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Anais DCIMA Final

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Página 505<br />

contrário ela a denuncia como uma das ilusões caras à civilização. Deste modo, como na constituição da<br />

subjetividade, o conflito é constitutivo da teoria psicanalítica e está nela presente desde a sua base. Nem mesmo<br />

o longo e árduo trabalho de uma análise assegura com otimismo uma liberação final do inconsciente, e menos<br />

ainda que tal liberação seja maravilhosa e de fato libertária. Uma opacidade subsiste, e talvez ela seja central<br />

à noção de inconsciente.<br />

Sigmund Freud desvelou o modo de operação inconsciente que dá origem aos sonhos, aos lapsos de<br />

linguagem, atos falhos e sintomas, e nos fez entrever sua fecundidade e sua importância na vida humana, sem<br />

nunca deixar de destacar a existência de uma força oposta ao livre cumprimento dos desejos que dolorosamente<br />

com estes se confronta, mutilando-os, mas ao mesmo tempo permitindo que eles se formulem de maneira<br />

disfarçada, sempre desviada. Mais do que uma potência revolucionária, o inconsciente freudiano é um domínio<br />

submetido ao realçamento, isto é, ele só pode se manifestar de maneira indireta ou disfarçada. À indagação “o<br />

sonho não pode ser também aplicado à resolução das questões fundamentais da vida?”, presente no Manifesto<br />

Surrealista, Sigmund Freud muito provavelmente diria: “Não!”.<br />

Estou convencido de que além do sonho, eleito pelos surrealistas como terreno privilegiado de irrupção<br />

das maravilhas do inconsciente, sobretudo, em uma primeira fase da pintura surrealista, a histeria surgiu como<br />

um tema recorrente na obra de vários artistas como Salvador Dalí (1904-1989), ligada a uma visão lírica da<br />

mulher “louca” e do amor desvairado. Em Paris, a histeria estava, pois, muito em voga desde as últimas décadas<br />

do século XIX, quando Sigmund Freud fez o estágio com o médico e cientista francês Jean-Martin Charcot<br />

(1825-1893), que influenciou fortemente as ideias que desenvolveu posteriormente, e foi o campo patológico<br />

onde o método psicanalítico fez sua aparição. Sigmund Freud mostrou, de forma revolucionária, que o sintoma<br />

histérico, frequentemente localizado no corpo, tem um sentido que pode ser reconstituído pela fala do paciente,<br />

diz respeito à sua história de vida e aponta para o sexual em toda a sua importância na constituição do sujeito.<br />

Destarte, sintomas histéricos começarão, em análise, a se desdobrar em historias e a se mostrar como<br />

metáforas. No entanto, eles não deixarão de veicular conflitos fundamentais que, mesmo estando presentes<br />

também nos “normais” – entre o normal e patológico há diferenças qualitativas, não qualitativas –, implicam<br />

restrições insuperáveis que moldaram a história do sujeito. Contudo, para André Breton e seu amigo, o poeta<br />

e escritor francês, Louis Aragon (1897-1982), a histeria constitui-se em um “supremo meio de expressão”,<br />

digno de defesa apaixonada e poéticos elogios.<br />

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