Ele faria tudo outra vez. “Ela é a Femme-Bateau cuja missão é nos conduzir com segurança, fantasia, coragem e esperança”. Sérvulo Esmeraldo Sérvulo Esmeraldo estava no auge da pesquisa com os Excitables, obras que o particularizam no campo da arte cinética internacional, quando na segunda metade dos anos 1970 redescobre o Ceará e a sua luminosidade incandescente. “Foi um choque”, dizia. Vivendo na França desde 1957, ele não contava com este impacto, nem como este mudaria os rumos do seu trabalho e da sua vida dali para frente. As visitas e os convites para exposições no Brasil tornaram-se frequentes, mas são as propostas de esculturas a céu aberto que levam-no a lançar âncora em Fortaleza – a “Grécia sem esculturas”, citada por ele em entrevista ao escritor Milton Dias, em 1962. A constatação antiga agora se impõe como projeto a se cumprir. A contrastar com a luz, propícia à escultura e seus volumes, e com o clima de verão o ano inteiro, ideal para a arte pública, tão ressaltados e valorizados por ele, o Ceará, por outro lado, tem um elevado índice de umidade relativa do ar. Quer dizer: a pesquisa com os Excitables – “máquinas eletrostáticas” – na sua definição mais exata, em tais condições, não poderiam avançar. E em um momento crucial, quando ele iniciava uma nova etapa, somando à eletricidade estática a polarização da luz. Frente à realidade local, ele teria que abrir mão, também, das esculturas em acrílico e mármore. – E agora, Esmeraldo? A resposta veio com o Monumento ao Saneamento Básico de Fortaleza, instalado na Praia do Náutico, em 1978. Era um sinal de que algo novo emergia. Tão forte e luminoso que remexia o imaginário da cidade. O que viria a ser aquela forma agigantada que rasgava o horizonte assim feito uma gralha? Esta escultura com quase 40 metros de comprimento, tida como a primeira escultura contemporânea brasileira, em espaço público, destacou Fortaleza no cenário artístico nacional, e deu ao seu autor a certeza de que a mudança apresentava-se iminente. Esmeraldo já tinha realizado outras obras na cidade, mas o impacto desta é decisivo. Com ela vislumbrou um projeto mais radical. No que dependesse dele, Fortaleza deixaria de ser a “Grécia sem esculturas”. Arregaçou as mangas e lançou-se ao sonho da cidade vir a ser um museu de esculturas a céu aberto. Com obras dele e de outros artistas, pondo em valor a privilegiada luminosidade local, que segundo o pintor suíço Jean-Pierre Chabloz é a segunda maior do mundo, em quantidade de lúmens. Beirando os 50 anos, o filho do Crato se reinventou no Ceará. Passando a dedicar-se,