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Revista Apólice #232

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Ano 23<br />

Número 232<br />

Maio 2018


2


3


editorial<br />

Ano 23 - nº 232<br />

Maio 2018<br />

Esta revista é uma<br />

publicação independente<br />

da Correcta Editora Ltda<br />

e de público dirigido<br />

Diretora de Redação:<br />

Kelly Lubiato - MTB 25933<br />

klubiato@revistaapolice.com.br<br />

Diretor Executivo:<br />

Francisco Pantoja<br />

francisco@revistaapolice.com.br<br />

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Articulista:<br />

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Tiragem:<br />

15.000 exemplares<br />

Circulação:<br />

Nacional<br />

Periodicidade:<br />

Mensal<br />

CORRECTA EDITORA LTDA<br />

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V. Clementino - Cep 04040-031<br />

São Paulo/SP<br />

Tel. (11) 5082-1472 / 5082-2158<br />

Os artigos assinados são de responsabilidade<br />

exclusiva de seus autores, não<br />

representando, necessariamente, a<br />

opinião desta revista.<br />

Somos parceiros,<br />

não o inimigo<br />

Mais de uma vez os atores do mercado de seguros ouviram<br />

esta frase e ela sempre se mostrou verdadeira. Desta vez, as<br />

novas empresas de tecnologia que surgem para aliviar as “dores”<br />

do mercado, as insurtechs, chegam trazendo novidades tanto<br />

para a operação das seguradoras quanto para a distribuição dos<br />

produtos.<br />

Elas estão presentes em vários setores e utilizam as palavras<br />

que fazem parte da transformação digital de qualquer mercado:<br />

blockchain, inteligência artificial, learning machine, chatbot, entre<br />

outras, agora se tornam conhecimento obrigatório principalmente<br />

para os profissionais e empresas que não são nativos digitais.<br />

Com a imensa capacidade do ser humano de se adaptar,<br />

logo o mundo estará totalmente digitalizado. Será que o universo<br />

irá se transformar em algum episódio global de Black Mirror<br />

(série que espelha a utilização de novas tecnologias em nosso<br />

cotidiano)? Talvez não, mas ainda temos muito a aprender sobre<br />

a aplicabilidade e segurança do mundo gerido por robôs.<br />

Mas não devemos ser alarmantes: o mercado vai se transformar<br />

gradualmente, possivelmente em um curto espaço de<br />

tempo. Acredito que aos corretores de seguros caberá um papel<br />

similar ao do jornalista, guardadas as devidas proporções. Qualquer<br />

um pode produzir um texto informativo, mas um texto com<br />

credibilidade, técnica e isenção precisa de um jornalista para ser<br />

feito. Da mesma forma, qualquer um pode vender seguro, mas<br />

um produto adequado às reais necessidades de cada cliente precisa<br />

de um bom intermediário, com conhecimento do mercado<br />

e de suas nuances.<br />

Boa leitura!<br />

Acesse nosso site<br />

www.revistaapolice.com.br<br />

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<strong>Revista</strong> <strong>Apólice</strong><br />

Diretora de Redação<br />

Mande suas dúvidas, críticas e sugestões para redacao@revistaapolice.com.br<br />

4


5


sumário<br />

14<br />

7<br />

12<br />

14<br />

|<br />

|<br />

|<br />

painel<br />

gente<br />

especial insurtech<br />

panorama<br />

Não existe um jeito certo ou errado de<br />

lidar com as inovações, mas a indústria<br />

de seguros se mostra disposta a<br />

aprender com as insurtechs. Em que<br />

patamar estamos?<br />

22<br />

19<br />

22<br />

24<br />

26<br />

|<br />

|<br />

|<br />

|<br />

empresa<br />

Zim já atende mais de três mil corretores,<br />

abrindo a possibilidade de<br />

contato completamente digital com<br />

os consumidores<br />

corretores<br />

Os profissionais que continuarem<br />

inovando tendem a prosperar cada<br />

vez mais e muito mais rapidamente<br />

serviço<br />

Car10 mira no atendimento de baixo<br />

custo do segurado, seja para pequenos<br />

reparos ou para manutenção<br />

corretiva ou preventiva<br />

seguradoras<br />

É a partir do uso de elementos digitais<br />

que as seguradoras vão conseguir se<br />

adaptar na era digital. Saiba como<br />

as insurtechs podem ajudá-las com<br />

novos processos<br />

30<br />

30<br />

|<br />

especial pme<br />

conjuntura<br />

Pequenas e médias empresas ainda<br />

não recorrem ao seguro como deveriam<br />

para protegerem seu negócio<br />

dos riscos aos quais estão expostas<br />

34<br />

34<br />

38<br />

|<br />

|<br />

produto<br />

Em um esforço de despertar nas PMEs<br />

a necessidade de contratar seguros<br />

adequados, seguradoras apostam<br />

em segmentação, desenhando apólices<br />

sob medida para cada tipo de<br />

atividade<br />

comunicação<br />

6


painel<br />

• nresseguro<br />

Corretoras de resseguros<br />

acreditam na melhora da<br />

economia<br />

A Abercor-RE divulgou um estudo sobre o comportamento<br />

e as expectativas das corretoras de resseguro no País.<br />

De acordo com o documento, mais de 70% das corretoras de<br />

resseguro acreditam que a situação da economia brasileira<br />

estará melhor em seis meses, quando comparada à realidade<br />

atual. Já 73% das companhias<br />

acreditam que a proporção<br />

de contratos facultativos de<br />

resseguro irá aumentar em<br />

um prazo relativamente curto<br />

no Brasil. Nesse momento, na<br />

área de resseguro brasileiro, o<br />

negócio com maior possibilidade<br />

de desenvolvimento seria<br />

o segmento de transportes.<br />

• ntecnologia<br />

Contratação via assinatura digital<br />

A Icatu Seguros comercializa seguros de vida individuais<br />

por meio de assinatura digital, que utiliza a criptografia e vincula<br />

o certificado digital<br />

ao documento eletrônico<br />

assinado, dando garantias<br />

de integridade e autenticidade<br />

ao processo.<br />

No Projeto Mobilidade,<br />

a plataforma está<br />

integrada à Casa do Corretor,<br />

portal em que o<br />

especialista apresenta os<br />

produtos da companhia, faz simulações e acompanha o processo<br />

de aceitação e contratação dos planos.<br />

A tecnologia está disponível também por app e pode ser<br />

aplicada a todos os produtos do portfólio de Vida da empresa.<br />

As formas de pagamento são as mesmas neste formato. Ainda<br />

no primeiro semestre, a seguradora trará novas funcionalidades<br />

para a Casa do Corretor, para a contratação de planos de<br />

previdência privada.<br />

7


painel<br />

• negócios<br />

Grupo anuncia expansão<br />

societária<br />

O Grupo A12+ concluiu a primeira fase da expansão no<br />

mercado brasileiro com a entrada de cinco novas corretoras<br />

de seguros. Agora, são 16 corretoras com atuação em dez<br />

estados, junto a uma carteira de mais de 190 mil clientes,<br />

sendo 15 mil empresas.<br />

O canal de distribuição passa a contar com 900 pessoas,<br />

entre sócios, colaboradores, corretores e produtores,<br />

distribuídos em 64 escritórios. “Após três anos de atividade,<br />

realizamos nossa primeira expansão societária e, até o final<br />

de 2018, atingiremos a marca de R$ 0,5 bilhão em emissões<br />

de prêmios de seguros e benefícios”, afirma Luis Fernando<br />

de Paula Henrique, diretor executivo do Grupo, que planeja<br />

ações estruturadas de cross selling para intensificar a<br />

diversificação de mix de produtos e realizar investimentos<br />

para desenvolvimento de plataforma proprietária de TI<br />

ainda este ano.<br />

• nproduto<br />

Seguro de vida reformulado<br />

A Capemisa passou a comercializar o seguro de vida<br />

para pequenas e médias empresas com novidades. O<br />

novo PME amplia as garantias e assistências oferecidas,<br />

trazendo comodidades e serviços que podem ser utilizados<br />

em vida. Além da cobertura para mortes, acidentes<br />

e despesas médicas, que podem ser extensivas à família,<br />

em alguns dos casos, os planos poderão ter garantia para<br />

doenças graves e congênitas, assistência nutricional e<br />

uma rede de descontos em mais de cinco mil estabelecimentos<br />

conveniados em todo o país. Um dos diferenciais<br />

é a assistência para vítimas de crimes, com atendimento<br />

médico e orientação para roubo e furto de documentos.<br />

O novo PME traz também a assistência Flex, com oferta<br />

de serviços de reparos domésticos, como encanador,<br />

chaveiro e eletricista, entre outros.<br />

• nautomóvel<br />

Proteção veicular preocupa o setor<br />

O alto índice de reclamações sobre a proteção veicular acende<br />

o alerta das entidades de defesa do consumidor. “Todas as<br />

operações detectadas no âmbito da Susep, por meio de denúncias,<br />

são reprimidas por nós. Encaminhamos as queixas ao Ministério<br />

Público, à Polícia Federal ou movemos processos sancionadores<br />

administrativos para barrar essa prática”, diz Carlos de Paula,<br />

diretor de Supervisão de Conduta da autarquia. Hoje, há cerca de<br />

400 ações abertas em decorrência desses abusos – 200 processos<br />

levados ao MP e 180 ações administrativas<br />

lideradas pela Susep.<br />

Entretanto, profissionais da<br />

área apostam que a regulamentação<br />

é questão de tempo. “Já são mais<br />

de 1,7 mil associações e mais de<br />

1,3 milhão de itens adquiridos.<br />

Não é tão simples assim tirar essas<br />

entidades do mercado”, alega o<br />

presidente do Sincor-DF, Dorival<br />

Alves de Sousa.<br />

• nproduto 2<br />

Abrangência para o mercado<br />

A Ituran Brasil lançará um novo Ituran com Seguro no<br />

início do segundo semestre. O anúncio foi feito por Roberto<br />

Posternak, diretor Comercial da empresa, ao lado do CEO,<br />

Amit Louzon, durante um almoço com corretores, assessorias<br />

e imprensa especializada. Com a remodelagem, o carro-chefe<br />

da companhia passará a atender a todos os tipos de clientes. “O<br />

produto vai trazer uma abrangência muito mais ampla para o<br />

mercado. Vamos dar para o cliente e para o corretor de seguros<br />

mais possibilidade de contratação ao atender a todos os perfis<br />

de clientes”, declarou Posternak.<br />

De origem israelense, a Ituran soma 1,3 milhão de clientes<br />

no mundo e 700 mil clientes no Brasil, país que corresponde a<br />

60% de toda a operação da empresa.<br />

Roberto Posternak, diretor comercial e Amit Louzon, CEO da Ituran<br />

8


• nrural<br />

Sinistros deverão ser<br />

informados ao Mapa<br />

Os critérios e procedimentos para o fornecimento<br />

de informações de sinistros em operações<br />

de seguro rural beneficiadas pelo Programa de<br />

Subvenção foram alterados. Com a nova resolução,<br />

as seguradoras ficam obrigadas a informar ao Ministério<br />

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />

(Mapa), por meio eletrônico, os números da proposta<br />

e da apólice, o código Mapa, o valor indenizado e o<br />

evento ocorrido, referentes às apólices beneficiadas<br />

pelo Programa com ocorrência de sinistros avisados<br />

e/ou liquidados. Os dados referentes a determinado<br />

ano civil deverão ser informados até o último dia útil<br />

do mês de junho do ano subsequente.<br />

A seguradora que não cumprir a determinação<br />

será punida com infração grave e estará sujeita a<br />

pena prevista no Regulamento de Operacionalização<br />

da Subvenção Econômica ao Prêmio do Seguro Rural,<br />

podendo ser impedida de participar do Programa<br />

por até dois anos.<br />

• ntecnologia 2<br />

Aposta em indicação multinível<br />

A Rodobens Corretora está com um novo sistema para ter<br />

maior capilaridade de mercado e gerar lucros aos colaboradores.<br />

Baseado em indicações de seguros realizadas por consultores independentes,<br />

o modelo de indicação<br />

multinível (IM) deve impulsionar a<br />

geração de leads de venda. Nesse<br />

modo de atuação, o consultor faz<br />

a captação do cliente e encaminha<br />

aos canais de vendas da Rodobens<br />

por meio de um aplicativo móvel.<br />

Todas as negociações e fechamentos<br />

serão realizados pela corretora.<br />

“É um projeto pioneiro, que deve<br />

alavancar muito o nosso negócio”,<br />

afirma o diretor Anderson Silva.<br />

A companhia espera que o número<br />

de produtos transacionados por<br />

ano seja de 79 mil itens em 2018,<br />

416 mil em 2019, e 986 mil itens em 2020. A empresa conta com<br />

300 corretores e acredita que, em três anos, terá cerca de 20 mil<br />

consultores cadastrados em sua base.<br />

9


painel<br />

• negócios 2<br />

Acordo para venda de centros<br />

médicos<br />

A DaVita e a Porto Seguro firmaram um contrato para<br />

a venda de dez unidades dos Centros Médicos Portomed<br />

localizadas nas cidades de São Paulo, Osasco, Guarulhos,<br />

Taboão da Serra e São Bernardo do Campo. “Nosso<br />

objetivo é oferecer um<br />

atendimento ainda mais<br />

especializado aos nossos<br />

segurados, inclusive com<br />

a expansão da rede de<br />

clínicas”, explica Roberto<br />

Santos, presidente da<br />

Porto Seguro.<br />

Os segurados continuarão<br />

a ser atendidos<br />

normalmente sem qualquer<br />

intercorrência na<br />

prestação de serviço. A<br />

transação será submetida<br />

ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e<br />

finalizada somente após a sua aprovação e o cumprimento<br />

de outras condições acordadas.<br />

• nevento 2<br />

Desempenho na última década<br />

O comprometimento da renda e o desemprego afetaram<br />

o mercado segurador. Mesmo assim, o setor se manteve resiliente<br />

na última década. “Enquanto de 2008 a 2010 o PIB<br />

teve variação média de 4,1%, o setor respondeu com variação<br />

média real de 7,1%”, exemplificou Márcio Coriolano,<br />

presidente da CNseg, em almoço promovido pelo CVG-SP.<br />

Entre as carteiras que se destacaram estão Ramos Elementares<br />

e os planos de acumulação, mas foi a saúde suplementar<br />

que mais se beneficiou<br />

no período.<br />

Agora, a boa noticia<br />

é a retomada dos<br />

ramos de pessoas,<br />

visto que há dez anos<br />

apenas cinco companhias<br />

representavam<br />

em todos os ramos<br />

a maioria. “O mercado<br />

mudou muito,<br />

inclusive com uma<br />

participação maior<br />

do setor financeiro<br />

estatal”, disse.<br />

• nevento<br />

Brasil precisa de reformas<br />

profundas<br />

Em encontro do CCS-<br />

-SP, o cientista político Bolívar<br />

Lamounier reconheceu<br />

que “os maus tempos estão<br />

ficando para trás” e previu<br />

dificuldades para recolocar<br />

o país nos eixos. Ele chamou<br />

a atenção para o baixo<br />

crescimento econômico, em torno de 3% do PIB, e afirmou que<br />

uma das pedras no caminho é a eleição em outubro. Lamounier<br />

torce para que haja convergência para o centrismo, permitindo a<br />

construção de um governo mais sólido, e avaliou que ainda não<br />

se pode prever se haverá ou não influencia do ex-presidente Lula<br />

sobre um eventual candidato indicado por seu partido.<br />

Questionado se o Brasil tem jeito, ele foi categórico. “Sim. O<br />

mais importante a resolver é a distribuição de renda. Mas, temos<br />

de participar ou não vamos a lugar algum”.<br />

• nreconhecimento<br />

Prêmio destaca trabalho em prol<br />

do corretor<br />

A Escola Nacional de Seguros recebeu, durante o XXVII<br />

Congresso Pan-americano de Produtores de Seguros, na Costa<br />

Rica, o Prêmio Internacional Copaprose, que reconhece a atuação<br />

de profissionais, empresas e instituições que trabalham<br />

em prol da figura do corretor. Presidente da Escola, Robert<br />

Bittar recebeu a honraria e destacou o esforço da instituição<br />

para atender às necessidades dos profissionais de seguros por<br />

conhecimento e atualização frente às constantes mudanças<br />

no setor. “Nosso papel é contribuir para o desenvolvimento e<br />

aprimoramento da indústria de seguros por meio da formação<br />

e contínua qualificação dos profissionais. Para isso, estamos<br />

sempre acompanhando a evolução do mercado e identificando as<br />

novas demandas. Esse prêmio sinaliza que estamos cumprindo<br />

nossa função com louvor”, comemorou.<br />

Mario Pinto, Paola Casado, Robert Bittar,<br />

Maria Helena Monteiro e Renato Campos<br />

10


• nreconhecimento 2<br />

Homenagem na Câmara<br />

Municipal de São Paulo<br />

O presidente da Assistência Médica<br />

Planejada (Ameplan) e CEO da Beta Saúde<br />

– Centro de Diagnóstico, Ali Hussein Ibrahin<br />

Taha, recebeu da Câmara Municipal de São<br />

Paulo a Medalha Anchieta e o Diploma de<br />

Gratidão da Cidade de São Paulo pelos serviços<br />

realizados na área de saúde nos últimos<br />

25 anos. Trata-se da condecoração máxima<br />

que um cidadão paulistano pode receber<br />

por seus feitos em prol da população e da<br />

cidade. As honrarias foram concedidas em<br />

sessão solene com a presença de autoridades,<br />

funcionários da Ameplan e da Beta Saúde, além de familiares<br />

e amigos do homenageado. “Essa homenagem começa em 18<br />

de dezembro de 1950, quando meu pai, um libanês, colocou os<br />

pés onde hoje é um lugar chamado Avenida Nossa Senhora do<br />

Sabará, e foi nesse ambiente que eu nasci e fui criado”, lembrou<br />

Taha.<br />

Com 120 mil beneficiários, mais de 324 mil atendimentos<br />

Ali Hussein Ibrahin Taha, presidente da Ameplan, recebe homenagem<br />

das mãos do vereador Isac Félix, em São Paulo<br />

anuais de pronto socorro, 96 mil atendimentos ambulatoriais<br />

e uma rede credenciada de dois mil prestadores, Taha atribui<br />

o sucesso da operadora aos 1.500 colaboradores diretos entre<br />

médicos, membros da equipe e enfermagem. “Uma única pessoa<br />

não realiza tudo isso. Os diretores do Grupo é que fazem<br />

as coisas acontecerem. Os funcionários fazem a coisa girar. E<br />

a eles agradeço por todo o sucesso que nós temos”, concluiu.<br />

11


GENTE<br />

Chapa eleita por<br />

unanimidade<br />

Foi eleita por unanimidade<br />

a única chapa inscrita na eleição<br />

para a Diretoria, Conselho Fiscal e<br />

Delegados Representantes junto<br />

à Confederação Nacional do Comércio<br />

de Bens, Serviços e Turismo<br />

(CNC) e vice-presidências Regionais da Fenacor. Armando<br />

Vergilio segue como presidente e Robert Bittar continua<br />

na vice-presidência da Federação. A nova gestão terá início<br />

no dia 1º de junho e irá até 31 de maio de 2022.<br />

VP de Marketing & Digital<br />

Aura Rebelo assumiu a vice<br />

presidência de Marketing & Digital<br />

da Prudential do Brasil. A executiva<br />

tem mais de 30 anos de experiência<br />

em marketing e já atuou em<br />

empresas como Icatu Seguros,<br />

Telefónica, Coca-Cola e Ibope,<br />

além de ter lecionado na Pontifícia<br />

Universidade Católica do Rio de Janeiro<br />

(PUC-Rio). Com a sua chegada,<br />

a diretoria de Marketing Office, liderada por Marcelo Eboli,<br />

passa a se reportar também à Aura.<br />

Diretor Técnico e<br />

de Operações<br />

Facundo Montenegro é o<br />

novo diretor Técnico e de Operações<br />

da Generali Brasil. Especialista<br />

na área de serviços desenvolvidos<br />

em posições-chave de empresas<br />

líderes, o executivo possui extensa<br />

carreira no setor de finanças e seguros,<br />

tanto para propriedade quanto para pessoas no varejo,<br />

e expertise em mercados massificados e corporativos.<br />

Combos de Benefícios<br />

Fabrízio Chieco Ribeiro chegou à Thinkseg Corporate<br />

para montar combos customizados<br />

com soluções para os RHs das<br />

companhias. Ribeiro atuou na SulAmérica,<br />

Golden Cross, Care Plus e<br />

também em gestão e consultoria,<br />

enquanto foi diretor de Negócios<br />

da startup do Banco Safra e diretor<br />

da Aon, na qual se especializou<br />

em benefícios flexíveis ao residir<br />

no México.<br />

Planejamento Financeiro e<br />

Investimentos<br />

A HDI Seguros anunciou Roberto<br />

Santiago Takatsu como diretor de Planejamento<br />

Financeiro e Investimentos,<br />

cargo recém-criado pela companhia<br />

para reforço estratégico de sua diretoria.<br />

O executivo chega com a missão de<br />

implementar um novo plano de negócios<br />

da empresa, agregar tecnologias e<br />

funcionalidades aos clientes e corretores<br />

da área financeira, além de auxiliar no<br />

direcionamento da empresa frente a requisitos globais.<br />

CFO e gerente de<br />

operações P&C<br />

A BR Insurance contratou Lucas<br />

Neves como CFO. Ele atua há mais de dez<br />

anos na área financeira e possui experiência<br />

no mercado de seguros. Já Marcelo<br />

Galvão fica com a gerência de operações<br />

P&C e será responsável pelo atendimento<br />

ao cliente e operacionalização de todos<br />

os processos relativos aos seguros de Grandes Riscos, Empresarial,<br />

Riscos Diversos e Responsabilidade Civil Geral.<br />

VP para área de Serviços<br />

A Autoglass começou a desenvolver<br />

e estruturar um setor dedicado a novos<br />

produtos e negócios, focados principalmente<br />

em oferecer soluções, além do<br />

automotivo. Diante disso, o diretor Comercial,<br />

Eduardo Borges, passou a atuar<br />

como vice-presidente de Serviços da<br />

companhia, ficando sob sua responsabilidade<br />

toda a área de Serviços do Grupo.<br />

Superintendente Comercial<br />

Egresso do Banco do Brasil, onde fez<br />

carreira por 18 anos, Elder Castro assumiu<br />

como superintendente Comercial<br />

da Brasilcap e pretende trabalhar para<br />

uma maior participação da companhia<br />

no mercado, com taxa básica de juros<br />

reduzida. “Meu objetivo é buscar oferecer<br />

o produto adequado às necessidades dos<br />

clientes e contribuir com o crescimento<br />

da companhia, buscando sempre conciliar<br />

produto, processo e pessoas”.<br />

12


Novo CEO<br />

Há mais de 20 anos na indústria<br />

do seguro, Eric Lundgren foi escolhido<br />

para ocupar o cargo de CEO na<br />

Scor Brasil Resseguros. Sua carreira no<br />

setor começou na Allianz, onde, por<br />

15 anos, ocupou diversas posições<br />

em diferentes regiões do mundo. Mais<br />

recentemente, foi vice-presidente de<br />

estratégia e desenvolvimento da Prudential Financial, no Rio<br />

de Janeiro.<br />

Gerente em filial Porto Alegre<br />

Cassio Jardim assumiu o cargo<br />

de gerente da filial de Porto Alegre<br />

da Berkley Brasil e a missão de acelerar<br />

a expansão da companhia no<br />

estado do Rio Grande do Sul. Ao<br />

longo de sua carreira, o profissional<br />

já atuou nas áreas técnica, comercial,<br />

e nos departamentos de sinistros e<br />

emissão.<br />

Gerente para a<br />

filial Belém<br />

A Sompo Seguros conta com<br />

um novo gerente na filial de Belém,<br />

no Pará. Jaime Gil de Souza Neto<br />

passou a comandar a unidade após<br />

a transferência de Marcos Vinicius<br />

Sousa da Silva para a filial Salvador,<br />

na Bahia. A iniciativa faz parte dos planos de expansão da<br />

companhia nos mercados do Norte e Nordeste.<br />

Presidente para Comissão de<br />

Comunicação<br />

A Federação Nacional de Capitalização<br />

(Fenacap) apresentou<br />

Elena Korpusenko como presidente<br />

da Comissão de Comunicação. A<br />

executiva já atuava como VP da comissão<br />

e traz a experiência à frente<br />

da área Comunicação, Marketing e BI<br />

da Brasilcap, onde está desde 2015.<br />

13


insurtech | panorama<br />

Elas mudam<br />

a regra<br />

do jogo<br />

A indústria de seguros se mostra<br />

disposta a aprender com as<br />

insurtechs, que chegaram para<br />

redefinir a jornada do segmento. Não<br />

existe um jeito certo ou errado de lidar<br />

com as inovações. A questão é: em<br />

que patamar estamos?<br />

Lívia Sousa<br />

14


A<br />

maneira de se fazer negócios<br />

mudou e chegou ao mercado<br />

de seguros através das<br />

insurtechs, assim chamadas<br />

as startups dedicadas ao setor. O investimento<br />

total nessas empresas acumula<br />

mais de US$ 9,2 bilhões desde 2010.<br />

Apenas em 2016, esse valor bateu US$<br />

2,7 bilhões. E, para 2018, a previsão é<br />

que a arrecadação alcance um patamar<br />

próximo dos US$ 3 bilhões. Estudos feitos<br />

por consultorias indicam que há 1.500<br />

insurtechs espalhadas pelo mundo – pouco<br />

mais de 50 delas no Brasil, segundo<br />

um mapeamento da Câmara Brasileira<br />

de Comércio Eletrônico (camara-e.net),<br />

ainda em andamento.<br />

“Estamos fazendo um levantamento<br />

quantitativo e qualitativo, separando<br />

todas elas por categorias e estágio, então<br />

é um pouco mais demorado para termos<br />

todas as informações”, explica Mauro<br />

Gambôa, consultor do Comitê de Insurtechs<br />

da entidade. Com o mapeamento,<br />

que a princípio deverá ser divulgado a<br />

cada dois meses, a camara-e.net busca<br />

entender como operam essas iniciativas,<br />

que tipo de tecnologia utilizam em seus<br />

serviços, que dores resolvem, quantos<br />

colaboradores têm e como atuam no<br />

mercado segurador (provendo serviços<br />

e/ou produtos para o consumidor ou<br />

serviços, produtos e tecnologia para as<br />

seguradoras). Mas, Gambôa adianta.<br />

“Este setor só tende a crescer daqui para<br />

frente. É uma mudança de paradigma no<br />

mercado mundial”.<br />

❙❙Mauro Gambôa, da câmara-e.net<br />

“Estamos em um<br />

momento de tentativa,<br />

de autodescobrimento<br />

do próprio mercado,<br />

de entender como ele<br />

vai interagir com essas<br />

startups”<br />

José Prado, da Conexão Fintech<br />

Tanto deve crescer que por aqui foi<br />

criado um evento para discutir o tema:<br />

o Insurtech Brasil, que em abril deste<br />

ano chegou em sua segunda edição e<br />

reuniu mais de 800 pessoas. Fundador<br />

da Conexão Fintech, responsável por<br />

organizar o encontro, José Prado acredita<br />

que a mudança aconteceria mesmo sem<br />

a chegada dessas startups. “Já vínhamos<br />

de um movimento de venda online e de<br />

comparação de preços. As insurtechs<br />

visam dar força aos corretores e às seguradoras<br />

e o setor tem que tirar proveito<br />

máximo do mundo digital”, afirma ele,<br />

que categoriza o momento atual como<br />

a segunda fase das insurtechs no país.<br />

“Agora, temos soluções que usam novas<br />

tecnologias nessa venda. Soluções que<br />

não trabalham com comparação de preço,<br />

mas com uma jornada, um machine<br />

learning”, explica. Quem está prestes a<br />

ir para a terceira fase já entende que as<br />

insurtechs podem ajudar na economia, na<br />

eficiência operacional e no oferecimento<br />

de uma melhor experiência ao cliente.<br />

“Elas passam a olhar para dentro e a ver<br />

que tem muito a ganhar. Quando falamos<br />

em insurtech, é importante falar não só<br />

em eficiência, mas em melhor experiência<br />

para o usuário. Pode ser um usuário interno<br />

da seguradora ou um usuário final”.<br />

Não existe um modelo certo. Cada<br />

seguradora vai descobrir o jeito que se<br />

encaixa na sua própria cultura de lidar<br />

com essas startups. Faz parte do mundo<br />

da inovação prototipar, acertar e (por que<br />

não?) errar, e elas vão achar a melhor<br />

forma de interagir nesse mundo. “Quando<br />

todos acharem o melhor modelo, vai ser<br />

copiado por outras. Estamos em um momento<br />

de tentativa, de autodescobrimento<br />

do próprio mercado, de entender como<br />

ele vai interagir com essas startups”,<br />

declara Prado.<br />

Despertando para o novo<br />

Se fora do Brasil o mercado de insurtechs<br />

vem alcançando maturidade,<br />

por aqui ainda engatinha – o que não<br />

significa que não seja promissor. “As<br />

insurtechs brasileiras são iniciativas<br />

de empreendedores próprios, não têm<br />

fluxo de dinheiro dos grandes fundos<br />

de investimento globais”, declara o<br />

sócio responsável pela área de Seguros<br />

da everis Americas, Roberto Ciccone.<br />

De acordo com o executivo, 83,8% do<br />

investimento global vão para o Vale do<br />

Silício, nos Estados Unidos; 5%; para a<br />

Ásia; 1,7% para a China; e 1,9% para<br />

a Índia, enquanto na América Latina<br />

os investimentos se concentram apenas<br />

no Chile (0,2%) e na Argentina (0,3%).<br />

“O Brasil recebe dinheiro local. Vemos<br />

❙❙Roberto Ciccone, da everis Americas<br />

15


panorama<br />

empreendedores locais ou as próprias<br />

seguradoras investindo em suas startups<br />

digitais, mas temos um potencial muito<br />

grande para desenvolver e trazer dinheiro<br />

para cá”, assegura.<br />

Enquanto isso, tanto aqui quanto lá<br />

fora, as seguradoras, através de fundos<br />

de capital de risco, laboratórios digitais<br />

e participação em aceleradoras, analisam<br />

e investem em startups disruptivas como<br />

alavanca de inovação. Por outro lado, os<br />

gigantes tecnológicos também estão adquirindo,<br />

investindo e colaborando no espaço<br />

da insurtech a fim de complementar<br />

suas capacidades digitais e informações<br />

disponíveis para o cliente.<br />

“Vemos não só as startups de seguros<br />

como as gigantes de tecnologia [Google,<br />

Apple, Facebook e Amazon] fazendo<br />

coisas que impactam as seguradoras. A<br />

inteligência artificial fazendo diagnóstico<br />

médico, o monitoramento da saúde com<br />

a internet das coisas, ou até mesmo a<br />

casa conectada, são tecnologias que vêm<br />

muitas vezes de fora, invadem o setor e<br />

mudam a maneira de trabalhar. Mudam,<br />

no mínimo, o modelo de negócio e os<br />

produtos”, diz Ciccone, listando como<br />

principais desafios para as seguradoras o<br />

comportamento do cliente e a competição<br />

exigindo novos produtos, novos modelos<br />

de negócios e uma nova maneira de trabalhar.<br />

“Elas [seguradoras] acordaram.<br />

A maioria já tem suas garagens digitais,<br />

iniciativas de inovação. Tem até algumas<br />

insurtechs financiadas por seguradoras.<br />

Mas, o ritmo de inovação ainda é meio de<br />

laboratório. Não é uma coisa cultural na<br />

empresa trabalhar isso como questão de<br />

sobrevivência”, alega, acreditando que as<br />

disrupções ou inovações chegarão cedo<br />

ou tarde por aqui. “A coisa, quando é<br />

muito boa, acaba vindo porque o cliente<br />

quer. Hoje temos a oportunidade de olhar<br />

o que já está acontecendo com sucesso lá<br />

fora e se preparar para isso melhor. É um<br />

erro fecharmos os olhos e acharmos que<br />

não vai acontecer”, aconselha.<br />

Com relação às insurtechs, ele faz<br />

questão de destacar que vão além da<br />

competição. “Existe muita coisa de colaboração,<br />

de ecossistemas diferentes.<br />

Além de trazerem melhores experiências<br />

para os clientes, muitas vezes elas ajudam<br />

a cadeia de valor da própria seguradora<br />

16<br />

❙❙<br />

Italo Flammia, da Oxigênio<br />

ou do ecossistema. Quem se interessa<br />

pelo termo insurtech tem que olhar para<br />

essas startups como potenciais parceiras<br />

ou potenciais pontos de melhoria”.<br />

Fôlego às insurtechs<br />

Algumas seguradoras ajudam a<br />

impulsionar as insurtechs que estão<br />

chegando ao mercado. É o caso da Oxigênio<br />

Aceleradora, da Porto Seguro, que<br />

de janeiro de 2016 até agora já investiu<br />

US$ 50 mil em cada uma das 29 startups<br />

selecionadas. Todas elas passaram por<br />

ciclos de aceleração com duração de sete<br />

meses (quatro no Brasil e três no Vale<br />

do Silício, na Plug and Play, parceira da<br />

aceleradora). “Estamos no quinto ciclo.<br />

Tivemos quase seis mil startups inscritas<br />

para selecionarmos essas 29. Elas se<br />

inscrevem e passam por um processo de<br />

❙❙Felipe Cunha, da TôGarantido<br />

seleção em que basicamente avaliamos<br />

sua sinergia com os produtos e serviços<br />

da Porto”, pontua Italo Flammia, diretor<br />

de Inovação e Digital da Porto Seguro e<br />

diretor da Oxigênio Aceleradora.<br />

Recentemente, a Oxigênio lançou<br />

dois novos programas de aceleração: o<br />

Ignição e o Tração. O primeiro foca em<br />

startups de estágio inicial, que ainda não<br />

faturam, onde são investidos R$ 200 mil<br />

em cada uma. Sua participação direta<br />

pode variar de 6,3% a 10% em função<br />

da próxima rodada de investimento.<br />

“Não definimos mais o percentual de<br />

participação da startup logo no início,<br />

como fazíamos nos programas anteriores.<br />

Agora, ganhamos uma participação<br />

de acordo com o valuation da startup na<br />

próxima rodada de investimento com<br />

um desconto de 40%. E, em cima desse<br />

valor, definimos a participação dessas<br />

startups”, explica Flammia. Já o segundo<br />

foca em startups de nível mais avançado,<br />

com receita de aproximadamente R$ 150<br />

mil ao mês ou R$ 600 mil ao ano. São<br />

startups maiores, sempre com sinergia<br />

aos produtos e serviços da Porto. Nelas,<br />

são investidos de R$ 350 mil a R$ 500<br />

mil, com uma participação também definida<br />

na próxima rodada de investimento<br />

(de 3,5% a 5%) e desconto do valuation<br />

de 20%.<br />

O executivo considera que há poucos<br />

programas de fomento à criação de<br />

startups no Brasil. “O lago tem sempre<br />

os mesmos peixes ou poucos peixes<br />

novos. Não temos uma universidade que<br />

estimula os alunos a criarem startups,<br />

diminuindo a oferta dessas empresas no<br />

início da cadeia”, justifica, citando também<br />

a ausência de investidores. “É um<br />

investimento de alto risco, são poucos os<br />

que investem no início da cadeia de desenvolvimento<br />

das startups. Isso faz com<br />

que haja uma mortalidade muito grande<br />

das startups logo nos seus primeiros anos<br />

de vida. Fala-se em algo em torno de 50%<br />

delas no Brasil morrendo no seu segundo<br />

ano de vida”, revela.<br />

A TôGarantido resistiu à estatística.<br />

Criada em 2015, a startup brasileira acaba<br />

de unir-se à seguradora Chubb com<br />

o objetivo de consolidar uma solução<br />

voltada à inclusão das classes C e D ao<br />

mercado de seguros. Além dos pacotes


que cobrem o cliente em situação de<br />

perda de saúde (necessidade de internação,<br />

doenças graves etc), o produto visa<br />

oferecer acesso a serviços de saúde com<br />

preços acessíveis e populares durante a<br />

vigência da apólice. “Não é um plano de<br />

saúde, mas uma alternativa econômica<br />

para quem não consegue contratar os<br />

planos tradicionais”, lembra o CEO,<br />

Felipe Cunha.<br />

Os seguros são 100% digitais, podendo<br />

ser adquiridos online ou pelo celular<br />

por meio de um sistema de inteligência<br />

artificial e do auxílio de chatbot para<br />

interação. Desafiador? “Super”, garante<br />

ele, que busca quebrar três paradigmas.<br />

“O primeiro é comercializar o seguro,<br />

produto de venda consultiva e mais<br />

complexa. O segundo é vender um seguro<br />

100% online, e o terceiro é vender um<br />

seguro 100% online para as classes C e<br />

D. A inovação das insurtechs não é apenas<br />

colocar online o seguro tradicional.<br />

Ela passa por um desenho profundo de<br />

No caminho certo<br />

4 exemplos de insurtechs bem sucedidas no<br />

mercado internacional<br />

❱❱<br />

Ping An Good Doctor: startup chinesa que atua na área de saúde.<br />

Arrecadou US$ 500 milhões em investimentos e tem um valuation<br />

acima de US$ 3 bilhões;<br />

❱❱<br />

Metromile: seguro pay as you use (pagamento por milha), baseado<br />

na quilometragem percorrida pelo motorista. Se o condutor gastar<br />

menos tempo ao volante, gastará menos dinheiro em seguros;<br />

❱❱<br />

Lemonade: seguro peer to peer, atua basicamente com produtos<br />

de seguro residencial. “Nós tratamos o seu prêmio de seguro como<br />

seu dinheiro”, dizem em seu material de divulgação. 20% do prêmio<br />

é retido pelo aplicativo a título de taxa de administração e também<br />

para a compra de resseguro para a carteira;<br />

❱ ❱ Trov: oferece seguros para eletrônicos (celular, câmera e caixas de<br />

som) por meio de um aplicativo. O usuário pode “ligar” e “desligar” o<br />

seguro de uma das coisas a hora que quiser e rastrear seus pertences por<br />

foto ou nota fiscal, que ficam guardados na nuvem. A insurtech opera<br />

na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido e deve expandir presença<br />

para outros países;<br />

17


panorama<br />

produto também”, afirma. Para Cunha,<br />

ganhará quem realmente aprender a realizar<br />

a venda automatizada, utilizando as<br />

diversas tecnologias que estão surgindo.<br />

Já a Straton Care Cyber, lançada em<br />

outubro do ano passado, caminha para o<br />

fechamento de sua primeira apólice. Em<br />

parceria com seguradoras, a insurtech<br />

estruturou uma plataforma de comparação<br />

e contratação online de seguro<br />

cibernético, voltada aos empresários.<br />

Funciona da seguinte maneira: quando a<br />

empresa faz o primeiro contato via plataforma<br />

e encaminha o formulário para<br />

as seguradoras iniciarem a cotação, uma<br />

equipe de consultores começa a intermediação,<br />

fazendo toda a consultoria junto<br />

à empresa. “O formulário não envolve<br />

apenas as informações de números da<br />

empresa, mas também das políticas de<br />

proteção de dados dela. Nossa equipe de<br />

consultores interage com a equipe de TI<br />

da empresa para que sejam entendidas<br />

as informações e descritas corretamente<br />

no formulário de cotação, que é analisado<br />

pelas seguradoras”, explica o CEO,<br />

Marcos Baldigen.<br />

Ele lembra que o termo insurtech em<br />

si é muito novo, assim como o produto.<br />

Por isso, a insurtech inicial se depara<br />

com duas dificuldades: fazer com que<br />

os empresários utilizem uma plataforma<br />

online de cotação de um seguro que não<br />

conhecem e escalar as vendas em função<br />

de marketing. “Há pouco marketing ainda<br />

sobre esse produto. A maioria dos empresários<br />

com quem entramos em contato<br />

nem conhecem o produto”.<br />

Regulação<br />

No Brasil, a Superintendência de<br />

Seguros Privados (Susep) estabeleceu<br />

um canal de comunicação com as seguradoras<br />

para saber as demandas delas<br />

em relação aos meios digitais. Para isso,<br />

constituiu, em julho do ano passado, a<br />

Comissão Especial de Inovação e Insurtech,<br />

composta por representantes da<br />

CNseg, FenSeg, FenaPrevi, Fenacap e Fenaber,<br />

além da ANSP, Fenacor, An-Re e<br />

da Escola Nacional de Seguros. No entanto,<br />

ainda não há uma regulação definida<br />

para esse mercado. “É uma inovação até<br />

para o supervisor. Fica difícil antecipar a<br />

regulação de algo desconhecido”, afirma<br />

18<br />

“A princípio, não<br />

vamos regular sem<br />

entender de fato como<br />

as insurtechs estão<br />

operando e o que<br />

exatamente elas estão<br />

trazendo de inovação”<br />

Natalie Hurtado, da Susep<br />

Natalie Hurtado, analista técnica da autarquia.<br />

“A princípio, não vamos regular<br />

sem entender de fato como as insurtechs<br />

estão operando e o que exatamente elas<br />

estão trazendo de inovação, sejam essas<br />

inovações evolutivas, no sentido de melhorar<br />

o que já existe; ou disruptivas, de<br />

fazer algum processo de forma diferente<br />

e inovador realmente”, explica.<br />

A ideia da Susep é partir, junto com a<br />

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)<br />

e com o Ministério da Fazenda, para uma<br />

sandbox regulatória, ambiente controlado<br />

pelas agências reguladoras para teste das<br />

startups. Neste cenário, os reguladores<br />

selecionam quais temas de inovação devem<br />

ser observados – que tenham maior<br />

interesse para as próprias insurtechs ou<br />

considerados mais importantes para o<br />

mercado, como, por exemplo, o uso da<br />

inteligência artificial e do blockchain nas<br />

startups ligadas a seguro e o que essas<br />

inovações trazem do ponto de vista do<br />

mercado, que tipo de processo auxiliam<br />

e seus efeitos no relacionamento da<br />

empresa seguradora que vai vender o<br />

produto com o consumidor de seguros<br />

ou de previdência privada.<br />

O caminho tem sido adotado da mesma<br />

maneira mundo afora. Na Associação<br />

“Não temos uma<br />

universidade que<br />

estimule os alunos a<br />

criarem startups, o que<br />

diminui a oferta dessas<br />

empresas no início da<br />

cadeia”<br />

Italo Flammia, da Oxigênio Aceleradora<br />

Internacional de Supervisores de Seguros<br />

(IAIS, na sigla em inglês), organismo ligado<br />

ao Financial Stability Board – FSB<br />

(Conselho de Estabilidade Financeira, em<br />

português), a Susep participou de uma<br />

força-tarefa em que foram mapeadas 212<br />

jurisdições, abarcando centenas de países<br />

– Brasil, México e Reino Unido integram<br />

a lista, assim como os Estados Unidos,<br />

que para cada estado tem um regulador.<br />

“Não existe ainda um país que já tenha<br />

uma regulação. Temos jurisdições que já<br />

realizaram as sandbox e estão em fase de<br />

análise desses dados ou até em fase de<br />

implementação”, reitera Natalie.<br />

José Prado, porém, afirma que este<br />

não é um caminho unânime. “Existem<br />

defensores e não defensores dessa prática”,<br />

diz ele, que enxerga a sandbox com<br />

bons olhos. “Acho interessante olhar as<br />

inovações para depois ver onde e como<br />

vai regular. Muitas vezes, não se manifestar<br />

é a melhor manifestação. Isso mostra<br />

amadurecimento”, acredita.<br />

E no Brasil? Quais seriam os riscos<br />

que a Susep teria mais interesse<br />

em observar? Natalie comenta que “o<br />

martelo ainda não foi batido sobre esse<br />

tema, mas existem pilares que a administração<br />

da autarquia vem tentando<br />

implementar”. O fomento do mercado<br />

é o primeiro deles, pois o Brasil é um<br />

país com dimensões continentais e tem<br />

uma grande população não segurada ou<br />

subsegurada. O segundo é a melhoria da<br />

própria supervisão baseada em riscos. Já<br />

o terceiro fica com a desburocratização.<br />

“Dentro desses três pilares, diria que os<br />

riscos que hoje têm maior preocupação<br />

para a Susep são aqueles relacionados a<br />

produtos de microsseguro: como desenvolver<br />

os seguros inclusivos, incluindo os<br />

microsseguros, para que a população de<br />

baixa renda também possa usar o seguro<br />

como uma ferramenta de melhoria na<br />

escala social econômica. E, talvez, dentro<br />

do microsseguro, especificar algum tipo<br />

de público-alvo, possivelmente o público-<br />

-alvo de micro e pequenas empresas”,<br />

declara. Além do microsseguro, há uma<br />

vontade do regulador em entender melhor<br />

os seguros paramétricos, voltados ao<br />

risco agrícola, dado que o Brasil também<br />

tem como uma de suas bases econômicas<br />

o agronegócio.


insurtech | empresa<br />

O futuro nas mãos do corretor<br />

Zim já atende mais de três mil corretores, abrindo a possibilidade de<br />

contato completamente digital com os consumidores<br />

Um dos maiores desafios para o<br />

mercado de seguros é conseguir<br />

atender a um novo perfil<br />

de cliente, que está cada mais<br />

vez mais interessado no que acontece na<br />

tela do seu celular do que no antigo telefone.<br />

As plataformas que privilegiam o<br />

aparelho móvel não nasceram por acaso,<br />

mas para atender a demanda daqueles<br />

92% da população que possuem um celular,<br />

segundo dados do IBGE.<br />

Entretanto, o perfil deste novo consumidor<br />

é bastante exigente: ele é imediatista,<br />

mas não abre mão da transparência<br />

e da confiança. Embasado nestas informações<br />

sobre os consumidores, o Zim foi<br />

criado para ser uma ponte para o corretor<br />

transitar rapidamente entre a seguradora<br />

e o cliente, oferecendo desde a cotação<br />

de um produto até o acompanhamento<br />

de toda a sua carteira.<br />

O Zim é uma solução já utilizada por<br />

3,5 mil corretores de seguros. A plataforma<br />

consegue, automaticamente, fazer<br />

toda a gestão da carteira dos corretores<br />

e ainda oferece outras facilidades. O<br />

multicálculo para o seguro de automóveis<br />

ainda será implantado. Mas a solução<br />

conta com a conexão das seguintes seguradoras:<br />

Alianz, Sompo, Tokio, HDI,<br />

Liberty, Azul, Bradesco e Zurich.<br />

Os dados dos clientes dos corretores<br />

de seguros são protegidos. “O cliente<br />

do Zim é o corretor”, esclarece Clarissa<br />

Schmidt, gerente de Negócios do Zim,<br />

acrescentando que “o segurado é cliente<br />

do corretor e é seu ativo mais importante.<br />

Por isso, tratamos de protegê-lo”.<br />

O objetivo da solução é colaborar<br />

para que o corretor tenha capacidade de<br />

fazer mais vendas, incentivar o cross-<br />

-selling e criar novas oportunidades de<br />

negócios. “Garantimos a segurança”,<br />

assegura Clarissa. Por isso, ela destaca<br />

que esta é uma oportunidade para ampliar<br />

os negócios e aumentar a produtividade<br />

por meio de ferramenta de baixo custo.<br />

❙❙<br />

Clarissa Schmidt, Gerente de Negócios do Zim<br />

“Queremos conectar o corretor ao cliente de, eu tenho um teto, mas não é isso o<br />

dele, gerando maior proximidade e mais que queremos. Queremos uma parceria<br />

vendas, principalmente em locais onde a ganha-ganha. Se o corretor vende mais,<br />

presença física é mais complicada”. é melhor para nós. Porém, não se trata<br />

O primeiro produto a ser comercializado<br />

diretamente na plataforma são é integral do corretor, a partir da sua<br />

de uma co-corretagem. A comissão<br />

os seguros de RC Profissional da Argo negociação com as seguradoras. O Zim<br />

Seguros. Logo, o atendimento deve se funciona e recebe como uma plataforma<br />

estender também para os produtos para tecnológica das seguradoras”, ressalta a<br />

bicicletas da seguradora.<br />

executiva.<br />

A expectativa é de que, até o final O interessante é que não existe um<br />

deste ano, a solução alcance 15 mil usuários<br />

corretores. “Hoje, a solução é gratuita solução direcionada ao pequeno e médio<br />

perfil definido para utilizar o Zim. É uma<br />

em virtude de uma parceria com a Fenacor<br />

– Federação Nacional dos Corretores vestir em tecnologia própria. “Queremos<br />

corretor, pois os maiores costumam in-<br />

de Seguros. No caso dos corretores associados<br />

aos Sindicatos da categoria de seu corretores do Brasil, independente de seu<br />

evoluir para o atendimento de todos os<br />

Estado, o custo é zero até janeiro de 2020. porte”, pontua Clarissa. Hoje, a solução<br />

Os não sindicalizados pagam R$ 700 de é muito utilizada por profissionais que<br />

taxa de adesão e mensalidade de R$ 100 comercializam produtos massificados, de<br />

por CNPJ”, explica Clarissa.<br />

auto, vida, residencial. “Queremos evoluir<br />

O lucro dos investidores da tecnologia<br />

deve vir da economia escalável da o saúde, que é muito demandado pelos<br />

para outros ramos de seguros, entre eles<br />

solução. “Quando eu cobro mensalida-<br />

corretores”, conclui Clarissa.<br />

19


20


21


insurtech | corretores<br />

Modernizando<br />

e fortalecendo<br />

o corretor<br />

Mais uma vez, as startups<br />

entram no meio de<br />

campo. Os profissionais<br />

que continuarem<br />

inovando tendem a<br />

prosperar cada vez mais e<br />

muito mais rapidamente<br />

Lívia Sousa<br />

O<br />

mercado de seguros é vital<br />

para a economia e para a<br />

vida das pessoas. Um setor<br />

em que, ao que tudo indica,<br />

o ritmo de crescimento continuará<br />

acelerado e acelerando. A maioria das<br />

seguradoras também deve perdurar,<br />

mas para isso precisarão aproveitar o<br />

movimento de transformação digital e de<br />

inovação para pensar e criar o futuro que<br />

desejam. E assim será com os corretores<br />

de seguros, que não devem esperar pela<br />

inovação. Quem pensa que a tsunami<br />

digital ainda vai chegar, infelizmente,<br />

já perdeu metade da história. Ela não só<br />

já chegou como, daqui para frente, vai<br />

escalar e ser cada vez mais rápida.<br />

“A preocupação com a disrupção<br />

da tecnologia chegou ao mercado segurador”,<br />

afirma Omar Ajame, CEO<br />

da TEx. Sinal de que mais gente está<br />

reconhecendo o impacto da tecnologia<br />

e o ritmo acelerado com que as transformações<br />

ocorrem atualmente no mundo,<br />

mas também um índice de que a maioria<br />

das pessoas que atuam no segmento não<br />

entende que existem muito mais oportunidades<br />

do que ameaças. “Corretoras e<br />

seguradoras devem criar soluções inovadoras<br />

e disruptivas, aproveitando canais<br />

de distribuição atuais e criando novos de<br />

maneira inclusiva”, atenta.<br />

Mais uma vez, as startups entram no<br />

22<br />

meio de campo – agora para ajudar os<br />

corretores a se modernizarem e se fortalecerem.<br />

Em uma de suas ferramentas,<br />

o Teleport, a TEx reúne todas as funcionalidades<br />

que uma corretora de seguros<br />

precisa para funcionar, incluindo sistema<br />

de gestão, CRM, gerenciamento eletrônico<br />

de documentos, financeiro e o multicálculo.<br />

Assim, é possível economizar 90% do<br />

❙❙Omar Ajame, da TEx<br />

tempo no Comercial de uma corretora,<br />

uma das áreas mais importantes para as<br />

empresas, aumentando a eficiência da<br />

equipe e garantindo a precisão dos cálculos.<br />

“Não há erro de cadastros e os demais<br />

processos de negócios da corretora como<br />

emissão, tratamento de recusas e comissão<br />

se tornam muito mais eficientes e seguras,<br />

sem retrabalho ou perda de tempo, já que<br />

o sistema é completo e totalmente integrado”,<br />

garante Ajame.<br />

Por sua vez, o Nimble, plataforma<br />

B2B2C (conceito de vendas pela internet<br />

que inclui toda a cadeia comercial, desde a<br />

indústria até o consumidor final), permite<br />

que corretoras tradicionais se tornem corretoras<br />

online e comecem a vender seguros<br />

online. Ainda que tenham objetivos diferentes,<br />

Teleport e Nimble são plataformas<br />

complementares, totalmente integradas.<br />

Assistente pessoal<br />

Existe uma máxima no mercado<br />

que, quanto mais o corretor vende, mais<br />

ele se afoga em tarefas operacionais. E,


❙❙<br />

Leonardo Rochadel, da O2OBOTS<br />

hoje, percebe-se que cada vez mais esses<br />

profissionais estão sentindo a necessidade<br />

de conversar melhor com os seus clientes.<br />

A O2OBOTS, detentora da ferramenta Segurobot,<br />

desenvolveu uma inteligência artificial<br />

com personalidade de Inside Sales<br />

(vendas internas, na tradução). São robôs<br />

de atendimento treinados para vender.<br />

“Educamos a inteligência artificial<br />

para qualificar leads em grande escala e<br />

entregá-los para os corretores de seguros<br />

para que eles vendam mais. É como se<br />

entregássemos um assistente pessoal para<br />

cada corretor”, explica Leonardo Rochadel,<br />

CEO da empresa. “Fazemos um<br />

esforço muito grande para ‘democratizar’<br />

a tecnologia que está à disposição das<br />

seguradoras, no topo da pirâmide. Estamos<br />

tornando essa solução acessível para<br />

todos os corretores. Entre nossos clientes<br />

estão corretoras que contam com menos<br />

de dez profissionais, até aquelas que têm<br />

mais de 50 colaboradores”.<br />

O executivo ressalta que o objetivo<br />

não é tirar corretores do mercado, mas<br />

colocar à disposição dos canais de distribuição<br />

uma inteligência artificial que<br />

execute todas as tarefas operacionais e<br />

repetitivas que, por vezes, podem prejudicar<br />

os profissionais no momento da<br />

venda. “Estamos alinhados com o que<br />

o setor entende não ser uma postura de<br />

confrontamento. A gente vem com o<br />

posicionamento de dar ferramenta de<br />

trabalho para empoderar esses canais”,<br />

assegura Rochadel, que não vê resistências<br />

por parte dos corretores em aderir<br />

às soluções digitais. “Na verdade, eles<br />

nos olham como um norte, alguém para<br />

ajudá-los e conduzi-los no processo de<br />

como interagir com o novo consumidor<br />

– ou o mesmo consumidor de dez anos<br />

atrás, só que com novos hábitos”, diz.<br />

Open Insurance<br />

No mercado há 12 anos, a Solutions<br />

One lançou, em 2017, o Plethora, uma<br />

insurtech B2B (business to business)<br />

com a proposta de distribuir produtos de<br />

seguros utilizando conceito de Open Insurance,<br />

ou seja, através de APIs Restful<br />

para canais digitais e físicos com produtos<br />

de seguros, assistências e capitalização<br />

que podem ser ofertados por Apps,<br />

e-commerces, Insurtechs b2C, Blogs,<br />

Varejos etc. “Nossos parceiros precisam<br />

apenas integrar com nossa API Restful<br />

para ter acesso aos produtos de seguros<br />

e, também, aos meios de pagamento<br />

ou usar front ends que podem ser telas<br />

responsivas ou apps para vendas e pós-<br />

-vendas. Venda de seguros com chatbots<br />

também é ofertado”, explica Alessandro<br />

Maracajá, CEO and Owner da Solutions<br />

One. Além de corretoras e seguradoras,<br />

a empresa atende os segmentos de varejo<br />

e call centers.<br />

O executivo ressalta que os corretores<br />

de seguros serão ponto de contato entre o<br />

cliente final e as insurtechs. Numa fase de<br />

transição, serão geradores de negócios e,<br />

também, solucionadores de questões de<br />

alta complexidade. No longo prazo, serão<br />

um fator de humanização da relação e<br />

terão um papel importante na fidelização<br />

dos mesmos. “Assim como muitas pessoas<br />

têm preferência de comprar online,<br />

mas buscar fisicamente na loja, ou mesmo<br />

❙❙Alessandro Maracajá, da Solutions One<br />

❙❙<br />

Mauricio Marques, da Moshe<br />

passar na loja para conhecer o produto<br />

antes de comprar online, os mundos físico<br />

e digital também se fundirão em outros<br />

setores, inclusive no setor de seguros”,<br />

pontua. Ele crê que uma humanização do<br />

processo de seguros pode fazer sentido<br />

para muitas pessoas, já que os produtos<br />

são complexos para o grau de educação<br />

financeira da maioria da população em um<br />

país como o Brasil e, portanto, uma parcela<br />

dos clientes pode se sentir mais segura se<br />

ouvir explicações de um especialista em<br />

lugar de uma máquina, e ao vivo.<br />

Um produto, várias<br />

utilizações<br />

A Moshe investe em um sistema<br />

de gerenciamento para corretoras nas<br />

versões Cloud e Local, um produto que<br />

engloba Área do Segurado, Área do<br />

Cliente e Perfil do Segurado. O cliente<br />

tem acesso a essa área onde, através de<br />

um link, pode fazer com que o segurado<br />

responda sobre o seu perfil. Uma vez feito<br />

isso, quando termina o preenchimento,<br />

esses dados são carregados no sistema<br />

para que seja feito um cálculo.<br />

Esta é uma das maneiras de auxiliar<br />

os corretores, que, na opinião do CEO<br />

da empresa, Mauricio Marques, por<br />

vezes usam ferramentas muito simples<br />

para fazer algum tipo de trabalho. “Os<br />

corretores precisam ser mais treinados,<br />

entender um pouco mais. Eles têm vontade,<br />

mas no dia a dia sinto que precisam<br />

se dedicar mais para que isso ocorra. Eles<br />

esperam muitas soluções mágicas, mas<br />

precisamos dessa força de vontade para<br />

que dê certo”, conclui.<br />

23


insurtech | serviço<br />

Atendimento antes do limite<br />

da franquia<br />

Car10 mira no<br />

atendimento de baixo<br />

custo do segurado, seja<br />

para pequenos reparos<br />

ou para manutenção<br />

corretiva ou preventiva<br />

Quantas vezes o segurado tem<br />

um pequeno sinistro, abre<br />

uma ordem de serviço no SAC<br />

da seguradora e, dias depois,<br />

recebe a notícia de que não há cobertura<br />

porque o valor ficou abaixo da franquia?<br />

Neste momento, mais uma vez, a imagem<br />

do setor é prejudicada.<br />

A Car10 nasceu para atender demandas<br />

complementares ao seguro. A APR<br />

(Assistência ao Pequeno Reparo) atende<br />

o segurado quando ele está órfão, ou seja,<br />

aquele ralado que está abaixo da franquia.<br />

“Quando a seguradora não atende o segurado<br />

e não há nenhuma colaboração, a<br />

Car10 ajuda o segurado a encontrar uma<br />

oficina e realizar o conserto. As pessoas<br />

têm muitas dúvidas na hora de escolher<br />

uma oficina e saber se o preço proposto<br />

é justo, se a oficina é de confiança etc”,<br />

explica Fabio Gimenez, sócio cofundador<br />

e diretor Comercial da insurtech.<br />

A empresa oferece uma interface<br />

digital que rapidamente fornece o orçamento,<br />

considerando a região e aplicando<br />

descontos que são negociados previamente<br />

com as oficinas, que podem chegar a<br />

até 25%. O cliente pode pagar em até<br />

10 vezes sem juros e ainda recebe uma<br />

garantia estendida do serviço realizado.<br />

A plataforma já possui 2700 oficinas<br />

cadastradas, que atendem em todo o<br />

território nacional. Para se juntarem aos<br />

credenciados, as reparadoras passam por<br />

uma análise técnica sobre a sua estrutura,<br />

tempo de atuação, porte, se tem estufa ou<br />

cabine de pintura etc. São os atributos mínimos<br />

para atender. “Informamos o perfil<br />

da oficina na interface do cliente, qual é o<br />

24<br />

tipo de empresa e estrutura e controlamos<br />

o grau de satisfação através de pesquisa<br />

de satisfação (NPS). Já tivemos mais de<br />

10 mil atendimentos e menos de 0,03%<br />

de reclamação. Por isso oferecemos a<br />

garantia estendida”, esclarece Gimenez.<br />

A Car10 já possui parcerias com<br />

algumas seguradoras, que vislumbraram<br />

a oportunidade de aumentar seu ponto de<br />

contato com o cliente através do sistema.<br />

“A SulAmérica, por exemplo, já possui<br />

uma interface em seu aplicativo próprio.<br />

O segurado pode pedir o orçamento direto<br />

pelo aplicativo e ainda contar com mais<br />

15% de desconto”. Gimenez acrescenta<br />

que o segurado da SulAmérica dispõe<br />

ainda de um tratamento diferenciado.<br />

Outras seguradoras como a BB Seguros e<br />

a Mapfre também estudam disponibilizar<br />

o serviço para os seus clientes.<br />

Mais serviços<br />

Além da APR, a Car10 também<br />

presta serviços em outras frentes, como<br />

a Manutenção Corretiva, onde integra<br />

uma rede de mais de 600 unidades a<br />

seguradoras e empresas de assistência,<br />

acompanhando todo o atendimento a<br />

panes eletroeletrônicas e mecânicas de<br />

segurados que optam pelo atendimento<br />

na Rede Car10. Outra vertical do negócio<br />

é a Manutenção Preventiva, onde além<br />

de clientes consumidores de lojas como<br />

Wallmart e Magazine Luíza, seguradoras<br />

parceiras contam com uma Agenda<br />

do Carro para disponibilizar aos seus<br />

segurados, funcionalidade que entrega<br />

lembretes via SMS/email/push sobre<br />

manutenções preventivas que o segurado<br />

deveria realizar no curso de sua apólice,<br />

além de terem a disposição uma prateleira<br />

de compra e agendamento desses<br />

serviços. “Temos mais de 400 oficinas<br />

que prestam serviços de alinhamento,<br />

balanceamento, rodízio de pneus etc,<br />

espalhadas por todo o país”.<br />

A quarta vertical é o serviço financeiro<br />

de parcelamento Franquia Fácil,<br />

feito em parceria com as seguradoras para<br />

que as oficinas credenciadas no aplicativo<br />

possam parcelar a franquia para o segurado<br />

em até 10 vezes.<br />

A projeção para 2018 é atender 30<br />

mil clientes. “Estamos em linha com esta<br />

meta, e temos projetos que podem fazer este<br />

número subir ainda mais”, comemora o executivo.<br />

A Car10 já desenvolve com algumas<br />

empresas parceiras uma interface em que<br />

a corretora poderá se cadastrar e gerar um<br />

voucher de desconto para os seus clientes.<br />

Próximos passos<br />

A partir do segundo semestre, com<br />

uso de uma ferramenta de Inteligência<br />

Artificial da Microsoft, uma das sócias do<br />

Car10, será possível fornecer o orçamento<br />

para o cliente em apenas 30 segundos,<br />

funcionalidade com ampla aplicação no<br />

processo de admissão e regulação de<br />

sinistro nas seguradoras.


25


insurtech | seguradoras<br />

A ajuda vem<br />

da tecnologia<br />

É a partir do uso de elementos digitais que<br />

as seguradoras vão conseguir se adaptar<br />

e prosperar na era digital. Saiba como as<br />

insurtechs podem ajudá-las com novos<br />

processos<br />

Lívia Sousa<br />

A<br />

sobrevivência do modelo de<br />

negócio das seguradoras dependerá<br />

do uso de elementos<br />

digitais em suas estratégias de<br />

competição e de relacionamento com o<br />

cliente. Mas, como está o grau de maturidade<br />

digital das principais seguradoras<br />

do Brasil? O estudo “Régua da Transformação<br />

Digital no Setor de Seguros”, feito<br />

pela consultoria Dom Strategy Partners,<br />

classifica essas empresas em sete estágios:<br />

1) Zumbis Digitais: companhias<br />

que em geral são mais tradicionais, que<br />

um dia foram ou ainda são grandes em<br />

termos de operação, mas não aderiram à<br />

transformação digital e, por isso, têm sua<br />

capacidade de resposta comprometida; 2)<br />

Inerciais: empresas semelhantes às Zumbis<br />

Digitais, mas que ainda não perderam<br />

sua capacidade de resposta; 3) Wannabes:<br />

players relevantes, em geral motivados<br />

pelo novo, mas que preferem simular a<br />

fazer – ou porque não têm coragem ou<br />

porque não têm recursos e competências<br />

para tal; 4) Sobreviventes Eternos: empresas<br />

que não propõem a disrupção, mas<br />

são rápidas em reagir; 5) Presas futuras:<br />

players menores, rápidos em responder a<br />

ameaças, mas que no final costumam perder<br />

o jogo, sendo mortos ou adquiridos de<br />

forma subvalorizada pelos Sobreviventes<br />

26<br />

❙❙Daniel Domeneghetti, da Dom<br />

e especialmente pelos Inerciais; 6) Smart<br />

Killers: companhias tradicionais, que se<br />

colocaram em um novo posicionamento<br />

a partir da transformação digital; e 7)<br />

Bichos Diferentes: players inovadores,<br />

que atuam em mercados diferentes, com<br />

lógicas e propostas de valor diferentes, a<br />

partir de modelos de negócios diferentes,<br />

e que ameaçam os demais players e<br />

causam transformações definitivas nos<br />

mercados de atuação.<br />

“Hoje temos mais seguradoras<br />

Inerciais do que Zumbis Digitais. Este<br />

mercado não é ainda um mercado de autotermômetro<br />

de exigência, como acontece<br />

em bancos e em telefonia celular, por<br />

exemplo. Isso dá mais folga e tempo para<br />

essas empresas”, analisa Daniel Domeneghetti,<br />

CEO da Dom Strategy Partners e<br />

responsável pelo levantamento.<br />

Segundo ele, é a partir do uso de<br />

elementos digitais em seu modelo “core”<br />

de negócio que as seguradoras vão conseguir<br />

se adaptar e prosperar na era digital<br />

como forma de sobreviver e continuar<br />

produzindo riqueza para seus acionistas e<br />

clientes ao longo do tempo. “Como sempre,<br />

algumas conseguirão evoluir. Outras<br />

ficarão para trás”, lembra. Mas, primeiro,<br />

é necessário saber como vai se desenvolver<br />

o modelo de insurtech no Brasil.<br />

“Como a arquitetura das insurtechs não<br />

está claramente definida, ainda não dá<br />

para saber como será esse processo em<br />

termos de competição. Mas, provavelmente,<br />

os líderes de mercado montarão<br />

suas unidades digitais. Algumas serão<br />

mais serviços, outras serão mais venda e<br />

outras serão mais suporte. Vai depender<br />

muito da forma como funcionará cada<br />

player”, aposta Domeneghetti.<br />

O que as seguradoras buscam<br />

O auxílio em novos processos é o que<br />

move as seguradoras a se relacionarem


❙❙<br />

Erika Médici, da Axa<br />

com as insurtechs. Elas buscam, principalmente,<br />

flexibilidade para se adequar<br />

às normas de segurança da informação,<br />

visão de negócio e business plans bem<br />

estruturados. “São informações que não<br />

estão acessíveis a nós”, diz Erika Médici,<br />

diretora de marketing e negócios digitais<br />

da Axa. Em todo o mundo, a companhia<br />

se engaja com startups e fomenta o desenvolvimento<br />

do ecossistema de insurtechs<br />

e fintechs. No Brasil, esse trabalho se<br />

dá por meio da iniciativa Filial Digital.<br />

Assim como acontece em uma startup,<br />

a tecnologia é usada para transformar e<br />

dinamizar o relacionamento, permitindo<br />

que a Filial Digital opere como uma célula<br />

de atendimento comercial digitalizada,<br />

mas não por isso automatizada. A ideia é<br />

que além de obter suporte e informações<br />

por esse canal, os corretores possam<br />

desenvolver seu plano de negócios digitais,<br />

etapa que está em desenvolvimento.<br />

Globalmente, há uma forte iniciativa<br />

realizada pela Axa Venture Partners.<br />

No geral, as seguradoras começaram<br />

a enxergar um novo horizonte nos últimos<br />

anos, mas a transformação está em curso.<br />

“Há projetos segmentados que funcionam<br />

muito bem, mas o ideal são modelos de<br />

inovação sistêmicos que ainda estão em<br />

construção”, admite Erika. A chave para<br />

acelerar essa mudança é a cultura organizacional:<br />

abrir as portas para parcerias<br />

com startups e absorver o que elas têm<br />

para agregar. “As lideranças precisam<br />

estar engajadas e liderar a transformação”,<br />

sentencia.<br />

O fato é que essas empresas ainda<br />

precisam de tempo para se preparar internamente<br />

para receber as startups. Com<br />

mais maturidade e com uma cultura interna<br />

mais flexível, lidarão melhor com as<br />

parcerias e extrairão melhores resultados.<br />

Esse aprendizado acontece em todos os<br />

segmentos e envolve uma análise importante:<br />

inovação que gera resultados versus<br />

exposição a riscos, “discussão central para<br />

o mercado segurador”, declara a executiva.<br />

Moeda virtual nas apólices de<br />

seguro<br />

Todos os mercados serão profundamente<br />

impactados pelo blockchain. Porém,<br />

serviços financeiros e seguros serão<br />

aqueles que passarão por grandes rupturas.<br />

“Modelos deverão ser revistos por pressão<br />

da sociedade civil”, destaca Fernando<br />

Wosniak Steler, CEO da Direct.One,<br />

empresa que trabalha com contratos inteligentes<br />

utilizando o blockchain. Ele toma<br />

como exemplo o aplicativo de transportes<br />

Uber, que mesmo relativamente ‘fora da<br />

lei’ teve as regras mudadas pela pressão<br />

da sociedade. “No final, sempre quem está<br />

com a razão são os clientes que querem<br />

comodidade e baixo custo”, afirma.<br />

Nos seguros, de acordo com especialistas,<br />

a principal aplicação do blockchain<br />

será nas coberturas de seguros,<br />

❙❙<br />

Fernando W. Steler, da Direct.One<br />

na automatização da solução de sinistros<br />

e seus pagamentos. As possibilidades<br />

de desintermediação, transferências de<br />

recursos instantâneos, execução automatizada<br />

de contratos e confiança entre os<br />

participantes são realidades nunca antes<br />

experimentadas pelo mercado segurador.<br />

“Estamos ansiosos para ver o que vai<br />

acontecer”, revela Steler.<br />

A companhia começou a estudar o<br />

blockchain em 2015. Depois, os estudos<br />

viraram provas de conceito que levaram<br />

à conclusão de um produto em formato de<br />

API. No início de 2018, a empresa fechou<br />

o primeiro contrato com uma seguradora,<br />

que passou a registrar suas apólices utilizando<br />

Blockchain Ethereum, validando<br />

imutabilidade nas transações. Para as<br />

seguradoras, esse modelo de negócio<br />

pode trazer benefícios que vão desde<br />

a redução de custos até o regulatório.<br />

“A Resolução CNSP 294, emitida no<br />

final de 2013, obrigava a utilização de<br />

certificado ICP-Brasil. Agora, o CNSP<br />

359 retirou o certificado ICP-Brasil,<br />

colocando itens que podemos resolver<br />

27


seguradoras<br />

com uso do blockchain, como integridade<br />

de um documento”, explica Steler,<br />

reiterando que seguradoras, startups de<br />

seguros e corretores se complementam.<br />

“As insurtechs vêm com a inovação. As<br />

seguradoras possuem base e capital.<br />

Os corretores distribuem para a grande<br />

massa. Claro que os menos preparados<br />

devem perder posição, mas no final, o<br />

mercado se ajeita. Vem sendo assim desde<br />

a revolução industrial”.<br />

Regulação de sinistros<br />

A General Claims identificou a<br />

necessidade das reguladoras de ter um<br />

sistema que automatizasse suas tarefas<br />

e lançou a GCLaims, plataforma web<br />

SAS (software as a service) criada com<br />

o objetivo atender às empresas de pequeno,<br />

médio e grande porte. Basicamente,<br />

é vendida uma licença de utilização ao<br />

cliente, que passa a ter acesso à configuração<br />

da operação, à automatização de<br />

processos e ao gerenciamento da operação.<br />

Eles utilizam a plataforma web ou no<br />

celular, e dentro do sistema conseguem<br />

desenhar todo o fluxo operacional com<br />

que hoje já contam manualmente.<br />

“As seguradoras oferecem o seguro.<br />

O segurado aciona o seguro e surge um<br />

sinistro. A seguradora terceiriza o processo<br />

de regulação do sinistro e nós fornecemos<br />

um sistema especificamente para as<br />

reguladoras, que o utilizam para fazer a<br />

regulação de todo o processo de sinistro<br />

e informar a seguradora se a indenização<br />

deve ou não ser paga ao segurado”, explica<br />

o CEO, Kelvin Cleto. A insurtech se<br />

encarrega de implantar a plataforma e de<br />

❙❙Kelvin Cleto, da General Claims<br />

28<br />

auxiliar os clientes a remodelar o fluxo<br />

operacional. “Trouxemos essa automatização<br />

para as pessoas que levavam muito<br />

tempo enviando um e-mail, cadastrando<br />

um sinistro, realizando uma cobrança<br />

de documento ou fazendo a gestão da<br />

cobrança para o segurado. No tempo<br />

operacional, conseguimos alcançar uma<br />

redução de 40%”, esclarece.<br />

A plataforma conta com 60 mil sinistros<br />

cadastrados, mais de 500 mil arquivos<br />

de processos vinculados ao sistema e<br />

é utilizada por 15 reguladoras que operam<br />

no mercado brasileiro. Agora, a startup<br />

de seguros se prepara para desenvolver<br />

duas novas tecnologias: uma de análise<br />

de fraudes em seguros e outra de vistoria<br />

remota. “Estamos expandindo o mercado<br />

para outras áreas”, diz ele, que enxerga<br />

uma postura aberta das seguradoras à<br />

parceria digital, mas receio por parte de<br />

alguns prestadores de serviços. “Eles não<br />

vêem o mesmo que uma empresa grande<br />

vê. Não enxergam o uso da tecnologia<br />

como um ganho. Acham que a tecnologia<br />

é um custo e não um benefício, e isso é um<br />

grande problema. Nossa maior barreira é<br />

mostrar aos clientes e futuros clientes o<br />

ganho que a plataforma vai trazer para<br />

eles”, afirma. Outro entrave, segundo ele,<br />

é a segurança da informação. “Temos<br />

profissionais específicos para cuidar da<br />

nossa segurança e do desenvolvimento<br />

da plataforma, coisas que uma empresa<br />

na área de seguros não tem”.<br />

Automóvel<br />

A Car10 tem uma plataforma digital<br />

com diversas funcionalidades. Uma delas<br />

é a de Assistência a Pequenos Reparos, em<br />

que, com base em fotos, a empresa devolve<br />

o orçamento para reparos com valores<br />

abaixo da franquia do seguro de automóvel<br />

(reparação e pintura, martelinho de ouro<br />

e pintura automotiva). Além disso, aposta<br />

em outros projetos com seguradoras com<br />

o intuito de ajudá-las com novos processos.<br />

O de maior destaque é o uso da inteligência<br />

artificial para determinação de danos do<br />

veículo através de foto.<br />

“Conseguimos saber qual o veículo<br />

afetado, a área afetada, o tamanho e o valor<br />

aproximado dos veículos que estão na<br />

foto. Ou seja, o usuário coloca duas ou três<br />

fotos na interface e automaticamente, em<br />

❙❙<br />

Fabio Gimenez, da Car10<br />

10 ou 20 segundos, a inteligência artificial<br />

responde qual o tipo de dano, a extensão e<br />

o valor aproximado para reparo”, explica o<br />

diretor Comercial, Fabio Gimenez.<br />

Atualmente, o uso desta inteligência<br />

artificial está em fase de teste nos processos<br />

internos da empresa. Mas, duas<br />

seguradoras já estudam aplicá-lo no<br />

processo de abertura de sinistro. “A princípio,<br />

a ferramenta gera uma economia<br />

de processos para a seguradora, tanto nos<br />

sinistros quanto na admissão, o que pode<br />

levar a baratear o custo do seguro para o<br />

cliente final”, afirma. Outras aplicações<br />

também ajudam as seguradoras em seus<br />

processos. Além da inteligência artificial<br />

para abrir um sinistro, a Car10 oferece o<br />

parcelamento da franquia em até 10 vezes<br />

sem juros na rede credenciada. “A rede<br />

de oficinas é basicamente a mesma em<br />

algumas seguradoras, e a facilidade de<br />

pagamento pode ser ofertada ao segurado.<br />

Temos isso hoje sendo testado em algumas<br />

companhias e temos outras já estruturando<br />

o teste”, informa Gimenez.<br />

A chegada das insurtechs traz possibilidades<br />

até então nunca vistas no mercado<br />

brasileiro, como redução de custo, conexão<br />

de toda a cadeia e processo do setor, e a<br />

criação de produtos acessíveis para um<br />

maior número de pessoas. Ainda que as<br />

insurtechs que estão surgindo foquem<br />

nos “peixes grandes”, é importante lembrar<br />

que o mercado segurador é grande e<br />

engloba a regulação, o gerenciamento de<br />

risco, a vistoria e tantos outros processos.<br />

O recado foi dado: a saída é aderir à tecnologia<br />

digital.


29


especial pme | conjuntura<br />

Por que esperar<br />

o vizinho?<br />

Pequenas e médias empresas ainda<br />

não recorrem ao seguro como<br />

deveriam para protegerem seu negócio<br />

dos riscos aos quais estão expostas.<br />

A carteira, embora bilionária, tem<br />

potencial gigantesco levando em conta<br />

a existência de mais de 600 mil grupos<br />

no Brasil que se encaixam nesse perfil,<br />

nos mais variados segmentos<br />

Manuela Almeida<br />

Um incêndio sem causa definida fez a rede sergipana Poliana<br />

Tecidos perder uma de suas unidades há três anos. A proprietária<br />

da pequena rede, Dona Bernadete, “deu sorte” que<br />

tinha seguro para arcar com o prejuízo. O azar foi que no dia<br />

anterior daquele fatídico domingo, 29 de março de 2015, bem aquela<br />

loja havia recebido mercadoria nova. Assim, o valor correspondente<br />

ao estoque da unidade localizada no calçadão da rua São Cristóvão,<br />

Centro de Aracaju, mais que dobrou em relação à importância segurada<br />

contratada pela segurada, de R$ 1,5 milhão. Pelos cálculos dos donos<br />

do negócio, na ocasião, a unidade da Poliana Tecidos atingida pelo<br />

incêndio somava R$ 4,5 milhões em mercadorias. Apesar do trabalho<br />

de 30 homens do Corpo de Bombeiros de Sergipe, que contaram ainda<br />

com o auxílio de sete veículos, a perda foi total. Sobrou também para<br />

as lojas vizinhas, que foram impactadas pelo desabamento de parte dos<br />

telhados da Poliana, a água usada para impedir que o fogo destruísse<br />

todos os produtos. O problema é que, ao serem molhados, alguns não<br />

puderam ser recuperados. Aqui, o seguro também ajudou, uma vez<br />

que os proprietários das lojas vizinhas foram indenizados dentro da<br />

cobertura de Responsabilidade Civil a terceiros, reduzindo, assim, as<br />

perdas causadas.<br />

30


❙❙Antonino Alcântara de Oliveira, corretor<br />

No caso da própria Poliana Tecidos,<br />

a indenização paga pela seguradora<br />

ajudou a reconstruir a unidade atingida,<br />

entretanto, não foi suficiente. Os donos<br />

do negócio tiveram de se descapitalizar<br />

e colocar recursos próprios para fazer<br />

com que a unidade voltasse a ser o que<br />

era antes do incêndio. Mas o prejuízo<br />

da empresa familiar, principal modelo<br />

de sociedade e gestão dos pequenos e<br />

médios negócios no Brasil, poderia ter<br />

sido ainda maior não fosse a atuação do<br />

corretor de seguros Antonino Alcântara<br />

de Oliveira. Ao assumir a conta da rede,<br />

ele iniciou um trabalho, a cada renovação,<br />

de equiparação da importância segurada<br />

nas apólices da empresa em relação aos<br />

riscos existentes. Isso porque a apólice da<br />

segurada, que anteriormente havia sido<br />

contratada junto ao gerente do banco que<br />

a cliente utilizava, contava com no máximo<br />

R$ 300 mil para cada loja – montante<br />

mais parecido com um seguro residencial<br />

de um pequeno apartamento, lembra o<br />

corretor, ao passo que facilmente um<br />

prejuízo por quaisquer motivos como<br />

ocorreu com o incêndio poderia gerar<br />

uma perda milionária.<br />

A unidade atingida pelo incêndio<br />

era a única, até então, que contava com<br />

uma cobertura maior após a orientação<br />

de Oliveira. Sorte novamente de Dona<br />

Bernadete. “Ainda bem que o seguro<br />

contratado não tinha cláusula de rateio<br />

– quando o segurado pode ter de arcar<br />

com uma parte da indenização quando o<br />

valor em risco declarado é menor ao montante<br />

em risco identificado no momento<br />

do sinistro. E ainda que o proprietário<br />

tinha recursos próprios para reconstruir<br />

parte do seu negócio perdido por conta<br />

do incêndio”, lembra Oliveira, que é<br />

proprietário da Alcântara e Madureira<br />

Corretora de Seguros.<br />

De acordo com ele, após três anos,<br />

a causa do incêndio não foi bem esclarecida.<br />

A exemplo do que aconteceu<br />

com outras lojas do Centro Comercial<br />

de Aracaju, suspeita-se de que o fogo<br />

teve início nas antigas instalações elétricas<br />

ou então por conta de alguém que<br />

invadiu a propriedade e acendeu uma<br />

vela. Independente do que ocasionou<br />

o incêndio, a perda foi suficiente para<br />

os proprietários da Poliana reverem as<br />

apólices das demais unidades, adequando<br />

os riscos existentes ao valor contratado<br />

junto ao seguro.<br />

Negócio em risco<br />

A história da pequena rede de lojas<br />

de tecidos extrapola, porém, os cerca de<br />

22 mil quilômetros do território sergipano.<br />

Ressalta a realidade da maioria<br />

das mais de 600 mil pequenas e médias<br />

empresas (PMEs) existentes no Brasil,<br />

conforme dados do Instituto Brasileiro<br />

de Geografia e Estatística (IBGE), que<br />

não possuem seguro para seus negócios<br />

ou contam com proteções aquém dos<br />

seus riscos. Em geral, boa parte das<br />

pequenas e médias empresas, quando se<br />

preocupam em contratar um seguro para<br />

o seu negócio, assim o fazem, de acordo<br />

com entrevistados por <strong>Apólice</strong>, somente<br />

quando o vizinho passa por um evento<br />

adverso. A preocupação, na maioria das<br />

vezes, é mais roubo do que algum dano<br />

ao patrimônio que possa paralisar as suas<br />

operações. “Grande parte das pequenas e<br />

médias empresas corre um alto risco de<br />

fechar as portas em função da ocorrência<br />

de um evento adverso, podendo ser um<br />

dano material ao estabelecimento ou uma<br />

responsabilidade civil perante terceiros”,<br />

avalia o diretor de PME da Chubb Brasil,<br />

Alessandro Gomes.<br />

Na prática, apesar disso, o número<br />

de pequenos e médios empresários que<br />

recorre ao seguro como uma ferramenta<br />

de gestão de risco ainda é baixo. Estudo,<br />

que ainda está sendo finalizado pela<br />

“A crise aumentou<br />

o temor das<br />

pequenas e médias<br />

empresas pelos<br />

riscos. O atual quadro<br />

de recuperação<br />

da economia<br />

pode estimular o<br />

crescimento do<br />

consumo de seguros<br />

entre as PMEs”<br />

Alessandro Gomes, da Chubb Brasil<br />

Federação Nacional de Seguros Gerais<br />

(FenSeg), mostra que apenas entre 20%<br />

e, no máximo, 30% desse público contam<br />

com apólices para protegerem seus<br />

negócios, mesmo que nem sempre com<br />

a importância segurada adequada, como<br />

era o caso da pequena rede sergipana<br />

de lojas de tecidos. Ou seja, boa parte<br />

das pequenas empresas que conta com<br />

seguro pode não estar dimensionando<br />

com a necessária realidade numérica,<br />

os riscos aos quais seus negócios estão<br />

expostos todos os dias que abre as portas<br />

para operar. Não há números fechados do<br />

tamanho desse mercado, uma vez que a<br />

Superintendência de Seguros Privados<br />

(Susep) não faz uma divisão por perfil<br />

de empresa. Mas, conforme o diretor de<br />

Property, Riscos de Engenharia e Energy<br />

da Tokio Marine, Sidney Cezarino, é um<br />

segmento estimado em, ao menos R$ 2<br />

31


conjuntura<br />

bilhões em prêmios, o que, se confirmado,<br />

ressalta o potencial gigantesco existente<br />

junto às pequenas e médias empresas no<br />

Brasil. Isso porque o volume de seguros<br />

contratado por esse público é muito pequeno<br />

se comparada à importância que<br />

os grupos de pequeno e médio porte têm<br />

na economia brasileira. Se consideradas<br />

apenas as micro e pequenas empresas,<br />

segundo dados Serviço Brasileiro de<br />

Apoio às Micro e Pequenas Empresas<br />

(Sebrae), o peso no Produto Interno Bruto<br />

(PIB) brasileiro chega a 27%, além de<br />

representarem 98,5% dos empreendimentos<br />

e gerarem 54% das vagas formais<br />

no mercado de trabalho no País. Fatia<br />

similar corresponde à participação dos<br />

médios grupos. “Apesar de ser necessária<br />

uma ótica mais profunda do potencial<br />

do segmento das pequenas e médias<br />

empresas no Brasil, visto que algumas<br />

não são operantes e outras fecharam as<br />

portas, a penetração do seguro nesses<br />

grupos é muito baixa. Se nenhuma nova<br />

empresa surgir na economia brasileira,<br />

ainda assim haverá muito trabalho para<br />

o seguro explorar junto aos pequenos e<br />

médios empresários”, raciocina o diretor<br />

geral de Relações com Investidores da<br />

Porto Seguro, Marcelo Picanço.<br />

Melhores ventos<br />

Pesa para os pequenos e médios<br />

negócios no Brasil, na opinião de especialistas,<br />

o fato de terem maiores desafios<br />

em relação aos grandes grupos, tanto do<br />

ponto de vista financeiro bem como operacional.<br />

Além de o acesso ao crédito ser<br />

❙❙Sidney Cezarino, da Tokio Marine<br />

32<br />

mais difícil e também mais caro, a baixa<br />

diversificação de clientes bem como dos<br />

ramos em que atuam estabelece uma relação<br />

de dependência que não é saudável<br />

para a gestão da empresa se não for muito<br />

bem administrada. Até mesmo porque<br />

qualquer dano ameaça a continuidade do<br />

negócio. A maior sensibilidade das PMEs<br />

ficou evidente durante a crise financeira<br />

e política que devastou a economia brasileira<br />

nos últimos anos. As pequenas<br />

e médias empresas foram um dos segmentos<br />

que mais apanhou. Pesquisas de<br />

birôs de crédito como a Serasa Experian<br />

e a Boa Vista SCPC mostram que os pedidos<br />

de recuperação judicial – quando<br />

a empresa perde a capacidade de pagar<br />

as suas dívidas e recorre a uma medida<br />

para se reestruturar e evitar a falência –,<br />

que passou de mais de 4 mil solicitações<br />

durante a crise, cresceu mais entre os<br />

menores do que entre os grandes grupos.<br />

No entanto, de acordo com Gomes,<br />

da Chubb, a crise contribuiu para aumentar<br />

o temor das pequenas e médias<br />

empresas pelos riscos aos quais estão<br />

expostas. Assim, sua expectativa é de<br />

que o atual quadro de recuperação da<br />

economia possa servir de motor para<br />

o crescimento do consumo de seguros<br />

entre as PMEs. Sustentam o otimismo<br />

do executivo o cenário de retomada econômica<br />

do País. E também por parte dos<br />

pequenos e médios empresários. Apesar<br />

de muitos negócios terem fechando<br />

as portas durante a crise, os sinais de<br />

retomada do País já ensejam uma dose<br />

de confiança a mais nos empresários<br />

do segmento. O Índice de Confiança<br />

dos Pequenos e Médios Negócios (IC-<br />

-PMN) para o segundo trimestre deste<br />

ano atingiu 70,65 pontos, com aumento<br />

de 5,9%, na comparação com o trimestre<br />

anterior. Trata-se da segunda maior alta<br />

da série histórica, iniciada em 2009, do<br />

indicador, que mede a confiança dos<br />

empresários das PME’s para o trimestre,<br />

elaborado pelo Centro de Estudos em<br />

Negócios do Insper com apoio do banco<br />

Santander Brasil. “Há um potencial de<br />

crescimento dentro do setor e em meio à<br />

retomada econômica do Brasil. Se o País<br />

retoma, os investimentos também voltam<br />

e há mais empreendedores que também<br />

são potenciais clientes de seguro. Esse<br />

❙❙Marcelo Picanço, da Porto Seguro<br />

é o pano de fundo”, avalia Cezarino, da<br />

Tokio Marine.<br />

No ano passado, o número de novas<br />

empresas já voltou a crescer no Brasil,<br />

puxado, principalmente, pelos grupos<br />

de menor porte. Segundo levantamento<br />

da Boa Vista SCPC, houve expansão<br />

de 13,6% no ano passado em relação a<br />

2016. Na classificação por forma jurídica,<br />

a variação acumulada no ano mostrou<br />

que as MEIs (microempreendedores<br />

individuais) continuam com papel de<br />

destaque, crescendo 19,1% em 2017, na<br />

comparação com o ano imediatamente<br />

anterior, enquanto que as microempresas<br />

(MEs) apresentaram variação de 6,8%.<br />

Já as demais modalidades de empresas<br />

apresentaram retração de 12,8%, na<br />

mesma base de comparação.<br />

No entanto, embora demonstrem,<br />

em geral, um pouco mais de confiança,<br />

o apetite dos pequenos e médios empresários<br />

para a inclusão de novos gastos em<br />

seus orçamentos, porém, ainda continua<br />

restrito. Na visão do proprietário da GHI<br />

Corretora de Seguros, Luis Fernando<br />

Autilio, as PMES ainda são muito resistentes<br />

à contratação de seguro. “O grande<br />

empresário pensa mais em seu patrimônio<br />

até mesmo porque a maioria possui empreendimento<br />

e maquinário próprio e, no<br />

caso de um incêndio, podem perder tudo e<br />

terem mais dificuldade de se recolocarem.<br />

O pequeno e médio não. Vai para um canto<br />

e para o outro. As empresas menores veem<br />

o seguro mais como um custo do que como<br />

uma proteção ao patrimônio”, compara o<br />

especialista.


33


Nem pessoa física nem grande<br />

empresário. O perfil dos donos<br />

de negócios de pequeno<br />

e médio porte, quando o assunto<br />

é seguro, fica exatamente no meio<br />

do caminho entre esses dois públicos.<br />

Entretanto, boa parte do seu entendimento<br />

vem da experiência como um<br />

consumidor comum do setor. Ou seja,<br />

mais precisamente do seguro de automóvel.<br />

Até mesmo porque a maioria dos<br />

brasileiros não possui sequer apólice para<br />

sua residência. Não é pequena a parcela<br />

da população, inclusive, que confunde<br />

o seguro habitacional, aquele atrelado<br />

ao financiamento do imóvel, com uma<br />

proteção para a sua moradia. No campo<br />

empresarial, não é muito diferente. Boa<br />

parte dos pequenos e médios empresários<br />

muitas vezes não procuram seguro<br />

por puro desconhecimento. Mas o fator<br />

fundamental e que pesa na decisão dos<br />

empresários é, principalmente, o preço.<br />

A maioria deles, além de considerar a<br />

contratação de seguro mais um “custo”<br />

no já apertado orçamento das pequenas<br />

e médias empresas (PMEs) brasileiras,<br />

também imagina que o valor para proespecial<br />

pme | produto<br />

Risco específico<br />

Em um esforço de despertar nos<br />

pequenos e médios empresários<br />

a necessidade de contratarem<br />

seguros adequados aos seus<br />

negócios, seguradoras<br />

apostam em<br />

segmentação,<br />

desenhando<br />

apólices sob<br />

medida para<br />

cada tipo de<br />

atividade<br />

Manuela Almeida<br />

34<br />

teger o seu negócio é muito elevado. E,<br />

novamente, a comparação com o seguro<br />

de automóvel é válida. Isso porque como<br />

uma apólice custa em média de R$ 1,5<br />

mil a R$ 3 mil, muitos pequenos e médios<br />

empresários acreditam que uma proteção<br />

para o seu negócio seja inviável do ponto<br />

de vista de custo. Por isso, a maioria, de<br />

acordo com o corretor de seguros Thiago<br />

Naccarato, para no seguro saúde para<br />

seus funcionários, esquecendo-se dos<br />

riscos ao patrimônio, incêndio, responsabilidade<br />

civil a terceiros e por aí afora.<br />

No entanto, o que os segurados não<br />

sabem é que o prêmio de um seguro<br />

empresarial voltado a um negócio de<br />

pequeno porte, em vários casos, pode<br />

ser bem inferior ao de uma apólice de<br />

automóvel. Ai está o principal desafio do<br />

mercado de seguros brasileiro no que tange<br />

às pequenas e médias empresas. Tanto<br />

seguradoras quanto corretores, conforme<br />

especialistas ouvidos por <strong>Apólice</strong>, têm<br />

nas mãos um trabalho de conscientiza-<br />

“O potencial do seguro<br />

PME passa por uma<br />

questão cultural e<br />

que, aos poucos, vem<br />

sendo trabalhada no<br />

Brasil, com os próprios<br />

empreendedores<br />

percebendo quais são<br />

riscos mais latentes<br />

e cruciais dos seus<br />

negócios”<br />

Thiago Naccarato, da Naccarato Seguros


Décadas de história<br />

Uma fábrica de produtos alimentícios (grãos, farinhas e rações), no mercado<br />

desde 1957, teve um incêndio, em novembro do ano passado, na área industrial,<br />

com mais de 2.000 m² e a área total construída de 4.412m². O prejuízo chegou a R$ 2<br />

milhões, considerando os danos causados no prédio e nos equipamentos. No mês<br />

seguinte ao evento, o segurado já recebeu a primeira indenização. Em abril deste<br />

ano, graças ao seguro, todo o prédio já havia sido restaurado e todos os equipamentos<br />

sinistrados repostos, o que possibilitou o retorno da operação da fábrica.<br />

❙❙<br />

Eduardo Dal Ri, da SulAmérica<br />

ção a ser feito que, muitas vezes, beira à<br />

insistência junto aos clientes como fez o<br />

corretor de seguros Antonino Alcântara<br />

de Oliveira junto à rede sergipana de lojas<br />

de tecidos (ver página 30). Até mesmo<br />

porque os eventos adversos ameaçam<br />

qualquer atividade comercial independente<br />

do porte do negócio. Diante da<br />

lacuna de desconhecimento dos pequenos<br />

e médios empresários, as seguradoras<br />

começaram a desenhar produtos mais<br />

de nicho, com características que vão ao<br />

encontro do dia a dia de cada ramo empresarial.<br />

Na mira, estão os mais variados<br />

ramos de atuação, tais como farmácias,<br />

clínicas veterinárias, salões de beleza,<br />

hotéis e pousadas, academias, bares<br />

e restaurantes, escritórios de trabalho<br />

compartilhado, os chamados co-working,<br />

dentre tantos outros.<br />

Na prática, segundo o vice-presidente<br />

da Federação Nacional de Seguros Gerais<br />

(FenSeg), e de Auto e Massificados da<br />

SulAmérica, Eduardo Dal Ri, o “seguro<br />

de property careta”, ganhou uma nova roupagem<br />

para que pudesse atrair a atenção<br />

dos pequenos e médios empresários. A<br />

seguradora, conforme o executivo, iniciou<br />

esse trabalho há três anos. Ao estudar o<br />

perfil do pequeno e médio empresário,<br />

percebeu que para sensibilizá-lo para a<br />

contratação do seguro teria de trabalhar<br />

com os principais medos e inseguranças<br />

dessas pessoas.<br />

Na Sompo Seguros, os pequenos<br />

negócios já respondem por mais de 90%<br />

35


produto<br />

36<br />

Risco do aluno<br />

A rede de academias Brasil Company,<br />

com unidades em São Paulo, no<br />

interior e que começa a se expandir<br />

para outros estados, tem seguro<br />

desde a sua primeira unidade. Apesar<br />

dos riscos específicos desta atividade<br />

como, por exemplo, o acidente de<br />

algum aluno em aparelhos, o acionamento<br />

ao seguro foi exatamente ao<br />

contrário. Isso porque o próprio aluno<br />

quebrou um vidro da academia, cujo<br />

prejuízo foi coberto pelo seguro. Um<br />

dos sócios da rede, Rodrigo de Andrade,<br />

cita ainda os serviços e assistências<br />

atrelados ao seguro e que ajudam<br />

a reduzir os gastos das academias<br />

como chaveiro, encanador e limpeza<br />

da caixa d’água.<br />

❙❙<br />

Fabiana Medina, da Sompo<br />

do número de apólices vigentes no ramo<br />

empresarial, considerando grupos com<br />

patrimônio líquido de até R$ 3 milhões.<br />

De acordo com a superintendente técnica<br />

da seguradora, Fabiana Medina, apesar<br />

de esses empresários não terem o hábito<br />

de recorrer ao seguro como uma forma<br />

de protegerem suas empresas, a demanda<br />

vem crescendo como reflexo da maior<br />

atenção do mercado a este público, mas<br />

pode melhorar mais. “Esse mercado<br />

será do tamanho que nós, seguradoras e<br />

corretores, consigamos transmitir para<br />

os clientes proprietários de PMEs, que o<br />

seguro é acessível, é muito importante e<br />

fala direto com o negócio dele. A chave<br />

de expansão desse segmento está aí”,<br />

acrescenta Dal Ri, da SulAmérica.<br />

Alguns segmentos demonstram,<br />

porém, mais apetite que outros. De<br />

acordo com o diretor de massificados<br />

da Liberty Seguros, Mario Cavalcante,<br />

o setor de pet shop, por exemplo, cuja<br />

crise no Brasil não fez tanto estrago em<br />

meio ao forte crescimento deste setor, tem<br />

crescido bastante com a maior procura<br />

de responsabilidade civil para danos nos<br />

animais. “Clínicas e pet shops começam<br />

a ter uma preocupação maior em relação<br />

à contratação de seguro, motivada pelo<br />

aumento das indenizações aos clientes”,<br />

explica o executivo.<br />

A seguradora, conforme ele, iniciou<br />

o trabalho de segmentação junto às PMEs<br />

com cinco ramos e hoje já possui 24<br />

nichos diferentes. Cresceu tanto que a<br />

Liberty já começou, segundo Cavalcante,<br />

a rever quais segmentos realmente emplacaram<br />

e os que não tiveram tanta demanda<br />

para calibrar de forma mais assertiva<br />

o seu público-alvo neste segmento.<br />

Novos riscos<br />

Além dos eventos adversos mais<br />

comuns como incêndio, raio, explosão,<br />

roubo e furto e ainda as ameaças diárias<br />

de cada negócio, o ambiente atual traz<br />

novos riscos para as pequenas e médias<br />

empresas. “Hoje, temos riscos que antigamente<br />

não tínhamos com o avanço<br />

do mundo digital e do uso dos celulares.<br />

Antigamente nem se pensava neles”,<br />

avalia Fabiana, da Sompo.<br />

Tudo junto e<br />

misturado<br />

Uma gráfica de pequeno porte,<br />

localizada em Londrina, no Paraná,<br />

perdeu toda a sua área de produção<br />

após um incêndio que teve início na<br />

madrugada. As avarias nos equipamentos<br />

industriais impossibilitaram a<br />

continuidade da produção das mercadorias<br />

e todas as atividades foram<br />

paralisadas. Em um mês, após o envio<br />

da documentação à seguradora, a<br />

gráfica, que concentra em um único<br />

estabelecimento a produção, administração<br />

e atendimento ao cliente,<br />

foi indenizada e pode retomar suas<br />

atividades.<br />

❙❙<br />

Mario Cavalcante, da Liberty<br />

É nesse contexto que crescem os temores<br />

em relação a ataques cibernéticos<br />

entre as pequenas e médias empresas.<br />

Com estrutura mais frágil do que os grandes<br />

grupos, esses players passaram a ser<br />

verdadeiros alvos dos hackers. Pesquisa<br />

da Federação das Indústrias do Estado<br />

de São Paulo (Fiesp) mostra que mais<br />

de 65% dos ataques registrados no ano<br />

passado, com foco somente financeiro,<br />

miraram exatamente as PMEs. Contribui,<br />

principalmente, a migração dos negócios<br />

para o meio digital, deixando os pequenos<br />

e médios negócios mais expostos.<br />

“Os ataques cibernéticos não ocasionam<br />

apenas perdas associadas a dados e<br />

informações digitais, pois os prejuízos<br />

indiretos podem envolver processos judiciais<br />

movidos por terceiros, interrupção<br />

do negócio, investimentos para solucionar<br />

o problema, danos à imagem e outros<br />

problemas”, alerta o diretor de PME da<br />

Chubb Brasil, Alessandro Gomes.<br />

Outra novidade em termos de riscos<br />

para os pequenos e médios grupos, conforme<br />

o especialista, são os processos<br />

movidos por consumidores que além de<br />

resultarem, muitas vezes, em condenações<br />

das empresas, podem representar<br />

apenas a “ponta do iceberg de um problema<br />

muito maior”. Com o advento das<br />

redes sociais, a ameaça fica por conta da<br />

propaganda negativa que pode ser feita<br />

contra a empresa por clientes insatisfeitos.<br />

De acordo com Gomes, esse risco<br />

não está totalmente claro para muitos<br />

prestadores de serviços. Neste caso, o<br />

seguro também pode minimizar o risco<br />

envolvido.


O seguro para pequenas e médias empresas engloba<br />

grupos de variados tamanhos e também nichos<br />

de atuação. Algumas apólices começam em R$ 700,00<br />

como é o caso de escritórios, clínicas veterinárias e<br />

academias. Cada segmento conta com coberturas sob<br />

medida para o seu dia a dia.<br />

Bares e restaurantes<br />

❱❱<br />

Reembolso a reparações por danos<br />

corporais ou materiais causados a terceiros<br />

de forma involuntária por conta<br />

da situação do imóvel;<br />

❱❱<br />

Fornecimento de comestíveis e bebidas<br />

aos clientes do estabelecimento.<br />

Academias<br />

❱❱<br />

Reparações de danos corporais ou<br />

materiais causados a terceiros;<br />

❱❱<br />

Fornecimento de comidas e bebidas<br />

aos clientes.<br />

Estabelecimentos de ensino<br />

❱❱<br />

Danos materiais ou corporais causados involuntariamente<br />

a terceiros por conta da situação de conservação do estabelecimento,<br />

atividades realizadas, eventos e excursões;<br />

❱❱<br />

Fornecimento de comestíveis e<br />

bebidas;<br />

❱❱<br />

Danos causados aos alunos, funcionários<br />

e professores, em decorrência<br />

de bullying;<br />

❱❱<br />

Cobertura para despesas de tratamentos<br />

psicológicos para o aluno,<br />

funcionário ou professor.<br />

Pousadas e hotéis<br />

❱❱<br />

Cobertura para roubo ou furto qualificado de bens de<br />

hóspedes registrados no estabelecimento;<br />

❱❱<br />

Garantia aos danos provocados aos bens e ao imóvel<br />

segurado decorrentes de roubo ou furto<br />

ou sua tentativa;<br />

❱❱<br />

Reembolso de despesas médicas por<br />

conta de infecção alimentar originada<br />

nas comidas e bebidas consumidas no<br />

local;<br />

❱❱<br />

Reparações por danos materiais ou<br />

corporais causados involuntariamente<br />

a terceiros por conta da conservação do imóvel e atividades<br />

realizadas;<br />

❱❱<br />

Danos provocados pela circulação de veículos de prestadores<br />

de serviço ou translado dos hóspedes em veículos<br />

próprios.<br />

Risco mapeado<br />

Pet Shop<br />

❱❱<br />

Danos acidentais causados a animais<br />

domésticos, especificamente<br />

cães e gatos;<br />

❱❱<br />

Serviços de transporte do animal<br />

pelo estabelecimento;<br />

❱❱<br />

Dano a jaulas e gaiolas;<br />

❱❱<br />

Hospedagem, banho e tosa;<br />

❱❱<br />

Fuga ou roubo do animal que tenha por consequência<br />

seu desaparecimento, acidente ou morte;<br />

❱❱<br />

Despesas funerárias.<br />

Salões de beleza<br />

❱❱<br />

Reparações de danos exclusivamente corporais e involuntários<br />

de acidentes causados pelo uso de navalha,<br />

tesoura, lâmina, máquina ou instrumento para corte<br />

de cabelo ou design de sobrancelhas;<br />

❱❱<br />

Utilização de alicate, espátula, lixa<br />

ou outro material similar para tratamento<br />

e cuidado das unhas;<br />

❱❱<br />

Queimadura na pele devida a alta<br />

temperatura do secador, chapinha ou<br />

prancha modeladora;<br />

❱❱<br />

Queimadura na pele pela alta temperatura<br />

da cera no momento da depilação;<br />

❱❱<br />

Danos por conta de tratamento químico de cabelo;<br />

❱❱<br />

Reembolso de despesas médicas e medicamentos pelo<br />

dano corporal ou lesões resultantes do serviço prestado.<br />

Padarias e confeitarias<br />

❱❱<br />

Reembolso às reparações dos danos<br />

corporais ou materiais involuntariamente<br />

causados a terceiros por<br />

vários motivos;<br />

❱❱<br />

Fornecimento de comestíveis e<br />

bebidas aos clientes do estabelecimento<br />

segurado;<br />

❱❱<br />

Existência e conservação de painéis de propaganda,<br />

letreiros, totens e anúncios.<br />

Farmácias<br />

❱❱<br />

Danos ao estabelecimento acometido<br />

por clientes como quebra de<br />

balcões;<br />

❱❱<br />

Reparações por danos corporais ou<br />

materiais, causados involuntariamente<br />

a terceiros, por profissionais registrados<br />

no conselho regional de farmácia por<br />

erros na leitura de receitas;<br />

❱❱<br />

Cobertura para reposição de vacinas no caso de falta<br />

de luz.<br />

Fonte: Dados de seguradoras e corretores compilados pela <strong>Apólice</strong><br />

37


comunicação e expressão<br />

por J. B. Oliveira*<br />

“Eu quero é rosetar...”<br />

No carnaval de 1947 – isso mesmo: há 71 anos! – a marchinha<br />

carnavalesca com esse inusitado título fez sucesso... e armou<br />

um banzé! De autoria de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira,<br />

contou com a interpretação inconfundível de Jorge Veiga, acompanhado<br />

pela banda “Soldados Musicais”, de Napoleão Tavares.<br />

Sua gravação, pela Continental, ocorreu em 12 de setembro de<br />

1946, tendo seu lançamento sido efetuado em dezembro daquele<br />

ano, pelo disco 1575-A, matriz 1601.<br />

Assim era seu começo: “Por um carinho seu minha cabrocha/<br />

Eu vou a pé a Irajá (bis)/ Que importa que a mula manque/<br />

eu quero é rosetar”.<br />

Rosetar significa, originariamente, “usar a roseta”, ou seja,<br />

utilizar a rodinha dentada da espora para fazer a montaria andar.<br />

Em sentido paralelo, secundário, entretanto, expressa a ideia de<br />

prática do ato sexual...<br />

Em razão disso, a censura vetou a música, e o disco foi recolhido<br />

das lojas. Ora, a sabedoria popular já disse que “o que é<br />

proibido é mais desejado”! Assim, apesar da proibição da venda<br />

da “bolacha” no mercado musical, o rádio se encarregou de<br />

tornar a marchinha uma das mais cantadas no carnaval de 1947<br />

no Brasil! O sucesso foi tanto, que rendeu até um filme: “Este<br />

mundo é um pandeiro”, da Atlântida (companhia cinematográfica<br />

fundada em 18 de setembro de 1941 por Moacir Fenelon e José<br />

Carlos Burle. Produziu 66 filmes até 1962, quando encerrou suas<br />

atividades. Em sua maioria, eram filmes de deboche, as famosas<br />

“pornochanchadas”, parodiando os sucessos da filmografia internacional,<br />

como: Nem Sansão Nem Dalila; Matar ou Correr e<br />

outros). Nesse pastelão, é Oscarito quem interpreta a música, com<br />

seu jeito cômico e matreiro.<br />

Na conservadora e moralista sociedade da primeira metade do<br />

século XX, a letra maliciosa da marchinha criou alvoroço e caos.<br />

O duplo sentido que ela apresentava ofendia a moral e os bons<br />

costumes então vigentes, e a tornava inaceitável. Principalmente<br />

no seio das famílias tradicionais, nas quais as moçoilas – donzelas<br />

pudicas – ruborizavam as faces diante de um mero gracejo.<br />

Imagine, então, frente a essa despudorada frase!<br />

Entre os muitos atritos que surgiram em decorrência da<br />

composição abusada, um deixou registro trágico na história. O<br />

Globo, de 9 de janeiro de 1947, noticiou: “Ontem, pela quarta vez<br />

desde que foi lançado, o samba “Eu quero é Rosetar”, provocou<br />

um crime. Na Leiteria Aviz, na rua Riachuelo 360, um grupo de<br />

rapazes insistiam em cantar a música imoral, e o gerente da casa,<br />

Othoniel de Carvalho, cansou de pedir para que eles parassem,<br />

em respeito às famílias presentes. Não atendido, ele pegou um<br />

furador de gelo e feriu mortalmente um dos jovens, Waldemar<br />

José Filho.”<br />

Por outro lado, distante do aspecto dramático do caso<br />

acima, não poderia deixar de haver o folclórico, tão comum em<br />

nossa tradição tupiniquim. Ele teria ocorrido em região interiorana<br />

de Minas Gerais, segundo alguns, ou – com mais possibilidade<br />

– do Nordeste, segundo outros. Pouca importância tem<br />

esse detalhe, uma vez que o homem do interior brasileiro, seja<br />

de que região for, tem as mesmas características fundamentais,<br />

com pequenas, quase imperceptíveis diferenças...<br />

Conta-se que, em certo pequeno município, havia um ativo<br />

caminhoneiro que, ao ouvir a música carnavalesca, dela gostou<br />

tanto que mandou escrever no para-choque de seu caminhão<br />

“Eu quero é rosetar”. Saía regularmente de sua cidadezinha<br />

no início da semana e só voltava no sábado. Por onde andava,<br />

levava a debochada frase à vista de todos.<br />

A tradicional família interiorana se indignou com essa<br />

falta de recato e de respeito. Seus representantes mais distintos<br />

foram ao pároco, que, de imediato, acatou o pleito e foi solicitar<br />

ao caminhoneiro que apagasse aquela expressão imoral. Ele se<br />

recusou, dizendo que apenas estava reproduzindo o que todos<br />

ouviam pelo rádio. A queixa da população chegou ao delegado<br />

e, por fim, ao juiz, mediante uma ação popular com pedido<br />

de liminar! Acatado o pleito, o magistrado mandou citá-lo e<br />

intimá-lo – sob as penas da lei – a retirar a frase. Entretanto,<br />

enquanto o oficial de justiça não conseguia proceder à citação,<br />

ele circulava livremente ostentando, como um troféu, a frase<br />

ofensiva...<br />

Quando, por fim, foi citado e intimado, com prazo reduzido<br />

para contestar a ação ou cumprir a determinação da justiça,<br />

informou que na viagem daquela semana, passaria por onde<br />

havia mandado fazer a inscrição e, voltaria com a situação<br />

resolvida, no sábado subsequente.<br />

No dia aprazado, na entrada da cidade, à sua espera estavam<br />

a autoridade policial, o padre, os fieis todos, a imprensa<br />

local (sim, havia um jornal, publicado sempre que isso se<br />

tornava possível e necessário) e a reportagem da emissora de<br />

rádio (daquelas ao estilo da rádio Camanducaia, de Odayr Batista:<br />

“Falando para a cidade e cochichando para o interior”).<br />

É então que desponta, em meio à poeira do estradão, o tão<br />

esperado veículo. O momento é decisivo: ou o caminhoneiro<br />

cumpriu a determinação da justiça ou será preso! Atentos ao<br />

para-choque, em que estava antes escrito “Eu quero é rosetar”,<br />

todos leem “ CONTINUO QUERENDO”!<br />

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* J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.<br />

É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras<br />

www.jboliveira.com.br – jboliveira@jbo.com.br


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