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USSD Rio Descoberto Dam - Sabino Freitas Correa-PORT -

Artigo publicado 22º Congresso USSD, Reabilitação da Barragem do Rio Descoberto - Corrêa, Nelson, Corrêa Marianne, Sabino Freitas Correa, Soares,A., Viana,M.

Artigo publicado 22º Congresso USSD, Reabilitação da Barragem do Rio Descoberto - Corrêa, Nelson, Corrêa Marianne, Sabino Freitas Correa, Soares,A., Viana,M.

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RIO DESCOBERTO DAM - "IN THE WET" REHABILITATION<br />

TECHNIQUE PERMITS TO KEEP THE WATER SUPLLY IN BRASÍLIA -<br />

BRAZIL<br />

BARRAGEM DO RIO DESCOBERTO – TÉCNICA DE RECUPERAÇÃO<br />

“IN THE WET” POSSIBILITA A MANUTENÇÃO DO ABASTECIMENTO<br />

DE ÁGUA EM BRASÍLIA - BRASIL<br />

Nelson Luiz de Andrade Corrêa 1 Antônio Manoel Soares 2<br />

<strong>Sabino</strong> <strong>Freitas</strong> Corrêa 3 Mércio Viana 4<br />

Marianne <strong>Freitas</strong> Corrêa 5<br />

ABSTRACT<br />

A Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>, de propriedade da CAESB – Cia. de Saneamento<br />

Básico do Distrito Federal, é utilizada como reservatório para o abastecimento de<br />

água para a cidade de Brasília, Capital Federal.<br />

A Barragem do tipo concreto gravidade teve sua construção concluída em 1974.<br />

Alguns anos após o fim da construção já começaram a ser observados alguns<br />

pontos de vazamento de água lixiviante no paramento de jusante da Barragem.<br />

Alguns trabalhos de recuperação remediais foram realizados em diferentes<br />

períodos, adotando sistemas combinados de injeção e drenagem sem notável<br />

sucesso. Após diversas intervenções paliativas, a CAESB passou a adotar nova<br />

abordagem, passando a procurar a origem dos problemas com o objetivo de<br />

encontrar uma solução final. Após diversas análises, a origem do problema pôde<br />

ser diagnosticada pela combinação da ação deteriorante da água com a presença de<br />

pirita no agregado do concreto.<br />

A metodologia de recuperação adotada foi a implantação de uma parede<br />

diafragma. Esta técnica de recuperação “no molhado”, permitiu que o<br />

abastecimento de água de Brasília (aprox. 2,0 milhões de habitantes) não fosse<br />

afetado ou sofresse qualquer tipo de interrupção durante as obras de recuperação.<br />

A qualidade da água do reservatório foi continuamente controlada durante o<br />

processo, mantendo-se inalterada. A metodologia adotada é descrita neste artigo.<br />

1<br />

Diretor Técnico, Engenheiro Civil, ECL Engenharia e Construções Ltda. – SBS Quadra 02, Bloco “A", Sala<br />

401, Brasília- Brasil<br />

2<br />

Diretor do Sistema de Água, Engenheiro Civil, Caesb- Cia. de Saneamento do Distrito Federal S/A . – SCS<br />

Quadra 04 , Bloco “A”,n. os 67/97 Brasília- Brasil<br />

3<br />

Coordenador de Obras, Formando de Engenharia Civil pela Universidade Paulista - UNIP, ECL Engenharia<br />

e Construções Ltda. – Rua Laureano, 525 , Santo André, São Paulo- Brasil<br />

4<br />

Engenheiro Fiscal, Engenheiro Civil, Caesb- Cia. de Saneamento do Distrito Federal S/A . – SCS Quadra 04<br />

, Bloco “A”,n. os 67/97 Brasília- Brasil<br />

5<br />

Gerente de Contratos, Engenheira Civil, ECL Engenharia e Construções Ltda. – SBS Quadra 02, Bloco “A",<br />

Sala 401, Brasília- Brasil


INTRODUÇÃO<br />

APRESENTAÇAO DO PROBLEMA<br />

Dados Gerais de Construção da Barragem<br />

A Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong> está estabelecida a cerca de 50 Km a Oeste da<br />

cidade de Brasília, podendo ser acessada através de rodovia asfaltada, pela BR-<br />

070. A Barragem é utilizada como reservatório de água para a Capital do País. A<br />

sua capacidade de reservação com o nível d’água na cota do vertedouro é de<br />

102.900.000 metros cúbicos e responde por aproximadamente 60% de todo o<br />

abastecimento da população local servindo a até 1.200.000 pessoas. A Barragem é<br />

do tipo concreto gravidade com um volume de 54.000 metros cúbicos de concreto<br />

em sua estrutura. A seção típica da estrutura é de geometria trapezoidal com<br />

alongamento no topo, com 3m de largura da crista, 33 metros de altura máxima e<br />

265m de comprimento (ver seção transversal na fig. 4.b).<br />

O corpo da barragem pode ser dividido em três partes principais: a ombreira<br />

esquerda com 125m de comprimento, a ombreira direita com 85m e o vertedouro<br />

central com 55m de comprimento (ver fig. 01 abaixo). A seqüência de<br />

concretagem dos blocos foi intercalada, compondo a barragem em 18 blocos<br />

nomeados seqüencialmente de “A” a “R”. As juntas de contração utilizadas foram<br />

Fugenband do tipo “O”. Todos os blocos tem 15 metros de comprimento de crista<br />

com a única exceção do bloco “A” (10m de comprimento). A crista encontra-se na<br />

cota 1.034m e o topo do vertedouro na cota 1.030m.<br />

Figura 01 – Vista de Jusante (figura inferior) e em planta (figura superior) da barragem do <strong>Rio</strong><br />

<strong>Descoberto</strong><br />

Observações Iniciais


As conseqüências da presença de pirita e compostos no agregado do concreto já<br />

eram conhecidas pelos projetistas na época da construção da barragem. Entretanto,<br />

baixa experiência com problemas de reatividade de pirita naquele momento,<br />

permitiu que fossem utilizados materiais com baixos teores deste componente<br />

como agregado durante a construção desta barragem. Fatos posteriores, inclusive<br />

o relato do colapso da barragem de Fonsagrada na Espanha, demonstraram que a<br />

presença de pirita no agregado de concreto, ainda que em níveis de concentração<br />

baixos, pode causar sérios problemas em estruturas hidráulicas.<br />

Alguns anos após o enchimento do reservatório, vazamentos já começaram a ser<br />

observados no paramento de jusante do bloco “I”. Ao final da década de 70 já se<br />

podiam observar também longas fissuras. Desde então, até o início da execução<br />

deste projeto em 2000, os vazamentos de água aumentaram bastante, passando a<br />

ser observados planos de percolação e lixiviação ao longo do corpo da barragem<br />

em diversos blocos.<br />

Cronologia<br />

Desde o surgimento dos primeiros problemas até a recuperação total com parede<br />

diafragma iniciada em 2000, três intervenções remediais foram executadas sem<br />

resultados satisfatórios duradouros. Tais intervenções foram baseadas<br />

principalmente na aplicação de injeções de calda de cimento e epóxi. O resumo<br />

cronológico destes fatos é apresentado na figura 2, abaixo:<br />

1ª Intervenção<br />

Figura 2, Resumo cronológico das intervenções<br />

Desde meados da década de 1970 já se observavam vazamentos no Bloco “I”. Em<br />

1981,a primeira intervenção foi realizada, com técnica comum no tratamento de<br />

vazamentos em barragens. A solução adotada foi baseada no uso de injeções de<br />

epóxi aplicadas sob pressão, entretanto aplicadas a partir do paramento de jusante.<br />

2ª Intervenção


Entre outubro de 1989 e junho de 1990, a segunda intervenção foi realizada. Os<br />

trabalhos foram orientados por um relatório técnico diagnóstico elaborado em<br />

1988, que indicava falhas nas juntas de concretagem como origem do problema.<br />

Os trabalhos consistiam na combinação de injeções de preenchimento aplicadas<br />

por montante com furos internos de drenagem próximos ao paramento de jusante.<br />

Logo após o término desta intervenção a barragem apresentava excelente aspecto,<br />

sem vazamentos no paramento de jusante e com apenas alguns focos de umidade<br />

na parede de montante do interior da galeria de inspeção. A galeria apresentava-se<br />

limpa e os drenos de alívio operavam bem. Infelizmente, apenas três anos após a<br />

conclusão destes trabalhos, a estrutura da barragem já se apresentava em piores<br />

condições do que antes.<br />

3ª Intervenção<br />

Em 1993 a barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong> apresentava sérios problemas. Além de<br />

planos de percolação e lixiviação no blocos “E”, “I”, “G” e “O” com vazões<br />

elevadas, o problema de fissuração havia se agravado. Nos blocos onde já haviam<br />

vazamentos surgiram novos planos de percolação. A galeria de inspeção estava<br />

inundada e repleta de material carreado das rochas da fundação através dos drenos<br />

inferiores.<br />

Durante o curso desta intervenção a CAESB, proprietária da barragem, passou a<br />

adotar nova abordagem para o problema, passando a procurar a causa dos<br />

problemas crônicos observados. Foi então constituída uma junta de consultores<br />

composta pelo Professor Dr. Victor de Mello, Eng. Francisco Andriolo e Eng.<br />

Walton Pacelli. A junta determinou a coleta de amostras dos sedimentos nos<br />

drenos inferiores da galeria, do concreto da barragem, da água do reservatório e da<br />

água nos drenos superiores de alívio. Estas análises confirmavam a presença de<br />

pirita no agregado do concreto e nas fundações. A combinação da presença deste<br />

mineral com a reatividade da água do reservatório (baixo teor de solutos) foi<br />

apontada como principal causa da degeneração da estrutura de concreto. As<br />

principais patologias observadas foram reações com pirita. A partir destas<br />

conclusões a solução indicada foi a implantação de uma barreira impermeável<br />

evitando o contato entre a água do reservatório e o maciço de concreto.<br />

Os trabalhos de injeção foram suspensos e um trecho piloto de 4,2m de parede<br />

diafragma por furos secantes for construído com finalidade de testar e<br />

experimentar o método.<br />

Análise da Situação<br />

CONDIÇÕES TÉCNICAS<br />

Após estas três intervenções sem resultados satisfatórios, agora contando com um<br />

estudo mais aprofundado do problema desenvolvido pela Junta de Consultores, a


CAESB decidiu recuperar plenamente a barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>. Com base<br />

nas conclusões apresentadas pela Junta de Consultores, observando o aumento dos<br />

problemas na estrutura da barragem, a CAESB começou a procurar alternativas<br />

técnicas para recuperar a barragem, no intuito de licitar as melhores opções.<br />

Fotos 1.a (esquerda) e 1.b (direita): A. Paramento de jusante do Bloco “O” danificada por reação<br />

do agregado (Set. 1999); B. Reação Álcali - Agregado na parede de montante da galeria de<br />

inspeção (Set. 1999)<br />

Requisitos Básicos<br />

Foram impostos pela contratante cinco requisitos básicos para o estudo de<br />

alternativas para a recuperação da barragem:<br />

1) O método de recuperação deve impedir o acesso de água ao maciço de<br />

concreto da barragem e fundações;<br />

2) O abastecimento de água deve ser mantido integralmente durante os<br />

trabalhos de recuperação;<br />

3) A qualidade da água deve ser mantida integralmente durante os trabalhos<br />

de recuperação;<br />

4) Deve ser possível testar a eficiência do método por seções ou blocos<br />

durante a execução dos trabalhos de recuperação;<br />

5) Não seriam aceitas soluções baseadas na aplicação de injeções.<br />

MÉTODOS PROVÁVEIS<br />

Após a definição das condições da técnicas e requisitos básicos, quatro principais<br />

métodos de recuperação foram selecionados liminarmente. Um baseado na<br />

experiência piloto com parede diafragma por furos secantes realizada em 1993 e os<br />

três demais baseados na aplicação de barreira de geomembrana com algumas<br />

variações conforme ilustrado a seguir:


A – Alternativa 1:<br />

Parede Diafragma através do<br />

maciço de concreto e<br />

contato c/ fundaçoes<br />

B - Alternativa 2 :<br />

Manta de Geomembrana<br />

aplicados por<br />

Campânulas<br />

C - Alternativa 3 :<br />

Manta de Geomembrana<br />

aplicada com uma<br />

ensecadeira a montante<br />

D - Alternativa 4 :<br />

Manta de Geomembrana<br />

combinada com um tapete<br />

de concreto subaquático<br />

Figura 3, ilustração das técnicas de recuperação pré selecionadas: A. Parede diafragma por furos<br />

secantes executada a partir da crista, perfurada próxima ao paramento de montante, penetrando até<br />

5m nas fundações rochosas; B. Barreira de Geomembrana aplicada no paramento de montante,<br />

aplicada com o auxílio de dispositivos do tipo campânula, desde a cota de N.A. máximo até o<br />

fundo do reservatório; C. Barreira de Geomembrana aplicada no paramento de montante, a seco,<br />

após a execução de uma ensecadeira a montante; D. Barreira de Geomembrana com aplicação<br />

subaquática, abrangendo desde a cota de N.A. máx. até o fundo do reservatório, combinada com<br />

um tapete de concreto para a proteção do contato e fundações.<br />

Metodologia Adotada<br />

As alternativas de aplicação por campânula e através da ensecadeira foram excluídas<br />

(alternativas B e C, ilustradas na figura 3 acima). Estas foram desconsideradas por não<br />

possibilitarem garantia plena de manutenção do abastecimento e qualidade da água ao<br />

longo dos trabalhos de recuperação, além de não contemplarem qualquer tipo de<br />

tratamento ou proteção às fundações. Após seleção preliminar, a CAESB decidiu licitar as<br />

alternativas de diafragma por furos secantes e a aplicação subaquática de manta<br />

geomembrana(alternativas A e D). A empresa ECL Engenharia e Construções Ltda.<br />

venceu a concorrência oferecendo proposta para execução da obra através da metodologia<br />

descrita neste trabalho. O custo apresentado para esta opção foi muito mais baixo do que o<br />

orçado para aplicação subaquática de barreira de geomembrana.


Conceito do Processo<br />

O conceito do processo se baseia na inserção de uma parede diafragma impermeável no<br />

interior do maciço de concreto a 70 cm da face do paramento de montante (ver fig. 4.b,<br />

abaixo). O diafragma é executado a partir da crista da barragem sem qualquer<br />

interferência na água do reservatório, necessidade de rebaixamento do nível d’água ou<br />

obstrução na tomada d’água. Os furos secantes são executados seqüencialmente por<br />

perfuratrizes guiadas por gabaritos especialmente desenvolvidos (ver fig. 4.a, abaixo). A<br />

seqüência de perfuração compõe painéis de até 2,60 m de comprimento. A espessura<br />

mínima aceitável para o painel perfurado é de 50 mm. A garantia da espessura mínima é<br />

testada mecanicamente e filmada em VHS por equipamento subaquático. Após a conclusão<br />

de um painel o trecho é preenchido através da aplicação subaquática de argamassa. Após o<br />

preenchimento com argamassa de um painel, o último furo é reperfurado e, a partir dele, é<br />

iniciada nova seqüência. Durante o processo de perfuração os painéis são mantidos cheios<br />

d’água com o objetivo de se equilibrar as pressões entre o painel aberto e o reservatório.<br />

Figuras 4.a (esquerda) e 4.b (direita): A. seqüência de perfuração , B. seção transversal com inserção do<br />

diafragma<br />

AVALIAÇÕES INICIAIS<br />

Antes do início dos trabalhos de implantação do diafragma, vários testes, análises e<br />

cálculos de estabilidade adicionais foram realizados. O escopo destes trabalhos adicionais<br />

abrangia ensaios de permeabilidade, capilaridade, resistência a compressão e tração de<br />

corpos de prova moldados com o traço de argamassa de projeto e com corpos de prova<br />

colhidos através de testemunhos de sondagem rotativa efetuada no trecho de diafragma<br />

piloto construído em 1993. Também foram efetuados ensaios de tração entre a interface<br />

dos materiais: nova argamassa especial do diafragma com o antigo concreto do maciço da<br />

barragem. Estes ensaios buscavam determinar a coesão e aderência entre os materiais.<br />

Foram realizados também cálculos adicionais e complementares de estabilidade;<br />

considerando a hipótese extrema de rompimento da pequena seção compreendida entre a


superfície do paramento de montante e o diafragma. Tais estudos foram efetuados em<br />

atendimento a um pedido de verificação adicional por parte CAESB quanto aos possíveis<br />

efeitos da ação deteriorante da água do reservatório e seu alto poder de solubilidade (baixa<br />

taxa de sólidos em suspensão), sobre esta parcela do maciço que permaneceria exposta. Tal<br />

preocupação foi dissipada também pela constatação de que mesmo permanecendo em<br />

contato com a água, esta parte do maciço tem os efeitos reativos drasticamente reduzidos<br />

após a implantação do diafragma uma vez que a reação deixa de ser renovada,<br />

estrangulando o lixiviamento. Também foram efetuados testes de laboratório simulando a<br />

aplicação subaquática da argamassa com traço previsto em projeto para verificação da<br />

possibilidade de segregação.<br />

ASPECTOS CONSTRUTIVOS E LOGÍSTICOS<br />

Os trabalhos foram realizados através de dois grupos principais de atividades, as equipes<br />

de perfuração e de aplicação de argamassa subaquática:<br />

Perfuração<br />

As atividades de perfuração foram executadas com perfuratrizes equipadas com martelos<br />

de fundo (DTH – Down The Hole), guiados por um gabarito especial de alinhamento<br />

desenvolvido especialmente para este projeto. Os equipamentos de perfuração tiveram que<br />

ser fabricados e adaptados especificamente para este projeto para que as torres de<br />

perfuração pudessem estar alinhadas exatamente sobre o eixo do diafragma.<br />

O escopo incluiu 70.000 metros de perfuração de furos em diâmetros de 6” e 6 ½”<br />

executados ao longo de 18 meses de trabalho em dois turnos. Foram utilizadas<br />

perfuratrizes de porte médio a elevado com massa entre 6,0 e 11,0 toneladas. No período<br />

de pico, chegaram a trabalhar cinco perfuratrizes simultaneamente sobre a crista da<br />

barragem e vertedouro. O trecho mais profundo atingiu 38 metros de profundidade, no<br />

Bloco “I”, a profundidade media de perfuração foi de 22 metros. Foram utilizadas hastes<br />

de maior diâmetro do que usualmente é utilizado para esta faixa de diâmetro de furo<br />

(hastes de 4”). A maior rigidez da composição evita que a flexão das hastes de perfuração<br />

comprometa o alinhamento. Diversos tipos de bits de foram testados durante as obras,<br />

sendo que os tipos côncavo e drop center foram os que apresentaram a melhor<br />

performance e alinhamento. O gabarito guia foi construído através da usinagem de tubos<br />

mecânicos pesados por industrias especializadas. A seqüência de perfuração apresentada<br />

acima na figura 4.a, consiste na perfuração cuidadosa do primeiro furo que passa a<br />

trabalhar como guia para os demais com o uso do gabarito. Além de guiar os furos<br />

subseqüentes, o gabarito também tem como função evitar a sua superposição.<br />

Aplicação de Argamassa<br />

A aplicação de argamassa foi feita em processo subaquático com tubo tipo tremie a partir<br />

da crista, trabalhando conectado diretamente à linha de bombeamento de argamassa. O<br />

bombeamento da argamassa foi efetuado a partir de bombas posicionadas junto aos<br />

caminhões betoneira estacionados nas praças de concretagem posicionadas ao lado das


ombreiras da barragem. Para as bombeamentos a distâncias superiores a 100 metros foram<br />

utilizadas duas bombas dispostas em série.<br />

Dois principais problemas operacionais tiveram que ser superados:<br />

O volume total de concreto não era suficientemente grande para viabilizar a instalação de<br />

uma central de concreto no canteiro de obras;<br />

A distância do local das obras até a central de concreto mais próxima (aprox. 60 Km) era<br />

muito elevada, comprometendo mais de 50% da vida útil da argamassa durante a viagem.<br />

A solução adotada foi a construção de um depósito de cimento e rampa de dosagem no<br />

canteiro de obras. Com a adoção destes dispositivos simples, foi possibilitada a dosagem<br />

de cimento e aditivos no momento da aplicação diretamente nos caminhões betoneira já<br />

carregados e dosados com areia e água. Estes procedimentos de dosagem de cimento no<br />

canteiro de obras encerraram os problemas de vida útil da argamassa a contribuíram para a<br />

obtenção de um melhor controle de qualidade.<br />

Qualidade da Água<br />

CONTROLES DE QUALIDADE E PROCESSO<br />

O abastecimento de água a partir do Sistema do Reservatório do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong> é efetuado<br />

a partir de tomada d´água localizada no paramento de montante do bloco “ H”. A água é<br />

bombeada através de uma adutora de aço carbono soldada, com diâmetro de 48” até uma<br />

estação de tratamento de água (ETA <strong>Descoberto</strong>) cerca de 5Km adiante. Ao entrar na<br />

Estação de Tratamento de Água, as taxas de turbidez, coloração e coliformes são<br />

continuamente controladas através de testes em laboratório. Estes índices se mantiveram<br />

estáveis durante o andamento da recuperação. Amostras de água do reservatório também<br />

foram coletadas em pontos próximos à crista e analisadas durante a execução das obras,<br />

inclusive para controle de turbidez e taxa de partículas sólidas em suspensão. A taxa de<br />

partículas em suspensão se apresentou bastante baixa, como é normal em reservatórios em<br />

altitudes mais elevadas. Todas as analises efetuadas demonstraram que a qualidade da água<br />

do reservatório não foi afetada durante o desenvolvimento dos trabalhos de recuperação.<br />

Controle de Vazões nos Pontos de de Vazamento<br />

Desde o início dos trabalhos, as vazões no paramento de jusante e interior da galeria de<br />

inspeção passaram a ser monitoradas periodicamente.No paramento de jusante foram<br />

instaladas canaletas de madeira, formando um canal de coleta descarregando em um só<br />

ponto de medição. No interior da galeria de inspeção as medições de vazão foi realizado<br />

diretamente a partir dos drenos de alívio de pressões internas superiores. O cálculo das<br />

vazões foi realizados com recipientes graduados e cronômetros. Ao longo da obra as<br />

vazões foram reduzidas drasticamente (decréscimo de 99%). O tópico “Análise de<br />

Comportamento” abaixo, apresenta algumas considerações adicionais sobre redução de<br />

vazões.


Continuidade do Diafragma<br />

A continuidade dos painéis do diafragma foi testada mecanicamente e através de sistema<br />

de filmagem subaquática em VHS. O teste de controle mecânico é realizado através da<br />

inserção de uma placa metálica com a espessura mínima permitida para o diafragma. Esta<br />

placa metálica é sustentada por duas cordas; o procedimento é realizado manualmente para<br />

assegurar a sensibilidade necessária. Caso haja qualquer tipo de obstrução ou<br />

descontinuidade no painel de diafragma aberto, a placa é impedida de avançar até o fundo,<br />

evidenciando o problema. Se o teste mecânico não for suficiente ou persistirem dúvidas<br />

após sua realização é então utilizado o sistema de filmagem subaquática em VHS para<br />

inspeção do trecho sob suspeição. Este sistema VHS também foi utilizado para verificar e<br />

registrar o contato entre painéis adjacentes.<br />

Controle de Argamassa<br />

Além das análises e ensaios realizados antes do início das obras, durante o andamento do<br />

projeto toda a argamassa aplicada foi controlada e testada. Os controles foram realizados<br />

com moldagem de 10 corpos de prova cilíndricos para cada caminhão betoneira (capac. 6<br />

m3/ caminhão). Dos dez corpos de prova, quatro eram ensaiados à compressão aos 4 dias,<br />

quatro aos 28 dias e os dois remanescentes permanecendo como testemunhos etiquetados<br />

com todos os seus dados registrados. A resistência média à compressão atingida foi de 27<br />

MPa. Também foram realizadas séries de testes e ensaios aos 3 dias, 7 dias, 28 dias e 63<br />

dias para avaliação da evolução da resistência à compressão.<br />

CRONOLOGIA DE CONSTRUÇÃO<br />

Os trabalhos de perfuração foram iniciados pelo Bloco “Q” em setembro de 2000; este foi<br />

o primeiro bloco a ser concluído em janeiro de 2001. A média mensal durante a perfuração<br />

foi de 5.000 metros por mês e, no período de pico (junho de 2001), foi atingida a marca de<br />

8.000 metros perfurados em 30 dias, trabalhando com cinco perfuratrizes simultaneamente.<br />

Figura 5: Cronograma de Execução


AVALIAÇÃO DE COM<strong>PORT</strong>AMENTO<br />

FotosComparativas<br />

Fotos 2.a (esq.) e 2.b (direita): A. bloco “O” em Set. de 1999, B. bloco “O” em Nov. de 2001 após<br />

recuperação. Nota: O bloco “O” era o bloco mais afetado e de maior vazão no paramento de jusante.<br />

Comentários e Conclusões<br />

Desde o início dos trabalhos de recuperação da Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>, as vazões em<br />

todos os pontos de vazamento da barragem vem sendo monitoradas e em todos os blocos<br />

concluídos até janeiro de 2002 (todos exceto o bloco “I”), a vazão total foi reduzida de 34<br />

l/s para 0,3 l/s. O único bloco ainda sob recuperação em janeiro de 2002, já apresentava<br />

redução de vazão de 15 l/s para 2,0 l/s, medidas até este momento, com apenas 80% da<br />

parede diafragma implantada neste bloco. Os primeiros blocos concluídos em Janeiro e<br />

Fevereiro de 2001, mantém a mesma taxa de eficiência desde então sem terem sofrido<br />

qualquer tipo de manutenção.<br />

O método atendeu a todos os requisitos técnicos apresentados pelo proprietário da<br />

barragem, preservando plenamente a qualidade da água do reservatório ao longo de seu<br />

desenvolvimento. A capacidade de abastecimento de água por parte da CAESB também foi<br />

mantida durante todo o curso das obras, sem qualquer tipo de problemas ou transtornos aos<br />

habitantes da Capital do País.<br />

REFERÊNCIAS<br />

- “Sistema de Recuperação do Maciço da Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>”, <strong>Correa</strong>,<br />

Marianne, Eng., Monografia orientada por Campolina, Antonio Moreira, Prof. Eng.,<br />

Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, 05/2001, UnB.


-“Relatório Consolidado de Obras”, Kffuri, Marcos, Eng., Potiguara, Magno, Eng., ECL<br />

Engenharia e Construções Ltda., Brasília, Brasil, 11/2001, Caesb.<br />

-“Relatório de Visita e Recomendações técnicas para a Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>”,<br />

Junta de Consultores, Mello, Victor F.B., Prof. Dr. PhD, Andriolo, Francisco, Eng., Paceli,<br />

Walton, Eng., Brasília, Brasil, 12/1999,Caesb.<br />

-“ Ensaios com Testemunhos de Argamassa e Concreto”, Pacelli, Walton ,<br />

Eng.Bittencourt, Rubens M., Eng., Albuquerquem Albéria Cavalcanti, Eng. MSc.,<br />

Laboratório de Furnas, Goiania, Brazil, 06/2001, Caesb.<br />

- “Estudo da influência da Pirita nos agregados calcareos para a Barragem do <strong>Rio</strong><br />

<strong>Descoberto</strong>”, Petrucci, Eladio Eng., Basílio, Francisco Assis, Geotécnica , Brasília, Brasil,<br />

12/1972, Caesb.<br />

-“Análise de amostras da Barragem do <strong>Rio</strong> <strong>Descoberto</strong>”, Sigolo, Prof. Dr.; Assumção,<br />

J.C.B, Geólogo, São Paulo, Brasil, 02/1995 Caesb.<br />

- “Relatório referente a análise de sedimentos G (Galeria) e R (Reservatório) visando<br />

caracterização mineral”, Sigolo, Prof. Dr.; Assumção, J.C.B, Geólogo, São Paulo, Brasil,<br />

06/1993, Caesb .

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