Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Polemico em conduta, Jacó surgiu como her<strong>de</strong>iro da aliança. De acordo com os costumes <strong>de</strong><br />
Nuzu, negociou com Esaú para assegurar-se a herança e seus direitos. Sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
negociador fica logo aparente em sua aquisição dos direitos <strong>de</strong> primogenitura pelo escasso preço<br />
<strong>de</strong> um prato <strong>de</strong> lentilhas. O irreal sentido <strong>de</strong> Esaú do valor das coisas pô<strong>de</strong> ter sido provocado pela<br />
fatiga temporária e à exaustão <strong>de</strong> uma expedição <strong>de</strong> caça que não teve recompensa alguma. Além<br />
disso, Jacó ganhou a bênção <strong>no</strong> leito <strong>de</strong> morte, usando um truque e a <strong>de</strong>cepção, instigado por<br />
Rebeca, sua mãe. O significado <strong>de</strong>sta aquisição se compreen<strong>de</strong> melhor por comparação com as<br />
leis contemporâneas que faziam tais bênçãos orais legalmente válidas. Deve <strong>no</strong>tar-se, contudo, o<br />
fato que o relato bíblico coloque a ênfase <strong>no</strong> lugar que ocupa a chefia familiar por acima das<br />
bênçãos materiais.<br />
Temendo o provável matrimônio <strong>de</strong> Jacó com mulheres hititas, tanto como a vingança <strong>de</strong> Esaú,<br />
Rebeca concebeu e instrumentou um pla<strong>no</strong> para enviar a seu filho favorito a Padã-Harã. De<br />
caminho, Jacó respon<strong>de</strong> a um so<strong>no</strong> em Betel com uma promessa condicional para servir a Deus e<br />
uma tentativa <strong>de</strong> dar o dizimo <strong>de</strong> suas rendas. Tendo recebido uma cordial acolhida em seu lar<br />
ancestral, Jacó entra num acordo com Labão, irmão <strong>de</strong> Rebeca. De acordo com os costumes <strong>de</strong><br />
Nuzu, isto po<strong>de</strong>ria ter sido mais que um simples contrato para o matrimônio. Aparentemente,<br />
Labão não tinha um filho naquela época, pelo que Jacó foi instituído como her<strong>de</strong>iro legal. Típico<br />
da época foi o presente <strong>de</strong> Labão <strong>de</strong> uma criada a cada uma <strong>de</strong> suas filhas, Raquel e Lia. A esposa<br />
<strong>de</strong> Labão <strong>de</strong>u a luz mais tar<strong>de</strong> a outros filhos, pelo que Jacó <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser o her<strong>de</strong>iro principal.<br />
Aquela mudança <strong>no</strong>s assuntos não foi do agrado <strong>de</strong> Jacó; <strong>de</strong>sejou ir embora, porém foi dissuadido<br />
por um <strong>no</strong>vo contrato que lhe abria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter riqueza mediante os rebanhos <strong>de</strong><br />
Labão. Com o passar do tempo, Jacó chegou a ser tão próspero, apesar do reajuste <strong>de</strong> contrato<br />
<strong>de</strong> Labão, que a relação existente entre o pai e o genro se alterou.<br />
Alentado por Deus para voltar à terra <strong>de</strong> seus pais, Jacó reuniu todas suas possessões e partiu<br />
<strong>no</strong> momento oportu<strong>no</strong>, quando Labão estava ausente num negócio <strong>de</strong> gado. Três dias mais tar<strong>de</strong><br />
Labão soube da partida <strong>de</strong> Jacó e mandou em sua busca. Após sete dias lhe <strong>de</strong>u alcance nas<br />
colinas <strong>de</strong> Gilea<strong>de</strong>. Labão estava profundamente perturbado pela <strong>de</strong>saparição <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>uses-lar.<br />
O terafim, que Raquel tinha escondido com êxito enquanto Labão buscava nas possessões <strong>de</strong><br />
Jacó, pô<strong>de</strong> ter sido mais legal que <strong>de</strong> significação religiosa para Labão 48 . De acordo com a lei<br />
Nuzu, um genro que tiver em seu po<strong>de</strong>r os <strong>de</strong>uses-lar po<strong>de</strong>ria reclamar a herança da família ante<br />
um tribunal. Dessa forma Raquel tentava obter certa vantagem para seu marido, ao roubá-lhe os<br />
ídolos. Porém Labão anulou qualquer benefício <strong>de</strong>ssa índole por um convenio com Jacó antes <strong>de</strong><br />
separar-se.<br />
Continuando rumo a Canaã, Jacó antecipou o terrível encontro com Esaú. O temor o venceu,<br />
ainda que toda crise do passado tivesse acabado com vantagem para ele. A ponto <strong>de</strong> não voltar,<br />
Jacó encarou-se com uma crucial experiência (32.1-32). Dividindo todas suas possessões nem rio,<br />
Jacó, em preparação para o encontro com Esaú, se voltou a Deus em oração.<br />
Reconheceu humil<strong>de</strong>mente que era imerecedor <strong>de</strong> todas as bênçãos que Deus lhe havia<br />
outorgado. Mas <strong>de</strong> face para o perigo, suplicou por sua liberação. Durante a solidão da <strong>no</strong>ite,<br />
lutou a braço partido com um homem. Nesta estranha experiência, na qual reconheceu um<br />
encontro divi<strong>no</strong>, seu <strong>no</strong>me foi mudado pelo <strong>de</strong> "Israel" em lugar <strong>de</strong> continuar chamando-se Jacó.<br />
Depois disso, Jacó não foi o impostor; em seu lugar esteve sujeito à <strong>de</strong>cepção e aos sofrimentos<br />
por seus próprios filhos.<br />
Quando chegou Esaú, Jacó se prostrou sete vezes —outra antiga tradição mencionada <strong>no</strong>s<br />
documentos ugaríticos e <strong>de</strong> Amarna—, e recebeu a segurida<strong>de</strong> do perdão <strong>de</strong> seu irmão.<br />
Declinando cortesmente a generosa ajuda oferecida por Esaú, Jacó continuou lentamente para<br />
o Sucote, enquanto Esaú voltava ao Seir.<br />
48 Labão distinguia entre os <strong>de</strong>uses <strong>de</strong> Nahor e o Deus <strong>de</strong> Abraão (Gn 31.29-30). Enquanto que Jacó era mo<strong>no</strong>teísta, Labão<br />
era politeísta.<br />
27