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Revista Curinga Edição 19

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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A <strong>Curinga</strong> conversou com Daniel da Mota Neri, professor do Instituto<br />

Federal de Minas Gerais (IFMG), em Ouro Preto, e integrante do Grupo de<br />

Estudos e Pesquisas Socioambientais (GEPSA). Formado após o rompimento<br />

da barragem de Fundão, reune professores de diferentes áreas<br />

de estudo, tanto do IFMG quanto da Universidade Federal de Ouro Preto<br />

(UFOP). O intuito é colaborar com a sociedade, debatendo efeitos sociais,<br />

econômicos, jurídicos e ambientais.<br />

Opinião<br />

Desastre em<br />

questão<br />

Texto: Lillian Indrusiak e débora mendes<br />

Foto: Pedro Guimarães<br />

Arte: Mariana Ferraz<br />

<strong>Curinga</strong>: Qual a proposta de trabalho desenvolvida pelo grupo?<br />

Daniel: O GEPSA nasceu com o objetivo de contestar uma postura de<br />

naturalização da tragédia, com a tentativa de transformar o rompimento<br />

da barragem em acidente e também tirar a culpa da ciência por trás<br />

da construção de barragens, o que chamamos de mito da “neutralidade<br />

da ciência”, algo que mostramos que deve ser combatido na sociedade.<br />

Fomos nos organizando e, em março de 2016, viramos um grupo, que<br />

procura discutir as questões sociocientíficas. Atuamos em três áreas: na<br />

licenciatura, com projetos de extensão; na arquitetura, com o reassentamento<br />

dos atingidos, especialmente em Gesteira, distrito duramente<br />

atingido; e nos direitos humanos.<br />

<strong>Curinga</strong>: Quais outros grupos de pesquisa têm estudado o<br />

rompimento da barragem?<br />

Daniel: Os grupos mais relevantes são o Grupo de Estudo e Temáticas<br />

Socioambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (Gesta-<br />

UFMG) e o Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade<br />

da Universidade Federal de Juiz de Fora (Poemas-UFJF), que já trabalhavam<br />

para as questões ligadas à economia e a atividade minerária, com<br />

professores bem atuantes. O Gepsa seguiu essa linha de pensamento.<br />

<strong>Curinga</strong>: Quais foram os maiores impactos ambientais ocasionados<br />

com o derrame da lama?<br />

Daniel: De acordo com relatórios produzidos, a degradação absoluta<br />

do Rio Doce, em toda a sua extensão, e a destruição da mata ciliar dos rios<br />

Gualaxo e Ribeirão do Carmo, que estão com níveis altíssimos de arsênio<br />

(metal pesado tóxico). Outro impacto é em relação ao uso da água em<br />

Governador Valadares, outra cidade afetada.<br />

<strong>Curinga</strong>: É possível conciliar o “bem estar” ambiental com a<br />

prática mineradora?<br />

Daniel: Não, na forma como está o Estado brasileiro, não. Pois é um<br />

Estado frágil, não há poder para fazer cumprir o Código Ambiental brasileiro<br />

existente. A Samarco teve <strong>19</strong> autuações, como denúncias de rachamentos.<br />

Sendo que nada aconteceu com a empresa. Continuará sendo<br />

uma atividade extrativista. É impossível. É tolice.<br />

<strong>Curinga</strong>: Do rompimento até agora, já houve alguma mudança<br />

significativa?<br />

Daniel: Nada, nada de positivo. Tudo de mais barato e o mínimo<br />

possível de ajuda, com enganações, experiências de assentamento com a<br />

lama, propiciando doenças de pele e respiratórias. Não houve reconstrução<br />

de nenhum dos subdistritos atingidos. Eles [empresa] protelam.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>19</strong><br />

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