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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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Este Anatolios talvez possa ser identificado com um riquíssimo “Anatolios,<br />

espanhol, ex-notário, parente de Albinus o Romano”, que depois tornou-se<br />

monge – não sabemos aonde – e que é conhecido pela versão copta da História<br />

Lausíaca. A carta a Anatolios supõe que o destinatário mora em Jerusalém,<br />

sendo a “montanha santa” Sião. Por outro lado, um “espanhol” rico, Albinus o<br />

Romano”, faz pensar em Melania, membro da alta nobreza, igualmente<br />

originária da Espanha, e no confidente de Evagro, Albinus. Com toda<br />

verossimilhança, Anatolios vivia no mosteiro duplo fundado por Rufino e<br />

Melania no Monte das Oliveiras. A nobre diaconessa Severa , a quem Evagro<br />

dedicou suas Sentenças a uma virgem, provavelmente fez parte dele também.<br />

Não é sem interesse observar com quantos romanos Evagro, grego de nascença,<br />

estava ligado por amizades, enquanto que seu grande mestre, Macário, era copta<br />

de origem. O monaquismo desta época tinha um caráter claramente<br />

cosmopolita.<br />

O Praktikos está endereçado aos monges, e especialmente aos anacoretas,<br />

ascetas que viviam na solidão do deserto. Diferentemente das Sentenças para os<br />

monges que vivem em cenóbio ou em comunidades, também destinado aos<br />

monges de Jerusalém, o Praktikos jamais aborda as questões da vida em<br />

comunidade, o que entretanto não retira nada de seu alcance. Com efeito, seja no<br />

mundo, no mosteiro, em pequenas comunidades ou na solidão do deserto, o<br />

homem permanece sempre o mesmo, sempre tentado pelos mesmos demônios,<br />

escravo dos mesmos vícios – ainda que de uma maneira diferente e característica<br />

(Pr., 48). O combate do anacoreta, a quem falta um contato regular com os<br />

homens, com uma comunidade e até com os bens materiais deste mundo, este<br />

combate não faz senão revelar a essência dessas tentações e dessas faltas, como<br />

em estado puro. É também por isso que os meios de que ele lança mão no<br />

combate, bem como suas vitórias, adquirem um valor exemplar que transborda o<br />

estreito cenário de sua cela no deserto.<br />

Se quiser extrair os frutos de seu conteúdo espiritual, o leitor moderno está<br />

convidado a não demorar na busca destas harmonias do deserto dos escritos<br />

evagrianos e a ouvir a voz de seu coração. Logo ele encontrará todas as suas<br />

angústias, suas obsessões, suas faltas, mas também suas mais nobres aspirações<br />

e, por acréscimo, as vias e os meios para triunfar sobre umas e realizar as outras.<br />

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