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Anais DCIMA Final

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Página 57<br />

Portanto, o processo de elaboração de um discurso ocorre em um cenário cujo próprio estado das<br />

condições de produção é resultado de processos não lineares e insólitos e, além disso, há uma impossibilidade<br />

de se “definir uma origem das condições de produção, pois esta origem, a rigor impensável, suporia uma<br />

recorrência infinita”. (PÊCHEUX, 1997, p. 87, grifos do autor).<br />

Igualmente infinita é a complexidade do conceito de memória discursiva, que, embora posta em<br />

evidência na terceira fase dos estudos de Pêcheux, teve seus prenúncios expostos na Análise Automática do<br />

Discurso (AAD-69), em cujas bases visualizamos os elementos “introdutórios” que seriam reconstituídos,<br />

ampliados e posteriormente apresentados enquanto memória discursiva.<br />

Um discurso não apresenta, na sua materialidade textual, uma unidade orgânica<br />

em um só nível que se poderia colocar em evidência a partir do próprio discurso,<br />

mas que toda forma discursiva particular remete necessariamente à série de<br />

formas possíveis, e que essas remissões da superfície de cada discurso às<br />

superfícies possíveis que lhe são (em parte) justapostas na operação de análise,<br />

constituem justamente os sintomas pertinentes do processo de produção<br />

dominante que rege o discurso submetido à análise. (PÊCHEUX, 1997, p.104-<br />

105, grifos do autor).<br />

Essa abordagem proposta por Pêcheux, em nossa visão, equipara-se à memória discursiva, uma vez<br />

que esta se relaciona com a recorrência de discursos que emergem de determinadas conjunturas históricas, que<br />

os reconduz, atualiza-os ou até mesmo os esquece. Para Orlandi (2003, p. 31) A “memória discursiva é o saber<br />

discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma de pré-construído, o já-dito que está na base<br />

do dizível, sustentando cada tomada da palavra”.<br />

Destarte, é importante assinalar que a memória não se dá pela transparência/evidência, mas sim através<br />

do opaco e, às vezes, por meio do não-dito que sombreia as manifestações discursivas. A memória pode ser<br />

compreendida, ainda, como um lugar que reconfigura os já-ditos frente às relações de forças ideológicas que<br />

se interpõem diante de um dizer proposto pelos novos acontecimentos históricos oriundos das mais díspares<br />

discursividades. Assim propõe Pêcheux (2010):<br />

A certeza que aparece, em todo caso, no fim desse debate é que uma memória<br />

não poderia ser concebida como uma esfera plena, cujas bordas seriam<br />

transcendentais históricos e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo,<br />

acumulado ao modo de um reservatório: é necessariamente um espaço móvel de<br />

divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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