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Revista Curinga Edição 08

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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c: A legislação das biografias no Brasil hoje, que preserva a lei que proíbe<br />

biografias não autorizadas, coloca-nos ainda à margem da Ditadura?<br />

OC: A legislação como ela é atualmente, que uma biografia para ser publicada<br />

depende de autorização do biografado, é um absurdo, um atentado à liberdade<br />

de expressão e à capacidade de contar a própria história do país, pois limita<br />

muito o que vai ser publicado. Em outros países livres e democráticos não existe<br />

essa legislação semelhante à brasileira. Pode-se publicar o que quiser, o direito<br />

de expressão é amplo e ilimitado. Agora, se, por acaso, alguém cometer alguma<br />

injustiça e publicar uma inverdade, a justiça irá reparar isso. Mais ou menos o que<br />

acontece com o jornalismo. Jornalista tem liberdade para escrever o que quiser,<br />

sendo punido se difamar ou caluniar.<br />

c: O país enfrenta atualmente um grande debate sobre a mudança na<br />

legislação da publicação de biografias. Como a autorização e a não autorização<br />

influenciam a produção de tal gênero?<br />

OC: Eu não dou tanta importância às biografias autorizadas, porque acho que vira<br />

praticamente uma homenagem, o personagem pede aquilo que ele admite. E as<br />

não autorizadas, como a que fiz do José Dirceu, contam a história não amarrada aos<br />

interesses da pessoa e sim aos interesses do biógrafo que quer levar ao público a<br />

verdade dos fatos sem omitir ou mentir sobre os acontecimentos. Você tem mais<br />

liberdade e não fica tão preso à autorização. Acho que provavelmente o supremo<br />

vai revogar essa lei e autorizar a publicação de biografias não autorizadas.<br />

c: Até que ponto a biografia expõe a opinião de quem escreve?<br />

OC: Eu acho que é inevitável pesquisar e escrever sobre a vida de uma pessoa e<br />

não ter um pouco de opinião, um pouco da sua impressão sobre o biografado. Mas<br />

acho que na maior parte do tempo, você tem que tentar ser o mais isento possível.<br />

No meu livro pode ter alguma opinião, mas eu busquei ser muito mais narrador do<br />

que comentarista. Procurei deixar para o leitor criar juízo de valor. Ele (José Dirceu)<br />

pegou em armas contra a ditadura, militou num grupo de luta armada, exilou-se<br />

em Cuba, mas em nenhum momento, falo se acho essas coisas boas ou ruins.<br />

c: O que o entusiasmou na vida de José Dirceu que gerou o interesse pela<br />

criação dessa obra? Qual foi o seu objetivo ao escrever essa biografia?<br />

Caracterizar uma época ou uma politica?<br />

OC: Eu morei em Brasília, de 2000 a 2010, e trabalhei primeiro na sucursal da Folha<br />

de S. Paulo e depois pela Veja, sempre cobrindo política. No final do governo do<br />

Fernando Henrique, quando o PT era o principal partido de oposição, o José Dirceu<br />

era o líder do partido no congresso. Durante a campanha do Lula, até o final de seu<br />

governo, o José Dirceu sempre foi uma pessoa central em tudo que acontecia no<br />

país. Uma pessoa meio misteriosa e com uma história de vida muito interessante.<br />

Eu sempre pensei em escrever um livro sobre essa época que morei em Brasília<br />

e não sabia muito bem como e o que escrever. Então, há uns dois anos, conheci<br />

uma editora aqui em São Paulo. Ela veio de Portugal e achou muito estranho que<br />

no Brasil não se escrevesse sobre pessoas vivas. Isso me deu um estalo e comecei<br />

a preparar esse livro.<br />

c: Como foi a preparação e o trabalho para criar essa biografia?<br />

OC: Realizei muitas pesquisas em acervos de jornais, revistas, emissoras de tevê e<br />

arquivos públicos. Essa lei de acesso à informação facilitou muito minha pesquisa.<br />

Tive acesso a dados inéditos, no total são mais de 15 mil páginas de documentos.<br />

Além disso, eu entrevistei 63 pessoas que conviveram com ele e tem também a<br />

minha própria experiência como jornalista. Cobri de perto o caso do mensalão, as<br />

duas campanhas do Lula e quando ele foi Ministro da Casa Civil.<br />

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cURINGA | EDIÇÃO 8

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