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Revista Curinga Edição 15

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Ocupando entre ladeiras: um relato.<br />

(Ouro Preto, junho de 20<strong>15</strong>)<br />

Café e luta são combustíveis. Assembleia e encaminhamento<br />

penetram no vocabulário. Qualquer conversa é debate<br />

e qualquer lugar é cama. A vivência de uma ocupação estudantil<br />

traz reflexões sobre coletividade, seja em revindicações<br />

ou no convívio de pessoas diferentes que se unem em prol de<br />

um bem comum.<br />

O movimento OcupaUfop nasceu, frente a burocracias e<br />

apatia geral, para que pautas fossem esclarecidas e atendidas.<br />

A “casa” respira, come e bebe política. Histórias de outrora,<br />

PLs e MPs se misturam à conversa besta do café. Tudo faz<br />

refletir a necessidade da política no dia-a-dia, em pequenas e<br />

grandes coisas. Não podemos nos alienar do contexto maior,<br />

enquanto indivíduos somos seres históricos e políticos.<br />

Não se negocia apenas com a Reitoria, diariamente se vê<br />

a necessidade de respeitar lugares de fala e pontos de vista.<br />

Saber contrapor o que não é concordado e prestar atenção no<br />

que pode ferir se tratado com desleixo. Daí, tudo é problematizado.<br />

Urgência e política exalam da ocupação. As emoções<br />

ficam à flor da pele, a ansiedade e o cansaço são perceptíveis.<br />

Apesar dos desentendimentos ocasionais, é como se os ocupantes<br />

se conhecessem há tempos e fizessem parte de uma<br />

grande comunidade, onde se divide desde comida até toalha.<br />

Além de discordâncias internas, existem as pressões externas,<br />

da Universidade ou da parcela que se coloca contra o<br />

grupo autônomo. Difícil saber qual a mais persistente. Apesar<br />

disso, o foco é o coletivo e a defesa de uma universidade pública<br />

de qualidade, acessível e plural. Ninguém faz ocupação<br />

porque gosta: é um processo desgastante psicológica e fisicamente.<br />

Mas ainda uma ferramenta válida.<br />

Quem trabalha na reitoria se junta aos ocupantes, no café<br />

ou ao conversarem sobre a situação delicada em que o país e<br />

a universidade se encontram. Um apoio que se sente, cara a<br />

cara. A maior manifestação pode ser um simples “que bom<br />

que vocês entendem”. A troca de saberes é constante, cada<br />

um ensina o que sabe, aprende com a outra, ajuda no que<br />

pode. Entre cartas e manifestos, deliberações e protestos, os<br />

trabalhos acadêmicos. O período letivo continua.<br />

Há marcas em quem participa. Tudo é intensificado e<br />

pensado profundamente, as concepções são reavaliadas. O<br />

mundo externo é mais difícil de ser encarado quando há o estranhamento.<br />

O mundo interno pode parecer uma fuga, mas<br />

na verdade é o olho do furacão. Tudo parece estar na ordem<br />

enquanto o frenesi reina da porta para dentro.<br />

Na timeline, críticas e apoios, notas e fotos. Na linha do<br />

tempo da vida que segue, aniversários comemorados, horas<br />

de sono perdidas, laços feitos e desfeitos. Uma realidade palpável<br />

ao alcance das mãos. Pena que são poucas as dispostas<br />

a se colocarem na massa. Mesmo que o horizonte pareça ser<br />

distante, as pessoas perdidas e o panorama, conturbado, ainda<br />

há quem acredite. Pois como diria Síntese: “Não se ilhe,<br />

sonho que se sonha junto é o maior louvor”.

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