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REVISTA_DO_INSTITUTO_GEOGRAFICO_E_HISTOR

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do escritor na criação do pai de santo, o babalaô também proporcionou<br />

informações linguísticas e culturais que ajudaram Amado a recriar o<br />

cotidiano dos terreiros, pois “foi ele quem me deu a tradução daqueles<br />

cânticos nagôs de macumba, daquele conceito, etc”.<br />

Questionado sobre sua reação à representação de sua pessoa em<br />

Jubiabá, Martiniano demonstrou uma perspectiva crítica, respondendo:<br />

“vi, sim, um escrito, mas o moço me chamou de ‘pai de santo’. Eu não<br />

sou um ‘pai de santo’, como já lhe disse”. Assim, Martiniano chama a<br />

atenção para a importante distinção entre um babalaô, sacerdote de Ifá,<br />

e um babalorixá, sacerdote no culto aos orixás, popularmente conhecido<br />

como pai de santo. Na mesma entrevista comentou:<br />

Tenho lido alguns livros sobre os negros, que<br />

me trazem aqui, como os de Artur Ramos,<br />

Renato Mendonça, Gilberto Freyre e do meu<br />

amigo Édison Carneiro. Sinto em todos uma<br />

grande honestidade intelectual. Alguns erros de<br />

detalhe, que é natural sabendo-se a dificuldade<br />

que há em reunir material para estudos assim.<br />

Principalmente sobre o cativeiro 9 .<br />

Vemos assim que, longe de passivamente fornecer informações,<br />

Martiniano acompanhava e avaliava criticamente a produção dos intelectuais<br />

sobre o seu universo religioso. Notamos também, mais uma<br />

vez, que os intelectuais também se esforçavam para incentivá-lo nisso:<br />

os livros que ele leu sobre o negro são os que “me trazem”. Vale dizer,<br />

que Martiniano, como outros sacerdotes nagôs, tinha certo desdém para<br />

com as práticas de outras nações, sobretudo as quem envolveram caboclos.<br />

Pierson encontrou sentimentos semelhantes, citando uma mãe de<br />

santo nagô: “[...] tem gente que chama de ‘candomble’ esta bobagem<br />

de caboclo! Mas sabem absolutamente nada da maneira como se faz na<br />

África!” 10<br />

9<br />

Jornal Estado da Bahia, 14/5/1936, p. 5<br />

10<br />

PIERSON, Donald. Brancos e Pretos na Bahia: estudo de contato racial. São Paulo:<br />

Companhia Editora Nacional, 1971, p. 271 (Coleção Brasiliana).<br />

62 | Rev. IGHB, Salvador, v. 108, p. 55/76, jan./dez. 2013

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