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O que entendemos próprio ao dispositivo<br />

teórico-analítico da análise de<br />

discurso – e aquilo a que nos propomos<br />

aqui – é produzir um gesto de análise que<br />

desnaturalize a superposição da imagem<br />

à imagem empírica, desacomodando assim<br />

esse jogo de sentidos. Retomando a<br />

metáfora da película, nosso objetivo não<br />

é o de removê-la a fim de ver o que lhe<br />

está sob, mas é analisar-lhe a aderência<br />

inexata, tomando por princípio que ela é<br />

e não é a imagem, no sentido de que sob<br />

sua superfície resta o real inacessível.<br />

À medida que os discursos circulam<br />

sob a condição de textos, resta inequívoca<br />

a relevância de considerarmos a<br />

produção da imagem como um processo<br />

de textualização. Se, como afirma Mariani<br />

(1998), “a fotografia organiza o<br />

flagrante”, ousamos afirmar que o texto<br />

organiza a imagem, no sentido de que o<br />

efeito-texto produz e colige enquanto evidências<br />

materiais do legível uma gama<br />

de outros efeitos. Isso porque, embora,<br />

em seu âmbito discursivo, a imagem seja<br />

tecida em sua opacidade e equivocidade<br />

pelo apagamento das suas condições de<br />

produção, a imagem na condição de texto<br />

submete-se aos mesmos efeitos a que se<br />

submete o texto verbal. Assim, também a<br />

imagem se nos apresenta sob o efeito de<br />

completude, de fechamento, de coerência,<br />

de transparência, de inequivocidade<br />

etc. Reconhecê-los, sob a ressalva de não<br />

considerá-los próprios à imagem, cumpre<br />

importante papel no processo de reparar<br />

as condições enunciativas de produção.<br />

Conforme desenvolvemos em Quevedo<br />

(2012), estabelecemos uma diferença<br />

entre a imagem e a materialidade visual.<br />

Esta última alude, em nossa concepção,<br />

à inscrição na história de uma condição<br />

concreta de textualização. Sendo assim,<br />

não apenas imagens empíricas como<br />

fotografias ou charges têm materialidade<br />

visual, mas também a própria<br />

palavra escrita, no que não nos deixam<br />

mentir os designers, os publicitários ou<br />

os missivistas que, deliberadamente<br />

ou não, buscam impressionar com sua<br />

caligrafia. A materialidade visual da<br />

palavra escrita produz muitos sentidos,<br />

como elegância, esmero, azáfama,<br />

desleixo, hesitação etc. Sentidos esses<br />

que produzem um efeito de memória e<br />

que inclusive determinam de forma (im)<br />

prevista o trabalho de leitura do verbal<br />

(como a caligrafia apurada que pode ser<br />

lida como requinte ou pedantismo). É<br />

essa inscrição do visual (ainda que não<br />

em imagem) em uma historicidade que<br />

entendemos por materialidade visual.<br />

Dito isso, consideramos haver, na<br />

charge, formulações verbais, visuais e<br />

verbo-visuais. Essas últimas referem-<br />

-se à materialidade visual do verbal.<br />

Para analisar os componentes das formulações,<br />

recorreremos à noção de SD<br />

tanto para o que integra o verbal (as<br />

sequências discursivas) quanto para o<br />

que integra o (verbo-)visual (que chamaremos<br />

de secções discursivas). O uso do<br />

sintagma secção discursiva parece-nos<br />

apropriado em virtude de não apenas<br />

remontar, pela sigla (SD), a uma das<br />

331<br />

Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo - v. 9 - n. 2 - p. 325-339 - jul./dez. 2013

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