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Anais DCIMA Final

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Página 283<br />

Contudo, ainda que aparelhos de estado tenham sido criados para coibir esse tipo de ação, a<br />

expropriação de povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros, quilombolas e tantos outros do acesso a terra e<br />

manutenção de uma situação de violência, continuam embutidas na própria engrenagem das instituições, onde<br />

mecanismos voltados a estes a todo o momento escapam a intenções ou menos a consciência de agentes<br />

governamentais. Tais procedimentos são alimentados por ideologias que os levam ao não reconhecimento e<br />

impedimento do acesso a terra.<br />

Para tanto, Saco das Almas é uma situação empírica possível de apontar de que modo os órgãos oficiais<br />

brasileiros, por meio da atuação de seus operadores, terminam por consolidar situações de expropriação,<br />

violência e confinamento de práticas culturais de grupos étnicos que se autodefinem como residindo em terras<br />

de quilombo.<br />

Na desapropriação de Saco das Almas, o critério para a distribuição das terras feita pelo INCRA,<br />

favoreceu aos autodenominados brancos, em sua maioria, latifundiários da família Castelo Branco e vistos<br />

pelos pretos como antagonistas. A estes, foram cedidas a maior parte do território, ficando eles, juntos aos<br />

descendentes de Timóteo, com a parte mais parca da área em produtos nativos.<br />

Os fazendeiros possuíam benfeitorias, então, além de terem sido desapropriados, também receberam<br />

terras consoantes às benfeitorias possuídas. Foi a partir desse ato que, iniciou-se um processo de grilagem e<br />

loteamento pondo fim ao uso comum da terra em Saco das Almas. A área torna-se então palco de conflitos<br />

pela posse das terras, entre os legítimos proprietários (negros e descendentes de quilombolas) e os exproprietários<br />

e as pessoas que invadiram as terras ou as compraram indevidamente pelo INCRA.<br />

Em praticamente todos os Boletins de ocorrências referentes à Saco das Almas, encontrados entre os<br />

anos de 2011 e 2016, na delegacia de polícia de Brejo, há relatos de conflitos entre os moradores, exproprietários<br />

ou ocupantes não tradicionais, acusados de intimidar os quilombolas.<br />

Essa situação tomou formas as mais diversas, como testemunham, em particular, algumas lideranças<br />

quando relatam que, “juntos aos quilombolas, já vinham denunciando para as autoridades competentes a<br />

entrada de fazendeiros na área”. No entanto, “elas se omitiam diante das graves violações praticadas contra os<br />

quilombolas, seja por agentes estatais, seja por entes privados com o aval do Estado”. Denunciaram ainda que<br />

as polícias Militar e Civil na região estiveram atuando contra os interesses dos quilombolas e a serviço dos<br />

fazendeiros.<br />

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