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Revista Curinga Edição 12

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Na fronteira<br />

entre a<br />

Texto: Danilo Moreira<br />

Fotos: Frederico Moreira<br />

Arte: Túlio dos Anjos<br />

realidade e o<br />

fantástico<br />

Adriano Messias tem uma vida inteira dedicada ao fantástico. São cerca de 50 livros publicados,<br />

direcionados principalmente ao público infantojuvenil. Natural de Lavras, interior<br />

de Minas Gerais, desde criança foi influenciado pelo contato com a literatura e as histórias<br />

da oralidade popular, aquelas “que nos deixam no lusco-fusco entre a crença e a dúvida”.<br />

Graduado em Jornalismo e Letras, Adriano é mestre em Comunicação e Sociabilidade.<br />

No seu doutorado, em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), aborda o fantástico<br />

no cinema e na literatura. Em conversa com a <strong>Revista</strong> <strong>Curinga</strong>, Adriano Messias fala<br />

de sua carreira, da relação com o universo fantasioso e dos rumos da literatura fantástica,<br />

pois, segundo ele, “sempre haverá uma demanda por esse tipo de produção”.<br />

C: Você escreve para crianças. Caso escrevesse para<br />

o mundo adulto, quais seriam as principais diferenças?<br />

AM: Uma criança que gosta de ler assume a função de<br />

leitor crítico exigente. Escrever para jovens leitores é desafiador,<br />

porque muito já foi feito e sabemos que a originalidade<br />

é ilusória. Já se escreveu sobre tudo. Isso também vale para<br />

a literatura adulta. É claro que existem temas e abordagens<br />

que não cabem ao universo infantil: o excesso de violência,<br />

por exemplo.<br />

C: Você acredita que há uma ascensão do “gênero<br />

fantástico”? Por quê?<br />

AM: Sim, acredito. O fantástico atrai leitores e espectadores<br />

por gerações. Desde o século XX, ele deve muito do terreno<br />

que conquistou ao cinema. As imagens moventes, pela especificidade<br />

de suas condições técnicas, puderam levar ao espectador<br />

as mais mirabolantes histórias, frutos do fantástico.<br />

Hoje, quando as mídias convergem, torna-se mais fácil multiplicar<br />

as expressões fantásticas: um livro conquista seu público,<br />

torna-se uma série impressa e em e-books, transforma-se<br />

em franquia no cinema, depois passa para o campo dos jogos<br />

eletrônicos, ganha sites, comunidades virtuais, fãs, encontros,<br />

congressos... A esses fatores, penso que se soma o mal-estar<br />

de nossa época: os monstros são, desde sempre, bons indicadores<br />

do que emerge sintomaticamente na cultura. Não é por<br />

acaso que vivemos o império das produções sobre zumbis, por<br />

exemplo. O fantástico tem uma sintonia direta com os sintomas<br />

culturais.<br />

C: Seu trabalho como escritor trata da relação<br />

da fantasia com o universo infantil. Como você enxerga<br />

essa temática nas produções voltadas para o<br />

mundo adulto?<br />

AM: O inconsciente não tem idade: o chamado livro<br />

infantojuvenil e o livro para adultos servem, em grande<br />

medida, como categorizações mercadológicas. Há livros<br />

feitos para crianças muito profundos e desprezados nas<br />

estantes; e livros “rasos” para adultos, nas primeiras<br />

gôndolas das grandes livrarias. Noto que vivemos não somente<br />

uma onda, mas um tsunami de produções do fantástico,<br />

seja para os pequenos, seja para os grandes leitores.<br />

Como tudo o que se faz em grande quantidade, os<br />

níveis de qualidade, sobretudo no plano estético, variam<br />

muito. Enfatiza-se o conteúdo, muitas vezes esquecendose<br />

da forma.<br />

C: Como o “fantástico” aparece em seus livros?<br />

AM: A literatura feita para as crianças é um belo esteio<br />

para os temas do fantástico. Em minhas produções<br />

infantojuvenis, adoro criar antigas brincadeiras com<br />

o leitor: será que isso ou aquilo aconteceu de fato com<br />

um dado personagem? E, afinal de contas, ele teve uma<br />

alucinação, ou, de fato, foi abduzido por um alienígena?<br />

Minha série Contos para não dormir, já em seis volumes,<br />

tem esse estilo narrativo. Em Aluado e outros contos de<br />

alumbramento, por exemplo, cada conto traz um universo<br />

fechado, de estranhamento não finalizado, para que

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