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eyond the line<br />
Jabá explícito.<br />
Só que não<br />
Neste mundo repleto <strong>de</strong> fake news, uma<br />
fonte fi<strong>de</strong>digna, crível, tem gran<strong>de</strong> valor<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
Não é a primeira vez que trago esse assunto<br />
à reflexão nesta mo<strong>de</strong>sta coluna.<br />
Sob título Conteúdo e propaganda, já escrevi<br />
um artigo com questionamentos sobre a<br />
linha – nem sempre tênue – que separa conteúdo<br />
da propaganda.<br />
Com a chegada dos ad-blockers e da proliferação<br />
<strong>de</strong> conteúdos e entretenimento<br />
mediante assinatura, cresce a preocupação<br />
por um tipo <strong>de</strong> comunicação capaz <strong>de</strong> driblar<br />
esses instrumentos e impactar o público-alvo<br />
com eficiência.<br />
Assim, nasceram as formas alternativas<br />
<strong>de</strong> “empacotar” a propaganda, dando a ela<br />
uma vestimenta diferente. São os publieditoriais,<br />
productplacement (conhecido<br />
como merchandising), advertainment e<br />
outros neologismos criados para nominar<br />
essa técnica que, em síntese, trata <strong>de</strong> uma<br />
propaganda sem cara <strong>de</strong> propaganda.<br />
O tema me impactou novamente quando<br />
li uma matéria sobre a iniciativa <strong>de</strong> uma<br />
agência brasileira em levar cases <strong>de</strong> empresas<br />
inovadoras para o SXSW. Até aí achei<br />
bem bacana. Mas, poucas linhas <strong>de</strong>pois,<br />
<strong>de</strong>scobri que a inserção <strong>de</strong> tal “conteúdo”<br />
no evento na verda<strong>de</strong> é pago.<br />
Os organizadores cobram a inserção<br />
<strong>de</strong> palestras <strong>de</strong> interesse das empresas. É<br />
claro que há uma ressalva <strong>de</strong> que todos os<br />
conteúdos são submetidos a uma curadoria<br />
que, após análise <strong>de</strong> pertinência, os libera<br />
para o comercial.<br />
Não me julguem um ingênuo, que não<br />
sabe que isso ocorre e sempre ocorreu.<br />
Mas eu só acho que esse tipo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ve<br />
ser pelo menos mais transparente. Muitos<br />
organizadores atrelam a venda <strong>de</strong> patrocínio<br />
ao direito <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong> conteúdo no<br />
evento. E tudo bem. Sem essa prática, muitos<br />
eventos não se viabilizariam. O que eu<br />
questiono é a falta <strong>de</strong> transparência. Basta<br />
apresentar aquele conteúdo como “patrocinado”.<br />
Aí ninguém estará enganando<br />
ninguém, certo?<br />
Estamos vivendo agora uma polêmica<br />
<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> “merchandising”<br />
em uma novela. Na trama, uma advogada,<br />
que se diz especialista também em<br />
coaching, aplica uma técnica <strong>de</strong> hipnose<br />
para resgatar memórias <strong>de</strong> uma cliente,<br />
servindo <strong>de</strong> prova para a con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />
uma pessoa por abuso <strong>de</strong> menores.<br />
A ação na novela foi paga por um instituto<br />
<strong>de</strong> coaching e gerou uma gran<strong>de</strong> gritaria<br />
<strong>de</strong> especialistas nessa técnica e <strong>de</strong> psicoterapeutas,<br />
julgando leviano atrelar a hipnose<br />
à prática <strong>de</strong> coaching.<br />
A emissora fez sua parte, explicitando a<br />
ação <strong>de</strong> merchandising nos créditos finais<br />
da novela, como <strong>de</strong>ve ser. Mas e a tal curadoria,<br />
que <strong>de</strong>veria se aprofundar e verificar<br />
se tal conjunto <strong>de</strong> técnicas era factível?<br />
Sou do time <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
total <strong>de</strong> expressão. Também sou totalmente<br />
a favor da autorregulamentação. Recentemente,<br />
a Alerj se mobilizou para julgar<br />
peças publicitárias com suposto conteúdo<br />
sexista ou preconceituoso.<br />
Como se o Rio não tivesse muitos outros<br />
assuntos <strong>de</strong> extrema importância para resolver...<br />
Ser julgado por um bando <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados<br />
cariocas, a quem caberia a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
vetar <strong>de</strong>terminada peça publicitária, é o ó<br />
do borogodó, né não? Não precisamos <strong>de</strong>sse<br />
tipo <strong>de</strong> “controle”.<br />
Dou esse exemplo para enfatizar que não<br />
prego qualquer tipo <strong>de</strong> controle. Muito ao<br />
contrário, consi<strong>de</strong>ro o julgamento do público<br />
o mais po<strong>de</strong>roso.<br />
Só acho que essa “propaganda” com cara<br />
<strong>de</strong> conteúdo, se não for feita com o <strong>de</strong>vido<br />
cuidado, po<strong>de</strong> ser um tiro no pé. Se não<br />
houver transparência, o soberano público<br />
acaba percebendo, execrando a “manobra”.<br />
Dois pontos críticos da boa comunicação<br />
<strong>de</strong> hoje são a autenticida<strong>de</strong> e a transparência.<br />
No caso dos veículos <strong>de</strong> comunicação,<br />
principalmente os impressos, seu maior<br />
asset são a imparcialida<strong>de</strong> e o compromisso<br />
com a verda<strong>de</strong>. Neste mundo repleto <strong>de</strong><br />
fake news, uma fonte fi<strong>de</strong>digna, crível, tem<br />
gran<strong>de</strong> valor.<br />
Se esses veículos caírem na tentação<br />
<strong>de</strong> falsear a inserção publicitária, travestindo-a<br />
<strong>de</strong> conteúdo, sem a <strong>de</strong>vida i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> algo pago, estarão<br />
abreviando seu fim.<br />
Kedsanee/iStock<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
34 <strong>12</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark