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Revista Março 2018 Final final

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<strong>Março</strong> /<strong>2018</strong><br />

Mariana<br />

<strong>Revista</strong> Histórica e Cultural


“ Aos doces afagos da voz dos meus filhos,<br />

Mais bela que outrora, eu irei ressurgir.”<br />

A <strong>Revista</strong> Mariana Histórica e Cultural é uma publicação eletrônica da<br />

Associação Memória, Artes, Comunicação e Cultura – AMACULT de<br />

Mariana. O periódico mensal tem por objetivo divulgar matérias, artigos,<br />

ensaios, entrevistas e resenhas sobre a cultura e história de Mariana, a<br />

primeira cidade de Minas Gerais.<br />

A revista é uma vitrine para publicação de trabalhos de pesquisadores.<br />

Mostrar a cultura de uma forma leve, histórias e curiosidades que marcaram<br />

a fantástica do - Primeiro descobrimento, primeira vila, primeira<br />

cidade, primeiro bispado e arcebispado, primeira comarca judiciária,<br />

primeira câmara municipal, primeira cidade na instalação da primeira<br />

escola primária e normal, primeira Capital de Minas, primeira, <strong>final</strong>mente,<br />

onde se instalou o primeiro Correio Ambulante, tornando-se a pioneira no<br />

setor das comunicações, em Minas Gerais.<br />

A <strong>Revista</strong> Histórica e Cultural <strong>Revista</strong> é um passo importante para a<br />

divulgação e pesquisa de conteúdos sobre a cidade de Mariana.<br />

Esperamos que os textos publicados possam contribuir para a formação<br />

de uma consciência de preservação e incentivem a pesquisa.<br />

Os conceitos e afirmações contidos nos artigos<br />

são de inteira responsabilidade dos autores.<br />

Colaboradores:<br />

Prof. Cristiano Casimiro<br />

Prof. Vitor Gomes<br />

Agradecimentos:<br />

Arquivo Histórico da Municipal Câmara de Mariana<br />

IPHAN - Escritório Mariana<br />

Arquivo Fotográfico Marezza<br />

Museu da Música de Mariana,<br />

Fotografias:<br />

Cristiano Casimiro, Vitor Gomes, César do Carmo e<br />

Caetano Etrusco e Arquivo Marrrezza - Marcio Lima<br />

Diagramação e Artes: Cristiano Casimiro<br />

Capa: Passo da Cadeia - Casa de Câmara e Cadeia de Mariana.<br />

Imagem Departamento de Comunicação da Câmara -<br />

Arte Cristiano Casimiro<br />

Associação Memória Arte Comunicação e Cultura<br />

CNPJ: 06.002.739/0001-19<br />

Rua Senador Bawden, 122, casa 02


Indice<br />

A História da Devoção a Nosso Senhor dos Passos<br />

Os passos da Paixão de Cristo em Mariana<br />

04<br />

Tijolo de Adobe<br />

Técnica construtiva no período colonial<br />

Frutuoso de Matos Couto<br />

Contribuição para memória da música Marianense.<br />

16<br />

22<br />

Alterações Toponímica de Mariana<br />

Legislação que mudou o nome dos lugares na cidade de Mariana<br />

28<br />

Photo Carmo - César do Carmo<br />

Santa Ceia - Manoel da Costa Athaide - Colégio do Caraça -Foto: Cristiano Casimairo


Teto da sacristia da igreja São Francisco de Assis de Mariana Foto Márcio Lima


Os Passos da<br />

Paixão de<br />

Cristo<br />

Passo da cadeia (Casa de Câmara) foto: Arquivo Câmara de Mariana - Arte: Cristiano Casimiro


de Cristo<br />

Os Passos da<br />

Paixão de Cristo<br />

Cristiano Casimiro - baseado na ficha documental fundação João Pinheiro 1959<br />

Nosso Senhor dos Passos é uma invocação<br />

de Jesus Cristo e uma devoção especial na<br />

Igreja Católica, que faz memória ao trajeto<br />

percorrido por Jesus Cristo desde sua<br />

condenação à morte no pretório até o seu<br />

sepultamento, após ter sido crucificado no<br />

Calvário.<br />

A história desta devoção remonta à Idade<br />

Média, quando os cruzados visitavam os<br />

locais sagrados de Jerusalém por onde<br />

andou Jesus a caminho do martírio, e<br />

quiseram depois reproduzir espiritualmente<br />

este caminho quando voltaram à Europa<br />

sob forma de dramas sacros e procissões,<br />

ciclos de meditação, ou estabelecendo<br />

capelas especiais nos templos.<br />

No século XVI se fixaram 14 momentos<br />

principais deste trajeto, embora o número<br />

tenha variado na história do catolicismo de<br />

07 a 39. Estes pontos principais são chamados<br />

de as estações ou os passos da Paixão<br />

de Cristo ao longo da Via Sacra ou Via<br />

Crucis.<br />

A origem e o significado da expressão “dos<br />

Passos”, que caracteriza o título desta<br />

devoção tão próxima do coração do nosso<br />

povo Marianense. A primeira significação<br />

que nos vem à mente é a dos “passos”<br />

dolorosos, dados pelo Senhor Jesus, com a<br />

Cruz às costas, rumo ao monte Calvário.<br />

Mas a palavra “passo”, mesmo, qual é sua<br />

etimologia na língua de origem, o latim? no<br />

“Dicionário Latino-Português”, de Saraiva,<br />

encontro a resposta: “passo” vem do termo<br />

“passus”, o qual, porém, vem de um de<br />

dois verbos possíveis: do verbo pando,<br />

pándere, que significa “estender”, “abrir”, e<br />

do verbo pátior, páti, que significa “padecer”,<br />

sofrer. Do verbo pándere temos o<br />

substantivo passus, da quarta declinação,<br />

que significa “passo”, “passada”, o movimento<br />

de um pé após o outro ou a distância<br />

percorrida por esse movimento. Já do verbo<br />

depoente páti vem o particípio passado<br />

passus, que significa “aquele que padeceu,<br />

que sofreu”. Assim, no original latino do<br />

Credo: sub Pontio Pilato passus, “padeceu<br />

sob Pôncio Pilatos”.<br />

Na expressão “passos da Paixão” temos a<br />

fusão dos dois sentidos: são “passos dolorosos”,<br />

“passos sofridos”, não só os dados<br />

pelos pés, mas os diversos episódios que<br />

constituem a Paixão do Senhor.<br />

Procissão do Encontro em Mariana - César do Carmo


Origem<br />

Pelos anos de 1585, vivia em Lisboa um<br />

pintor chamado Luiz Alvares de Andrade .<br />

Luis Alvares era conhecido pela sua devoção<br />

em colocar retábulos das almas do<br />

purgatório, já pintados em madeira, já em<br />

azulejos, pelas ruas da cidade, para solicitar<br />

as orações dos fieis em beneficio dos que<br />

sofriam as penas do purgatório.<br />

Sabendo que na Espanha se faziam procissões<br />

na quaresma, representando os<br />

passos da paixão de Jesus Cristo, pediu ás<br />

autoridades eclesiásticas que entre os<br />

portugueses fosse também instituída a<br />

devoção.<br />

Havia no claustro do Mosteiro de São Roque<br />

em Lisboa, uma capela da invocação da<br />

Santíssima Cruz, e havia um grupo de<br />

devotos, na maior parte artistas, que frequentavam<br />

muito os sacramentos da confissão<br />

e comunhão.<br />

demanda aos Gracianos, fundando-se em<br />

um pretendido direito de prioridade á imagem<br />

por lhes ter sido oferecida em primeiro<br />

lugar.<br />

Debatida a questão nos tribunais, foi resolvido<br />

que ficassem os Gracianos na posse da<br />

imagem, sob a condição de disponibilizá-la<br />

na vigília da segunda sexta-feira de quaresma,<br />

no para o Mosteiro de São Roque,<br />

ficando a pertencer-lhe se pernoitasse<br />

n'este templo além de sexta-feira.<br />

Desde 1578 até hoje a procissão acontece,<br />

quaisquer que sejam as circunstâncias em<br />

que se ache a cidade de Lisboa, e sempre<br />

com o cuidado de não deixarem a imagem<br />

no Mosteiro de São Roque, além do termo<br />

da prescrição.<br />

Luiz Alvares de Andrade comprou uma<br />

cabeça de Jesus Cristo, por três cruzados,<br />

de um escultor Italiano , e a foi oferecer aos<br />

Jesuítas do Mosteiro de São Roque, para<br />

com ela formarem a confraria dos Passos, o<br />

que eles rejeitaram. Alvares foi fazer a<br />

mesma proposta aos Frades Gracianos<br />

(Ordem de Santo Agostinho), que prontamente<br />

a aceitaram. Fizeram uma Imagem<br />

de roca ( Corpo de armação ripas de madeira<br />

e cabeças e mão esculpidas em madeira))<br />

e vestiram a imagem, colocando-a no altar<br />

que lhe destinaram e onde hoje a vemos,<br />

erigindo-lhe irmandade, na qual se inscreveu<br />

a família real e a mais alta nobreza do<br />

reino Português. A imagem foi denominada<br />

Senhor dos Passos das Graças.<br />

Vendo os jesuítas a grande devoção criada<br />

por a imagem do Senhor dos Passos da<br />

Graça, e, sobre tudo, as grandes esmolas e<br />

ofertas que a igreja recebia, moveram<br />

Passo da Cadeia ( Casa de Câmara) - Cristiano Casimiro<br />

07


Passo da Ponte de Areia - Cristiano Casimiro


Estações<br />

Nosso Senhor dos Passos é uma invocação<br />

de Jesus Cristo e uma devoção especial na<br />

Igreja Católica a ele dirigida, que faz memória<br />

ao trajeto percorrido por Jesus Cristo<br />

desde sua condenação à morte no pretório<br />

até o seu sepultamento, após ter sido<br />

crucificado no Calvário. A história desta<br />

devoção remonta à Idade Média, quando os<br />

cruzados visitavam os locais sagrados de<br />

Jerusalém por onde andou Jesus a caminho<br />

do martírio, e quiseram depois reproduzir<br />

espiritualmente este caminho quando<br />

voltaram à Europa sob forma de dramas<br />

sacros e procissões, ciclos de meditação,<br />

ou estabelecendo capelas especiais nos<br />

templos. No século XVI se fixaram 14<br />

momentos principais deste trajeto, embora<br />

o número tenha variado na história do<br />

catolicismo de sete a 39. Estes pontos<br />

principais são chamados de as estações ou<br />

os passos da Paixão de Cristo ao longo da<br />

Via Sacra ou Via Crucis. São eles:<br />

I. Jesus é condenado à morte<br />

II. Jesus carrega a cruz às costas<br />

III. Jesus cai pela primeira vez<br />

IV. Jesus encontra a sua Mãe<br />

V. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a<br />

cruz<br />

VI. Verônica limpa o rosto de Jesus<br />

VII. Jesus cai pela segunda vez<br />

VIII. Jesus encontra as mulheres de<br />

Jerusalém<br />

IX. Terceira queda de Jesus<br />

X. Jesus é despojado de suas vestes<br />

XI Jesus é pregado na cruz<br />

XII. Morte de Jesus na cruz<br />

XIII. Descida do corpo de Jesus da cruz<br />

XIV. Sepultamento de Jesus<br />

Passo da Ponte de Areia - Cristiano Casimiro<br />

Esta invocação se tornou muito popular em<br />

alguns países como Portugal e Brasil,<br />

dando origem a rica iconografia e onde<br />

existem inúmeras igrejas fundadas sob sua<br />

proteção, e na Quaresma são realizadas<br />

procissões especiais chamadas de<br />

Procissão dos Passos ou Procissão do<br />

Encontro.<br />

09


Passo da Rua Dom Viçoso - Cristiano Casimiro


Simbologia<br />

A imagem de Nosso Senhor dos Passos, ou<br />

Senhor Bom Jesus dos Passos ou ainda<br />

simplesmente "Senhor dos Passos" tem<br />

significados belos e profundos na iconografia<br />

cristã. Ela relembra o trajeto que Jesus fez<br />

carregando a cruz, da Fortaleza Antônia até o<br />

Calvário, onde foi crucificado, na cidade de<br />

Jerusalém.<br />

A coroa de espinhos<br />

A coroa de espinhos sobre a cabeça de Jesus<br />

simboliza as humilhações que ele sofreu por<br />

parte dos soldados romanos que o torturaram<br />

antes de sua morte. Jesus, sendo o rei dos<br />

reis, recebeu uma coroa de espinhos como<br />

sinal de humilhação e zombaria. Porém,<br />

como diz o profeta Isaías, "Ele não abriu a<br />

boca".<br />

A túnica roxa do Senhor dos Passos<br />

A túnica roxa de Nosso Senhor dos Passos<br />

simboliza todo o sofrimento assumido por<br />

Jesus. Ele é o Senhor dos Passos, ou seja,<br />

aquele que assumiu o sofrimento total em<br />

favor da humanidade.<br />

A cruz do Senhor dos Passos<br />

A cruz do Senhor dos Passos é o símbolo<br />

maior dos sofrimentos que Jesus Cristo<br />

assumiu. Ela simboliza o pecado da humanidade,<br />

que Jesus tomou sobre seus ombros e<br />

carregou até o fim, como profetizou Isaías<br />

700 anos antes: . "Em verdade, ele tomou<br />

sobre si nossas enfermidades, e carregou os<br />

nossos sofrimentos: e nós o reputávamos<br />

como um castigado, ferido por Deus e humilhado.<br />

Mas ele foi castigado por nossos<br />

crimes, e esmagado por nossas iniqüidade; o<br />

castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos<br />

curados graças às suas chagas." (Is 53, 4-<br />

5)No tempo de Cristo, a morte na cruz era o<br />

pior castigo que existia, dado somente a<br />

bandidos e malfeitores. Jesus, por livre e<br />

espontânea vontade quis ser morto na cruz<br />

para que, através desta morte, a humanidade<br />

fosse salva.<br />

Passo da Rua Dom Viçoso - Cristiano Casimiro<br />

11<br />

As cordas<br />

As cordas no Senhor dos Passos nos lembram<br />

que, no caminho do calvário, Jesus foi<br />

amarrado a outros dois malfeitores também<br />

condenados. Esta era a maneira pela qual os<br />

romanos levavam os condenados para serem<br />

crucificados: amarrados uns aos outros.<br />

Oração a Nosso Senhor dos Passos<br />

"Ó Jesus, relembro tua Paixão, teu Calvário,<br />

tuas dores. Olhando as imagens do Senhor<br />

carregando a Cruz. Imagem com a qual te<br />

invocamos sob o título de Nosso Senhor dos<br />

Passos e veneramos como símbolos de teu<br />

sacrifício e representação de teu ato de amor<br />

salvífico, que foi teu sacrifício na cruz, te<br />

pedimos como teu discípulo Pedro: Senhor,<br />

salva-nos. Salva-nos por tua Cruz, Salva-nos<br />

por teu sangue; salva-nos por tua misericórdia;<br />

salva-nos por teu amor e cura-nos de<br />

nossas feridas tanto físicas quanto espirituais,<br />

emocionais e psíquicas. Amém."


Passo da Rua Direita - Cristiano Casimiro


O Senhor dos Passos em Mariana.<br />

A construção dos chamados passos da<br />

paixão se deveu, sem dúvida, à Irmandade<br />

do Senhor dos Passos. Esta confraria foi<br />

criada na Vila de Nossa Senhora do<br />

Ribeirão do Carmo (Mariana) entre 1708 e<br />

1079.<br />

Dos primeiros passos, o único remanente é<br />

o Passo conhecido como da “ Ponte de<br />

Tábuas”, que corresponde a episódio do<br />

Horto das Oliveiras. O Passo conhecido<br />

como da cadeia, embora não atingido pelas<br />

inundações de 1743, foi substituído no <strong>final</strong><br />

do século XVIII. O passo da Cadeia, que era<br />

localizado entre a atual Praça Cláudio<br />

Manoel (Praça da Sé) e as margens do<br />

Ribeirão do Carmo, foi construído no ano de<br />

1720 foi demolido entre 1792 e1793, quando<br />

José Pereira Arouca, já estava construído,<br />

a segunda etapa, do novo prédio da<br />

Casa de Câmara e Cadeia. O novo Passo da<br />

Cadeia foi construído atrás do prédio da<br />

Câmara e é um dos mais bem preservados<br />

de Mariana.<br />

A dada foi obtida em um documento de um<br />

pleito Judicial, em julho de 1747, entre A<br />

Irmandade do Senhor dos Passos e a<br />

Irmandade de Nossa Senhora do Rosário<br />

dos Pretos (Rosário Velho – Hoje Capela de<br />

Santo Antônio) sobre: onde iria ficar depositado<br />

a imagem do Senhor dos Passos nas<br />

procissões anuais da Semana Santa. Neste<br />

documento, há uma citação que a<br />

Irmandade do Senhor dos Passos já existia<br />

na localidade a mais de 40 anos, portanto,<br />

desde de antes de 1711, ano da criação da<br />

vila.<br />

Até 1743, o trajeto da Procissão dos Passos<br />

correspondia ao percurso entre ao Igreja do<br />

Rosário Velho (Capela de Santo Antônio) e a<br />

Matriz (Catedral). Ao longo deste itinerário<br />

foram construídos os primeiros passos. No<br />

ano de 1743 ocorreu uma grande inundação<br />

do Ribeirão do Carmo, ocasionando grande<br />

destruição na rua principal da vila, por onde<br />

passava a procissão.<br />

Nos dois anos seguintes 1744 e 1745, a<br />

tradição da procissão dos Passos foi interrompida.<br />

Em 1746 a procissão foi retomada<br />

com um itinerário diferente, seguiu da<br />

Capela de São Gonçalo para a Matriz.<br />

Com a construção da Cidade de Mariana e o<br />

nova planta traçada pelo Sargento-Mor e<br />

engenheiro-arquiteto José Fernandes Pinto<br />

Alpoim, houve uma mudança na trajetória<br />

da procissão e novos passos foram construídos.<br />

13<br />

Assim, à exceção do passo do Rosário ou da<br />

Ponte de Tábuas (Horto das Oliveiras), os<br />

demais podem ser dados como originalmente<br />

construídos após 1749 ou melhor, após o<br />

novo arrumamento da cidade.<br />

Passos em do Centro Histórico<br />

de Mariana:<br />

01. Passo do Rosário ou Ponte de<br />

Tábuas<br />

Corresponde ao Episódio do Horto das<br />

Oliveiras representa o tema de agonia no<br />

Jardim das Oliveiras, marco inicial da<br />

Paixão relatada pelos evangelistas Lucas,<br />

Marcos e Mateus.<br />

02. Passo da Ponte de Areia<br />

Corresponde a episódio da flagelação<br />

representa a flagelação de Jesus, também<br />

conhecido como Cristo na coluna. É a quarta<br />

estação da versão moderna.<br />

03. Passo da Rua Direita<br />

Corresponde ao Espósito da coroação de<br />

Espinho ou Cana Verde representa àpassagem<br />

do evangelho que diz que os soldados<br />

coroaram jesus e colocaram uma cana ou<br />

vara em sua mão, para zombar dele. Para<br />

lembrar os sofrimentos do salvador, as<br />

imagens que mostram jesus carregando<br />

uma cana com a coroa na cabeça.<br />

04. Passo da Rua Dom Silvério<br />

Corresponde ao episódio do Pretório representa<br />

Jesus Cristo, na varanda de Pôncio<br />

Pilatos, denominado "Ecce Homo" (Eis o<br />

Homem), está relacionado ao julgamento e<br />

apresentação de Jesus diante do Pretor<br />

(Governador da Roma Antiga), daí ser<br />

denominado também de "Pretório".<br />

05. Passo da Rua Dom Viçoso<br />

Corresponde ao Episódio da Cruz às Costa<br />

de Jesus representa Jesus carregando a<br />

cruz a caminho da sua crucificação é um<br />

episódio da vida de Jesus relatado nos<br />

quatro evangelhos canônicos.


Passo da Ponte de Tábuas - Cristiano Casimiro


Nossa Senhora das<br />

Dores<br />

Conta a história do encontro do Nosso<br />

Senhor dos Passos com a Nossa<br />

Senhora das Dores.<br />

A devoção à Nossa Senhora das Dores<br />

tem origem na tradição que conta o<br />

encontro de Maria com seu filho Jesus,<br />

a caminho do Calvário.<br />

Ao ver o amado filho carregando a<br />

pesada cruz, torturado e sofrido,<br />

coroado de espinhos e ensangüentado,<br />

a dor da Mãe de Deus foi tão profunda<br />

que nos faz refletir até hoje sobre as<br />

nossas próprias dores.<br />

Maria ao seu Senhor.<br />

As Sete Dores de Maria:<br />

1 – A profecia de Simeão.<br />

2 – A fuga com o Menino para o Egito.<br />

3 – A perda do Menino no templo, em<br />

Jerusalém.<br />

4 – O encontro com Jesus no caminho<br />

do calvário.<br />

5 – A morte de Jesus na cruz .<br />

6 – A lançada no coração e a descida de<br />

Jesus da cruz .<br />

7 – O sepultamento de Jesus e a solidão<br />

de Nossa Senhora .<br />

Nos primórdios da Igreja, a festa era<br />

celebrada com o nome de Nossa<br />

Senhora da Piedade e da Compaixão.<br />

No século XVIII, o papa Bento XIII<br />

determinou, então, que se passasse a<br />

chamar de Nossa Senhora das Dores.<br />

A ordem dos servitas foi responsável<br />

por criar uma devoção especial<br />

conhecida como “As Sete Dores de<br />

Nossa Senhora”, que nos lembram os<br />

momentos de sofrimento e entrega de<br />

Procissão do Encontro em Mariana - César do Carmo


ADOBE<br />

Solar na Praça Minas Gerais, onde morou o Monsenhor Alípio, posteriormente, residência da Família Andrade. Hoje SCOTCH BAR<br />

Igreja NS do Rosário de Padre Viegas - Marezza PHOTO


ADOBE


A História do Tijolo de Adobe<br />

Cristiano Casimiro<br />

A palavra Adobe /əˈdoʊbiː/ existe a mais de<br />

4.000 anos, com uma ou outra diferença na<br />

pronuncia ou na forma de escrever. A<br />

palavra foi cunhada no Egito antigo para<br />

designar um tijolo de barro seco ao sol. Os<br />

romanos, também, conheciam a técnica de<br />

tijolos de barro. Os Coptas no Egito<br />

chamavam de “Tobe”( tijolo de barro). Os<br />

árabes deram o nome ao tijolo de barro de<br />

“Al Tube” (o tijolo), este mesmo, árabes<br />

introduziram a técnica de tijolo de barro na<br />

península Ibérica. Na Espanha ficou<br />

conhecido como Abdobe (Al dobe), e é<br />

assim que conhecido atualmente o tijolo de<br />

barro que é seco ao sol.<br />

É considerado um dos antecedentes<br />

históricos do tijolo e seu processo<br />

construtivo é uma forma rudimentar de<br />

alvenaria. Adobes são tijolos de terra crua,<br />

água e palha e algumas vezes outras fibras<br />

naturais, moldados em formas por processo<br />

artesanal ou semi-industrial.<br />

Um dos mais antigos materiais de<br />

construção foi amplamente utilizado nas<br />

civilizações do crescente fértil, em especial<br />

no Antigo Egito e Mesopotâmia.<br />

O adobe foi inserido no Brasil pelos<br />

portugueses no período colonial. O ideal<br />

consistia em usar as grossas paredes como<br />

alternativa de defesa para o intenso calor. A<br />

dificuldade de se conseguir outros materiais<br />

construtivos e grande quantidade de<br />

matéria prima disponível consolidou sua<br />

utilização. Para a produção do adobe era<br />

utilizada primordialmente mão de obra<br />

escrava e a técnica atravessou gerações<br />

decorrendo até os dias atuais.<br />

Nas construções em alvenaria no período<br />

colonial brasileiro, ele seria reservado para<br />

partes secundárias, contudo, igrejas<br />

inteiras puderam ser construídas em adobe<br />

como, por exemplo, a Matriz Nossa<br />

Senhora de Nazaré de Santa Rita Durão,<br />

e m M a r i a n a , A d u r a b i l i d a d e d o<br />

c o m p o n e n t e é c o m p r o v a d a p e l a<br />

persistência desses exemplares e suas<br />

boas condições físicas após o decorrer dos<br />

séculos. A técnica foi amplamente difundida<br />

e aprimorada em toda parte do Brasil.<br />

Construídos com barro e palha (tal como<br />

nos é descrito na Bíblia, no livro do Êxodo),<br />

os tijolos de adobe eram muito utilizados<br />

pelas técnicas quotidianas de construção,<br />

ainda que grandes monumentos destas<br />

c i v i l i z a ç õ e s a e l e r e c o r r e s s e m .<br />

E f e t i v a m e n t e , o s z i g u r a t e s ( n a<br />

Mesopotâmia) e as mastabas (no Egito)<br />

foram feitos essencialmente com tijolos de<br />

adobe, utilizando basicamente as mesmas<br />

técnicas de construção utilizadas em<br />

edifícios "menos nobres". A antiga cidadela<br />

de Arg-é Bam, em Bam, cidade da província<br />

Kerman no sudeste do Irã é a maior<br />

construção em adobe do mundo construída<br />

em 500 a.C.<br />

O adobe foi utilizado em diversas partes do<br />

mundo, especialmente nas regiões quentes<br />

e secas. Com o advento da industrialização<br />

no século XIX, as técnicas em arquitetura<br />

de terra foram, aos poucos, sendo<br />

abandonadas.<br />

18<br />

Detahe Scotch Bar - Alphonsus Morais


igrejas (Nossa Senhora de Nazaré e Rosário). A primeira capela que serviu de matriz foi construída pelo<br />

sargento-mor Paulo Rodrigues Durão (pai do poeta Frei José de Santa Rita Durão) e benta a 28 de maio<br />

de 1729. Em 1766, Domingos Francisco Teixeira arrematou diversas obras “de carpinteiro e pedreiro”<br />

junto à Irmandade do Santíssimo Sacramento. Sabe-se também que a autoridade episcopal concedeu<br />

licença para reedificar a capela-mor em 1779, e no ano seguinte foram estabelecidos o orçamento e as<br />

“condições” da obra por José Pereira Arouca. A igreja foi construída de madeira, adobe e taipa, e possui<br />

duas sacristias laterais.


A Matriz de Santa Rita Durão, atualmente<br />

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré,<br />

no município de Mariana, Minas Gerais, é<br />

datada da primeira metade do século XVII,<br />

representando um dos mais antigos<br />

exemplares do estado. A edificação é<br />

também constituída em alvenaria de pedra e<br />

apresenta uma organização espacial<br />

retangular. Detendo as características<br />

formais de composição da arquitetura<br />

religiosa do período, a planta da igreja<br />

apresenta uma nave, sacristia, capela na<br />

lateral direita, capela-mor e cômodos na<br />

lateral esquerda.<br />

A construção feita com este tijolo torna-se<br />

muito resistente, e o interior das casas muito<br />

fresco, suportando muito bem as altas<br />

temperaturas. Em regiões de clima quente e<br />

seco é comum o calor intenso durante o dia e<br />

sensíveis quedas de temperatura à noite, a<br />

inércia térmica garantida pelo adobe<br />

minimiza esta variação térmica no interior da<br />

construção.<br />

As construções de adobe devem ser<br />

executadas sobre fundações de pedra<br />

comum, xisto normalmente, cerca de 60 cm<br />

acima do solo, para evitar o contato com a<br />

umidade ascendente (infiltração), que<br />

degradaria o adobe. Da mesma forma é<br />

importante a construção de coberturas com<br />

beirais a fim de proteger as paredes das<br />

águas de chuva.<br />

As paredes devem ser revestidas para maior<br />

durabilidade.<br />

É recomendada a construção de adobe no<br />

período de seca, pois o tijolo não deve ser<br />

exposto à chuva durante o processo de cura,<br />

uma vez que a argila dissolve-se facilmente.<br />

No entanto, depois da construção coberta,<br />

ele resiste sem problema algum, com<br />

grande durabilidade.<br />

Vantagens do uso do adobe:<br />

Ÿ<br />

Ÿ Baixo custo<br />

Ÿ Conforto térmico<br />

Ÿ Uso de material regional<br />

Ÿ Pode ser preparado no próprio local da<br />

construção<br />

Ÿ Rapidez na preparação dos tijolos<br />

Ÿ Sustentável<br />

Ÿ Preparação<br />

Detahe ADOBE - Alphonsus Morais


Batuta - Vitor Gomes<br />

Frutuoso de<br />

Matos Couto


Cópia Musicai d Frutu d Mat Cout sua<br />

contribuiçõe par Memóri d Músic Marianens<br />

Em tempos passados a escuta musical<br />

nunca possibilitou, de tantas maneiras e<br />

com tanta facilidade, o acesso a tão diversas<br />

manifestações culturais como nos dias<br />

atuais. Nesta “era digital” na qual se acentuam<br />

os avanços tecnológico-digitais provenientes<br />

da Terceira Revolução Industrial, as<br />

práticas musicais seguem ganhando novos<br />

significados decorrentes da consolidação<br />

do ciberespaço, em decorrência da informatização<br />

e da internet.<br />

Há aspectos importantes a serem considerados<br />

no consumo da música que ganha<br />

certo destaque neste tempo. Um primeiro<br />

aspecto passa pela chamada vivência em<br />

“redes sociais”, na qual se destaca a criação<br />

de perfis próprios dos sujeitos e instituições<br />

que integram essas redes. Num outro<br />

aspecto, a maneira como essa música é<br />

realizada no trajeto entre sua proveniência e<br />

o ouvinte.<br />

Nesta imagem de rede social, muitas conexões<br />

são estabelecidas entre aqueles que<br />

buscam de alguma forma se integrar, e para<br />

cada interação, algo com certa "tonalidade"<br />

é agregado ao seu "profile", incluindo as<br />

representações do repertório.<br />

Os contornos deste perfil são feitos pelas<br />

referências que os sujeitos imaginam tomar<br />

para si, agregando sua identidade. Daí a<br />

ideia de que não existe música boa ou<br />

música ruim, na verdade, interessante seria<br />

analisar os valores que um determinado<br />

grupo de ouvintes atribui a uma fonte sonora<br />

nas suas representações culturais. Se com<br />

todo aparato das redes sociais os participantes<br />

tentam com selfies simular uma<br />

espécie de autobiografia em tempo real, por<br />

outro trazem a música que lhes serve de<br />

trilha sonora.<br />

Embora muito corrente na contemporaneidade,<br />

o conceito de redes sociais não é novo<br />

e nem se restringe às aplicações das tecnologias<br />

da informação. Essa é uma ideia<br />

muito útil para compreender os modos de<br />

utilização da música no passado, tendo em<br />

vista que, como linguagem é sempre feita de<br />

alguém para alguém, portanto trata-se de<br />

um componente valioso para a sociabilidade,<br />

sobretudo, num tempo em que o principal<br />

meio de transmissão da informação<br />

musical se daria pela oralidade e escrita.<br />

Mariana, como a primeira vila, cidade e<br />

capital de Minas Gerais, foi no século XVIII<br />

uma das maiores produtoras de ouro para o<br />

império Português. Em decorrência de uma<br />

herança cultural diversa, preservou-se uma<br />

quantidade substancial de manifestações<br />

musicais e documentos que dão mostra da<br />

importância das práticas para os diversos<br />

segmentos deste grupo social a partir da<br />

segunda metade do século XVIII.<br />

Por serem os documentos musicais (partes<br />

cavadas que trazem notação do que se deve<br />

tocar nos instrumentos, partituras, livros de<br />

canto gregoriano) material catalisador das<br />

interações, a circunscrição espacial de<br />

proveniência e atuação dos sujeitos não<br />

corresponde às delimitações político<br />

geográficas, fazendo com que os arquivos<br />

provenientes de maestros e instituições,<br />

hoje sob os cuidados do Museu da Música<br />

de Mariana, tenham grande amplitude,<br />

havendo material vindo, inclusive, de outro<br />

continente, o que torna o patrimônio<br />

arquivístico acondicionado em Mariana tão<br />

diverso, e um dos mais relevantes para os<br />

estudos musicais do universo latino<br />

americano.<br />

23


Em condições anteriores de análise deste<br />

material os interesses se voltavam para os<br />

grandes nomes da música, seguindo um<br />

modelo que devota a todo o protagonismos<br />

da realização musical ao compositor e<br />

posteriormente ao intérprete, porém nos<br />

registros de interlocução da produção<br />

desses documentos, situam-se pelo menos<br />

quatro atores o compositor, o copista, o<br />

intérprete e o ouvinte ou receptor, sendo<br />

quase impossível entender a interface<br />

música e sociedade sem levá-los em<br />

consideração como rede social.<br />

O estudo desses documentos traz à tona<br />

práticas do escrito musical que destacam o<br />

copista como um sujeito se ocupa do<br />

registro musical, cumprindo um papel<br />

fundamental no quadrilátero compor,<br />

registrar, interpretar, ouvir.<br />

Um exemplo destes é o Copista Fructuoso<br />

Matos Couto, nascido em 1798, filho de<br />

Joaquina Allves de Oliveira, “crioula forra”<br />

conforme mencionado em seu Termo de<br />

Sacramento, sob a custódia do Arquivo<br />

Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana.<br />

Os mestres de música e outros ofícios do<br />

século XVIII e XIX teriam desenvolvido uma<br />

concepçãoprópria de aulas públicas que<br />

permaneceram correntes até o <strong>final</strong> do<br />

século XIX. Não cobrariam pelas aulas,<br />

mas, em troca, seus aprendizes cantariam<br />

nas missas e em comemorações em que o<br />

mestre fosse empregado, conforme nos<br />

informa o pesquisador Curt Lange em suas<br />

publicações.<br />

Foi comum que os copistas de música se<br />

responsabilizassem por outras ocupações<br />

que demandassem habilidades da escrita<br />

como foi o caso de Emilio Soares de<br />

Gouvêa Horta Junior (1839-1907) muito<br />

atuante em Itabira do Mato Dentro ( Hoje<br />

Itabira), Leôncio Francisco das Chagas<br />

(1848 -1912) atuante em Lamim e<br />

Itaverava e Frutuoso Matos Couto (1797-<br />

c.1857), do Inficionado de Santa Rita,<br />

Marina, nomes muito presentes no acervo<br />

do Museu da Música que além de músicos<br />

foram professores do primário, escritores, e<br />

no caso do próprio Frutuoso Matos Couto,<br />

conforme mencionado no campo ocupação<br />

das listas nominativas do século XIX,<br />

mencionado no trabalho Cópia Musical e<br />

Contexto Social na Música Mineira do<br />

Século XIX, escrito por Francisco de Assis<br />

Gonzaga da Silva para os anais no VI<br />

Encontro de Musicologia Histórica,<br />

Frutuoso Matos Couto foi Escrivão de paz<br />

da presidência da Junta Qualificadora da<br />

subdelegacia de Mariana.<br />

Dispomos como “fonte tridimensional”, da<br />

sua possível “batuta”, que, na verdade,<br />

parece-se muito com uma palmatória ou<br />

férula. Foi comum que o objeto fosse usado<br />

para cumprir o castigo na organização<br />

escolar. Esse caso demonstra que a<br />

aprendizagem da música e de outras<br />

disciplinas, como as primeiras letras,<br />

podem ter se mesclado, tornando-se quase<br />

indissociáveis à percepção do presente.<br />

Tendo em vista os gêneros e formas<br />

musicais que esses mestres copiavam, é<br />

possível que incorporou-se, naquelas<br />

comunidades incluindo-se as escolas, a<br />

prática interpretativa da música sacra,<br />

afrodescendente, marcial e de salão.<br />

Detalhe manuscrito - Vitor Gomes<br />

24


Detalhe Batuta - Vitor Gomes<br />

Em manuscrito com caneta esferográfica azul, na parte<br />

circular maior do objeto, vêm os dizeres “Pertencia a<br />

Frutuoso Matos Couto, Maestro em Santa Rita Durão 24-<br />

7-1877”.<br />

Ser copista e mestre de música colocaria os sujeitos de<br />

maneira destacada perante a sociedade pois se tornaram<br />

referenciais para a realização musical nos espaços de<br />

sociabilidade daquela época. Esses sujeitos detinham as<br />

condiçoẽs de realização musical por meio das cópias<br />

manuscrita e que, certamente, também proveram os<br />

músicos, aprendizes no labor prático.<br />

Mas e a aprendizagem desses mestres, como se daria?<br />

Nos procedimentos de notação do caso de Frutuoso<br />

Mattos Couto é possível deduzir a experiência de<br />

aprendizagem vinda da oralidade, pois se percebe, em<br />

seu texto musical, a inversão das hastes das notas. Em<br />

uma análise grafotécnica superficial, uma escrita indecisa<br />

por se tratar de um traço mais espesso, rasuras e uma<br />

série de indicações e recados para o intérprete, tratandose<br />

de um planejamento peculiar da distribuição espacial<br />

do texto musical. Consta, ao <strong>final</strong> do manuscrito: “volte já<br />

pa Quando cœli”, como artifício estrutural. Seria, portanto<br />

o próprio ato de copiar uma maneira essencial de apurar<br />

as habilidades musicais naquele contexto.<br />

25


Ressaltam-se em alguns casos até certa<br />

irreverência de Frutuoso Matos Couto. Em um<br />

detalhe da cópia feita em 1823, do “Memento” (uma<br />

composição fúnebre) de Manoel Dias de Oliveira,<br />

Frutuoso Matos Couto insere o seguinte texto como título:<br />

“Memento para defuntorum que tiver dinheiro e vela; e ele,<br />

sizudinho, a disfrutar as boas gargantas que este<br />

executar”. Como a maioria dos músicos da época, o<br />

mestre de música obtinha uma boa parte de sua renda<br />

com a música para enterros e casamentos. Ao <strong>final</strong>, o<br />

copista ainda ressalta: “para as lambanças e uso de<br />

Frutuoso de Matos Couto, seu legítimo dono”. Este<br />

documento encontra-se sob os auspícios do Arquivo<br />

Histórico Monsenhor Horta, recolhido ao ICHS da UFOP<br />

pelo saudoso Professor José Arnaldo de Aguiar Lima.<br />

Detalhe manuscrito - Vitor Gomes<br />

26


As contribuições dos manuscritos de Frutuoso Matos Couto para a<br />

construção da memória da música são imensuráveis e dão a dimensão<br />

das práticas de repertório em Mariana nesse período, basta ouvir<br />

notar que realizou cópias de elaboradas obras de importantes autores como<br />

Manuel Dias de Oliveira, (c.1735-1813); José Maurício Nunes Garcia (1767 -<br />

1830); Francisco Manuel da Silva (1795-1895); Joaquim de Paula Souza<br />

(c.1760-1842); Florêncio José Ferreira Coutinho (c.1750) e José Joaquim<br />

Emerico Lobo de Mesquita (1742-1805).<br />

Esses e muitos outros sujeitos de trajetórias musicais incríveis estão representados no acervo e<br />

expografia do Museu da Música de Mariana. Oportunamente, visite a instituição e peça uma<br />

condução guiada. O Museu fica aberto de terça a sábado entre 08H30 e 12H00; das 13H30 às<br />

17Hs e domingo das 09Hs às 12Hs.<br />

27


Foto:Vitor Gomes


TOPONÍMICA DE MARIANA<br />

Lugares e Nomes<br />

Cristiano Casimiro


Alterações Toponímicas em Mariana<br />

Mariana, primitivamente Ribeirão do Carmo,<br />

foi a primeira entre as cidades surgidas por<br />

efeito das expedições de bandeirantes<br />

paulistas, que a partir da última década do<br />

século XVII, demandaram as Minas Gerais.<br />

E foi também, no dizer do historiador Diogo<br />

de Vasconcelos, o centro de onde se<br />

irradiou a conquista definitivamente do<br />

território.<br />

Partindo de Itaverava, ponto do qual os<br />

b a n d e i r a n t e s v i n d o s d e Ta u b a t é<br />

prosseguiam como em última arrancada<br />

para atingir o ribeirão do Tripuí, desde 1691<br />

vinha sendo procurado por outros<br />

sertanistas, Salvador Fernandes de<br />

Mendonça, em companhia de Miguel Garcia<br />

da cunha e outros bandeirantes, acampou a<br />

16 de julho, nas margens do ribeirão do<br />

Carmo, assim chamado por ser aquele o dia<br />

consagrado no calendário cristão à festa da<br />

Santíssima Virgem. Verificaram ser o<br />

ribeirão riquíssimo em aluviões auríferas,<br />

com a mesma formação dos granitos cor de<br />

aço que tornaram famoso o Tripuí, onde<br />

surgiria Ouro Preto.<br />

Tomando posse de ribeirão do Carmo e nele<br />

iniciando a mineração, mandou Salvador<br />

Fernandes levantar as primeiras cabanas<br />

ao longo da praia, hoje chamada do Matacavalos,<br />

bem assim a capela que foi<br />

dedicada inicialmente ao Menino Jesus,<br />

s e n d o m u d a d a a i n v o c a ç ã o<br />

sucessivamente para Nossa Senhora do<br />

Bom Sucesso e Nossa Senhora da<br />

Assunção, nela oficiando a primeira missa o<br />

Capelão da comitiva, padre Francisco<br />

Lopes Gonçalves. Regressou depois disso<br />

a São Paulo , de onde retornou, em 1699,<br />

em companhia do guarda-mor Garcia<br />

Rodrigues, para a medição e distribuição<br />

d o s d e s c o b e r t o s , o q u e f o i f e i t o ,<br />

começando-se pelo de Miguel Garcia, no<br />

ribeirão que antes já havia encontrado e no<br />

qual fundou o arraial da Vargem, e<br />

seguindo-se no ribeirão do Carmo, onde<br />

feita a meditação em nome de Manoel<br />

Garcia de Almeida.<br />

Outros povoados vieram depois, e novos<br />

arraiais foram surgindo, tais como o de<br />

Camargos, fundado por Tomaz Lopes de<br />

Camargo e seus irmãos, que abandonaram<br />

suas lavras em Ouro Preto; Cachoeira do<br />

Brumado, p o r João Pedroso; São<br />

Sebastião, por Sebastião Fagundes Varela;<br />

Furquim, e Bento Pires, que recebeu o nome<br />

do sue próprio fundador. Alastrou-se em<br />

pouco tempo por toda a área do ribeirão do<br />

Carmo a faina intensa da mineração, o<br />

mesmo acontecendo logo em seguida em<br />

Ouro Preto, descoberto por Antônio Dias e<br />

outros Bandeirantes.<br />

Para os dois centros, quase unidos pela<br />

curta distância que os separa, passaram a<br />

convergir levas e mais levas de imigrantes<br />

vindos de São Paulo, Rio de Janeiro e outros<br />

pontos, determinando o rápido crescimento<br />

das respectivas populações.<br />

A coroa Portuguesa voltou assim a suas<br />

atenções para as Minas e resolveu criar a<br />

nova Capitania de São Paulo e Minas de<br />

Ouro, separada da do Rio de Janeiro, sendo<br />

nomeado primeiro governador o capitãogeneral<br />

Antônio Albuquerque Coelho de<br />

Carvalho, que logo promoveu a criação das<br />

três primeiras vilas em Minas Gerais, a<br />

saber, a vila de Albuquerque, a vila Rica, e a<br />

vila de Sabará, esta última na região do rio<br />

das Velhas, onde o ouro já havia sido<br />

também descoberto.<br />

Ocorreu isto em 1711: E o governador<br />

Antônio Albuquerque, assim como os seus<br />

sucessores, D. Braz Baltazar da Silveira e D.<br />

Pedro de Almeida Conde de Assumar,<br />

apesar de ser em São Paulo a sede da<br />

Capitania, tiveram de fixar residência em<br />

ribeirão do Carmo, pois a mineração do ouro<br />

havia deslocado quase por completo o<br />

centro de interesse da Coroa Portuguesa<br />

para as Minas Gerais.<br />

30


Arquivo Marezza


Não tardaram a surgir as lutas e os conflitos<br />

na residência oposta aos rigorosos métodos<br />

adotados na fiscalização da saída do<br />

ouro, para a cobrança dos pesados tributos<br />

exigidos pelo Rei de Portugal. Ribeirão do<br />

Carmo foi assim, tal como Ouro Preto, teatro<br />

de graves acontecimentos em que se<br />

defrontaram a prepotência da Coroa<br />

Portuguesa e o orgulho e independência do<br />

colono já enriquecido nas minas, em revolta<br />

contra os sofrimentos que lhe eram impostos<br />

pelos representantes do governo português.<br />

Criada a vila de Albuquerque, em 1711, foi o<br />

seu nome mudado para Ribeirão do Carmo<br />

ao ser confirmada a criação pelo governo da<br />

metrópole, em 14 de abril de 1712. Pela<br />

carta régia de 23 de abril de 1745, que a<br />

elevou à categoria de cidade, passou a<br />

denominar-se Mariana, em homenagem a<br />

rainha D. Maria Ana d'Áustria. De acordo<br />

com a Lei nº 556, de 30 de agosto de 1911,<br />

estava o município composto de 13 distritos:<br />

Mariana, São Sebastião, Sumidouro,<br />

Cachoeira do Brumado, São Caetano, São<br />

Domingos, Furquim, Barra Longa, Boa<br />

Vista, Santa Rita Durão, Camargos,<br />

Passagem e São Gonçalo de Ubá. Pela Lei<br />

nº 843, de 7 de setembro de 1823, foi transferido<br />

o distrito de Barra Longa para o<br />

município de Ponte Nova e mudadas as<br />

denominações dos distritos de São<br />

Sebastião, São Gonçalo de Ubá, Boa Vista<br />

e São Domingos, que passaram respectivamente<br />

a Bandeirante, Acaiaca, Cláudio<br />

Manoel e Diogo de Vasconselos.<br />

Ÿ<br />

Pelo Decreto- lei nº 148, de 17 de<br />

dezembro de 1938, foi criado o distrito<br />

de Mainart, com territórios desmembrados<br />

dos distritos de Mariana e<br />

Pinheiros, este do Município de<br />

Piranga; e foram suprimidos os distritos<br />

de Bandeirantes e Sumidouro, que<br />

tiveram os respectivos territórios anexados<br />

ao distrito de Mariana.<br />

Ainda pelo mesmo Decreto - lei, foram<br />

desmembradas partes de territórios dos<br />

distritos de Acaiaca e Cláudio Manoel,<br />

para o distrito de Barra Longa.<br />

Ÿ Pelo Decreto- lei nº 1058, de 31 de<br />

dezembro de 1934, foi mudada para<br />

Monsenhor Horta a denominação de São<br />

Caetano. Pela lei nº 336, de 27 de<br />

dezembro de 1948, foi criado o Distrito de<br />

Bandeirantes, sendo transferida para o<br />

povoado de Sumidouro, com o nome de<br />

Padre Viegas, a sede do distrito de<br />

Mainart. A comarca foi criada, com a<br />

denominação de Comarca do Rio<br />

Piranga, pela Lei número 1 740, de 8 de<br />

outubro de 1870, sendo mudada a<br />

denominação para comarca de Mariana,<br />

pelo Decreto nº7, de 8 de janeiro de<br />

1890. A comarca compreende atualmente<br />

em sua jurisdição o território do próprio<br />

município.<br />

Formação Administrativa<br />

Ÿ Distrito criado com a denominação de<br />

Albuquerque, por alvará de 22-04-1745,<br />

e lei estadual n 2, de 14-09-1891.<br />

Ÿ<br />

Ÿ<br />

Ÿ<br />

Ÿ<br />

Elevado à categoria de vila com a<br />

denominação de Albuquerque, em 08-<br />

04-1711. Instalada em 05-08-1711 ou<br />

22-01-1712.<br />

Pela carta régia de 14-04-1712, a vila<br />

de Albuquerque tomou o nome de<br />

Ribeirão do Carmo.<br />

Pela lei provisão de 16-02-1718 e<br />

também 1740, foram criados os distritos<br />

de Barra Longa,· Furquim, Piranga,<br />

Nossa Senhora de Nazaré do<br />

Inficionado, Santa Rita Durão e<br />

Sumidouro e anexados ao município de<br />

Ribeirão do Carmo (ex-Albuquerque).<br />

Elevada à condição de cidade com a<br />

denominação de Mariana, pela carta<br />

Régia de 23-04- 1745.<br />

Ÿ Pela lei provincial nº 50, de 08-04-1836,<br />

e lei estadual nº 2, de 14-09-1891,<br />

foram criados os distritos de Camargos<br />

e São Caetano do Ribeirão Abaixo e<br />

anexados ao município de Mariana.<br />

Ÿ Pela lei provincial nº 209, de 07-04-1841,<br />

e lei estadual nº 2, de 14-09-1891, é<br />

criado o distrito de São Sebastião e<br />

anexado ao município de Mariana.<br />

32


Arquivo Marezza


Em divisão administrativa referente ao ano<br />

de 1911, o município é constituído de 13<br />

distritos: Mariana, Barra Longa, Boa Vista,<br />

Cachoeira do Brumado, Camargos,<br />

Furquim, Passagem, Santa Rita Durão, São<br />

Caetano do Ribeirão Abaixo, São<br />

Domingos, São Gonçalo do Ubá, São<br />

ebastião e Sumidouro. Nos quadros de<br />

apuração do recenseamento geral de 1-IX-<br />

1920, o município é constituído de 13<br />

distritos: Mariana, Barra Longa, Boa Vista,<br />

Cachoeira do Brumado, Camargos,<br />

Furquim, Passagem, Santa Rita Durão, São<br />

Caetano (ex-São Caetano do Ribeirão<br />

Abaixo), São Domingos, São Gonçalo do<br />

Ubá, São Sebastião e Sumidouro.<br />

Ÿ Pela lei estadual nº 843, de 07-09-1923,<br />

o município de Mariana sofreu as<br />

seguintes modificações: o distrito de<br />

Barra Longa foi transferido de Mariana<br />

para o município Ponte Nova; os distrito<br />

de Boa Vista, São Domingos, São<br />

Gonçalo do Ubá e São Sebastião tiveram<br />

seus nomes mudados para Cláudio<br />

Manuel, Vasconcelos, Acaiaca e<br />

Bandeirantes, Respectivamente.<br />

Ÿ Pela lei estadual nº 1048, de 25-09-1928,<br />

o distrito de Vanconcelos (ex-São<br />

Domingos) recebeu a denominação de<br />

Diogo de Vanconcelos.<br />

Ÿ<br />

Em divisão administrativa referente ao ano<br />

de 1933, o município é constituído de 12<br />

distritos: Mariana, Acaiaca (ex-São<br />

Gonçalo do Ubá), Bandeirante (ex-São<br />

Sebastião), Cachoeira do Brumado,<br />

Camargos, Cláudio Manuel (ex-Boa Vista),<br />

Diogo de Vasconcelos (ex-Vanconcelos<br />

(ex-São Domingos), Furquim, Passagem,<br />

Santa Rita Durão, São Caetano (ex-São<br />

Caetano do Ribeirão Abaixo) e Sumidouro.<br />

Ÿ Pelo decreto-lei estadual nº 148, de 17-<br />

12-1938, é criado o distrito de Mainart e<br />

anexado ao município de Mariana o<br />

distrito de Passagem tomou o nome de<br />

Passagem de Mariana e o distrito de<br />

Sumidouro foi extinto por este mesmo<br />

decreto-lei, sendo sua área anexada ao<br />

distrito sede do município de Mariana.<br />

No quadro fixado para vigorar no período de<br />

1939-1943, o município é constituído de 12<br />

distritos: Mariana, Acaiaca, Bandeirante,<br />

Cachoeira do Brumado, Camargos, Cláudio<br />

Manuel, Diogo de Vasconcelos, Furquim,<br />

Mainart, Passagem de Mariana (ex-<br />

Passagem), Santa Rita Durão e São<br />

Caetano,<br />

Ÿ Pelo decreto-lei estadual nº 1058, de 31-<br />

12-1943, o distrito de São Caetano<br />

passou a denominar-se Monsenhor<br />

Horta.<br />

No quadro fixado para vigorar no período de<br />

1944-1948, o município é constituído de 12<br />

distritos: Mariana, Acaiaca, Bandeirante,<br />

Cachoeira do Brumado, Camargos, Cláudio<br />

Manuel, Diogo de Vasconcelos, Furquim,<br />

Mainart, Monsenhor Horta (ex-São<br />

Caetano), Passagem de Mariana e Santa<br />

Rita Durão.<br />

Ÿ<br />

Pela lei nº 336, de 27-12-1948, o distrito<br />

de Mainart tomou a denominação de<br />

Padre Viegas e cria o Sub-distrito de<br />

Mainart.<br />

Em divisão territorial datada de 1-VII-1950,<br />

o município é constituído de 12 distritos:<br />

Mariana, Acaiaca, Bandeirante, Cachoeira<br />

do Brumado, Camargos, Cláudio Manuel,<br />

D i o g o d e Va s c o n c e l o s , F u r q u i m ,<br />

Monsenhor Horta, Padre Viegas (ex-<br />

Mainart), Passagem de Mariana e Santa<br />

Rita Durão.<br />

Assim permanecendo em divisão territorial<br />

datada de 1-VII-1960.<br />

Ÿ Pela lei estadual nº 2764, de 30-12-1962,<br />

desmembra do município de Mariana os<br />

distritos de Acaiaca e Diogo de<br />

Vasconcelos. Elevados á categoria de<br />

município.<br />

34


Em divisão territorial datada de 31-XII-1963,<br />

o m u n i c í p i o é c o n s t i t u í d o d e 1 0<br />

distritos:Mariana, Bandeirante, Cachoeira<br />

do Brumado, Camargos, Cláudio Manuel,<br />

Furquim, Monsenhor Horta, Padre Viegas<br />

(ex-Mainart), Passagem de Mariana e Santa<br />

Rita Durão.<br />

Assim permanecendo em divisão territorial<br />

datada de 2007. Em 2016 o sub-distrito de<br />

Águas Claras foi elevada a categoria de<br />

Distrito pela Câmara Municipal de Mariana.<br />

Agora, espera a homologação do Estado de<br />

Minas.<br />

Fonte: Enciclopédia dos Municípios<br />

Brasileiros – Volume XXVI ano 1959<br />

Arquivo Marezza


Detalhe do Ógãoda Sé de Mariana - Caetano etrusco

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