrofiamento dos músculos, os astronautas<br />
têm de fazer duas sessões diárias de exercícios e dormem<br />
na vertical, em sacos-cama presos na parede.<br />
E a higiene pessoal? Para fazer a barba têm de usar um<br />
creme de barbear especial, que impede que os pêlos<br />
flutuem. A máquina de cortar cabelo não só corta como<br />
também aspira os cabelos para que não fiquem soltos<br />
pela nave.<br />
Como quase todos os alimentos, as sobremesas são servidas<br />
em embalagens lacradas. Uma questão um pouco<br />
monótona: as sobremesas são sempre pudim de chocolate<br />
ou de qualquer outra coisa.<br />
Isto pode parecer tudo muito exigente, mas há um pormenor<br />
que compensará. Os astronautas a bordo da EEI<br />
veem o Sol nascer 16 vezes… por dia! E como cada amanhecer<br />
dá ao ser humano como que uma nova esperança<br />
em renascer, os astronautas vivem essa esperança quase<br />
de duas em duas horas!<br />
© Fotografia Red Bull<br />
07
© Fotografia Getty Images<br />
Os Heróis<br />
de 2015<br />
Embora muita tinta tenha corrido durante<br />
o ano, estes dois astros foram<br />
sem dúvida as estrelas de 2015.<br />
No nosso Sistema Solar os heróis de 2015 foram, sem dúvida,<br />
Marte e Plutão. O Planeta Vermelho sempre despertou a curiosidade<br />
dos terráqueos, mas foi o pequeno Plutão que mais e<br />
destacou e que surpreendeu tudo e todos.<br />
Depois de ter sido despromovido da categoria de Planeta em<br />
2006, Plutão enviou pela sonda espacial New Horizons dados<br />
e imagens surpreendentes, como que a reivindicar o seu lugar:<br />
“Hey, Terra! Estou aqui e sou muito mais que mero um Planeta-anão!”<br />
Plutão (ou Pluto, como se designa o planeta em língua inglesa<br />
– o que deu origem às mais criativas caricaturas e trocadilhos<br />
entre Plutão e o famoso personagem da Disney) provou assim<br />
que tinha muito mais para dar do que aquilo que esperávamos.<br />
Em Julho deste ano chegaram as imagens e dados inéditos do<br />
longínquo astro. Soube-se que Plutão tinha montanhas, e formações<br />
rochosas parecidas com as da Terra. Mas as melhores<br />
surpresas ainda estavam para vir! Os “postais” enviados posteriormente<br />
por Plutão – que demoram cerca de quatro horas e<br />
meia a chegar à Terra - mostravam que lá o céu também é azul
© Fotografia AFP/NASA<br />
e que existem moléculas de água!<br />
A descoberta de água é muito importante para os astrofísicos.<br />
Mas as descobertas não se ficaram por aqui! Plutão<br />
mostrou também que tem um ciclo da água muito parecido<br />
com o nosso. Parece haver evidências de uma espécie<br />
de nuvens e neblinas, cuja altitude muda a cada dia, à semelhança<br />
do que acontece na Terra. Cada novidade mais<br />
surpreendente que outra! Claro que os adeptos de teorias<br />
conspirativas não tardaram a afirmar que alguns dados e<br />
imagens foram falsificados. Mas por cada teoria destas,<br />
apareciam dados novos que confirmavam que Plutão está<br />
realmente vivo e é mais parecido com a Terra do que se<br />
pensava. Tem sido assim que, naquele cantinho remoto da<br />
Via Láctea, Plutão tem reclamado o seu ex-título de Planeta<br />
do Sistema Solar.<br />
Aqui mais perto, o Planeta Marte não se deixou inibir pela<br />
importância que os humanos deram a Plutão e também foi<br />
manchete de várias notícias. Era o que faltava! Plutão, o<br />
planeta pródigo, fazia rejubilar os cientistas e Marte, aqui “tão<br />
perto”, sem nada para deliciar os astrónomos? Não podia ser.<br />
Assim, em Setembro, foi anunciada a descoberta de água em<br />
estado líquido no nosso planeta vizinho. O robot Curiosity, que<br />
desde 2012 envia dados e imagens para a Terra, mostrou que<br />
sazonalmente a água fica em estado fluido em Marte.<br />
A próxima aventura será o envio de astronautas ao Planeta<br />
Vermelho, estando já a ser estudadas as consequências físicas<br />
e psicológicas para os seres humanos, tanto pela duração da<br />
viagem de ida e volta (entre 6 meses a 2 anos e meio), como<br />
depois pela permanência num planeta diferente do nosso.<br />
Já Plutão, luta pela re-conquista do título de 9º Planeta do<br />
Sistema Solar. Depois destas descobertas, já não deve faltar<br />
muito para que lhe devolvam esse estatuto!<br />
09
© Fotografia Eco23Campanário<br />
Luna<br />
Algumas curiosidades<br />
sobre a Lua.
A Lua está a 384 405 quilómetros da Terra. Um dia lunar dura<br />
29,53 dias terrestres.<br />
Os dias lunares são escaldantes e as noites extremamente frias.<br />
A temperatura à superfície varia de -150º C a 120º C.<br />
As primeiras observações da Lua com telescópios são de Novembro<br />
de 1609, feitas por Galileu Galilei.<br />
Existe uma teoria científica que afirma ter a Lua surgida da<br />
colisão de um planeta chamado Theia, de tamanho equivalente<br />
ao de Marte, com a Terra. Tal teoria é conhecida dos<br />
astrónomos como Big Splash.<br />
A Lua formou-se cerca de 95 milhões de anos após o início do<br />
Sistema Solar.<br />
O que aconteceria se a Lua não existisse? O eixo da Terra<br />
giraria como um pião e o nosso planeta mudaria de posição<br />
de tal forma que os pólos poderiam, de vez em quando, ficar<br />
apontados para o sol. Quanto ao clima, ele ficaria descoordenado<br />
e haveria enormes períodos de muito calor e outros<br />
períodos gelados.<br />
A Lua afasta-se da Terra a uma velocidade de 1 a 3 centímetros<br />
por ano e cerca de 3 metros por século!<br />
70 missões já visitaram a Lua desde 1959. A missão mais famosa<br />
foi a Apolo 11, que levou o primeiro homem à Lua.<br />
Por onde o homem passa, deixa marcas. Os astronautas que<br />
foram à Lua, por exemplo, já deixaram por lá bolas de golfe,<br />
roupas, botas, sacos de xixi…<br />
Se a Lua fosse habitada na mesma proporção da Terra, teria<br />
1,64 bilião de pessoas.<br />
11
© Fotografia Gobierno de España
Uma das coisas que fazem arrepiar cada pêlo do corpo aos<br />
amantes da Astronomia, é a confusão que tantas pessoas<br />
fazem entre este ramo da Ciência e a Astrologia.<br />
A Astronomia é o estudo científico dos astros pelos humanos,<br />
enquanto a Astrologia é o estudo dos efeitos dos astros na<br />
vida e comportamento humanos. Embora estas duas áreas<br />
tivessem andado (demasiado) juntas no passado, são coisas<br />
bastantes distintas.<br />
O estudo do céu começou desde bem cedo, quase desde que<br />
o Homem tem a percepção de que o Universo não se resume<br />
ao mundo palpável e acessível materialmente. A contemplação<br />
das estrelas sempre fascinou as pessoas que, pouco a pouco e<br />
ao longo dos tempos, se foram apercebendo da dança ritmada<br />
que os corpos celestes desenham nos céus.<br />
Assim, desde os tempos mais antigos que se vislumbrou um<br />
“poder” ou uma “lei” que regia estes movimentos, do nascer<br />
ao pôr-do-sol, da periodicidade dos eclipses às ritmadas fases<br />
da Lua, da sucessão das estações do ano à sua relação com a<br />
posição dos astros no céu.<br />
Não tardou a aparecerem grupos de pessoas que associaram<br />
esse ritmo a um “poder superior” que enviava os seus sinais<br />
através desta dança do firmamento. Provavelmente, alguns<br />
acontecimentos importantes terão coincidindo com alguns<br />
raros evento astronómicos, passando estes fenómenos a serem<br />
vistos como “sinais”. E quanto mais raros, mais importantes<br />
são os acontecimentos que anunciam!<br />
A Astrologia desenvolveu-se, assim, a partir de um estudo não<br />
fundamentado dos corpos celestes, no qual se acreditava que<br />
as estrelas, planetas e as suas posições no céu influenciavam<br />
a vida, as escolhas, os comportamentos e até, imagine-se, os<br />
destinos humanos.<br />
Ao contrário do que alguns pensam, os signos do Zodíaco não<br />
são “ideia” da Astrologia. O Zodíaco foi desenvolvido por astrónomos<br />
da antiga Babilónia, sendo constituído por 12 signos<br />
(sinais) que contemplam o aparente ciclo anual do Sol pelas<br />
constelações e é reconhecido como o primeiro sistema de coordenadas<br />
celestes.<br />
Já os astrólogos entendem esse movimento dos planetas e do<br />
Sol através das constelações do Zodíaco, como uma forma de<br />
explicar e prever acontecimentos e significados de eventos<br />
ocorridos na Terra.<br />
Posto isto, não há que confundir. Mas da próxima vez que vos<br />
virem de telescópio apontado ao céu ou simplesmente a contemplar<br />
a Lua, não se admirem se logo a seguir vos perguntarem<br />
algo estranho sobre o futuro ou sobre os acontecimentos<br />
do mundo...<br />
07
© Fotografia IFPA<br />
Astronomia e<br />
Astrologia
para a escola nem para jogar. E lá ia eu para casa do Marinho<br />
jogar Arkanoid e Kick Off no seu Amiga. Que belas tardes!<br />
E passados todos estes anos somos confrontados com o boom<br />
da indústria dos jogos. Passou a ser uma profissão credível,<br />
ambicionada e desejada… imagine-se dizer isto aos meus avós<br />
ou até mesmo aos meus pais há 25 anos. Hoje é normal para<br />
um miúdo de 17, 18 anos pensar em seguir uma carreira no<br />
desenvolvimento de jogos. Ir até para a Universidade e fazer<br />
um curso superior em “Games”. E começamos, talvez tarde, a<br />
ter ambiente mental para que isto aconteça.<br />
Há 25 anos o “jogo de computador” era visto como um opositor<br />
ao estudo e a um futuro promissor. Seria absoluta ignorância?<br />
Talvez sim, talvez não…<br />
Hoje estamos exactamente perante um cenário contrário. A<br />
indústria dos jogos está bem e recomenda-se! Melhor: a indústria<br />
dos jogos está bem e precisa de gente! Melhor ainda: a<br />
indústria dos jogos ainda nem arrancou a sério e já se diz que<br />
o futuro é o “mobile”! “Games” para “mobile”. Imagine-se.<br />
Li por aí que em 2020 a União Europeia vai deixar por preencher<br />
mais de 900 mil vagas na área das tecnologias e que só em<br />
Portugal serão cerca de 15 mil.<br />
Eu, como designer de formação, olho para isto como uma<br />
oportunidade para designers e para a “malta da tecnologia”.<br />
Dou é por mim a questionar a recorrente “vaca fria” da velha<br />
e cada vez mais actual e pertinente guerra entre design e tecnologia.<br />
Estará o design cada vez mais tecnológico? Ou será a<br />
tecnologia que cada vez mais tem que integrar o design? E os<br />
“Games”? Serão o quê? Design? Tecnologia? Ou conteúdo?<br />
Sim alguém tem que “desenhar” a narrativa… Enfim! O que<br />
sei é que a Forbes estima que em 2017 o mercado dos jogos<br />
estará muito mais musculado e crescerá para 70 mil milhões<br />
de euros!<br />
E dou comigo a pensar que há (apenas) 25 anos eu (só) tive um<br />
Spectrum, que tinha um fantástico leitor de cassetes. Mas não<br />
esqueço o Amiga do meu amigo Marinho!<br />
05
Loadaspas-aspas<br />
-enter!<br />
por Carlos Rosa<br />
Eu tive um Spectrum… há mais ou menos 25 anos.<br />
Credo! Já passaram 25 anos.<br />
Um dos meus melhores amigos, com quem eu brincava<br />
muito, esse malandro, tinha um Commodore Amiga. Alta<br />
tecnologia na altura, final dos anos 80 início dos 90. Disquetes!<br />
Disquetes cheiinhas de jogos.<br />
Lembro-me que na altura fiquei muito aborrecido, para<br />
não dizer lixado, com os meus pais! Então vão comprar-me<br />
um computador com leitor de cassetes? O meu pai até<br />
foi radiotelegrafista quando cumpriu o serviço militar. Sensivelmente<br />
a meio dos anos 70 trabalhava com a chamada<br />
“tecnologia de ponta”. Portanto deveria ser uma pessoa<br />
mais sensível aos avanços da tecnologia e ter-me assim<br />
comprado qualquer coisa mais avançada… um computador<br />
com disquetes, diria eu. E não.<br />
Acabou por me comprar um Spectrum. Na realidade eu<br />
nem precisava daquilo… vendi-lhe a ideia, estúpida por<br />
sinal, que era importantíssimo para a escola e, olha, nem
Qual a importância que o PoSAT teve na altura em que foi lançado?<br />
Vou contar-lhe uma história que nunca contei publicamente.<br />
Na véspera do lançamento do satélite, estava com o engenheiro<br />
Nobre da Costa, que era o dono da EFACEC, a beber<br />
uma cerveja no hotel. Ele olhou para mim com um ar paternal,<br />
sem azedume ou angústia, e disse-me: «Espero que você saiba<br />
o que anda a fazer, que tenho ali seiscentos mil contos.» Disseme<br />
aquilo com o ar mais natural do mundo, quando já não<br />
havia nada a fazer, foi extraordinário...<br />
O PoSAT ainda funciona?<br />
Deixou de ter emissões contratadas ao fim de 14 anos, mas<br />
ainda emite. Neste momento faz telemetria, mas só quando<br />
lhe apetece. Os satélites também ficam velhos e dizem: «Hoje<br />
não estou para isso.»<br />
O que lhe vai acontecer?<br />
Por volta de 2033 vai começar a descer e, com a velocidade e<br />
o atrito, vai arder. A quantidade de radiação que um satélite<br />
apanha é mais do que uma central nuclear. Nós não temos a<br />
perceção de quão heróis são os astronautas, pois apanham<br />
uma dose de radiação monstra.<br />
Nunca teve curiosidade de ir ao espaço?<br />
Se houvesse fatos do meu tamanho, ia de certeza.<br />
03
Porque escolheu estudar física quando foi para a universidade?<br />
Há uma canção de amor sobre um homem que se apaixona<br />
por uma mulher e, a certa altura, interroga-se porquê. E diz o<br />
poema: «Fools give you reasons, wise men never try.» (Os loucos<br />
vão à procura de razões, os homens sensatos nem sequer<br />
tentam.) São os milagres da vida. Acontece. E pronto.<br />
O seu currículo é tão extenso, tem tanta obra feita e recebeu<br />
tantos prémios e condecorações, que ocuparia o espaço desta<br />
entrevista nomear tudo. Em jeito de súmula, o que importa estar<br />
escrito numa entrevista de vida a Fernando Carvalho Rodrigues?<br />
Que ousei dar destino às coisas. Isto, às tantas, é preciso ousar<br />
dar destino às coisas... (...) fazer uma coisa nova, é algo que<br />
não é natural nos humanos. Eu ousei dar destino ao fazer o<br />
satélite, ou ouso dar destino de cada vez que ajudo um dos<br />
meus alunos a fazer o seu doutoramento.<br />
Quando diz ousar, refere-se a ter coragem?<br />
Não. Na verdade, nem sabemos porque fazemos as coisas. Não<br />
existe uma atitude de desafio. Fazemos e pronto! Nós, como<br />
nação, já ousámos dar destino ao mundo. E durou duzentos<br />
anos. É verdade que houve atos de coragem, mas também<br />
vontade de fazer as coisas naturalmente. É como uma missão.<br />
Fazer o satélite foi para mim uma missão, como tudo o que fiz<br />
na área da ótica, dos têxteis, do lazer.<br />
Recorde o que fez nos têxteis<br />
Muitos equipamentos. Por exemplo, um sistema robô de corte<br />
a laser de tecidos para o aproveitamento máximo da fazenda.<br />
Estamos a falar de 1983. fiz muita coisa, tenho muita coisa<br />
publicada, nomeadamente na área da coesão de estruturas.<br />
Sabia que fui eu que desenhei aqueles retroprojetores muito<br />
usados nas escolas para passar acetatos? Outra coisa que fiz<br />
foi colocar de pé em Portugal o sistema de formação em ótica,<br />
fundei as escolas de optometria.<br />
O satélite PoSAT foi o seu maior contributo para a comunidade<br />
ciêntífica?<br />
Escolheria antes o ter um parâmetro com o meu nome: o<br />
«Carvalho-Rodrigues entropy». Não há assim muita gente que<br />
tenha um parâmetro com o seu nome em vida.<br />
© Fotografia e texto Globo Notícias - Media Group S. A.
© Fotografia Globo Notícias - Media Group S. A.<br />
Entrevista<br />
Com Fernando<br />
Carvalho Rodrigues<br />
por Ana Proença<br />
01