Alternativa Cabelo, Cabeleira, Cabeludo, Descabelado! Texto: Anna Antoun Foto: Bianca Cobra Arte: Flávia Gobato
Michelle Cavalheiro, 25 anos, já pintou o cabelo de diversas cores: rosa, roxo, platinado, verde, branco e agora seus fios estão tingidos de azul claro. Na família e entre os colegas, nunca teve apoio, muito pelo contrário, sempre foi julgada... Bastante tímida, ela diz que a nossa “estampa” não nos define. Na infância e na adolescência teve uma série de problemas psicológicos por sua aparência. Ser diferente da maioria das pessoas, dificultou o seu processo de aceitação. “O que chama mais a minha atenção nos outros são as diferenças e características que nem todos possuem”, revela a esteticista e cabeleireira. Por mais que todos digam o contrário, ela diz que pensa muito no que as pessoas irão achar. Mas não está disposta a debater e ouvir certos comentários. Poder Negro Muito mais do que simples estética, os cabelos representam culturas, religiões e tribos. Assim como Michelle, muitos homens e mulheres lutam e lutaram pelo reconhecimento de seu estilo, símbolo de orgulho e afirmação na sociedade. A trajetória do Movimento Black Power tem início nos anos 1920, quando Marcus Garvey, tido como o precursor do ativismo negro na Jamaica, insistia na necessidade de romper com padrões de beleza eurocêntricos e, a partir disso, promover o encontro dos negros com suas raízes africanas. Décadas depois, nos Estados Unidos, o cabelo afro também começou a ganhar espaço e se tornou um dos protagonistas na luta pelos direitos civis dos anos 1960. O Movimento foi então caracterizado pelo uso dos cabelos sem intervenção química ou física para “alisar”, o que foi definido como “natural”, pelos jovens negros. Junto com esse Movimento, surgiu o slogan Black is beautiful defendendo a afirmação de que “ser negro é lindo”, como diz a historiadora Cassi Ladi Reis em seu artigo “A Estética e o Mercado Produtor. No entanto, ainda são as mulheres as grandes protagonistas dessa história. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas decidiram andar pelas ruas ao natural, confrontando padrões de beleza vigentes nos Estados Unidos. Posteriormente, no Brasil, a história se repete. CURINGA | EDIÇÃO <strong>13</strong> 29