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Revista Curinga Edição 15

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Morador do Capão Redondo, periferia de São Paulo, Reginaldo Ferreira da Silva,<br />

39 anos, é um escritor renomado. Com textos traduzidos em mais de seis países, Ferréz como é conhecido,<br />

traz em suas obras um olhar mais próximo da realidade das favelas. Mostra de forma simples e verossímil<br />

que o morro tem muito mais para contar do que só as mortes e os problemas exibidos pela grande mídias.<br />

Ferréz é lembrado também por ser um dos fundadores da “Literatura Marginal”, gênero no qual os<br />

textos refletem a realidade e o cotidiano das periferias. Ele e outros autores utilizam-se do estilo para<br />

permitir que a voz das favelas seja ouvida e que estas pessoas possam ser vistas de uma nova forma.<br />

Fazem da literatura um dispositivo de resistência, contra uma realidade mascarada e distorcida.<br />

<strong>Curinga</strong>: Como o livro e a leitura influenciaram sua<br />

vida?<br />

Ferréz: Em tudo, aos 12 anos li meu primeiro livro e<br />

comecei a ter uma visão de mundo, fora que desde que li<br />

meu primeiro gibi quando tinha 7 anos, que sempre me<br />

diverti muito lendo.<br />

C: Quais livros e autores te inspiraram?<br />

F: Hermann Hesse, Plínio Marcos, João Antônio, e<br />

hoje tem muitos outros, como Marcelino Freire, Lourenço<br />

Mutarelli.<br />

C: Quando surgiu a ideia de escrever sobre/para a periferia?<br />

F: Foi no primeiro livro oficial, o Capão Pecado, que<br />

ficou pronto em 2000, nele pude abranger esse lado, que<br />

muita gente não queria falar sobre isso, foi uma coisa natural,<br />

me senti mais a vontade falando sobre o universo<br />

que eu conhecia.<br />

C: Como se desenvolve seu trabalho na periferia? E<br />

como as pessoas se envolvem com o movimento?<br />

F: Começou numa crença, eu acreditava que as pessoas<br />

tinham que ter acesso a esse mundo que eu estava<br />

entrando, o da leitura, e fui organizando pequenos eventos<br />

onde lia meus poemas, falava da maravilha de se ler,<br />

foi natural querer passar isso para frente, então eu pedia<br />

para falar em eventos políticos, em shows de hip-hop e<br />

assim fui sendo conhecido como o escritor da periferia.<br />

C: Como é pra você ver seus textos traduzidos em vários<br />

países e saber que a voz da periferia está sendo representada<br />

e conhecida?<br />

F: É uma coisa que trago com muito orgulho, mas<br />

também com responsabilidade, saber falar em plural em<br />

vez de ter uma opinião fechada, saber representar essas<br />

pessoas que as vezes não se veem bem representadas por<br />

onde passam os meios de comunicação.<br />

C: Quando você escreve para as crianças, como deseja<br />

entrar na cabeça delas? Com que tipo de informação?<br />

F: Tento falar de assuntos que geralmente não são<br />

abordados, os livros infantis geralmente não abordam<br />

nada real, e quando fazem creio que eles menosprezam<br />

o saber da criança, então trago temas que geralmente são<br />

desconfortantes, mas necessários. Sempre penso que ao<br />

terminar o livro ela tenha que ter aprendido algo.<br />

C: É mais fácil instigar uma criança ou um adulto a<br />

ler? Como uma geração de leitores pode melhorar o senso<br />

crítico da população?

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