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edição de 12 de março de 2018

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eyond the line<br />

Jabá explícito.<br />

Só que não<br />

Neste mundo repleto <strong>de</strong> fake news, uma<br />

fonte fi<strong>de</strong>digna, crível, tem gran<strong>de</strong> valor<br />

Alexis Thuller PAgliArini<br />

Não é a primeira vez que trago esse assunto<br />

à reflexão nesta mo<strong>de</strong>sta coluna.<br />

Sob título Conteúdo e propaganda, já escrevi<br />

um artigo com questionamentos sobre a<br />

linha – nem sempre tênue – que separa conteúdo<br />

da propaganda.<br />

Com a chegada dos ad-blockers e da proliferação<br />

<strong>de</strong> conteúdos e entretenimento<br />

mediante assinatura, cresce a preocupação<br />

por um tipo <strong>de</strong> comunicação capaz <strong>de</strong> driblar<br />

esses instrumentos e impactar o público-alvo<br />

com eficiência.<br />

Assim, nasceram as formas alternativas<br />

<strong>de</strong> “empacotar” a propaganda, dando a ela<br />

uma vestimenta diferente. São os publieditoriais,<br />

productplacement (conhecido<br />

como merchandising), advertainment e<br />

outros neologismos criados para nominar<br />

essa técnica que, em síntese, trata <strong>de</strong> uma<br />

propaganda sem cara <strong>de</strong> propaganda.<br />

O tema me impactou novamente quando<br />

li uma matéria sobre a iniciativa <strong>de</strong> uma<br />

agência brasileira em levar cases <strong>de</strong> empresas<br />

inovadoras para o SXSW. Até aí achei<br />

bem bacana. Mas, poucas linhas <strong>de</strong>pois,<br />

<strong>de</strong>scobri que a inserção <strong>de</strong> tal “conteúdo”<br />

no evento na verda<strong>de</strong> é pago.<br />

Os organizadores cobram a inserção<br />

<strong>de</strong> palestras <strong>de</strong> interesse das empresas. É<br />

claro que há uma ressalva <strong>de</strong> que todos os<br />

conteúdos são submetidos a uma curadoria<br />

que, após análise <strong>de</strong> pertinência, os libera<br />

para o comercial.<br />

Não me julguem um ingênuo, que não<br />

sabe que isso ocorre e sempre ocorreu.<br />

Mas eu só acho que esse tipo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ve<br />

ser pelo menos mais transparente. Muitos<br />

organizadores atrelam a venda <strong>de</strong> patrocínio<br />

ao direito <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong> conteúdo no<br />

evento. E tudo bem. Sem essa prática, muitos<br />

eventos não se viabilizariam. O que eu<br />

questiono é a falta <strong>de</strong> transparência. Basta<br />

apresentar aquele conteúdo como “patrocinado”.<br />

Aí ninguém estará enganando<br />

ninguém, certo?<br />

Estamos vivendo agora uma polêmica<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> “merchandising”<br />

em uma novela. Na trama, uma advogada,<br />

que se diz especialista também em<br />

coaching, aplica uma técnica <strong>de</strong> hipnose<br />

para resgatar memórias <strong>de</strong> uma cliente,<br />

servindo <strong>de</strong> prova para a con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

uma pessoa por abuso <strong>de</strong> menores.<br />

A ação na novela foi paga por um instituto<br />

<strong>de</strong> coaching e gerou uma gran<strong>de</strong> gritaria<br />

<strong>de</strong> especialistas nessa técnica e <strong>de</strong> psicoterapeutas,<br />

julgando leviano atrelar a hipnose<br />

à prática <strong>de</strong> coaching.<br />

A emissora fez sua parte, explicitando a<br />

ação <strong>de</strong> merchandising nos créditos finais<br />

da novela, como <strong>de</strong>ve ser. Mas e a tal curadoria,<br />

que <strong>de</strong>veria se aprofundar e verificar<br />

se tal conjunto <strong>de</strong> técnicas era factível?<br />

Sou do time <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

total <strong>de</strong> expressão. Também sou totalmente<br />

a favor da autorregulamentação. Recentemente,<br />

a Alerj se mobilizou para julgar<br />

peças publicitárias com suposto conteúdo<br />

sexista ou preconceituoso.<br />

Como se o Rio não tivesse muitos outros<br />

assuntos <strong>de</strong> extrema importância para resolver...<br />

Ser julgado por um bando <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados<br />

cariocas, a quem caberia a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

vetar <strong>de</strong>terminada peça publicitária, é o ó<br />

do borogodó, né não? Não precisamos <strong>de</strong>sse<br />

tipo <strong>de</strong> “controle”.<br />

Dou esse exemplo para enfatizar que não<br />

prego qualquer tipo <strong>de</strong> controle. Muito ao<br />

contrário, consi<strong>de</strong>ro o julgamento do público<br />

o mais po<strong>de</strong>roso.<br />

Só acho que essa “propaganda” com cara<br />

<strong>de</strong> conteúdo, se não for feita com o <strong>de</strong>vido<br />

cuidado, po<strong>de</strong> ser um tiro no pé. Se não<br />

houver transparência, o soberano público<br />

acaba percebendo, execrando a “manobra”.<br />

Dois pontos críticos da boa comunicação<br />

<strong>de</strong> hoje são a autenticida<strong>de</strong> e a transparência.<br />

No caso dos veículos <strong>de</strong> comunicação,<br />

principalmente os impressos, seu maior<br />

asset são a imparcialida<strong>de</strong> e o compromisso<br />

com a verda<strong>de</strong>. Neste mundo repleto <strong>de</strong><br />

fake news, uma fonte fi<strong>de</strong>digna, crível, tem<br />

gran<strong>de</strong> valor.<br />

Se esses veículos caírem na tentação<br />

<strong>de</strong> falsear a inserção publicitária, travestindo-a<br />

<strong>de</strong> conteúdo, sem a <strong>de</strong>vida i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> algo pago, estarão<br />

abreviando seu fim.<br />

Kedsanee/iStock<br />

Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />

da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />

<strong>de</strong> Propaganda)<br />

alexis@fenapro.org.br<br />

34 <strong>12</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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