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eyond the line<br />
Um minuto <strong>de</strong><br />
atenção, por favor!<br />
Os seres humanos são agora formados <strong>de</strong><br />
cabeça, tronco, membros e smartphone<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
Um dos “bens” mais preciosos do ecossistema<br />
<strong>de</strong> marketing e comunicação é<br />
a atenção. Como conquistar – ainda que por<br />
poucos segundos – a atenção <strong>de</strong> pessoas cada<br />
vez mais assediadas, seletivas e críticas<br />
com relação a seu tempo e ao conteúdo a<br />
ser absorvido?<br />
ção atrelada àquele assunto ou produto. O ser<br />
humano é cada vez mais inconstante e infiel.<br />
Às vezes, estamos cheios <strong>de</strong> amor pra dar,<br />
em outras vezes não queremos nem uma simples<br />
mensagem. Somos volúveis por natureza.<br />
A tentativa da mídia programática é totalmente<br />
válida e é um caminho natural, mas<br />
ainda gera muitos questionamentos.<br />
m-imagephotography/iStock<br />
Difícil! Fazer apresentações presenciais<br />
em eventos, por exemplo, exige um exercício<br />
<strong>de</strong> paciência e muita resignação.<br />
Na audiência, são raros aqueles que estão<br />
com a atenção totalmente voltada ao<br />
palestrante e ao conteúdo apresentado. É<br />
um mar <strong>de</strong> celulares e tablets competindo<br />
com uma fala ao vivo, que, por mais interessante<br />
que seja, não consegue exclusivida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> atenção. Entre os mais jovens, então...<br />
Já na propaganda, essa preocupação é<br />
ainda mais crítica.<br />
Todo mundo sabe que os seres humanos<br />
– esses animais ariscos que queremos impactar<br />
– são agora formados <strong>de</strong> cabeça, tronco,<br />
membros e smartphone. Então é fácil: basta<br />
acessá-los pelo celular, certo? Conclusão precipitada<br />
e perigosa.<br />
Todos os dias, somos impactados por<br />
estatísticas e pesquisas que <strong>de</strong>monstram<br />
um uso crescente do celular para compras,<br />
buscas, pesquisas, entretenimento, trocas<br />
<strong>de</strong> mensagens e até para falar. Isso é verda<strong>de</strong>,<br />
mas não po<strong>de</strong>mos nos enganar. Ao<br />
contrário <strong>de</strong> outros veículos <strong>de</strong> comunicação,<br />
o celular é algo muito pessoal. É uma<br />
extensão natural do cérebro humano. Se,<br />
por um lado, o uso cresce, por outro, cresce<br />
também a seletivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interlocução.<br />
Que não ousemos interromper o usuário<br />
com mensagens ina<strong>de</strong>quadas, fora <strong>de</strong><br />
contexto ou fora <strong>de</strong> hora. Alguns po<strong>de</strong>rão<br />
dizer: os algoritmos estão cada vez mais assertivos<br />
e po<strong>de</strong>mos selecionar mensagens<br />
pertinentes, preditivas, <strong>de</strong> acordo com o<br />
rastro <strong>de</strong>ixado pelo usuário. Mas sabemos<br />
o tanto <strong>de</strong> “furo” que ainda persiste nessa<br />
linha <strong>de</strong> comunicação publicitária via celular.<br />
E o opt-in é sempre contextual.<br />
Às vezes, estou interessado em <strong>de</strong>terminado<br />
conteúdo ou produto. Mas, à medida em<br />
que é realizada a compra ou absorvido o conteúdo,<br />
já não me interessa mais a interlocu-<br />
Haja vista a <strong>de</strong>cisão recente <strong>de</strong> anunciantes<br />
gigantes (P&G e Unilever) em rever<br />
seus investimentos nessa área, em função<br />
<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> do sistema em evitar a vinculação<br />
<strong>de</strong> mensagens a conteúdos impróprios,<br />
além da falta <strong>de</strong> transparência na<br />
entrega <strong>de</strong> inventário.<br />
Todos sabemos que os nativos digitais<br />
consomem seus conteúdos e entretenimento<br />
via web, mas como evitar o skip-ad? E aí,<br />
temos <strong>de</strong> pensar em pouquíssimos segundos<br />
superinteressantes para evitar o <strong>de</strong>do<br />
nervoso <strong>de</strong> internautas. Na mídia dita tradicional,<br />
offline, há uma busca incessante<br />
para se manter relevante e eficaz.<br />
Temos visto iniciativas interessantes para<br />
driblar a indiferença <strong>de</strong> leitores, ouvintes<br />
e telespectadores (que termo antigo...).<br />
Mesclar a mensagem publicitária a um conteúdo<br />
<strong>de</strong> interesse do público-alvo parece<br />
ser um caminho seguro.<br />
Já há cases <strong>de</strong> muito sucesso no campo do<br />
content marketing ou advertainment, quando<br />
a marca ou o produto é inserido <strong>de</strong> forma<br />
a driblar a interrupção in<strong>de</strong>sejada para passar<br />
uma mensagem publicitária. Mas inserir uma<br />
história relevante nas vidas das pessoas não é<br />
uma tarefa trivial.<br />
Os patrocínios continuam sendo instrumentos<br />
po<strong>de</strong>rosos para fixação <strong>de</strong> marca,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o vínculo <strong>de</strong> imagem seja natural<br />
e a ativação eficaz. Enfim, conquistar<br />
e reter a atenção <strong>de</strong> pessoas não é tarefa<br />
para amadores.<br />
O Bigdata e toda a tecnologia existente<br />
po<strong>de</strong>m passar a falsa impressão <strong>de</strong> que os<br />
algoritmos e os números po<strong>de</strong>m vencer essa<br />
batalha. Mas não po<strong>de</strong>mos nos esquecer da<br />
emoção e da velha e boa criativida<strong>de</strong>.<br />
Outro dia, vi uma frase interessante, que<br />
resume essa reflexão: “Follow the numbers,<br />
but dont forget the poetry”.<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
28 5 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark