Anais DCIMA Final

Página 113
A carta-manifesto também traz essa dinâmica em sua materialidade. Apesar da fratura já ser evidente
como processo social, que observamos na diferença entre os dois vídeos, ela também age sobre os corpos e
demonstra aquilo que Bakhtin (2014) já indicava: a polifonia está no campo das subjetivações. E as imagens a
seguir evidenciam essa fratura.
A figura 13 possibilita enxergar como os gritos da periferia são visibilizados na construção do produto
midiático apenas após as articulações entre os diferentes grupos sociais organizarem um manifesto em um
espaço público comum a todos: a Praça da República, um dos principais cartões-postais da cidade. Existe uma
dificuldade de deslocamento entre uma área de periferia e outra, mas na organização da cidade, as linhas de
ônibus de cada uma delas conduzem suas populações à áreas em particular, como é esse caso. Assim, ainda
que sejam gritos de outra ordem que fraturem o enunciado social da cidade, eles só podem se evidenciar ao se
inserirem nos espaços “do verdadeiro”.
Essa percepção social também é evidenciada no corpo das pessoas, como vemos na figura 14. A jovem
negra que enuncia uma voz da periferia, um trajeto histórico dos povos africanos nesta região, mas também
fratura a ordem ao enunciar diferentes discursos que se evidenciam na estampa de sua camisa. Ainda que a
Pastoral da Juventude (PJ) possa ser ligada a Igreja Católica institucionalmente, é preciso lembrar que, sua
construção no território nacional muitas vezes se distancia da fé e traz consigo lutas políticas distintas, por
vezes contrárias até mesmo aos valores cristãos.
Figura 13: vídeo fratura a ordem colocando o espaço público e as vozes silenciadas no mesmo espaço
Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado
Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805