Fevereiro /2018
Mariana
Revista Histórica e Cultural
A Mariana - Revista Histórica e Cultural é
uma publicação eletrônica da Associação
Memória, Arte, Comunicação e Cultural de
Mariana. O periódico tem o objetivo divulgar
artigos, entrevistas sobre a cidade de Mariana.
A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos
de pesquisadores. Mostrar a cultura de uma
forma leve, histórias e curiosidades que marcaram
a história e a cultura da primeira cidade de
Minas.
Mariana - Revista Histórica e Cultural Revista
Belas Artes é um passo importante para a
divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a
cidade de Mariana. Esperamos que os textos
publicados contribuam para a formação de uma
consciência de preservação e incentivem a
pesquisa.
Os conceitos e afirmações contidos nos artigos
são de inteira responsabilidade dos autores.
Colaboradores:
Prof. Cristiano Casimiro,
Prof. Vitor Gomes,
,
Agradecimentos:
Arquivo Histórico da Câmara de Mariana
IPHAN - Escritório Mariana
Arquivo Fotográfico Marezza
Museu da Música de Mariana
Prof. Aldo Eustáquio Assir Sobral
Mons. Flávio Carneiro
Fotografias:
Cristiano Casimiro e Márcio Souza
Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro
Capa: Bandeira Praça Minas Gerais- Mariana -MG
Associação Memória Arte Comunicação e Cultura
CNPJ: 06.002.739/0001-19
Rua Senador Bawden, 122, casa 02
Índice
VOZES LATINAS EM MARIANA
Tradução de Texto Epigráficos Latinos de Mariana
DOM SILVÉRIO GOMES PIMENTA
Primeiro Arcebispo de Mariana
A "MARVADA" CACHAÇA
A história da Cachaça em Minas
07
19
25
Cristiano Casimiro
A Deus Optimo Máximo
A Ordem Terceira Seráfica, as suas expensas, cuidou que este templo fosse construído e
dedicado a São Francisco de Assis, sendo Papa Clemente XIV, no Reinaldo de José I, o
Reformador, O exmo. Senhor Dom Manuel da Cruz, Primeiro Bispo desta Diocese,
colocou a primeira pedra no ano Salvador de 1763. Tradução Mons. Flávio Carneiro.
Cristiano Casimiro
Quem é essa que desponta
como a aurora
Cristiano Casimiro
Bela como a lua.
Eletrica (vibrante)
como o sol.
Terrível como um exército
preparado (para a batalha)
VOZES LATINAS
Tradução de Texto Epigráficos Latinos de Mariana
07
Andando pelo centro histórico der Mariana
não é difícil encontrar palavras escrita em
Latim, geralmente, as palavras ou frases
aparecem em emblemas ou símbolos de
instituições. Nas fachadas das Igrejas e
capelas, em prédios públicos, chafarizes,
pontes ou em cemitérios. Muitas das vezes
são pouco percebidas, mas nos mostram a
importância do Latim no passado de nossa
cidade e um sistema muito eficiente de
comunicação usando a linguagem a arte da
cantaria em pedra e da pintura.
Provavelmente, estas inscrições, sirvam para
explicar as passagens bíblicas, glorificar um
feito histórico ou mesmo marcar a data de um
monumento. Facilmente podemos observar
então, que o Latim está muito vivo em nosso
cotidiano, seja em qual for à relação comunicativa.
A língua morta o latim não tem nada. Vejam,
por exemplo, quantas expressões são usadas
em Direito. Quem nunca ouviu falar de habeas
corpus? De alibi? De data venia? Quem nunca
mandou um curriculum vitae? Quem nunca
ouviu falar de renda per capita? Ou ouviu que
alguém é doutor honoris causa? Ora, isso
também é latim. Essa antiga língua de Roma
está nas tecnologias mais modernas, está na
fecundação in vitro.. Mesmo muitas palavras
importadas do inglês remontam ao latim: na
Informática usa-se o verbo deletar, do inglês to
delete, que vem, por sua vez, do verbo deleo
em latim, que significa “destruir”.
O saber latim facilita na compreensão de
muitos termos presentes em textos científicos,
teológicos, filosóficos e direito, além de ser o
ponto de partida para muitas línguas; como,
por exemplo, português, italiano, francês,
romeno, espanhol, dentre outros; que são
idiomas que tem sua origem no latim, porém,
além destes, muitas outras línguas possuem
termos provenientes de tal. Das palavras que
nosso país e Portugal falam, 80% são de
procedência latina.
Pag.: 06 - Pintura do teto nave da Sé de Mariana Os versos são do Cânticos dos cânticos é o quarto
livro da terceira seção (Ketuvim) da Bíblia hebraica e um dos livros poéticos e sapienciais do
Antigo Testamento da Bíblia cristã. Quem é essa que desponta como a aurora, bela como a lua, fulgurante
como o sol? Terrível como um exercito preparado. (para batalha). Tradução Mons. Flávio Carneiro.
Cristiano Casimiro
História
O latim integra as línguas itálicas e seu alfabeto
baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado
do alfabeto grego. No século IX a.C. ou VIII
a.C., o latim foi trazido para a península Itálica
pelos migrantes latinos, que se fixaram numa
região que recebeu o nome de Lácio, em torno
do rio Tibre, onde a civilização romana viria a
desenvolver-se.
Os falantes do latim eram chamados latinos e
isso se deve ao fato de eles morarem na antiga
região italiana de Lácio (Latium em latim).
Além desta língua, outras ainda eram faladas
naquela época e naquele local, como, por
exemplo, o grego; porém, como o foco aqui é o
latim, vale ressaltar que este era dividido em
sermourbanus e sermovulgaris, respectivamente
usados pela classe alta e baixa.
O Latim Popular – Vulgar não se apegava a
regras gramaticais e era utilizado pelo povo e,
principalmente, pelos soldados romanos. Já o
Latim Clássico era uma língua erudita e estava
presente entre as pessoas letradas. Como o
primeiro era falado pela massa, foi ele que se
disseminou e se deixava influenciar pela
língua dos que o adotavam; até porque as
classes inferiores da Sociedade Romana eram
bastante numerosas. Enquanto o segundo
manteve-se estático, tendo em vista que
escritores e outros poucos usufruíam deste,
pois fugia do cotidiano da maioria.
Além destes dois, ainda existe uma terceira
classificação, que é o Latim Eclesiástico, ou
seja, a parte cristã da Língua Latina, aquela
que reflete o período de expansão do
Cristianismo no Império Romano. Santo
Agostinho foi e ainda é um grande nome
daqueles tempos e que representa tal fase.
Concluindo as variações do Latim, este não
pode ser acrescido de dialetos, tendo em vista
que suas raízes foram acrescidas de diferenças
linguísticas populares e particulares de
outras línguas e, a partir destas misturas e
adições, outros idiomas autônomos foram
criados e transformados.
Quanto à sua evolução, a Língua Latina passou
por muitas mudanças. Iniciando pelo Latim
pré-histórico, que vem antes dos registros
escritos. Seguido pelo Latim proto-histórico,
que constava nos primeiros documentos da
língua. Logo vem o Latim arcaico, que não tem
um vocabulário muito extenso e esteve presente
em alguns textos literários. O Latim
Clássico é “pai” de grandes obras literárias e
sua língua é bastante erudita. O Latim Vulgar
foi o falado pela maioria, ou seja, pelas classes
mais baixas. Finalizando com o Latim pósclássico,
uma junção do quarto e quinto.
A língua latina ou latim é uma antiga língua
indo-europeia do ramo itálico originalmente
falada no Lácio, a região do entorno da cidade
de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente
na Europa Ocidental, como a língua
oficial da República Romana, do Império
Romano e, após a conversão deste último ao
cristianismo, da Igreja Católica Romana.
Através da Igreja Católica, tornou-se a língua
dos acadêmicos e filósofos europeus medievais.
Por ser uma língua altamente flexiva e
sintética, a sua sintaxe (ordem das palavras) é,
em alguma medida, variável, se comparada
com a de idiomas analíticos como o português,
embora em prosa os romanos tendessem a
preferir a ordem SOB (Sujeito, Objeto e Verbo).
A sintaxe é indicada por uma estrutura de
afixos ligados a temas. O alfabeto latino,
derivado dos alfabetos etrusco e grego (por
sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua
a ser o mais amplamente usado no mundo.
Papa Clemente V - Teto da igreja de São Francisco
Venerabilis Ordo -Venerável Ordem
09
Pag.: 08 - Na Igreja de São Francisco de Assis de Mariana há várias frases em Latim pintada no teto
da Nave central. São frase retiradas do antigo testamento como do Gênesis e Eclesiastes. E
referência ao Papa Honório III ( 1216-1227) que confirmou a Ordem dos Franciscanos.
Pintura do teto da Sacristia da Igreja de São Francisco de Assis atribuida a Mestre Athayde.
Agonia e Morte de São Francisco de Assis
Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus Santos
Cristiano Casimirio
Cristiano Casimiro
Como a vida lancei flores dum agradágel odor: e as minhas flores dão fruto de honra e honestidade.
Tradução Mons. Flávio Carneiro.
O Projeto
O Prof. Dr. Aldo Eustáquio Assir sobral (exprofessor
da Universidade Federal de Ouro
Preto) desenvolveu projeto “ Vozes Latinas
dos Monumentos Sacros de Mariana e Ouro
Preto”. Neste trabalho o professor catalogou
diversas epígrafes (citação de um pensamento,
de uma frase ou de um provérbio em Latim)
que aparecem em monumentos de nossa
cidade.
A pesquisa do professor é inédita, pois até
apresente data, não foram encontradas obras
publicadas sobre o assunto, no sentido de
coleta, catalogação e sistematização do texto
epigráficos sobre qualquer enfoque: histórico,
religioso, artístico ou literário. A pesquisa inclui
tanto as inscrições em monumentos sacros
quanto civis.
As inscrições podem ser classificadas,
segundo o professor, em: Inscrições em
monumentos religiosos igrejas e oratórios
(parte interna de altares, púlpitos, forros,
sacristias e outros), na parte externa de
edifícios (frontispícios, fachadas, inscrições
tumulares em igrejas e capelas e cemitérios);
Inscrições em Monumentos civis (fachadas,
de instituições civis e educacionais, chafarizes,
museus, pontes, placas comemorativas,
brasões e objetos diversos).
Foi observado pelo pesquisador que as
inscrições religiosas são mensagens que
aparecem pintadas ou esculpidas nos nichos
dos altares, ornamentos da pintura do teto,
nos púlpitos, frontispícios, sacristias e cemitérios.
São cheias de esplendor, ricas em textos
de recitação dos Salmos que evocam a fé, o
amor e a esperança.
”Estes textos adornam com muita graça e
vigor o espaço que lhes é reservado e integram
um conjunto harmonioso, ressaltando
–lhe a qualidade estética pela mensagem que
o acompanha. A Composição dos textos
latinos sacros é recheada de Antífonas,
Versículos, Hinos e outras modalidades
litúrgica” explica professor Aldo Sobral.
A preservação deste material é muito importante,
pois muita registro , devido ao tempo,
estão apagando ou e estado de deterioração
do suporte ( pedra , madeira, do coloração da
pintura), como o caso específico das pinturas
da Igreja de Nossa Senhora Rainha dos Anjos
Confraria de São Francisco dos Cordões que
não há condições de leitura das inscrições
devido ao estado da pintura.
A catalogação, registro e tradução já foi feita,
para o ano de 2018 o professor Aldo Sobral
pretende lançar um livro ilustrado e explicativo
sobre o tema.
”Trazer as informações destes epigramas e
traduzir, corretamente , esses textos para a
população de Mariana e Minas é mostrar ,
mais umas das riquezas da cultura Mineira”
finaliza o Prof . Aldo Sobral.
Pintura no interior da Igreja de São Francisco de Assis.
Quem come o meu corpo, e bebe o meu sangue (diz Cristo) está em mim, e eu estou nele.
Cristiano Casimiro
Tipos de Epígrafos Encontrados
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A Epigrafia latina é um ramo da Epigrafia que
estuda as inscrições romanas em materiais
mais duráveis como pedra, metal, argila e
outros escritas na língua latina.
Existem quatro tipos de epígrafes: as epígrafes
funerárias, dedicadas aos mortos; as
epígrafes votivas ou religiosas, dedicadas aos
deuses; as epígrafes honoríficas, dedicadas a
uma figura importante, como um imperador por
exemplo; e por último as epígrafes monumentais,
que estão presentes em monumentos.
Essas quatro categorias podem estar juntas
em uma mesma epígrafe, como por exemplo
uma epígrafe que é monumental e ao mesmo
tempo honorífica: uma epígrafe presente em
um monumento de algum imperador cujo
conteúdo é dedicado especificamente a ele se
torna também uma epígrafe honorífica.
Epígrafe funerária
São as epígrafes mais abundantes. Os principais dados
geralmente presentes nas inscrições funerárias são a
invocação dos deuses manes; seguido da identificação
do morto junto com a idade em que o dedicado veio a
falecer; em seguida a identificação dos dedicantes
seguida de "F(aciendum) C(uravit ou uraverunt)", que
significa "mandou ou mandaram fazer"; por fim encontrase
as inscrições "H. S. E." (aqui jaz) (terra lhe seja leve).
Em Mariana existem várias, principalmente, na
cripta dos Bispos e Arcebispos na Sé de
Mariana, na Capela de Nossa Senhora da Boa
Morte e em outras Igreja e capelas. Abaixo
Epígrafe do túmulo de Monsenhor Horta na
Igreja de Nossa Senhora das Mercês.
Cristiano Casimiro
Afligiu-se pelos carentes que sempre deviam ser alimentados/
Alcançou todos os páramos celestes/
Os corações saúdam aquele ( ali foi) acolhido depois da morte.
Tradução Mons. Flávio Carneiro
Cristiano Casimiro
Cristiano Casimiro
Epígrafe honorífica
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ja a descrição abaixo)Os elementos
encontrados nas epígrafes honoríficas são a
identificação do dedicado acompanhado das
inscrições dos cargos em que ocupou,
podendo ou não possuir elogios sobre o seu
trabalho, em seguida o motivo da homenagem,
também há a identificação dos dedicantes e de
que forma obtiveram fundos para a construção
da epígrafe; no final pode haver ou não uma
inscrição que mostra a intervenção direta das
a u t o r i d a d e s m u n i c i p a i s " D ( e c r e t o )
D(ecurionum)", ou, pode conter as seguintes
inscrições "H(onore) C(ontentus) I(mpensam)
R(emisit)" que demonstram o contentamento
do homenageado, levando-o a pagar as
despesas da construção da epígrafe.
Um exemplo é a pedra fundamental do
Seminário São José de Mariana. Este epífrafe,
que está na parte externa do prédio do
Seminário, feito em esteatito ( pedra sabão)
possui um enigma. O Padre Pedro Sarnell
usou da matemática e de muita habilidade
lingüística para inserir a data pedra fundamental
do seminário em no texto em Latim. Os
numerais romanos são ,também, letras, assim
o padre Sarnnel , sutilmente, colocou algumas
letras maiores que as outras. Separando
somente as letras que são proporcionalmente
maiores, podemos achar por duas vezes o
número 1928, data da colocação da pedra
fundamental. ( veja arte abaixo)
Esta pedra colocou Helvécio, interessado em bons abrigos
Aqui o aluno será nutrido com o alimento sagrado
Tradução Mons. Flávio
Cristiano Casimiro
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Epígrafe monumental
Os elementos encontrados nesse tipo de epígrafe geralmente são as circunstâncias, as datas,
as pessoas ligadas, e a divindade que estão homenageando na construção do monumento.
Inscrições Latinas em Brasões e Bandeiras
A heráldica refere-se simultaneamente à
ciência e à arte de descrever os brasões de
armas ou escudos. Na Idade Média, principalmente
na época da cavalaria, os escudos
passaram a simbolizar famílias, dinastias,
territórios e feudos, tanto na guerra como na
paz. Mais tarde, as propriedades, palácios e
objetos de família passaram a ostentar os
brasões de seus senhores, como símbolo de
poder, de nobreza, ou como mero distintivo,
símbolo de identidade. Com essa última
função passaram, os brasões, a distinguir
ordens religiosas, bispados, cidades e instituições.
Uma das partes do Brasão e a Divisa (Divisa:
é o lema da entidade representada. É colocado
num listel, sob o escudo). Um listel em
heráldica é uma pequena bandeirola ou
flâmula que se localiza por cima ou por baixo
do escudo de um brasão de armas. Possui
geralmente a cor branca, e contém dizeres
chamados de grito de guerra ou grito de
armas - uma palavra ou frase curta (interjeição)
de incentivo ao combate ou à ação. Estes
dizeres são muitas vezes escritos em latim.
Cristiano Casimiro
Os Brasões acima são de bispos de Mariana, o primeiro é de Dom Luciano : IN NOMINE IESU -
Em nome de Jesus, (Localizado na Casa do Brarão de pontal na rua direita) o outro é de
Dom Helvécio: SVSTINVIT CRVCEM - Sustentou a Cruz ( Aparece duas vezes: a Primeira no
seminário Saão José e a outra no antigo noviciado na rua Dom Silvério)
As Bandeiras de Minas e de Mariana, também,
possuem inscrições latinas. O Brasão de nossa cidade que
aparece na bandeira de Mariana tem a seguinte inscrição:
Urbs mea cellula mater – A minha cidade é célula-mãe.
A bandeira de Minas possui a seguinte frase:
Libertas quæ sera tamen - Liberdade ainda que tardia
Foto Colégio Marista Dom Silvério
Dom Silvério Gomes Pimenta
O Primeiro Arcebispo de Mariana.
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Neste ano de 2018, a Revista Mariana
Histórica e Cultural apresentará uma série de
materiais sobre personagens ilustre que
nasceram ou viveram em Mariana. Na nossa
cidade uma das principais ruas e uma das
mais famosas escolas homenageiam Dom
Silvério Gomes Pimenta o Primeiro Arcebispo
de Mariana.
Nascido em Congonhas do Campo, Dom
Silvério foi sacerdote, professor, orador sacro,
poeta, biógrafo, prelado, bispo e arcebispo de
Mariana.
A história de vida deste importante personagem
da nossa história pode ser comparada a
um filme hollywoodiano, nascido em 12 de
janeiro de 1840 em uma família humilde, seu
foi Antônio Alves Pimenta e sua mãe D.
Porcina Gomes de Araújo.De família de
ascendência africana, com seus quatro
irmãos, passou por especiais dificuldades,
sobretudo depois do falecimento de seu pai.
Um tio consegue que ele vá estudar no colégio
dos padres lazaristas em sua terra natal,
Congonhas. Arrimo de família, aos doze anos
foi trabalhar em uma casa de comércio.
Estudava à noite, à luz de lamparina. O colégio
onde estudava fechou. Silvério interrompe
seus estudos e emprega-se em uma sapataria.
Recorre então a seu padrinho, Dom
Viçoso, Bispo de Mariana, que o leva o menino
de 14 anos para o seminário Nossa
Senhora da Boa Morte em Mariana, pois o
desejo de ser padre e sua vida de piedade o
recomendavam como um vocacionado de
grande valor. Dotado de privilegiada inteligência
dedicou-se aos estudos e à vida espiritual
causando admiração em seus colegas e
formadores. Por ser pobre, trabalhou como
porteiro do seminário durante, depois como
professor de Latim, cadeira que ocupou
durante 28 anos. Além de Latim, foi professor
de Filosofia e História Universal.
Foi ordenado padre, por D. Viçoso, aos 22
anos, em 1862, na matriz de Sabará. Em 1864
foi à Europa, enviado por D. Viçoso. Em 1874,
ao falecer esse ilustre bispo, o padre Silvério
foi eleito vigário capitular, governando a
diocese até 1877. No ano seguinte, D. Antônio
Correa de Sá e Benevides, sucessor de D.
Viçoso, escolheu-o para vigário geral e
magistrado eclesiásticodo bispado. Como D.
Benevides estivesse sempre doente, D.
Silvério foi durante muito tempo o
sustentáculo do bispado, até que em 26 de
junho de 1890 foi nomeado bipo auxiliar de
Mariana. Foi sagrado em São Paulo por D.
Pedro Maria de Lacerda, em 31 de agosto de
1890. Foi o primeiro bispo sagrado depois de
proclamada a República.Participou do
Concílio Plenário Latino Americano em Roma
(1899).
Desde então, começou a escrever suas
célebres cartas pastorais. A primeira pastoral
traz a data de 24 de novembro de 1890 e a
última é de 10 de fevereiro de 1922.
Com a morte de D. Benevides, em 1896,
sucedeu a ele no bispado de Mariana. Em 16
de maio de 1897, já transferido de bispo titular
para efetivo de Mariana, fez sua entrada
solene na catedral dessa cidade. Nesse ato
tomaram parte o governador do Estado, Dr.
Bias Fortes, e outros representantes do
governo estadual.
Em 1906, o papa Pio X elevou a diocese de
Mariana a arquidiocese e o respectivo bispo,
D. Silvério, a arcebispo. O Cardeal Arcoverde
oficiou a cerimônia de imposição do pálio ao
novo arcebispo, tendo feito a oração
gratulatória o bispo de Petrópolis, D. João
Francisco Braga.
Papa Pio X que elevou a Diocese de
Mariana a Arquidiocese em 1906,
21
A Diocese de Mariana era quase todo o Estado
de Minas. Dom Silvério dedicou-se incansavelmente
ao pastoreio, através das visitas pastorais.
O veículo era o lombo do animal. Mas sua
atuação não se restringiu à Arquidiocese de
Mariana. Participou de uma Conferência
Episcopal em São Paulo, no início de século
XX, "tendo sido encarregado de redigir seu
famoso "Catecismo", obra completa e profunda,
publicada em 1903 e adotada por mais de
cinquenta anos em dioceses do Brasil" e
também em outros países. Homem de rara
cultura, Dom Silvério promoveu em Minas a
vida espiritual do povo e cuidou de criar colégios
para educação da juventude. Desfrutava de
grande prestígio em Roma que ele visitou por
mais de uma vez. De Leão XIII ele ganhou uma
foto com os dizeres: "Ao nosso venerável
irmão Silvério Gomes Pimenta, bispo de
Mariana, cujos serviços grandiosamente
prestados à Diocese nos são conhecidos,
como penhor de nossa benevolência, do
íntimo da alma lhe concedo a bênção apostólica".
A personalidade literária de D. Silvério ficou
marcada por seus livros e cartas pastorais,
gozando o arcebispo acadêmico da fama de
poliglota, conhecedor que era do Latim, Grego,
Hebraico, além das línguas vivas que usava
correntemente. Publicou poesias em Latim.
Sua obra maior é a Vida de D. Viçoso. Como
jornalista, D. Silvério fundou e dirigiu, vários
jornais em Mariana, O Bom Ladrão, O Viçoso,
O D. Viçoso e o D. Silvério, editados sob sua
orientação e dirigidos pelos padres Severiano
de Resende e Luís Espechit.
Os versos latinos, as cartas pastorais e os
artigos na imprensa granjearam-lhe fama,
sendo comparado ao padre Manuel Bernardes
e a Frei Luís de Sousa. E foi esse renome que o
levou à Academia Brasileira de Letras.
. Segundo ocupante da cadeira 19, foi eleito
em 30 de outubro de 1919, na sucessão de
Alcindo Guanabara, e recebido pelo acadêmico
Carlos de Laet em 28 de maio de 1920. Foi o
primeiro prelado brasileiro com assento entre
os escritores consagrados pela Academia
Brasileira de Letras.
Obras
Ÿ O papa e a revolução, sermões (1873)
Ÿ Peregrinação a Jerusalém (1897)
Ÿ D. Antônio Ferreira Viçoso, bispo de
Mariana, conde da Conceição (1876)
Ÿ A prática da confissão, estudos de moral e
dogma (1873)
Ÿ Cartas pastorais 1890-1922.
Também produziu diversos sermões, orações,
conferências, poesias latinas em periódicos.
Muito batalhou pela imprensa, com livros e
jornais (O Viçoso, Boletim Eclesiástico). À
custa de muitoempenho, conseguiu a preciosa
colaboração de religiosos que foram bem
acolhidos no bispado.Sagrou bispos e ordenou
207 padres. Com muitas iniciativas, lutou
para melhorar o patrimônio daArquidiocese,
visando sobretudo a manutenção do
Seminário. Seu nome permanece ainda
ornado demerecida honra e respeito.
Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues
Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues é arcebispo
metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba
Arcebispo de Mariana Dom Silvério
A antiga Rua Nova traçada por Alpoim, que é uma das principais do centro histórico, hoje
Rua Dom Silvério, foi uma das homenagens da cidade de Mariana ao seu primeiro Arcebispo
Marezza Photo - Arquivo
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Homenagens
A Importância de Dom Silvério é ímpar para
história de Minas e do Brasil. Citamos abaixo
algumas das homenagens feitas a este educador
, religioso e exemplo de superação:
Colégio Dom Silvério Sete Lagoas
O Colégio Dom Silvério, referência na cidade
de Sete Lagoas, iniciou suas atividades em
1922. Seus objetivos, sua missão e seu ideal
nasceram com o ardor missionário de
Monsenhor Messias de Sena Batista e estenderam-se
ao longo de nove décadas. O
Colégio nasceu sob o entusiasmo cívico vivido
por ocasião do Centenário da Independência
do Brasil, e foi chamado inicialmente de
Colégio Eucarístico da Independência. Em 20
de agosto de 1926, já em sua sede própria, o
colégio teve seu nome enriquecido pela caracterização
que o identifica no tempo atual como
Colégio Diocesano Dom Silvério, em homenagem
ao grande educador e dedicado apóstolo
da Igreja, Dom Silvério Gomes Pimenta.
Colégio Marista Dom Silvério
O Colégio Marista Dom Silvério é um colégio
católico de Belo Horizonte, fundado e mantido
pelos Irmãos Maristas. Localizado no bairro
São Pedro, o colégio tem cerca de 3 mil alunos.
O nome da instituição homenageia o antigo
Bispo de Mariana (MG), Dom Silvério Gomes
Pimenta, que trouxe para o Brasil a congregação
dos Maristas, fundada na França por São
Marcelino Champagnat.
EE Dom Silverio - Crucilandia
Localizada na Rua Nossa Senhora De
Lourdes, 150, Centro. na cidade de Crucilandia
é uma escola da rede estadual possui 500
alunos no Ensino Fundamental II e Ensino
Médio.
Tributo a Dom Silvério - Congonhas do Campo
A Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em
parceria com as secretarias municipais de
Educação e Cultura da cidade de congonhas,
realizam o desde 2012 o Tributo a Dom
Silvério como parte das comemorações pelo
Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado
em 20 de outubro.
Cidade de Dom Silvério
Em 1873, a pequeno povoado pertencente a
Alvinópolis foi era elevado à categoria de
distrito com o nome de Nossa Senhora da
Saúde. No local onde se ergueu a primeira
capela, sob a invocação de Nossa Senhora da
Saúde. Em 1938 o então distrito de Saúde,
teve seu nome modificado para Dom Silvério,
em homenagem a Dom Silvério Gomes
Pimenta, uma das glórias do Episcopado
b r a s i l e i r o e s e g u n d o A r c e b i s p o d a
Arquidiocese.
Dom Silvério e os Maristas
Há 121 anos, os primeiros Irmãos Maristas
chegavam ao Brasil para iniciar os trabalhos de
educação e evangelização em Congonhas do
Campo em 18 de outubro de 1897, a convite de
Dom Silvério Gomes Pimenta, bispo de
Mariana (MG), para que os Irmãos pudessem
assumir uma obra educativa na diocese – o
Colégio Bom Jesus da Cidade. hoje a educação
Marista está em todo o Brasil e é considerada
de excelência.
Escola Estadual Dom Silvério de Mariana.
Um patrimônio da educação da cidade de
Mariana, Idealizado pelo irmão scerdotes
Paulo e Vicente Dilascio. É uma das homenagem
de Mariana ao Bispo e Arcebispo Dom
Silvério.
Busto de Dom Silvério Gomes Pimenta na Escola Estadual Dom Silvério em Mariana
Cachaças Feira Mart- Cristiano Casimiro
A "Marvada" Cachaça
História da nossa cachaça
25
Registros existentes indicam que os primeiros
a saborear algo parecido com um destilado
foram os Egípcios. O que eles faziam era curar
um eventual mal-estar, inalando vapor de
líquidos aromatizados e fermentados, absorvido
diretamente do bico de uma chaleira, num
ambiente fechado.
Já os Gregos, no Tratado de Ciência escrito
por Plínio, que viveu entre os anos 23 e 79
d.C., registram o processo de obtenção da
acquaardens – a “água que pega fogo” –
absorvendo, com um pedaço de lã, o vapor da
resina de cedro, do bico de uma chaleira. Ao
torcerem a lã, obtinham o líquido chamado
alkuhu. Os alquimistas da época atribuem à
bebida propriedade medicinal e mística,
transformando-a em “água da vida”. A expansão
do império Romano leva a água ardente
por toda a Europa e para o Oriente Médio. A
aguardente, então, vai da Europa para o
Oriente Médio, pela força da expansão do
Império Romano. São os árabes que descobrem
os equipamentos para a destilação,
semelhantes aos que conhecemos hoje. Eles
não usam a palavra al kuhu e sim al raga,
originando o nome da mais popular aguardente
da península Arábica: arak, uma aguardente
misturada com licores de anis e degustada
com água. A tecnologia de produção espalhase
pelo Velho e pelo Novo Mundo. Na Itália, o
destilado de uva fica conhecido como grapa.
Em terras Germânicas, se destila a partir da
cereja o Kirsch; na antiga Tchecoslováquia,
atualmente dividida em República Tcheca e
República Eslovaca, a destilação da Sleva
(espécie de ameixa) gera a slevovice . Na
Escócia, se populariza o whisky, destilado da
cevada sacarificada. No Extremo Oriente, a
aguardente serve para esquentar o frio das
populações que não fabricam vinho. Na
Rússia a vodca, de centeio. Na China e no
Japão, o saquê, produzido a partir da fermentação
do arroz, é frequentemente confundido
com uma aguardente devido ao seu elevado
teor alcoólico, mas é, na verdade, um vinho.
Portugal também absorve a tecnologia dos
árabes e destila, a partir do bagaço de uva, a
bagaceira. A História da Cachaça Presente
nos mapas dos navegantes europeus desde
fins do século XV, o Brasil foi quase esquecido
nas primeiras décadas do século XVI pela
Coroa portuguesa, que não dispunha nem de
gente suficiente no Reino para uma obra de
colonização no vasto territó- rio d'além-mar.
Com isso, a costa brasileira era visitada indistintamente
por aventureiros – italianos, holandeses,
franceses, espanhóis... – que se
dedicavam à coleta de pau-brasil, sempre
negociando com os índios. A partir da terceira
década do século, no entanto, uma circunstância
especial ajudaria a definir o futuro lusitano
das terras do Brasil: a necessidade de produzir
mais açúcar, que alcançava naquele momento
o status de “ouro branco”. O uso do açúcar, até
fins do século XV restrito à nobreza, tinha se
disseminado por toda a Europa e atingido
novas classes a partir do sucesso de sua
cultura na ilha da Madeira, iniciada na primeira
metade do Quatrocentos. Mas Funchal, capital
da ilha, era um porto de relativamente fácil
acesso, no qual muitos comerciantes de todas
as nacionalidades negociavam a doce mercadoria,
e se tornara de difícil controle para a
Coroa. Isso, em muitas oportunidades, levava
a um descontrole no abastecimento que
afetava as cotações do produto. Além disso, o
terreno do arquipélago era pedregoso e as
propriedades tinham tamanho limitado, o que
dificultava a cultura mais extensiva da cana.
Convinha buscar novas terras que se prestassem
a produzir o açúcar que era usado ao
natural ou em conservas que encantavam,
sobretudo, os flamengos. A busca por novas
áreas para desenvolver a cultura da cana-de--
açúcar foi um dos fatores que levaram a Coroa
portuguesa a procurar um modelo de povoamento
para o Brasil, que tinha, ao longo de
toda a sua costa, as condições favoráveis para
que a gramínea vicejasse: altas temperaturas,
solos ricos e fartura de água. Regiões
como São Vicente, Pernambuco e o
Recôncavo Baiano são muito rapidamente
ocupadas por engenhos e vastas plantações.
A expedição de Martim Afonso que aportou em
1531 no Brasilcomo se sabe, trouxe mudas de
cana e especialistas agrícolas. E, muito provavelmente,
trouxe um dos primeiros alambiques
do Novo Mundo, talvez um que já tivesse
produzido aguardente de uva, mel ou cana nas
Canárias, ponto de passagem da esquadra do
fidalgo e provável origem das primeiras mudas
de cana dessa primeira iniciativa organizada
de produção canavieira em larga escala no
Brasil.
Divulção Dia da Cachaça
Cronologia
1493: Início da cultura da cana na IslaIspaniola
no Caribe 1504: Primeira plantação de cana
na Ilha de Fernando de Noronha 1516:
Instalação do primeiro engenho de açúcar no
Caribe e criação das Feitorias de Itamaracá,
Igarassu e Santa Cruz e início da cultura da
cana em Pernambuco. É muito provável que a
Cachaça tenha sido destilada (intencionalmente)
pela primeira vez, entre 1516 e 1526,
em algum engenho estabelecido na Feitoria
de Itamaracá, que mais tarde, a partir de 1534,
veio a se transformar na Capitania de
Itamaracá, no atual litoral pernambucano.
1526: Chegada de carregamento de açúcar,
vindo de Pernambuco, na alfândega de Lisboa
1532: Início da plantação de cana em São
Vicente e a construção dos primeiros engenhos
de açúcar 1534: Início da plantação de
cana na Capitania de Pernambuco Primórdios
do XVI O caldo era apenas consumido pelos
escravos, para que ficassem mais dóceis ou
para curá-los da depressão causada pela
saudade de sua terra (banzo). Como a carne
de porco era dura, usava-se a aguardente
para amolecê-la. Daí o nome “Cachaça”, já
que os porcos criados soltos eram chamados
de “cachaços”. O apelido “Pinga” veio porque
o líquido “pingava” do alambique. 2ª metade
do Século XVI Passou a ser produzida em
alambiques de barro, depois de cobre, como
aguardente. Século XVII Com o aprimoramento
da produção, passou a atrair consumidores.
Começou a ter importância econô- mica e
valor de moeda corrente. Ano de 1635
Contrariado com a desvalorização de sua
bebida tí- pica, a Bagaceira, produzida do
bagaço da uva, Portugal poibiu a fabricação da
Cachaça e seu consumo na colôna brasileira.
Menos a metade do Século XVII A retaiação à
Cachaça provou o nacionalismo brasileiro,
lvando o povo a boicotar o vinho Português.
Fial do Século Portugal recuou quanto à
decisão de proibir o consumo da Cachaça
brasileira e decidiu apenas taxar o destilado.
Ano de 1756 A aguardente da cana-de-açúcar
era um dos gêneros que mais contribuía para a
reconstrução de Lisboa, abalada por terremoto
em 1755. Ano de 1789 A Cachaça virou
símbolo da resistência ao domínio português.
O último pedido de Tiradentes: “Molhem a
minha goela com cachaça da terra”. Início do
Século XIX Com as técnicas de produção
aprimoradas, a Cachaça passou a ser muito
apreciada. Era consumida em banquetes
palacianos e misturada a outros ingredientes,
como gengibre, o famoso Quentão. Depois da
metade do Século XIX Com a economia
cafeeira, abolição da escravatura e início da
República, um largo preconceito se criou
frente a tudo que fosse brasileiro, prevalecendo
à moda da Europa. A Cachaça estava em
baixa. Ano de 1922 A Semana da Arte
Moderna resgatou a nacionalidade brasileira.
A Cachaça ainda tentava se desfazer dos
preconceitos e continuava a apurar sua qualidade.
Depois da metade do Século XX A
Cachaça teve influência na vida artística
nacional, com a “cultura de botequim” e a
boemia. Passou a ser servida como bebida
brasileira oficial nas embaixadas, eventos
comerciais e voos internacionais. A França
tentou registrar a marca Cachaça, assim como
o Japão tentou a marca Assai. Século XXI A
Cachaça está consagrada como brasileiríssima,
é apreciada em diversos cantos do mundo
e representa nossa cultura, como a feijoada e
o futebol. Em alguns países da Europa, principalmente
a Alemanha, a Caipirinha de
Cachaça é muito mais consumida que o
tradicional Scott. A produção brasileira de
Cachaça já ultrapassa os 1,3 bilhões de litros e
apenas 0,40% são exportados. A industrialização
da Cachaça emprega atualmente no
Brasil mais de 450 mil pessoas. O Decreto
4.702 assinado em 2002 pelo presidente FHC,
declara ser a Cachaça um destilado de origem
nacional. O Dia 13 de setembro é considerado
o DIA NACIONAL DA CACHAÇA.
Texto Baseado em A história da Cachaça de Jairo Martins da Silva
www.engenhosaopaulo.com.br/wp.../historia-da-cachaca-engenho-sao-paulo.pdf
26
Cachaças Feira Mart- Cristiano Casimiro
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A Cachaça em Mariana
Depois dos séculos XVI e XVII, em que houve
significativa multiplicação dos alambiques nos
engenhos de São Paulo e Pernambuco, a
cachaça se espalhou pelo Rio de Janeiro e
Minas Gerais devido à descoberta do ouro e
pedras preciosas. Durante o século XVIII a
economia do açúcar entra em decadência e
passa então a ser substituída pela extração de
ouro em Minas Gerais. No início da migração
para Minas, as cachaças brancas (puras) eram
colocadas em barris de madeira para serem
transportadas até Minas Gerais. No tempo da
viagem, a cachaça, pelo contato com a madeira,
acabava amarelando e tomando aromas e
sabores próprios. Há quem diga que daí que
surgiu o hábito de envelhecer e armazenar
cachaças em barris de madeira. Hoje, podemos
observar que em cidades litorâneas,
como Paraty, há um predomínio de produção
de cachaças brancas, enquanto que em Minas
Gerais, os produtores optam sempre por
armazenar suas cachaças em barris para que
elas adquiram características sensoriais,
como cor e sabor, provenientes da madeira.
Nas regiões de extração estavam também os
pequenos alambiques que abasteciam a
florescente população urbana que tentava
enriquecer com a mineração, apesar dos
impostos cobrados pela metrópole portuguesa.
A tese de doutorado da professora Quelen
Ingrid Lopes: O mercado de bens rurais,
extrativos e urbanos do termo de Mariana:
interações sociais, econômicas e espaços de
produção (1711-1779), demonstra que os
engenhos produtores de aguardente estiveram
presentes pelo termo de Mariana desde os
principais núcleos de mineração até as áreas
onde a expansão da fronteira foi mais sentida
ao final da primeira metade do século XVIII.
Não se pode dizer que houve especialização
em áreas específicas do termo, porém,
algumas freguesias atestaram um maior
movimento do mercado desse tipo de propriedade.
Em Sumidouro as negociações de
engenhos perfizeram 20,5% do total de
compras e vendas nesta freguesia, em
Furquim 24,5%, São Caetano 30,7%,
Camargos 21,6% e em São José da Barra
Longa o maior percentual: 37,5% das propriedades
situadas nessa freguesia eram formadas
por engenhos.
A explicação para o fato, e que a aguardente
encontrava rápida absorção no mercado local,
o que incentivava o proprietário a dedicar mais
espaços agricultáveis ao cultivo da cana, sem
com isso deixar de lado a produção de gêneros
agrícolas de subsistência como o milho e a
mandioca, cultivos comuns na região. A diversificação
do sistema produtivo e o grande
apelo comercial da aguardente, sem desconsiderar
o potencial mercantil que também havia
na produção de alimentos, ocasionavam a
necessidade da ampliação do espaço de
cultivo por parte dos proprietários de engenhos.
Assim, mais parcelas de capoeiras e
matos virgens se tornavam ainda mais importantes
nos engenhos que em qualquer outro
tipo de propriedade.
Divulção Dia da Cachaça
29
Em contraste com as freguesias que apresentaram
altos percentuais de negociações de
engenhos, os lugarejos mais próximo da
Vila/Cidade de Mariana como o Itacolomi
foram pouco representadas nas compras e
vendas de engenhos, tendo ambas as localidades
o percentual de 10,3% dos seus totais
de negociações. Outras nem sequer aparecem
nos dados desse tipo de propriedade
rural, como o distrito de Passagem.
Comparando a referência aos matos virgens
nas localidades apontadas temos que: no
distrito da Passagem, talvez pelo relevo (onde
não houve registro de negociação de engenho)
2,2% das escrituras informaram a presença
desse importante fator da reprodução
agrícola, na área definida como Vila/Cidade de
Mariana apenas 11%, percentuais baixos se
comparados aos de Sumidouro (24,5%) e
Furquim (30,9%), e um pouco menos destoantes
(mas ainda sim inferiores) aos de São
Caetano (14,7%) e de Camargos.
Contudo, é importante lembrar que todas
essas são áreas onde a mineração foi o fator
essencial no processo de conformação do
espaço agrário, que também agia como uma
espécie de fronteira, ou fator limitador, da
expansão da posse do produtor agrícola, o
qual muitas vezes era também minerador.
Conjugando as duas atividades, por mais
benefícios que houvesse nessa diversificação
e sem detrimento de uma pela outra atividade,
poderia haver certa limitação do proprietário
de terras rurais e minerais tanto no acesso a
terras produtivas de plantio nos arredores das
lavras- pois estas estavam quase sempre em
poder de outro minerador/agricultor- quanto na
posse dos escravos, cujo número nem sempre
era força de trabalho suficiente para a ampliação
da sua atividade em diferentes setores
econômicos. Nesse caso, a formação das
sociedades poderia cumprir o importante
papel de fomentar a diversificação/aumento da
produtividade pela divisão de custos e multiplicação
dos investimentos.
Assim, nas áreas onde foi possível expandir o
espaço produtivo por compra de terras próximas,
posse simples delas ou concessão de
sesmaria houve maior registro de negociações
de engenhos. O caso dos engenhos em São
José da Barra Longa possui outro norteamento.
Essa freguesia não sofreu o rápido e intenso
povoamento de outras- como a freguesia da
Vi l a / C i d a d e d e M a r i a n a , F u r q u i m e
Sumidouro- que surgiram no encalço dos
primeiros anos de exploração aurífera. A
participação da Freguesia de São José da
Barra Longa no mercado das propriedades
rurais foi tardia, iniciando-se apenas na década
de 1740. Como área de fronteira aberta
tornou-se viável o acesso às terras ainda não
ocupadas em maiores extensões do que nas
propriedades rurais que se estabeleceram na
circunvizinhança das lavras minerais dos
principais núcleos de mineração.
Fato é que, com maior ou menor presença
pelas freguesias que compuseram o termo de
Mariana no século XVIII, a fabricação da
aguardente nos engenhos ― corrente e
moentes foi uma das atividades produtivas
agrícolas que mais interessou aos moradores
da região. Veja o a tabela baixo entre 1711 e
1790, Mariana teve 2017 engenhos de
cachaça. Hoje o número de alambiques em
Mariana dá para contar nos dedos.
Divulção Dia da Cachaça
Parabéns Décio!
Muitos Km de vida e esporte.