Boletim BIOPESB 2017 - Edição 29
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Boletim Biopesb
Ciência, meio meio ambiente e e cidadania em em suas suas mãos
ISSN - 2316-6649 - Ano 7 - Nº 29 - 2017
ESPÉCIE DE ANFÍBIO É DESCOBERTA
NA SERRA DO BRIGADEIRO
Esta descoberta realizada por cientistas da
UFV mostra a importância de se pesquisar a
biodiversidade da Mata Atlântica, pois ainda
existem muitas espécies desconhecidas.
Página 5
VERMICOMPOSTAGEM
Entenda e aprenda a importância
do enriquecimento de solos utilizando
adubos orgânicos
Páginas 2 e 3
A CIÊNCIA DENTRO DE CASA
como a ciência contribui
para a limpeza diária
Páginas 4 e 5
entrevista
Há mais de 21 anos,
pesquisadores e comunidades
se uniam
para discutir a criação
do PESB. Saiba
um pouco mais dessa
história por um dos
seus idealizadores
biodiversidade do
brasil colonial
O contato dos naturalistas
europeus com
a medicina tradicional
brasileira
21 anos da
unidade de
conservação
História por trás da
criação do PESB e
os desafios para os
dias atuais.
Página 6 Página 7
Página 8
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
MeioAmbiente Ano 7, n°29 - Pág 2
Editorial
Dizia o poeta Tom Jobim
que toda sua obra era inspirada
na Mata Atlântica.
Amava-a, admirava-a e escrevia
canções sobre o tema.
Indignado com os rumos traçados
pela ambição humana
dizia: “Sempre falando em
progresso e criando o deserto.
Inventando a miséria
na terra da opulência.” Esta
visão do poeta já era ressaltada
pelos pesquisadores
naturalistas do século XIX
que chegaram ao Brasil
com a vinda da família real
portuguesa. Suas expedições
retrataram uma rica
natureza, repleta de plantas,
animais e de povos com
grande tradição no uso da
biodiversidade. No entanto,
já naquela época, alertavam
para a falta de cuidado na
conservação dos ambientes
naturais. Ao passo que iam
identificando a flora e a fauna,
os naturalistas escreviam
também sobre o risco de no
futuro o brasileiro não mais
conhecer várias daquelas
espécies, que já eram colocadas
em condições ameaçadas
de extinção. Felizmente,
esta preocupação em cuidar
da Mata Atlântica tem sido a
motivação de luta daqueles
que aprenderam a amar
esse bioma. E foi em uma
dessas lutas, que um grupo
amante da região da Serra
do Brigadeiro criava há 21
anos atrás a Unidade de
Conservação PESB. Hoje, o
Parque é uma realidade de
proteção da Mata Atlântica,
fertilizando a formação
de novos guerreiros na luta
contra a destruição ambiental.
Na palavra de um
outro poeta brasileiro, Mário
Quintana, poderíamos deixar
como mensagem para
o PESB: “Nesses tempos de
céus de cinzas e chumbos, nós
precisamos de árvores desesperadamente
verdes.”
Boa leitura
João Paulo Viana Leite
Vermicompostagem:
investindo no enriquecimento dos solos
Bianca Reis
Yan Clevelares
Problemas relacionados
ao meio ambiente são
frequentes na sociedade,
e, dentre estes, que torna
um enorme empecilho para
produtores agrícolas, está
a deficiência nutricional
dos solos, causadas principalmente
por práticas
inadequadas de manejo.
Na prática, como tentativa
de correção desse
cenário está a utilização
de grande quantidade de
adubos químicos para enriquecer
o solo, permitindo
o plantio adequado dos
cultivos. Entretanto, esses
produtos, além de encarecer
a produção podem
agravar ainda mais a
situação ambiental, uma
vez que podem ter efeitos
contaminantes para
o solo, o ar e a água.
Uma saída mais equilibrada
para a natureza
está na utilização de adubos
orgânicos, como estercos
e restos de alimentos.
Para aumentar a eficácia
do uso de fertilizantes naturais,
o esterco pode virar
vermicomposto, através da
ação conjunta de minhocas
e microrganismos sobre a
matéria orgânica. A vermicompostagem
possui diversas
vantagens em relação
ao uso de esterco, uma vez
que este último se deixado
em exposição ao ar, sol
ou chuva perde a maioria
de suas qualidades
químicas e biológicas.
Quando comparado a
outros processos de compostagem,
a vermicompostagem
apresenta duas
vantagens evidentes: não
é necessário revolver o
Boletim Biopesb
Redação: Alunos do PET-Bioquímica da
UFV (Bianca Reis, Isabela Paes, Isabella
Alves, Isabella Britto, Italo Bianchini,
Julia Coelho, Lucas Filipe, Luiz Vinicius,
Paula Sudré, Raissa Castro e Yan
Clevelares.)
Diagramação: Jéssica Silva
www.biopesb.ufv.br
Imagem: reprodução
material, o que exige
menos trabalho no seu
preparo, e é mais leve,
facilitando o transporte.
Tais vantagens permitem
que os produtores rurais
consigam melhorar os solos
aproveitando a matéria
orgânica já disponível
em suas propriedades.
Para a realização da vermicompostagem
é utilizada
a técnica do minhocário. As
minhocas utilizadas no processo
podem ser as nativas.
Mas visando aumentar
a eficiência, é recomendável
a utilização da espécie
vermelha-da-Califórnia,
comercializada por
várias empresas no Brasil.
Editores-Chefes: João Paulo Viana Leite e
Tiago Antônio de Oliveira Mendes
Telefone: (31) 3899-3044
E-mail: biopesbufv@gmail.com
Endereço: Departamento de Bioquímica e
Biologia Molecular - UFV
CEP 36570-900, Viçosa - MG - Brasil
Tiragem: 1.000 exemplares
Apoio: Projeto financiado pelo Edital de
Popularização da Ciência, da Tecnologia e
da Inovação da Fapemig
Imagem: reprodução
MeioAmbiente
Aprenda a fazer seu próprio minhocário
Ano 7, n°29 - Pág 3
A construção de um minhocário
do tipo “campeiro
de bambu” não é
complicada e torna-se ainda
mais simples quando
realizada com material
disponível na própria propriedade,
como carcaça
Materiais
10 estacas de bambu
com 50cm;
6 varas de bambu com
1,0m
28 varas de bambu com
1,40m
Pedaços de sombrite ou
fogo de palha do café
para forração interna;
Cobertura de palha
para proteção contra
chuva (exemplo: folha
de bananeira).
de geladeira ou caixa
d’água velha.
Algumas dicas de como
preparar um minhocário
em casa ou na propriedade
rural foram retirados
do folder “Minhocário:
Construir e Cuidar”, pro-
Procedimento
Para um minhocário de
1,0 metro de largura por
1,20 metro de comprimento,
são necessários 1
litro de minhocas (1200 a
1500 minhocas), 100kg
de esterco (três a quatro
carrinhos de mão). O
vermicomposto estará
pronto em 50 dias no
verão e no inverno pode
levar até 90 dias. O final
resultará em cerca de
60 kg de vermicomposto
pronto.
duzido pela pesquisadora
Maria Eunice Paula de
Souza, sob a orientação
da professora Irene Maria
Cardoso do Departamento
de Solos da Universidade
Federal de Viçosa.
A
B
C
D
E
F
Montagem
marcação do minhocário;
montagem das paredes
e prendimento
das cabeceiras com
estacas;
forração com sombrite;
colocação parcial do
esterco;
colocação das minhocas;
preenchimento com o
resto do esterco;
Você sabia?
Pó de rocha pode enriquecer
o vermicomposto;
Uso de borra de café,
farinha de osso ou casca
ovo moída pode inibir
o aparecimento de formiga.
O vermicomposto pode
ficar guardado por até
6 meses em local ventilado.
Montagem
G verificação do nível
de umidade do esterco
(com luvas!);
H cobertura com sombrite
e palhada;
Imagem: reprodução
Ciência
Ano 7 n°29 - Pág 4
A ciência dentro de casa pode ser
encontrada na limpeza do dia a dia
Raissa Castro
Paula Sudré
A
ciência pode ser
definida como os
diversos conhecimentos
que se adquire a partir
da observação dos
fenômenos da natureza.
Assim, a ciência abrange
diversos conjuntos de
saberes, muitos dos
quais estão presentes
no nosso dia a dia, sem
serem percebidos.
Você já parou
para reparar sobre
como resultados de
pesquisadores em
laboratórios científicos
podem estar dentro de
nossa própria casa? Na
hora de limpeza por
exemplo, o conhecimento
científico pode ser
empregado para gerar
produtos mais eficazes.
O costume de usar
Imagem: reprodução
rotineiramente sabão
em barra ou em pó,
seja para lavar roupa,
talheres ou louças, é
exemplo da aplicação
de produtos que tem
incorporado tecnologias
resultantes de pesquisas
químicas e bioquímicas.
Atualmente, tem
se estimulado a
produção de sabão
caseiro como forma de
reaproveitamento de
resíduos que seriam
descartados no meioambiente,
provocando
poluição. O sabão pode
ser produzido a partir de
gorduras por um processo
chamado de reação de
“saponificação”, a qual
gera um produto útil na
limpeza.
Os detergentes, por
sua vez, são produzidos
na indústria, pois
em sua composição
existem componentes
mais complexos. Tanto
os sabões quanto os
detergentes têm como
principal função remover
gorduras através de sua
ação conhecida como
emulsificante, ou seja,
com a propriedade de
fazer com que o óleo
se disperse na água, na
forma de micelas.
Diferente dos sabões
biodegradáveis, os
detergentes não se
degradam facilmente
no ambiente devido
ao tipo de arranjo
estrutural dos carbonos
na molécula que constitui
este produto. Este fato
pode ser explicado pela
origem da matériaprima
empregada para
a produção desses dois
produtos. Enquanto os
sabões são produzidos
a partir de óleos ou
gorduras, os detergentes
são obtidos a partir de
Imagem: reprodução
substâncias presentes em
outras fontes naturais,
como o petróleo.
Inovações
nos produtos de
limpeza
Mais recentemente,
utilizando conhecimentos
da ciência bioquímica,
algumas empresas
têm desenvolvido
detergentes acrescidos
de enzimas. As enzimas
são moléculas proteicas
que tem como principal
função acelerar a
velocidade de reações
químicas. As vantagens
dos “detergentes
enzimáticos” são de
garantir uma limpeza
rápida e eficiente
através de um produto
que não espuma,
possui pH neutro
(fator importante em
sua aplicação), não é
corrosivo nem irritante,
e, principalmente, por
Ciência
Ano 7, n°29 - Pág 5
Detergente enzimático
ser biodegradável.
Como pôde ser
visto, as atividades de
limpeza que realizamos
dentro de casa trazem
em sua constituição
conhecimentos gerados
por pesquisas científicas.
Assim, muitos dos
resultados do trabalho
de cientistas, seja
nos laboratórios de
instituições públicas ou
de indústrias privadas,
têm buscado inovações
para facilitar as tarefas
cotidianas, de acordo
com as demandas da
sociedade.
Nova espécie de sapo encontrada na Serra do
Brigadeiro é descrita por pesquisadores
Além de Carla Guimarães (centro), participaram da descoberta o professor
Renato Neves Feio (esq.) e os estudantes Sofia Luz e Pedro Carvalho Rocha
(dir.). Foto: Daniel Sotto Maior/UFV
A
descoberta de uma
nova espécie de sapo
na Serra do Brigadeiro
(MG) foi resultado de uma
pesquisa conduzida por
Carla Silva Guimarães,
durante seu mestrado –
concluído em 2016, no Programa
de Pós-Graduação
em Biologia Animal, sob
orientação do professor
Renato Neves Feio. Carla,
que também se graduou em
Ciências Biológicas na UFV,
conta que, durante o mestrado,
optou por “resolver
problemas ta-xonômicos
de anfíbios da Serra do
Brigadeiro que ainda não
tinham uma identidade específica”.
O “sapinho dourado”,
que era um deles,
acabou se tornando o
protagonista da pesquisa
pelas novidades que revelou.
O inédito Brachycephalus
darkside, apresentado
ao mundo científico, traz
em seu nome uma referência
ao álbum lançado nos
anos 1970 pela banda
britânica Pink Floyd, que
ainda costuma embalar
o descanso dos pesquisadores
responsáveis pela
descoberta.
O novo Brachycephalus é
a sexta descoberta feita
na Serra do Brigadeiro
por pesquisadores orientados
por Renato Feio e se
soma às mais de 50 espécies
que já catalogaram ali
– um número alto, segundo
o professor, para apenas
uma região. Embora o trabalho
realizado por ele e
seus estudantes seja basicamente
o da busca por
novas espécies de anfíbios
e répteis nas matas – o que
a ciência chama de Método
de Procura Ativa – e sua
descrição, uma descoberta
dessa natureza pode abrir
importantes perspectivas
para outras áreas, como a
farmacologia, em função
das toxinas que o sapo tem
na pele. Contudo, independentemente
de aplicabilidade,
o grande ganho, na
concepção de Renato Feio,
é entender melhor uma espécie
e estudar algumas
questões relacionadas à
conservação. “A Serra do
Brigadeiro está servindo
de proteção para este bicho.
É mais uma espécie
que valoriza ainda mais
o local e é sempre bom
aumentar a diversidade;
colocar algo a mais sob
nossa visão. A homogeneização
e a simplificação
são tristes. Já a diversificação
é super bem-vinda”,
avalia o professor.
Fonte e texto: Pró-Reitoria de Pesquisa
e Pós-Graduação da UFV.
Entrevista
Ano 7, n°29 - Pág 6
IDEALIZAÇÃO E DESAFIOS DA CRIAÇÃO DO
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO BRIGADEIRO:
Isabella Costa
Lucas Filipe
Nesta edição do Boletim
BioPESB, foi entrevistado
Braz Cosenza, mestre e
doutor em Botânica/Biologia
Vegetal pela Universidade
Federal de Viçosa,
professor titular na Universidade
do Estado de Minas
Gerais (Carangola/MG),
biólogo e um dos idealizadores
do Parque Serra do
Brigadeiro, que completou
21 anos em 2017.
O que inspirou a criação do
PESB?
O que inspirou a criação
do PESB, antes chamado
de Serra do Brigadeiro,
foram experiências que
me marcaram durante a
minha graduação, como
o caso da fêmea órfã
de muriqui que consegui
resgatar juntamente com
membros da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão
Rural do Estado de
Minas Gerais (EMATER) de
Carangola/MG. Esse animal
tornou-se o primeiro
muriqui em cativeiro do
Brasil. Foi assim que decidi
conhecer a região da Serra,
indo todos os finais de
semana e feriados para
tirar fotos, coletar dados
e plantas. Quando me
formei na UFJF, entrei em
contato com um grupo em
Viçosa/MG, chefiado pelo
professor Sérgio Mendes,
que iniciou o primeiro projeto
do PESB financiado
via FAPEMIG. Assim, com
a ajuda da prefeitura,
construímos nossa sede no
meio da região de mata.
Ali foi nossa base de pesquisa
durante 15 anos,
aquela casa foi primordial
para alavancar nossas
pesquisas, feitas na maior
parte do tempo, sem luz,
devido à falta de gerador.
Na época quais eram os
principais desafios para a
criação do Parque?
O principal desafio era,
primeiramente, uma
definição clara dos limites,
porque já existia um
projeto feito pelo professor
Griffith com colaboradores
que delimitava o
parque a 32.500 hectares.
Atravessava, inclusive, muitas
propriedades de café
e pastos. Além disso, existia
o impasse para definir
a cota, ou seja, por onde o
parque seria criado. O desafio
seguinte foi a implantação
do parque devido
à falta de estrutura física.
Com o recurso do Pró-Mata,
foi construído uma sede,
a estrada do parque, portarias,
casas para os pesquisadores,
entre outras
estruturas que estão lá até
hoje.
Como foi o processo de
diálogo com a comunidade
local?
Nós, pesquisadores, tínhamos
uma grande
dificuldade em relação ao
contato com a população
em torno do parque, o que
gerou, por um tempo, um
grande conflito, uma vez
que precisávamos lidar
com o dia a dia do campo
para entender a dinâmica
em relação ao homem do
campo e suas propriedades.
Com o tempo, nós
entendemos que, na verdade,
a população é a
grande detentora da biodiversidade
e conservação
da área. Após 20 anos, temos
uma boa relação, respeito
e parceira com essas
pessoas.
Quais foram os principais
benefícios com a criação da
Unidade de Conservação?
Os principais benefícios
da criação da unidade
de conservação foram
os próprios objetivos da
criação do parque como
conservação da biodiversidade,
dos recursos hídricos,
do solo e da biota
como um todo. Além disso,
o Parque da Serra do Brigadeiro
foi considerado
um patrimônio histórico e
cultural, tornando-se uma
Unidade de Conservação.
Foi criado um cinturão de
proteção na região devido
a área de mineração
e conflitos de terra, blindando
tal exploração. Por
conseguinte, o turismo também
está sendo alavancado
aos poucos, gerando
empregos, seja no próprio
parque ou nas pousadas.
Depois de 21 anos, o PESB
hoje atende aos desejos dos
seus idealizadores?
Eu, particularmente, como
uma das pessoas que
ajudaram a implantar o
parque, estudá-lo, fotografá-lo
e publicar artigos
sobre ele, considero-me
realizado. Só o fato de
termos conseguido criar a
unidade de conservação,
repleta de espécies da
fauna e da flora ameaçadas
de extinção, tirá-la do
papel e proporcionar uma
estrutura real e implantar
a logística, juntamente com
os colaboradores, já foi
um enorme ganho. Então
eu me sinto muito honrado,
primeiro de ter participado
de tudo, segundo feliz
como ser humano e realizado
como profissional
biólogo que sou.
Serra do Brigadeiro Ano 7, n°29 - Pág 7
Conhecendo a biodiversidade do Brasil colonial: o contato dos
naturalistas com a medicina tradicional
Isabela Paes
Isabella Britto
Luís Vinícius
Em meados do ano
1662, iniciaram-se as
primeiras expedições destinadas
à exploração dos
recursos naturais em Minas
Gerais. Mais tarde, já no
século XIX, com a vinda
da corte portuguesa para
o Brasil, vários naturalistas
euro-peus vieram em
expedições e relataram a
riqueza da biodiversidade
brasileira, retratando entre
outras coisas, o uso da flora
medicinal pela população
local. Dentre estes naturalistas,
pode-se citar: Von
Martius, Von Spix, Saint
Hilaire e G. Langsdorff,
que tinham o objetivo de
conhecer melhor as riquezas
da geografia, flora e fauna
do território brasileiro.
Em 1822, Georg Heinrich
von Langsdorff, médico,
naturalista e explorador,
percorreu cerca de seis mil
quilômetros no interior do
território brasileiro coletando
informações sobre a
fauna, flora e etnografia.
Langsdorff cruzou a floresta
Atlântica, o Cerrado,
o Pantanal e a floresta
Amazônica.
Durante suas expedições
por Minas Gerais, Langsdorff
e sua equipe percorreram
várias cidades; entre
estas Viçosa, de acordo
com o relato do historiador
José Flávio Morais Castro.
“No dia 26 de julho de
1824, a expedição comandada
por Langsdorff,
vinda de São João del Rei,
passando por Santa Rita
(Viçosa), penetrou no ‘município
de Guaraciaba’ pelo
vale do rio Turvo Limpo.
O naturalista relatou, em
diário, a passagem por
Barra do Bacalhau e o percurso
realizado com destino
a Piranga e Mariana”
Em anotações diárias de
suas viagens pelas províncias
do Rio de Janeiro e
Minas Gerais, entre o período
de 1824 a 1825,
relatou não medir esforços
para coletar e identificar
novas espécies vegetais,
das quais muitas possuíam
propriedades medicinais,
como a raiz-preta, o jaborandi
e a ipeca, que continuam,
até hoje, sendo
empregadas na medicina
popular brasileira.
Dentre as expedições de
Langsdorff e sua equipe,
os campos rupestres na
região da Serra do Cipó
em Minas Gerais (Serra da
Lapa) foram os que mais
os impressionaram, devido
sua riqueza florística
e exuberância das espécies
encontradas. Em um de
seus relatos diários, destaca-se
a busca da planta
ipeca, atualmente identificada
como Psychotria
ipecacuanha (Poaia), uma
espécie medicinal usada
como vomitivo em intoxicações.
Naquela época,
Langsdorff já mostrava
preocupação quanto ao
extrativismo de algumas
espécies. No caso da ipeca,
ele revela que, juntamente
com o botânico
alemão, Riedel, percorreram
a floresta por quatro
horas e conseguiram coletar
apenas única planta,
evidenciando a raridade
da espécie devido a exploração
indiscriminada
por parte da população
e com isso mostrando sua
preocupação com a possível
extinção da ipeca no
Brasil. Langsdorff também
relatou em seus diários
várias práticas populares
da época associadas ao
manejo da biodiversidade,
algumas incluindo a cultura
dos índios Purís. Em outras
anotações sobre a ipeca, o
naturalista afirmou:
“Foi um alívio para mim
ouvir que os índios colhem
essa planta, mas só retiram
dela as raízes medicinais,
voltando, em seguida, a
fincá-la na terra. Com
isso, ela volta a produzir
nova raiz medicinal no ano
seguinte. ”
Isso confirma que o co-
Imagem: reprodução
nhecimento tradicional sobre
as plantas medicinais
já era comum entre os índios
que viviam na floresta
Atlântica da zona da mata
mineira.
Além de Langsdorff,
Saint-Hilaire também
caminhou por Minas Gerais
e foi o primeiro naturalista
a identificar a espécie
Strychnos pseudoquina,
conhecida como guararoba
ou quina-mineira e usada
pela população da
época como antimalárico,
antitérmico e cicatrizante.
Esquecida por muito tempo
pelos cientistas, atualmente
esta espécie tem sido alvo
de estudos de pesquisadores
do grupo BIOPROS
da UFV, que comprovaram
atividade cicatrizante,
além de atividades leishmanicida
e antiviral. Este
fato mostra a importância
dos levantamentos realizados
pelos naturalistas
que vieram ao Brasil durante
o período colonial.
Atualmente, alguns diários
desses naturalistas, como o
de Langsdorff e de Saint-
Hilaire foram traduzidos,
servindo de importante
fonte para o estudo de
eco-logia, história, botânica,
química de produtos
naturais e outras disciplinas.
Turismo
Italo Bianchini
Júlia Coelho
Ano 7, n°29 - Pág 8
21 anos do Parque Estatual da Serra do Brigadeiro:
história por trás da sua criação e dias atuais
Pico da Grama, localizado na sede do PESB na década de 80, quando o PESB ainda era a antiga
Fazenda da Neblina e atualmente. É possível ver claramente a regeneração da mata.
Criado em setembro
de 1996 na Zona da
Mata Mineira, o Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB) é uma
Unidade de Conservação
(UC) de Proteção Integral,
constituído de 14.984 hectares,
que abrange e protege
uma grande porção
do último remanescente da
Mata Atlântica do estado
de Minas Gerais. No entanto,
embora sua criação
complete apenas 21 anos
em 2017, a história por
trás dela remete à década
de 1970, quando dois professores
do Departamento
de Engenharia Florestal
da UFV, Elmar Alfenas
Couto e James M. Dietz,
propuseram a criação de
uma Unidade de Conservação.
A devastação de
matas com a destruição
de habitats de diversos
animais que ocorria desde
a década de 1950 foi a
principal motivação para
a proteção dessa região.
O documento “Sistematização
participativa da
experiência de criação e
implantação do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro
(PESB), MG” faz
parte do acervo digital
do Centro de Tecnologias
Alternativas da Zona da
Mata (CTA-ZM) e relata
como foi a criação do
Parque pelos dois professores.
Segundo a fonte,
após diversas pesquisas
e coletas de dados pelos
professores sobre os modelos
de UCs já criadas e
sobre questões que envolviam
a conservação das
matas da região, em 1988
o Governo do Estado de
Minas Gerais promulgou
uma lei que autorizava
a criação do PESB. Cinco
anos depois, em 1993, o
Instituto Estadual de Florestas
de Minas Gerais
(IEF-MG) iniciou os estudos
para criação e implementação
efetiva do Parque,
ocorrendo diversas discussões
e assembleias com
Organizações Não Governamentais
(ONGs) e Sindicatos.
Questões trabalhistas, por
exemplo, foram amplamente
discutidas, uma vez
que vários moradores dependiam
da região para
seu sustento. Após diversas
reuniões ocorridas e com a
remodelação da proposta
de 1988, em 27 de setembro
de 1996 foi aprovado
o decreto pelo Governo do
Estado de Minas Gerais e
pelo IEF-MG, que legalizou
a criação do PESB considerando
aspectos ambientais
e socioeconômicos.
Atualmente, após 21 anos
de criação, o PESB conta
com diversas atividades
que visam promover a conservação
de toda a fauna
e flora da região, como
por exemplo, a capacitação
e treinamento de guarda-parques,
que envolve
a formação de brigada,
cursos de operação ambiental,
manutenção de
trilhas e organização do
ecoturismo. Vale destacar
que em 2016 não houve
incêndios dentro do território
do Parque. Grande
parte desse mérito pode
ser creditado ao empenho
de seus funcionários que
realizam visitas aos produtores
rurais locais periodicamente
e ao trabalho de
educadores ambientais
realizado em escolas de
nível básico e superior.
Além disso, um elemento
essencial para o bom funcionamento
e gestão das
UCs é o plano de manejo.
Segundo o Sistema Nacional
de Unidades de Conservação
(SNUC), o plano
de manejo é um “documento
técnico mediante o
qual, com fundamento nos
objetivos gerais de uma
unidade de conservação,
se estabelece o seu zoneamento
e as normas que devem
presidir o uso da área
e o manejo dos recursos
naturais, inclusive a implantação
das estruturas físicas
necessárias à gestão da
unidade”. Esse documento
tem como principal objetivo
orientar a gestão e
promover o manejo dos recursos
naturais da respectiva
UC
De acordo com Laurielen
Gurgel Pacheco, monitora
ambiental do PESB,
em comemoração ao aniversário
de criação do
Parque, desde 2012 os
funcionários realizam expedições
para conhecerem
alguns atrativos locais,
sendo uma oportunidade
para a confraternização
e, como ela mesmo disse,
“turistar um pouco”.
Com uma grande história
por trás de sua criação e
instauração, o PESB é um
local repleto de belezas
naturais encantadoras.
Vale a pena fazer uma
visita para conhecê-lo melhor!
Imagem: Evandro Rodney
Imprensa MG