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zorion

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Silêncio<br />

Nasci no silêncio, um mundo de imagens<br />

sem sons, gestos a imitar palavras, uma<br />

dança simbólica plena de significado. Um<br />

silêncio eterno, etéreo, glorioso em todo<br />

o seu esplendor. Nasci no espaço, o meu<br />

silêncio, a mão que embalava o meu<br />

berço, em suaves ondas melancólicas de<br />

plena felicidade.No espaço não há cima ,<br />

ou baixo; não há frio ou calor, não há<br />

multidões, não há sons...<br />

Vejo minha mãe a dançar, ela<br />

dançava muito, no silêncio, com o meu<br />

pai, rodopiando nos corredores vazios, o<br />

meu pai ajudava-a a voar, e nós, eu e<br />

meus irmãos, seguíamos atrás. Às vezes i<br />

íamos lá para fora e, entre as altas velas,<br />

continuávamos a dançar, um ritual de<br />

adoração à eternidade.<br />

No espaço não há tempo, não é contado,<br />

não há pressa , não vamos a lado algum,<br />

não temos horário, seguimos o nosso ritmo,<br />

parado, lento, um ritmo cheio de<br />

descobertas, complementado com novos<br />

significados. No silêncio, não há espera, não<br />

há desejos, ansiedade, em tudo há uma paz<br />

inexplicável, uma união plena com o<br />

mistério do universo, a última grande<br />

fronteira.<br />

No espaço, não há outros, apenas nós.<br />

Um dia vieram outros. O mundo dos outros<br />

era diferente, não tinha velas, a ausência<br />

dos altos mastros era uma novidade para<br />

mim, o mundo deles era gigante, tão<br />

grande como uma pequena lua, ruidosa e<br />

frenética. Eles desconheciam o silêncio e eu<br />

lamentei-os, que estranha existência. A

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