RBCIAMB_n47
Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!
Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.
Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />
Março de 2018 N o 47<br />
ISSN Eletrônico 2176-9478
Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />
ISSN Eletrônico 2176-9478<br />
Março de 2018 N o 47<br />
Expediente<br />
Editor Geral<br />
Maurício Dziedzic<br />
Editores Internacionais<br />
Günter Gunkel - Alemanha<br />
Jose Alfaro Joins - Estados Unidos<br />
Manuela Morais - Portugal<br />
Oscar Parra - Chile<br />
Editores Nacionais<br />
Adriana Marques Rossetto<br />
Liliana Pena Naval<br />
Marco Aurélio da Silva Carvalho Filho<br />
Mário Augusto Gonçalves Jardim<br />
Tadeu Fabrício Malheiros<br />
Conselho Editorial<br />
Arlindo Philippi Jr., Asher Kiperstock, Carlos Alberto Cioce<br />
Sampaio, Cleverson Vitorio Andreolli, Eliza Maria Xavier<br />
Freire, Fabiano Toni, Jorge Tenório, Leandro Gonçalves<br />
Oliveira, Luiz Carlos Beduschi Filho, Marco Antonio<br />
Almeida de Souza, Maria de Lourdes Florencio, Maria<br />
do Carmo Martins Sobral, Miguel Mansur Aisse, Valdir<br />
Fernandes, Wanderley da Silva Paganini<br />
Coordenação<br />
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e<br />
Ambiental - ABES<br />
Presidente Nacional da ABES<br />
Roberval Tavares de Souza<br />
Responsável<br />
Soraia F. F. Fernandes<br />
Produção Editorial<br />
Zeppelini Publishers<br />
www.zeppelini.com.br<br />
Submissão de artigos, dúvidas e sugestões: rbciamb@abes-dn.org.br<br />
Instruções para autores, clique aqui<br />
Esta é uma publicação em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e<br />
Desenvolvimento Sustentável - ICTR www.ictr.org.br
1 - AVALIAÇÃO DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA EM<br />
DOIS USOS DO SOLO NA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL<br />
Evaluation of hydraulic conductivity in two land uses<br />
soil in Central Brazil<br />
Miguel Angel Alfaro Soto - Chang Hung Kiang<br />
12 - ANT ASSEMBLAGES (HYMENOPTERA:<br />
FORMICIDAE) ASSOCIATED TO ENVIRONMENTS<br />
OF A RURAL PROPERTY IN THE EXTREME WESTERN<br />
REGION OF THE STATE OF SANTA CATARINA<br />
Assembleias de formigas (Hymenoptera: Formicidae)<br />
associadas a ambientes de uma propriedade rural do<br />
extremo oeste catarinense<br />
Junir Antonio Lutinski - Cladis Juliana Lutinski - Juliane<br />
Freitag Beling - Maria Assunta Busato - Vanessa Corralo<br />
24 - PLANEJAMENTO E OTIMIZAÇÃO DO<br />
TRATAMENTO POR OZONIZAÇÃO DA ÁGUA DE<br />
LAVAGEM DA BORRA OLEOSA DO REFINO DO<br />
PETRÓLEO<br />
Planning and optimizing the treatment of washing<br />
water of oily sludge from oil refining by ozonation<br />
Mateus Chaves Almeida de Oliveira - Jessica Moreira -<br />
Fabiano Luiz Naves<br />
35 - QUANTIFICAÇÃO DO ESTOQUE DE CARBONO<br />
DA COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H. E. MOORE<br />
EM ÁREAS DISTINTAS<br />
Quantification of carbon stock Copernicia prunifera (mill.)<br />
H. E. Moore in different areas<br />
Vera Lúcia dos Santos Costa - Jaíra Maria Alcobaça<br />
Gomes - Maria da Conceição Prado de Oliveira - Carla<br />
Ledi Korndörfer<br />
46 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O SETOR<br />
HIDROELÉTRICO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM<br />
BASE EM MODELOS DO IPCC-AR5<br />
Climate change and brazilian hydropower sector: an<br />
analysis based on global models from IPCC-AR5<br />
Cleiton da Silva Silveira - Francisco de Assis Souza Filho -<br />
Francisco das Chagas Vasconcelos Júnior - Luiz Martins<br />
de Araújo Júnior - Samuellson Lopes Cabral<br />
61 - AVALIAÇÃO DE IMPACTO À SAÚDE DO<br />
PROGRAMA DE CONTROLE DE POLUIÇÃO DO AR<br />
POR VEÍCULOS AUTOMOTORES NO MUNICÍPIO DE<br />
SÃO PAULO, BRASIL<br />
Health impact assessment of Automotive Vehicles Air<br />
Pollution Control Program in São Paulo, SP, Brazil<br />
Karina Camasmie Abe - Simone Georges El Khouri<br />
Miraglia<br />
74 - MODELOS ESTRUTURAIS DE BIOENGENHARIA<br />
DE SOLOS NA REVEGETAÇÃO DE PILHAS DE ESTÉRIL<br />
EM MINERAÇÃO A CÉU ABERTO<br />
Soil bioengineering structural models for the<br />
revegetation of waste dumps in opencast mining<br />
Maria Lucia Solera - Admilson Irio Ribeiro - Caroline<br />
Almeida Souza - Sofia Julia Alves Macedo Campos<br />
89 - INTERFERÊNCIAS DE ESPÉCIES ARBÓREAS NA<br />
INTERCEPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS<br />
Interferences of arboreal species in the interception of<br />
urban stormwater<br />
Patrícia Layne Alves - Klebber Teodomiro Martins<br />
Formiga - Marco Antônio Borges Traldi<br />
101 - ESTUDO COMPARATIVO DE ADSORÇÃO<br />
DE ÍONS METÁLICOS EM MEIO AQUOSO POR<br />
MEMBRANAS DE QUITOSANA RETICULADAS<br />
Comparative study of metal ions adsorption in aqueous<br />
media by cross-linked chitosan membranes<br />
Carol Christina de Faria - Paulo Sergio Tonello<br />
116 - VALORAÇÃO AMBIENTAL DE UM RIO URBANO:<br />
UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO DE VALORAÇÃO<br />
CONTINGENTE EM LAGES, SANTA CATARINA<br />
Environmental valuation of an urban river: an<br />
application of the contingent valuation method in<br />
Lages, Santa Catarina, Brazil<br />
Gabriel Nathan Nicola Mombach - Júlia Wahrlich - Ana<br />
Paula Coelho Clauberg - Lucas Silveira Beninca - Flávio<br />
José Simioni
DOI: 10.5327/Z2176-947820180169<br />
AVALIAÇÃO DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA<br />
EM DOIS USOS DO SOLO NA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL<br />
EVALUATION OF HYDRAULIC CONDUCTIVITY IN TWO LAND USES SOIL IN CENTRAL BRAZIL<br />
Miguel Angel Alfaro Soto<br />
Doutor em Geotecnia pela<br />
Escola de Engenharia de São<br />
Carlos, Universidade de São<br />
Paulo (USP). Pesquisador no<br />
Departamento de Geologia Aplicada<br />
e Centro de Estudos Ambientais,<br />
Universidade Estadual Paulista<br />
“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) –<br />
Rio Claro (SP), Brasil.<br />
Chang Hung Kiang<br />
Doutor em Geologia pela<br />
Universidade Northwestern.<br />
Professor no Departamento<br />
de Geologia Aplicada e Centro<br />
de Estudos Ambientais,<br />
UniversidadeEstadual Paulista<br />
“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) –<br />
Rio Claro (SP), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Miguel Angel Alfaro Soto –<br />
Avenida 24a, 1.515 – Bela Vista –<br />
CEP 13506-900 – Rio Claro (SP),<br />
Brasil – E-mail: alfaro@rc.unesp.br<br />
Recebido: 28/06/2016<br />
Aceito: 07/12/2017<br />
RESUMO<br />
Uma avaliação das condutividades hidráulicas em solos com tipos distintos<br />
de uso e ocupação — cultivo agrícola e cerrado nativo — foi realizada com<br />
a finalidade de verificar a interferência das intensas atividades agrícolas no<br />
processo de infiltração da água no solo e, consequentemente, recarga de<br />
aquíferos. Para determinação da condutividade hidráulica saturada em campo<br />
foram empregados permeâmetro Guelph e infiltrômetro de anel duplo.<br />
Os ensaios foram realizados em extensa área que abrange cinco estados na<br />
região central do Brasil, onde a atividade agrícola tem sido intensa. Avaliados<br />
mediante estatística paramétrica, os valores de condutividade hidráulica<br />
em áreas de cultivo mostraram-se estatisticamente diferentes e 4,5 vezes<br />
menores em relação aos obtidos em áreas de cerrado. Esses resultados<br />
indicam que as modificações da estrutura do solo, decorrentes das práticas<br />
de manejo para cultivo, afetam significativamente a condutividade hidráulica<br />
das porções superficiais e, portanto, a infiltração de água, responsável<br />
pela recarga dos aquíferos na região. Adicionalmente, verificou-se que os<br />
testes com infiltrômetros forneceram, em média, valores de condutividade<br />
estatisticamente diferentes e 2,2 vezes maiores do que os obtidos com<br />
permeâmetro Guelph.<br />
Palavras-chave: áreas de cultivo; cerrado; permeâmetro Guelph;<br />
infiltrômetros de anel duplo.<br />
ABSTRACT<br />
Evaluation of the hydraulic conductivity in soil of different use — agricultural<br />
cultivation and undisturbed native Savannah — was performed, in order to<br />
verify the influence of intense agricultural activities on water infiltration in<br />
soils and, consequently, aquifer recharges. For this purpose, the experimental<br />
design involved the determination of saturated hydraulic conductivity using<br />
the Guelph permeameter and double-ring infiltrometer. Tests were performed<br />
on large area covering five states in Central Brazil, where the agriculture has<br />
been intense. Evaluated by parametric statistics, the hydraulic conductivity<br />
values in farms cultivated areas proved to be statistically different and<br />
4.5 times lower compared to those ones obtained in savannah. These results<br />
showed that changes in soil structure resulting from management practices<br />
in crop areas significantly affect the hydraulic conductivity of the superficial<br />
portions and, therefore, the water infiltration, responsible for the aquifer<br />
recharge in that area. Additionally, it was found that the infiltrometer<br />
provided statistically different values of hydraulic conductivity and 2.2 times<br />
higher than those ones obtained with Guelph permeameter.<br />
Keywords: crop areas; savannah; Guelph permeameter; double-ring infiltrometers.<br />
1<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Soto, M.A.A.; Kiang, C.H.<br />
O conhecimento da variabilidade das variáveis físico-hídricas<br />
do solo, no espaço e no tempo, é considerado,<br />
atualmente, o princípio básico para o manejo preciso<br />
das áreas agrícolas (JOSÉ et al., 2012).<br />
Dentro dessas variáveis a condutividade hidráulica<br />
constitui o parâmetro mais importante que governa<br />
o movimento de água nos solos, e seu conhecimento<br />
é de grande importância em questões relacionadas<br />
à geotecnia, agronomia, hidrologia, contaminação e<br />
meio ambiente, entre outras áreas.<br />
A medição da condutividade hidráulica pode ser realizada<br />
por meio de ensaios de laboratório e de campo.<br />
Neste, segundo Daniel (1989), podem ser realizados<br />
ensaios com permeâmetros de ponta porosa e de furos<br />
de sondagem, com drenos subterrâneos e de infiltração.<br />
No entanto, a dispersão dos resultados — provenientes<br />
dos diferentes métodos —, bem como a praticidade<br />
para execução dos testes, têm de ser levadas<br />
em consideração na escolha do equipamento.<br />
Entre as técnicas disponíveis, os permeâmetros de furos<br />
de sondagem e ensaios de infiltração são os mais<br />
utilizados e difundidos (DANIEL, 1989).<br />
Kanwar et al. (1989) compararam os resultados provenientes<br />
dos permeâmetros Guelph e de velocidade<br />
provenientes de um solo de till em Iowa, Estados Unidos.<br />
No entanto, os diferentes métodos utilizados mostraram<br />
distintas tendências, conforme os tipos de solo<br />
e condições de campo.<br />
Gupta et al. (1993) avaliaram o desempenho de infiltrômetro<br />
de anel duplo, simulador de chuvas, permeâmetro<br />
Guelph e este acoplado a um infiltrômetro, em<br />
Ottawa, Canadá. Os resultados provenientes do infiltrômetro<br />
de anel duplo e simulador de chuvas mostraram<br />
maiores valores médios de condutividade hidráulica<br />
e menores coeficientes de variação.<br />
Verbist et al. (2013) compararam seis métodos (infiltrômetros<br />
simples e de duplo anel, infiltrômetro de carga<br />
constante, de trado inverso, infiltrômetro de tensão e<br />
simulador de chuvas) utilizados no semiárido no Chile.<br />
Alguns dos resultados mostraram diferenças com relação<br />
à condutividade hidráulica saturada (K fs<br />
), principalmente<br />
em função das diferentes técnicas de cálculo.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Esses estudos, entre outros encontrados na literatura<br />
(e.g., WANG et al., 2012; GHANI et al., 2013), foram<br />
realizados em solos com características próprias e<br />
diversas das localizadas no Brasil. Os solos brasileiros<br />
são, em grande parte, mais intemperizados, com sistemas<br />
heterogêneos de poros e distribuições de tamanho<br />
de poros multimodais, tal como mostrado por<br />
Alfaro Soto et al. (2015). A heterogeneidade de um<br />
sistema de poros pode ter origem na distribuição granulométrica<br />
específica ou na formação de porosidade<br />
secundária e, neste caso, está relacionada a processos<br />
de agregação física.<br />
Solos com essas características podem apresentar peculiaridades,<br />
como valores de condutividade hidráulica<br />
mais altos (NOGAMI; VILLIBOUR, 1995) do que os encontrados<br />
em solos não intemperizados, em razão da<br />
elevada macroporosidade. Tal característica pode ser<br />
importante na hora de escolher o método de medição<br />
da condutividade hidráulica, visto que, segundo Lee<br />
(1983), a sua determinação possui um dos mais elevados<br />
coeficientes de variação (c.a. 200%) em relação aos<br />
demais testes geotécnicos.<br />
Além da variabilidade dos resultados decorrentes dos<br />
métodos de medição, é importante levar em consideração<br />
a provocada pela modificação antrópica do solo.<br />
Em estudo baseado no efeito decorrente de diferentes<br />
métodos de cultivo em um latossolo amarelo argiloso,<br />
Correia (1985) revelou que os sistemas de preparo<br />
do local estudado alteraram a densidade do solo em<br />
diferentes intensidades, porém com valores significativamente<br />
superiores em relação à floresta nativa.<br />
Resultados semelhantes foram verificados por Pires<br />
et al. (2012).<br />
Entre os métodos expostos, o uso do permeâmetro<br />
Guelph tem se difundido em razão da praticidade (portabilidade<br />
e rapidez), substituindo testes comumente<br />
utilizados, tais como os de infiltração. No entanto, apesar<br />
de existirem pesquisas sobre resultados de comparação<br />
entre esses e outros experimentos, não são<br />
conhecidos resultados em solos com distribuição de<br />
tamanhos de poros multimodal — característica intrínseca<br />
de solos lateríticos — nem a relação entre solos<br />
inalterados e os modificados estruturalmente em razão<br />
das atividades decorrentes do cultivo.<br />
2<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Avaliação da condutividade hidráulica em dois usos do solo na região central do Brasil<br />
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar<br />
a influência de uso do solo, do ponto de vista hidráulico,<br />
quando utilizado no cultivo agrícola, com grande modificação<br />
antrópica do solo, sendo comparado com solos<br />
de cerrado com textura similar, porém sem modificação<br />
antrópica, ou seja, em estado de preservação natural.<br />
Para determinação da condutividade hidráulica foram<br />
utilizados dois métodos: permeâmetro Guelph e infiltrômetro<br />
de anel duplo. Esses testes foram conduzidos<br />
em diferentes estados, como Bahia, Tocantins, Minas<br />
Gerais, Piauí e Goiás, sobre rochas do Grupo Urucuia,<br />
arcabouço geológico do Sistema Aquífero Urucuia.<br />
Ao todo foram realizados 80 testes para obtenção da condutividade<br />
hidráulica saturada, sendo que 38 — 19 com<br />
permeâmetro Guelph e 19 com infiltrômetros — em<br />
áreas agrícolas e 42 — 21 com permeâmetro Guelph e 21<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
com infiltrômetros — em áreas de cerrado (não cultivadas).<br />
Cabe ressaltar que a identificação textural foi realizada<br />
por análise táctil visual. A Figura 1 mostra a localização<br />
dos testes realizados.<br />
Sub-bacia Urucaia<br />
Sub-bacia Abaeté<br />
Limite estadual<br />
Hidrografia<br />
Guelph<br />
Infiltrômetro<br />
0 30 60 120 km<br />
Datum SAD-69<br />
C: cerrados; A: áreas agrícolas; G: permeâmetro Guelph; I: infiltrômetros.<br />
Figura 1 – Localização dos testes em cerrados e áreas agrícolas com permeâmetro Guelph e infiltrômetros.<br />
3<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Soto, M.A.A.; Kiang, C.H.<br />
Permeâmetro Guelph<br />
O permeâmetro Guelph funciona em regime de carga<br />
constante, sob o princípio do tubo de Mariotte. Os resultados<br />
obtidos por esse método são interpretados<br />
segundo o modelo teórico de Reynolds e Elrick (1985),<br />
baseado na equação de Richards para fluxo permanente<br />
em furo cilíndrico.<br />
A equação para fluxo permanente é composta por duas<br />
parcelas, a primeira representa o fluxo saturado e a segunda<br />
o fluxo não saturado, dados pela Equação 1:<br />
2<br />
2πH<br />
2 2πH<br />
Q = + πa<br />
Kfs<br />
+ φ (1)<br />
Gm<br />
C<br />
C<br />
Em que:<br />
Q [L 3 T -1 ] = vazão em regime permanente;<br />
K fs<br />
[LT -1 ] = condutividade hidráulica saturada de campo;<br />
ϕ Gm<br />
[L 2 T -1 ] = potencial matricial de fluxo;<br />
H [L] = altura de carga hidráulica;<br />
a [L] = raio do furo no solo;<br />
C [-] = parâmetro fator de forma, que depende da<br />
relação H/a e do tipo de solo.<br />
Graficamente, a Soilmoisture Equipment Corp. (1986)<br />
fornece o fator C para três classes de solos (macroporosidade<br />
e textura).<br />
A determinação dos parâmetros K fs<br />
e f Gm<br />
da Equação 1<br />
pode ser obtida, em geral, pelas técnicas (procedimentos<br />
de ensaio e cálculos) de uma e duas alturas de carga<br />
(REYNOLDS; ELRICK, 1985).<br />
A primeira refere-se à aplicação de uma altura de carga<br />
hidráulica H constante até alcançar o regime permanente.<br />
Os parâmetros K fs<br />
e f Gm<br />
são determinados a partir<br />
das Equações 2 e 3:<br />
CQ<br />
K =<br />
(2)<br />
fs<br />
2πH 2 + πa 2 C+<br />
2 πH/<br />
α<br />
CQ<br />
=<br />
[(2 πH + πa C) α+<br />
2 πH]<br />
φ Gm 2 2<br />
(3)<br />
O parâmetro a (Equações 2 e 3) representa o grau<br />
de macroporosidade (fissuras no solo, formigueiros,<br />
cupinzeiros, furos causados por raízes, entre outros)<br />
e textura do solo. Para esse método, o parâmetro a é<br />
estimado a priori mediante avaliação visual. Os valores<br />
sugeridos estão resumidos no Quadro 1.<br />
A técnica de duas alturas de cargas (ou mais de duas)<br />
consiste em aplicar duas ou mais cargas hidráulicas H i<br />
sucessivas. Depois de atingido o regime permanente e<br />
determinadas as vazões Q i<br />
e os parâmetros C i<br />
correspondentes<br />
a cada carga hidráulica, os parâmetros K fs<br />
e f Gm<br />
são calculados a partir da solução de equações<br />
simultâneas (REYNOLDS; ELRICK, 1986), cuja solução é<br />
dada pelas Equações 4 e 5:<br />
K<br />
ϕ<br />
fs<br />
Gm<br />
=<br />
=<br />
n<br />
n<br />
H CQ Ca 2<br />
n<br />
n<br />
.<br />
+ H − HCQ H Ca 2<br />
i i<br />
i<br />
+ Hi<br />
2 2<br />
2<br />
i i 2<br />
∑ i ∑ i i<br />
i ∑ i i i∑<br />
i= 1 i= 1<br />
i= 1 i=<br />
1<br />
n n<br />
2<br />
n<br />
2π<br />
2<br />
∑Hi<br />
∑<br />
2<br />
n<br />
Ca<br />
+ H − ∑H Ca 2<br />
i i 2<br />
2 i i<br />
i<br />
i<br />
+ Hi<br />
2 2<br />
i= 1 i= 1<br />
i=<br />
1<br />
∑CQ Ca H ∑H Ca i i 2<br />
i i 2<br />
i i<br />
i i<br />
Hi ∑HCQ<br />
i i i∑<br />
2π<br />
.<br />
2<br />
2<br />
n<br />
2<br />
n<br />
n 2<br />
.<br />
Ca<br />
i i 2<br />
+ + − + Hi<br />
2 2<br />
i= 1<br />
i= 1<br />
i= 1 i=<br />
1<br />
2<br />
n<br />
∑<br />
H Ca 2<br />
n n 2<br />
i i 2<br />
2 Ca<br />
i i 2<br />
i<br />
+ Hi<br />
− ∑Hi∑<br />
+ Hi<br />
2 2<br />
i= 1<br />
i= 1 i=<br />
1<br />
2<br />
2<br />
2<br />
(4)<br />
(5)<br />
Quadro 1 – Valores a sugeridos por Reynolds e Elrick (1986).<br />
α (cm -1 )<br />
Tipo de solo<br />
0,01 Argilas compactas (aterros, liners, sedimentos lacustres e marinhos).<br />
0,04 Solos de textura fina, principalmente sem macroporos e fissuras.<br />
0,12 Argilas até areias finas com alta a moderada quantidade de macroporos e fissuras.<br />
0,36 Areia grossa, incluindo solos com macroporos e fissuras.<br />
4<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Avaliação da condutividade hidráulica em dois usos do solo na região central do Brasil<br />
Nesse caso, o parâmetro a é determinado por meio do<br />
ensaio, mediante a relação (Equação 6):<br />
Infiltrômetros de anel duplo<br />
O método do infiltrômetro de anel duplo é um dos mais<br />
tradicionais, sendo empregado em diferentes áreas de<br />
conhecimento, devido, provavelmente, aos procedimentos<br />
simples de ensaios, à fácil interpretação dos resultados<br />
e à maior representatividade (volume de solo<br />
ensaiado) em relação a testes em furo de sondagem.<br />
Durante o processo de infiltração, a condutividade hidráulica<br />
saturada pode ser obtida tanto na carga constante<br />
como na carga variável. A Figura 2 mostra os parâmetros<br />
de medição para obtenção da condutividade hidráulica<br />
saturada, que pode ser calculada de duas maneiras:<br />
Para carga constante (Equação 7):<br />
K fs<br />
= Q/(At.(H + Z W<br />
)/Z W<br />
) (7)<br />
E para carga variável (Equação 8):<br />
K fs<br />
= (Z W<br />
.ln(H 2<br />
/H 1<br />
)/t) (8)<br />
Em que:<br />
K fs<br />
[LT -1 ] = condutividade hidráulica saturada de campo;<br />
Zw [L] = profundidade da frente de saturação;<br />
A [L 2 ] = área transversal do anel;<br />
α = K fs<br />
/ ϕ Gm<br />
(6)<br />
t [T] = tempo entre duas leituras;<br />
Q [L 3 ] = volume de água infiltrada dentro do solo;<br />
H [L] = profundidade da água do anel quando é ensaiado<br />
a regime constante;<br />
H 1<br />
e H 2<br />
[L] = profundidades inicial da água no anel e no<br />
tempo zero e “t”, respectivamente.<br />
Os experimentos feitos utilizando o método do permeâmetro<br />
Guelph foram conduzidos pela técnica de uma<br />
altura de carga segundo procedimentos de testes e cálculos<br />
sugeridos por Reynolds e Elrick (1986), enquanto<br />
para o método do infiltrômetro foram usados os procedimentos<br />
contidos na norma ASTM D3385 (2008).<br />
Tendo em vista a análise comparativa dos resultados<br />
entre os dois métodos, e considerando que o do infiltrômetro<br />
permite apenas ensaios em superfície, aqueles<br />
com o permeâmetro Guelph foram também realizados<br />
superficialmente (profundidade média de 30 cm),<br />
porém evitando solos com elevada macroporosidade<br />
(e.g., presença de furos de raízes e de insetos), de forma<br />
a não fornecerem resultados incoerentes ou não<br />
representativos do local devido ao pequeno volume de<br />
água que este método proporciona.<br />
A Tabela 1 reúne os resultados dos testes nas áreas de<br />
cultivo agrícola e cerrado, obtidos a partir de análises<br />
com o permeâmetro Guelph. Nessa tabela, são apresentados<br />
a condutividade hidráulica saturada (Kfs), o potencial<br />
matricial de fluxo (f Gm<br />
) e o parâmetro a,bem como a<br />
média geométrica de cada um desses parâmetros.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A Tabela 2 agrupa os resultados dos testes nessas mesmas<br />
áreas, alcançados por meio de testes com infiltrômetro<br />
de anel duplo. Nessa tabela são apresentadas<br />
a condutividade hidráulica saturada (Kfs) e sua média<br />
geométrica.<br />
H<br />
Z W<br />
H + Z W<br />
Z<br />
H S<br />
Figura 2 – Parâmetros para determinar a condutividade hidráulica saturada em infiltrômetros de anel duplo.<br />
5<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Soto, M.A.A.; Kiang, C.H.<br />
Tabela 1 – Resultados de ensaios com o permeâmetro Guelph realizados em áreas de cultivo agrícola e cerrado.<br />
Ensaio Coordenadas K fs<br />
ϕ m<br />
α<br />
# S W cm/s cm 2 /s cm -1<br />
C1 13º 38’ 11,1” 45º 24’ 23,3” 1,0E-02 4,1E-02 0,250<br />
C2 13º 43’01,4” 45º 54’ 40,5” 1,6E-02 6,5E-02 0,250<br />
C3 13º 15’ 02,9” 45º 31’ 36,4” 4,7E-03 1,9E-02 0,250<br />
C4 12º 28’ 10,7” 45º 09’ 33,9” 7,1E-03 2,8E-02 0,250<br />
C5 12º 10’ 57,8” 45º 0,1’ 29,5” 2,2E-04 8,7E-04 0,250<br />
C6 12º 32’ 01,1” 44º 28’ 32,9” 4,8E-03 1,9E-02 0,250<br />
C7 12° 52’ 04,4” 44º 29’ 47,4” 6,2E-03 2,5E-02 0,250<br />
C8 11º 34’ 16,3” 45º 37’ 43,0” 6,2E-03 2,5E-02 0,250<br />
C9 11º 59’ 01,6” 45º 57’ 49,3” 1,4E-02 5,5E-02 0,250<br />
C10 9º 54’ 25,0” 45º 20’ 22,1” 7,2E-03 2,9E-02 0,250<br />
C11 10º 49’ 08,2” 45º 18’ 44,2” 3,9E-03 1,6E-02 0,250<br />
C12 11º 26’ 11,6” 46º 51’ 12,3” 2,1E-02 8,4E-02 0,250<br />
C13 10º 10’ 49,1” 46º 39’ 59,9” 6,1E-03 2,4E-02 0,250<br />
C14 10º 47’ 06,5” 46º 12’ 07,4” 2,1E-02 8,4E-02 0,250<br />
C15 14º 34’ 36,8” 45º 54’ 05,5” 1,5E-02 6,0E-02 0,250<br />
C16 15º 14’ 45,5” 45º 30’ 42,2” 4,0E-03 1,6E-02 0,250<br />
C17 15º 29’ 26,9” 45º 10’ 23,1” 4,8E-03 1,9E-02 0,250<br />
C18 15º 32’ 59,7” 44º 35’ 40,3” 8,7E-03 3,5E-02 0,250<br />
C19 15º 55’ 49,0” 44º 17’ 32,8” 1,8E-03 9,5E-03 0,190<br />
C20 16º 32’ 25,0” 44º 21’ 45,8” 2,7E-02 8,9E-02 0,300<br />
C21 18º 10’ 35,1” 45º 47’ 12,6” 2,1E-02 8,4E-02 0,250<br />
Média 7,0E-03 2,8E-02 0,250<br />
A1 13º 37’ 41,9” 45º 24’ 32,5” 1,9E-03 9,4E-03 0,200<br />
A2 13º 43’ 03,9” 45º 55’ 53,2” 1,8E-03 1,5E-02 0,120<br />
A3 13º 14’ 46,5” 45º 31’ 00,9” 1,4E-03 1,1E-02 0,120<br />
A4 13º 21’ 31,0” 46º 02’ 55,1” 1,8E-03 1,7E-02 0,100<br />
A5 12º 48’ 56,9” 46º 06’ 22,2” 2,1E-03 1,8E-02 0,120<br />
A6 12º 39’ 33,6” 45º 35’ 13,2” 1,5E-03 9,0E-03 0,170<br />
A7 12º 31’ 04,3” 44º 26’ 19,1” 9,9E-05 2,4E-02 0,004<br />
A8 12º 42’ 32,6” 44º 33’ 57,4” 1,3E-03 1,1E-02 0,120<br />
A9 12º 04’ 50,9” 45º 29’ 07,5” 1,4E-03 1,2E-02 0,120<br />
A10 11º 31’ 49,7” 45º 37’ 34,9” 1,7E-03 5,1E-03 0,320<br />
A11 11º 57’ 53,5” 45º 58’ 24,8” 1,1E-03 2,7E-02 0,040<br />
A12 12º 06’ 50,2” 46º 01’ 23,1” 1,1E-03 4,1E-02 0,030<br />
A13 10º 33’ 42,9” 45º 39’ 19,7” 9,5E-04 7,9E-03 0,120<br />
A14 11º 26’ 08,6” 46º 51’ 19,0” 1,7E-03 1,4E-02 0,120<br />
A15 10º 52’ 40,4” 46º 14’ 29,1” 1,8E-03 1,5E-02 0,120<br />
A16 14º 34’ 05,4” 45º 53’ 36,2” 2,5E-03 2,1E-02 0,120<br />
A17 15º 13’ 46,7” 45º 30’ 48,8” 6,3E-03 1,2E-02 0,520<br />
A18 17º 27’ 55,8” 45º 11’ 36,5” 3,0E-03 2,5E-02 0,120<br />
A19 17º 45’ 57,0” 45º 25’ 03,7” 4,9E-03 4,1E-02 0,120<br />
Média 1,6E-03 1,5E-02 0,100<br />
C: cerrado; A: agrícola.<br />
6<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Avaliação da condutividade hidráulica em dois usos do solo na região central do Brasil<br />
Tabela 2 – Resultados de ensaios com infiltrômetros realizados em áreas de cultivo agrícola e cerrado.<br />
Ensaio Coordenadas K fs<br />
# S W (cm/s)<br />
C1 13º 38’ 11,1” 45º 24’ 23,3” 2,7E-02<br />
C2 13º 43’ 01,4” 45º 54’ 40,5” 5,6E-02<br />
C3 13º 15’ 02,9” 45º 31’ 36,4” 1,3E-02<br />
C4 12º 28’ 10,7” 45º 09’ 33,9” 1,2E-02<br />
C5 12º 10’ 57,8” 45º 01’ 29,5” 2,1E-03<br />
C6 12º 32’ 01,1” 44º 28’ 32,9” 2,0E-02<br />
C7 12° 52’ 04,4” 44º 29’ 47,4” 1,4E-02<br />
C8 11º 34’ 16,3” 45º 37’ 43,0” 3,9E-02<br />
C9 11º 59’ 01,6” 45º 57’ 49,3” 2,4E-02<br />
C10 9º 54’ 25,0” 45º 20’ 22,1” 1,3E-02<br />
C11 10º 49’ 08,2” 45º 18’ 44,2” 6,3E-03<br />
C12 11º 26’ 11,6” 46º 51’ 12,3” 1,8E-02<br />
C13 10º 10’ 49,1” 46º 39’ 59,9” 8,2E-03<br />
C14 10º 47’ 06,5” 46º 12’ 07,4” 2,6E-02<br />
C15 14º 34’ 36,8” 45º 54’ 05,5” 3,5E-02<br />
C16 15º 14’ 45,5” 45º 30’ 42,2” 2,8E-02<br />
C17 15º 29’ 26,9” 45º 10’ 23,1” 1,7E-02<br />
C18 15° 32’ 59,7” 44º 35’ 40,3” 8,8E-03<br />
C19 15º 55’ 49,0” 44º 17’ 32,8” 7,1E-03<br />
C20 16º 32’ 25,0” 44º 21’ 45,8” 2,3E-02<br />
C21 18º 10’ 35,1” 45º 47’ 12,6” 1,5E-02<br />
Média<br />
1,6E-02<br />
A1 13º 37” 41,9” 45º 24’ 32,5” 9,5E-04<br />
A2 13º 43’ 03,9” 45º 55’ 53,2” 6,8E-03<br />
A3 13º 14’ 46,5” 45º 31’ 00,9” 3,8E-03<br />
A4 13º 21’ 31,0” 46º 02’ 55,1” 5,0E-03<br />
A5 12º 48’ 56,9” 46º 06’ 22,2” 3,1E-03<br />
A6 12º 39’ 33,6” 45º 35’ 13,2” 9,1E-04<br />
A7 12º 31’ 04,3” 44º 26’ 19,1” 1,6E-03<br />
A8 12º 42’ 32,6” 44º 33’ 57,4” 1,7E-03<br />
A9 12º 04’ 50,9” 45º 29’ 07,5” 2,8E-03<br />
A10 11º 31’ 49,7” 45º 37’ 34,9” 2,2E-03<br />
A11 11º 57’ 53,5” 45º 58’ 24,8” 3,1E-03<br />
A12 12º 06’ 50,2” 46º 01’ 23,1” 3,7E-03<br />
A13 10º 33’ 42,9” 45º 39’ 19,7” 2,4E-03<br />
A14 11º 26’ 08,6” 46º 51’ 19,0” 6,8E-03<br />
A15 10º 52’ 40,4” 46º 14’ 29,1” 3,3E-04<br />
A16 14º 34’ 05,4” 45º 53’ 36,2” 8,1E-03<br />
A17 15º 13’ 46,7” 45º 30’ 48,8” 2,2E-02<br />
A18 17º 27’ 55,8” 45º 11’ 36,5” 3,3E-02<br />
A19 17º 45’ 57,0” 45º 25’ 03,7” 8,6E-03<br />
Média - 3,4E-03<br />
C: cerrado; A: agrícola.<br />
7<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Soto, M.A.A.; Kiang, C.H.<br />
Esses resultados evidenciam diferenças tanto na comparação<br />
de valores médios entre métodos de ensaios<br />
(permeâmetro Guelph e infiltrômetros) como entre tipos<br />
de solo segundo seu uso e ocupação (solos de cultivo<br />
agrícola e cerrado). Para uma comparação quantitativa<br />
utilizando esses conjuntos de dados, foram<br />
realizados testes estatísticos de hipótese nula (Ho).<br />
A hipótese Ho considera que as médias das duas populações<br />
são iguais, enquanto a hipótese alternativa<br />
H1 considera-as diferentes. As populações analisadas<br />
nessas comparações foram:<br />
• Os resultados dos dois métodos de campo (permeâmetro<br />
Guelph e infiltrômetros);<br />
• Os resultados quanto aos tipos de uso do solo (cultivo<br />
agrícola e cerrado).<br />
As análises estatísticas para verificação da Ho foram<br />
os testes t (t 1<br />
ou t 2<br />
, dependendo da igualdade ou diferença<br />
dos desvios padrões segundo teste F) e o teste<br />
F, necessário para verificar a igualdade dos desvios<br />
padrões da variância. Esses testes são os mais recomendados<br />
devido ao número reduzido de amostras e<br />
porque apenas os desvios padrões amostrais são conhecidos.<br />
A estatística paramétrica foi possível pelo<br />
emprego do logaritmo natural dos dados amostrais<br />
de cada população, uma vez que esses elementos<br />
apresentam distribuição log-normal (típica de populações<br />
compostas por dados de condutividade hidráulica<br />
saturada).<br />
A Tabela 3 resume os resultados desses testes de<br />
hipóteses, os quais são interpretados a partir de P,<br />
que representa a probabilidade de errar ou aceitar<br />
o resultado observado como válido. Assim, ao testar<br />
uma hipótese nula para um determinado nível<br />
de significância estipulado para o estudo (a=5%), a<br />
hipótese será aceita se a estiver contido nesse intervalo<br />
de probabilidade (ou seja, P>a ), caso contrário,<br />
Ho será rejeitada.<br />
Os valores P obtidos pelo teste t Student são menores<br />
do que o nível de significância de 5% em todos os casos.<br />
A hipótese nula que afirma igualdade de médias<br />
(entre métodos ou tipos de uso de solo) é, portanto, rejeitada,<br />
passando a validar a hipótese alternativa (H1).<br />
Consequentemente, os métodos Guelph e infiltrômetro<br />
produzem resultados de condutividade hidráulica<br />
estatisticamente diferentes. Essa afirmação é válida<br />
para todos os dados (P=0,04), apenas para os dos ensaios<br />
em cultivo agrícola (P=0,02) e para aqueles provenientes<br />
de cerrado (P=0,06).<br />
Um confronto entre os dados experimentais obtidos<br />
por ambos os métodos pode ser observado na<br />
Figura 3, na qual os resultados obtidos pelo permeâmetro<br />
Guelph são menores do que os do infiltrômetro.<br />
A partir desses resultados verifica-se que<br />
a relação entre condutividades hidráulicas médias<br />
K fs<br />
(Infiltrômetro)/K fs<br />
(Guelph) é igual a 2,2.<br />
Dados<br />
Tabela 3 – Resultados dos testes de hipóteses para comparação de valores médios de K fs<br />
provenientes de diferentes métodos (Guelph e infiltrômetros) e tipos de uso do solo (cultivo agrícola e cerrado).<br />
Entre métodos<br />
K fs<br />
médio<br />
Comparações<br />
Entre tipos de uso do solo<br />
K fs<br />
médio<br />
Valores P<br />
Testes<br />
Guelph Infiltrômetro Agrícola Cerrado F* T**<br />
Todos 3,5E-03 7,6E-03 - - 0,947 0,004<br />
Agrícola 1,6E-03 3,4E-03 - - 0,146 0,020<br />
Cerrado 7,0E-03 1,6E-02 - - 0,395 0,006<br />
Guelph - - 1,6E-03 7,0E-03 0,297 0,000<br />
Infiltrômetro - - 3,4E-03 1,6E-02 0,184 0,000<br />
t: t 1<br />
, se α(F)≥0;05; caso contrário, t 2<br />
; *Ho aceita para α=5%; **H1 aceita para α=5%.<br />
8<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Avaliação da condutividade hidráulica em dois usos do solo na região central do Brasil<br />
Este valor deve estar relacionado ao menor volume<br />
de amostra ocupada durante a infiltração, uma<br />
vez considerados os efeitos capilares em sua formulação<br />
e pelo fato de serem evitadas zonas de<br />
macroporos se comparado com o infiltrômetro.<br />
Trabalhos como os de Mohanty et al. (1994) e Gintanau<br />
(2011) têm mostrado que, entre os métodos<br />
de campo, os infiltrômetros apresentam sempre os<br />
valores mais altos de condutividade hidráulica, em<br />
razão do maior volume de solo ocupado durante<br />
o ensaio.<br />
De forma análoga, a Tabela 3 mostra que a comparação<br />
dos resultados de condutividade hidráulica obtidos<br />
para cada solo (cerrado e cultivo agrícola), pelo método<br />
do permeâmetro Guelph (valor P=0 para o teste t)<br />
ou de infiltrômetros (valor P=0 para o teste t), produz<br />
resultados estatisticamente diferentes.<br />
A Figura 4 apresenta os valores de K fs,<br />
estatisticamente,<br />
e os valores médios e dispersão dos resultados provenientes<br />
de ambos os métodos, em forma de box-plot,<br />
para solos de cerrado e cultivo agrícola. Esses resultados<br />
exibem relações entre condutividades hidráulicas<br />
médias K fs<br />
(cerrado)/K fs<br />
(agrícola) iguais a 4,4 e 4,6, fruto<br />
dos testes com permeâmetro Guelph e infiltrômetros,<br />
respectivamente.<br />
Como pode ser observado na Figura 4, é evidente a<br />
superioridade dos valores de Kfs obtidos para as áreas<br />
de cerrado em relação às de cultivo agrícola, o que é<br />
coerente com o fato de serem áreas de preservação —<br />
e, portanto, inalteradas pela ação antrópica — e por<br />
apresentarem maior macroporosidade em razão da<br />
interferência biológica (raízes e atividade de insetos —<br />
formigas, cupins etc.). Ao contrário do cerrado, os solos<br />
das áreas de cultivo agrícola apresentam intensa alteração<br />
antrópica, com Kfs menores — sejam medidas<br />
pelo método Guelph ou por infiltrômetros — em razão<br />
da maior densidade ocasionada pelas práticas de manejo<br />
e cultivo.<br />
Os resultados da Figura 4 são similares aos encontrados<br />
por Silva et al. (2014), utilizando infiltrômetros de<br />
anel duplo em solos de textura média na cidade de Rio<br />
Verde, Goiás, onde foi observada a redução de K fs<br />
de<br />
solos em área de cultivo em torno de quatro vezes em<br />
relação a solos de cerrados.<br />
Testes semelhantes foram realizados por Viana e<br />
Donagemma (2016), porém utilizando o permeâmetro<br />
Guelph em solos arenosos na Chapada Gaúcha,<br />
Minas Gerais, e em Campo Verde, Mato Grosso.<br />
Nesse estudo se observou redução de K fs<br />
de<br />
solos em área de cultivo entre quatro a oito vezes<br />
em relação a solos de cerrados. No entanto, testes<br />
em solos de textura argilosa, como os realizados<br />
por Batista e Sousa (2015) na cidade de Iporá,<br />
Goiás, mostraram diferenças de resultados do ponto<br />
de vista estatístico.<br />
0,06<br />
Kfs (cm/s) – Método do infiltrômetro<br />
1,0E+00<br />
1,0E-01<br />
1,0E-02<br />
1,0E-03<br />
1,0E-04<br />
1,0E-05<br />
1,0E-05<br />
1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01<br />
Kfs (cm/s) – Método Guelph<br />
Figura 3 – Confronto de resultados<br />
de K fs<br />
entre métodos de medição.<br />
Dados experimentais<br />
Linha 1:1<br />
1,0E+00<br />
Condutividade hidráulica (cm/s)<br />
0,05<br />
0,04<br />
0,03<br />
0,02<br />
0,01<br />
0,00<br />
C-Guelph A-Guelph C-Infiltrom. A-Infiltrom.<br />
Figura 4 – Confronto de resultados de K fs<br />
(box-plot)<br />
provenientes de solos com diferentes tipos de uso<br />
(cerrado e cultivo agrícola).<br />
9<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Soto, M.A.A.; Kiang, C.H.<br />
A avaliação da influência do uso do solo em extensa área<br />
do território brasileiro, do ponto de vista hidráulico, utilizando<br />
os métodos do permeâmetro Guelph e do infiltrômetro<br />
de anel duplo, apresentou resultados que devem<br />
ser considerados na análise da recarga do aquífero.<br />
Observou-se que a condutividade hidráulica em solos<br />
inalterados (cerrado) apresentou valores em média<br />
4,5 vezes maiores do que em solos com intensa atividade<br />
antrópica (cultivo agrícola). A análise estatística<br />
comparativa determinou que as condutividades hidráulicas<br />
médias desses solos (independentemente do<br />
método de medição utilizado) são estatisticamente diferentes<br />
para o nível de significância de 5%. Do ponto<br />
de vista geotécnico, esses solos com distinto uso apresentam<br />
semelhante característica textural, porém diferem<br />
em densidade e macroporosidade decorrentes das<br />
práticas de manejo para cultivo. Esses resultados sugerem<br />
a intensa utilização agrícola de solos, que interfere<br />
CONCLUSÕES<br />
de maneira significativa no processo de infiltração de<br />
águas, prejudicando a recarga de aquíferos. Tal constatação<br />
é preocupante, haja vista tratar-se de importante<br />
fronteira agrícola em expansão no país, implantada em<br />
área de exposição do Aquífero Urucuia, e que utiliza<br />
águas deste sistema em grande escala.<br />
De forma similar, a análise estatística comparativa entre<br />
os resultados de condutividade hidráulica obtidos pelos<br />
métodos Guelph e de infiltrômetro mostrou que, para<br />
os tipos de solos analisados (cerrado inalterado e cultivado),<br />
os resultados são estatisticamente diferentes<br />
para o nível de significância de 5%. As condutividades<br />
hidráulicas resultantes dos ensaios com infiltrômetro de<br />
anel duplo são, em média, 2,2 vezes maiores do que as<br />
obtidas com o permeâmetro Guelph, reforçando a hipótese<br />
de que os ensaios de anel duplo sofrem maior<br />
influência da macroporosidade do solo por ensaiar uma<br />
área superficial maior do que o método Guelph.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALFARO SOTO, M. A.; BASSO, J. B.; CHANG, H. K.; VAN GENUCHTEN, M. T. Simulação de fluxo e transporte de íons de<br />
vinhaça através de vertente da formação Rio Claro. Revista Brasileira de Águas Subterrâneas, v. 29, n. 2, p. 162-174, 2015.<br />
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (ASTM). ASTM D3385. Standard test method for infiltration rate of<br />
soils in field using double-ring infiltrometer. Estados Unidos: ASTM, 2008. 8p.<br />
BATISTA, D. F.; SOUSA, F. A. Avaliação da condutividade hidráulica do solo sobre condições de cobertura por cerrado e<br />
pastagem. Revista Eletrônica do Curso de Geografia, n. 25, 2015. Disponível em: . Acesso em: jan. 2016.<br />
CORRÊA, J. C. Efeito de métodos de cultivo em algumas propriedades físicas de um Latossolo Amarelo muito argiloso<br />
do Estado do Amazonas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 20, p. 1317-1322, 1985.<br />
DANIEL, D. E. In situ Hydraulic Test for Compacted Clay. Journal of Geotechnical Engineering, v. 115, n. 9, p. 1205-1226, 1989.<br />
GHANI, F.; TABATABAEI, S. H.; SHAYANNEJAD, M.; GHORBANI DASHTAKI, S. H. Comparison of four in-situ methods for<br />
measuring saturated hydraulic conductivity. Water Engineering, v. 5, n. 15, p. 57-68, 2013.<br />
GINTANAU, S. H. Application of Guelph permeameter and double-ring infiltrometer for determination of field permeability<br />
values. 71f. Monografia (Bacharelado em Engenharia Civil) – Universidade de Tecnologia da Malásia, 2011.<br />
GUPTA, R. K.; RUDRA, R. P.; DICKINSON, W. T.; PATNI, N. K.; WALL, G. J. Comparison of saturated hydraulic conductivity<br />
measured by various held methods. Transactions of the ASAE, v. 36, n. 1, p. 51-55, 1993.<br />
JOSÉ, J. V.; REZENDE, R.; MARQUES, P. A. A.; GONÇALVES, A. C. A.; SOUZA, R. S. Variabilidade espacial de variáveis físicohídricas<br />
de dois latossolos da região noroeste do estado do Paraná. Irriga, Botucatu, v. 17, n. 2, p. 208-219, abr.-jun. 2012.<br />
10<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
Avaliação da condutividade hidráulica em dois usos do solo na região central do Brasil<br />
KANWAR, R. S.; RIZVI, H. A.; AHMED, M.; HORTON JR., R.; MARLEY. S. J. Measurement of field-saturated hydraulic<br />
conductivity by using Guelph and velocity permeameters. Transactions of the ASAE, v. 32, p. 1885-1890, 1990.<br />
LEE, I. K.; WHITE, W.; INGLES, O. G. Geotechnical Engineering. Estados Unidos: Pitman Publishing, 1983. 508 p. Cap 2.<br />
MOHANTY, B. P.; KANWAR, R. S.; EVERTS, C. J. Comparison of saturated hydraulic conductivity measurement methods<br />
for a glacial-till soil. Soil Science Society of America Journal, v. 58, p. 672-677, 1994.<br />
NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Pavimentação de baixo custo com solos lateríticos. São Paulo: Villibor, 1995. 213p.<br />
PIRES, B. S.; DIAS JUNIOR, M. S.; ROCHA, W. W.; ARAÚJO JÚNIOR, C. F.; CARVALHO, R. C. R. Modelos de capacidade de<br />
suporte de carga de um latossolo vermelho-amarelo sob diferentes usos e manejos. Revista Brasileira de Ciência do<br />
Solo, v. 36, n. 2, p. 635-642, 2012.<br />
REYNOLDS, W. D.; ELRICK, D. E. A method for simultaneous in situ measurement in the vadose zone of field saturated<br />
hydraulic conductivity, sorptivity and the conductivity-pressure head relationships. Ground Water Monitoring Review,<br />
v. 6, n. 1, p. 84-95, 1986.<br />
REYNOLDS, W. D.; ELRICK, D. E. In situ measurement of field saturated hydraulic conductivity, sorptivity and the<br />
α-parameter using the Guelph permeameter. Soil Science, v. 140, n. 4, p. 292-302, 1985.<br />
SILVA, N. F.; CUNHA, F. N.; OLIVEIRA, R. C.; CABRAL, F. R.; TEIXEIRA, M. B.; CARVALHO, J. J. Características físico-hídricas<br />
de um latossolo sob diferentes sistemas de manejo. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada, v. 8, n. 5, p. 375-390, 2014.<br />
SOILMOISTURE EQUIPMENT CORP. Guelph Permeameter. Operating – Instructions, Soilmoisture manual. Estados<br />
Unidos: Soilmoisture Equipment Corp., 1986. 25p.<br />
VERBIST, K.; CORNELIS, W. M.; TORFS, S.; GABRIELS, D. Comparing methods to determine hydraulic conductivities on<br />
stony soils. Soil Science Society of America Journal, v. 77, p. 25-42, 2013.<br />
VIANA, J. H. M.; DONAGEMMA, G. K. O solo sob ameaça: conexões necessárias ao manejo e conservação do solo e<br />
água. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, Foz do Iguaçu. Anais... Curitiba:<br />
SBCS; Londrina: IAPAR, 2016.<br />
WANG, H.; SONG, S.; TANG, X. Comparison of determination methods for saturated soil hydraulic conductivity with<br />
Guelph infiltrometer. Nongye Gongcheng Xuebao. Transactions of the Chinese Society of Agricultural Engineering,<br />
v. 28, n. 24, p. 99-104, 2012.<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
11<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 1-11
DOI: 10.5327/Z2176-947820180180<br />
ANT ASSEMBLAGES (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) ASSOCIATED<br />
TO ENVIRONMENTS OF A RURAL PROPERTY IN THE EXTREME<br />
WESTERN REGION OF THE STATE OF SANTA CATARINA<br />
ASSEMBLEIAS DE FORMIGAS (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) ASSOCIADAS A<br />
AMBIENTES DE UMA PROPRIEDADE RURAL DO EXTREMO OESTE CATARINENSE<br />
Junir Antonio Lutinski<br />
PhD. in Animal Biodiversity at the<br />
Universidade Federal de Santa<br />
Maria (UFSM). Professor of the<br />
Graduate Program in Health Science,<br />
Universidade Comunitária Regional<br />
de Chapecó (Unochapecó) –<br />
Chapecó (SC), Brazil.<br />
Cladis Juliana Lutinski<br />
MSc. in Environmental Science,<br />
Unochapecó. Biologist of Biology<br />
Laboratory, Universidade Federal<br />
da Fronteira Sul (UFFS) –<br />
Chapecó (SC), Brasil.<br />
Juliane Freitag Beling<br />
Nursing Student, Unochapecó –<br />
Chapecó (SC), Brazil.<br />
Maria Assunta Busato<br />
PhD. in Biology, Universitat de<br />
Barcelona. Professor of the<br />
Graduate Program in Health<br />
Science, Unochapecó – Chapecó (SC),<br />
Brazil.<br />
Vanessa Corralo<br />
PhD. in Biology, UFSM. Professor<br />
of the Graduate Program in<br />
Health Science, Unochapecó –<br />
Chapecó (SC), Brazil.<br />
Corresponding address:<br />
Junir Antonio Lutinski – Rua Beija-<br />
Flor, 254 E – Efapi – CEP 89809-760 –<br />
Chapecó (SC), Brasil –<br />
E-mail: junir@unochapeco.edu.br<br />
Received on: 08/02/2016<br />
Accepted on: 11/30/2017<br />
ABSTRACT<br />
The conversion of natural environments into agricultural areas has led to habitat<br />
fragmentation and caused impacts on biological communities. This study<br />
evaluated the richness and abundance of ant assemblages from different<br />
environments within a small rural property. The study was conducted in<br />
December 2015 in the Palma Sola municipality, extreme western region of the<br />
state of Santa Catarina, Brazil. The sampled environments included a permanent<br />
preservation area, a forest fragment, a corn crop, a tobacco crop and a pine<br />
reforestation. Pitfall traps and manual collections were used. The observed<br />
richness totaled 69 species. Only two species, Camponotus rufipes and Pheidole<br />
lignicola, occurred in the five environments sampled. Overall, 65.3% of the<br />
variation in ants’ occurrence, according to the sampled environments, was<br />
explained by the principal component analysis (PCA) components. This study<br />
presents new results on the ant diversity from rural areas, and may provide<br />
potential subsidies for management and conservation plans.<br />
Keywords: agro ecosystems; agrochemicals; ant fauna; conservation; richness.<br />
RESUMO<br />
A transformação de ambientes naturais em áreas agrícolas vem provocando<br />
a fragmentação ambiental e gerando impactos sobre as comunidades de<br />
organismos. Este estudo avaliou a riqueza e a abundância das assembleias<br />
de formigas de ambientes que compõem uma propriedade rural. O estudo<br />
foi conduzido no município de Palma Sola, extremo oeste catarinense, no<br />
mês de dezembro de 2015. Os ambientes avaliados foram uma área de<br />
preservação permanente, um fragmento florestal, uma lavoura de milho,<br />
uma lavoura de tabaco e um reflorestamento de pinus. Foram utilizadas<br />
armadilhas de queda e coleta manual. A riqueza amostrada foi de 69<br />
espécies. Apenas duas espécies, Camponotus rufipes e Pheidole lignicola,<br />
ocorreram nos cinco ambientes amostrados. Ao todo, 65,3% da variação<br />
das ocorrências de formigas segundo os ambientes amostrados foi explicada<br />
pelos componentes da análise de componentes principais (ACP). Este estudo<br />
apresenta indicativos da diversidade presente em ambientes rurais e pode<br />
representar subsídios para planos de manejo e conservação.<br />
Palavras-chave: agroecossistemas; agrotóxicos; mirmecofauna; conservação; riqueza.<br />
12<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
The conversion of natural environments into agricultural<br />
areas (TANENTZAP et al., 2015) has led to<br />
a growing concern about the impacts on biological<br />
communities caused by monocultures, habitat<br />
fragmentation and pesticide use (GALINDO-LEAL;<br />
CÂMARA, 2003; EDWARDS et al., 2014). However,<br />
little is known about the impacts of conventional<br />
agricultural crops on the richness and abundance of<br />
organisms inhabiting directly affected areas. Likewise,<br />
it remains poorly known the role of small forest<br />
fragments, permanent preservation areas (APP) and<br />
reforestations as potential reservoirs (DECOCQ et al.,<br />
2016), contributing for the maintenance of insect diversity<br />
in the mosaic of environments that typically<br />
compose small rural properties.<br />
The western region of the Brazilian state of Santa Catarina<br />
is characterized, with regard to its economy, by<br />
the family farming with the predominance of small<br />
properties (up to 25 hectares), whose livelihood is based<br />
on grain planting (corn, soy, beans, and wheat),<br />
milk production, pig farming, poultry and tobacco production<br />
(IBGE, 2015). The land used on these farms<br />
is often characterized by a fragmented environment<br />
destined to distinct activities. It includes environments<br />
destined to agricultural crops, pastures, permanent<br />
preservation, conservation, and reforestation<br />
(LUTINSKI et al., 2017). The biological communities in<br />
such environments suffer varying impacts related to<br />
agricultural activities, ranging from minimal impacts<br />
in preserved fragments to more severe impacts in the<br />
cultivated areas, as for instance the frequent use of<br />
pesticides (herbicides, insecticides, nematicides and<br />
fungicides) (CHAGNON et al., 2015).<br />
INTRODUCTION<br />
The study of ant assemblages in small farms contributes<br />
for understanding the key factors for the ant<br />
diversity conservation, as well as to the sustainability<br />
of the different farm environments, given that<br />
Formicidae is one of the most diverse insect taxa<br />
(HÖLLDOBLER; WILSON, 1990; LUTINSKI et al., 2017;<br />
HOLDEFER et al., 2017), characterized by its wide<br />
distribution and high richness and abundance in terrestrial<br />
environments (PÉREZ-SÁNCHEZ et al., 2013;<br />
WIELGOSS et al., 2013). The number of studies on<br />
the occurrence of ants in agricultural ecosystems<br />
is growing, and though these studies discuss ecological<br />
aspects of some species of major importance<br />
(CHEVALIER et al., 2013; PÉREZ-SÁNCHEZ et al.,<br />
2013; HOLDEFER et al., 2017), they do not clearly<br />
emphasize the diversity of assemblages or aspects<br />
that could interfere on the ants conservation.<br />
Ants have been regarded as bioindicator organisms<br />
due to their wide distribution, rapid response to<br />
environmental changes and biological relevance in<br />
different trophic levels (CREPALDI et al., 2014; BHAR-<br />
TI et al., 2016; LUTINSKI et al., 2017). In agro ecosystems,<br />
ants act in seed dispersal, soil enrichment<br />
and aeration, although species like Atta spp. and<br />
Acromyrmex spp. may damage crops (LUTINSKI et al.,<br />
2008; 2017; NICKELE et al., 2016).<br />
The ants present high richness of species and are ecologically<br />
important in the different strata of terrestrial<br />
ecosystems (BACCARO et al., 2015). The richness and<br />
diversity of ants tend to increase according to the<br />
complexity of the environments, due to the greater<br />
availability of present niches (ROCHA et al., 2015;<br />
HOLDEFER et al., 2017). In order to evaluate the environmental<br />
impact of these insects, it has been proposed<br />
that these insects should be used as a tool for the<br />
environmental monitoring of areas under anthropogenic<br />
disturbance conditions.<br />
The ants present characteristics such as the easy sampling,<br />
high abundance, broad geographic distribution,<br />
importance in the functioning of the ecosystems, and<br />
well-known ecology and taxonomy (AGOSTI et al.,<br />
2000; ROCHA et al., 2015). Ants have been used in the<br />
evaluation of pesticide contamination, in habitat disturbances,<br />
in the evaluation of the impact of deforestation<br />
(ILHA et al., 2009), in the urbanization process<br />
impact (LUTINSKI et al., 2013a), in the monitoring of<br />
mining areas (ROCHA et al., 2015) and energy production<br />
(LUTINSKI et al., 2017). Studies focusing on the<br />
diagnosis and conservation of the ant fauna on rural<br />
properties in the south of Brazil are rare (HOLDEFER<br />
et al., 2017). In this context, researches are needed<br />
to identify resilient species capable of colonizing such<br />
environments and exploring the importance of permanent<br />
preservation and environmental protection areas<br />
for biodiversity conservation in small rural properties.<br />
The knowledge about the richness and abundance of<br />
ant assemblages in a given ecosystem can support con-<br />
13<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Lutinski, J.A. et al.<br />
servation plans (ILHA et al., 2009; LAWES et al., 2017).<br />
Information on the ant fauna from small farm environments<br />
contributes to understand the impact of conventional<br />
farming monocultures on these insects, and<br />
to comprehend the role of protected environments as<br />
biodiversity reservoirs.<br />
In this context, the aims of this study were:<br />
• To characterize the ant assemblages in five environments<br />
from a rural property located in the extreme<br />
western region of Santa Catarina;<br />
• To compare the five environments regarding the richness<br />
of their ant assemblages;<br />
• To evaluate the relationship between the abundance<br />
of ant assemblages and the five environments<br />
sampled within the rural property.<br />
MATERIAL AND METHODS<br />
Characteristics of the sampled environments<br />
The study was conducted in a rural property located<br />
in the municipality of Palma Sola (26º37’19”S,<br />
53º40’01”W), extreme western region of the state of<br />
Santa Catarina, Brazil. The study site is an area of approximately<br />
19 ha composed by small fragments of Atlantic<br />
forest (mixed ombrophilous forest), a permanent preservation<br />
area (PPA) alongside the river Tracutinga, pasture<br />
areas, a pine reforestation fragment (Pinus elliottii Engelm.),<br />
an area occupied by the property buildings, and<br />
the remaining area occupied by crops of corn (Zea mays<br />
L.), bean (Phaseolus vulgaris L.) and tobacco (Nicotiana<br />
tabacum L.). The local climatic type is characterized as<br />
“mesothermal superhumid subtropical humid”, without<br />
a dry season and with regular frosts and rainfall evenly<br />
distributed along the year (RAMOS et al., 2009).<br />
We sampled five environments with approximately<br />
one ha each, as it follows:<br />
• A PPA with a 30-year conservation history, formed<br />
by riparian native forest with sparse undergrowth<br />
vegetation;<br />
Ant collection<br />
We did a sampling in December 2015 using pitfall traps<br />
and manual collections in all environments. The pitfall<br />
traps consisted of plastic cups with 500 mL capacity<br />
(10 cm in diameter by 12 cm in height) buried at the<br />
ground level (LUTINSKI et al., 2013b). In each trap, we<br />
added 150 mL of water and two detergent drops in<br />
order to break the water surface tension, causing the<br />
insects to sink immediately after falling into the trap.<br />
In each environment we installed 10 pitfalls along a<br />
linear transect perpendicular to the edge, observing<br />
• A forest fragment (FF) with no history of deforestation<br />
and with a dense undergrowth vegetation;<br />
• A pine reforestation (PR) aged 20 years, with sparse<br />
undergrowth vegetation formed by shrubs and local<br />
native plants;<br />
• A corn crop (CC), conventionally cultivated in pre-harvest<br />
stage, where the following pesticides were used:<br />
acaricide belonging to the group of organophosphates<br />
(O, S-dimethyl-acetylphosphoramidothioate)<br />
(acephate); neonicotinoid insecticide (1-(6-chloro-<br />
-3-pyridylmethyl) -N-nitroimidazolidin-2-ylideneamine<br />
(imidacloprid) and the aminophosphorade herbicide<br />
N-(phosphonomethyl)-glycine) (glyphosate),<br />
with one application during cultivation;<br />
• A tobacco crop (TC), conventionally cultivated in<br />
pre-harvest stage, where the following pesticides<br />
were used: acephate, imidacloprid and glyphosate,<br />
with one application during cultivation.<br />
the distance of 10 meters between consecutive traps<br />
(LUTINSKI et al., 2013b). The traps were kept open during<br />
a period of 48 hours.<br />
Manual sampling was conducted following a random<br />
transect for one hour in each environment, using a gripper<br />
and a cotton swab moistened in alcohol for catching<br />
the specimens. In the FF, PPA and PR, samplings<br />
were carried out on the soil, shrubs and tree trunks up<br />
to a maximum height of two meters; in the TC and CC,<br />
samplings were performed directly on the soil.<br />
14<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
Identification of the collected material<br />
The collected material was placed in vials containing<br />
70% alcohol, labeled and transported to the<br />
Entomology Laboratory of the Universidade Comunitária<br />
da Região de Chapecó (Unochapecó) for<br />
Statistical analysis<br />
Richness was defined as the number of species that occurred<br />
in each sample. Abundance was defined based on<br />
the relative frequency (i.e., the number of records of a given<br />
species in each trap) — and not based on the number<br />
of individuals —, which is more suited for studies of ant<br />
assemblages because it minimizes the effects of foraging<br />
habit and colony size (LUTINSKI et al., 2017). The relative<br />
frequency of each species in each environment was calculated<br />
by the following equation: F = Fi × 100 / Ft, in which<br />
Fi is the number of occurrences of a given species in a given<br />
environment, and Ft is the total number of occurrences<br />
of that species in a given environment.<br />
further sorting and taxonomic identification. Once<br />
in the laboratory, the specimens were identified<br />
using the taxonomic keys proposed by Fernández<br />
(2003) e Wild (2007).<br />
In order to verify the sampling sufficiency, we did a<br />
comparison between the species observed in the samples<br />
(Sobs) and the value generated by the Chao 2 estimator.<br />
This comparison allows inferring how much<br />
a survey approximates to an all-species sampling in a<br />
given environment. The richness estimates for each environment<br />
were obtained using the software EstimateS<br />
8.2. The richness of ants sampled in each environment<br />
was compared by a rarefaction analysis based on species<br />
occurrences. This analysis was performed in the<br />
software EcoSim 7 (GOTELLI; ENTSMINGER, 2001).<br />
The relationship between ant species and the different<br />
environments was verified through the principal<br />
component analysis (PCA). Forty-four ant species were<br />
excluded from this analysis due to their small number<br />
of occurrences in the samples (≤ 2). The data were previously<br />
transformed into Log (x + 1) and then analyzed<br />
using the software Past (HAMMER et al., 2001).<br />
We identified 69 species belonging to 22 genera, 15 tribes<br />
and eight subfamilies (Table 1). The ant assemblage<br />
from the forest fragment had the highest richness of<br />
species (S = 37), followed by the PPA (S = 35), PR (S = 25),<br />
CC (S = 13) and TC (S = 9) assemblages. Only two species,<br />
Camponotus (Myrmothrix) rufipes (Fabricius, 1775)<br />
and Pheidole (Pheidole) lignicola (Mayr, 1887), occurred<br />
in all five sampled environments. Overall, 38 (55%) species<br />
occurred in only one environment. The assemblage<br />
of the FF had Gnamptogenys striatula (Mayr, 1884),<br />
Pachycondyla striata (F. Smith, 1858) and Heteroponera<br />
inermis (Emery, 1894) as the most frequent species. In<br />
the PPA, the most frequent species were G. striatula,<br />
Pheidole (Pheidole) risii (Forel, 1892) and Pogonomyrmex<br />
angustus (Mayr, 1870); in the PR, the most frequent<br />
species were P. striata, P. lignicola and Pheidole sp. 2; in<br />
CC, Dorymyrmex brunneus (Forel, 1908) and C. rufipes;<br />
and in TC, Solenopsis sp. 1 and P. lignicola (Table 1).<br />
The major difference (100%) between the observed<br />
(Sobs) and the estimated richness (Chao 2) was found<br />
for the ant assemblages of the CC (Chao 2 = 26) and TC<br />
RESULTS<br />
(Chao 2 = 18). In the FF, in turn, this difference was 76%<br />
(Chao 2 = 65), whereas in the PR it was of 72% (Chao<br />
2 = 43), and in the PPA it decreases to 52% (Chao 2<br />
= 54). The trend for increasing the species richness if<br />
additional samples were made is evident by the rarefaction<br />
curves, because none of the environments reached<br />
an asymptote. The FF and the PPA presented the<br />
highest richness, whilst the lowest richness occurred in<br />
the TC environment (Figure 1).<br />
Altogether, 65.30% of the variation in the occurrence<br />
of ants, according to the sampled environments, was<br />
explained by the first (eigenvalue: 0.17; % of variance:<br />
39.00) and second (eigenvalue: 0.12; % of variance:<br />
26.30) PCA components. Three species showed a positive<br />
association with the samplings made in the FF and<br />
PPA: G. striatula, P. risii and P. striata; two species with<br />
the sampling made in the PR: P. lignicola and Pheidole<br />
sp. 2; and four species with the sampling carried out<br />
in the CC and TC: C. rufipes, D. brunneus, Pheidole sp.<br />
4 and Solenopsis sp. 1. All other ant species occurred<br />
regardless of the environment type (Figure 2).<br />
15<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Lutinski, J.A. et al.<br />
Table 1 – Richness and frequency of ant assemblages sampled in five environments<br />
of a rural property in the municipality of Palma Sola, western Santa Catarina, Brazil (December 2015).<br />
Taxon PPA FF CC TC PR<br />
Subfamily Dolichoderinae<br />
Tribe Dolichoderina<br />
Dorymyrmex brunneus (Forel, 1908) 0.17 0.04 0.02<br />
Linepithema gallardoi (Kusnezov, 1969) 0.01<br />
Linepithema humile (Mayr, 1868) 0.04 0.03<br />
Linepithema iniquum (Mayr, 1870) 0.07<br />
Linepithema micans (Forel, 1908) 0.01<br />
Linepithema sp. 0.02<br />
Subfamily Ecitoninae<br />
Tribe Ecitonini<br />
Labidus praedator (F. Smith, 1858) 0.01 0.02<br />
Subfamília Ectatomminae<br />
Tribo Ectatommini<br />
Gnamptogenys striatula (Mayr, 1884) 0.11 0.16 0.02<br />
Gnamptogenys sp. 1 0.01<br />
Gnamptogenys sp. 2 0.01<br />
Subfamily Formicinae<br />
Tribe Camponotini<br />
Camponotus (Myrmaphaenus) blandus (F. Smith, 1858) 0.04<br />
Camponotus (Myrmepomis) sericeiventris (G.-M., 1838) 0.01<br />
Camponotus (Myrmobrachys) crassus (Mayr, 1862) 0.01 0.04 0.02<br />
Camponotus (Myrmothrix) cingulatus (Mayr, 1862) 0.01<br />
Camponotus (Myrmothrix) rufipes (Fabricius, 1775) 0.01 0.03 0.17 0.04 0.04<br />
Camponotus (Pseudocolobopsis) alboannulatus (Mayr, 1887) 0.01 0.01<br />
Camponotus (Tanaemyrmex) lespesii (Forel, 1886) 0.01<br />
Camponotus sp. 1 0.01 0.04 0.02<br />
Camponotus sp. 2 0.01<br />
Camponotus sp. 3 0.01 0.04 0.02<br />
Camponotus sp. 4 0.01<br />
Camponotus sp. 5 0.01<br />
Tribe Plagiolepidini<br />
Brachymyrmex (Brachymyrmex) aphidicola (Forel, 1909) 0.03<br />
Brachymyrmex (B.) coactus (Mayr, 1887) 0.15<br />
Brachymyrmex sp. 0.01<br />
Nylanderia fulva (Mayr, 1862) 0.03 0.02<br />
Nylanderia sp. 0.04<br />
Subfamily Heteroponerinae<br />
Tribe Heteroponerini<br />
Heteroponera inermis (Emery, 1894) 0.07<br />
Heteroponera mayri (Kempf, 1962) 0.01<br />
Subfamily Myrmicinae<br />
Tribe Attini<br />
Acromyrmex (Acromyrmex) disciger (Mayr, 1887) 0.01 0.01<br />
Acromyrmex (A.) niger (F. Smith, 1858) 0.01 0.01 0.04 0.02<br />
Acromyrmex (A.) subterraneus (Forel, 1893) 0.02<br />
Apterostigma pilosum (Mayr, 1865) 0.03<br />
16<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23<br />
Continue...
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
Table 1 – Continuation.<br />
Taxon PPA FF CC TC PR<br />
Apterostigma wasmannii (Forel, 1892) 0.01<br />
Cyphomyrmex rimosus (Spinola, 1853) 0.01<br />
Mycocepurus goeldii (Forel, 1893) 0.03<br />
Tribe Blepharidattini<br />
Wasmannia auropunctata (Roger, 1863) 0.04<br />
Tribe Cephalotini<br />
Cephalotes pallidicephalus (F. Smith, 1876) 0.01<br />
Cephalotes pusillus (Klug, 1824) 0.01 0.01 0.02<br />
Cephalotes sp. 1 0.01<br />
Cephalotes sp. 2 0.01 0.01<br />
Procryptocerus convergens (Mayr, 1887) 0.01 0.02<br />
Tribe Crematogastrini<br />
Crematogaster (Neocrema) corticicola (Mayr, 1887) 0.01<br />
Crematogaster sp. 1 0.01<br />
Crematogaster sp. 2 0.01<br />
Tribe Myrmicini<br />
Pogonomyrmex angustus (Mayr, 1870) 0.07 0.03<br />
Pogonomyrmex naegelii (Forel, 1878) 0.04 0.02<br />
Tribe Pheidolini<br />
Pheidole (Pheidole) brevicona (Mayr, 1887) 0.03 0.03 0.04<br />
Pheidole (Pheidole) lignicola (Mayr, 1887) 0.05 0.04 0.13 0.22 0.14<br />
Pheidole (Pheidole) risii (Forel, 1892) 0.08 0.03 0.06<br />
Pheidole sp. 1 0.03 0.03<br />
Pheidole sp. 2 0.05 0.04 0.12<br />
Pheidole sp. 3 0.03<br />
Pheidole sp. 4 0.13 0.15 0.04<br />
Pheidole sp. 5 0.04<br />
Pheidole sp. 6 0.03<br />
Pheidole sp. 7 0.01<br />
Tribe Solenopsidini<br />
Solenopsis saevissima (F. Smith, 1855) 0.02<br />
Solenopsis sp. 1 0.03 0.08 0.30<br />
Solenopsis sp. 2 0.04 0.04<br />
Subfamily Ponerinae<br />
Tribe Ponerini<br />
Hypoponera distinguenda (Emery, 1890) 0.01<br />
Hypoponera trigona (Mayr, 1887) 0.04<br />
Hypoponera sp. 1 0.01<br />
Hypoponera sp. 2 0.01<br />
Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804) 0.04<br />
Pachycondyla striata (F. Smith, 1858) 0.05 0.09 0.18<br />
Pachycondyla villosa (Fabricius, 1804) 0.01 0.04 0.02<br />
Subfamily Pseudomyrmecinae<br />
Tribe Pseudomyrmecini<br />
Pseudomyrmex gracilis (Fabricius, 1804) 0.01 0.02<br />
Pseudomyrmex termitarius (F. Smith, 1855) 0.01 0.01<br />
PPA: permanent preservation area; FF: forest fragment; CC: corn crop; TC: tobacco crop; PR: pine reforestation.<br />
17<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Lutinski, J.A. et al.<br />
The richness of ants found in the studied rural property<br />
represents 33.3% of the ant fauna currently known for the<br />
western region of Santa Catarina (ULYSSÉA et al., 2011;<br />
LUTINSKI et al., 2013a; LUTINSKI et al., 2017). This study<br />
represents the first survey of ants made in the municipality<br />
of Palma Sola, as well as it constitutes the first ant survey<br />
performed within a rural environment in the region.<br />
The ant assemblages found in the PPA and in the FF were<br />
similar in richness. However, they were 32.4%, 64.8% and<br />
75.6% higher in richness than the PR, CC and TC assemblages,<br />
respectively. The nine ant species that showed a<br />
positive association with at least one of the sampled environments<br />
were also characterized as common and frequent<br />
in a previous regional study (LUTINSKI et al., 2014).<br />
DISCUSSION<br />
From the total of 69 species, 38 species occurred exclusively<br />
in the PPA and/or in the forest fragment. The richness<br />
estimate (Chao 2) indicates that the PPA and<br />
the FF have the richest ant assemblages amongst the<br />
sampled environments, followed by the PR, CC and TC<br />
environments, with decreasing expected richness estimates,<br />
respectively. The rarefaction curves showed no<br />
saturation, indicating that the sampling effort did not<br />
survey the ant assemblages fully, being thus possible<br />
to register additional ant species in all environments.<br />
Nevertheless, the lack of stabilization in the sampling<br />
curves is commonly observed for ant communities, a<br />
pattern that may be related to the aggregate distribution<br />
or rarity of some species (KLIMES et al., 2015).<br />
The PPA and the FF represent the two environments<br />
with the highest number of plant species. The highest<br />
richness and the highest number of unique ant species<br />
in these environments seems to corroborate the<br />
predictions of Hölldobler and Wilson (1990), that<br />
point that the increase in the number of ant species<br />
occurs as the environments become more complex<br />
and are able to provide resources for the establishment<br />
of new populations. Lutinski et al. (2017) reported<br />
that forest formations host habitats and shelter<br />
for the insect fauna, having thus an important link<br />
between these two variables.<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
Richness<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
PPA FF CC TC PR<br />
0<br />
3 9 15 21 27 33 39 45 51 57 63<br />
Occurences of species<br />
69<br />
PPA: permanent preservation area; FF: forest fragment; CC: corn crop; TC: tobacco crop; PR: pine reforestation.<br />
Figure 1 – Comparison by the rarefaction method, based on the number of occurrences and of the accumulated richness of ant<br />
assemblages from five environments in a rural property of Palma Sola municipality, western Santa Catarina, Brazil (December 2015).<br />
18<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
The ant assemblage from the PR, due to the environment<br />
age and undergrowth vegetation, presented a relative similarity<br />
to the assemblage sampled in the PPA and FF environments.<br />
There was a shared richness of nine species<br />
between the PR and the preserved environments (PPA<br />
and FF). A similar relationship was found by Lutinski et al.<br />
(2008). These authors also observed a higher richness of<br />
ants in the native vegetation compared to the pine reforestation,<br />
supporting the hypothesis that complex environments<br />
favor the increase in the ant richness.<br />
The lowest ant richness was observed in both the CC<br />
and TC environments. This result is likely attributed<br />
to the characteristics of the conventional agricultural<br />
management used in these environments, which<br />
includes successive mechanical and chemical interventions,<br />
hence resulting in a decline in the ant fauna<br />
as compared to the other sampled environments.<br />
Holdefer et al. (2017) attributed to these conventional<br />
agricultural practices the 50% decrease in the<br />
ant richness, a pattern that agrees with our results.<br />
Formicidae is a diverse taxon that may indicate the<br />
occurrence of other organisms in the environment<br />
(GUÉNARD et al., 2012; BISHOP et al., 2015), and thus<br />
the occurrence of ant species in agro ecosystems under<br />
conventional management may also indicate the<br />
tolerance ability that some ant species show (ILHA et<br />
al., 2009; CARVAL et al., 2016).<br />
The richest genera were Camponotus and Pheidole, representing<br />
17.0 and 14.5% of total species, respectively.<br />
This result is in accordance to the most recent and representative<br />
surveys of the ant fauna in the western region of<br />
Santa Catarina, performed by Lutinski et al. (2008; 2013a).<br />
Noteworthy is the record of Cephalotes pallidicephalus<br />
(F. Smith, 1876), a species with no recent regional records.<br />
Component 2 (26.3%)<br />
Pl<br />
TC CC Cr<br />
Ph4<br />
Db So1<br />
-0.8 -0.6 -0.4 -0.2<br />
So2 Cs3 Cc<br />
Cs1<br />
Bc<br />
1.0<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
-0.2<br />
-0.4<br />
An<br />
PR<br />
Ph2<br />
Ch<br />
Nf<br />
Ns<br />
Pb<br />
0.2<br />
Li<br />
Hi<br />
Pv<br />
0.4<br />
Ph1 Lh<br />
Pt<br />
Pr PPA FF<br />
0.6<br />
Pa<br />
0.8<br />
Gs<br />
Component 1 (39.0%)<br />
PPA: permanent preservation area; FF: forest fragment; CC: corn crop; TC: tobacco crop; PR: pine reforestation; An: Aspergillus niger;<br />
Bc: Brachymyrmex coactus; Cc: Camponotus crassus; Cr: Camponotus rufipes; Cs1: Camponotus sp. 1; Cs3: Camponotus sp. 3; Ch: Cephalotes pusillus;<br />
Db: Dorymyrmex brunneus; Gs: Gnamptogenys striatula; Hi: Heteroponera inermis; Lh: Linepithema humile; Li: Linepithema iniquum; Nf: Nylanderia<br />
fulva; Ns: Nylanderia sp.; Pt: Pachycondyla striata; Pv: Pachycondyla villosa; Pb: Pheidole brevicona; Pl: Pheidole lignicola; Pr: Pheidole risii;<br />
Ph1: Pheidole sp. 1; Ph2: Pheidole sp. 2; Ph4: Pheidole sp. 4; Pa: Pogonomyrmex angustus; So1: Solenopsis sp. 1; So2: Solenopsis sp. 2.<br />
Figure 2 – Association (principal component analysis) of ant species with five environments<br />
from a rural property located in the municipality of Palma Sola, western Santa Catarina, Brazil (December 2015).<br />
19<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Lutinski, J.A. et al.<br />
On the other hand, the recorded species belonging to the<br />
genera Dorymyrmex and Linepithema are characteristic<br />
of anthropogenic environments (ULYSSÉA et al., 2011;<br />
LUTINSKI et al., 2013a) and exert strong dominance over<br />
food sources. The occurrence of D. brunneus in the CC,<br />
TC and PR environments supports the findings of Lutinski<br />
et al. (2014), which also observed the association of this<br />
species with anthropogenic environments.<br />
More than 300 species of Camponotus have been described<br />
for the Neotropics (FERNÁNDEZ, 2003), and among<br />
them an accentuated polymorphism occurs, as well as<br />
omnivorous diet. Chemical defense and mutualism are<br />
commonly observed in the relationships between these<br />
species and other organisms (SILVESTRE et al., 2003;<br />
BACCARO et al., 2015). Camponotus rufipes and C. sericeiventris<br />
are species widely distributed in the state<br />
of Santa Catarina (ULYSSÉA et al., 2011), common in<br />
anthropogenic environments (LUTINSKI et al., 2013a).<br />
The ability to colonize open and anthropogenic environments<br />
may explain the positive association of C. rufipes<br />
with the CC and TC environments.<br />
The high diversity of Neotropical species of Solenopsis and<br />
Pheidole characterizes these genera as common in ant<br />
fauna studies, including dozens of species collected in a<br />
single locality (BACCARO et al., 2015; ECONOMO et al.,<br />
2017). The wide geographical distribution and their dispersion<br />
ability make some of these species locally abundant.<br />
Silvestre et al. (2003) discussed that these genera<br />
of ants exhibit a nesting behavior in the soil, form large<br />
colonies of small individuals, either monomorphic or dimorphic,<br />
have a generalist and aggressive behavior, and<br />
are strongly associated to disturbed environments. These<br />
life history aspects may explain the positive association<br />
of these genera with the CC, TC and PR environments.<br />
The use of pesticides may be affecting the diversity of<br />
Formicidae in the western region of Santa Catarina, and<br />
potentially the diversity of other organisms. This claim is<br />
supported by the higher richness of the ant assemblages<br />
from the PPA and FF compared to the areas cultivated<br />
with corn and tobacco (CC and TC). In the state of Santa<br />
Catarina, agricultural activities cause loss and degradation<br />
of natural environments, including soil and water<br />
contamination by chemical pollutants such as fertilizers,<br />
insecticides, pesticides and herbicides. These factors directly<br />
affect the health of animals inhabiting rural and<br />
urban areas, including humans (MODEL et al., 2015).<br />
Clements (2000) points out that the effects of pesticides<br />
on wildlife range from physiological changes in a few<br />
organisms to the massive death of entire populations,<br />
therefore affecting the whole community structure. In<br />
general, the higher the concentration of pesticides and<br />
the longer the exposure time, the greater the chances<br />
of negative impacts reaching higher levels of biological<br />
organization, such as communities and ecosystems.<br />
If an environmental stress persists long enough to lead<br />
local populations to death — affecting their growth rates,<br />
reproduction, and preventing the re-colonization of<br />
the environment —, it is then able to affect the whole<br />
community structure (BARBIERI et al., 2013).<br />
Agrochemicals can cause ecological imbalance by increasing<br />
the proliferation of pests and, consequently,<br />
the consumption of toxic compounds (LONDRES,<br />
2011). The large-scale introduction of pesticides into<br />
the environment is considered one of the major factors<br />
leading to environmental contamination, especially<br />
in developing countries (COLLOTTA et al., 2013).<br />
The acephate, although currently banned in several<br />
countries in the European Union and in the United<br />
States, continues to be largely used in Brazil (ANVISA,<br />
2010). Likewise, the broad-spectrum herbicide glyphosate<br />
represents around 40% of the total pesticide<br />
use in Brazil. The use of this compound underlies the<br />
biological resistance phenomenon in insects, hence<br />
requiring the use of a greater amount of the product<br />
in crops or a combination with other pesticides.<br />
This study adds information on the richness and abundance<br />
of ants in the environmental mosaics that compose<br />
small farms western Santa Catarina. It presents a<br />
checklist of ant species from different types of environments<br />
— including those species able to survive in agro-<br />
-ecosystems in which a conventional agricultural management<br />
is used —, and also provides information about<br />
the ant diversity inhabiting such environments. The study<br />
also indicates the occurrence of ant species associated<br />
with these different farm environments and, more<br />
broadly, suggests that there are complex factors acting<br />
in the ant assemblages from agricultural ecosystems.<br />
The results show the importance of the conservation<br />
of PPA and environmental protection areas (FF) to the<br />
biodiversity conservation and as reservoirs for the adjacent<br />
environments recolonization. They also show a<br />
significant impact of conventional corn and tobacco<br />
cultivation on insect communities when compared to<br />
other activities on small farms.<br />
20<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
REFERENCES<br />
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em<br />
Alimentos (PARA). 2010. Available from: .<br />
Accessed on: Feb. 4, 2016.<br />
AGOSTI, D.; MAJER, J. D.; ALONSO, L. T.; SCHULTZ, T. Ants: standard methods for measuring and monitoring biodiversity.<br />
Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press, 2000. 304 p.<br />
BACCARO, B. B.; FEITOSA, R. M.; FERNÁNDEZ, F.; FERNANDES, I. O.; IZZO, T. J.; SOUZA, J. L. P.; SOLAR, R. Guia para os<br />
gêneros de formigas do Brasil. Manaus: INPA, 2015. 388p.<br />
BARBIERI, R. F.; LESTER, P. J.; MILLER, A. S.; RYAN, K. G. A neurotoxic pesticide changes the outcome of aggressive<br />
interactions between native and invasive ants. Proceeding of Royal Society B, v. 280, n. 20132157, p. 1-7, 2013.<br />
BHARTI, H.; BHARTI, M.; PFEIFFER, M. Ants as bioindicators of ecosystem health in Shivalik Mountains of Himalayas:<br />
assessment of species diversity and invasive species. Asian Myrmecology, v. 8, p. 1-15, 2016.<br />
BISHOP, T. R.; ROBERTSON, M.; VAN RENSBURG, B.; PARR, C. L. Contrasting species and functional beta diversity in<br />
montane ant assemblages. Journal of Biogeography, v. 42, p. 1776-1786, 2015.<br />
CARVAL, D.; COTTÉ, V.; RESMOND, R.; PERRIN, B.; TIXIER, P. Dominance in a ground-dwelling ant community of banana<br />
agroecosystem. Ecology and Evolution, v. 6, p. 8617-8631, 2016.<br />
CHAGNON, M.; KREUTZWEISER, D.; MITCHELL, E. A. D.; MORRISSEY, C. A.; NOOME, D. A.; VAN DER SLUIJS, J. P. Risks<br />
of large-scale use of systemic insecticides to ecosystem functioning and services. Environmental Science and Pollution<br />
Research, v. 22, p. 119-134, 2015.<br />
CHEVALIER, L. X. T.; GOMES, D. S.; MAYHÉ-NUNES, A. J.; QUEIROZ, J. M. Potencial de formigas (Hymenoptera: Formicidae)<br />
como agentes anti-herbívoros em cultivo de café (Coffea canephora Pierre) e Feijão Guandu [Cajanus cajans (L.) Millsp].<br />
EntomoBrasilis, v. 6, n. 2, p. 113-118, 2013.<br />
CLEMENTS, W. H. Integrating effects of contaminants across levels of biological organization: an overview. Journal of<br />
Aquatic Ecosystem Stress and Recovery, v. 7, p. 113-116, 2000.<br />
COLLOTTA, M.; BERTAZZI, P. A.; BOLLATI, V. Epigenetics and pesticides. Toxicology, v. 307, p. 35-41, 2013.<br />
CREPALDI, R. A.; PORTILHO, I. I. R.; SILVESTRE, R.; MERCANTE, F. M. Formigas como bioindicadores da qualidade do solo<br />
em sistema integrado lavoura-pecuária. Ciência Rural, v. 44, n. 5, p. 781-787, 2014.<br />
DECOCQ, G.; ANDRIEU, E.; BRUNET, J.; CHABRERIE, O.; FRENNE, P.; SMEDT, P.; DECONCHAT, M.; DIEKMANN, M.;<br />
EHRMANN, S.; GIFFARD, B.; MIFSUD, E. G.; HANSEN, K.; HERMY, M.; KOLB, A.; LENOIR, J.; LIIRA, J.; MOLDAN, F.;<br />
PROKOFIEVA, I.; ROSENQVIST, L.; VARELA, E.; VALDÉS, A.; VERHEYEN, K.; WULF, M. Ecosystem Services from Small<br />
Forest Patches in Agricultural Landscapes. Current Forestry Reports, v. 2, p. 30-44, 2016.<br />
ECONOMO, E. P.; KLIMOV, P.; SARNAT, E. M.; GUÉNARD, B.; WEISER, M. D.; LECROQ, B.; KNOWLES, L. L. Global<br />
phylogenetic structure of the hyperdiverse ant genus Pheidole reveals the repeated evolution of macroecological<br />
patterns. Proceeding of Royal Society B, v. 282, n. 20141416, p. 1-10, 2017.<br />
EDWARDS, D. P.; GILROY, J. J.; WOODCOCK, P.; EDWARDS, F. A.; LARSEN, T. H.; ANDREWS, D. J. R.; DERHÉ, M. A.;<br />
DOCHERTY, T. D. S.; HSU, W. W.; MITCHELL, S. L.; OTA, T.; WILLIAMS, L. J.; LAURANCE, W. F.; HAMER, K. C.; WILCOVE,<br />
D. S. Land-sharing versus land-sparing logging: reconciling timber extraction with biodiversity conservation. Global<br />
Change Biology, v. 20, p. 183-191, 2014.<br />
21<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Lutinski, J.A. et al.<br />
FERNÁNDEZ, F. Introducción a las hormigas de la región neotropical. Bogotá: Instituto de Investigación de Recursos<br />
Biológicos Alexander von Humboldt, 2003. 426 p.<br />
GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I. G. The Atlantic Forest of South America: biodiversity status, threats, and outlook.<br />
Washington, D.C.: Island Press, 2003. 488 p.<br />
GOTELLI, N. J.; ENTSMINGER, G. L. EcoSim: null models software for ecology. Version 7.0. Acquired Intelligence Inc. &<br />
Kesey-Bear, 2001. Available from: . Accessed on: 23 mar. 2016.<br />
GUÉNARD, B.; WEISER, M. D.; & DUNN, R. R. Global models of ant diversity suggest regions where new discoveries are<br />
most likely are under disproportionate deforestation threat. PNAS, v. 109, n. 19, p. 7368-7373, 2012.<br />
HAMMER, O.; HARPER, D. A. T.; RYAN, P. D. Past: palaeonthological statistics software package for education and data<br />
analysis. Version. 1.37. 2001. Available from: . Accessed<br />
on: Mar. 23, 2016.<br />
HOLDEFER, D. R.; LUTINSKI, J. A.; GARCIA, F. R. M. Does organic management of agroecosystems contribute to the<br />
maintenance of the richness of ants? Semina: Ciências Agrárias, v. 38, n. 6, p. 3455-3468, 2017.<br />
HÖLLDOBLER, B.; WILSON, E. O. The ants. Cambridge: Harvard University Press, 1990. 732 p.<br />
ILHA, C.; LUTINSKI, J. A.; PEREIRA, D. V. M.; GARCIA, F. R. M. Riqueza de formigas (Hymenoptera: Formicidae) da Bacia<br />
da Sanga Caramuru, município de Chapecó-SC. Biotemas, v. 22, n. 4, p. 95-105, 2009.<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades. 2015. Available from: . Accessed on: Mar. 17, 2015.<br />
KLIMES, P.; FIBICH, P.; IDIGEL, C.; RIMANDAI, M. Disentangling the Diversity of Arboreal Ant Communities in Tropical<br />
Forest Trees. PLoS One, v. 10, n. 2, p. 1-24, 2015.<br />
LAWES, M. J.; MOORE, A. M.; ANDERSEN, A. N.; PREECE, N. D.; FRANKLIN, D. C. Ants as ecological indicators of rainforest<br />
restoration: community convergence and the development of an Ant Forest Indicator Index in the Australian wet<br />
tropics. Ecology and Evolution, v. 7, p. 8442-8455, 2017.<br />
LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. Rio de Janeiro: Cidade, 2011. 190 p.<br />
LUTINSKI, J. A.; BAUCKE, L.; FILTRO, M.; BUSATO, M. A.; KNAKIEWICZ, A. C.; GARCIA, F. R. M. Ant assemblage<br />
(Hymenoptera: Formicidae) in three wind farms in the State of Paraná, Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 77, n. 1,<br />
p. 176-184, 2017.<br />
LUTINSKI, J. A.; GARCIA, F. R. M.; LUTINSKI, C. J.; IOP, S. Diversidade de formigas na Floresta Nacional de Chapecó, Santa<br />
Catarina, Brasil. Ciência Rural, v. 38, n. 7, p. 1810-1816, 2008.<br />
LUTINSKI, J. A.; LOPES, B.; MORAIS, A. B. B. Diversidade de formigas urbanas (Hymenoptera: Formicidae) de dez cidades<br />
do sul do Brasil. Biota Neotropica, v. 13, n. 3, p. 332-342, 2013a.<br />
LUTINSKI, J. A.; LUTINSKI, C .J.; IOP, S.; GARCIA, F. R. M. Evaluation of an ant sampling protocol (Hymenoptera:<br />
Formicidae) in three modified environments located inside an austral Atlantic Forest area of Brazil. Ecología Austral, v.<br />
23, n. 1, p. 37-43, 2013b.<br />
LUTINSKI, J. A.; LUTINSKI, C. J.; LOPES, B. C.; MORAIS, A. B. B. Estrutura da comunidade de formigas (Hymenoptera: Formicidae)<br />
em quatro ambientes com diferentes níveis de perturbação antrópica. Ecología Austral, v. 24, n. 2, p. 229-237, 2014.<br />
22<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
Ant Assemblages (Hymenoptera: Formicidae) associated to environments of a rural property in the extreme western region of the state of Santa Catarina<br />
MODEL, D.; ESSWEIN, D.; GALLINA, L. S.; TEO, C. R. P. A.; NOTHAFT, S. C. S.; BUSATO, M. A. Ambiente e alimentação<br />
saudável: percepções e práticas de agricultores familiares. Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, v. 10, n. 21,<br />
p. 142-158, 2015.<br />
NICKELE, M. A.; REIS FILHO, W.; PIE, M. R.; PENTEADO, S. R. C. Daily Foraging Activity of Acromyrmex (Hymenoptera:<br />
Formicidae) Leaf-cutting Ants. Sociobiology, v. 63, n. 1, p. 645-650, 2016.<br />
PÉREZ-SÁNCHEZ, A. J.; LATTKE, J. E.; VILORIA, A. L. Patterns of Ant (Hymenoptera: Formicidae) Richness and Relative<br />
Abundance along an Aridity Gradient in Western Venezuela. Neotropical Entomology, v. 42, p. 128-136, 2013.<br />
RAMOS, A. M.; SANTOS, L. A. R.; FORTES, L. T. G. (Orgs.). Normais climatológicas do Brasil 1961-1990: edição revisada<br />
e ampliada. Brasília: INMET, 2009. 465 p.<br />
ROCHA, W. O.; DORVAL, A; PERES FILHO, O.; VAEZ, C. A.; RIBEIRO, E. S. Formigas (Hymenoptera: Formicidae) Bioindicadoras<br />
de Degradação Ambiental em Poxoréu, Mato Grosso, Brasil. Floresta e Ambiente, v.22, n. 1, p. 88-98, 2015.<br />
SILVESTRE, R.; BRANDÃO, C. R. F.; SILVA, R. R. Grupos funcionales de hormigas: el caso de los gremios del cerrado.<br />
In: FERNÁNDEZ, F. (Ed.). Introducción a las hormigas de la región neotropical. Bogotá, Colombia: Instituto de<br />
Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, 2003. p. 133-148.<br />
TANENTZAP, A.; LAMB, A.; WALKER, S.; FARMER, A. Resolving Conflicts between Agriculture and the Natural Environment.<br />
PLoS Biology, v. 13, n. 9, p. 1-13, 2015.<br />
ULYSSÉA, M. A.; CERETO, C. E.; ROSUMEK, F. B.; SILVA, R. R.; LOPES, B. C. Updated list of ant species (Hymenoptera,<br />
Formicidae) recorded in Santa Catarina State, southern Brazil, with a discussion of research advances and priorities.<br />
Revista Brasileira de Entomologia, v. 55, n. 4, p. 603-611, 2011.<br />
WIELGOSS, A.; TSCHARNTKE, T.; RUMEDE, A.; FIALA, B.; SEIDEL, H.; SHAHABUDDIN, S.; CLOUGH, Y. Interaction complexity<br />
matters: disentangling services and disservices of ant communities driving yield in tropical agroecosystems. Proceeding<br />
of Royal Society B, v. 281, n. 1775, p. 1-10, 2013.<br />
WILD, A. L. Taxonomic revision of the ant genus Linepithema (Hymenoptera: Formicidae). California: University of<br />
California Publications in Entomology, 2007. v. 126. 159 p.<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
23<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 12-23
DOI: 10.5327/Z2176-947820180191<br />
PLANEJAMENTO E OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO POR OZONIZAÇÃO<br />
DA ÁGUA DE LAVAGEM DA BORRA OLEOSA DO REFINO DO PETRÓLEO<br />
PLANNING AND OPTIMIZING THE TREATMENT OF WASHING<br />
WATER OF OILY SLUDGE FROM OIL REFINING BY OZONATION<br />
Mateus Chaves<br />
Almeida de Oliveira<br />
Mestre em Engenharia, Heriot-Watt<br />
University – Edimburgo, Escócia,<br />
Reino Unido.<br />
Jessica Moreira<br />
Mestranda em Engenharia<br />
Química, Universidade Federal<br />
de Minas Gerais (UFMG) – Belo<br />
Horizonte (MG), Brasil.<br />
Fabiano Luiz Naves<br />
Professor do Departamento de<br />
Engenharia Química, Universidade<br />
Federal de São João del-Rei (UFSJ) –<br />
Ouro Branco (MG), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Mateus Chaves Almeida de Oliveira –<br />
Departamento de Engenharia<br />
Química e Estatística – Universidade<br />
Federal de São João del- Rei –<br />
Rodovia MG 443/Km 7 – Fazenda do<br />
Cadete – Campus Alto Paraopeba –<br />
Caixa Postal 131 – CEP 36420-000 –<br />
Ouro Branco (MG), Brasil –<br />
E-mail: mateus.chaves@yahoo.com.br<br />
Recebido: 02/10/2016<br />
Aceito: 05/04/2018<br />
RESUMO<br />
O resíduo mais amplo do refino do petróleo é a borra oleosa, que pode ser<br />
lavada para se tornar um combustível, enquanto a água ácida é conduzida<br />
para tratamento convencional. Porém, muitos componentes tóxicos estão<br />
nesse resíduo, destacando a necessidade de tratamentos mais rigorosos.<br />
Assim, este estudo utilizou e otimizou a ozonização (maximizando a redução<br />
de demanda química de oxigênio e minimizando o custo) para o tratamento.<br />
Nesse processo, a água usada para lavar a borra foi submetida ao contato<br />
prolongado com ozônio em um reator. Por meio da aplicação de design<br />
of experiments e metodologia de superfície de resposta, modelos foram<br />
gerados para a redução da demanda química de oxigênio e do custo. Normal<br />
boundary intersection otimizou os modelos. Minitab gerou e desenvolveu os<br />
modelos. O estado ideal para a redução da demanda química de oxigênio foi<br />
de 51,1% e R$ 151,5.kW -1 .h -1 para o custo nas condições operacionais de pH,<br />
% de potência e tempo iguais a 7; 61,5%; e 45 minutos, respectivamente.<br />
Palavras-chave: tratamento de efluentes; oxidação avançada; design of<br />
experiments.<br />
ABSTRACT<br />
The amplest residue from oil refining is the oily sludge, which can be washed<br />
to become a fuel; while the acid water is driven to conventional wastewater<br />
treatment. Nevertheless, many toxic components are present in this water,<br />
highlighting the necessity of more strict treatments. So, this study used and<br />
optimized ozonation (maximizing the chemical oxygen demand reduction<br />
and minimizing the cost) to treat this acidic water. In this process, the acid<br />
water was under long contact with ozone in a reactor. By applying design<br />
of experiments tools and the response surface methodology, models were<br />
generated for the reduction of chemical oxygen demand and cost. Normal<br />
boundary intersection optimized the models. The software Minitab generated<br />
and developed the models. The optimal state for chemical oxygen demand<br />
reduction was 51.1% and R$ 151.5.kW -1 .h -1 for the cost at the operational<br />
conditions of pH, potency percentage and time equal to 7; 61.5%; and<br />
45 minutes, respectively.<br />
Keywords: wastewater treatment; advanced oxidation; design of experiments.<br />
24<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Planejamento e otimização do tratamento por ozonização da água de lavagem da borra oleosa do refino do petróleo<br />
A água possui diversas características que a fazem única,<br />
sendo a espécie química mais abundante na Terra.<br />
Porém, tão importante quanto a quantidade de água<br />
disponível é sua qualidade que, devido ao seu uso<br />
indiscriminado, tem sido reduzida. Por meio do ciclo<br />
hidrológico e da autodepuração dos cursos naturais,<br />
a água é renovável. Porém, ao ser exageradamente<br />
contaminada em seus mananciais, ela deve passar por<br />
processos de tratamento para se tornar potável, sendo<br />
essa a melhor estratégia para o controle da poluição<br />
(PAL et al., 2014; LU et al., 2015).<br />
O tratamento da água pode ser desenvolvido de forma<br />
convencional, por meio da remoção de partículas suspensas<br />
e coloidais, matéria orgânica e micro-organismos<br />
por gradeamento, coagulação, floculação, decantação,<br />
filtração, correção de pH e desinfecção. Porém, muitos<br />
compostos solúveis em água são resistentes à biodegradação.<br />
Assim, o tratamento avançado é uma alternativa<br />
para eliminação de tais compostos. Nesse tipo de tratamento<br />
ocorre degradação ou remoção de substâncias<br />
mais específicas por nanofiltração, adsorção, osmose<br />
reversa, luz ultravioleta e/ou ozonização (CESAN, 2011;<br />
BERNARDO & DANTAS, 2005). A escolha entre os tipos<br />
de tratamento depende do grau de poluição da água e<br />
do investimento disponível para potabilizá-la.<br />
Entre todas as técnicas existentes para o tratamento<br />
avançado, a ozonização surge como uma das principais<br />
alternativas devido à sua capacidade em mineralizar<br />
compostos orgânicos complexos, ótima eficiência e viabilidade<br />
econômica (SANTOS et al., 2016; NUVOLARI,<br />
2011; DRINAN, 2001). Muñoz e Orta (2012) mostraram<br />
que a ozonização alcançou redução de 85% da cor, 63%<br />
da turbidez e 71% da demanda química de oxigênio<br />
(DQO) do esgoto da Cidade do México. Tal capacidade<br />
de degradação se deve ao fato de que o ozônio é o segundo<br />
oxidante mais poderoso (potencial de oxidação<br />
— Eo = 2,08 V). É um gás incolor e instável em solução<br />
aquosa (CREMASCO & MOCHI, 2014), características<br />
que favorecem sua geração in situ (COELHO, 2015a;<br />
COELHO, 2015b; ALENCAR, 2013), por meio da passagem<br />
de oxigênio por eletrodos submetidos a elevada<br />
diferença de potencial (efeito corona). A otimização econômica<br />
do processo de geração é alcançada pela aplicação<br />
simultânea de baixa diferença de potencial associada<br />
à alta frequência da corrente elétrica — a maioria dos<br />
geradores comerciais opera em frequências entre 60 e<br />
INTRODUÇÃO<br />
1.000 Hz (NUVOLARI, 2011; DRINAN, 2001; HASSEMER,<br />
2000). O ozônio em soluções básicas leva à formação<br />
de radicais hidroxila, cujo potencial de oxidação é ainda<br />
mais elevado (Eo = 3,06 V), sendo mais efetivos na degradação<br />
(MASTEN & DAVIES, 1994). Dessa maneira, a<br />
oxidação de compostos orgânicos e inorgânicos durante<br />
a ozonização pode ocorrer via radical hidroxila (reação<br />
indireta, predominante em meio alcalino) ou via ozônio<br />
molecular (reação direta, predominante em meio ácido),<br />
embora na prática haja contribuição dos dois mecanismos<br />
(TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003).<br />
Santos (2011) mostrou que o pH e o tempo são os fatores<br />
que mais influenciam nesse processo.<br />
A ozonização pode ser aplicada a diversos resíduos,<br />
principalmente industriais. Nas indústrias petroquímicas<br />
e de oleaginosas, a borra oleosa — resíduo sólido<br />
perigoso, classe I, que não pode ser descartado<br />
sem tratamento prévio (ABNT, 2004; JIN et al., 2014;<br />
OMM-E-HANY, 2015; EGAZAR’YANTS et al., 2015) —,<br />
uma emulsão orgânica e inorgânica de alto poder calorífico,<br />
com compostos tóxicos, metais (MOREIRA,<br />
2013), óleos e micro-organismos (ANNUAL GENERAL<br />
MEETING OF BIOMINET, 1991; SHIE et al., 2000; ZHU<br />
et al., 2014) é o resíduo mais abundante e tem desafiado<br />
diversos tipos de tratamento, apresentando componentes<br />
recalcitrantes a tratamentos convencionais<br />
(HU; LI; ZENG, 2013; MINAI-TEHRANI; ROHANIFAR;<br />
AZAMI, 2015). Diferentes tipos de tratamentos foram<br />
sugeridos: Shahi et al. (2016), Rienzo, Urdaneta e Dorta<br />
(2014), Silva et al. (2014), e Gragouri et al. (2014) apresentaram<br />
o uso de biosurfactantes; Atagana (2015)<br />
apresentou o uso de surfactantes comerciais; da Souza<br />
et al. (2013), o uso de vinhaça da cana-de-açúcar<br />
para o tratamento por despejo no solo; Mansur et al.<br />
(2014) e Cerqueira et al. (2014), o uso de bactérias extraídas<br />
de diversos resíduos; e Quadros et al. (2016), a<br />
borra como estimulante para plantações, porém com<br />
ressalvas de contaminação. Outros trabalhos também<br />
sugerem potenciais soluções para esse problema<br />
(THANGALAZHY-GOPAKUMAR et al., 2015; PRAKASH<br />
et al., 2015; VIANA et al., 2015; RADFARNIA; KHULBE;<br />
LITTLE, 2015; GUOLIN; TINGTING; MINGMING, 2016;<br />
HU; LI; HOU, 2015; LI; CHAMPAGNE; ANDERSON, 2015).<br />
A borra oleosa traz dificuldades até para as aplicações<br />
rústicas, como seu uso em fornos rotativos de clínquer<br />
na indústria de cimento para reduzir os custos de pro-<br />
25<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Oliveira, M.C.A.; Moreira, J.; Naves, F.L.<br />
dução relacionados ao gasto energético. Nesse caso,<br />
ela levou à corrosão do forno (ARAÚJO, 1992). Como<br />
solução, Pécora (2004) propôs lavar a borra ácida com<br />
água, neutralizá-la e desidratá-la, separando um combustível<br />
de alto poder calorífico e destinando a água<br />
gerada ao tratamento convencional (PÉCORA, 2004).<br />
Entretanto, muitos compostos perigosos, cancerígenos<br />
e tóxicos se solubilizam na água, mostrando a necessidade<br />
de um tratamento mais rigoroso do que aquele<br />
normalmente realizado nas estações de tratamento de<br />
esgoto convencionais (SILVA, 2005).<br />
Dessa forma, seguindo as indicações de Hu, Li e Zeng<br />
(2013) e Pécora (2004), este trabalho estudou o tratamento<br />
por oxonização da água ácida derivada da lavagem<br />
da borra oleosa proveniente do processo de refino<br />
do petróleo (HUANG et al., 2015) por meio do design<br />
of experiments.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Preparo da água ácida e planejamento experimental<br />
Uma amostra de 300 mL de borra ácida, obtida de uma<br />
empresa localizada em Minas Gerais, foi solubilizada<br />
com água destilada para um volume total de 20 L, filtrada<br />
com papel-filtro (Quanty, 25 µm) e novamente foi<br />
feito esse processo para um volume final de 50 L (água<br />
ácida). Então, a metodologia de superfície de resposta<br />
(MSR) com o planejamento composto central (PCC) foi<br />
utilizada para fazer o planejamento experimental ajustando<br />
três parâmetros a dois níveis, seis pontos axiais<br />
e seis pontos centrais, em um total de 20 experimentos.<br />
Os fundamentos e aplicações dessa metodologia<br />
são amplamente discutidos por Myers, Montgomery<br />
e Anderson-Cook (2009). As variáveis avaliadas para<br />
a água ácida, conforme indicações de estudos prévios<br />
(PÉCORA, 2004; HU; LI; ZENG, 2013), foram: pH do<br />
efluente (x 1<br />
), potência do ozonizador (x 2<br />
) e tempo de<br />
reação (x 3<br />
), variando de 0,95 a 11; 66 a 220 W e de 20<br />
a 70 minutos, respectivamente. A ordem e as condições<br />
dos experimentos foram determinadas por meio<br />
do software de estatística Minitab, conforme as metodologias<br />
citadas. A Tabela 1, na seção Resultados e<br />
Discussão, apresenta a condição para os experimentos.<br />
Tratamento por ozonização<br />
Durante os experimentos, 800 mL da água ácida foram<br />
introduzidos em um reator cilíndrico de vidro (diâmetro<br />
interno = 8,0 cm, altura = 32,0 cm), após a lavagem<br />
do mesmo com água destilada. Então, soluções de hidróxido<br />
de sódio (99%) (0,2 mol.L -1 ) e ácido sulfúrico<br />
(98%) (0,2 mol.L -1 ) foram usadas para ajustar o pH da<br />
solução de trabalho para o valor estabelecido pelo planejamento<br />
experimental. O pHmetro (Hanna, pH 21)<br />
foi usado para o controle dessa variável.<br />
Caracterização dos parâmetros e otimização<br />
A caracterização da água tratada foi realizada pelo método<br />
de DQO, em que 0,04 g de sulfato de mercúrio<br />
(98%), 2,5 mL de sulfato ácido de prata (98%), 0,5 mL<br />
de dicromato de potássio (100%) (1 mol.L -1 ), 0,3 mL de<br />
O reator descrito anteriormente foi conectado ao ozonizador<br />
projetado e construído no Laboratório de Engenharia<br />
Química do Campus Alto Paraopeba da Universidade<br />
Federal de São João del-Rei. Este permite a<br />
regulagem da porcentagem de potência, que é diretamente<br />
proporcional à energia fornecida ao sistema<br />
(em que o máximo corresponde a 220,0 W), e vazão<br />
volumétrica de ar, que foi mantida em 6 L.min -1 durante<br />
o experimento, por meio da conexão do reator com um<br />
compressor de ar trabalhando à pressão de 1,5 kg.cm -2 .<br />
Seu princípio de geração de ozônio baseia-se no método<br />
de descarga elétrica por efeito corona.<br />
Então, duas amostras de 10 mL foram coletadas e o<br />
processo de ozonização foi iniciado, tomando-se uso<br />
das soluções ácido e base citadas anteriormente para<br />
manter o pH constante. Após o tempo de ozonização<br />
determinado pelo planejamento experimental, o processo<br />
foi interrompido e duas amostras de 10 mL foram<br />
coletadas.<br />
água destilada e 2,0 mL de amostra de água ácida foram<br />
adicionados a um tubo hermeticamente fechado. A solução<br />
formada foi agitada e levada à digestão em um<br />
termorreator de DQO (Solar, SL 25/16) a 150°C durante<br />
26<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Planejamento e otimização do tratamento por ozonização da água de lavagem da borra oleosa do refino do petróleo<br />
2 horas. Então, os tubos foram deixados à temperatura<br />
ambiente para serem resfriados. Por fim, a absorbância<br />
das amostras foi medida no espectrofotômetro<br />
(Micronal, AJX-1600), em comprimento de onda igual a<br />
620 nm. Para quantificar a DQO, uma curva padrão de<br />
bifitalato de potássio (1.440 mg.L -1 ) a 620 nm foi desenvolvida<br />
pelo método do refluxo fechado para o espectrofotômetro<br />
em uso. A Equação 1 mostra essa correlação.<br />
O custo para o tratamento foi calculado com base na<br />
estimativa do valor energético da produção de ozônio<br />
pelo efeito corona. Os custos de filtração e neturalização<br />
foram desconsiderados por serem muito menores<br />
do que os energéticos. A base para o cálculo foi: vazão<br />
de 3.000 ⎛ L.h -1 de efluente e custo de energia elétrica de<br />
R$ DQO= 0,51.kW ABS+0,0155 ⎞<br />
⎜ -1 .h -1 . A Equação ⎟ 2 apresenta essa relação.<br />
⎝ 0,0003 ⎠<br />
DQO=<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
ABS+0,0155<br />
0,0003<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎠<br />
(1)<br />
C=<br />
48000x 2<br />
6,022x10 23 V<br />
(2)<br />
48000x<br />
Em C= que: 2<br />
DQO =<br />
6,022x10<br />
demanda 23 V<br />
química de oxigênio;<br />
ABS = absorbância no respectivo comprimento de onda.<br />
Em Y 1<br />
=50,4732+3,4040x que:<br />
1<br />
-1,3156x 2<br />
-4,7342x 2 1 -5,7395x2 2<br />
C - 7,9178x = custo; 2 -4,5024x x -1,1848x x +4,9763x x 3 1 2 1 3 2 3<br />
x 2<br />
= potência;<br />
V Y 2 = =151,614+51,338x vazão do equipamento.<br />
2<br />
+50,302x 3<br />
+3,521x 2 +16,830x x 2 2 3<br />
Y 1<br />
=50,4732+3,4040x Tabela 1 – Planejamento 1<br />
-1,3156x experimental 2<br />
-4,7342x 2 1feito -5,7395x2 pelo<br />
2Minitab usando a metodologia de superfície de resposta, com valores<br />
- codificados 7,9178x 2 -4,5024x apresentados x -1,1848x x +4,9763x x 3 1 2<br />
em parênteses<br />
1 3<br />
e resultados<br />
2 3<br />
experimentais para redução de demanda química de oxigênio e custo.<br />
Y 2<br />
=151,614+51,338x 2<br />
+50,302x 3<br />
+3,521x Potência<br />
2 +16,830x x Tempo Redução de demanda<br />
Custo<br />
Experimento pH<br />
2 2 3<br />
(W) (minutos) química de oxigênio (%) (R$.kW -1 .h -1 )<br />
1 3,0 (-1) 88 (-1) 30 (-1) 27,39 67,32<br />
2 9,0 (+1) 88 (-1) 30 (-1) 52,04 67,32<br />
3 3,0 (-1) 176 (+1) 30 (-1) 23,60 134,64<br />
4 9,0 (+1) 176 (+1) 30 (-1) 24,55 134,64<br />
5 3,0 (-1) 88 (-1) 60 (+1) 22,65 134,64<br />
6 9,0 (+1) 88 (-1) 60 (+1) 36,87 134,64<br />
7 3,0 (-1) 176 (+1) 60 (+1) 33,08 269,28<br />
8 9,0 (+1) 176 (+1) 60 (+1) 34,98 269,28<br />
9 1,0 (-1,68) 132 (0) 45 (0) 35,92 151,47<br />
10 11,0 (+1,68) 132 (0) 45 (0) 38,77 151,47<br />
11 6,0 (0) 66 (-1) 45 (0) 33,08 75,735<br />
12 6,0 (0) 220 (+1,68) 45 (0) 35,92 252,45<br />
13 6,0 (0) 132 (0) 20 (-1,68) 28,34 67,32<br />
14 6,0 (0) 132 (0) 70 (+1,68) 28,34 235,62<br />
15 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 57,73 151,47<br />
16 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 55,83 151,47<br />
17 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 50,14 151,47<br />
18 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 45,40 151,47<br />
19 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 43,51 151,47<br />
20 6,0 (0) 132 (0) 45 (0) 50,14 151,47<br />
Coef: coeficiente na equação; SE Coef: coeficiente do parâmetro; T, P, S: parâmetros estatísticos; R-Sq: coeficiente de determinação; r-Sq(pred):<br />
coeficiente de determinação para predição; R-Sq(adj): coeficiente de determinação ajustado.<br />
27<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Oliveira, M.C.A.; Moreira, J.; Naves, F.L.<br />
Os resultados obtidos foram então tratados de acordo com<br />
a MSR e com o PCC por meio do software de estatística<br />
Minitab. O método de otimização normal boundary intersection<br />
(NBI — interseção normal da fronteira), proposto<br />
por Das e Dennis (1998), foi utilizado com o software Excel<br />
para determinar os pontos ótimos dos modelos gerados.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Os resultados em termos de redução de DQO e custo para cada experimento estão detalhados na Tabela 1.<br />
Construção dos modelos<br />
Por meio do software Minitab e dos fundamentos explanados<br />
por Myers, Montgomery e Anderson-Cook (2009),<br />
os coeficientes relativos às variáveis analisadas para redução<br />
de DQO e custo do tratamento foram determinados<br />
pela MSR e análise de variância (ANOVA) e são mostrados<br />
na Figura 1 (os valores significativos foram destacados).<br />
Os valores de p para os modelos estão abaixo do valor<br />
crítico (0,05) e para a falta de ajuste, acima desse índice,<br />
mostrando a validade dos dados conforme parâmetros<br />
estatísticos apresentados para a ANOVA e usados<br />
por diferentes pesquisadores (LI; SARMA; ZHANG,<br />
2011; OMAR & AMIN, 2011; RASTEGAR et al., 2011).<br />
Na redução de DQO, o pH apresentou significância linear<br />
(coeficiente 3,4040). O valor desse coeficiente,<br />
por ser maior que zero, indica que à medida que o pH<br />
se desloca para valores codificados positivos (maior<br />
pH, solução básica), maior a redução de DQO segundo<br />
o modelo. Conforme mostrado por Masten e Davis<br />
(1994), o radical hidroxila é gerado pelo ozônio em<br />
meios básicos e responsável pela oxidação. Como possui<br />
maior potencial de oxidação, espera-se que a redução<br />
de DQO aumente, conforme apontado pelo modelo.<br />
Em compostos com ligações pi entre carbonos e<br />
átomos eletrofílicos, o ataque pelo ozônio molecular é<br />
favoravelmente atribuído por ser mais simples. Porém,<br />
o ataque eletrofílico pelos íons hidroxila não é seletivo,<br />
sendo cem vezes mais rápido e potente do que agentes<br />
oxidantes tradicionais (TCHOBANOGLOUS; BURTON;<br />
STENSEL, 2003; MASTEN & DAVIES, 1994).<br />
Tempo e potência não foram linearmente significativos<br />
no modelo de redução de DQO, pois as faixas de trabalho<br />
dessas variáveis não foram amplas o suficiente<br />
para estabelecer tal relação. Lopes (2015) também encontrou<br />
tal resultado ao trabalhar com o mesmo ozonizador.<br />
Concomitantemente, as relações quadráticas de<br />
tempo e potência foram significativas. Portanto, conforme<br />
Montgomery (2006), todas as relações foram mantidas<br />
para o modelo, que está representado na Equação<br />
3, com R 2 = 0,765. Erros aceitáveis são esperados entre<br />
os resultados do modelo e dos experimentos.<br />
Coeficientes de regressão para o custo Coeficientes de regressão estimados para a redução de DQO<br />
Term Coef SE Coef T P Term Coef SE Coef T P<br />
Constante 151,614 1,1404 132,948 0,000 Constant 50,4732 2,162 23,349 0,000<br />
pH 0,000 0,7566 0,000 1,000 pH 3,4040 1,434 2,373 0,039<br />
Potência 51,338 0,7566 67,851 0,000 Potência -1,3156 1,434 -0,917 0,381<br />
Tempo 50,302 0,7566 66,482 0,000 Tempo -0,0000 1,434 -0,000 1,000<br />
pH*pH -0,942 0,7366 -1,279 0,230 pH*pH -4,7342 1,396 -3,391 0,007<br />
Potência*potência 3,521 0,7366 4,780 0,001 Potência*potência -5,7395 1,396 -4,111 0,002<br />
Tempo*tempo -0,942 0,7366 -1,279 0,230 Tempo*tempo -7,9178 1,396 -5,671 0,000<br />
pH*potência 0,000 0,9886 0,000 1,000 pH*potência -4,5024 1,874 -2,403 0,037<br />
pH*tempo -0,000 0,9886 -0,000 1,000 pH*tempo -1,1848 1,874 -0,632 0,541<br />
Potência*tempo 16,830 0,9886 17,024 0,000 Potência*tempo 4,9763 1,874 2,656 0,024<br />
S = 2,79614 PRESS = 590,763 S = 5,30011 PRESS = 1200,46<br />
R-Sq = 99,89% R-Sq(pred) = 99,19% R-Sq(adj) = 99,80% R-Sq = 87,65% R-Sq(pred) = 47,23% R-Sq(adj) = 76,54%<br />
Figura 1 – Relatório obtido pelo software Minitab com os coeficientes de regressão e seus respectivos valores<br />
de p para a redução de demanda química de oxigênio e para o custo conforme a metodologia de superfície de resposta.<br />
28<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
DQO=<br />
⎜<br />
⎝<br />
0,0003<br />
⎟<br />
⎠<br />
C=<br />
48000x 2<br />
6,022x10 23 V<br />
C=<br />
48000x<br />
Planejamento 2<br />
e otimização do tratamento por ozonização da água de lavagem da borra oleosa do refino do petróleo<br />
6,022x10 23 V<br />
Y 1<br />
=50,4732+3,4040x 1<br />
-1,3156x 2<br />
-4,7342x 2 1 -5,7395x2 2<br />
- 7,9178x 2 -4,5024x x -1,1848x x +4,9763x x 3 1 2 1 3 2 3<br />
Y 1<br />
=50,4732+3,4040x 1<br />
-1,3156x 2<br />
-4,7342x 2 1 -5,7395x2 2<br />
- 7,9178x 2 3 -4,5024x 1 x 2 -1,1848x 1 x 3 +4,9763x 2 x 3<br />
Y 2<br />
=151,614+51,338x 2<br />
+50,302x 3<br />
+3,521x 2 +16,830x x 2 2 3<br />
Em que:<br />
Y 1<br />
= redução da demanda química de oxigênio;<br />
x 1<br />
= pH;<br />
x 2<br />
= % de potência;<br />
x 3<br />
= tempo.<br />
(3)<br />
No custo, todas as relações do pH não foram significativas,<br />
ao contrário de potência e tempo, conforme esperado,<br />
uma vez que o custo foi estimado pela Equação 2, que não<br />
leva em conta os gastos com o controle de pH. Os coeficientes<br />
gerados são positivos para todos os parâmetros<br />
significativos, indicando que qualquer aumento de potência<br />
ou tempo eleva o custo total do processo. O modelo é<br />
mostrado na Equação 4, com R 2 = 0,998. Erros insignificantes<br />
são esperados entre modelo e experimento.<br />
Otimização<br />
O método de otimização NBI, proposto por Das e Dennis<br />
(1998), foi utilizado com o software Excel para determinar<br />
os pontos ótimos dos modelos gerados. Esse método criou<br />
uma curva que relaciona pontos ótimos dos dois modelos<br />
Y 2<br />
=151,614+51,338x 2<br />
+50,302x 3<br />
+3,521x 2 +16,830x x 2 2 3(4)<br />
Em que:<br />
Y 2<br />
= custo;<br />
x 2<br />
= % de potência;<br />
x 3<br />
= tempo.<br />
As superfícies de resposta foram geradas pelo Minitab<br />
e são mostradas na Figura 2.<br />
Pela análise da Figura 2, é possível notar a estreita<br />
relação da redução de DQO com o pH e do custo<br />
com o tempo e a potência. Essas relações são<br />
fundamentadas conforme a discussão apresentada<br />
anteriormente e vão de encontro aos resultados<br />
já obtidos por outros pesquisadores sob as<br />
mesmas condições (LOPES, 2015; MONTGOMERY,<br />
2006; TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003;<br />
MASTEN & DAVIES, 1994).<br />
analisados, também chamada de fronteira de Pareto. A partir<br />
dessa curva, um ponto ótimo foi selecionado para teste.<br />
A Figura 3 apresenta a seção da fronteira de Pareto para os<br />
dois modelos que contêm o ponto ótimo selecionado.<br />
A<br />
B<br />
Demanda química de oxigênio<br />
45<br />
30<br />
15<br />
0<br />
-2<br />
-1<br />
pH<br />
0<br />
1<br />
-2<br />
-1<br />
0<br />
1<br />
Potência<br />
Custo (R$)<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
-2 -1<br />
Tempo<br />
0 1<br />
-2<br />
-1<br />
0<br />
1<br />
Potência<br />
Figura 2 – Superfícies de resposta obtidas pelo Minitab mostrando o efeito (A) da potência do ozonizador e do pH do efluente<br />
sobre a redução de demanda química de oxigênio; (B) da potência do ozonizador e do tempo de reação sobre o custo.<br />
29<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Oliveira, M.C.A.; Moreira, J.; Naves, F.L.<br />
Entre as condições ótimas, aquela com redução de<br />
DQO de 51,1% e custo de R$ 151,5.kW -1 .h -1 foi selecionada<br />
para teste. Esse ponto corresponde às condições<br />
experimentais de pH, potência e tempo iguais a 7,0<br />
(0,35); 61,5% (-0,001) e 45 minutos (0,001), respectivamente,<br />
com valores codificados entre parênteses.<br />
Custo (R$.kW -1 ) para tratar 3.000 L.h -1<br />
153,0<br />
152,8<br />
152,6<br />
152,4<br />
152,2<br />
152,0<br />
151,8<br />
151,6<br />
51,1;151,5<br />
151,4<br />
51,06 51,07 51,07 51,08 51,08 51,09<br />
Redução da demanda química de oxigênio (%)<br />
Figura 3 – Seção da fronteira de Pareto e melhor condição para menor custo e maior redução de demanda química de oxigênio.<br />
A<br />
Potência<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
-0,5<br />
pH = 0,354570<br />
Potência = -0,000139704<br />
DQO = 51,0854<br />
DQO<br />
< 10<br />
10 – 20<br />
20 – 30<br />
30 – 40<br />
40 – 50<br />
> 50<br />
Potência<br />
B<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
-0,5<br />
tempo = 0,00125765<br />
Potência = -0,000139704<br />
Custo = 151,670<br />
Custo (R$)<br />
< 50<br />
50 – 100<br />
100 – 150<br />
150 – 200<br />
200 – 250<br />
250 – 300<br />
300 – 350<br />
> 350<br />
-1,0<br />
-1,0<br />
-1,5<br />
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5<br />
pH<br />
-1,5<br />
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5<br />
tempo<br />
DQO: demanda química de oxigênio.<br />
Figura 4 – Gráfico da curva de contorno gerado pelo software Minitab com o ponto ótimo<br />
dentro das regiões de análise para (A) redução de demanda química de oxigênio e (B) custo.<br />
30<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Planejamento e otimização do tratamento por ozonização da água de lavagem da borra oleosa do refino do petróleo<br />
O ponto com as condições ótimas pode ser melhor<br />
verificado quando plotado sobre curvas de contorno.<br />
A Figura 4 mostra essa representação.<br />
Na Figura 4, observa-se que apesar da redução de DQO<br />
estar dentro de sua curva de ótimo, o preço não está.<br />
Mostrando que, além da dependência com as três<br />
variáveis selecionadas para modelar o problema (pH,<br />
tempo e potência), as duas variáveis dependentes (redução<br />
de DQO e custo) são subordinadas entre si.<br />
Finalmente, a condição ótima selecionada foi testada<br />
experimentalmente e o resultado obtido foi a redução<br />
de 51,0% de DQO (0,17% de erro ante o modelo) e<br />
custo de R$ 151,67.kW -1 .h -1 (sem erro ante o modelo).<br />
Mostrando, assim, a validade do modelo representado<br />
pelas Equações 3 e 4.<br />
O Projeto e Análise de Experimentos (DOE) por meio do<br />
PCC e da MSR aplicados a um procedimento experimental<br />
possibilitou encontrar um modelo de redução de DQO e<br />
custo no tratamento da água ácida proveniente da borra<br />
oleosa do petróleo. Então, a otimização multiobjetiva de<br />
NBI foi utilizada em ambos os modelos. Destacando-se que<br />
o metamodelo obtido contempla duas respostas de difícil<br />
otimização simultânea por métodos empíricos.<br />
Nas condições estudadas, foi possível observar que valores<br />
de pH básicos favorecem mais a degradação do que<br />
valores ácidos de pH, uma vez que aumentam o potencial<br />
de oxidação por favorecerem a geração de íons hidroxila,<br />
confirmando estudos prévios sobre o tema. A potência<br />
e o tempo tiveram efeitos significantes sobre o custo,<br />
conforme já era esperado, uma vez que a análise desse<br />
parâmetro se reduziu ao processo de geração do ozônio.<br />
CONCLUSÕES<br />
O modelo gerado foi testado e validado no ponto<br />
ótimo testado, apresentando erros pequenos.<br />
Dessa forma, esses modelos (Equações 3 e 4) são<br />
uma contribuição direta do presente trabalho para<br />
futuras pesquisas e para a indústria de tratamento<br />
de efluentes. Porém, alguns parâmetros estatisticamente<br />
não significativos foram acrescidos ao modelo<br />
de redução de DQO, a saber, tempo e potência.<br />
Acredita-se que as faixas de trabalho dessas variáveis<br />
influenciaram a análise de variância. Portanto,<br />
sugere-se que faixas de tempo e potência mais<br />
amplas sejam futuramente avaliadas nos métodos<br />
do presente trabalho. De forma a complementar<br />
os resultados aqui apresentados, trabalhos futuros<br />
podem ser realizados com o objetivo de estudar a<br />
cinética da decomposição exposta e determinar um<br />
modelo cinético com as variáveis propostas.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALENCAR, E.R.; FARONI, L.R.D.; PINTO, M.S.; COSTA, A.R.; SILVA, T.A. Postharvest quality of ozonized “nanicão” cv. Bananas.<br />
Revista Ciência Agronômica, v. 44, n. 1, p. 107-114, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-66902013000100014<br />
ANNUAL GENERAL MEETING OF BIOMINET, 8., 1991, Calgary. Proceedings... Calgary, 1991.<br />
ARAÚJO, M.A.S. Rerrefino de óleos usados. Rio de Janeiro: Conpet, 1992.<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10004: Resíduos Sólidos: Classificação. São Paulo:<br />
ABNT, 2004.<br />
ATAGANA, H.I. Biological degradation of crude oil refinery sludge with commercial surfactant and sewage sludge by<br />
co-composting. Soil & Sediment Contamination, v. 24, n. 5, p. 494-513, 2015. DOI: 10.1080/15320383.2015.985375<br />
BERNARDO, L.; DANTAS, A. Métodos e técnicas de tratamento de água. 2. ed. São Carlos: Rima, 2005. v.1.<br />
CERQUEIRA, V.S.; PERALBA, M.C.R.; CAMARGO, F.A.O.; BENTO, F.M. Comparison of bioremediation strategies for soil<br />
impacted with petrochemical oily sludge. International Biodeterioration & Biodegradation, v. 95, n. 2, p. 338-345,<br />
2014. https://doi.org/10.1016/j.ibiod.2014.08.015<br />
31<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Oliveira, M.C.A.; Moreira, J.; Naves, F.L.<br />
COELHO, C.C.S.; FREITAS-SILVA, O.; ALCÂNTARA, I.; SILVA, J.P.L.; CABRA, L.M.C. Ozônio em morangos minimamente<br />
processados, uma alternativa ao uso do cloro na segurança de alimentos. Vigilância Sanitária em Debate, v. 3, n. 1,<br />
p. 61-66, 2015a. DOI: 10.3395/2317-269x.00437<br />
COELHO, C.C.S.; FREITAS-SILVA, O.; CAMPOS, R.S.; BEZERRA, V.S.; CABRAL, L.M.C. Ozonização como tecnologia póscolheita<br />
na conservação de frutas e hortaliças: uma revisão. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental, v. 19,<br />
n. 4, p. 369-375, 2015b. http://dx.doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v19n4p369-375<br />
COMPANHIA ESPÍRITO SANTENSE DE SANEAMENTO (CESAN). Tratamento de água. Belo Horizonte: Cesan, 2011.<br />
CREMASCO, M.A.; MOCHI, V.T. Reaction of dissolved ozone in hydrogen peroxide produced during ozonization of an<br />
alkaline medium in a bubble column. Acta Scientiarum. Technology, v. 36, n. 1, p. 1-85, 2014. http://dx.doi.org/10.4025/<br />
actascitechnol.v36i1.11834<br />
DAS, I.; DENNIS, J. Normal-boundary intersection: a new method for generating the pareto surface in nonlinear<br />
multicriteria optimization problems. SIAM Journal on Optimization, v. 8, n. 3, p. 631-657, 1998.<br />
DRINAN, J. Water and wastewater treatment: a guide for the nonengineering professional. Nova York: CRC Press, 2001.<br />
EGAZAR’YANTS, S.V.; VINOKUROV, V.A.; VUTOLKINA, A.V.; TALANOVA, M.Y.; FROLOV, V.I.; KARAKHANOV, E.A. Oil sludge treatment<br />
processes. Chemistry and Technology of Fuels and Oils, v. 51, n. 5, p. 506-515, 2015. https://doi.org/10.1007/s10553-015-0632-7<br />
GRAGOURI, B.; KARRAY, F.; MHIRI, N.; ALOUI, F.; SAYADI, S. Bioremediation of petroleum hydrocarbons-contaminated<br />
soil by bacterial consortium isolated from an industrial wastewater treatment plant. Journal of Chemical Technology &<br />
Biotechnology, v. 89, n. 7, p. 978-987, 2014. https://doi.org/10.1002/jctb.4188<br />
GUOLIN, J.; TINGTING, C.; MINGMING, L. Studying oily sludge treatment by thermos chemistry. Arabian Journal of<br />
Chemistry, v. 9, n. 1, p. S457-S460, 2016. https://doi.org/10.1016/j.arabjc.2011.06.007<br />
HASSEMER, M.E.N. Tratamento de efluente têxtil: processo físico-químico com ozônio e floculação em meio granular.<br />
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000.<br />
HU, G.; LI, J.; HOU, H. A combination of solvent extraction and freeze thaw for oil recovery from petroleum refinery<br />
wastewater treatment pond sludge. Journal of Hazardous Materials, v. 283, n. 1, p. 832-840, 2015. https://doi.<br />
org/10.1016/j.jhazmat.2014.10.028<br />
HU, G.; LI, J.; ZENG, G. Recent development in the treatment of oily sludge from petroleum industry: a review. Journal<br />
of Hazardous Materials, v. 261, n. 1, p. 470-490, 2013. https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2013.07.069<br />
HUANG, C.; SHI, Y.; GAMAL EL-DIN, M.; LIU, Y. Treatment of oil sands process-affected water (OSPW) using ozonation<br />
combined with integrated fixed-film activated sludge (IFAS). Water Research, v. 85, n. 1, p. 167-176, 2015. https://doi.<br />
org/10.1016/j.watres.2015.08.019<br />
JIN, Y.; ZHENG, X.; CHI, Y.; NI, M. Experimental study and assessment of different measurement methods of water in oil<br />
sludge. Drying Technology, v. 32, n. 3, p. 251-257, 2014. https://doi.org/10.1080/07373937.2013.811251<br />
LI, C.; CHAMPAGNE, P.; ANDERSON, B.C. Enhanced biogas production from anaerobic co-digestion of municipal<br />
wastewater treatment sludge and fat, oil and grease (FOG) by modified two-stage thermophilic digester system with<br />
selected thermos-chemical pre-treatment. Renewable Energy, v. 83, n. 1, p. 474-482, 2015. https://doi.org/10.1016/j.<br />
renene.2015.04.055<br />
LI, H.; SARMA, P.; ZHANG, D. A comparative study of the probabilistic-collocation and experimental-design<br />
methods for petroleum-reservoir uncertainty quantification. Society of Petroleum Engineers, 16, 2011. https://doi.<br />
org/10.2118/140738-PA<br />
32<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Planejamento e otimização do tratamento por ozonização da água de lavagem da borra oleosa do refino do petróleo<br />
LOPES, M.C. Análise e calibração de um ozonizador. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Universidade Federal<br />
de São João del-Rei, Ouro Branco, 2015.<br />
LU, Y.; SONG, S.; WANG, R.; LIU, Z.; MENG, J.; SWEETMAN, A.J.; JENKINS, A.; FERRIER, R.C.; LI, H.; LUO, W.; WANG, T.<br />
Impacts of soil and water pollution o food safety and health risks in China. Environmental International, v. 77, n. 1,<br />
p. 5-15, 2015. https://doi.org/10.1016/j.envint.2014.12.010<br />
MANSUR, A. A.; ADETUTU, E.M.; KADALI, K.K.; MORRISON, P.D.; NURULITA, Y.; BALL, A.S. Assessing the hydrocarbon<br />
degrading potential of indigenous bacteria isolated from crude oil tank bottom sludge and hydrocarbon-contaminated<br />
soil of Azzawiya oil refinery, Libya. Environmental Science & Pollution Research, v. 21, n. 18, p. 10725-10735, 2014.<br />
https://doi.org/10.1007/s11356-014-3018-1<br />
MASTEN, S.J.; DAVIES, S.H.R. The use of ozonation to degrade organic contaminants in waste water. Environmental<br />
Science & Technology, v. 28, n. 4, p. 180-185, 1994. DOI: 10.1021/es00053a001<br />
MINAI-TEHRANI, D.; ROHANIFAR, P.; AZAMI, S. Assessment of bioremediation of aliphatic, aromatic, resin, and<br />
asphaltenes fractions of oil-sludge-contaminated soil. International Journal of Environmental Science & Technology,<br />
v. 12, n. 4, p. 1253-1260, 2015. DOI: 10.1007/s13762-014-0720-y<br />
MONTGOMERY, D.C. Design and analysis of experiments. Wiley: Hoboken, 2006.<br />
MOREIRA, I.T.A.; OLIVEIRA, O.M.C.; TRIGUIS, J.A.; QUEIROZ, A.F.S.; BARBOSA, R.M.; ANJOS, J.A.S.A.; REYES, C.Y.;<br />
SILVA, C.S.; TRINDADE, M.C.L.F.; RIOS, M.C. Evaluation of the effects of metals on biodegradation of total petroleum<br />
hydrocarbons. Microchemical Journal, v. 110, n. 1, p. 215-220, 2013. https://doi.org/10.1016/j.microc.2013.03.020<br />
MUÑOZ, J.F.; ORTA, M.T. Efecto del ozono en la remoción de materia orgánica disuelta de un efluente secundario.<br />
Revista EIA, v. 1, n. 18, p. 171-178, 2012.<br />
MYERS, R.H.; MONTGOMERY, D.C.; ANDERSON-COOK, C.M. Response surface methodology: process and product<br />
optimization using designed experiments. 3. ed. Hobocken: Wiley, 2009.<br />
NUVOLARI, A. Esgoto sanitário: coleta, transporte, tratamento e reuso agrícola. 2. ed. São Paulo: Bluncher, 2011.<br />
OMAR, W.; AMIN, N. Optimization of heterogeneous biodiesel production from waste cooking palm oil via<br />
response surface methodology. Biomass & Bioenergy, v. 35, n. 3, p. 1329-1338, 2011. https://doi.org/10.1016/j.<br />
biombioe.2010.12.049<br />
OMM-E-HANY; SHAH, D.; HASAN, S.A.; ALAMGIR, A. Biodegradation of crude petroleum oil by indigenous and isolated<br />
bacterial strains. American-Eurasian Journal of Agriculture & Environmental Science, v. 15, n. 9, p. 1827-1834, 2015.<br />
DOI: 10.5829/idosi.aejaes.2015.15.9.12747<br />
PAL, A.; HE, Y.; JEKEL, M.; REINHARD, M.; GIN, K.Y.-H. Emerging contaminants of public health significance as water quality<br />
indicator in the urban water cycle. Environmental International, v. 71, n. 1, p. 46-62, 2014. https://doi.org/10.1016/j.<br />
envint.2014.05.025<br />
PÉCORA, M.M.C. Degradação fotoquímica e eletroquímica da fração aromática do resíduo de óleo lubrificante. Trabalho<br />
de conclusão de curso (Graduação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2004.<br />
PRAKASH, V.; SAXENA, S.; SHARMA, A.; SINGH, S.; SINGH, S.K. Treatment of oil sludge contamination by composting.<br />
Journal of Bioremediation & Biodegradation, v. 6, n. 3, p. 284-290, 2015. DOI: 10.4172/2155-6199.1000284<br />
QUADROS, P.D.; CERQUEIRA, V.S.; CAZAROLLI, J.C.; PERALBA, M.C.; CAMARGO, F.A.O.; GIONGO, A.; BENTO, F.M. Oily<br />
sludge stimulates microbial activity and changes microbial structure in a landfarming soil. International Biodeterioration<br />
& Biodegradation, v. 115, n. 1, p. 90-101, 2016. https://doi.org/10.1016/j.ibiod.2016.07.018<br />
33<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
Oliveira, M.C.A.; Moreira, J.; Naves, F.L.<br />
RADFARNIA, H.; KHULBE, C.; LITTLE, E. Supercritical water treatment of oil sludge, a viable route to valorize wate oil<br />
materials. Fuel, v. 159, n. 1, p. 653-658, 2015. https://doi.org/10.1016/j.fuel.2015.06.094<br />
RASTEGAR, S.; MOUSAVI, M.; SHOJAOSADATI, S.A.; SHEIBANI, S. Optimization of petroleum refinery effluent treatment<br />
in a UASB reactor using response surface methodology. Journal of Hazardous Materials, v. 197, p. 26-32, 2011. DOI:<br />
10.1016/j.jhazmat.2011.09.052<br />
RIENZO, M.D.; URDANETA, I.; DORTA, B. Biosurfactant production in aerobic and anaerobic conditions by different<br />
species of the genus pseudomanas. Journal of Life Science, v. 8, n. 3, p. 201-210, 2014.<br />
SANTOS, P.K.; FERNANDES, K.C.; FARIA, L.A. Descoloração e degradação do azo corante vermelho GRLX-220 por<br />
ozonização. Química Nova, v. 34, n. 8, p. 1315-1322, 2011.<br />
SANTOS, R.R.; FARONI, L.R.D.; CECON, P.R.; FERREIRA, A.P.S.; PEREIRA, O.L. Ozone as fungicide in rice grains. Revista<br />
Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental, v. 20, n. 3, p. 230-235, 2016. http://dx.doi.org/10.1590/1807-1929/<br />
agriambi.v20n3p230-235<br />
SHAHI, A.; AYDIN, S.; INCE, B. K.; INCE, O. The effects of white-rot fungi Trametes versicolor and Bjerkandera adusta on<br />
microbial community structure and functional genees during the bioaugmentation process following biostimulation<br />
practice of petroleum contaminated soil. International Biodeterioration & Biodegradation, v. 114, n. 1, p. 67-74, 2016.<br />
DOI: 10.1016/j.ibiod.2016.05.021<br />
SHIE, J.L.; CHANG, C.Y.; LIN, J.-P.; WU, C.-H.; LEE, D.-J. Resources recovery of oil sludge by pyrolysis: kinetics study.<br />
Journal of Chemical Technology & Biotechnology, v. 75, n. 6, p. 443-450, 2000. https://doi.org/10.1002/1097-<br />
4660(200006)75:6%3C443::AID-JCTB228%3E3.0.CO;2-B<br />
SILVA, A.B.L. Investigação geoambiental de uma área contaminada por resíduos industriais. Dissertação (Mestrado) –<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.<br />
SILVA, R.C.F.S.; ALMEIDA, D.G.; RUFINO, R.D.; LUNA, J.M.; SANTOS, V.A.; SARUBBO, L.A. Application of biosurfactants<br />
in the petroleum industry and the remediation of oil spills. International Journal of Molecular Science, v. 15, n. 7,<br />
p. 12523-12542, 2014. https://dx.doi.org/10.3390%2Fijms150712523<br />
SOUZA, T.S.; HENCKLEIN, F.A.; ANGELIS, D.F.; FONTANETTI, C.S. Clastogenicity of landfarming soil treated with sugar<br />
cane vinasse. Environmental Monitoring and Assessment, v. 185, n. 2, p. 1627-1636, 2013. http://dx.doi.org/10.1007/<br />
s10661-012-2656-3<br />
THANGALAZHY-GOPAKUMAR, S.; AL-NADHERI, W.M.; JEDARAJAN, D.; SAHU, J.N.; MUBARAK, N.M.; NIZAMUDDIN, S.<br />
Utilization of palm oil sludge through pyrolysis for bio-oil and bio-char production. Bioresources Technology, v. 178,<br />
n. 1, p. 65-69, 2015. https://doi.org/10.1016/j.biortech.2014.09.068<br />
TCHOBANOGLOUS, G.; BURTON, F.; STENSEL, H. Processing and treatment of sludges. In: METACALF & EDDY (Orgs.).<br />
Wastewater engineering: treatment and reuse. 4. ed. Nova York: McGraw-Hill, 2003.<br />
VIANA, F.F.; DANTAS, T.N.C.; ROSSI, C.G.F.T.; DANTAS NETO, A.A.; SILVA, M.S. Aged oil sludge solubilization using new<br />
microemulsion systems: design of experiments. Journal of Molecular Liquids, v. 210, n. 1, p. 44-50, 2015. https://doi.<br />
org/10.1016/j.molliq.2015.02.042<br />
ZHU, L.L.; QIU, L.P.; ZHANG, L.X.; ZHANG, S.B. Challenge and development of sludge treatment and disposal in China.<br />
Applied Mechanics & Materials, v. 675-677, n. 1, p. 665-668, 2014. https://doi.org/10.4028/www.scientific.net/<br />
AMM.675-677.665<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
34<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 24-34
DOI: 10.5327/Z2176-947820180237<br />
QUANTIFICAÇÃO DO ESTOQUE DE CARBONO DA<br />
COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H. E. MOORE EM ÁREAS DISTINTAS<br />
QUANTIFICATION OF CARBON STOCK COPERNICIA PRUNIFERA (MILL.) H. E. MOORE IN DIFFERENT AREAS<br />
Vera Lúcia dos Santos Costa<br />
Mestre em Desenvolvimento e<br />
Meio Ambiente, Universidade<br />
Federal do Piauí (UFPI) –<br />
Teresina (PI), Brasil.<br />
Jaíra Maria<br />
Alcobaça Gomes<br />
Professora do Departamento<br />
de Ciências Econômicas e do<br />
Programa de Pós-Graduação<br />
em Desenvolvimento e Meio<br />
Ambiente, UFPI – Teresina (PI),<br />
Brasil.<br />
Maria da Conceição<br />
Prado de Oliveira<br />
Professora do Departamento<br />
de Ciências Biológicas, UFPI –<br />
Teresina (PI), Brasil.<br />
Carla Ledi Korndörfer<br />
Professora do Departamento de<br />
Ciências Biológicas, Universidade<br />
Estadual do Piauí (UESPI) – Campo<br />
Maior (PI), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Vera Lúcia dos Santos Costa –<br />
Rua Lucídio Portela, 1.073 –<br />
Piauí – CEP 64208-410 –<br />
Parnaíba (PI), Brasil –<br />
E-mail: eco.vera09@gmail.com<br />
Recebido: 15/02/2017<br />
Aceito: 03/04/2018<br />
RESUMO<br />
A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore), em seu habitat natural,<br />
contribui para o equilíbrio ecológico. Este estudo teve como objetivos:<br />
quantificar o estoque de carbono (EC) presente no estipe e nas folhas de<br />
carnaúba e verificar em que tipo de área a planta tem maior EC, com a<br />
finalidade de difundir a conservação ambiental da espécie. O experimento foi<br />
realizado em uma fazenda do município de Campo Maior, Piauí, nos meses<br />
de julho a dezembro de 2013, onde se fez a amostragem por parcelas em<br />
ambientes distintos. Utilizou-se uma equação alométrica para calcular<br />
a biomassa e, a partir desta, quantificou-se o EC e realizou-se o teste t de<br />
Student. O estoque total de carbono foi de 14,71 kg.ha -1 . Concluiu-se que as<br />
carnaúbas presentes nas margens do rio têm, em média, um estoque maior<br />
de carbono (4,72 kg) do que as que estão presentes em áreas secas (2,33 kg).<br />
Com isso, recomenda-se que a conservação da espécie deva ocorrer em<br />
áreas estratégicas por prestar esse serviço ecossistêmico.<br />
Palavras-chave: serviço ecossistêmico; sequestro de carbono; conservação.<br />
ABSTRACT<br />
Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore (carnauba), in its natural habitat,<br />
contributes to the ecological balance. The study aimed to quantify the carbon<br />
stock present in the carnauba stem and leaves and to check in which type<br />
of area the carnauba has a higher carbon stock. This way, we may diffuse<br />
the need of conservation of the species. The experiment was conducted at<br />
the farm of municipality of Campo Maior, Piauí, Brazil, from July to December<br />
2013, and the sampling plots were performed in different environments.<br />
We used allometric equation for estimating biomass, from which we<br />
quantified the carbon stock, and the t-test was applied. The carbon stock<br />
was 14.71 kg ha -1 . We conclude that the carnaubas on the river banks have,<br />
on average, greater carbon stock (4.72 kg) than those present in dry areas<br />
(2.33 kg). Thereby, we encourage the conservation of the species should<br />
occur in strategic areas for providing this ecosystem service.<br />
Keywords: ecosystem service; carbon sequestration; conservation.<br />
35<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Costa, V.L.S. et al.<br />
O reconhecimento da importância dos ecossistemas<br />
se intensificou após a realização da Conferência das<br />
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento<br />
(CNUMAD) e o estabelecimento da Convenção<br />
sobre Diversidade Biológica (CDB), no início dos anos<br />
1990. A partir de então, e com a publicação do artigo<br />
The value of the world’s ecosystem services and natural<br />
capital, de Costanza et al. (1997), ganharam notoriedade<br />
os estudos sobre serviços ecossistêmicos e sua<br />
valoração, que chamam a atenção para a necessidade<br />
de conservação e preservação de espécies vegetais e<br />
florestais. Os benefícios da conservação destas consistem<br />
na continuidade da oferta de serviços ecossistêmicos<br />
que garantem o bem-estar à humanidade. Como<br />
exemplos desses serviços pode-se citar a regulação do<br />
clima e da água, o controle da erosão e retenção de<br />
sedimentos, etc. (COSTANZA et al., 1997).<br />
A definição de serviços ecossistêmicos como benefícios<br />
que as pessoas obtêm dos ecossistemas foi posta em circulação<br />
e consolidada pela Avaliação Ecossistêmica do<br />
Milênio (em inglês: Millennium Ecosystem Assessment —<br />
MEA). A MEA, conjunto de relatórios publicados de 2001<br />
a 2005, baseou-se em quatro convenções da Organização<br />
das Nações Unidas (ONU) relativas às questões ambientais<br />
— clima, biodiversidade, desertificação e áreas úmidas<br />
–, constituindo o maior inventário do estado de uso<br />
da natureza pelos seres humanos.<br />
O Relatório da MEA, publicado em 2005, dividiu os serviços<br />
ecossistêmicos em quatro categorias:<br />
• de provisão: alimentos, água potável, madeiras e fibras,<br />
combustível, etc.;<br />
• de regulação: clima, inundações, controle de doenças,<br />
purificação da água, etc.;<br />
• de cultura: estético, espiritual, educacional, recreação,<br />
etc.;<br />
• de suporte: ciclagem de nutrientes, formação do<br />
solo, produção primária, etc. Sobre a oferta desses<br />
serviços, Isbell et al. (2011) apontam que quanto<br />
maior o número de espécies, melhor se mantém<br />
a multifuncionalidade do ecossistema em grandes<br />
escalas espaçotemporais e mais se conserva o equilíbrio<br />
ecológico. Daí constata-se que cada espécie<br />
INTRODUÇÃO<br />
desempenha um importantíssimo papel a fim de<br />
que o ecossistema permaneça estável (MEA, 2005).<br />
Para incentivar a conservação dos ecossistemas, Almeida<br />
(2007) defende que os serviços ecossistêmicos sejam<br />
valorados e inseridos no mercado pela adoção de políticas<br />
de pagamento, sendo necessário que os direitos de<br />
propriedade estejam bem definidos. E que, na verdade,<br />
o conjunto desses serviços se encontra ameaçado pela<br />
ausência de direitos de propriedade e de fungibilidade<br />
e por serem produtos globais de uso comum, definidos,<br />
economicamente, como externalidades. Daí a dificuldade<br />
de valorar esses recursos econômicos.<br />
A valoração dos serviços ecossistêmicos deriva, conforme<br />
Motta (2011), de seus atributos, que podem ou não<br />
estar associados a um uso. Valorar um recurso ambiental<br />
consiste em estimar um quantum monetário em relação<br />
a outros bens e serviços disponíveis na Economia<br />
(MOTTA, 1997), a partir do que surge uma política de<br />
pagamento por serviços ecossistêmicos que, segundo<br />
Moraes (2012), se expressa pela ideia de que os beneficiários<br />
externos paguem aos proprietários desses bens<br />
pela adoção de práticas de conservação ou restauração<br />
dos ecossistemas. Nesse sentido, as instituições<br />
financeiras podem contribuir para que as atividades<br />
extrativas sejam sustentáveis, exigindo contrapartidas<br />
ambientais para a concessão de crédito (COSTA; GO-<br />
MES, 2016).<br />
Nesse ínterim, como a conservação e preservação de<br />
espécies florestais é fundamental para garantir a continuidade<br />
desses serviços, surgiram pesquisas na área<br />
de Engenharia Florestal, em especial sobre a regulação<br />
climática por meio do sequestro de CO 2<br />
, que visaram a<br />
quantificar o estoque de carbono (EC) e/ou a biomassa<br />
de florestas ou de espécies florestais. A maioria dessas<br />
pesquisas abrange áreas florestais, poucas se referem<br />
a estudos de espécies individuais.<br />
Dentre os estudos internacionais, destacam-se o<br />
de Missanjo e Kamanga-Thole (2015), que estimaram<br />
a biomassa e o EC de uma reserva florestal de<br />
Miombo Woodland, no Malawi; e o de Chavan e<br />
Rasal (2010), que abordam o estoque permanente<br />
de carbono sequestrado por espécies arbóreas<br />
selecionadas em um campus universitário da Índia;<br />
nesta última pesquisa os autores utilizaram o mé-<br />
36<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Quantificação do estoque de carbono da Copernicia prunifera (mill.) H. E. Moore em áreas distintas<br />
todo não destrutivo, concluindo que modelos alométricos<br />
baseados em padrões teóricos são ótimos<br />
para a determinação da biomassa. E, ainda, o estudo<br />
de Breugel et al. (2011), que estimaram o EC em<br />
florestas secundárias no Panamá.<br />
Das pesquisas realizadas no Brasil, citam-se a de Ratuchne<br />
et al. (2015), que quantificaram o carbono florestal<br />
da espécie Araucaria angustifolia no sudoeste<br />
do Paraná; a de Silva et al. (2015), que estimaram,<br />
usando métodos indiretos, o EC em área de restauração<br />
florestal em Minas Gerais; e a de Rocha et al.<br />
(2014), que estimaram estoques de carbono na fitomassa<br />
área de sistemas agroflorestais no cerrado de<br />
Minas Gerais.<br />
Quanto aos estudos sobre a carnaúba já realizados, citam-se<br />
o de Araújo et al. (2013), que analisaram a germinação<br />
das sementes; o de Reis et al. (2010; 2011),<br />
que avaliaram a protrusão do pecíolo cotiledonar e a<br />
emergência de mudas de carnaúbas, respectivamente;<br />
o de Arruda e Calbo (2004), que analisaram a tolerância<br />
à inundação; e o de Holanda (2006), que verificou<br />
os efeitos da salinidade sobre o crescimento<br />
e desenvolvimento da espécie. Quanto ao manejo<br />
da carnaúba, destacam-se o estudo de Vieira, Oliveira<br />
e Loiola (2016), que analisaram as consequências<br />
da extração mensal das folhas sobre a sobrevivência,<br />
a produção de folhas e o desempenho reprodutivo da<br />
planta; o de Ferreira (2009), que verificou o comportamento<br />
de carnaubeiras em três estádios de desenvolvimento<br />
(capoteiro, palmeira nova e palmeira velha);<br />
o de Ferreira, Nunes e Gomes (2013), que analisaram<br />
o efeito de diferentes estratégias de manejo de corte<br />
das folhas; e o de Reis Filho (2005), que coordenou<br />
o Mapeamento Espacial e Zoneamento da Carnaúba<br />
no Piauí (Projeto Carnaupi), a partir do qual inventariou<br />
as populações dessa planta, classificando-a em<br />
quatro classes. No âmbito da etnobotânica, citam-se<br />
três estudos que confirmam os usos ou o potencial de<br />
usos da espécie em comunidades tradicionais, indo as<br />
indicações desde a categoria alimentícia até a produção<br />
de energia, são eles: Silva et al. (2014), Silva et al.<br />
(2011) e Sousa et al. (2015).<br />
Esses estudos etnobotânicos confirmam os registros<br />
da literatura sobre o aproveitamento integral da carnaúba.<br />
Gomes e Nascimento (2006) registraram usos<br />
de todas as partes da palmeira – folhas, pecíolo, estipe,<br />
fruto e raízes. Além desses usos diretos, a carnaúba<br />
desempenha um importante papel na preservação<br />
de margens de rios, conforme Lima e Araújo (2006) e<br />
Araújo et al. (2012).<br />
Tomando por base as categorias de serviços ecossistêmicos<br />
relatados em MEA (2005) e os usos da carnaúba,<br />
identificam-se os seguintes serviços da espécie:<br />
• de provisão: fonte de fibra, celulose e pó cerífero<br />
que provêm das folhas, da madeira (caule e pecíolo)<br />
e do alimento (fruto e palmito);<br />
• cultural: estético (paisagismo), medicinal (raízes) e<br />
simbologia (árvore-símbolo);<br />
• de suporte: proteção de solo, nascentes, mananciais<br />
hídricos e cursos d’água.<br />
O conhecimento sobre a etnobotânica e os serviços<br />
ecossistêmicos da carnaúba, seja por meio de benefícios<br />
diretos, seja pelos indiretos, é, assim, essencial<br />
para a conservação da espécie e o consequente equilíbrio<br />
ecológico, por intermédio da sua exploração econômica<br />
racional e sustentável.<br />
Inexistem estudos empíricos sobre os serviços ecossistêmicos<br />
de regulação da carnaubeira, como o climático<br />
e o hídrico, o que justifica a relevância de estudar<br />
o EC presente na espécie. Desse modo, aponta-se<br />
o serviço ecossistêmico de regulação climática da<br />
carnaúba por meio do EC como uma variável importante<br />
para a conservação da espécie, dada a sua importância<br />
não apenas socioeconômica, mas também<br />
ambiental. Para tanto, escolheu-se a Fazenda Itans,<br />
no município de Campo Maior, Piauí, que é cortada<br />
pelo Rio Canudos e tem áreas de carnaubal nas margens<br />
dos rios, nas quais há maior variedade de vegetação,<br />
e distantes dessas, em que predomina a carnaúba,<br />
o que motivou a seguinte questão: qual o EC<br />
das carnaúbas dessas áreas?<br />
Os objetivos consistiram em quantificar o EC presente<br />
no estipe e nas folhas de carnaúba e verificar se existe<br />
diferença de quantidade de EC entre carnaúbas situadas<br />
em áreas distintas para, assim, difundir a necessidade<br />
de conservação ambiental da espécie.<br />
37<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Costa, V.L.S. et al.<br />
Caracterização da área de estudo<br />
O estudo foi realizado com populações naturais de Copernicia<br />
prunifera (Mill.) H. E. Moore no município de Campo<br />
Maior, Piauí, escolhido pela sua representatividade como<br />
o maior produtor de pó cerífero na Região Nordeste.<br />
A área de estudo se localiza na Fazenda Itans, a 20 km<br />
da sede do município de Campo Maior, Piauí, na Rodovia<br />
PI 314 (Campo Maior — Barras). Fez-se a solicitação<br />
ao proprietário por meio de ofício a ele encaminhado,<br />
o qual autorizou o experimento.<br />
O clima da microrregião é, conforme a classificação de<br />
Köppen, Tropical Subúmido (C 1<br />
WA 4a<br />
), com temperaturas<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
entre 23 e 35ºC nos meses secos. A vegetação, segundo<br />
Barros, Farias e Castro (2010), compõe o Complexo Vegetacional<br />
de Campo Maior, caracterizado como um ambiente<br />
sujeito a frequentes inundações, o que lhe confere<br />
o caráter de transição, estabelecido a partir do contato<br />
dos cerrados com a caatinga, o carrasco, as matas estacionais<br />
(decíduas e semidecíduas) e as matas ripícolas.<br />
A fazenda, com área de 970 ha, é cortada por dois rios intermitentes,<br />
um com menos de 10 m de largura (Itans) e<br />
outro com largura entre 10 e 50 m (Canudos). A área de estudo<br />
é coberta predominantemente por carnaúbas e todo<br />
o carnaubal é manejado para a extração do pó cerífero.<br />
Amostragem<br />
Foram implantadas 3 parcelas com dimensões de 40 × 20 m<br />
nas margens do Rio Canudos (área I), em que a carnaúba<br />
se encontra associada com outras espécies, e 3 parcelas,<br />
com as mesmas dimensões, distantes das margens do rio<br />
e próximas à casa da Fazenda (área II), esta caracterizada<br />
pela predominância de carnaúbas com existência mínima<br />
de outras espécies. A Figura 1 mostra os pontos georreferenciados,<br />
via Global Position System (GPS), das parcelas.<br />
Em cada parcela foi levantado o número de indivíduos<br />
cujo estipe era igual ou superior a 2,5 m de altura. Foram<br />
medidos a altura (H) do estipe e o perímetro à altura<br />
do peito (PAP) a 1,30 m do solo.<br />
A<br />
B<br />
Figura 1 – Vista aérea das áreas pesquisadas, Fazenda Itans, Campo Maior, Piauí: (A) área I<br />
(parcelas 1 (pontos 031, 032, 033, 034), 2 (pontos 035, 036, 037, 038) e 3 (pontos 039, 040, 041, 042); (B) área II<br />
(parcelas 4 (pontos 043, 044, 045, 046), 5 (pontos 047, 048, 049, 050), 6 (pontos 051, 052, 053, 054) e Casa da Fazenda (ponto 030).<br />
38<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Quantificação do estoque de carbono da Copernicia prunifera (mill.) H. E. Moore em áreas distintas<br />
Determinação da biomassa e do estoque de carbono<br />
A biomassa do estipe da carnaúba foi calculada, por meio<br />
de equação alométrica (Equação 1), proposta por Ribeiro<br />
et al. (2009), como produto das variáveis volume do estirpe<br />
(V) e densidade básica média da espécie (D):<br />
B = D x V(1)<br />
Em que:<br />
B = biomassa (em kg);<br />
D = densidade básica média da espécie (em kg.m -3 );<br />
V = volume do estipe (em m 3 ).<br />
Para o cálculo da densidade básica média da espécie,<br />
utilizou-se o método destrutivo. Para tanto, solicitou-se<br />
autorização da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos<br />
Hídricos de Campo Maior, Piauí, que a forneceu com a<br />
recomendação de fazer a reposição de cinco para cada<br />
uma que fosse abatida. As espécies determinadas para<br />
reposição foram Libidibia férrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroze<br />
Anacardium occidentale L.<br />
Procedeu-se, então, a um sorteio de três indivíduos para<br />
o abate em cada área. A determinação da D da espécie<br />
teve por base a Norma Brasileira (NBR 11941), de março<br />
de 2003 (ABNT, 2003). Fez-se a secção do estipe dos indivíduos<br />
retirando-se 6 discos, com espessura de 3 cm,<br />
nos pontos de PAP, 0, 25, 50, 75 e 100% do comprimento.<br />
O método utilizado foi o da imersão, baseado na variação<br />
do peso da amostra. Ou seja, logo após serem seccionados,<br />
os discos foram colocados, individualmente, em um recipiente<br />
com água previamente pesado (m 1<br />
) durante uma<br />
hora, para atingir o volume máximo saturado; em seguida,<br />
os recipientes com os cilindros imersos foram pesados (m 2<br />
).<br />
Posteriormente, os discos foram encaminhados para o Laboratório/Herbário<br />
Graziela Barroso (TEPB), onde foram<br />
secos em estufa, a 105ºC, até atingirem o peso constante<br />
para a determinação da massa seca (m 3<br />
). A densidade básica<br />
foi calculada conforme a Equação 2, na qual o volume<br />
do disco equivale ao volume da água deslocada, que, por<br />
sua vez, é igual à diferença de massa (m 2<br />
– m 1<br />
), considerando-se<br />
a densidade da água como um g/cm 3 (ABNT, 2003):<br />
m3<br />
D = (2)<br />
m −m<br />
2 1<br />
Em que:<br />
D = densidade básica da madeira (em kg.m 3 );<br />
m 3<br />
= massa seca (em kg);<br />
m 2<br />
= massa do recipiente com água e disco imerso (em kg);<br />
m 1<br />
= massa do recipiente com água (em kg).<br />
A D da espécie foi obtida a partir da média aritmética<br />
dos valores de densidade dos seis discos das carnaúbas.<br />
O V foi calculado a partir da equação de volume do<br />
cilindro, admitindo que o estipe da carnaúba tivesse<br />
a forma cilíndrica. Partindo da Equação 3, chega-se à<br />
equação para obter o V da carnaúba.<br />
V = A x H(3)<br />
Em que:<br />
A = área do cilindro;<br />
H = altura do cilindro.<br />
A área do cilindro é dada conforme a Equação 4:<br />
A = πr 2 (4)<br />
Em que:<br />
r = raio da circunferência do cilindro.<br />
Pela equação da circunferência, tem-se a Equação 5:<br />
2<br />
2 2 2 2 C<br />
C= 2πr→ C = 4π<br />
r → r = (5)<br />
2<br />
4π<br />
Em que:<br />
C = perímetro da circunferência.<br />
Substituindo o valor r 2 (Equação 5) na equação da área<br />
do cilindro (Equação 4), temos a Equação 6:<br />
2<br />
C<br />
A A<br />
C 2<br />
= π<br />
2<br />
4π<br />
≡ = 4π<br />
(6)<br />
Utilizando estas equações (Equações 3 e 5), pode-se<br />
calcular o volume do estipe da carnaúba; conforme as<br />
variáveis levantadas, tem-se que o perímetro da circunferência<br />
(C) corresponde ao PAP do estipe da carnaúba<br />
em m e a H do cilindro corresponde à H do estipe em<br />
m. Substituindo essas variáveis na equação do volume<br />
(Equação 3) se obtém a equação de volume (em m)<br />
para o estipe da carnaúba (Equação 7):<br />
39<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Costa, V.L.S. et al.<br />
V<br />
PAP 2<br />
= xH (7)<br />
4π<br />
Após a determinação da biomassa e das variáveis que<br />
a compõem, foi possível quantificar o EC das carnaúbas<br />
pela multiplicação da biomassa por 0,5, visto que 50%<br />
da biomassa correspondem ao EC, proposta esta elucidada<br />
pelos autores Pearson, Brown e Birdsey (2007).<br />
Análise dos dados<br />
Após a coleta, fez-se a análise estatística dos dados, usando<br />
o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),<br />
da IBM, versão 20 para Windows. Realizou-se o teste t de<br />
Student, que compara médias entre dois grupos; com os<br />
Além disso, dos indivíduos abatidos para obtenção<br />
da densidade básica da espécie, foram recolhidas<br />
as folhas com pecíolos, contadas e pesadas ainda<br />
verdes (mv). Posteriormente, foram levadas ao<br />
TEPB, onde secaram em estufa a 105°C até atingirem<br />
a massa constante ou massa seca (ms) para<br />
calcular o EC, considerando que ele corresponde a<br />
50% da ms.<br />
resultados pode-se constatar se as diferenças observadas<br />
são significativas ou não para analisar se existe diferença<br />
significativa de EC das carnaúbas das duas áreas. Os testes<br />
foram realizados com a probabilidade de 5%.<br />
Nas áreas I e II foram contabilizadas 104 carnaúbas, sendo<br />
que a I apresentou menor número de indivíduos (29) e<br />
na II foram contados 75. Conforme a classificação de Reis<br />
Filho (2005), todas as carnaúbas encontravam-se em estádio<br />
adulto, sendo, assim, distribuídas nas seguintes subclasses:<br />
12 palmeiras novas (2,5 a 3,99 m), 44 médias (4,0<br />
a 6,99 m) e 48 velhas (acima de 7 m).<br />
A D foi de 0,562 kg.m -3 . Na Tabela 1 tem-se a estatística<br />
descritiva das seis carnaúbas que foram abatidas —<br />
são apresentados o desvio padrão e as médias das<br />
variáveis coletadas —, sendo que as da área I foram classificadas<br />
como palmeiras velhas, e as da área II, uma como<br />
velha e as outras duas como palmeiras médias.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
As folhas constituem um EC que é renovado anualmente<br />
pelo corte para extração de pó cerífero. Assim,<br />
essa atividade contribui para o sequestro e o EC. O total<br />
de carbono estocado nas folhas com pecíolos foi de<br />
14,63 kg ou 500 g.kg -1 , valor que se encontra acima do<br />
encontrado por Cunha et al. (2009) na espécie Attalea<br />
dúbia (Mart.) Burret (448 g.kg -1 ) e abaixo do resultado<br />
encontrado por Miranda et al. (2012) para a Euterpe<br />
oleraceae Mart. (885 g.kg -1 ).<br />
Quanto ao estoque total de carbono dos estipes,<br />
na área II quantificou-se em 4,72 kg, maior que na<br />
I (2,33 kg), e a soma do EC nas duas áreas foi de 7,05 kg.<br />
Entretanto, nas margens do rio as carnaúbas apresentam,<br />
em média, estoque maior de carbono, pois elas<br />
apresentam-se mais frondosas, altas e com maior número<br />
de folhas, diferenciando-se das que distam de<br />
fontes de água. Isso lhes confere maior EC. Na Tabela 2<br />
são apresentados o número de indivíduos, a média e o<br />
desvio padrão da H, do PAP e do EC.<br />
Tabela 1 – Médias das carnaúbas abatidas: número de folhas, altura e perímetro<br />
à altura do peito (em m), massa verde, massa seca e estoque de carbono das folhas (em kg).<br />
Variáveis Área I Desvio padrão Área II Desvio padrão<br />
N 32 6,028 21 12,503<br />
H 8,98 2,374 5,76 1,250<br />
PAP 0,64 0,059 0,73 0,069<br />
mv 15,90 4,140 7,13 7,132<br />
ms 6,85 1,727 2,90 3,019<br />
EC 3,42 0,863 1,45 1,510<br />
N: número de indivíduos; H: altura; PAP: perímetro à altura do peito; mv: massa verde; ms: massa seca; EC: estoque de carbono.<br />
40<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Quantificação do estoque de carbono da Copernicia prunifera (mill.) H. E. Moore em áreas distintas<br />
Observa-se de imediato que, pelos valores das tabelas,<br />
as folhas estocam mais carbono que o estipe da<br />
carnaúba. Contudo, faz-se a ressalva de que o método<br />
usado para calcular o EC do estipe não foi o mesmo<br />
adotado para calcular o carbono das folhas, o que justifica<br />
a disparidade entre os dois resultados.<br />
Estendendo o resultado do EC da Tabela 2 para 1 ha,<br />
quantificou-se o EC em 14,71 kg.ha -1 . As comparações<br />
desse resultado que poderiam ser feitas usando resultados<br />
de outros estudos ficam limitadas, pois não há<br />
pesquisas sobre a carnaúba semelhantes a esta. Contudo,<br />
com os resultados já obtidos para a família Arecaceae,<br />
à qual a carnaúba pertence, dentre os quais se<br />
pode citar o de Ribeiro et al. (2009), que citam a Euterpe<br />
edulis Mart. com um EC de 1,275 t.ha -1 ; o de Pessoa et al.<br />
(2012), que concluíram em sua pesquisa que 18 indivíduos<br />
da família Arecaceae estocam carbono em 1.879<br />
kg.ano -1 ; e o de Miranda et al. (2012), que encontraram<br />
a média de 3,873 kg de carbono estocado no fuste de 18<br />
indivíduos da espécie Euterpe oleraceae Mart. no município<br />
de Breves, Pará. Como as espécies são distintas, os<br />
resultados são, obviamente, diferentes; some-se a isso<br />
o fato de que essas pesquisas utilizaram métodos diversificados,<br />
ainda que não destrutivos, o que justifica os<br />
resultados serem tão díspares.<br />
Vale ressaltar que o EC por área depende, além das<br />
características físicas, da quantidade de indivíduos da<br />
espécie que se encontram na amostra. No caso da carnaúba,<br />
é possível encontrar áreas bastante populosas<br />
ou não. No local onde foi realizado o estudo as carnaúbas<br />
estão um pouco mais dispersas, o que explica o<br />
pequeno estoque encontrado em relação aos estudos<br />
realizados com espécies da mesma família.<br />
Embora a carnaúba tenha crescimento lento, pode, segundo<br />
Lorenzi et al. (2010), chegar a 15 m de altura.<br />
Além disso, conforme Reis et al. (2011), ela se desenvolve<br />
melhor estando exposta ao sol, especialmente<br />
as mudas, o que ajuda no processo de fotossíntese e,<br />
consequentemente, no sequestro de CO 2<br />
. O experimento<br />
realizado por Arruda e Calbo (2004) confirmou<br />
que carnaúbas situadas em áreas alagadas apresentam<br />
maiores concentrações de CO 2<br />
e diminuição de O 2<br />
nas<br />
raízes, porém essa exposição reduz o processo de fotossíntese<br />
e de condutância estomática, o que não implica<br />
ser prejudicial às plantas, pois apresentam tolerância<br />
a tal condição. E, também, é no período chuvoso<br />
que elas mais emitem folhas, conforme Ferreira (2009).<br />
Quanto à exploração do carnaubal para extração de pó<br />
cerífero, ela pode ser prejudicial à planta se ocorrer de<br />
forma intensa (acima de 50%) e mensal (VIEIRA; OLI-<br />
VEIRA; LOIOLA, 2016), visto que reduz a produção de<br />
folhas, afetando a estrutura foliar e causando de perda<br />
de energia. Porém, Ferreira, Nunes e Gomes (2013) recomendam,<br />
para os extrativistas, fazer um único corte<br />
anual das folhas, pois resulta em rendimento maior.<br />
Pode-se inferir que essa extração anual das folhas<br />
constitui renovação do EC. No entanto, recomenda-se<br />
o manejo adequado no que concerne não só a preservar<br />
o mangará, como também a retirar das proximidades<br />
espécies que causam a morte da carnaúba — como<br />
o popular “mato-de-leite” no Piauí, mais conhecido<br />
como “boca-de-leão” no Ceará.<br />
Tabela 2 – Número de indivíduos, desvio padrão e média das variáveis coletadas<br />
(altura e perímetro à altura do peito em m) e quantificada (estoque de carbono em kg) das carnaúbas nas áreas I e II.<br />
Área N Variáveis Média Desvio padrão<br />
I 29<br />
II 75<br />
H 6,9838 2,4779<br />
PAP 0,7197 0,0911<br />
EC 0,0802* 0,0282<br />
H 6,0707 1,6082<br />
PAP 0,6724 0,1023<br />
EC 0,0630* 0,0253<br />
N: número de indivíduos; H: altura; PAP: perímetro à altura do peito; EC: estoque de carbono; *médias diferentes entre si pelo teste t de Student<br />
a 5% de significância.<br />
41<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Costa, V.L.S. et al.<br />
Além disso, não se deve esquecer de que o sequestro<br />
de CO 2<br />
é realizado pelas folhas, o que permite dizer que<br />
a retirada total das folhas, mesmo preservando o mangará,<br />
reduz essa função da carnaubeira. Outra sugestão<br />
é de que não sejam retiradas todas as folhas para que<br />
não haja redução drástica de sequestro de CO 2<br />
por ela,<br />
pois causa danos à planta.<br />
Com esses resultados, pretende-se que a carnaúba<br />
seja conservada em função do seu valor econômico,<br />
como destacado por Gomes, Cerqueira e Carvalho<br />
(2009), bem como pelos benefícios ambientais que<br />
oferece. Assim, reforça-se a importância do manejo<br />
sustentável, que promove, como já destacado por Watzlawick<br />
et al. (2012), benefícios ambientais e socioeconômicos,<br />
além de contribuir para a recomposição de<br />
áreas degradadas; além disso, os extrativistas podem<br />
ser beneficiados com projetos que visam à sustentabilidade<br />
da atividade extrativa.<br />
No âmbito da conservação e sustentabilidade da carnaúba,<br />
destaca-se a Câmara Setorial da Carnaúba,<br />
que publicou, em 2009, um manual contendo instruções<br />
para o manejo da espécie (CÂMARA SETORIAL DA<br />
CARNAÚBA, 2009). Posteriormente, o Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) lançou<br />
um caderno de boas práticas para o extrativismo sustentável<br />
orgânico da carnaúba com o objetivo de estabelecer<br />
um protocolo mínimo que promovesse o manejo<br />
consciente da atividade extrativista, respeitando o<br />
meio ambiente, a cultura e a dinâmica das populações<br />
envolvidas (BRASIL, 2014).<br />
Gomes, Cerqueira e Carvalho (2009) veem que o benefício<br />
privado da exploração econômica da carnaúba pode<br />
contribuir para a preservação da espécie, exatamente<br />
pela geração de lucros e ocupações rurais. Conforme os<br />
autores, isso a torna um recurso natural primordial no<br />
âmbito da política ambiental. Ou seja, a partir de seu valor<br />
socioeconômico, órgãos públicos e privados podem<br />
adotar em suas políticas contrapartidas que favoreçam<br />
a conservação da espécie, lembrando que a política de<br />
crédito às atividades produtivas tem um papel fundamental<br />
no incentivo à conservação.<br />
A carnaúba presta o serviço ecossistêmico de regulação<br />
climática por meio do sequestro e EC. O estudo<br />
quantificou o EC presente no estipe e nas folhas da<br />
espécie. Como foram utilizadas carnaúbas situadas em<br />
áreas distintas, verificou-se, estatisticamente, que elas<br />
têm EC diferente entre si, conforme resultado do teste<br />
t de Student. Concluindo, na área em que a carnaúba<br />
aparece associada com mais espécies vegetais e às<br />
margens do rio há maior EC. Além disso, constatou-se<br />
que a carnaúba tem maior EC nas folhas que a espécie<br />
Attalea dubia (Mart.) Burret.<br />
CONCLUSÕES<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao Professor Dr. José Machado Moita Neto, o auxílio com a estatística.<br />
Diante do contexto das discussões sobre alterações climáticas,<br />
deve-se incentivar a conservação da carnaúba<br />
não só pelo valor socioeconômico, mas também por<br />
prestar o serviço ecossistêmico de estocar carbono.<br />
Esse tema tem ganhado relevância no meio acadêmico<br />
e na implantação de políticas públicas, como, por<br />
exemplo, o pagamento por esse serviço. Portanto, um<br />
meio para se conservar a espécie é a utilização de políticas<br />
que englobam e prezam pela sustentabilidade da<br />
atividade extrativa, e que tenham como paradigma o<br />
manejo sustentável.<br />
Esta pesquisa contribui com a literatura no que concerne<br />
à quantificação do EC para a espécie Copernicia<br />
prunifera (Mill) H. E. More, visto que inexistem estudos<br />
semelhantes para a carnaúba; some-se a isso o fato de<br />
ser uma pesquisa interdisciplinar que agrega conhecimentos<br />
da Ciência Florestal com a Economia Ecológica.<br />
Ressalta-se que o presente artigo não esgota o<br />
tema, pois deixa margem para realização de pesquisas,<br />
por exemplo, para usar um método distinto e, assim,<br />
poder fazer comparação e tirar novas conclusões.<br />
42<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Quantificação do estoque de carbono da Copernicia prunifera (mill.) H. E. Moore em áreas distintas<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALMEIDA, F. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 11-58.<br />
ARAÚJO, D. R.; SILVA, P. C. M.; DIAS, N. S.; LIRA, D. L.-A. C. Estudo da área de preservação permanente do Rio Mossoró no<br />
sítio urbano de Mossoró-RN por meio de técnicas de geoprocessamento. Revista Caatinga, v. 25, n. 2, p. 177-183, 2012.<br />
ARAÚJO, L. H.; SILVA, R. A. R.; DANTAS, E. X.; SOUSA, R. F.; VIEIRA, F. A. Germinação de sementes da Copernicia prunifera:<br />
biometria, pré-embebição e estabelecimento de Mudas. Enciclopédia Biosfera, v. 9, n. 17, 2013.<br />
ARRUDA, G. M. T.; CALBO, M. E. R. Efeitos da inundação no crescimento, trocas gasosas e porosidade radicular da<br />
carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore). Acta Botânica Brasílica, v. 18, n. 2, p. 219-224, 2004. http://dx.doi.<br />
org/10.1590/S0102-33062004000200002<br />
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 11941: Madeira - determinação da densidade básica.<br />
Rio de Janeiro: ABNT, 2003.<br />
BARROS, J. S.; FARIAS, R. R. S.; CASTRO, A. A. J. F. Compartimentação geoambiental no Complexo de Campo Maior, Piauí:<br />
caracterização de um mosaico de ecótonos. In: CASTRO, A. A. J. F.; ARZABE, C.; CASTRO, N. M. C. F. Biodiversidade e<br />
ecótonos da região setentrional do Piauí. Teresina: EDUFPI, 2010. (Série Desenvolvimento e Meio Ambiente, 5.) p. 25-43.<br />
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e<br />
Cooperativismo. Caderno de Boas Práticas para o Extrativismo Sustentável Orgânico da Carnaúba. Brasília: MAPA/ACS,<br />
2014. (Cadernos de Boas Práticas para o Extrativismo Sustentável Orgânico.)<br />
BREUGEL, M. V.; RANSIJN, J.; CRAVEN, D.; BONGERS, F.; HALL, J. S. Estimating carbon stock in secondary forests: decisions<br />
and uncertainties associated with allometric biomass models. Forest Ecologyand Management, v. 262, p. 1648-1657,<br />
2011. https://doi.org/10.1016/j.foreco.2011.07.018<br />
CÂMARA SETORIAL DA CARNAÚBA. A carnaúba: preservação e sustentabilidade. Fortaleza: Câmara Setorial da<br />
Carnaúba, 2009.<br />
CHAVAN, B. L.; RASAL, G. B. Sequestered standing carbon stock in selective tree species grown in University campus at<br />
Aurangabad, Maharashtra, India. International Journal of Engineering Science and Tecnology, v. 2, p. 3003-3007, 2010.<br />
COSTA, V. L. S.; GOMES, J. M. A. Crédito e conservação ambiental no extrativismo da carnaúba (Copernicia prunifera<br />
(Mill.) H. E. Moore) no nordeste brasileiro no período de 2007 a 2012. Interações, v. 17, n. 1, p. 4-14, 2016. http://<br />
dx.doi.org/10.20435/1518-70122016101<br />
COSTANZA, R.; D’ARGE, R.; GROOT, R.; FARBER, S.; GRASSO, M.; HANNON, B.; LIMBURG, K.; NAEEM, S.; O’NEILL, R. V.;<br />
PARUELO, J.; RASKIN, R. G.; SUTTON, P.; BELT, M. V. D. The value of the world’s ecosystem services and natural capital.<br />
Nature, v. 387, p. 253-260, 1997. DOI: 10.1038/387253a0<br />
CUNHA, G. M.; GAMA-RODRIGUES, A. C.; GAMA-RODRIGUES, E. F.; VELLOSO, A. C. X. Biomassa e estoque de carbono e<br />
nutrientes em florestas montanas da Mata Atlântica na região norte do estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de<br />
Ciência do Solo, n. 33, p. 1175-1185, 2009. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-06832009000500011<br />
FERREIRA, C. S. Comportamento de populações de carnaubeira em diferentes estádios de desenvolvimento no município<br />
de União–Piauí. 60 f. Dissertação. (Mestrado em Agronomia)–Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2009.<br />
FERREIRA, C. S.; NUNES, J. A. R.; GOMES, R. L. F. Manejo de corte das folhas de Copernicia prunifera (Miller) H. H. Moore<br />
no Piauí. Revista Caatinga, v. 26, n. 2, p. 25-30, 2013.<br />
43<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Costa, V.L.S. et al.<br />
GOMES, J. M. A.; CERQUEIRA, E. B.; CARVALHO, J. N. F. Custos e benefícios da preservação dos carnaubais nativos<br />
nordestinos. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 47.,<br />
2009, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, 2009, p. 1-20.<br />
GOMES, J. M. A.; NASCIMENTO, W. L. Visão sistêmica da cadeia produtiva da carnaúba. In: GOMES, J. M. A.; SANTOS, K.<br />
B.; SILVA, M. S. (Orgs.). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico e cenário. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 23-34.<br />
HOLANDA, S. J. R. Efeito da salinidade induzida no desenvolvimento e crescimento inicial de carnaúba (Copernicia<br />
prunifera (Miller) H. E. Moore): suporte a estratégias de restauração em áreas salinizadas. 75 f. Dissertação (Mestrado<br />
em Desenvolvimento e Meio Ambiente)–Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2006.<br />
ISBELL, F.; CALCAGNO, V.; HECTOR, A.; CONNOLLY, J.; HARPOLE, W. S.; REICH, P. B.; SCHERER-LORENZEN, M.; SCHMID,<br />
B.; TILMAN, D.; RUIJVEN, J. V.; WEIGELT, A.; WILSEY, B. J.; ZAVALETA, E. S.; LOREAU, M. High plant diversity is needed to<br />
maintain ecosystem services. Nature, v. 477, p. 199-203, 2011. DOI: 10.1038/nature10282<br />
LIMA, A. S.; ARAÚJO, J. L. L. Geoambientes e as atividades agropecuárias consorciadas e associadas nas áreas dos<br />
carnaubais. In: GOMES, J. M. A.; SANTOS, K. B.; SILVA, M. S. (Orgs.). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico<br />
e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 35-47.<br />
LORENZI, H. (Org.). Flora brasileira – Arecaceae (palmeiras). Nova Odessa: Plantarum, 2010. 384 p.<br />
MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT (MEA). Living beyond our means: natural assets and human well-being.<br />
Statement from the Board, 2005.<br />
MIRANDA, D. L. C.; SANQUETTA, C. R.; COSTA, L. G. S.; CORTE, A. P. D. Biomassa e Carbono em Euterpe oleracea Mart.,<br />
na Ilha do Marajó – PA. Floresta e Ambiente, v. 19, n. 3, p. 336-343, 2012. DOI: 10.4322/floram.2012.039<br />
MISSANJO, E.; KAMANGA-THOLE, G. Estimation of biomass and carbon stock for Miombo Woodland in Dzalanyama<br />
Forest reserve, Malawi. Research Journal of Agriculture and Forestry Science, v. 3, p. 7-12, 2015.<br />
MORAES, J. L. A. Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como instrumento de política de desenvolvimento<br />
sustentável dos territórios rurais: O Projeto Protetor Das Águas de Vera Cruz, RS. Sustentabilidade em Debate, v. 3, n. 1,<br />
p. 43-56, 2012. http://dx.doi.org/10.18472/SustDeb.v3n1.2012.7196<br />
MOTTA, R. S. Manual para valoração econômica de recursos ambientais. Rio de Janeiro: IPEA/MMA/PNUD/CNPq, 1997.<br />
______. Valoração e precificação dos recursos ambientais para uma economia verde. Economia Verde, n. 8, p. 179-190, 2011.<br />
PEARSON, T. R. H.; BROWN, S.; BIRDSEY, R. A. Measurement guidelines for the sequestration of forest carbon. United<br />
States: Department of Agriculture, 2007.<br />
PESSOA, S. G.; BARBOSA, I. A.; KEUNECKE, L. F.; GOMES, D. A.; COCCO, M. L.; MACENA, D. R. Sequestro florestal de CO 2<br />
em clube campestre: opção para compensação de emissões de frota de ônibus urbano. Revista em Agronegócios e<br />
Meio Ambiente, v. 5, n. 1, p. 205-224, 2012.<br />
RATUCHNE, L. C.; BRUSTOLIM, J. C.; KOEHLER, H. S.; WATZLAWICK, L. F.; SANQUETTA, C. R.; SCHAMNE, P. A. Quantificação<br />
de carbono florestal em povoamentos de Araucaria angustifolia no sudoeste do estado do Paraná. Ambiência, v. 11, n.<br />
2, p. 321-335, 2015. DOI: 10.5935/ambiencia.2015.02.04<br />
REIS FILHO, A. A. (Org.). Projeto Carnaupi: Mapeamento espacial e zoneamento de carnaúba no Piauí – relatório.<br />
Teresina: EDUFPI, 2005.<br />
REIS, R. G. E.; BEZERRA, A. M. E.; GONÇALVES, N. R.; PEREIRA, M. S.; FREITAS, J. B. S. Biometria e efeito da temperatura e<br />
tamanho das sementes na protrusão do pecíolo cotiledonar de carnaúba. Ciência Agronômica, v. 41, n. 1, p. 81-86, 2010.<br />
44<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
Quantificação do estoque de carbono da Copernicia prunifera (mill.) H. E. Moore em áreas distintas<br />
REIS, R. G. E.; PEREIRA, M. S.; GONÇALVES, N. R.; PEREIRA, D. S.; BEZERRA, A. M. E. Emergência e qualidade de mudas<br />
de Copernicia prunifera em função da embebição das sementes e sombreamento. Revista Caatinga, v. 24, n. 4, p. 43-<br />
49, 2011.<br />
RIBEIRO, S. C.; JACOVINE, L. A. G.; SOARES, C. P. B.; MARTINS, S. V.; SOUZA, A. L.; NARDELLI, A. M. B. Quantificação de<br />
biomassa e estimativa de estoque de carbono em uma floresta madura no município de Viçosa, Minas Gerais. Revista<br />
Árvore, v. 33, n. 5, p. 917-926, 2009. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622009000500014<br />
ROCHA, G. P.; FERNANDES, L. A.; CABACINHA, C. D.; LOPES, I. D. P.; RIBEIRO, J. M.; FRAZÃO, L. A.; SAMPAIO, R. A.<br />
Caracterização e estoques de carbono de sistemas agroflorestais no Cerrado de Minas Gerais. Ciência Rural, v. 44, n. 7,<br />
p. 1197-1203, 2014. http://dx.doi.org/10.1590/0103-8478cr20130804<br />
SILVA, H. F.; RIBEIRO, S. C.; BOTELHO, S. A.; FARIA, R. A. V. B.; TEIXEIRA, M. B. R.; MELLO, J. M. Estimativa do estoque de<br />
carbono por métodos indiretos em área de restauração florestal em Minas Gerais. Scientia Forestais, v. 43, n. 108, p.<br />
943-953, 2015. DOI: 10.18671/scifor.v43n108.18<br />
SILVA, N.; LUCENA, R. F. P.; LIMA, J. R. F.; LIMA, G. D. S.; CARVALHO, T. K. N.; SOUSA JÚNIOR, S. P.; ALVES, C. A. B.<br />
Conhecimento e uso da vegetação nativa da caatinga em uma comunidade rural da Paraíba, Nordeste do Brasil. Boletim<br />
do Museu de Biologia Mello Leitão, v. 34, 2014.<br />
SILVA, R. A. R.; ROCHA, T. G. F.; MARINHO, A. A.; FARJADO, C. G.; VIEIRA, F. A. Etnoecologia e etnobotânica da palmeira<br />
carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore) no semi-árido do vale do Rio Açu, RN. In: CONGRESSO DE ECOLOGIA<br />
DO BRASIL, 10., 2011, São Lourenço. Anais... São Lourenço, 2011. p. 1-2.<br />
SOUSA, R. F.; SILVA, R. A. R.; ROCHA, T. G. F.; SANTANA, J. A. S.; VIEIRA, F. A. Etnoecologia e etnobotânica da palmeira carnaúba<br />
no semiárido brasileiro. Cerne, v. 21, n. 4, p. 587-594, 2015. http://dx.doi.org/10.1590/01047760201521041764<br />
VIEIRA, I. R.; OLIVEIRA, J. S.; LOIOLA, M. I. B. Effects of harvesting on leaf production and reproductive performance of<br />
Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore. Revista Árvore, v. 40, n. 1, p. 117-123, 2016. http://dx.doi.org/10.1590/0100-<br />
67622016000100013<br />
WATZLAWICK, L. F.; CALDEIRA, M. V. W.; VIERA, M.; SCHUMACHER, M. V.; GODINHO, T. O.; BALBINOT, R. Estoque de<br />
biomassa e carbono na Floresta Ombrófila Mista Montana Paraná. Scientia Forestalis, v. 40, n. 95, p. 353-362, 2012.<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
45<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 35-45
DOI: 10.5327/Z2176-947820180210<br />
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O SETOR HIDROELÉTRICO<br />
BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE EM MODELOS DO IPCC-AR5<br />
CLIMATE CHANGE AND BRAZILIAN HYDROPOWER SECTOR:<br />
AN ANALYSIS BASED ON GLOBAL MODELS FROM IPCC-AR5<br />
Cleiton da Silva Silveira<br />
Professor adjunto do Instituto de<br />
Engenharia e Desenvolvimento<br />
Sustentável, Universidade da<br />
Integração Internacional da<br />
Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) –<br />
Redenção (CE), Brasil.<br />
Francisco de Assis<br />
Souza Filho<br />
Professor adjunto do Departamento<br />
de Engenharia Hidráulica e<br />
Ambiental (DEHA), Universidade<br />
Federal do Ceará (UFC) –<br />
Fortaleza (CE), Brasil.<br />
Francisco das Chagas<br />
Vasconcelos Júnior<br />
Pesquisador, Fundação Cearense de<br />
Meteorologia e Recursos Hídricos<br />
(FUNCEME) – Fortaleza (CE), Brasil.<br />
Luiz Martins de<br />
Araújo Júnior<br />
Doutorando em Engenharia Civil,<br />
UFC – Fortaleza (CE), Brasil.<br />
Samuellson Lopes Cabral<br />
Tecnologista, Centro Nacional<br />
de Monitoramento e Alertas de<br />
Desastres Naturais (CEMADEN) –<br />
São José dos Campos (SP), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Cleiton da Silva Silveira –<br />
Avenida da Abolição, 3 – Centro –<br />
CEP 62790‐000 – Redenção (CE), Brasil –<br />
E-mail: cleitonsilveira@unilab.edu.br<br />
Recebido: 29/11/2016<br />
Aceito: 30/11/2017<br />
RESUMO<br />
O objetivo deste trabalho foi analisar o impacto das mudanças climáticas nas<br />
vazões dos postos do setor elétrico brasileiro utilizando seis modelos globais<br />
do Intergovernmental Panel on Climate Change — Fifth Assessment Report<br />
(IPCC-AR5) para os cenários RCP4.5 e RCP8.5 no período de 2011 a 2098.<br />
As vazões de 21 postos representativos do Operador Nacional do Sistema<br />
(ONS) do Sistema Interligado Nacional (SIN) foram geradas por meio do<br />
modelo hidrológico Soil Moisture Account Procedure (SMAP), enquanto as<br />
vazões dos demais postos que compõem o SIN foram obtidas por regressões<br />
lineares. Foram analisadas as anomalias das vazões médias anuais e a<br />
tendência no período de 2011 a 2098. Os modelos do IPCC-AR5 mostraram<br />
que há maior possibilidade de redução nas vazões anuais na maior parte<br />
do Brasil, exceto para a Região Sul, onde os modelos mostram aumentos<br />
superiores a 5% no período de 2040 a 2069.<br />
Palavras-chave: vazão; setor hidroelétrico brasileiro; mudanças climáticas.<br />
ABSTRACT<br />
The objective of this study was to assess the climate change impacts on the<br />
annual streamflows of the brazilian hydropower sector by using six global<br />
models from Intergovernmental Panel on Climate Change — Fifth Assessment<br />
Report (IPCC-AR5) for RCP4.5 and RCP8.5 scenarios from 2011 and 2098.<br />
Streamflow from 21 relevant National Electric System Operator (ONS)<br />
stations from National Interconnected System (NIS) were generated through<br />
the hydrological model Soil Moisture Account Procedure (SMAP), while the<br />
streamflow from other stations that compose the NIS were obtained by linear<br />
regression. Annual mean streamflow anomalies and trend were analyzed in<br />
the period from 2011 to 2098. The IPCC-AR5 models showed that there is<br />
a greater possibility of reduction in annual streamflows in most of Brazil,<br />
except for the southern, where the models showed increases more than 5%<br />
during 2040–2069.<br />
Keywords: streamflow; hydropower sector; climate change.<br />
46<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
As mudanças climáticas podem produzir grandes impactos<br />
sobre os recursos hídricos. É possível que o<br />
aumento da temperatura média global observado nas<br />
últimas décadas cause alterações no ciclo hidrológico,<br />
por meio de modificações dos padrões de precipitação<br />
e evapotranspiração capazes de impactar diretamente<br />
a umidade do solo, a reserva subterrânea e a geração<br />
do escoamento superficial (BATES et al., 2008).<br />
Esses aspectos, associados ao aumento da demanda<br />
por água, estão projetados para as próximas décadas,<br />
principalmente em razão do crescimento populacional<br />
e do aumento da riqueza; regionalmente, poderão<br />
exercer grande pressão nos hidrossistemas brasileiros.<br />
O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima<br />
(IPCC) garante que mudanças climáticas impõem uma<br />
grande ameaça ao desenvolvimento sustentável, por<br />
afetar de forma direta e indireta grande parte da população,<br />
sua saúde, os recursos hídricos, as infraestruturas<br />
urbana e rural, as zonas costeiras, as florestas e<br />
a biodiversidade, bem como os setores econômicos —<br />
como agricultura, pesca, produção florestal, geração<br />
de energia, indústrias — e suas cadeias (CHIEW et al.,<br />
2009). O IPCC aponta impactos de grande magnitude<br />
sobre a América do Sul, especialmente quanto a recursos<br />
hídricos e setores econômicos relacionados,<br />
impondo a necessidade de formular medidas de adaptação,<br />
com vistas a gerenciar riscos climáticos. Dessa<br />
forma, torna-se fundamental a elaboração de subsídios<br />
ao planejamento nacional de longo prazo que incorporem<br />
a mudança do clima.<br />
A matriz energética brasileira é basicamente constituída<br />
por energias consideradas limpas, principalmente<br />
provenientes de hidroelétricas, extremamente dependente<br />
do regime de vazões nos rios em que estão localizados<br />
os empreendimentos. Qualquer modificação<br />
nos padrões do ciclo hidrológico pode representar impactos<br />
significativos na geração de energia, tornando o<br />
sistema mais vulnerável (PRADO JR. et al., 2016; SOITO;<br />
FREITAS, 2011).<br />
A variação do escoamento nos rios é influenciada por<br />
diversos fatores, entre os quais se destacam a precipitação<br />
ocorrida na bacia de contribuição e as mudanças<br />
no uso e na ocupação do solo. Portanto, a geração de<br />
hidroeletricidade no Brasil exige uma análise sobre o<br />
regime fluvial e seus padrões de variação temporal,<br />
INTRODUÇÃO<br />
dado o significativo impacto que essas variações podem<br />
produzir na oferta de energia e, consequentemente,<br />
em toda a economia brasileira (ALVES et al.,<br />
2013). Diante disso, existe uma demanda pelo Estado<br />
e pelas empresas privadas por informações climáticas<br />
para tomada de decisão a nível regional/local de médio<br />
e longo prazos. Informações de variabilidade e mudanças<br />
climáticas de qualidade podem tornar o planejamento<br />
energético mais eficaz e minimizar os potenciais<br />
impactos acerca da disponibilidade desse recurso<br />
(BANCO MUNDIAL, 2010).<br />
As mudanças e a variabilidade climáticas têm sido<br />
alvo de discussões e pesquisas científicas em todo<br />
o mundo, com vistas ao entendimento de sua ocorrência<br />
(IPCC, 2007a; 2007b; NOBRE, 2005; SILVEIRA<br />
et al.,2013a; 2013b; 2013c; SILVEIRA et al., 2012; SOU-<br />
ZA FILHO, 2003; MARENGO; SOARES, 2005; MARENGO;<br />
VALVERDE, 2007;ARNEEL, 2004; VAN VILET et al., 2012;<br />
VAN VILET et al., 2016). Os impactos no escoamento<br />
de água superficial e na recarga de água subterrânea<br />
variam dependendo da região e do cenário climático<br />
considerado (IPCC, 2014), mas relacionam-se, principalmente,<br />
com as alterações projetadas para a precipitação<br />
(IPCC, 2001; KROL et al., 2006).<br />
Muitos estudos foram realizados com o objetivo de<br />
verificar o impacto da mudança do clima nos recursos<br />
hídricos da América do Sul. Milly et al. (2005) afirmam<br />
que há concordância nas projeções para a metade do<br />
século XXI, mostrando aumento de vazão sobre a Bacia<br />
do Paraná-Prata e redução nas bacias do leste da<br />
Amazônia e do Nordeste do Brasil, baseados em modelos<br />
do IPCC-AR4 (quarto relatório do Painel Intergovernamental<br />
de Mudanças Climáticas) no cenário A1B.<br />
Tomasella et al. (2009) acoplaram um modelo hidrológico<br />
para grandes bacias a um modelo regional climático<br />
forçado com modelo global HadCM3 para o cenário<br />
A1B do IPCC-AR4. Esse modelo regional climático revelou<br />
projeções de redução de 30% na vazão mensal sobre<br />
a Bacia do Rio Tocantins, indicando que maiores reduções<br />
podem ocorrer durante o período de estiagem.<br />
Silveira et al. (2014) analisaram o impacto nas vazões<br />
nas bacias do sistema elétrico brasileiro com base em<br />
projeções dos modelos globais do IPCC-AR4, forçando<br />
modelos hidrológicos chuva-vazão para os cenários<br />
A1B, B2 e A2. Os resultados mostraram grande divergência<br />
nos valores das vazões anuais para o Nordeste<br />
47<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
do Brasil, especialmente na Bacia do Xingó, associada<br />
a reduções nas vazões no Setor Sudeste do país, em<br />
torno de 5% em Furnas.<br />
Van Vilet et al. (2012) e Van Vilet et al.(2016) mostram<br />
que sistemas hidrotérmicos são muito vulneráveis às mudanças<br />
climáticas, destacam a dependência daenergia<br />
gerada por hidroelétricas em relação à disponibilidade de<br />
água e sinalizam que o aquecimento global pode afetar o<br />
resfriamento da água das termoelétricas, diminuindo sua<br />
eficiência. Os autores afiançam que é necessário um planejamento<br />
energético com enfoque mais forte na adaptação<br />
do setor elétrico, além de mitigação de impactos,<br />
recomendando que ações sejam tomadas para prover a<br />
segurança hídrica e energética nas próximas décadas.<br />
Sistemas energéticos como o brasileiro estão sujeitos<br />
a impactos advindos da variabilidade e das mudanças<br />
no clima, tanto na produção de energia, em suas diversas<br />
formas, quanto no seu consumo — visto que o<br />
planejamento e a geração eletroenergética do Sistema<br />
Interligado Nacional (SIN) apresentam correlação com<br />
os estoques de água existentes nos reservatórios das<br />
usinas hidrelétricas e das suas afluências. Sobretudo,<br />
em períodos críticos, com reservatórios com baixos<br />
volumes, são acionadas termoelétricas de emergência<br />
para suprir a demanda energética do país. As térmicas<br />
no Brasil acabam por funcionar como reservatórios<br />
virtuais ao proporcionar segurança de abastecimento<br />
quando os reservatórios estão vazios e ao aliviar a necessidade<br />
de estocar água para lidar com a incerteza<br />
das afluências.<br />
As mudanças climáticas representam um desafio para<br />
a gestão de recursos hídricos e energéticos do Brasil.<br />
Prado Jr. et al. (2016) reforçam que a política de crescimento<br />
energético do país precisa ser revista em busca<br />
de garantir a segurança energética a longo prazo perante<br />
as mudanças climáticas e sugerem que esforços<br />
precisam ser concentrados em melhoria da eficiência<br />
energética, além de investimentos em energia eólica e<br />
solar. Prado Jr.et al. (2016) destacam ainda que, para<br />
garantir o crescimento econômico do país, é necessária<br />
a construção de alguns empreendimentos hidroelétricos,<br />
entretanto ressaltam que alguns, especialmente<br />
na Região Norte do país, precisam ser cancelados ou<br />
adiados, para evitar e/ou minimizar danos socioeconômicos<br />
e ambientais na região.<br />
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi analisar o<br />
impacto das mudanças climáticas nas vazões dos postos<br />
do setor elétrico brasileiro utilizando seis modelos<br />
do IPCC-AR5 para os cenários RCP4.5 e RCP8.5 no período<br />
de 2011 a 2098.<br />
Esta seção mostra os cenários do IPCC-AR5 utilizados,<br />
além dos procedimentos para a obtenção das vazões<br />
para os aproveitamentos hidroelétricos do SIN.<br />
METODOLOGIA<br />
• A primeira etapa consiste em escolher as bacias representativas<br />
que contemplam espacialmente a<br />
maior parte do SIN. Conforme esse critério, foram selecionadas<br />
21 bacias, dispostas como a Figura 1. Em<br />
seguida, são selecionados os dados de estações do<br />
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no período<br />
de 1992 a 2007 (precipitação, insolação, temperatura,<br />
umidade), para calibração dos parâmetros<br />
do modelo hidrológico Soil Moisture Accounting Procedure<br />
(SMAP) (LOPES et al., 1981). Para tanto, é utilizado<br />
um procedimento de otimização objetivo com<br />
base no coeficiente de Nash-Sutcliffe, ao comparar a<br />
série de vazões obtidas pelo SMAP com a série disponibilizada<br />
pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).<br />
Mais detalhes sobre o modelo SMAP podem ser encontrados<br />
no subtópico “Modelo hidrológico”;<br />
A metodologia de obtenção das vazões divide-se, basicamente,<br />
em cinco etapas:<br />
• A segunda etapa fundamenta-se na obtenção das precipitações<br />
dos modelos globais do IPCC-AR5 para os<br />
cenários Historical, RCP4.5 e RCP8.5 para 21 bacias de<br />
interesse, conforme a Figura 1, para posterior correção<br />
estatística para remoção de viés usando a função de<br />
distribuição gama. Essa correção utilizou como base<br />
de dados de precipitação mensal o Climate Research<br />
Unit (CRU) (NEW et al.,2002). Para período histórico,<br />
usou-se a série mensal de 1950 a 1999, enquanto para<br />
as projeções se utilizoua série de 2010 a 2098. Mais<br />
detalhes sobre os modelos globais empregados estão<br />
no subtópico “Modelos do IPCC-AR5”;<br />
• A terceira etapa pauta-se em obter as evapotranspirações<br />
potenciais por meio dos modelos globais<br />
do IPCC-AR5 para os cenários Historical, RCP4.5<br />
48<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
e RCP8.5, usando o método de Pennan-Motheih<br />
( ALLEN et al., 1998). Para tanto, são usadas como<br />
dados de entrada as temperaturas máxima, mínima<br />
e média dos modelos globais do IPCC-AR5;<br />
• Na quarta etapa, obtêm-se as vazões usando modelo<br />
hidrológico SMAP (LOPES et al., 1981; SOUZA<br />
FILHO; PORTO, 2003) em 21 postos, tendo como<br />
dados de entrada as evapotranspirações estimadas<br />
e as precipitações com viés removido;<br />
• A quinta etapa consiste em obter as vazões estimadas<br />
com base nos dados dos modelos globais<br />
para os postos que não possuem o modelo hidrológico<br />
calibrado.Para isso, são utilizadas regressões<br />
mensais a partir dos postos que possuem o<br />
SMAP calibrado.<br />
Para realizar esse procedimento, são utilizadas as séries<br />
mensais de vazões naturalizadas disponibilizadas pelo ONS<br />
no período de 1931 a 2009. As séries de vazões do ONS<br />
são divididas em dois grupos: um com 21 postos e outro<br />
com 167, sendo a vazão mensal dos 21 postos usada como<br />
preditora da vazão dos demais postos. Logo, obtêm-se os<br />
parâmetros da regressão dos 167 postos usando stepwise.<br />
Com as vazões dos modelos globais do IPCC-AR5 estimadas<br />
pelo SMAP para as 21 bacias e com os parâmetros<br />
gerados para os outros 167 postos, são estimadas<br />
as vazões dos 188 postos que compõem o SIN.<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
Latude<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
-35<br />
-75<br />
1 – Furnas<br />
2 – Água Vermelha<br />
3 – Emborcação<br />
4 – Nova Ponte<br />
5 – Itumbiara<br />
6 – São Simão<br />
7 – Rosana<br />
8 – Itá<br />
9 – Dona Francisca<br />
10 –Santa Cecília<br />
11 – Três Marias<br />
12 – Sobradinho<br />
13 – Xingó<br />
14 – Salto Caxias<br />
15 – Nova Avanhandava<br />
16 – Porto Primavera<br />
17 – Itaipu<br />
18 –Serra da Mesa<br />
19 – Lajeado<br />
20 – Tucuruí<br />
21 – Santo Antônio<br />
-70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
Figura 1 – Aproveitamentos hidroelétricos do Sistema Interligado Nacional. Os postos numerados<br />
representam aqueles que foram gerados a partir do uso do modelo hidrológico, enquanto os demais<br />
representam os postos cujas vazões foram geradas por meio de regressões lineares. A estrela<br />
representa o subsistema Norte; o quadrado, o Nordeste; o triângulo, o Sudeste; e o círculo, o Sul.<br />
49<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
O Sistema Interligado Nacional<br />
O SIN responde pela produção e transmissão de energia<br />
elétrica do Brasil. É um sistema hidrotérmico de grande<br />
porte com predominância de usinas hidroelétricas.<br />
Esse sistema possui grande variabilidade espacial por<br />
conta das diversas localizações dos postos no país, sofrendo<br />
influência de vários fenômenos meteorológicos<br />
e indicando comportamentos sazonais distintos para as<br />
bacias que compõem o sistema. A fim de aproveitar ao<br />
máximo os recursos energéticos existentes do SIN e a sazonalidade<br />
hidrológica própria de cada região, o sistema<br />
é dividido em quatro subsistemas: Setor Sudeste/Centro-Oeste,<br />
Setor Sul, Setor Norte e Setor Nordeste. Esses<br />
subsistemas são interligados por uma extensa malha de<br />
transmissão que possibilita a transferência de excedentes<br />
energéticos e permite a otimização dos estoques armazenados<br />
nos reservatórios das usinas hidroelétricas.<br />
A Região Norte produz 8% da energia nacional em GWh e<br />
demanda 7%, a Região Nordeste produz 11% e demanda<br />
18%, a Região Sul produz 18% e demanda 16%, e a Região<br />
Sudeste/Centro-Oeste produz 47% e demanda 61%.<br />
A previsão de vazões e a geração de cenários de afluências<br />
definidas em ONS (2009, 2012b) estabelecem os<br />
processos para a previsão de vazões mensais, semanais<br />
e diárias e para a geração de cenários de afluências naturais<br />
médias mensais utilizadas na elaboração do Programa<br />
Mensal da Operação Energética (PMO).<br />
Em razão das metodologias e dos critérios atualmente<br />
adotados na previsão de vazões, o ONS pode não utilizar<br />
a disponibilidade de vazões mensais para alguns locais<br />
de aproveitamento em operação. Para tanto, adota-se,<br />
em geral, a realização de previsão de vazões para um<br />
subconjunto de aproveitamentos de cada bacia, denominados<br />
de postos-base. No restante dos locais de aproveitamento,<br />
as vazões são previstas por meio de regressões<br />
lineares mensais com base nos dados previstos nos<br />
postos-base para complementar as previsões de vazões<br />
para todo o SIN (ONS, 2012b). O ONS trabalha atualmente<br />
com o total de 88 postos-base, representativo dos diversos<br />
regimes hidrográficos regionais encontrados em<br />
território brasileiro.<br />
Neste trabalho foram utilizados 21 postos-base para a<br />
calibração do modelo SMAP, enquanto as vazões dos demais<br />
postos foram obtidas por meio de regressões, conforme<br />
Figura 1.<br />
Até o fim de 2010 o SIN contava com 206 séries de vazões<br />
naturais devidamente divididas em 185 pontos de<br />
aproveitamento no sistema, sendo 161 postos naturais, 3<br />
postos artificiais e 21 postos naturais/artificiais. Dos 185<br />
locais de aproveitamento, 169 são postos em operação<br />
e 16 postos em expansão com horizonte de projeto até<br />
2015 (ONS, 2012a).<br />
Modelos do IPCC-AR5<br />
Os dados provenientes do IPCC são resultados de simulações<br />
de modelos atmosféricos globais de centros de<br />
pesquisa que contribuem para a confecção do relatório<br />
do IPCC-AR5 (Quadro 1). Os modelos possuem como<br />
forçantes as concentrações de gases de efeito estufa<br />
durante o século XX e as estimativas de concentração<br />
no século XXI.<br />
Como parte da fase preparatória para o desenvolvimento<br />
dos novos cenários para o AR5, foram criados os chamados<br />
representative concentration pathways (RCPs), que<br />
servem como entrada para modelagem climática e química<br />
atmosférica nos experimentos numéricos do Coupled<br />
Model Intercomparison Project Phase 5 (CMIP5). Os RCPs<br />
recebem seus nomes a partir dos níveis das forçantes radiativas,<br />
conforme relatado pelas equipes de modelagem<br />
elaboradoras de cada RCP. Assim, RCP-X implica um cenário<br />
no qual a forçante radiativa de estabilização ou de pico<br />
ao final do século XXI corresponde a X W.m -2 . Neste trabalho<br />
foram usados os cenários RCP4.5 e RCP8.5 para análise<br />
das projeções do século XXI e três modelos globais do<br />
IPCC-AR5, conforme Quadro 1.<br />
O cenário RCP4.5 pressupõe que a forçante radiativa<br />
estabilizará pouco depois de 2100, sem ultrapassar o<br />
nível de radiação a longo prazo, de 4,5 W/m 2 . Essa projeção<br />
é consistente com a estabilização da demanda<br />
energética mundial, programas de reflorestamento fortes<br />
e políticas climáticas rigorosas. Além disso, sugere a<br />
estabilização das emissões de metano associada a um<br />
leve aumento das emissões de dióxido de carbono (CO 2<br />
)<br />
50<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
até 2040, até atingir o valor-alvo de 650 ppm de CO 2<br />
,<br />
equivalente ao da segunda metade do século XXI.<br />
O cenário RCP8.5 sugere crescimento contínuo da população<br />
associada ao desenvolvimento tecnológico lento,<br />
Modelo hidrológico<br />
O modelo chuva-vazão SMAP (LOPES et al., 1981) é do<br />
tipo conceitual, determinístico e de estrutura concentrada.<br />
Pertence à grande família dos modelos hidrológicos<br />
de cálculo de umidade do solo. Sua estrutura é<br />
relativamente simples, cujos parâmetros são relacionados<br />
com parâmetros físicos médios da bacia.<br />
O SMAP, em sua versão mensal, utiliza em seu esquema<br />
conceitual dois reservatórios lineares, representando o solo<br />
(camada superior) e o aquífero. A cada evento de precipitação<br />
(P) é realizado um balanço de massa. Uma parcela de<br />
Pé transferida como escoamento superficial (E s<br />
). Esse cálculo<br />
é feito por meio da equação do Soil Conservation Service<br />
(SCS) para escoamento superficial. A lâmina restante da<br />
precipitação subtraída do escoamento superficial (P - E S<br />
) sofre<br />
perda por evaporação em nível de evaporação potencial<br />
(E p<br />
). Logo, a lâmina remanescente (P - E s<br />
- E p<br />
) é adicionada a<br />
um reservatório que representa a camada superior do solo.<br />
Neste, a umidade é atualizada ao longo do tempo por meio<br />
das perdas por evapotranspiração real (E r<br />
), que dependem<br />
do nível do reservatório (R solo<br />
) e da capacidade de saturação<br />
do solo (Cap sat<br />
). Outra saída desse reservatório é a recarga<br />
Obtenção da evapotranspiração<br />
Para o cálculo da evapotranspiração de referência (E p<br />
),<br />
é usado o método de Penman-Monteith (ALLEN et al.,<br />
1998; SILVEIRA et al., 2014). Segundo esse método, a E p<br />
é dada conforme a Equação 1:<br />
resultando em acentuadas emissões de CO 2<br />
. Esse cenário<br />
é considerado o mais pessimista para o século XXI em<br />
termos de emissões de gases do efeito estufa, sendo consistente<br />
com nenhuma mudança política para reduzir as<br />
emissões e forte dependência de combustíveis fósseis.<br />
(Rec) no reservatório subterrâneo (R sub<br />
), em que é utilizado<br />
o conceito de capacidade de campo (Cap c<br />
) para determiná-<br />
-la. Esse segundo reservatório também é linear e o nível de<br />
água existente (R sub<br />
) é deplecionado a uma taxa constante de<br />
recessão do escoamento de base (K), resultando em escoamento<br />
de base (Eb). A soma do E s<br />
e E b<br />
fornece a vazão no<br />
ponto de controle da bacia.<br />
O SMAP mensal possui quatro parâmetros: Cap sat<br />
; parâmetro<br />
que controla o escoamento superficial (PES);<br />
coeficiente de recarga, parâmetro relacionado com a<br />
permeabilidade na zona não saturada do solo (Crec);<br />
e taxa de deplecionamento K do nível R sub<br />
, que gera<br />
o escoamento de base (Eb). Outras duas variáveis de<br />
estado precisam ter seus valores inicializados: taxa de<br />
umidade do solo inicial (TU in<br />
),que determina o nível<br />
inicial do R solo<br />
; e valor do escoamento de base inicial<br />
(EB in<br />
), que define o valor inicial do R sub<br />
.<br />
A calibração foi efetuada para o período de setembro<br />
de 1997 a agosto de 2002, e a validação para setembro<br />
de 2002 a agosto de 2007.Os parâmetros obtidos podem<br />
ser vistos em Silveira et al. (2014).<br />
Ep = 0,408Δ(Rn – G) + γ 900<br />
u2 (es – ea)<br />
T+273 (1)<br />
Δ + γ (1 + 0,34u2)<br />
Modelos<br />
BCC-CSM1-1<br />
BNU-ESM<br />
CESM1-BGC<br />
CSIRO-MK3-6-0<br />
HadGEM2-ES<br />
MIROC5<br />
Quadro 1 – Modelos do IPCC-AR5 considerados.<br />
Instituição ou agência; país<br />
Beijing Climate Center, China Meteorological Administration; China<br />
College of Global Change and Earth System Science, Beijing Normal University; China<br />
Community Earth System Model Contributors; Estados Unidos<br />
Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization in collaboration<br />
with Queensland Climate Change Centre of Excellence; Austrália<br />
Met Office Hadley Centre; Reino Unido<br />
Atmosphere and Ocean Research Institute, National Institute for Environmental Studies,<br />
and Japan Agency for Marine-Earth Science and Technology; Japão<br />
51<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
Em que:<br />
E p<br />
= evapotranspiração de referência (mm dia -1 );<br />
R n<br />
= radiação líquida na superfície das culturas (MJ m 2 dia -1 );<br />
G = fluxo de calor no solo (MJ m 2 dia -1 );<br />
T = média diária da temperatura do ar a 2 m de altura (ºC);<br />
u 2<br />
= velocidade do vento a 2 m de altura (m s -1 );<br />
e s<br />
= pressão da saturação de vapor (kPa);<br />
e a<br />
= pressão de vapor atual (kPa);<br />
(e s<br />
- e a<br />
) = déficit de saturação de vapor (kPa);<br />
Δ = inclinação da curva da pressão de vapor versus<br />
temperatura (kPa ºC -1 );<br />
Modelo de regressões<br />
A primeira etapa do modelo de regressão é a padronização<br />
das séries mensais das vazões naturalizadas do<br />
ONS, utilizando a Equação 2:<br />
γ (kPa ºC -1 ) = constante psicrométrica.<br />
A velocidade do vento em 2 m de altura, a radiação<br />
líquida, a pressão de vapor real ou atual e as temperaturas<br />
máxima e mínima formam um conjunto de dados<br />
básicos para a estimativa da E p<br />
via Penman-Monteith.<br />
Entretanto, para a estimativa do método, foram<br />
utilizadas simplificações físicas; os dados de entrada<br />
para esse método foram as temperaturas média, mínima<br />
e máxima, enquanto a velocidade do vento a 2<br />
m de altura foi considerada 2m/s. Mais detalhes podem<br />
ser encontrados em Silveira et al (2014).<br />
Após a padronização, é realizada a regressão linear<br />
das vazões naturalizadas do ONS e são obtidos os parâmetros<br />
de cada posto que não possui o SMAP, considerando<br />
os demais postos como variáveis explanatórias.<br />
A regressão linear é dada pela Equação 3:<br />
qi,j,k – qi,j<br />
Zi,j,k =<br />
σi,j<br />
(2)<br />
Em que:<br />
Z = vazão normalizada;<br />
i =número de meses (variando de 1 a 12);<br />
k = número de anos (variando de 1931 a 2008);<br />
j = número de postos utilizados (no total de 188);<br />
q i,j,k<br />
= vazão naturalizada do posto j no mês i padronizado<br />
no ano k;<br />
q i,j<br />
= matriz que representa a média de todos os meses<br />
e postos;<br />
σ i,j = matriz que representa o desvio padrão da série<br />
mensal de todos os postos.<br />
zi,pj,k =<br />
Σ<br />
pk=21<br />
pk=1<br />
zi,pk,k . βi,pk(3)<br />
Em que:<br />
pk = bacias cujas vazões são obtidas via SMAP. Portanto,<br />
pk varia de 1 a 21;<br />
pj = postos que não possuem o SMAP calibrado. Logo,<br />
pj varia de 1 a 167;<br />
βi,pk = coeficientes das regressões.<br />
Com os coeficientes — aferidos a partir das séries de vazões<br />
naturalizadas do ONS — e as vazões obtidas via SMAP<br />
com dados dos modelos globais do IPCC-AR5, são obtidas<br />
as vazões para os cenários de mudança climática para os<br />
demais postos utilizando os parâmetros de regressão.<br />
Análise das projeções<br />
Cálculo da anomalia média anual<br />
Para o cálculo da anomalia média anual foi considerada<br />
a Equação 4, dada pela diferença entre a média<br />
anual do cenário do século XXI e a média anual<br />
do cenário histórico sobre a média anual do cenário<br />
histórico:<br />
Aanual = (pu – p a )<br />
XXI xx<br />
p a<br />
xx<br />
. 100(4)<br />
Em que:<br />
P a XXI = média da vazão anual para o cenário do século XXI;<br />
P a xx = média da vazão anual para o cenário histórico.<br />
52<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
Análise de tendência das precipitações anuais<br />
Para analisar a tendência do século XXI, as séries de<br />
vazões anuais dos cenários do século XXI foram padronizadas<br />
com base nas características da série do cenário<br />
histórico de 1950 a 1999. Essa padronização segue<br />
a Equação 5:<br />
Z = XXXI J – X xx<br />
(5)<br />
σxx<br />
Em que:<br />
Z = vazão do cenário do século XXI padronizada;<br />
X j XXI<br />
=vazão anual dos cenários RCP4.5 e RCP8.5 para<br />
um ano j;<br />
X xx = vazão anual média do cenário histórico na série de<br />
1950 a 1999;<br />
σ xx = desvio padrão da série de vazões anuais do cenário<br />
histórico.<br />
A metodologia de avaliação de tendência utilizada foi o<br />
método clássico de Mann-Kendall-Sen.<br />
Os impactos das mudanças climáticas não são uniformemente<br />
distribuídos no território brasileiro, porém apontam<br />
que, para os cenários RCP4.5 e RCP8.5, há maior possibilidade<br />
de aumento das vazões no Setor Sul do país ao<br />
longo do século XXI, conforme sugerem as Figuras 2 e 3.<br />
No subsistema norte existe uma leve dispersão espacial<br />
entre a resposta das vazões dos postos aos cenários<br />
de mudanças climáticas. Os postos mais ao norte<br />
mostraram reduções de magnitude inferior aos postos<br />
mais ao sul, próximos ao centro-oeste.<br />
Assim como no subsistema norte, o Setor Sudeste/<br />
Centro‐Oeste apresenta leves divergências espaciais; as<br />
anomalias indicam duas regiões que respondem diferentemente<br />
às mudanças climáticas: os aproveitamentos mais<br />
ao Centro-Oeste do país e a região litorânea do Sudeste brasileiro.<br />
Isso é evidenciado para os modelos Commonwealth<br />
Scientific and Industrial Research Organisation - MK-3-6-0<br />
(CSIRO-MK-3-6-0) e Beijing Normal University Earth System<br />
Model (BNU-ESM), que apresentam anomalias negativas<br />
mais intensas na Região Centro-Oeste do Brasil.<br />
No Setor Nordeste a maioria dos modelos apresenta anomalias<br />
negativas para ambos os cenários, sendo o módulo<br />
destas superiores para o cenário RCP8.5 — o mais<br />
pessimista, segundo o IPCC-AR5 —,sugerindo que essa<br />
região semiárida é extremamente sensível ao aumento<br />
das concentrações dos gases de efieito estufa no planeta.<br />
Os modelos BNU-ESM, CSIRO-MK-3-6-0 e Community<br />
Earth System Model — Biogeochemical Elemental Cycling<br />
(CESM1-BGC) indicam reduções em todo o território brasileiro,<br />
exceto no extremo Sul do país, para ambos os cenários,<br />
porém mais evidente para o RCP8.5. O Model for<br />
Interdisciplinary Research on Climate (MIROC5) sugere<br />
RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
aumento superior a 25% no extremo Sul do país, aumento<br />
de menor magnitude na Região Sudeste e anomalias<br />
negativas, de módulo superior a 5%, nas regiões Norte e<br />
Nordeste, enquanto o HadGEM2-ES indica anomalia positiva<br />
no extremo Sul do país, de magnitude superior a 45%,<br />
com grande divergência espacial nas demais regiões. Já<br />
o modelo BCC-CSM1-1 apresenta normalidade na maior<br />
parte das regiões Sudeste e Norte, com reduções superiores<br />
no Nordeste, em módulo a 5%, e anomalias positivas<br />
maiores que 5% no Sul, no período de 2040 a 2069.<br />
As Figuras 4 e 5 exibem as declividades da tendência dos modelos<br />
globais para os cenários RCP4.5 e RCP8.5 para as vazões<br />
anuais do SIN, segundo o teste de Mann‐Kendall‐Sen,<br />
no período de 2011 a 2098. Analisando o conjunto de modelos<br />
que possuem tendência significativa, considerando<br />
todo o SIN, há clara evidência de que o aumento das emissões<br />
dos gases deefeito estufa sugere maior impacto na<br />
geração de energia do setor elétrico, visto que, na maioria<br />
dos casos, o módulo da declividade é sempre maior para o<br />
cenário RCP8.5, em detrimento do RCP4.5.<br />
Para a maioria dos postos do SIN não há tendência significativa,<br />
indicando que a mudança nos padrões médios<br />
pode estar associada à maior frequência de eventos<br />
extremos em todo o Brasil. Essa tendência é bem<br />
pronunciada apenas para alguns modelos no extremo<br />
Sul do país, onde se sinaliza aumento nas vazões.<br />
O modelo CSIRO-MK-3-6-0 aponta tendência negativa<br />
nos subsistemas nordeste, norte e parte do sudeste/<br />
centro-oeste e ausência de tendência no Setor Sul para<br />
ambos os cenários do IPCC-AR5. O modelo BNU-ESM<br />
sinaliza tendência negativa para os setores Norte e Sudeste<br />
e ausência de tendência nas demais regiões.<br />
53<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
10<br />
BCC-CSM1-1: RCP4.5 (2040 a 2069)<br />
10<br />
BNU-ESM: RCP4.5 (2040 a 2069)<br />
5<br />
5<br />
0<br />
0<br />
Latude<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
q ≥ 45<br />
35% ≤ q< 45%<br />
25% ≤ q < 35%<br />
15% ≤ q < 25%<br />
5% ≤ q < 15%<br />
-5% ≤ q < 5%<br />
-15% ≤ q
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
10<br />
BCC-CSM1-1: RCP8.5 (2040 a 2069)<br />
10<br />
BNU-ESM: RCP8.5 (2040 a 2069)<br />
5<br />
5<br />
0<br />
0<br />
Latude<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
q ≥ 45<br />
35% ≤ q< 45%<br />
25% ≤ q < 35%<br />
15% ≤ q < 25%<br />
5% ≤ q < 15%<br />
-5% ≤ q < 5%<br />
-15% ≤ q
Silveira C.S. et al.<br />
Latude<br />
Latude<br />
Latude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
BCC-CSM1-1: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
CESM1-BGC: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
HadGEM2-ES: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
BNU-ESM: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
Figura 4 – Tendência, segundo o método de Mann-Kendall-Sen, das vazões médias anuais<br />
padronizadas para os modelos do IPCC-AR5 no período de 2011 a 2098 para o cenário RCP4.5.<br />
Latude<br />
Latude<br />
Latude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
CSIRO-MK3-6-0: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
MIROC5: RCP4.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
56<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
Latude<br />
Latude<br />
Latude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
BCC-CSM1-1: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
CESM1-BGC: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
HadGEM2-ES: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
BNU-ESM: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
Figura 5 – Tendência, segundo o método de Mann-Kendall-Sen, das vazões médias anuais<br />
padronizadas para os modelos do IPCC-AR5 no período de 2011 a 2098 para o cenário RCP8.5.<br />
Latude<br />
Latude<br />
Latude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
CSIRO-MK3-6-0: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
10<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
Δz> 0,1<br />
0,1 ≤ Δz Δz ≥-0,1<br />
Δz < -0,1<br />
MIROC5: RCP8.5<br />
-35<br />
-75 -70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35 -30<br />
Longitude<br />
57<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
A análise proposta neste trabalho visou gerar informações<br />
acerca do impacto das mudanças climáticas sobre<br />
as vazões do setor elétrico do Brasil. Essas informações<br />
podem ser usadas pelos gestores na adoção de políticas<br />
energéticas e auxiliar medidas que minimizem os<br />
impactos de tais cenários.<br />
CONCLUSÕES<br />
redução hídrica para a agricultura e a indústria, bem<br />
como o desabastecimento de cidades. Além disso, sinalizou<br />
que a expansão do setor elétrico brasileiro para<br />
o Setor Norte do país precisa considerar em seu planejamento<br />
as mudanças climáticas como elemento de<br />
possível redução da oferta da energia na região.<br />
Os modelos do IPCC-AR5 avaliados aqui apontaram impactos<br />
diferentes nas vazões de acordo com os subsistemas<br />
do setor hidroelétrico: há maior possibilidade de<br />
aumento na Região Sul do país, ao passo que na Região<br />
Norte há sinalização de redução. Na Região Nordeste<br />
os modelos mostraram maior divergência, indicando<br />
incerteza em relação ao impacto da mudança do clima.<br />
Na Região Sudeste/Centro-Oeste, apesar da divergência,<br />
há maior possibilidade de redução nas vazões.<br />
O aumento das vazões médias anuais no Setor Sul<br />
do país e a redução no Setor Nordeste não se refletem<br />
na tendência do teste de Mann-Kendall-Sen,<br />
sugerindo que as anomalias mostradas podem estar<br />
associadas àmaior ocorrência de extremos hidrológicos<br />
nas regiões.<br />
Os resultados encontrados para o setor hidroelétrico<br />
norte concordam com os obtidos por Lucena et al.<br />
(2009), que obtiveram a cenarização da matriz energética<br />
do país utilizando informações do IPCC-AR4 e<br />
observaram aumento da vulnerabilidade das regiões<br />
Norte e Nordeste do Brasil.<br />
A redução da disponibilidade hídrica nas regiões Norte<br />
e Sudeste mostrada neste trabalho evidenciou impactos<br />
pelo acirramento de conflitos entre usos múltiplos,<br />
uma possível desaceleração da economia por causa da<br />
Os impactos das mudanças climáticas somados ao<br />
crescimento da demanda energética do Brasil podem<br />
levar a uma grande crise no setor energético brasileiro,<br />
promovendo investimentos em energias não renováveis<br />
em razão do risco de não atendimento dos usuários<br />
com a atual matriz energética. Esse tipo de ação<br />
pode aumentar o custo da geração de energia e criar<br />
um feedback positivo para a mudança climática, bem<br />
como intensificar seus efeitos sobre todo o sistema climático<br />
e, consequentemente, sobre o país.<br />
As mudanças climáticas representam um desafio para<br />
a gestão de recursos hídricos à medida que geram um<br />
conjunto de alterações que afetam o ciclo hidrológico.<br />
Além dos impactos esperados no regime hidrológico, esperam-se<br />
prováveis mudanças na demanda de diversos<br />
setores/usuários. A elevação da temperatura e da evapotranspiração<br />
poderá acarretar, entre outros efeitos, na<br />
maior necessidade de irrigação, refrigeração, consumo<br />
humano e dessedentação de animais em determinados<br />
períodos e regiões. Essas constatações estão associadas<br />
ao estado geral de aumento no consumo de energia, na<br />
demanda hídrica da agricultura e do abastecimento humano<br />
nos centros urbanos. Portanto, as consequências<br />
das mudanças climáticas podem alterar a confiabilidade<br />
dos sistemas de água brasileiro atuais e a gestão dos<br />
usos e das infraestruturas de suprimento hídrico.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water<br />
requirements. Roma: FAOIrrigation and Drainage Paper, 1998.<br />
ALVES, B. C. C.; SOUZA FILHO, F. A.; SILVEIRA, C. S. Análise de tendências e padrões de variação das séries históricas<br />
de vazões do Operador Nacional de Sistemas (ONS). Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 18, n. 4, p. 19-34, 2013.<br />
58<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Mudanças climáticas e o setor hidroelétrico brasileiro: uma análise com base em modelos do IPCC-AR5<br />
ARNELL, N. W. Climate change and global water resources: SRES emission and socioeconomic scenarios. Global<br />
Environmental Change, v. 14, p. 31-52, 2004.<br />
BANCOMUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial de 2010: desenvolvimento e mudança climática. São<br />
Paulo: UNESP, 2010.<br />
BATES, B. C.; KUNDZEWICZ, Z. W.; WU, S.; PALUTIKOF, J.P. (Eds.). Climate Change and Water. Technical Paper of the<br />
Intergovernmental Panel on Climate Change. Geneva: IPCC, 2008.<br />
BRASIL. Ministério de Minas e Energia (MME). Boletim Mensal de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro<br />
Abril-2011. Brasília: MME. 2011. 43 p.<br />
CHIEW, F. H. S.; TENG, J.; VAZE, J.; POST, D. A.; PERRAUD, J. M.; KIRONO, D. G. C.; VINEY, N. R. Estimating climate<br />
change impact on runoff across southeast Australia: Method, results, and implications of the modeling method, Water<br />
Resources Research, v. 45, n. 10, 2009. https://doi.org/10.1029/2008WR007338<br />
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Climate change 2001: Impacts, adaptation, and vulnerability.<br />
In: MCCARTHY, J.J. Contribution of Working Group II to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on<br />
Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. 1032 p.<br />
______. Climate Change 2007: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Cambridge: IPCC, 2007a. 23 p.<br />
______. Climate Change 2007: The physical science basis. Cambridge: IPCC,2007b. 18 p.<br />
______. Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects. Contribution<br />
of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge/<br />
Nova York: Cambridge University Press, 2014. 1132 p.<br />
KROL, M.; JAEGER, A.; BRONSTERT, A.; GÜNTNER, A. Integrated modelling of climate,water, soil, agricultural and socioeconomic<br />
processes: A general introduction of the methodologyand some exemplary results from the semi-arid northeast<br />
of Brazil. Journal of Hydrology, Amsterdã, v. 328, p. 417-431, 2006.<br />
LOPES, J. E. G.; BRAGA JR., B. P. F.; CONEJO, J. G. L. A. Simulação hidrológica: aplicações de um modelo simplificado.<br />
In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 3., 1981, Fortaleza. Anais... Fortaleza, 1981. p. 42-62.<br />
LUCENA, A. F. P.; SZKLO, A. S.; SCHAEFFER, R.; SOUZA, R. R.; BORBA, B. S. M. C.; COSTA, I. V. L. C.; PEREIRA<br />
JÚNIOR, A. O.; CUNHA, S. H. F. The vulnerability of renewable energy to climate change in Brazil. Energy Policy,<br />
v. 37, p. 879-889, 2009.<br />
MARENGO, J. A.; SOARES, W. R. Impacto das mudanças climáticas no Brasil e possíveis cenários climáticos: Síntese do<br />
Terceiro Relatório do IPCC de 2001. São Paulo: CPTEC-INPE, 2005. 29 p.<br />
MARENGO, J. A.; VALVERDE, M. C. Caracterização do clima no Século XX e Cenário de Mudanças de clima para o Brasil<br />
no Século XXI usando os modelos do IPCC-AR4. Revista Multiciência, Campinas, n. 8, maio 2007.<br />
MILLY, P. C. D.; DUNNE, K. A.; VECCHIA, A. V. V. Global pattern of trends in streamflow e water availability in a changing<br />
climate. Nature, v. 438, nov. 2005.<br />
NEW, M.; LISTER, D.; HULME, M.; MAKIN, I. A high-resolution data set of surface climate over global land areas. Climate<br />
Research, v. 21, p. 1-25, 2002.<br />
NOBRE, C. A. Vulnerabilidade, impactos e adaptação à mudança no clima.In: BRASIL.Presidência da República. Núcleo de<br />
Assuntos Estratégicos. Mudança do clima: negociações internacionais sobre a mudança do clima. Brasília, 2005. p. 147‐216.<br />
OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA (ONS). Atualização de Séries Históricas de Vazões – 1931 a 2010. Brasília: ONS,<br />
2012a. 36 p.<br />
59<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
Silveira C.S. et al.<br />
______. O Operador Nacional do Sistema elétrico e os procedimentos de rede. Submódulo 9.2 – Recursos hídricos e<br />
meteorologia – Acompanhamento, análise e tratamento dos dados hidroenergéticos do Sistema Interligado Nacional.<br />
Revisão 1.0. Operador Nacional do Sistema – ONS. Brasília: ONS, 2009. 11 p.<br />
______. Programa Mensal da Operação (PMO). Relatório Mensal de Previsão de Vazões e Geração de Cenários de<br />
Afluências – Fevereiro/2012. Brasília: ONS, 2012b.<br />
PRADO JR., F. A.; ATHAYDE, S.; MOSSA, J.; BOHLMAN, S.; LEITE, F.; OLIVER-SMITH, A. How much is enough? An integrated<br />
examination of energy security, economic growth and climate change related to hydropower expansion in Brazil.<br />
Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 53, p.1132-1136, 2016.<br />
SILVEIRA, C. S.; SOUZA FILHO, F. A.; CABRAL, S. L. Análise das projeções de precipitação do IPCC-AR4 para os cenários<br />
A1B, A2 e B1 para o século XXI para 28 Nordeste Setentrional do Brasil. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, n. 2,<br />
p. 117-134, 2013a.<br />
SILVEIRA, C. S.; SOUZA FILHO, F. A.; COSTA, A. A.; CABRAL, S. L. Avaliação de desempenho dos modelos do CMIP5 quanto à<br />
representação dos padrões de variação da precipitação no século XX sobre a região Nordeste do Brasil, Amazônia e bacia<br />
do Prata e análise das projeções para o cenário RCP8.5. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 28, p. 317‐330, 2013b.<br />
SILVEIRA, C. S.; SOUZA FILHO, F. A.; LEMOS, W. E. D.; CABRAL, S. L. Mudanças Climáticas e Outorga pelo uso da água<br />
no Nordeste do Brasil. In: SOUZA FILHO, F. A.; CAMPOS, J. N. B.; AQUINO, S. H. S. (Orgs.). Gerenciamento de Recursos<br />
Hídricos no Semiárido.Fortaleza: Expressão, 2013c. v. 1, p. 243-256.<br />
SILVEIRA, C. S.; SOUZA FILHO, F. A.; LOPES, J. E. G.; BARBOSA, P. S. F.; TIEZZI, R. O. Análise das projeções de vazões nas<br />
bacias do setor elétrico brasileiro usando dados do IPCC-AR4 para o século XXI. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,<br />
v. 19, p. 59-71, 2014.<br />
SILVEIRA, C. S.; SOUZA FILHO, F. A.; SOUZA FILHO, F. A.; CAMPOS, Y. M. L.; COSTA, A. A.; SALES, D. C.; COUTINHO, M. M.<br />
Sazonalidade da precipitação sobre o Nordeste Setentrional brasileiro nas simulações do IPCC-AR4. Revista Brasileira<br />
de Recursos Hídricos, v. 17, p. 125-134, 2012.<br />
SOITO, J. L. S.; FREITAS, M. A. V. Amazon and the expansion of hydropower in Brazil: vulnerability, impacts and possibilities<br />
for adaptation to global climate change. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 15, p. 3165-3177, 2011.<br />
SOUZA FILHO, F. A. Variabilidade e Mudança Climática nos Semi-Áridos Brasileiros. In: TUCCI, C. E. M.; BRAGA, B. Clima<br />
e Recursos Hídricos no Brasil. Porto Alegre: ABRH, 2003. p. 77-116.<br />
SOUZA FILHO, F. A.; PORTO, R. L. L. Acoplamento de Modelo Climáticos e Modelo Hidrológico. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO<br />
DE RECURSOS HÍDRICOS, 15., 2003, Curitiba. Anais… Porto Alegre: ABRH.<br />
TOMASELLA, J.; RODRIGUES, D. A.; CUARTAS, L. A.; FERREIRA, M.; FERREIRA, J. C.; MARENGO, J. Estudo de impacto das<br />
mudanças climáticas sobre os recursos hídricos superficiais e sobre os níveis dos aqüíferos na bacia do rio Tocantins. Convênio<br />
de Cooperação Técnico-Científica INPE-VALE. Convênio de Cooperação Técnico-Científica. Manaus: INPE/CCST, 2009.<br />
VAN VLIET, M. T.; WIBERG, D.; LEDUC, S.; RIAHI, K. Power-generation system vulnerability and adaptation to changes in<br />
climate and water resources. Nature Climate Change, 2016.<br />
VAN VLIET, M. T.; YEARSLEY, J. R.; LUDWIG, F.; VÖGELE, S.; LETTENMAIER, D. P.; KABAT, P. Vulnerability of US and<br />
European electricity supply to climate change. Nature Climate Change, 2012.<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
60<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 46-60
DOI: 10.5327/Z2176-947820180310<br />
AVALIAÇÃO DE IMPACTO À SAÚDE DO PROGRAMA<br />
DE CONTROLE DE POLUIÇÃO DO AR POR VEÍCULOS<br />
AUTOMOTORES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, BRASIL<br />
HEALTH IMPACT ASSESSMENT OF AUTOMOTIVE VEHICLES AIR<br />
POLLUTION CONTROL PROGRAM IN SÃO PAULO, SP, BRAZIL<br />
Karina Camasmie Abe<br />
Biomédica, mestre e doutora em<br />
Ciências da Saúde, Universidade<br />
Federal de São Paulo (UNIFESP) –<br />
São Paulo (SP), Brasil.<br />
Simone Georges<br />
El Khouri Miraglia<br />
Professora Associada, UNIFESP.<br />
Engenheira e mestre pela Escola<br />
Politécnica, Universidade de São<br />
Paulo (USP). Doutora e pós-doutora,<br />
Faculdade de Medicina da USP –<br />
São Paulo (SP), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Simone Georges El Khouri Miraglia –<br />
Laboratório de Economia, Saúde<br />
e Poluição Ambiental – Instituto<br />
de Ciências Ambientais, Químicas<br />
e Farmacêuticas – Universidade<br />
Federal de São Paulo – Rua São<br />
Nicolau, 210, 4 o andar –<br />
CEP 09913-030 – Diadema (SP), Brasil –<br />
E-mail: simone.miraglia@unifesp.br<br />
Recebido: 30/11/2017<br />
Aceito: 03/04/2018<br />
RESUMO<br />
O objetivo deste trabalho consistiu na análise dos principais determinantes<br />
em saúde atingidos pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos<br />
Automotores (PROCONVE), da evolução temporal dos níveis de material<br />
particulado < 10 μm, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio e ozônio; e<br />
dos dados de saúde cardiorrespiratória, para o município de São Paulo, entre<br />
2000 e 2011. Foi utilizada a metodologia de Avaliação de Impacto à Saúde<br />
com consulta à literatura e a bancos de dados públicos (Departamento de<br />
Informática do Sistema Único de Saúde — DATASUS, Instituto Brasileiro de<br />
Geografia e Estatística — IBGE e Companhia de Tecnologia de Saneamento<br />
Ambiental de São Paulo — CETESB). Com exceção do ozônio, os poluentes<br />
material particulado < 10 μm, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre<br />
se encontraram em declínio ao longo do período de estudo. A morbidade<br />
por doenças respiratórias aumentou no período, exceto as internações por<br />
asma. Observou-se um declínio para a mortalidade cardiovascular, enquanto<br />
houve estabilidade da taxa de óbitos por doença pulmonar obstrutiva crônica.<br />
Conclui-se que o PROCONVE é um programa importante para a manutenção<br />
e a diminuição das concentrações de poluentes atmosféricos.<br />
Palavras-chave: poluição do ar; doenças cardiovasculares; doenças respiratórias;<br />
políticas públicas.<br />
ABSTRACT<br />
The aim of this study was to analyze the main health determinants achieved<br />
by the Automotive Vehicles Air Pollution Control Program (PROCONVE), the<br />
evolution of particulate matter < 10 μm, sulfur dioxide, nitrogen dioxide and<br />
ozone levels and cardiorespiratory health data from the city of São Paulo,<br />
SP, Brazil, from 2000 to 2011. The methodology was based in Health Impact<br />
Assessment approach through bibliography research and public databases<br />
(Informatics Department of the Public Health System — DATASUS, Brazilian<br />
Institute of Geography and Statistics — IBGE and Environmental Company<br />
of Sao Paulo State — CETESB). Particulate matter < 10 μm, nitrogen dioxide<br />
and sulfur dioxide pollutants levels were in decline over the study period,<br />
exception ozone levels. Morbidity due to respiratory diseases increased<br />
in the period, except asthma hospitalizations. There was a decline in<br />
cardiovascular mortality, while there was a stable mortality rate due to<br />
chronic obstructive pulmonary disease. It is concluded that PROCONVE is an<br />
important program in the maintenance and reduction of concentration of<br />
atmospheric pollutants.<br />
Keywords: air pollution; cardiovascular disease; respiratory disease; public policies.<br />
61<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
Com o crescimento econômico, a emissão antrópica de<br />
gases e partículas nocivas tende a intensificar-se progressivamente,<br />
levando ao aumento de sua concentração<br />
na atmosfera (IEMA, 2012). Alguns desses gases e<br />
partículas têm efeitos comprovados na saúde humana<br />
e no meio ambiente, razão pela qual há muita atenção<br />
voltada a eles. Dentre esses, destacam-se o monóxido<br />
de carbono (CO), o ozônio troposférico (O 3<br />
), o material<br />
particulado (PM), o dióxido de nitrogênio (NO 2<br />
) e o dióxido<br />
de enxofre (SO 2<br />
) (IEMA, 2012).<br />
O aumento da população mundial e, consequentemente,<br />
a elevação das emissões de poluentes derivados da queima<br />
de combustível oriundos de veículos automotores e<br />
indústrias resultam na maior degradação da qualidade<br />
do ar, que representa um importante fator de ameaça à<br />
saúde humana, especialmente nos centros urbanos. Os<br />
poluentes atmosféricos têm sido associados, há décadas,<br />
à mortalidade e ao agravamento de doenças respiratórias<br />
(HOEK et al., 2013; XIONG et al., 2015; FREITAS et al.,<br />
2016; TO et al., 2016) e cardiovasculares (POPE et al.,<br />
2004; CHANG et al., 2015; BRAVO et al., 2016; ZÚÑIGA<br />
et al., 2016). Dentre as doenças pulmonares, já foi relatado<br />
que a poluição do ar agrava o risco de pessoas com asma<br />
evoluírem para o quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva<br />
Crônica (DPOC) em até três vezes mais (TO et al., 2016).<br />
Em Beijing, foi constatada a associação entre PM 2,5<br />
(PM<br />
com diâmetro inferior a 2,5 μm) e morbimortalidade<br />
por doença isquêmica do coração e, pelos resultados<br />
do estudo, se os padrões da Organização Mundial<br />
da Saúde (OMS) tivessem sido adotados, evitar-se-ia<br />
o equivalente a mais de 7.700 casos de morbidade e<br />
1.475 óbitos (XIE et al., 2015). Associações similares entre<br />
poluição do ar e doenças cardiovasculares também<br />
foram encontradas em estudos nos Estados Unidos<br />
(THURSTON et al., 2016), em Taiwan (CHANG et al.,<br />
2015), no Canadá (VILLENEUVE et al., 2015), na Europa<br />
(BRUNEKREEF et al., 2009; LANKI et al., 2015) e no Brasil<br />
(BRAGA et al., 2007; ABE & MIRAGLIA, 2016). Assim, a<br />
poluição atmosférica é tema de muitos estudos, assim<br />
como os processos de combustão dos veículos, geradores<br />
de muitos gases e partículas que possuem participação<br />
importante na geração de efeitos adversos à saúde.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Conhecer as principais fontes originárias de poluentes é<br />
de extrema importância, para que medidas mitigadoras<br />
possam ser providenciadas. No Brasil, a frota automotiva<br />
responde por mais de 55% dos veículos do país, seguida<br />
por motocicleta e motonetas, que somam mais 26%,<br />
representando mais de 81% da frota nacional, que gira<br />
em torno de 85 milhões de veículos, segundo dados do<br />
Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2014).<br />
No município de São Paulo, a parcela representativa<br />
de automóveis e motocicletas é ainda maior, chegando<br />
a somar 85% do total de veículos (DENATRAN, 2014),<br />
que em números absolutos chega a mais de 7 milhões<br />
de veículos. Dadas as dimensões nacional e municipal<br />
do porte de veículos e das emissões de poluentes, além<br />
dos resíduos provenientes de indústrias, incinerações,<br />
entre outros, foram sancionadas diversas resoluções e<br />
leis a fim de controlar as emissões de poluentes e estabelecer<br />
limites de qualidade do ar.<br />
No Brasil, os padrões de qualidade atualmente em vigor<br />
foram adotados no início da década de 1990 (BRASIL,<br />
1990). Nos termos da Política Nacional de Meio<br />
Ambiente — PNMA (Lei n. 6.938/1981), os Padrões de<br />
Qualidade do Ar (PQAr) foram incorporados como um<br />
dos instrumentos da política ambiental (BRASIL, 1981).<br />
Considerando a necessidade de se estabelecer estratégias<br />
para o controle, a preservação e a recuperação da<br />
qualidade do ar, válidas para todo o território nacional,<br />
conforme previsto na PNMA de 1981, foi instituído, pela<br />
Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente<br />
(CONAMA) n. 005/1989, o Programa Nacional de<br />
Qualidade do Ar (PRONAR). Esse programa seria<br />
um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para<br />
proteção da saúde e bem-estar das populações e melhoria<br />
da qualidade de vida com o objetivo de permitir<br />
o desenvolvimento econômico e social do País de<br />
forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis<br />
de emissão de poluentes por fontes de poluição<br />
atmosférica (BRASIL, 1989).<br />
Sendo assim, a prevenção dos efeitos deletérios derivados<br />
da poluição atmosférica passa por identificar,<br />
para os principais contaminantes, os níveis minimamente<br />
seguros de proteção das condições de saúde<br />
da população, expressos em termos de valores de sua<br />
concentração no ar (IEMA, 2012).<br />
Dentro desses instrumentos do PRONAR, foram estabelecidos,<br />
em 1990, os valores dos padrões nacionais de qualidade<br />
do ar para partículas totais em suspensão (PTS),<br />
62<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
fumaça, partículas inaláveis (material particulado < 10 μm<br />
– PM 10<br />
), NO 2<br />
, SO 2<br />
, CO e O 3<br />
(BRASIL, 1990).<br />
Outro instrumento do PRONAR é o Programa de Controle<br />
da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE),<br />
instituído em 06 de maio de 1986 e coordenado pelo<br />
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos<br />
Naturais Renováveis (IBAMA). Considerando que a emissão<br />
de poluentes por veículos automotores contribui para<br />
a contínua deterioração da qualidade do ar, especialmente<br />
nos centros urbanos, esse programa definiu os primeiros<br />
limites de emissão para veículos leves, e contribuiu<br />
para o atendimento aos PQAr instituídos pelo PRONAR<br />
(BRASIL, 1986). Desde a sua criação, o PROCONVE apresentou<br />
diversas fases de implantação e favoreceu a melhoria<br />
da qualidade do ar, mesmo com o aumento da frota<br />
automotiva (ESCUCIATTO et al., 2016). Atualmente, encontra-se<br />
nas fases L-6 e P-7, correspondendo às exigências<br />
de melhoria dos padrões de emissões de poluentes<br />
referentes aos veículos leves e pesados, respectivamente.<br />
Considerando a vigência do PROCONVE desde 1986, o<br />
objetivo deste estudo foi analisar os principais determinantes<br />
em saúde atingidos pelo programa e a evolução<br />
temporal das concentrações dos poluentes PM 10<br />
,<br />
SO 2<br />
, NO 2<br />
e O 3<br />
, para o município de São Paulo, assim<br />
como os desfechos em doenças cardiorrespiratórias,<br />
para o período entre os anos 2000 e 2011.<br />
Rede de aspectos e impactos<br />
A fim de avaliar a gama de aspectos e impactos relativos<br />
ao PROCONVE, optou-se pela confecção de uma<br />
rede de efeitos, construída a partir do assunto/tema<br />
geral e expandida com aspectos e impactos de cunho<br />
social, econômico, ambiental e de saúde.<br />
Os portais de busca utilizados foram: Portal da<br />
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível<br />
Superior (CAPES), PubMed, ScienceDirect, Google<br />
Scholar e sites oficiais de órgãos públicos, tanto na esfera<br />
federal quanto estadual e municipal (Ministério do<br />
Meio Ambiente, Ministério da Saúde, Companhia de<br />
Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo —<br />
CETESB e Instituto Estadual do Ambiente do Governo<br />
do Rio de Janeiro, Secretaria de Saúde Pública de São<br />
Paulo, entre outros). Os descritores utilizados foram:<br />
“PROCONVE”, “PROMOT”, Padrões de qualidade do ar”,<br />
“Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Automotores”, “Fases do PROCONVE”, “legislação”.<br />
Os termos foram buscados em língua portuguesa e inglesa.<br />
Os descritores foram agrupados e realizaram-se<br />
as buscas com dois a três descritores e o buscador booleano<br />
“AND” nos sites mencionados. As informações<br />
coletadas foram resumidas e reunidas em um quadro<br />
nomeado “Rede de Impactos”, que reflete uma abordagem<br />
inédita incluída nas etapas da Avaliação de<br />
Impactos à Saúde (AIS), baseada em levantamento de<br />
dados oficiais e análise de evidências. Portanto, dados<br />
de relatórios, artigos científicos, publicações de órgãos<br />
públicos e o conhecimento prévio de especialistas entraram<br />
na composição dessa rede. A construção de rede<br />
de impactos em saúde foi previamente utilizada pelo<br />
Laboratório de Economia, Saúde e Poluição Ambiental<br />
da Universidade Federal de São Paulo (LESPA-UNIFESP),<br />
coordenado pela Profa. Dra. Simone Georges El Khouri<br />
Miraglia (MIRAGLIA & ABE, 2017).<br />
Análise descritiva: poluentes e dados de saúde<br />
A análise descritiva foi realizada para as variáveis em<br />
estudo utilizando-se o software IBM SPSS ® versão 21<br />
e o programa Excel ® , da Microsoft, para Windows, versão<br />
2000. Baseou-se, para os dados de poluentes, na<br />
média diária anual das concentrações de O 3<br />
, NO 2<br />
, SO 2<br />
e<br />
PM 10<br />
. Os dados relativos à emissão diária de poluentes<br />
foram obtidos junto a CETESB (2015). Esse órgão possui<br />
uma rede telemétrica capaz de produzir informações<br />
das concentrações desses poluentes em intervalos de<br />
1 hora. Porém, em muitos dias, não se obteve esse número<br />
de medições em todas as 22 estações de monitoramento.<br />
Após os cálculos das médias diárias, foram<br />
verificadas as quantidades de dados válidos para cada<br />
estação. Com isso, tornou-se possível escolher as estações<br />
a serem trabalhadas. Os critérios utilizados foram<br />
90% dos dados válidos e os maiores coeficientes de<br />
correlação de Pearson. As estações que apresentaram<br />
coeficientes de correlação superiores a r = 0,80 foram<br />
63<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
escolhidas para o cálculo das médias. O período de levantamento<br />
foi entre os anos 2000 e 2011.<br />
Para os dados de saúde, foi realizado um levantamento<br />
dos dados de internações hospitalares e óbitos disponibilizados<br />
pelo Departamento de Informática do Sistema<br />
Único de Saúde (DATASUS), para o período entre 2000<br />
e 2011. As causas diagnósticas levantadas foram: internações<br />
hospitalares por causas cardiovasculares totais —<br />
INT_CT (Classificação Internacional de Doenças — CID<br />
10, série I); internações por causa cerebrovascular, ou<br />
seja, acidente vascular encefálico — INT_CAVE (isquêmico<br />
ou hemorrágico; CID 10, série I60-I69), infarto —<br />
INT_CI (CID 10, I20 – I25) e demais causas cardiovasculares,<br />
ou seja, excetuando-se por causa cerebrovascular<br />
e infarto — INT_COC; internações hospitalares por causas<br />
respiratórias totais — INT_RT (CID 10, série J); internações<br />
por asma — INT_RA (CID 10, série J45 — J46),<br />
DPOC — INT_RDPOC (CID 10, J43 — J44) e demais causas<br />
respiratórias, excetuando-se asma e DPOC — INT_ROC.<br />
As causas de óbito selecionadas foram: óbitos por causas<br />
cardiovasculares totais — OBT_CT (CID 10, série I), óbitos<br />
por causa cerebrovascular, ou seja, acidente vascular<br />
encefálico — OBT_CAVE (isquêmico ou hemorrágico; CID<br />
X, série I60-I69), infarto — OBT_CI (CID 10, I20 — I25) e<br />
demais causas cardiovasculares, ou seja, excetuando-se<br />
acidente vascular encefálico e infarto — OBT_COC; óbitos<br />
por causas respiratórias totais — OBT_RT (CID 10, série<br />
J), óbitos por pneumonia — OBT_RPN (CID 10, série<br />
J10 — J18), DPOC — OBT_RDPOC (CID 10, J43 — J44) e<br />
demais causas respiratórias, excetuando-se pneumonia<br />
e DPOC — OBT_ROC. Para a obtenção da taxa para<br />
cada desfecho em saúde, considerou-se a população do<br />
município, a partir de dados do Instituto Brasileiro de<br />
Geografia e Estatística (IBGE, 2000; 2010; 2015).<br />
Rede de aspectos e impactos<br />
Para facilitar a tomada de decisão e visualização da<br />
questão abordada, foi realizada a construção de uma<br />
rede de aspectos e impactos resultantes da política<br />
do PROCONVE, baseada nos determinantes de saúde.<br />
RESULTADOS<br />
Importante notar que, ao se construir essa rede, aspectos<br />
diretos e indiretos dessa política são expostos, além<br />
dos aprofundados neste estudo, facilitando a visão orgânica<br />
e sistêmica (Figura 1).<br />
Formação de mão de<br />
obra técnica altamente<br />
especializada<br />
Necessidade de<br />
modernização<br />
Renovação da<br />
frota antiga<br />
de veículos<br />
Aumento da oferta e<br />
da demanda por<br />
cursos técnicos e de<br />
especialização<br />
Indústrias<br />
automobilísticas<br />
Fabricantes de<br />
combustíveis<br />
Incentivos a pesquisadores<br />
e profissionais da área<br />
tecnológica e de<br />
saúde ambiental<br />
Aumento no<br />
investimento em<br />
Pesquisa e<br />
Desenvolvimento<br />
Incentivo a programas<br />
e políticas voltados<br />
ao meio ambiente<br />
PROCONVE<br />
Conscientização da<br />
população sobre a saúde<br />
e o meio ambiente<br />
Aumento da<br />
exposição<br />
na mídia<br />
Melhoria da<br />
qualidade dos<br />
combustíveis<br />
e dos motores<br />
Diminuição<br />
da obesidade<br />
Diminuição da<br />
concentração de<br />
NOx, HC, SOx,<br />
PM10, PM2,5 etc.<br />
Diminuição dos custos em saúde e da<br />
sobrecarga do sistema de atendimento<br />
Melhora na<br />
qualidade de vida<br />
Incentivos à<br />
atividade física<br />
Melhoria na<br />
qualidade do ar<br />
Diminuição<br />
do estresse<br />
Diminuição de<br />
doenças mentais e<br />
neurodegenerativas<br />
Diminuição do<br />
estresse oxidativo<br />
e do dano celular<br />
Diminuição do<br />
envelhecimento<br />
precoce<br />
Sucateamento dos<br />
veículos antigos<br />
Danos ao<br />
meio ambiente<br />
Instituição de<br />
uma comissão de<br />
acompanhamento e<br />
avaliação do PROCONVE<br />
Envolvimento de<br />
diferentes<br />
Ministérios<br />
Públicos e<br />
empresas privadas<br />
Investimento<br />
em capacitação<br />
Aumento dos<br />
custos do<br />
programa<br />
Necessidade de<br />
aumentar<br />
a fiscalização<br />
Criação da<br />
inspeção veicular<br />
Aumento e<br />
organização dos<br />
profissionais<br />
Gastos para<br />
o usuário<br />
Diminuição<br />
de doenças<br />
respiratórias<br />
Diminuição<br />
de doenças<br />
cardiovasculares<br />
Diminuição<br />
do câncer<br />
de pulmão<br />
Diminuição do<br />
absenteísmo<br />
no trabalho<br />
e nas escolas<br />
Diminuição da morbidade e da mortalidade<br />
Diminuição dos custos em saúde e da<br />
sobrecarga do sistema de atendimento<br />
Figura 1 – Rede de aspectos e impactos derivada da política do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores.<br />
64<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
Dados de saúde<br />
A Tabela 1 mostra a análise descritiva referente às internações<br />
hospitalares por causas cardiovasculares e respiratórias.<br />
Observando os valores para a taxa por 100 mil habitantes,<br />
em ambas as tabelas, as taxas aumentam de valor<br />
ao longo do período, com exceção do número de INT_RA.<br />
A Tabela 2 mostra as análises descritivas referentes ao número<br />
de óbitos por causas cardiovasculares e respiratórias.<br />
Ao se observar a taxa por 100 mil habitantes, para doenças<br />
cardiovasculares, percebe-se um leve declínio no valor da<br />
taxa, mesmo constatando um discreto aumento no valor<br />
de casos totais devido ao aumento populacional ter sido<br />
mais expressivo do que o aumento do número de óbitos<br />
Análise dos poluentes<br />
No início do período estudado, em 2000, a média<br />
da concentração de NO 2<br />
, SO 2<br />
e PM 10<br />
verificada foi<br />
de 82,78±2,01 (±erro padrão, EP); 16,54±0,44 (EP) e<br />
49,19±1,09 (EP) μg/m 3 , respectivamente. Ao final do<br />
período, essas concentrações foram de 69,60±1,48 (EP);<br />
6,17±0,13 (EP) e 36,70±0,86 (EP) μg/m 3 , respectivamente.<br />
Ou seja, para o NO 2<br />
a média reduziu em aproximadamente<br />
15,92%; para o SO 2<br />
, 62,7%; e para o PM 10<br />
, cerca<br />
de 25,4%, comparando-se o início e o final do período<br />
de estudo. Na Figura 2, é possível observar a evolução<br />
temporal dos poluentes, com a linha de tendência. Com<br />
exceção do O 3<br />
, sugere-se que os poluentes estão em<br />
tendência de queda ao longo do tempo.<br />
por causas cardiovasculares (OBT_CT, OBT_CAVE e OBT_<br />
CI). Na Tabela 2, também se encontram os óbitos por doenças<br />
respiratórias e, ao se observar os valores para a taxa<br />
por 100 mil habitantes e os valores de contagem totais, é<br />
possível observar um aumento nesses dois valores para as<br />
variáveis OBT_RT e OBT_RPN. Entre os OBT_RDPOC, existe<br />
uma oscilação entre valores muito próximos, ao longo do<br />
período de estudo, resultando em uma taxa aparentemente<br />
semelhante ao início e ao final do período. Entretanto,<br />
para OBT_ROC, houve uma diminuição na contagem dos<br />
óbitos, o que também influenciou no declínio na taxa ao<br />
longo do período analisado.<br />
300,00<br />
250,00<br />
200,00<br />
150,00<br />
100,00<br />
50,00<br />
0,00<br />
O3 (μg/m3)<br />
NO3 (μg/m3)<br />
450,00<br />
400,00<br />
350,00<br />
300,00<br />
250,00<br />
200,00<br />
150,00<br />
100,00<br />
50,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
60,00<br />
50,00<br />
40,00<br />
30,00<br />
20,00<br />
10,00<br />
SO2 (μg/m3)<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
180,00<br />
160,00<br />
140,00<br />
120,00<br />
100,00<br />
80,00<br />
60,00<br />
40,00<br />
20,00<br />
0,00<br />
PM10 (μg/m3)<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
O 3<br />
: ozônio; NO 2<br />
: dióxido de nitrogênio; SO 2<br />
: dióxido de enxofre; PM 10<br />
: material particulado < 10 μm.<br />
Figura 2 – Concentrações dos poluentes ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e material<br />
particulado < 10 μm no período de 2000 a 2011, com linha de tendência, para o município de São Paulo.<br />
65<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
A abordagem ampla e visualmente facilitada pela rede<br />
de aspectos e impactos (Figura 1) auxilia as partes interessadas<br />
e os tomadores de decisão a visualizarem<br />
DISCUSSÃO<br />
a questão com mais abrangência e facilita a escolha<br />
dos limites do estudo, ou seja, é conhecido que os impactos<br />
são sempre muito mais amplos e complexos<br />
Tabela 1 – Análise descritiva anual relativa à morbidade cardiorrespiratória (número de internações por 100 mil habitantes).<br />
Ano INT_CT INT_CI INT_CAVE INT_COC INT_RT INT_RA INT_RDPOC INT_ROC<br />
2000 416,59 107,70 68,02 240,87 366,72 53,19 23,88 289,12<br />
2001 391,96 108,04 63,35 220,56 349,72 43,51 21,35 284,85<br />
2002 466,63 129,71 78,81 258,11 454,52 71,33 25,49 356,08<br />
2003 499,90 130,45 94,27 275,18 495,24 73,29 26,62 395,33<br />
2004 553,37 143,98 104,50 304,89 548,17 81,45 29,51 437,21<br />
2005 515,22 130,36 98,47 286,40 485,84 71,26 27,64 386,94<br />
2006 516,40 135,21 94,97 286,22 514,91 71,61 26,09 414,90<br />
2007 529,78 137,64 92,60 299,54 516,98 71,67 27,03 418,27<br />
2008 512,47 133,09 88,73 290,65 479,90 51,67 23,63 404,60<br />
2009 540,60 137,78 91,11 311,72 520,97 45,10 23,99 451,88<br />
2010 571,46 148,76 98,24 324,46 509,68 42,61 24,92 442,15<br />
2011 565,82 142,55 96,35 326,93 504,82 39,35 29,01 436,46<br />
INT_CT: internações hospitalares por causas cardiovasculares totais; INT_CI: internações hospitalares por infarto; INT_CAVE: internações hospitalares<br />
por acidente vascular encefálico; INT_COC: internações hospitalares por outras causas cardiovasculares; INT_RT: internações hospitalares por causas<br />
respiratórias totais; INT_RA: internações hospitalares por asma; INT_RDPOC: internações hospitalares por doença pulmonar obstrutiva crônica;<br />
INT_ROC: internações hospitalares por outras causas respiratórias. Fonte: elaborado pela autora com dados do DATASUS e do IBGE, no Software SPSS.<br />
Tabela 2 – Análise descritiva anual relativa à mortalidade cardiorrespiratória (número de óbitos por 100 mil habitantes).<br />
Ano OBT_CT OBT_CI OBT_CAVE OBT_COC OBT_RT OBT_RPN OBT_RDPOC OBT_ROC<br />
2000 215,18 86,93 55,65 72,59 70,20 31,08 22,47 16,64<br />
2001 207,22 83,31 54,13 69,78 68,68 31,80 20,66 16,22<br />
2002 204,57 83,38 54,46 66,73 72,37 35,88 20,21 16,28<br />
2003 202,04 82,55 51,89 67,61 76,01 37,31 22,11 16,59<br />
2004 207,24 81,91 53,60 71,73 78,19 40,21 22,38 15,60<br />
2005 193,37 73,50 49,98 69,89 68,36 34,73 20,35 13,28<br />
2006 197,81 76,26 51,07 70,47 74,74 41,13 21,09 12,52<br />
2007 197,63 78,19 50,50 68,94 74,43 42,22 20,45 11,77<br />
2008 201,97 78,10 52,35 71,52 72,07 40,94 19,95 11,18<br />
2009 204,03 75,79 52,18 76,06 76,14 43,63 20,74 11,77<br />
2010 202,93 77,60 50,69 74,64 75,72 43,82 20,80 11,11<br />
2011 205,82 78,14 51,50 76,18 81,58 47,06 20,95 13,57<br />
Fonte: elaborado pela autora com dados do DATASUS e do IBGE, no Software SPSS.<br />
66<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
do que é possível escolher e estudar setorialmente.<br />
Essa conexão da parte com o todo é um aspecto importante<br />
e que caracteriza uma AIS (WHO, 1999; ABE<br />
& MIRAGLIA, 2018), pois permite que as análises e as<br />
reflexões sejam tomadas subsidiadas com um maior<br />
número de evidências, sem negligenciar outros aspectos<br />
envolvidos na análise de uma proposta.<br />
A rede de aspectos e impactos considera os determinantes<br />
em saúde. Com isso, é possível atingir aspectos políticos,<br />
de meio ambiente, de serviços públicos, sociais, econômicos,<br />
entre outros (BHATIA, 2011). Segundo o Ministério do<br />
Meio Ambiente, o PROCONVE favoreceu a participação<br />
social e promoveu a modernização do parque automobilístico<br />
brasileiro, além de favorecer a comunicação e os<br />
esforços de diversos órgãos públicos para atingir a meta<br />
do programa, entre eles, o Ministério do Desenvolvimento<br />
Urbano e Meio Ambiente; o Conselho Nacional do Petróleo<br />
(CNP); o Ministério de Minas e Energia; o Ministério dos<br />
Transportes; o Ministério da Indústria e do Comércio; o<br />
Ministério da Ciência e Tecnologia; o Ministério da Justiça;<br />
e os Órgãos Estaduais e Municipais de Controle da Poluição<br />
Ambiental. Ainda, devido à publicação dos níveis aceitáveis<br />
de emissão de poluentes, as indústrias automotivas e<br />
os fabricantes de combustíveis precisaram alinhar esforços<br />
e investimentos para melhorar a qualidade dos motores e<br />
dos combustíveis (BRASIL, 2017).<br />
A partir da melhoria na qualidade dos combustíveis e<br />
do aperfeiçoamento dos motores, assim como a renovação<br />
da frota, esperava-se a melhoria da qualidade<br />
do ar, pela diminuição da poluição oriunda dos veículos<br />
leves, pesados, comerciais e das motocicletas.<br />
Entretanto, o aumento da frota automotiva ao longo<br />
dos anos poderia ter resultado em aumento concomitante<br />
da concentração dos poluentes, como PM 10<br />
,<br />
NO 2<br />
, SO 2<br />
, o que não foi observado no presente estudo.<br />
Com isso, proporcionou-se a diminuição da exposição<br />
de toda a população à poluição do ar, com desfechos à<br />
saúde, principalmente para os grupos mais suscetíveis:<br />
idosos, crianças e pessoas que trabalham no tráfego ou<br />
nas ruas, como guardas de trânsito, entregadores, frentistas,<br />
motoristas de ônibus etc. (PASCAL et al., 2013).<br />
Nas escolas e nos serviços, a melhoria da qualidade<br />
do ar diminui os absenteísmos (ROMIEU et al., 1992;<br />
CHEN et al., 2000; GILLILAND et al., 2001; PARK et al.,<br />
2002; RODRIGUES-SILVA et al., 2012). Adicionalmente,<br />
o sistema de transporte, ao gerar menos resíduos poluidores,<br />
diminui os danos ao meio ambiente e à saúde<br />
da população, seja essa população usuária ou não de<br />
veículos. A comunidade local tem ganhos em saúde e<br />
qualidade de vida com a diminuição da poluição, pela<br />
diminuição de doenças cardiorrespiratórias, do estresse<br />
oxidativo, da inflamação e do envelhecimento precoce<br />
(DE PRINS et al., 2014), de doenças neurodegenerativas<br />
(CALDERÓN-GARCIDUEÑAS et al., 2015), do câncer de<br />
pulmão (FAJERSZTAJN et al., 2013; RAASCHOU-NIELSEN<br />
et al., 2013; SAX et al., 2013), entre outras doenças.<br />
A melhora na qualidade do ar também é um incentivo<br />
à atividade física e a atividades ao ar livre, com ganhos<br />
em saúde pública (GRABOW et al., 2012).<br />
Esses aspectos vão ao encontro dos objetivos do<br />
PROCONVE, que foi criado com o intuito principal de<br />
reduzir os níveis de emissão de poluentes por veículos<br />
automotores visando ao atendimento aos PQAr,<br />
especialmente nos centros urbanos, e também promover<br />
o desenvolvimento tecnológico nacional, tanto<br />
na engenharia automobilística como em métodos e<br />
equipamentos para ensaios e medições da emissão de<br />
poluentes e melhoria dos combustíveis (BRASIL, 1986).<br />
Complementando a iniciativa, em 2002, foi instituído o<br />
Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos<br />
e Veículos Similares (PROMOT). Este programa estabeleceu<br />
limites de emissão para gases poluentes provenientes<br />
de motocicletas novas e previu exigências<br />
quanto à durabilidade de emissões, ao controle da<br />
qualidade da produção, aos critérios para a implantação<br />
de programas de inspeção e manutenção periódica<br />
e à fiscalização em campo (IBAMA, 2011).<br />
Um fato interessante foi verificar que, apesar do aumento<br />
da frota de veículos na cidade, a concentração<br />
média dos poluentes NO 2<br />
, SO 2<br />
e PM 10<br />
mostrou tendência<br />
de queda, com exceção do O 3<br />
. Fato semelhante já<br />
foi observado em um estudo realizado em Curitiba,<br />
estado do Paraná, onde verificou-se que um aumento<br />
de 65% no número de veículos não resultou no aumento<br />
da concentração dos poluentes atmosféricos,<br />
devido a vários fatores relacionados ao PROCONVE<br />
(ESCUCIATTO et al., 2016). Em relação ao O 3<br />
, esse gás<br />
parece não possuir tendência de aumento ou diminuição<br />
clara ao longo do tempo, o que implica na sugestão<br />
de que, provavelmente, a formação de O 3<br />
não é<br />
diretamente proporcional ao consumo de combustível<br />
(PÉREZ‐MARTÍNEZ et al., 2015). O O 3<br />
é um poluente secundário,<br />
sintetizado de forma não linear a partir de<br />
óxidos de nitrogênio (NOx) e dependente da radiação<br />
67<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
ultravioleta, da hora do dia, dos parâmetros meteorológicos<br />
e da topografia (SEIGNEUR et al., 2003; PÉREZ‐<br />
MARTÍNEZ et al., 2015). Por isso, é complexo predizer<br />
como será seu comportamento a partir da emissão<br />
dos poluentes primários, no entanto, é fato que sua<br />
concentração aumenta no verão, o que ocorre inversamente<br />
aos demais poluentes estudados. Em relação<br />
aos demais gases e PM, a diferença entre as concentrações<br />
no início e no final do período do estudo parece<br />
sinalizar uma tendência de queda (Figura 1).<br />
Traçar tendências é um processo complexo, no entanto,<br />
as iniciativas de aprimoramento dos motores e dos combustíveis,<br />
propostas pelo PROCONVE ao longo das fases<br />
de implantação, parecem funcionar para os cenários da<br />
grande metrópole, visto que houve diminuição das concentrações<br />
de vários poluentes atmosféricos no período<br />
estudado (Figura 1). Além do PROCONVE, outras medidas<br />
podem estar envolvidas nessa diminuição, como o<br />
distanciamento das fábricas dos grandes centros urbanos;<br />
no entanto, é fato que o aprimoramento dos motores<br />
e dos combustíveis possui grande influência no município<br />
que possui a maior frota automotiva brasileira.<br />
Esses achados nas concentrações de poluentes também<br />
já foram constatados, de forma semelhante, por outros<br />
trabalhos envolvendo a concentração dos poluentes em<br />
São Paulo ao longo do período de vigência do PROCONVE<br />
(CETESB, 2015; PÉREZ‐MARTÍNEZ et al., 2015). Um desses<br />
estudos mostrou que as concentrações de NOx, CO<br />
e PM 10<br />
chegaram a diminuir 0,65, 0,37 e 0,71% por mês,<br />
respectivamente, no período de 2000 a 2013, para a região<br />
metropolitana de São Paulo, enquanto as vendas de<br />
gasolina, etanol e diesel haviam aumentado 0,26, 1,96<br />
e 0,38% por mês, respectivamente. Além disso, esse<br />
estudo comparou e comprovou que as melhorias realizadas<br />
nos motores e nos combustíveis, a implementação<br />
do PROCONVE e a renovação da frota foram fatores<br />
preponderantes para a verificação de declínio das concentrações<br />
desses poluentes (PÉREZ‐MARTÍNEZ et al.,<br />
2015). Além dos efeitos à saúde, há ganhos econômicos<br />
ao se adotar políticas públicas que visem à redução<br />
dos poluentes atmosféricos. Ao se considerar cenários<br />
preditivos de diminuição do PM 10<br />
e do PM 2,5<br />
e o ganho<br />
econômico a partir do número de mortes evitáveis, estimou-se<br />
uma economia de US$ 527 milhões para o município<br />
de Diadema, no estado de São Paulo (SILVA et al.,<br />
2017), e mais de US$ 15 bilhões anuais para a capital do<br />
estado (ABE & MIRAGLIA, 2016).<br />
De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego<br />
(CET), a capital possuía, em 1980, uma velocidade média<br />
no trânsito de 24,9 km/h, que diminuiu no ano de 2000<br />
para 19,4 km/h e, em 2011, para 16,8 km/h (PREFEITURA<br />
DE SÃO PAULO, 2016). Esses dados mostram que os paulistanos<br />
que utilizam meios de transportes baseados em<br />
veículos automotores podem demorar mais tempo para<br />
chegar ao seu destino, ou seja, ficam mais tempo expostos<br />
aos poluentes atmosféricos nos deslocamentos em<br />
horário de pico. Em uma cidade como São Paulo, que possui<br />
a maior frota de veículos do Brasil, é possível dizer que<br />
as emissões veiculares constituem a maior parte da emissão<br />
dos poluentes primários e secundários. Comumente,<br />
os veículos leves (veículos de passeio) que utilizam gasolina<br />
como combustível e os veículos pesados que utilizam<br />
o diesel são responsáveis pela maior parte da emissão de<br />
CO, NOx, compostos orgânicos voláteis (VOCs), SO 2<br />
, PM,<br />
metano (CH 4<br />
) e CO 2<br />
. Já os veículos que utilizam o etanol<br />
como combustível possuem a vantagem de não emitirem,<br />
durante sua queima, o PM e o SO 2<br />
, no entanto, com<br />
exceção desses dois poluentes, há também a liberação<br />
dos demais gases citados semelhante à queima da gasolina<br />
(CETESB, 2015).<br />
No Brasil e na América Latina há poucos trabalhos, principalmente<br />
que analisem séries temporais e mais de um<br />
poluente. Muitos trabalhos analisam situações temporalmente<br />
curtas, variando de 1 a 2 anos (MARTINS et al.,<br />
2002; CASTRO et al., 2009), populações muito específicas<br />
(somente crianças ou idosos) ou apenas um poluente.<br />
Neste trabalho procurou-se abranger um período<br />
temporal extenso e os dados para toda a população,<br />
independentemente da faixa etária, aprofundando-se<br />
para os desfechos mais abrangentes, como mortalidade<br />
por causa cardiorrespiratória total e alguns desfechos<br />
mais específicos dentro dos efeitos cardiovasculares e<br />
respiratórios, como asma, DPOC, acidente vascular cerebral<br />
e infarto agudo do miocárdio.<br />
As associações entre poluentes atmosféricos e efeitos<br />
à saúde, apesar de reconhecidas pelo meio científico,<br />
possuem muitas faces que ainda necessitam de elucidação,<br />
como compreender os mecanismos moleculares<br />
e intracelulares ativados pela exposição aos poluentes e<br />
que resultam em desfechos à saúde. Por isso, aprimorar<br />
as pesquisas em um tema que já é amplamente estudado<br />
é de extrema importância para o entendimento<br />
aprofundado e a confecção de melhores políticas públicas<br />
referentes ao assunto, auxiliando a tomada de<br />
68<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
decisão pelos governos e a divulgação de informações à<br />
população, visando à adoção de políticas de prevenção.<br />
O aumento das evidências que associam poluição do ar<br />
e problemas de saúde serviu de subsídio para diversos<br />
estudos e leis restritivas em relação às fontes de emissão.<br />
A Irlanda, por exemplo, durante os anos de 1980,<br />
presenciou diversos episódios graves de poluição do<br />
ar, cuja fonte principal era a queima do carvão mineral<br />
para aquecimento doméstico. A partir de diversos estudos,<br />
o governo irlandês iniciou uma série de proibições<br />
à comercialização do carvão, entre os anos de 1990 e<br />
2000, e obteve como resultado uma diminuição dos níveis<br />
de PM e SO 2<br />
, principalmente no inverno. Os anos<br />
em que houve as proibições foram associados à redução<br />
na mortalidade respiratória na região, chegando a 17%<br />
de redução, sendo também verificada a diminuição nas<br />
admissões hospitalares por pneumonia, DPOC e asma.<br />
Além disso, foi verificado 4% de redução nas admissões<br />
hospitalares para doenças cardiovasculares. No entanto,<br />
os autores explicitaram a dificuldade em atribuir os resultados<br />
somente às proibições de comercialização de<br />
carvão, uma vez que outras medidas preventivas podem<br />
ter sido tomadas na década de 1990 para promover a<br />
saúde da população (DOCKERY et al., 2013).<br />
A partir das análises descritivas de mortalidade e morbidade<br />
cardiorrespiratória de base diária, organizadas<br />
por ano, foi possível verificar que as taxas de mortalidade<br />
cardiovascular por 100 mil habitantes foram<br />
praticamente constantes ao longo do período estudado,<br />
assim como a mortalidade por doenças cerebrovasculares.<br />
Adicionalmente, constatou-se que houve<br />
uma diminuição na taxa de mortalidade por infarto ao<br />
longo do período, passando de aproximadamente 87<br />
óbitos por 100 mil habitantes, no ano de 2000, para<br />
78 óbitos por 100 mil habitantes, em 2011 (Tabela 2).<br />
Para a mortalidade por doença respiratória foi verificado<br />
aumento da taxa de mortalidade respiratória e por<br />
pneumonia, entretanto, houve manutenção da taxa de<br />
mortalidade por DPOC ao longo do tempo (Tabela 2).<br />
É importante mencionar que, para doenças respiratórias,<br />
há algumas variáveis de confusão que limitam este<br />
modelo, como surtos de gripes, como a gripe aviária e<br />
o surto por H1N1.<br />
Para uma cidade urbanizada como São Paulo, dotada<br />
de uma crescente frota de veículos, poder-se-ia imaginar<br />
que haveria um aumento nos níveis dos poluentes<br />
atmosféricos, porém, os dados referentes à concentração<br />
da maioria dos poluentes considerados neste<br />
estudo mostraram-se em queda ao longo do período<br />
estudado, condizendo com a manutenção ou até<br />
a diminuição das taxas de mortalidade apresentadas<br />
para alguns casos. Em relação à morbidade o cenário<br />
difere um pouco, uma vez que todas as taxas aumentaram<br />
com o tempo, com exceção da taxa de INT_RA<br />
(Tabela 1). Isso mostra que os efeitos crônicos da poluição<br />
atmosférica podem ter sido amenizados ou até,<br />
de certa forma, se mantido estáveis ao longo do período,<br />
porém, as internações hospitalares mostraram-se<br />
mais frequentes. Ao se considerar que a população<br />
passa mais tempo no tráfego e, consequentemente,<br />
exposta aos poluentes, segundo dados da CET, não é<br />
de se surpreender que os efeitos agudos na saúde possam<br />
ter se exacerbado.<br />
Assim, a aplicação de metodologias mais abrangentes,<br />
como a AIS, deveria ser considerada como mecanismo<br />
importante e de utilização sistemática pelos tomadores<br />
de decisão, no âmbito das políticas públicas, com o fim<br />
de auxiliar, de forma preventiva, meios de mitigação<br />
e compensação de forma eficiente dos impactos socioambientais<br />
e na saúde (SILVEIRA & FENNER, 2017).<br />
A análise da política pública do PROCONVE, em termos<br />
de determinantes em saúde, revelou-se importante a<br />
fim de caracterizar as relações influenciadas pela vigência<br />
da referida política. Nesse sentido, a construção<br />
da rede de impactos permitiu a visualização com clareza<br />
dessas relações, auxiliando os tomadores de decisão<br />
no processo de intervenção.<br />
CONCLUSÕES<br />
O PROCONVE se revelou um programa muito importante<br />
na manutenção e na diminuição das concentrações<br />
de poluentes atmosféricos, as quais seriam mais<br />
elevadas com o aumento da frota automotiva. Esses<br />
efeitos adversos também são percebidos em saúde,<br />
mas de uma forma menos direta, uma vez que a saúde<br />
possui diversos determinantes, externos à análise<br />
deste estudo. No entanto, sugere-se que as fases do<br />
PROCONVE continuem evoluindo, bem como a sua fiscalização,<br />
incluindo outras iniciativas fundamentais,<br />
como a revisão dos PQAr nacionais.<br />
69<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
Este trabalho recebeu financiamento de pesquisa<br />
da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério<br />
AGRADECIMENTOS<br />
da Saúde do Brasil (SVS/MS) e da Coordenação de<br />
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).<br />
REFERÊNCIAS<br />
ABE, K. C.; MIRAGLIA, S. G. Health Impact Assessment of Air Pollution in São Paulo, Brazil. International Journal of<br />
Environmental Research Public Health, v. 13, 2016. https://dx.doi.org/10.3390%2Fijerph13070694<br />
ABE, K. C.; MIRAGLIA, S. G. E. K. Avaliação de Impacto à Saúde (Ais) no Brasil e América Latina: Uma Ferramenta Essencial<br />
a Projetos, Planos E Políticas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 2018. DOI: 10.1590/1807-57622016.0802<br />
BHATIA, R. Health Impact Assessment: A Guide for Practice. Oakland: Human Impact Partners, 2011.<br />
BRAGA, A. L. F.; PEREIRA, L. A. A.; PROCÓPIO, M.; ANDRÉ, P. A. D.; SALDIVA, P. H. D. N. Associação entre poluição<br />
atmosférica e doenças respiratórias e cardiovasculares na cidade de Itabira, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde<br />
Pública, Rio de Janeiro, p. S570-S578, 2007. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2007001600017<br />
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 003, de 28 de Junho de 1990. Diário Oficial da<br />
União, p. 15937-15939, 22 ago. 1990.<br />
______. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 005/1989, PRONAR. Diário Oficial da União,<br />
p. 14713-14714, 25 ago. 1989.<br />
______. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 018/1986: Dispõe sobre a criação do Programa<br />
de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE. Brasil, 1986.<br />
______. Ministério do Meio Ambiente. Proconve: Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores.<br />
Disponível em: . Acesso em: 10 ago 2017.<br />
______. Política Nacional de Meio Ambiente: Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, 1981.<br />
BRAVO, M. A.; SON, J.; DE FREITAS, C. U.; GOUVEIA, N.; BELL, M. L. Air Pollution and Mortality in São Paulo, Brazil:<br />
Effects of Multiple Pollutants and Analysis of Susceptible Populations. Journal of Exposure Science & Environmental<br />
Epidemiology, v. 26, p. 150-161, 2016. DOI: 10.1038/jes.2014.90<br />
BRUNEKREEF, B.; BEELEN, R.; HOEK, G.; SCHOUTEN, L.; BAUSCH-GOLDBOHM, S.; FISCHER, P.; ARMSTRONG, B.; HUGHES,<br />
E.; JERRETT, M.; VAN DEN BRANDT, P. Effects of Long-Term Exposure to Traffic-Related Air Pollution on Respiratory and<br />
Cardiovascular Mortality in the Netherlands: The Nlcs-Air Study. Research Reports of the Health Effects Institute, p. 5-71, 2009.<br />
CALDERÓN-GARCIDUEÑAS, L.; CALDERÓN-GARCIDUEÑAS, A.; TORRES-JARDÓN, R.; AVILA-RAMÍREZ, J.; KULESZA, R. J.;<br />
ANGIULLI, A. D. Air Pollution and Your Brain: What Do You Need to Know Right Now. Primary Health Care Research &<br />
Development, v. 16, p. 329-345, 2015. https://doi.org/10.1017/S146342361400036X<br />
CASTRO, H. A.; CUNHA, M. F.; MENDONÇA, G. A.; JUNGER, W. L.; CUNHA-CRUZ, J.; LEON, A. P. Effect of Air Pollution on<br />
Lung Function in Schoolchildren in Rio De Janeiro, Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 43, p. 26-34, 2009.<br />
CHANG, C. C.; CHEN, P. S.; YANG, C. Y. Short-Term Effects of Fine Particulate Air Pollution on Hospital Admissions for<br />
Cardiovascular Diseases: A Case-Crossover Study in a Tropical City. Journal of Toxicology Environmental Health A, v. 78,<br />
p. 267-277, 2015. https://doi.org/10.1080/15287394.2014.960044<br />
70<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
CHEN, L.; JENNISON, B. L.; YANG, W.; OMAYE, S. T. Elementary School Absenteeism and Air Pollution. Inhalation<br />
Toxicology, v. 12, p. 997-1016, 2000. https://doi.org/10.1080/08958370050164626<br />
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). Emissões Veiculares no Estado de São Paulo 2014. São<br />
Paulo: CETESB, 2015. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2017.<br />
DE PRINS, S.; DONS, E.; VAN POPPEL, M.; INT PANIS, L.; VAN DE MIEROOP, E.; NELEN, V.; COX, B.; NAWROT, T. S.;<br />
TEUGHELS, C.; SCHOETERS, G.; KOPPEN, G. Airway Oxidative Stress and Inflammation Markers in Exhaled Breath from<br />
Children Are Linked with Exposure to Black Carbon. Environmental International, v. 73, p. 440-446, 2014. https://doi.<br />
org/10.1016/j.envint.2014.06.017<br />
DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO (DENATRAN). Frota de Veículos. 2014. Disponível em: . Acesso em: 26 abr. 2018.<br />
DOCKERY, D. W.; RICH, D. Q.; GOODMAN, P. G.; CLANCY, L.; OHMAN-STRICKLAND, P.; GEORGE, P.; KOTLOV, T. Effect of Air<br />
Pollution Control on Mortality and Hospital Admissions in Ireland. Research Reports of Health Effects Institute, p. 3-109, 2013.<br />
ESCUCIATTO, E.; DZIEDZIC, M.; VASCONCELOS, E. C. A influência da renovação da frota de veículos na qualidade do<br />
ar na região central de Curitiba. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n. 42, p. 2-11, 2016. DOI: 10.5327/Z2176-<br />
947820160198<br />
FAJERSZTAJN, L.; VERAS, M.; BARROZO, L. V.; SALDIVA, P. Air Pollution: A Potentially Modifiable Risk Factor for Lung<br />
Cancer. Nature Reviews Cancer, v. 13, p. 674-678, 2013. https://doi.org/10.1038/nrc3572<br />
FREITAS, C. U.; LEON, A. P.; JUNGER, W.; GOUVEIA, N. Air Pollution and Its Impacts on Health in Vitoria, Espirito Santo,<br />
Brazil. Revista de Saúde Pública, v. 50, n. 4, 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S1518-8787.2016050005909<br />
GILLILAND, F. D.; BERHANE, K.; RAPPAPORT, E. B.; THOMAS, D. C.; AVOL, E.; GAUDERMAN, W. J.; LONDON, S. J.; MARGOLIS,<br />
H. G.; MCCONNELL, R.; ISLAM, K. T.; PETERS, J. M. The Effects of Ambient Air Pollution on School Absenteeism Due to<br />
Respiratory Illnesses. Epidemiology, v. 12, p. 43-54, 2001.<br />
GRABOW, M. L.; SPAK, S. N.; HOLLOWAY, T.; STONE, B.; MEDNICK, A. C.; PATZ, J. A. Air Quality and Exercise-Related<br />
Health Benefits from Reduced Car Travel in the Midwestern United States. Environmental Health Perspective, v. 120, p.<br />
68-76, 2012. https://dx.doi.org/10.1289%2Fehp.1103440<br />
HOEK, G.; KRISHNAN, R. M.; BEELEN, R.; PETERS, A.; OSTRO, B.; BRUNEKREEF, B.; KAUFMAN, J. D. Long-Term Air<br />
Pollution Exposure and Cardio- Respiratory Mortality: A Review. Environmental Health, v. 12, n. 43, 2013. https://doi.<br />
org/10.1186/1476-069X-12-43<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.<br />
______. Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.<br />
______. Cidades: São Paulo – Informações Estatísticas. 2015. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2017.<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA) Programa de controle<br />
da poluição do ar por veículos automotores — Proconve/Promot. Coleção Meio Ambiente. Séries Diretrizes —<br />
Gestão Ambiental. 3 ed. Brasília: Ibama/Diqua, 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 ago. 2017.<br />
INSTITUTO DE ENERGIA E MEIO AMBIENTE (IEMA). Padrões de Qualidade do Ar: Experiência Comparada Brasil, EUA e<br />
União Européia. São Paulo: Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2012. Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2017.<br />
71<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Abe, K.C.; Miraglia, S.G.E.K.<br />
LANKI, T.; HAMPEL, R.; TIITTANEN, P.; ANDRICH, S.; BEELEN, R.; BRUNEKREEF, B.; DRATVA, J.; DE FAIRE, U.; FUKS, K. B.;<br />
HOFFMANN, B.; IMBODEN, M.; JOUSILAHTI, P.; KOENIG, W.; MAHABADI, A. A.; KÜNZLI, N.; PEDERSEN, N. L.; PENELL, J.;<br />
PERSHAGEN, G.; PROBST-HENSCH, N. M.; SCHAFFNER, E.; SCHINDLER, C.; SUGIRI, D.; SWART, W. J.; TSAI, M. Y.; TURUNEN, A.<br />
W.; WEINMAYR, G.; WOLF, K.; YLI-TUOMI, T.; PETERS, A. Air Pollution from Road Traffic and Systemic Inflammation in Adults:<br />
A Cross-Sectional Analysis in the European Escape Project. Environmental Health Perspective, v. 123, p. 785-791, 2015.<br />
MARTINS, L. C.; LATORRE, M. O. R.; SALDIVA, P. H.; BRAGA, A. L. Air Pollution and Emergency Room Visits Due to Chronic<br />
Lower Respiratory Diseases in the Elderly: An Ecological Time-Series Study in São Paulo, Brazil. Journal of Occupational<br />
and Environmental Medicine, v. 44, p. 622-627, 2002. http://dx.doi.org/10.1097/01.jom.0000023250.57933.f2<br />
MIRAGLIA, S. G. E. K.; ABE, K. C. Avaliação de Impacto em Saúde (AIS): Coletânea de casos no Brasil. São Paulo, 2017.<br />
286 p. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2018.<br />
PARK, H.; LEE, B.; HA, E. H.; LEE, J. T.; KIM, H.; HONG, Y. C. Association of Air Pollution with School Absenteeism Due to<br />
Illness. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 156, p. 1235-1239, 2002. DOI: 10.1001/archpedi.156.12.1235<br />
PASCAL, M.; CORSO, M.; CHANEL, O.; DECLERCQ, C.; BADALONI, C.; CESARONI, G.; HENSCHEL, S.; MEISTER, K.; HALUZA,<br />
D.; MARTIN-OLMEDO, P.; MEDINA, S.; APHEKOM GROUP. Assessing the Public Health Impacts of Urban Air Pollution in<br />
25 European Cities: Results of the Aphekom Project. Science of Total Environment, v. 449, p. 390-400, 2013. https://doi.<br />
org/10.1016/j.scitotenv.2013.01.077<br />
PÉREZ‐MARTÍNEZ, P. J.; ANDRADE, M. F.; MIRANDA, R. M. Traffic‐Related Air Quality Trends in São Paulo, Brazil. Journal<br />
of Geophysical Research: Atmospheres, v. 120, p. 6290-6304, 2015. https://doi.org/10.1002/2014JD022812<br />
POPE, C. A.; BURNETT, R. T.; THURSTON, G. D.; THUN, M. J.; CALLE, E. E.; KREWSKI, D.; GODLESKI, J. J. Cardiovascular<br />
Mortality and Long-Term Exposure to Particulate Air Pollution: Epidemiological Evidence of General Pathophysiological<br />
Pathways of Disease. Circulation, v. 109, p. 71-77, 2004. https://doi.org/10.1161/01.CIR.0000108927.80044.7F<br />
PREFEITURA DE SÃO PAULO. Velocidade Média no Trânsito (Km/h): município de São Paulo. 2016. Disponível em:<br />
. Acesso em: 20 nov. 2017.<br />
RAASCHOU-NIELSEN, O.; ANDERSEN, Z. J.; BEELEN, R.; SAMOLI, E.; STAFOGGIA, M.; WEINMAYR, G.; HOFFMANN, B.;<br />
FISCHER, P.; NIEUWENHUIJSEN, M. J.; BRUNEKREEF, B.; XUN, W. W.; KATSOUYANNI, K.; DIMAKOPOULOU, K.; SOMMAR,<br />
J.; FORSBERG, B.; MODIG, L.; OUDIN, A.; OFTEDAL, B.; SCHWARZE, P. E.; NAFSTAD, P.; DE FAIRE, U.; PEDERSEN, N. L.;<br />
OSTENSON, C. G.; FRATIGLIONI, L.; PENELL, J.; KOREK, M.; PERSHAGEN, G.; ERIKSEN, K. T.; SØRENSEN, M.; TJØNNELAND,<br />
A.; ELLERMANN, T.; EEFTENS, M.; PEETERS, P. H.; MELIEFSTE, K.; WANG, M.; BUENO-DE-MESQUITA, B.; KEY, T. J.; DE<br />
HOOGH, K.; CONCIN, H.; NAGEL, G.; VILIER, A.; GRIONI, S.; KROGH, V.; TSAI, M. Y.; RICCERI, F.; SACERDOTE, C.; GALASSI,<br />
C.; MIGLIORE, E.; RANZI, A.; CESARONI, G.; BADALONI, C.; FORASTIERE, F.; TAMAYO, I.; AMIANO, P.; DORRONSORO, M.;<br />
TRICHOPOULOU, A.; BAMIA, C.; VINEIS, P.; HOEK, G. Air Pollution and Lung Cancer Incidence in 17 European Cohorts:<br />
Prospective Analyses from the European Study of Cohorts for Air Pollution Effects (Escape). Lancet Oncolongy, v. 14,<br />
p. 813-822, 2013. https://doi.org/10.1016/S1470-2045(13)70279-1<br />
RODRIGUES-SILVA, F., SANTOS, U. P.; SALDIVA, P. H. N.; AMATO-LOURENÇO, L. F.; MIRAGLIA, S. G. K. Health Risks and<br />
Economic Costs of Absenteeism Due to Air Pollution in Sao Paulo, Brazil. Aerosol and Air Quality Research, v. 12, p. 826-<br />
833, 2012. DOI: 10.4209/aaqr.2011.12.0235<br />
ROMIEU, I.; LUGO, M. C.; VELASCO, S. R.; SANCHEZ, S.; MENESES, F.; HERNANDEZ, M. Air Pollution and School<br />
Absenteeism among Children in Mexico City. American Journal of Epidemiology, v. 136, p. 1524-1531, 1992. https://<br />
doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a116474<br />
SAX, S. N.; ZU, K.; GOODMAN, J. E. Air Pollution and Lung Cancer in Europe. Lancet Oncology, v. 14, p. e439-440, 2013.<br />
https://doi.org/10.1016/S1470-2045(13)70438-8<br />
72<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
Avaliação de impacto à saúde do programa de controle de poluição do ar por veículos automotores no município de São Paulo, Brasil<br />
SEIGNEUR, C.; PUN, B.; LOHMAN, K.; WU, S. Y. Regional Modeling of the Atmospheric Fate and Transport of Benzene<br />
and Diesel Particles. Environmental Science Technology, v. 37, p. 5236-5246, 2003. DOI: 10.1021/es034433o<br />
SILVA, L. T.; ABE, K. C.; MIRAGLIA, S. G. E. K. Health Impact Assessment of Air Pollution in the City of Diadema, Brazil.<br />
Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n. 46, p. 117-129, 2017.<br />
SILVEIRA, M.; FENNER, A. L. D. Health Impact Assessment (Hia): Analyses and Challenges to Brazilian Health Surveillance.<br />
Ciência e Saúde Coletiva, v. 22, p. 3205-3214, 2017. http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320172210.18272017<br />
THURSTON, G. D.; BURNETT, R. T.; TURNER, M. C.; SHI, Y.; KREWSKI, D.; LALL, R.; ITO, K.; JERRETT, M.; GAPSTUR, S. M.;<br />
DIVER, W. R.; POPE, C. A. Ischemic Heart Disease Mortality and Long-Term Exposure to Source-Related Components of<br />
U.S. Fine Particle Air Pollution. Environmental Health Perspectives, 2016. DOI: 10.1289/ehp.1509777<br />
TO, T.; ZHU, J.; LARSEN, K.; SIMATOVIC, J.; FELDMAN, L.; RYCKMAN, K.; GERSHON, A.; LOUGHEED, M. D.; LICSKAI, C.;<br />
CHEN, H.; VILLENEUVE, P. J.; CRIGHTON, E.; SU, Y.; SADATSAFAVI, M.; WILLIAMS, D.; CARLSTEN, C.; NETWORK, C. R. R.<br />
Progression from Asthma to Chronic Obstructive Pulmonary Disease (Copd): Is Air Pollution a Risk Factor? American<br />
Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, 2016. https://doi.org/10.1164/rccm.201510-1932OC<br />
VILLENEUVE, P. J.; WEICHENTHAL, S. A.; CROUSE, D.; MILLER, A. B.; TO, T.; MARTIN, R. V.; VAN DONKELAAR, A.; WALL,<br />
C.; BURNETT, R. T. Long-Term Exposure to Fine Particulate Matter Air Pollution and Mortality among Canadian Women.<br />
Epidemiology, v. 26, p. 536-545, 2015. https://doi.org/10.1097/EDE.0000000000000294<br />
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Health Impact Assessment: Main Concepts and Suggested Approach.<br />
Bruxelas: WHO, 1999. Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2017.<br />
XIE, W.; LI, G.; ZHAO, D.; XIE, X.; WEI, Z.; WANG, W.; WANG, M.; LIU, W.; SUN, J.; JIA, Z.; ZHANG, Q.; LIU, J. Relationship<br />
between Fine Particulate Air Pollution and Ischaemic Heart Disease Morbidity and Mortality. Heart, v. 101, p. 257-263,<br />
2015. https://doi.org/10.1136/heartjnl-2014-306165<br />
XIONG, Q.; ZHAO, W.; GONG, Z.; TANG, T. Fine Particulate Matter Pollution and Hospital Admissions for Respiratory<br />
Diseases in Beijing, China. International Journal of Environmental Research Public Health, v. 12, p. 11880-11892, 2015.<br />
https://dx.doi.org/10.3390%2Fijerph120911880<br />
ZÚÑIGA, J.; TARAJIA, M.; HERRERA, V.; URRIOLA, W.; GÓMEZ, B.; MOTTA, J. Assessment of the Possible Association of Air<br />
Pollutants Pm10, O3, No2 with an Increase in Cardiovascular, Respiratory, and Diabetes Mortality in Panama City: A 2003<br />
to 2013 Data Analysis. Medicine (Baltimore), v. 95, p. e2464, 2016. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000002464<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
73<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 61-73
DOI: 10.5327/Z2176-947820180299<br />
MODELOS ESTRUTURAIS DE BIOENGENHARIA DE SOLOS NA<br />
REVEGETAÇÃO DE PILHAS DE ESTÉRIL EM MINERAÇÃO A CÉU ABERTO<br />
SOIL BIOENGINEERING STRUCTURAL MODELS FOR THE<br />
REVEGETATION OF WASTE DUMPS IN OPENCAST MINING<br />
Maria Lucia Solera<br />
Doutoranda no Programa de<br />
Ciências Ambientais, Instituto de<br />
Ciência e Tecnologia, Universidade<br />
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />
Filho” (Unesp) – Sorocaba (SP),<br />
Brasil. Pesquisadora, Instituto de<br />
Pesquisas Tecnológicas do Estado<br />
de São Paulo (IPT) – São Paulo (SP),<br />
Brasil.<br />
Admilson Irio Ribeiro<br />
Docente do Programa de<br />
Pós-Graduação em Ciências<br />
Ambientais, Instituto de Ciência e<br />
Tecnologia, Unesp – Sorocaba (SP),<br />
Brasil.<br />
Caroline Almeida Souza<br />
Mestre em Economia Ecológica,<br />
Universidade de Edimburgo.<br />
Pesquisadora, IPT –<br />
São Paulo (SP), Brasil.<br />
Sofia Julia Alves<br />
Macedo Campos<br />
Mestre em Engenharia Civil,<br />
Universidade de São Paulo (USP).<br />
Pesquisadora, IPT –<br />
São Paulo (SP), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Maria Lucia Solera – Avenida<br />
Professor Almeida Prado, 532 –<br />
Cidade Universitária –<br />
CEP 05508-280 – Butantã,<br />
São Paulo (SP), Brasil –<br />
E-mail: lucinha@ipt.br<br />
Recebido: 06/10/2017<br />
Aceito: 18/12/2017<br />
RESUMO<br />
Os processos tecnológicos associados à extração mineral estão entre as<br />
principais formas de degradação do ambiente, com intenso efeito sobre<br />
a paisagem, podendo causar diversos danos ambientais. Dentre esses<br />
diferentes processos e subprodutos gerados, a pilha de estéril caracterizase<br />
como um novo ambiente formado pela operação mineral, sendo de<br />
difícil recomposição vegetal em função da deficiência de matéria orgânica<br />
e de nutrientes, além da heterogeneidade granulométrica do material.<br />
Este artigo discute a aplicabilidade de técnicas de bioengenharia de solos na<br />
recuperação do talude da pilha de estéril de uma mineração a céu aberto.<br />
Três modelos estruturais de bioengenharia de solos foram desenvolvidos,<br />
construídos e instalados no talude com vistas a promover a recuperação da<br />
área degradada: guirlanda, colmeia e retentor. Os índices desenvolvidos para<br />
avaliar o desempenho dos modelos indicam que a guirlanda apresentou os<br />
melhores resultados, destacando-se a baixa dificuldade, tanto na instalação<br />
do modelo na pilha de estéril quanto no preenchimento do solo-substrato/<br />
sementes, além do alto desenvolvimento das espécies de adubação verde no<br />
modelo. O segundo melhor desempenho foi alcançado pelo modelo retentor<br />
e o pior desempenho foi obtido pelo modelo colmeia.<br />
Palavras-chave: mineração; pilha de estéril; recuperação ambiental; revegetação.<br />
ABSTRACT<br />
The technological processes associated to mineral extraction are among<br />
the main forms of environmental degradation, with an intense effect on<br />
the landscape, which may lead to several environmental damages. Among<br />
these different processes and by-products generated, the waste dump is<br />
characterized as a new environment formed by the mineral operation,<br />
with difficult vegetation recovery due to the deficiency of organic matter<br />
and nutrients, along with the granulometric heterogeneity of the material.<br />
This paper discusses the applicability of soil bioengineering techniques<br />
in recovering the slope of the waste dump from an opencast mining.<br />
Three structural models of soil bioengineering were developed, constructed<br />
and installed on the slope to recover the degraded area: guirlanda, colmeia<br />
and retentor. The indexes developed to assess the performance of the<br />
models indicate that guirlanda presented the best results, due to the low<br />
difficulty in both processes of installing the model on the waste dump and<br />
of filling the model with soil-substrate/seeds, besides the high development<br />
of green manure species in the model. The second best performance was<br />
achieved by the retentor model, and the worst one, by the colmeia model.<br />
Keywords: mining; waste dump; environmental reclamation; revegetation.<br />
74<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
Os produtos minerários são recursos indispensáveis<br />
para atender às necessidades da população, principalmente<br />
quando relacionadas à alimentação, saúde, moradia<br />
e vestuário. Dessa forma, a atividade minerária<br />
seguirá ocorrendo, porém, deve-se procurar conciliar<br />
seu desenvolvimento com a minimização de impactos<br />
ambientais.<br />
Na exploração dos recursos naturais da mineração a<br />
céu aberto, as alterações da superfície revelam-se por<br />
meio do aspecto estético, ou seja, os elementos visuais<br />
da linha, a forma, a textura, a complexidade e a cor que<br />
compõem a paisagem são, geralmente, bastante marcantes<br />
no cenário afetado.<br />
Na atividade minerária, os processos tecnológicos<br />
associados à extração do minério envolvem a movimentação<br />
de grandes volumes de materiais, causando<br />
alterações na paisagem, modificando seu equilíbrio e<br />
resultando no desenvolvimento de novos ecossistemas<br />
(SILVA et al., 2010; DONTALA et al., 2015; DE QUADROS<br />
et al., 2016).<br />
Recuperar uma área degradada resultante da atividade<br />
minerária é uma obrigação das empresas mineradoras,<br />
a partir da elaboração do Plano de Recuperação<br />
de Áreas Degradadas (PRAD), que deve prever medidas<br />
de revegetação, com vistas a estabelecer ou restabelecer<br />
a cobertura vegetal, porém, muitas vezes não se<br />
observa coerência entre as medidas praticadas e aquelas<br />
preconizadas nesse plano (MECHI; SANCHES, 2010;<br />
ALMEIDA; SÁNCHEZ, 2005).<br />
Os primeiros processos de recuperação de áreas mineradas<br />
observados se preocupavam com a revegetação,<br />
visando ao rápido recobrimento da cobertura vegetal,<br />
controle da erosão e cumprimento da legislação (DIAS;<br />
ASSIS, 2011), ou mesmo para minimizar o impacto visual<br />
(MECHI; SANCHES, 2010). De fato, a revegetação<br />
é uma prática muito utilizada na China e na Índia para<br />
recuperar cenários de degradação oriundos da exploração<br />
do carvão, áreas carentes de matéria orgânica,<br />
que ocasionam grandes perturbações antropogênicas,<br />
conduzindo de forma drástica a degradação do solo,<br />
reduzindo a biomassa, a riqueza e a diversidade microbiana<br />
do solo (SRIVASTAVA et al., 2014; DE QUADROS<br />
et al. 2016; AGUS et al., 2016). O estabelecimento da<br />
cobertura vegetal utilizando práticas revegetacionais<br />
INTRODUÇÃO<br />
visa a atenuar os efeitos da atividade de exploração do<br />
carvão sobre a paisagem, além da questão da reconstrução<br />
do solo (ZHAO et al.; 2013), reduzir o escoamento<br />
superficial e a erosão do solo, e ser uma chave para<br />
a restauração de ecossistemas (ZHANG et al., 2015).<br />
Além disso, a revegetação pode atuar como um componente<br />
fitoestabilizador, combinando espécies tolerantes<br />
a solos extremamente ácidos de áreas mineradas<br />
(YANG et al., 2016).<br />
Entretanto, existem casos em que a vegetação não consegue<br />
se estabelecer em decorrência das características<br />
da área que se pretende recuperar, havendo necessidade<br />
de outras técnicas para que isso possa ocorrer.<br />
Um exemplo claro dessa situação é a recuperação<br />
de taludes de pilhas de estéril de áreas mineradas a<br />
céu aberto.<br />
Nesses casos, a recuperação por meio da revegetação<br />
sugere grandes dificuldades em virtude das granulometrias<br />
heterogêneas encontradas nessas áreas, consoante<br />
o material inerte descartado, em que a composição<br />
granulométrica é quem define a declividade dos<br />
taludes, conforme o ângulo de repouso do material.<br />
A heterogeneidade granulométrica da pilha de estéril<br />
proporciona dificuldades na determinação de propriedades<br />
geotécnicas do material como a coesão e o<br />
ângulo de atrito interno (ZHOU et al., 2013). Uma das<br />
dificuldades condicionantes está no cálculo do fator de<br />
segurança relativo à estabilidade da pilha, pois esses<br />
fatores são descritos somente em tabelas de referência<br />
para materiais de granulometrias específicas e a<br />
sequência de disposição nas pilhas resulta em diferentes<br />
seções geotécnicas para análise. Adicionalmente,<br />
as diferentes granulometrias e a elevada declividade<br />
podem afetar o desenvolvimento ou a recolonização<br />
da vegetação nativa por meio de processos naturais de<br />
sucessão, uma vez que os finos (material de granulometria<br />
entre as frações silte e argila) tendem a passar<br />
pelos vazios promovidos pelo embricamento de blocos<br />
de maiores dimensões na ocasião das precipitações, dificultando<br />
a retenção de umidade.<br />
Em complexos minerários, cujos depósitos de estéreis<br />
possuem granulometrias próximas às texturas encontradas<br />
em processos pedogenéticos, a inserção da vegetação<br />
torna-se facilitada, pois essas granulometrias tendem a<br />
uma condição próxima da natural (RIBEIRO et al., 2014).<br />
75<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
Contrário a essa perspectiva, os depósitos de bota-fora<br />
com matacões e poucos finos tendem a não fixar uma<br />
vegetação vicejante, pois a alta permeabilidade desfavorece<br />
a retenção de umidade no local e a disponibilidade<br />
de nutrientes, dificultando a colonização por<br />
espécies vegetais.<br />
No processo de recuperação desses taludes, a aplicação<br />
da adubação verde, utilizando espécies leguminosas,<br />
com base na sua periodicidade e na racionalização<br />
de sua aplicação, em longo e médio prazos, pode<br />
trazer imensuráveis benefícios ao solo (RIBEIRO, 2005).<br />
Essas espécies são fixadoras de carbono e nitrogênio,<br />
maximizam a ciclagem de nutrientes, favorecem a atividade<br />
biológica do solo, apresentam elevado potencial<br />
de produção de fitomassa e maior ocorrência de<br />
fungos micorrízicos arbusculares. Contribuem com a<br />
biodisponibilidade de nutrientes, promovendo a estruturação<br />
de agregados do solo, dando início ao processo<br />
de sucessão natural (CHAER et al., 2011; NOGUEIRA<br />
et al., 2012; BOLDT-BURISCH et al., 2015; NUSSBAU-<br />
MER et al., 2016; RASHID et al., 2016; SOUZA et al.,<br />
2016; VERGANI; GRAF, 2016).<br />
O sucesso da recuperação de uma área degradada pela<br />
mineração não depende somente das características da<br />
área a ser recuperada. A escolha correta das espécies,<br />
as fontes de propágulos, polinizadores e dispersores de<br />
sementes e seus efeitos benéficos sobre o solo é que irá<br />
definir sua capacidade de melhorar o solo da área que<br />
está sendo recuperada (CHAER et al., 2011; MUKHO-<br />
PADHYAY et al., 2013). Dessa forma, em projetos de recuperação,<br />
faz-se necessário conhecer os métodos e as<br />
técnicas a serem aplicados com vistas a criar condições<br />
básicas para a sua recuperação. Assim, considera-se que<br />
a área degradada pela atividade minerária possa ser recuperada<br />
utilizando técnicas alternativas das usualmente<br />
praticadas e preconizadas nos PRADs.<br />
A literatura nos traz alternativas técnicas de recuperação,<br />
em diferentes contextos de degradação, passíveis<br />
de serem aplicadas em áreas degradadas pós-mineração.<br />
Nesta perspectiva, evidencia-se a bioengenharia<br />
de solos, tecnologia contextualizada no subdomínio<br />
da engenharia civil, com os mesmos objetivos e fundamentos<br />
técnicos, aliados à percepção ecológica por<br />
meio de soluções construtivas criativas, na medida em<br />
que faz uso de materiais vivos (SCHIECHTL, 1980).<br />
De caráter multidisciplinar, a bioengenharia de solos<br />
emprega materiais naturais, vivos ou mortos, isolados<br />
ou conjugados com materiais inertes e é usada tradicionalmente<br />
para estabilizar margens de cursos d’água<br />
e taludes naturais ou construídos (DURLO; SUTILI,<br />
2005). Essa combinação forma sistemas vivos, conjugando<br />
funcionalidade estrutural e ecológica, podendo<br />
ser utilizada para recuperar diferentes contextos de<br />
degradação (GRAY; SOTIR, 1996; SUTILI, 2007; EVETTE<br />
et al., 2009; FERNANDES; FREITAS, 2011).<br />
A bioengenharia de solos faz uso das práticas da engenharia<br />
convencional associadas a princípios ecológicos<br />
integrados; e a ecoengenharia é uma estratégia ecológica<br />
e econômica, de longo prazo, na gestão de áreas<br />
relacionadas às alterações naturais ou causadas pelo<br />
homem. São áreas inseridas na engenharia ecológica,<br />
definidas como a concepção de ecossistemas sustentáveis,<br />
que integram a sociedade humana com o ambiente<br />
natural, com benefício para ambos (STOKES et al., 2014).<br />
Nesse contexto, o objetivo deste artigo é discutir o<br />
potencial de aplicabilidade de modelos estruturais de<br />
bioengenharia de solos para promover a recuperação<br />
de talude da pilha de estéril resultante da exploração<br />
de rocha fosfática (apatita) na Vale Fertilizantes em Cajati,<br />
São Paulo.<br />
Quanto à natureza deste estudo, o método adotado<br />
consistiu de uma pesquisa aplicada e exploratória na<br />
busca por modelos estruturais de bioengenharia de<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Pesquisa bibliográfica e reconhecimento de campo<br />
solos com aptidão para recuperar área degradada<br />
pela atividade minerária ou adaptação de modelos<br />
já existentes.<br />
Inicialmente, realizou-se uma busca por meio da literatura<br />
especializada que descreve uma diversidade de técnicas e/<br />
ou métodos no campo da bioengenharia de solos. Em paralelo,<br />
foi realizado o reconhecimento de campo, considerando<br />
as principais etapas da atividade minerária, conforme<br />
indicado por Fornasari Filho et al. (1992): áreas lavradas<br />
76<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
(bancadas e taludes); áreas de disposição de estéril e rejeito<br />
(bota-fora e barragem de rejeito); área industrial (entorno<br />
das unidades de beneficiamento e áreas de apoio,<br />
estocagem, vias de circulação, escritório e oficinas).<br />
No reconhecimento de campo foram visitadas seis áreas,<br />
localizadas nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais<br />
e Paraíba, com técnicas de recuperação ambiental, no<br />
contexto da bioengenharia de solos, compreendendo:<br />
parques urbanos, rodovias, área de mineração e áreas<br />
de empréstimo de hidrelétrica. As técnicas empregadas<br />
nessas áreas tinham como principal finalidade controlar<br />
Área de estudo<br />
Os estudos foram conduzidos na Mina Vale Cajati, que integra<br />
o Complexo Mineroquímico da Vale Fertilizantes, situada<br />
na região central do município de Cajati, ao norte de<br />
sua área urbanizada, no Vale do Ribeira, região sul do estado<br />
de São Paulo (Figura 1), compreendendo as coordenadas<br />
de 24 o 41’00”/24 o 43’00”S e 48 o 07’00”/48 o 09’00”W.<br />
É uma região que se caracteriza como uma das mais importantes<br />
do estado de São Paulo por abrigar uma rica<br />
biodiversidade e possuir o maior contínuo remanescente<br />
de Mata Atlântica do país (KRONKA, 2007).<br />
A região do Vale do Ribeira, na qual se localiza a mina<br />
de Cajati, está representada pela Floresta Ombrófila<br />
Densa, com características ombrotérmicas, ligada a<br />
fatores climáticos tropicais de temperaturas elevadas,<br />
com médias de 25 o C e com alta precipitação pluviométrica<br />
bem distribuída durante o ano, de 0 a 60 dias secos,<br />
sem períodos biologicamente secos (IBGE, 2012).<br />
Os Sistemas de Classificação Climática (SCC) definem<br />
os climas de diferentes regiões a partir das variáveis<br />
a erosão, inclusive no estágio de boçorocamento, estabilizar<br />
talude fluvial, encostas naturais ou taludes de<br />
corte e aterro. As características dessas técnicas foram<br />
analisadas por Solera et al. (2014). O reconhecimento<br />
da aplicação das técnicas de bioengenharia foi agregado<br />
aos conhecimentos obtidos na literatura, revelando que<br />
as técnicas aplicadas em diferentes contextos de degradação<br />
apresentavam similaridades com as da literatura<br />
e estavam compatíveis com os objetivos de recuperação<br />
e processos envolvidos, evidenciando-se, também,<br />
o potencial de aplicação em taludes de pilhas de estéril<br />
(SOLERA et al., 2014).<br />
temperatura, umidade e chuva. O sistema, notadamente<br />
mais bem utilizado na atualidade, proposto por<br />
Köppen (1928), partiu do entendimento de que a vegetação<br />
natural é a melhor expressão do clima de uma<br />
região. Essa classificação foi modificada para o Brasil<br />
por Setzer (1966) para inserção do tipo climático Am<br />
(tropical com chuvas excessivas e inverno seco).<br />
Em contexto mais amplo, o município de Cajati, conforme<br />
Setzer (1966), encontra-se nas faixas de climas<br />
dos tipos Cfa (subtropical quente sem estação seca) e<br />
Cfb (subtropical temperado sem estação seca), classificados<br />
como subtropical, em que: Cfa é quente sem<br />
estação seca, com temperatura média do mês mais<br />
frio inferior a 18 o C, e do mês mais quente igual ou superior<br />
a 22 o C e chuvas superiores ou iguais a 30 mm;<br />
e Cfb é temperado sem estação quente, com temperatura<br />
média do mês mais frio inferior a 18 o C, e do<br />
mês mais quente inferior a 22 o C e chuvas superiores<br />
ou iguais a 30 mm.<br />
América<br />
do Sul<br />
Estado de São Paulo<br />
Área de estudo<br />
Município de Cajati<br />
Figura 1 – Localização do Complexo Mineroquímico da Vale Fertilizantes – Unidade Cajati.<br />
77<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
Área experimental<br />
Na escolha da área experimental foi adotada como<br />
premissa que a área deveria apresentar condições<br />
adequadas para a finalidade do experimento, ou seja,<br />
condições favoráveis para o desenvolvimento e a instalação<br />
dos modelos estruturais de bioengenharia de<br />
solos. Assim, para a escolha da área foram identificados<br />
os critérios de seleção e classificados com escala<br />
relativa qualitativa a semiquantitativa, a saber: contexto<br />
da paisagem (entorno 1 km — florestal); disposição<br />
da empresa em colaborar com o estudo (alta); segurança<br />
e proteção do experimento (alta); dificuldade para<br />
implantar o experimento (alta); e ausência de relatos<br />
na literatura acerca da aplicação da bioengenharia de<br />
solos em talude de pilha de estéril (sim). Esses critérios<br />
de seleção, considerados como relevantes, foram analisados<br />
a partir de informações obtidas em campo, de<br />
modo a orientar a escolha da área.<br />
Na análise desses critérios e com vistas a contribuir<br />
com os objetivos deste artigo foi escolhido o talude<br />
da pilha de estéril do bota-fora oeste do Complexo<br />
Mineroquímico da Vale Fertilizantes (Figuras 2 e 3), assim<br />
designado devido à sua localização na área dessa<br />
empresa. O talude tem área de 35 ha, altura máxima<br />
de 80 m, bancadas com alturas que variam entre 10 e<br />
20 m com duas faces, sendo uma com 76 m de extensão<br />
e outra com 106 m. Para efeito deste estudo foi<br />
utilizada somente uma face do talude, com 16,70 m de<br />
altura, 50 m de extensão e inclinação superior a 45 o .<br />
Desenvolvimento dos modelos estruturais<br />
O conhecimento das técnicas descritas na literatura<br />
e as aplicações em campo mostraram a inexistência<br />
de técnicas específicas e compatíveis com<br />
as condições locais para recuperar o talude da pilha<br />
de estéril do Complexo Mineroquímico da Vale<br />
Fertilizantes.<br />
Diante da heterogeneidade do material depositado na<br />
pilha e do elevado índice de vazios, para auxiliar na escolha<br />
de modelos de recuperação de bioengenharia de<br />
solos foi realizado um teste experimental em uma das<br />
faces do talude da pilha de estéril, com a colocação de<br />
solo/substrato sobre os blocos e simulação da precipitação,<br />
de modo a observar a perda de finos.<br />
Fonte: Modificado de Google Earth,<br />
versão 7.3.0 (data da imagem: 03/05/2013).<br />
Figura 2 – Localização da área experimental.<br />
Figura 3 – Feição geral de talude da pilha de estéril.<br />
78<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
Os resultados obtidos com o teste, apresentados em<br />
Ribeiro et al. (2014), sugeriram optar por técnicas com<br />
função de promover a retenção do solo para viabilizar<br />
a introdução de vegetação. Essa etapa contribuiu para<br />
a idealização de três protótipos, a partir da adaptação<br />
de técnicas já existentes, praticadas e consolidadas em<br />
contextos diversos de degradação.<br />
Os protótipos foram construídos com materiais naturais<br />
e submetidos a um teste piloto em talude construído<br />
com altura média de 8 m, largura de 5 m e inclinação<br />
de 23 o . Nesse talude foi realizada a conformação<br />
geométrica de modo a obter inclinação e configuração<br />
mais uniformes.<br />
Construção dos modelos estruturais<br />
Três modelos estruturais denominados guirlanda, colmeia<br />
e retentor foram projetados e dimensionados de<br />
forma a receber uma espessura mínima de 0,20 m de<br />
solo em sua porção interna. A construção desses modelos<br />
consistiu de uma etapa do projeto que definiu as<br />
dimensões, os espaçamentos e o posicionamento no<br />
talude da pilha de estéril (Figura 4). Os modelos foram<br />
construídos de forma que houvesse uma parte interna<br />
Os modelos estruturais foram construídos para reter<br />
o solo e propiciar as condições necessárias à germinação<br />
das sementes e ao desenvolvimento das plântulas,<br />
possuir leveza e flexibilidade, de forma a facilitar sua<br />
instalação no talude, considerando uma altura aproximada<br />
de 17 m e inclinação superior a 45 o , ou seja,<br />
condições de difícil acesso. Também foi considerada a<br />
fixação ao talude, sem o risco de escorregamento da<br />
estrutura. Desse modo, optou-se por utilizar uma fibra<br />
têxtil vegetal (Corchorus capsulari — juta) como principal<br />
material construtivo, que, além de oferecer leveza<br />
e flexibilidade, é mais bem incorporada ao meio, devido<br />
à sua biodegradabilidade.<br />
para receber o solo com sementes de leguminosas de<br />
Crotalaria juncea, Mucuna aterrima e Cajanus cajan.<br />
O uso de leguminosas conjugadas com os modelos estruturais<br />
consistiu da primeira etapa de recuperação,<br />
visando promover condições para fixação e produção<br />
vegetal em área onde não há suporte para se proceder<br />
ao plantio de arbóreas, bem como o desenvolvimento<br />
natural da vegetação.<br />
2,0<br />
5,0<br />
4,0<br />
1,0<br />
Estrutura tipo guirlanda<br />
2,0<br />
1,0 1,0<br />
0,2<br />
0,6<br />
2,0<br />
9,4<br />
2,0<br />
Estrutura tipo retentor<br />
1,0<br />
0,2<br />
1,0<br />
0,2<br />
1,0<br />
1,0<br />
10,0<br />
2,0<br />
2,0<br />
1,8<br />
0,9 0,9<br />
2,0 2,0<br />
0,5<br />
3,0<br />
Estrutura tipo colmeia<br />
0,8<br />
Figura 4 – Projeto com posicionamento dos modelos estruturais no<br />
talude e detalhe com dimensões das estruturas de bioengenharia de solos.<br />
79<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
Finalizado o projeto, procedeu-se à confecção dos modelos<br />
estruturais de bioengenharia de solos. Para o<br />
modelo estrutural colmeia foram utilizados 10,00 m<br />
de tecido de juta com 1,00 m de largura. Cortes, dobras<br />
e grampeamentos foram necessários para obter<br />
a forma projetada, ficando o modelo com 3,00 m de<br />
comprimento, 0,80 m de largura e altura de 0,30 m.<br />
Essa estrutura foi idealizada a partir da arquitetura<br />
das colmeias construídas pelas abelhas e das geocélulas<br />
empregadas em obras de engenharia geotécnica.<br />
No modelo estrutural guirlanda, 3,30 m de tecido, com<br />
1,00 m de largura foram utilizados, ficando com 1,00<br />
m de diâmetro externo, 0,60 m de diâmetro interno e<br />
0,20 m de altura. Idealizado a partir de técnicas já existentes<br />
utilizadas para preencher ravinas (solo ensacado),<br />
reduzir a velocidade da água em áreas inclinadas,<br />
por meio de murundus em linhas de solo ensacado, o<br />
modelo estrutural retentor foi construído a partir da<br />
união de duas sacarias de café de 0,90 m, fechadas<br />
com fio de sisal, ficando com 1,80 m de comprimento<br />
e 0,50 m de largura, amarradas a uma corda e lançadas<br />
ao talude.<br />
Assim, visando à melhor relação custo/benefício e biodegradabilidade<br />
para a construção dos modelos estruturais,<br />
foi utilizada a tela de juta-P-9100 S/F (fibra têxtil<br />
vegetal — Corchorus capsulari) como principal material<br />
construtivo para os modelos estruturais denominados<br />
colmeia e guirlanda. Nesse último, além da juta, foi utilizada<br />
a palha de junco seca, resíduo originado de atividades<br />
industriais, como material complementar de<br />
preenchimento, que lhe conferiu a forma circular, e fio<br />
de sisal para fechamento da estrutura. Para o modelo<br />
estrutural retentor, optou-se pelo reuso de sacarias de<br />
café, cuja matéria-prima também é a juta.<br />
Preparação do talude para instalação dos modelos estruturais<br />
Em novembro de 2014 foi lançada sobre o talude da<br />
pilha de estéril uma camada de 0,10 m de areia calcária<br />
(Figura 5A), material remanescente das atividades<br />
de mineração (rejeito) da Vale. Essa etapa, necessária<br />
à instalação dos modelos estruturais, teve como finalidade<br />
regularizar a superfície e promover o acesso<br />
mais seguro para a instalação das estruturas, além de<br />
proporcionar certo preenchimento dos vazios existentes<br />
no talude. Em abril de 2015 foi realizada a delimitação<br />
do talude em quatro setores, com espaçamento<br />
de 50 m cada. Cada um desses setores foi dividido em<br />
cinco campos de 10 m para posicionamento das unidades<br />
de cada modelo estrutural. Somente três deles<br />
foram utilizados no experimento, um para cada modelo<br />
estrutural de bioengenharia de solos, nos quais<br />
foi observada a ocorrência do processo natural de<br />
propagação do capim-napier (Pennisetum purpureum)<br />
(Figura 5B).<br />
A<br />
B<br />
Figura 5 – (A) Regularização da superfície do talude com areia calcária;<br />
(B) solo-substrato homogeneizado com sementes e propagação natural de capim-napier<br />
na área experimental (imagem aérea capturada com veículo aéreo não tripulado — VANT).<br />
80<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
Instalação dos modelos estruturais<br />
Para a instalação dos modelos estruturais (Figuras 6A,<br />
6B e 6C), utilizou-se técnica de rapel, devido à configuração<br />
dos modelos estruturais e das características do<br />
talude da pilha de estéril. A instalação dos modelos estruturais<br />
guirlanda (32 unidades) e colmeia (12 unidades)<br />
teve início a partir da base do talude até sua crista.<br />
Índices de desempenho<br />
A avaliação de desempenho dos modelos estruturais de<br />
bioengenharia de solos foi realizada com vistas a responder<br />
se os modelos possuíam potencial de aplicabilidade<br />
para recuperar o talude da pilha de estéril ou outros contextos<br />
de degradação de áreas mineradas semelhantes à<br />
área deste estudo. Para tanto, foi realizada uma análise<br />
utilizando seis critérios: critério 1 = confecção do modelo<br />
(dificuldade); critério 2 = confecção do modelo (custo);<br />
critério 3 = instalação do modelo (dificuldade); critério 4 =<br />
colocação do solo-substrato/sementes (dificuldade); critério<br />
5 = retenção do solo-substrato/sementes e critério<br />
6 = adubação verde (desenvolvimento). Esses critérios<br />
foram estabelecidos a partir de informações e situações<br />
observadas em quatro campanhas de campo, imagens fotográficas<br />
e imagens capturadas por veículo aéreo não tripulado<br />
(VANT), durante um período de 15 meses após a<br />
Após a instalação, os modelos estruturais guirlanda e<br />
colmeia receberam camada do solo-substrato homogeneizado<br />
com sementes de leguminosas de Crotalaria<br />
juncea, Mucuna aterrima e Cajanus cajan (Figura 5B),<br />
utilizando um duto condutor de solo, que conduziu a<br />
mistura até cada uma das unidades estruturais. Particularmente<br />
para o modelo estrutural retentor (15 unidades),<br />
optou-se pelo simples lançamento no talude<br />
a partir da crista após seu preenchimento com solo-<br />
-substrato e posicionamento final no talude utilizando<br />
também a técnica de rapel.<br />
instalação dos modelos estruturais. Os critérios retenção<br />
do solo-substrato/sementes e adubação verde (desenvolvimento)<br />
estão relacionados à estruturação de agregados<br />
do solo, por meio do sistema radicular das plantas com<br />
vistas a favorecer a sucessão natural (NOGUEIRA et al.,<br />
2012; ROSA et al., 2014; COLODETE et al., 2014; CAPILLERI<br />
et al., 2016; STUMPF et al., 2016). O critério confecção do<br />
modelo (custo) está relacionado ao uso de material local<br />
e natural, inserido no conceito de bioengenharia de solos,<br />
o que lhe confere menor custo se comparado às técnicas<br />
tradicionais da engenharia (LI; EDDLEMAN, 2002; LI,<br />
2006; PINTO, 2009). Para o critério instalação do modelo<br />
(dificuldade), a declividade é um fator que influencia a estabilidade<br />
de um talude na instalação de uma técnica de<br />
bioengenharia de solos (BISCHETTI et al., 2010), além da<br />
própria configuração do modelo.<br />
A B C<br />
Figura 6 – Vista geral do talude após instalação das estruturas:<br />
(A) modelo estrutural colmeia; (B) modelo estrutural retentor; (C) modelo estrutural guirlanda.<br />
81<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
Já os critérios confecção do modelo e colocação do solo-substrato/sementes<br />
foram selecionados a partir da<br />
experiência deste estudo. Na confecção, a dificuldade<br />
foi atribuída ao manuseio do material construtivo<br />
que originou os modelos colmeia e guirlanda e, para<br />
o critério colocação do solo-substrato, foi conferida ao<br />
posicionamento do duto condutor no talude no preenchimento<br />
dos modelos guirlanda e colmeia.<br />
Na atribuição da pontuação, para os seis critérios<br />
preestabelecidos, os escores foram definidos assumindo<br />
que o maior valor representa melhor desempenho e<br />
o valor mais baixo, desempenho ruim (ALVES; BASTOS,<br />
2011). A esses escores foram atribuídos valores correspondentes<br />
a números inteiros: 0 (baixo desempenho),<br />
1 (médio desempenho) e 2 (bom desempenho) para<br />
cada critério relacionado aos modelos estruturais. Dessa<br />
forma, foram obtidos dois índices de desempenho:<br />
o índice de desempenho dos critérios (I C<br />
) e o índice de<br />
desempenho dos modelos estruturais (I ME<br />
), utilizando-<br />
-se as Equações 1 e 2:<br />
EC<br />
IC<br />
= (1)<br />
E max<br />
I<br />
ME<br />
= 1<br />
N<br />
∑<br />
C<br />
I<br />
C<br />
(2)<br />
Em que:<br />
I C<br />
= o índice de desempenho dos critérios;<br />
I ME<br />
= o índice de desempenho dos modelos estruturais;<br />
N = o número de critérios;<br />
E C<br />
= o escore do c-ésimo critério (c = 1 a 6);<br />
Emax C<br />
= o escore máximo do c-ésimo.<br />
C = c-ésimo critério (c = 1 a 6), onde 1 = confecção<br />
(dificuldade), 2 = confecção (custo), 3 = instalação<br />
(dificuldade), 4 = colocação do solo-substrato (dificuldade),<br />
5 = retenção do solo-substrato e 6 = adubação<br />
verde (desenvolvimento).<br />
Os valores obtidos com a aplicação da Equação 1 mostram<br />
o desempenho de cada modelo estrutural — colmeia,<br />
retentor e guirlanda — aplicado na área experimental,<br />
para cada critério analisado individualmente.<br />
A aplicação da Equação 2 gerou o índice de desempenho<br />
de cada modelo estrutural para o conjunto de critérios<br />
analisados.<br />
O desempenho final de cada modelo estrutural foi classificado<br />
em baixo, médio e bom, gerando três intervalos<br />
qualitativos com base nos valores de I ME<br />
obtidos,<br />
sendo: baixo desempenho (I ME<br />
= 0,00 a 0,33), médio<br />
desempenho (I ME<br />
= 0,34 a 0,67) e bom desempenho<br />
(I ME<br />
= 0,68 a 1,00).<br />
O Quadro 1 e a Figura 7 apresentam os resultados<br />
obtidos com a aplicação dos modelos estruturais<br />
colmeia, retentor e guirlanda na área experimental.<br />
Comparando-se o desempenho de I ME<br />
dos modelos<br />
estruturais, percebe-se que a colmeia apresentou<br />
desempenho baixo e o retentor desempenho médio,<br />
com valores de I ME<br />
de 0,17 e 0,58, respectivamente,<br />
já a guirlanda mostrou bom desempenho, com valor<br />
de I ME<br />
de 0,75. Esses resultados sugerem que para<br />
os modelos estruturais de bioengenharia de solos<br />
aplicados na situação verificada na pilha de estéril,<br />
o modelo estrutural guirlanda mostrou-se mais eficiente,<br />
exercendo de maneira satisfatória as funções<br />
para as quais foi projetado.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Entretanto, ainda que os modelos estruturais tenham<br />
alcançado diferentes faixas de desempenho,<br />
considera-se que todos os modelos apresentam elevado<br />
potencial de aplicabilidade. Particularmente<br />
para o modelo guirlanda, de estrutura circular e vazada,<br />
tem-se que o bom desempenho foi atribuído à<br />
leveza do modelo, facilidade de instalação, fixação<br />
no talude e de transporte. A forma e a dimensão do<br />
modelo também favoreceram o desenvolvimento<br />
da adubação.<br />
Dos critérios adotados para avaliar o desempenho<br />
dos modelos estruturais, na avaliação geral, a guirlanda<br />
obteve bom desempenho (I ME<br />
= 0,75), sendo que<br />
os menores valores foram para os critérios: confecção<br />
do modelo (dificuldade), com I C<br />
= 0,50; confecção<br />
do modelo (custo), com I C<br />
= 0,50 e retenção do<br />
solo-substrato/sementes, com I C<br />
= 0,50. Os maiores<br />
valores foram para os critérios: instalação do modelo<br />
(dificuldade), com I C<br />
= 1,00; colocação solo-substrato/<br />
sementes (dificuldade), com I C<br />
= 1,00 e desenvolvimento<br />
da adubação verde, com I C<br />
= 1,00.<br />
Ao contrário da guirlanda, o modelo retentor obteve<br />
maior avaliação nos critérios confecção do modelo (dificuldade),<br />
com I C<br />
= 1,00 e confecção dos modelos (custo),<br />
82<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
com I C<br />
= 1,00; e menores valores para os critérios: instalação<br />
do modelo (dificuldade), com I C<br />
= 0,00; colocação<br />
do solo-substrato/sementes (dificuldade), com I C<br />
= 0,50;<br />
retenção do solo/sementes, com I C<br />
= 0,50 e desenvolvimento<br />
da adubação verde, com I C<br />
= 0,50; e, ainda assim,<br />
obteve desempenho médio (I ME<br />
= 0,58).<br />
Quadro 1 – Critérios de desempenho dos modelos estruturais de bioengenharia de solos.<br />
Modelos/critérios Colmeia I C<br />
Retentor I C<br />
Guirlanda I C<br />
Confecção<br />
do modelo<br />
(dificuldade)<br />
Alta: unir peças do<br />
tecido, dobrar e<br />
pregar para formar as<br />
células<br />
0,00<br />
Baixa: a sacaria de<br />
café facilitou a costura<br />
ajustada ao projeto<br />
1,00<br />
Média: dar forma ao<br />
modelo com palha de<br />
junco seca e fechar com<br />
fio de sisal<br />
0,50<br />
Confecção do<br />
modelo (custo)<br />
Médio: uso de<br />
fibra têxtil vegetal<br />
(Corchorus<br />
capsulari — juta)<br />
e grampos<br />
0,50<br />
Baixo: reuso de sacarias<br />
de café e fio de sisal<br />
para unir as sacarias<br />
1,00<br />
Médio: uso de fibra<br />
têxtil vegetal (Corchorus<br />
capsulari — juta); fio<br />
de sisal; contratação de<br />
terceiros; construção<br />
do modelo<br />
0,50<br />
Instalação<br />
do modelo<br />
(dificuldade)<br />
Média: dificuldade<br />
de fixar e estaquear<br />
o modelo no talude<br />
devido à dimensão<br />
0,50<br />
Alta: grande esforço<br />
na instalação<br />
devido ao peso da<br />
própria estrutura,<br />
não favorecendo<br />
o posicionamento<br />
no talude<br />
0,00<br />
Baixa: modelo<br />
apresenta leveza, fácil<br />
de transportar, instalar<br />
e estaquear<br />
1,00<br />
Colocação solosubstrato/sementes<br />
(dificuldade)<br />
Alta: colocar mistura<br />
solo-substrato/<br />
sementes com duto<br />
coletor em cada uma<br />
das células<br />
0,00<br />
Média: o solosubstrato/<br />
sementes foi<br />
colocado fora do talude<br />
0,50<br />
Baixa: colocação do<br />
solo-substrato no<br />
modelo com duto<br />
coletor no talude<br />
1,00<br />
Retenção do solosubstrato/sementes<br />
Baixa: grande perda<br />
de solo devido ao<br />
posicionamento do<br />
modelo no talude de<br />
alta declividade<br />
0,00<br />
Média: menor perda<br />
de solo-substrato/<br />
sementes devido à<br />
configuração do modelo<br />
0,50<br />
Média: menor perda<br />
de solo-substrato/<br />
sementes devido à<br />
configuração do modelo<br />
0,50<br />
Adubação verde<br />
(desenvolvimento)<br />
Baixo: perda de<br />
solo-substrato/<br />
sementes devido<br />
à deformação do<br />
modelo, prejudicando<br />
a adubação verde<br />
0,00<br />
Médio: necessidade<br />
de fazer aberturas na<br />
estrutura para auxiliar a<br />
adubação verde<br />
0,50<br />
Alto: configuração<br />
favoreceu<br />
adubação verde<br />
1,00<br />
Desempenho/I ME baixo 0,17 médio 0,58 bom 0,75<br />
I C<br />
: índice de desempenho dos critérios; I ME<br />
: índice de desempenho dos modelos estruturais.<br />
83<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
Desenvolvimento<br />
adubação verde<br />
Confecção do modelo<br />
1<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0<br />
Custo do modelo<br />
Retenção do<br />
solo-substrato<br />
Instalação do modelo<br />
Colocação do solo-substrato<br />
Estrutura colmeia Estrutura retentor Estrutura guirlanda<br />
Figura 7 – Desempenho (I C<br />
) dos modelos estruturais de bioengenharia de solos.<br />
O baixo desempenho da colmeia (I ME<br />
= 0,17) deve-se aos<br />
menores valores atribuídos a quatro dos seis critérios: confecção<br />
dos modelos (dificuldade), com I C<br />
= 0,00; colocação<br />
solo-substrato/sementes (dificuldade), com I C<br />
= 0,00;<br />
retenção do solo-substrato/sementes, com I C<br />
= 0,00; desenvolvimento<br />
da adubação verde, com I C<br />
= 0,00; e valores<br />
maiores para os critérios: confecção do modelo (custo),<br />
com I C<br />
= 0,50 e instalação do modelo (dificuldades),<br />
com I C<br />
= 0,50.<br />
Os critérios utilizados para este estudo foram considerados<br />
suficientes e satisfatórios para alcançar<br />
o objetivo deste trabalho na avaliação dos modelos<br />
estruturais de bioengenharia de solos, mesmo considerando<br />
a possibilidade de se adotar um maior número<br />
de critérios de seleção para avaliar de forma mais<br />
detalhada o desempenho dos modelos guirlanda, colmeia<br />
e retentor.<br />
CONCLUSÕES<br />
O estudo realizado mostrou a aplicabilidade de modelos<br />
estruturais de bioengenharia de solos para recuperar o<br />
talude da pilha de estéril no Complexo Mineroquímico<br />
da Vale Fertilizantes, Cajati, São Paulo, tendo se destacado<br />
o modelo guirlanda. Os critérios preestabelecidos<br />
especificamente para avaliar esses modelos indicam<br />
potencial de aplicabilidade em futuros projetos de pesquisas<br />
para recuperar situações similares de degradação<br />
em áreas de mineração a céu aberto. São modelos de<br />
simples construção, possuem flexibilidade, dispensam o<br />
uso de mão de obra especializada e maquinários pesados<br />
e oferecem melhor custo-benefício se comparados<br />
aos métodos tradicionais de recuperação em áreas de<br />
disposição de estéril e rejeito (bota-fora).<br />
Tratando-se de uma tecnologia comumente praticada<br />
para estabilizar margens de cursos d’água e taludes<br />
naturais ou construídos, a aplicação dos modelos estruturais<br />
constitui um desafio nas condições verificadas<br />
nas pilhas de estéril, considerando as dificuldades<br />
relacionadas ao ineditismo do tema, cuja aplicação da<br />
tecnologia ainda é incipiente no meio técnico-científico<br />
para esse fim.<br />
84<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
Em termos de aperfeiçoamento das técnicas que possam<br />
ser aplicadas nesse segmento de pesquisa, muito<br />
há que se investigar com vistas a ampliar seu potencial<br />
de uso, no desenvolvimento de novas técnicas específicas<br />
para taludes de pilha de estéril e/ou na avaliação<br />
de outras técnicas descritas na literatura, ou mesmo na<br />
escolha do material construtivo, dimensões estruturais<br />
e monitoramento de desempenho perante condições<br />
de formação de substrato para suporte de vegetação<br />
de porte arbustivo.<br />
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa<br />
do Estado de São Paulo (FAPESP), à Vale S.A.,<br />
ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de<br />
AGRADECIMENTOS<br />
São Paulo e aos colegas Caio Pompeu Cavalhieri, Priscila<br />
Ikematsu, Mariana Hortelani Carneseca Longo, Omar<br />
Yazbek Bitar e Ana Maria Azevedo Dantas Marins.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AGUS, C.; PUTRA, P. B.; FARIDAH, E.; WULANDARI, D.; NAPITUPULU, R. R. Organic carbon stock and their dynamics in<br />
rehabilitation ecosystem areas of post open coal mining at tropical region. Procedia Engineering, v. 159, p. 329-337,<br />
2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.proeng.2016.08.201<br />
ALMEIDA, R. O. P. O.; SÁNCHEZ, L. H. Revegetação de áreas de mineração: critérios de monitoramento e avaliação do<br />
desempenho. Revista Árvore, Viçosa, v. 29, n. 1, p. 47-54, 2005. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622005000100006<br />
ALVES, L. B.; BASTOS, R. P. Sustentabilidade em Silvânia (GO): o caso dos assentamentos rurais São Sebastião da<br />
Garganta e João de Deus. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 49, n. 2, p. 419-448, 2011. DOI: http://dx.doi.<br />
org/10.1590/S0103-20032011000200007<br />
BISCHETTI, G. B.; CHIARADIA, E. A.; D’AGOSTINO, V.; SIMONATO, T. Quantifying the effect of brush layering on slope<br />
stability. Ecological Engineering, v. 36, n. 3, p. 258-264, 2010. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ecoleng.2009.03.019<br />
BOLDT-BURISCH, K.; NAETH, M. A.; SCHNEIDER, B. U.; HÜTTL, R. F. Linkage between root systems of three pioneer plant<br />
species and soil nitrogen during early reclamation of a mine site in Lusatia, Germany. Restoration Ecology, v. 23, n. 4,<br />
p. 357-365, 2015. DOI: 10.1111/rec.12190<br />
CAPILLERI, P. P.; MOTTA, E.; RACITI, E. Experimental study on native plant root tensile strength for slope stabilization.<br />
Procedia Engineering, v. 158, p. 116-121, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.proeng.2016.08.415<br />
CHAER, G. M.; RESENDE, A. S.; CAMPELLO, E. F. C.; FARIA, S. M.; BODDEY, R. M. Use nitrogen-fixing legume trees to<br />
revegetate degraded lands. Tree Physiology, v. 00, p. 1-11, 2011. DOI: 10.1093/treephys/tpq116<br />
COLODETE, C. M.; DOBBSS, L. B.; RAMOS, A. C. Aplicação das micorrizas arbusculares na recuperação de áreas<br />
impactadas. Natureza on line, v. 12, n. 1, p. 31-37, 2014.<br />
DE QUADROS, P. D.; ZHALNINA, K.; DAVIS-RICHARDSON, A. G.; DREW, J. C.; MENEZES, F. B.; CAMARGO, F. A. O.; TRIPLETT,<br />
E. W. Coal mining practices reduce the microbial biomass, richness and diversity of soil. Applied Soil Ecology, v. 98,<br />
p. 195-203, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2015.10.016<br />
DIAS, L. E.; ASSIS, I. R. Restauração ecológica em áreas degradadas pela mineração. In: SIMPÓSIO DE RESTAURAÇÃO<br />
ECOLÓGICA: DESAFIOS ATUAIS E FUTUROS, 4., 2011, São Paulo. Anais... São Paulo: Instituto de Botânica/SMA, 2011.<br />
85<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
DONTALA, S. P.; REDDY, T. B.; VADDE, R. Environmental aspects and impacts its mitigation measures of corporate coal<br />
mining. Procedia Earth and Planetary Science, v. 11, p. 2-7, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.proeps.2015.06.002<br />
DURLO, M. A.; SUTILI, F. J. Bioengenharia: manejo biotécnico de cursos de água. Porto Alegre: EST Edições, 2005. 198 p.<br />
EVETTE, A.; LABONNE, S.; REY, F.; LIEBAULT, F.; JANCKE, O.; GIREL, J. History of bioengineering techniques for erosion<br />
control in rivers in Western Europe. Environmental Management, v. 43, n. 6, p. 972-984, jun. 2009. DOI: 10.1007/<br />
s00267-009-9275-y<br />
FERNANDES, J. P.; FREITAS, A. R. M. Introdução à engenharia natural. Lisboa: Empresa Portuguesa de Águas Livres,<br />
2011. v. 2.<br />
FORNASARI FILHO, N. (Org.). Alterações no meio físico decorrentes de obras de engenharia. São Paulo: Instituto de<br />
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1992. 165 p. (Publicação IPT, 1.972; Boletim, 61).<br />
GRAY, D. H.; SOTIR, R. B. Biotechnical and soil bioengineering slope stabilization: a practical guide for erosion control.<br />
Nova York: John Wiley & Sons, 1996. 337 p.<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual técnico da vegetação brasileira. 2. ed. Rio de<br />
Janeiro: IBGE, 2012. 275 p. (Série Manuais Técnicos em Geociências, 1).<br />
KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der Erde. Gotha Justus Perthes, 1928. Wall-map 150 cm x 200 cm.<br />
KRONKA, F. J. N. (Org.). Inventário florestal da vegetação natural do Estado de São Paulo: regiões administrativas<br />
de São José dos Campos (litoral), Baixada Santista e Registro. São Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente;<br />
Imprensa Oficial, 2007. 137 p.<br />
LI, M.-H. Learning from streambank failures at bridge crossings: a biotechnical streambank stabilization project in warm<br />
regions. Landscape and urban planning, v. 77, n. 4, p. 343-358, 2006. DOI: 10.1016/j.landurbplan.2005.04.006<br />
LI, M.-H.; EDDLEMAN, K. E. Biotechnical engineering as an alternative to traditional engineering methods: a biotechnical<br />
streambank stabilization design approach. Landscape and Urban Planning, v. 60, n. 4, p. 225-242, 2002. DOI: https://<br />
doi.org/10.1016/S0169-2046(02)00057-9<br />
MECHI, A.; SANCHES, D. L. Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo. Estudos Avançados, São Paulo,<br />
v. 24, n. 68, p. 209-220, 2010. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000100016<br />
MUKHOPADHYAY, S.; MAITI, S. K.; MASTO, R. E. Use of reclaimed mine soil index (RMSI) for screening of tree<br />
species for reclamation of coal mine degraded land. Ecological Engineering, v. 57, p. 133-142, 2013. DOI: 10.1016/j.<br />
ecoleng.2013.04.017<br />
NOGUEIRA, N. O.; OLIVEIRA, O. M.; MARTINS, C. A. S.; BERNARDES, C. O. Utilização de leguminosas para recuperação<br />
de áreas degradadas. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 8, n. 14, p. 2121-2131, jun. 2012.<br />
NUSSBAUMER, Y., COLE, M. A.; OFFLER, C. E.; PATRICK, J. W. Identifying and ameliorating nutrient limitations<br />
to reconstructing a forest ecosystem on mined land. Restoration Ecology, v. 24, n. 2, p. 202-211, 2016. DOI:<br />
10.1111/rec.12294<br />
PINTO, G. M. Bioengenharia de solos na estabilidade de taludes: comparação com uma solução tradicional. 74 f.<br />
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia Civil, Universidade<br />
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.<br />
86<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Modelos estruturais de bioengenharia de solos na revegetação de pilhas de estéril em mineração a céu aberto<br />
RASHID, M. I.; MUJAWAR, L. H.; SHAHZAD, T.; ALMEELBI, T.; ISMAIL, I. M. I.; OVES, M. Bacteria and fungi can contribute<br />
to nutrients bioavailability and aggregate formation in degraded soils. Microbiological Research, v. 183, p. 26-41, 2016.<br />
DOI: https://doi.org/10.1016/j.micres.2015.11.007<br />
RIBEIRO, A. I. Mecanização no preparo de solo em áreas degradadas por mineração na Floresta Nacional do Jamari<br />
(Rondônia-BR). 172 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas.<br />
Campinas, 2005.<br />
RIBEIRO, A. I.; SOLERA, M. L.; NAHUZ, M. A. R.; LONGO, M. H. C.; CAMPOS, J. J. A. M.; FENGLER, F. H. Engenharia natural<br />
aplicada em taludes de bota-fora: uma análise preliminar da solo-retenção. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECUPERAÇÃO<br />
DE ÁREAS DEGRADADAS, 10., 2014, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: Sociedade Brasileira de Recuperação de<br />
Áreas Degradadas, 2014.<br />
ROSA, P. A. L.; ALVES, M. C.; VIDEIRA, M. L. L.; BONINI, C. B. S. Recuperação de um solo de cerrado após 19 anos:<br />
ocorrência espontânea de espécies arbóreas. Revista de Agricultura Neotropical, v. 1, n. 1, p. 44-57, 2014.<br />
SCHIECHTL, H. M. Bioengineering for land reclamation and conservation. Edmonton: University of Alberta Press, 1980.<br />
SETZER, J. Atlas Climático e Ecológico do Estado de São Paulo. Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai,<br />
1966. 61 p.<br />
SILVA, R. B.; BECKER, R. G.; MACHADO, T. F.; DORNELLES, J. E. Monitoramento de áreas em recuperação: padrões<br />
de colonização da comunidade de vertebrados terrestres. In: ALBA, J. M. F. Recuperação de áreas mineradas. 2. ed.<br />
Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2010. p. 181-221.<br />
SOLERA, M. L.; GALLARDO, A. L. C. F.; SOUZA, C. A.; LONGO, M. H. C.; BRAGA, T. O. Bioengenharia de solos: aplicabilidade<br />
na recuperação de áreas mineradas e na oferta de serviços ambientais. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, v. 34,<br />
p. 46-59, 2014.<br />
SOUZA, C. A.; GALLARDO, A. L. C. F.; SILVA, E. D.; MELLO, Y. C.; RIGHI, C. A.; SOLERA, M. L. Environmental services<br />
associated with the reclamation of areas degraded by mining: potential for payments for environmental services.<br />
Ambiente & Sociedade, v. 19, n. 2, p. 137-168, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1809-4422ASOC129835V1922016<br />
SRIVASTAVA, N. K.; RAM, L. C.; MASTO, R. E. Reclamation of overburden and lowland in coal mining area with fly<br />
ash and selective plantation: a sustainable ecological approach. Ecological Engineering, v. 71, p. 479-489, 2014. DOI:<br />
https://doi.org/10.1016/j.ecoleng.2014.07.062<br />
STOKES, A.; DOUGLAS, G. B.; FOURCAUD, T.; GIADROSSICH, F.; GILLIES, C.; HUBBLE, T.; KIM, J. J.; LOADES, K. W.; MAO, Z.;<br />
MCIVOR, I. R.; MICKOVSKI, S. B.; MITCHELL, S.; OSMAN, N.; PHILLIPS, C.; POESEN, J.; POLSTER, D.; PRETI, F.; RAYMOND,<br />
P.; REY, F.; SCHWARZ, M.; WALKER, L. R. Ecological mitigation of hillslope instability: ten key issues facing researchers<br />
and practitioners. Plant and Soil, v. 377, n. 1-2, p. 1-23, 2014. DOI: 10.1007/s11104-014-2044-6<br />
STUMPF, L.; PAULETTO, E, A.; PINTO, P. L. F. S. Soil aggregation and root growth of perennial grasses in a constructed<br />
clay minesoil. Soil and Tillage Research, v. 161, p. 71-78, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.still.2016.03.005<br />
SUTILI, F. J. Bioengenharia de solos no âmbito fluvial do Sul do Brasil. 94 f. Tese (Doutorado) – Departamento de<br />
Engenharia Civil e Perigos Naturais, Instituto de Bioengenharia de Solos e Planejamento da Paisagem, Universidade<br />
Rural de Viena, Viena, 2007.<br />
VERGANI, C.; GRAF, F. Soil permeability, aggregate stability and root growth: a pot experiment from a soil bioengineering<br />
perspective. Ecohydrology, v. 9, n. 5, p. 830-842, 2016. DOI: 10.1002/eco.1686<br />
87<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
Solera, M.L. et al.<br />
YANG, S. X.; LIAO, B.; YANG, Z. H.; CHAI, L. Y.; LI, J. T. Revegetation of extremely acid mine soils based on aided<br />
phytostabilization: a case study from southern China. Science of the Total Environment, v. 562, p. 427-434, 2016. DOI:<br />
10.1016/j.scitotenv.2016.03.208<br />
ZHANG, L.; WANG, J.; BAI, Z.; CHUNJUAN, L. Effects of vegetation on runoff and soil erosion on reclaimed land in<br />
an opencast coal-mine dump in a loess area. Catena, v. 128, p. 44-53, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.<br />
catena.2015.01.016<br />
ZHAO, Z.; SHAHROUR, I.; BAI, Z.; FAN, W.; FENG, L.; LI, H. Soils development in opencast coal mine spoils reclaimed for<br />
1-13 years in the West-Northern Loess Plateau of China. European Journal of Soil Biology, v. 55, p. 40-46, 2013. DOI:<br />
https://doi.org/10.1016/j.ejsobi.2012.08.006<br />
ZHOU, J.; SHI, C.; XU, F. Geotechnical characteristics and stability analysis of rock-soil aggregate slope at the Gushui<br />
Hydropower Station, Southwest China. The Scientific World Journal, v. 2013, p. 1-16, 2013. DOI: http://dx.doi.<br />
org/10.1155/2013/540636<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
88<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 74-88
DOI: 10.5327/Z2176-947820180214<br />
INTERFERÊNCIAS DE ESPÉCIES ARBÓREAS NA<br />
INTERCEPTAÇÃO DAS ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS<br />
INTERFERENCES OF ARBOREAL SPECIES IN THE INTERCEPTION OF URBAN STORMWATER<br />
Patrícia Layne Alves<br />
Professora, Instituto Federal de<br />
Educação, Ciência e Tecnologia de<br />
Goiás (IFG/Goiânia). Coordenadora<br />
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em<br />
Engenharia Civil e Meio Ambiente,<br />
IFG/Goiânia – Goiânia (GO), Brasil.<br />
Klebber Teodomiro<br />
Martins Formiga<br />
Professor assistente na Escola de<br />
Engenharia Civil, Universidade Federal<br />
de Goiás (UFG). Programa de Pósgraduação<br />
em Ciências Ambientais,<br />
UFG – Goiânia (GO), Brasil.<br />
Marco Antônio Borges Traldi<br />
Analista de Controle Externo do<br />
Tribunal de Contas do Estado de<br />
Goiás. Pesquisador colaborador do<br />
Núcleo de Estudos e Pesquisas em<br />
Engenharia Civil e Meio Ambiente,<br />
IFG/Goiânia – Goiânia (GO), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Patrícia Layne Alves – Instituto<br />
Federal de Educação, Ciência e<br />
Tecnologia de Goiás – Núcleo de<br />
Estudos e Pesquisas em Engenharia<br />
Civil e Meio Ambiente – Rua 75, 46 –<br />
Centro – CEP 74055-110 –<br />
Goiânia (GO), Brasil –<br />
E-mail: patricia.alves@ifg.edu.br<br />
Recebido: 15/12/2016<br />
Aceito: 05/02/2018<br />
RESUMO<br />
Este estudo avaliou a interceptação e seus impactos nas bacias urbanas.<br />
A coleta de dados ocorreu em Uruaçu, Goiás, entre 2013 e 2014, e utilizou<br />
três indivíduos arbóreos. Para eventos com precipitações medianas de<br />
20,7 mm, nas três espécies encontraram-se os seguintes valores medianos<br />
para interceptação e escoamento pelo tronco, respectivamente: 5,7 e 0,1 mm<br />
para a Mangifera indica; 4,5 e 0,2 mm para a Licania tomentosa; e 3,8 e<br />
0,3 mm para a Tabebuia ochracea. O tempo de retardo médio ocasionado<br />
pelas três espécies foi de três minutos. O estudo comprovou a interferência<br />
e os impactos positivos das árvores na interceptação das águas pluviais em<br />
ambiente urbano, indicou a possibilidade de redução do escoamento em até<br />
27% e mostrou que a arborização urbana pode reduzir o escoamento de<br />
águas pluviais e a intensidade do volume escoado, bem como aumentar o<br />
tempo de concentração e o tempo ao pico dos hidrogramas.<br />
Palavras-chave: arborização urbana; precipitação interna; escoamento pelo<br />
tronco; hidrologia urbana.<br />
ABSTRACT<br />
This study evaluates evaluated the interception and its impacts in urban<br />
watersheds. Data collection occurred in Uruaçu, Goiás, between 2013 and<br />
2014, and used three individual trees. For events with median rainfall of 20.7<br />
mm, the three species met the following median values for interception and<br />
stem flow, respectively: 5.7 and 0.1 mm for Mangifera indica; 4.5 and 0.2 mm<br />
for Licania tomentosa; and 3.8 and 0.3 mm for Tabebuia ochracea. The delay<br />
time of the surface runoff was on average 3 min for the three species. The<br />
study proves proved the interference and the positive impacts of treetops<br />
and trunks on the interception of rainwater in an urban environment. It<br />
indicates the possibility of annual runoff reduction in up to 27% and shows<br />
that urban afforestation can reduce stormwaterstorm water runoff and<br />
intensity of volume disposed, as well as increase the time of concentration<br />
and the time to the peak of hydrographs, especially of small watersheds.<br />
Keywords: urban forestry; stem flow; through fall; urban hydrology.<br />
89<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
O crescimento populacional e econômico das cidades<br />
transforma áreas naturais em paisagens urbanas e,<br />
com isso, surge uma série de problemas relacionados à<br />
gestão dos recursos hídricos. À medida que há uma urbanização<br />
desordenada das bacias hidrográficas, diversos<br />
desequilíbrios são ocasionados ao meio ambiente,<br />
resultando também em danos ao homem. A alteração<br />
de alguns processos inerentes ao ciclo hidrológico nesses<br />
ambientes é uma das consequências provocadas<br />
pela falta ou inobservância do planejamento da ocupação<br />
e do uso do solo.<br />
O direcionamento de maior parcela de água pluvial<br />
para o escoamento superficial é um dos problemas<br />
ocasionados pela urbanização em decorrência da supressão<br />
da cobertura vegetal e impermeabilização do<br />
solo. O aumento do volume escoado, bem como da vazão<br />
de pico, ocasiona a redução do tempo de concentração<br />
das bacias, provocando eventos de cheias cada<br />
vez mais críticos. Com isso, conforme apontam Fletcher<br />
et al. (2013) em suas pesquisas acerca da compreensão,<br />
gestão e modelagem da hidrologia urbana, há uma<br />
tendência entre os pesquisadores do tema em almejar<br />
a restauração do balanço hidrológico ao mais próximo<br />
possível dos cenários de pré-desenvolvimento, a fim de<br />
melhorar a capacidade de vida da paisagem.<br />
A busca por ampliações nos tempos de concentração<br />
é algo valioso para amenizar os impactos e custos das<br />
obras de sistemas de drenagem (ALMEIDA et al., 2016).<br />
Com isso, a arborização urbana constitui-se um fator importante<br />
a ser considerado em modelagens ambientais,<br />
especialmente em pequenas bacias cujas interferências<br />
podem implicar ampliação do tempo ao pico do hidrograma,<br />
aumento no tempo de retardo e redução na intensidade<br />
do escoamento superficial (ALVES, 2015).<br />
As árvores, inseridas na paisagem urbana, fornecem<br />
muitos benefícios sociais, psicológicos e econômicos<br />
por meio da promoção do bem-estar, da redução<br />
da temperatura, da poluição, e das transformações<br />
nos processos hidrológicos (GÓMEZ-BAGGETHUN &<br />
BARTON, 2013). Berland e Hopton (2014) e Inkiläinen<br />
et al. (2013) apontam que a arborização desempenha<br />
um importante papel nos sistemas de drenagem das<br />
águas pluviais urbanas por meio da interceptação pelas<br />
copas. O volume interceptado reduz a intensidade<br />
do pico dos fluxos de escoamento. Ademais, conforme<br />
INTRODUÇÃO<br />
Levia e Germer (2015), nesse processo, a arquitetura<br />
das árvores e as propriedades da casca influenciam<br />
grandemente a proporção de precipitação que pode<br />
ser interceptada e escoada pelo tronco.<br />
Sabe-se que a interceptação da água da chuva ocorre<br />
tanto em ambientes florestais quanto em indivíduos<br />
isolados, quando esta é subdividida nas copas das árvores,<br />
onde, temporariamente, uma parte é retida, outra<br />
escoa pelo tronco e outra é evaporada para atmosfera<br />
(FREITAS et al., 2016; XIAO & MCPHERSON, 2016).<br />
Segundo Xiao e McPherson (2016) e Li et al. (2013), o<br />
processo de interceptação nas copas é influenciado por<br />
três fatores principais: o tipo de evento de chuva (magnitude,<br />
intensidade e duração); a estrutura da copa em<br />
cada espécie arbórea; e as condições meteorológicas.<br />
A maioria dos estudos em sistemas florestais naturais<br />
ou gerenciados indica que a intercepção pode representar<br />
10–50% da precipitação (VAN DIJK et al., 2015).<br />
No entanto, há informações conflitantes sobre o processo<br />
pelo qual a intercepção interage com suas variáveis.<br />
Por exemplo: não há consenso quanto ao efeito<br />
da intensidade de precipitação na intercepção. Alguns<br />
estudos sugerem que ela aumenta com a intensidade<br />
do evento em razão da saturação gradual da copa<br />
(LIVESLEY et al., 2014), enquanto outros mostram que<br />
as intensidades mais elevadas resultam em menor<br />
intercepção em decorrência da “agitação” das copas<br />
(INKILÄINEN et al., 2013).<br />
Além disso, os estudos de intercepção geralmente<br />
envolvem grandes faixas florestais ou árvores adultas<br />
individuais, condições em que muitas características<br />
das estruturas arbóreas não podem ser aferidas precisamente<br />
(por exemplo, área foliar, densidade de ramos<br />
etc.) (LEVIA et al., 2015). Como resultado, a relação<br />
entre intercepção e características arbóreas ainda<br />
permanece obscura (NANKO et al., 2013). Parte desse<br />
problema se deve ao fato de que aferir a interceptação<br />
em ambientes urbanos é um objetivo complexo de ser<br />
alcançado, e muitos estudos, como os de Xiao et al.<br />
(2000), Xiao e Mcpherson (2002), Silva et al. (2010) e<br />
Livesley et al. (2014), utilizaram pluviômetros ou recipientes<br />
graduados para quantificá-la. Procedendo<br />
dessa forma ficam impossibilitadas as análises da duração,<br />
do tempo de ocorrência e da intensidade dos<br />
eventos chuvosos.<br />
90<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Interferências de espécies arbóreas na interceptação das águas pluviais urbanas<br />
A necessidade de caracterizar as chuvas quanto a<br />
distribuição temporal, volume precipitado e variações<br />
de intensidades é de suma importância porque<br />
as interceptações ocasionadas pelas copas das<br />
árvores não acontecem de maneira constante ao<br />
longo do evento chuvoso. Holder e Gibbes (2017)<br />
destacam que a interceptação também é variável de<br />
evento para evento. Além dessas variações em relação<br />
às chuvas, nos sistemas urbanos, a cobertura<br />
pelas copas é descontínua, as árvores são frequentemente<br />
isoladas e há alto número de variedade<br />
de espécies, tipo de copa/folha e de suas características,<br />
ampliando a dificuldade e a complexidade<br />
de se determinar parâmetros exatos para o tema<br />
(LI et al., 2016).<br />
As dificuldades inerentes ao assunto levam a uma<br />
grande variação de metodologias e critérios analisados.<br />
Grande parte das pesquisas são realizadas<br />
em ambientes internacionais, a exemplo de Xiao<br />
et al. (2000), que desenvolveram em Davis, Califórnia<br />
(EUA), um modelo tridimensional e estimaram,<br />
em eventos de precipitação de 8,8 mm, a interceptação<br />
em 1,1 mm e 2,9 mm para Pyrus calleryana<br />
e Quercus suber, respectivamente, e o escoamento<br />
pelo tronco em torno de 0,5 mm e 1,1 mm. Na mesma<br />
localidade, Xiao e McPherson (2016) aferiram<br />
a capacidade de interceptação de 20 espécies de<br />
árvores urbanas em um simulador de precipitação.<br />
As intensidades simuladas variaram de 3,5 a<br />
139,5 mm.h -1 . As características arbóreas foram obtidas<br />
por meio do método de análise de imagem,<br />
e os resultados indicaram que as interceptações<br />
médias em todas as espécies foram 0,86 mm. As<br />
abordagens de ambos os estudos permitiram estimativas<br />
de boa qualidade, porém só podem ser<br />
aplicadas a situações de pesquisa controlada e para<br />
copas sem a interferência de vegetações adjacentes<br />
ou estruturas construídas. Um método mais<br />
simples para a determinação da interceptação da<br />
copa/dossel e do escoamento pelo tronco foi desenvolvido<br />
por Livesley et al. (2014) para a medição<br />
em ambientes urbanos reais com árvores adultas<br />
na cidade de Melbourne, Victoria (Austrália). Desta<br />
pesquisa obteve-se, em eventos de precipitação<br />
média de 12 mm, para duas espécies de eucalipto,<br />
Eucalyptus nicholii e Eucalyptus saligna, uma interceptação<br />
de 3,88 e 3,03 mm respectivamente;<br />
quanto ao escoamento pelo tronco, foi obtido um<br />
desempenho ínfimo para a Eucalyptus nicholii e a<br />
Eucalyptus saligna, a qual, por possuir casca mais<br />
lisa, só registrou cerca de 2 mm.<br />
No Brasil, Silva et al. (2010), em estudos realizados<br />
no campus da Escola Superior de Agricultura “Luiz de<br />
Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP),<br />
São Paulo, envolvendo duas espécies, a Caesalpinia<br />
pluviosa e a Tipuana tipu, concluíram que ambas apresentam<br />
grande potencial para interceptação, principalmente<br />
em eventos mais duradouros e com precipitações<br />
superiores a 20 mm, tendo a Caesalpinia pluviosa<br />
ou sibipiruna obtido em média 4,5 mm de interceptação<br />
e a Tipuana tipu ou tipuana, média de 10,3 mm.<br />
As diferentes características das copas (densa ou esparsa),<br />
das folhas (simples ou compostas, persistente ou<br />
caduca) e do tronco (liso ou áspero) influenciam na interceptação,<br />
na redistribuição e no escoamento das chuvas,<br />
e constituem parâmetros diferenciais para a simulação<br />
dos processos hidrológicos em uma bacia urbana.<br />
No entanto, ainda são poucos os estudos que relacionam<br />
as interceptações das chuvas pelas árvores<br />
aos modelos hidrológicos de bacias. Hilde e Paterson<br />
(2014) salientam que os modelos de interceptações e<br />
a previsão de seus efeitos sobre o clima e os recursos<br />
hídricos devem ser inseridos nas modelagens ambientais.<br />
Porém, para isso, exige-se uma compreensão baseada<br />
no impacto das árvores e em suas particularidades<br />
sobre o processo de drenagem para a inserção das<br />
características de interceptação pelas copas das árvores<br />
em simulações computacionais que utilizam modelos<br />
como UFORE-Hydro (YANG et al., 2011), i-Tree (HIL-<br />
DE & PATERSON, 2014), SWMM (KREBS et al., 2013) e<br />
TOPLATS (BORMANN, 2006).<br />
Inkiläinen et al. (2013) e Alves (2015) afirmam que as<br />
árvores podem ser uma alternativa para a redução do<br />
escoamento urbano, pois sua presença reduz significativamente<br />
o escoamento, principalmente em eventos<br />
de baixa intensidade e curta duração, e podem ampliar<br />
o tempo de concentração das bacias. Com o intuito de<br />
avaliar e quantificar a interceptação das águas pluviais<br />
ocasionada pela presença das árvores no meio urbano,<br />
no tempo ao pico e na intensidade do volume escoado<br />
em bacias urbanas, realizou-se uma pesquisa na cidade<br />
de Uruaçu, Goiás. Para a coleta de dados, foram utilizados<br />
pluviógrafos e coletores no tronco em três espécies<br />
arbóreas diferentes.<br />
91<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
O estudo foi realizado em uma área urbana da cidade<br />
de Uruaçu, Goiás (14º31’6.23”S, 49º8’11.16”O), região<br />
climática que, de acordo com a classificação de<br />
Köppen, é do tipo Aw com clima tropical, estação seca<br />
prolongada e chuvas concentradas no verão. Segundo<br />
o banco de dados Hidroweb da Agência Nacional<br />
de Águas (ANA, 2014), a precipitação anual no município<br />
é de aproximadamente 1.006,8 mm e, conforme<br />
o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 2014),<br />
a temperatura média dos meses mais quentes é de<br />
39,4ºC, enquanto a dos meses mais frios é de 10,8ºC.<br />
Em 2013/2014, durante os cinco meses de medição,<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
em relação aos dados pluviométricos, o mínimo mensal<br />
foi de 17,5 mm (fevereiro de 2014) e o máximo<br />
mensal de 182,4 mm (dezembro de 2013).<br />
Três indivíduos arbóreos, sendo um em grupo<br />
(Mangifera indica) e dois isolados (uma Tabebuia<br />
ochracea e uma Licania tomentosa), foram selecionados<br />
em razão dos maiores diâmetros de altura<br />
do peito (DAP) entre os outros exemplares de suas<br />
espécies existentes no local da pesquisa, por serem<br />
amplamente empregados na arborização urbana<br />
regional e por suas características de copa, casca<br />
e folhagem.<br />
Tabela 1 – Parâmetros arbóreos dos indivíduos estudados na pesquisa.<br />
Indivíduos<br />
arbóreos<br />
Idade<br />
(anos)<br />
Tipo<br />
de<br />
casca<br />
Dap<br />
(m)<br />
Htotal<br />
(m)<br />
Hfuste<br />
(m)<br />
G (m 2 )<br />
Dados arbóreos<br />
Cc (m)<br />
Dmc<br />
(m)<br />
Apc<br />
(m 2 )<br />
Vol<br />
(m 3 )<br />
%<br />
Copa<br />
(%)<br />
IAF<br />
Af<br />
(m 2 )<br />
Tabebuia ochracea<br />
(ipê-amarelo)<br />
26 Áspera 0,5 7,5 1,9 0,2 5,6 8,0 50,0 225,5 74,8 0,6 121,5<br />
Mangifera indica<br />
(mangueira)<br />
26 Áspera 1,0 9,9 2,6 0,8 7,2 9,8 75,6 693,7 73,3 1,5 1.040,9<br />
Licania tomentosa<br />
(oiti)<br />
4 Lisa 0,3 6,7 1,6 0,1 5,1 6,6 33,8 217,5 75,6 0,7 148,9<br />
Idade (anos): idade de plantio do indivíduo; Dap (cm): diâmetro a altura do peito; Htotal (m): altura total da árvore; Hfuste (m): altura de fuste<br />
(tronco); G (m 2 ): área basal da árvore = (π*dap 2 )/4; Cc (m): comprimento de copa; Dmc (m): diâmetro médio de copa; Apc (m 2 ): área de projeção<br />
de copa = (π/4)*dmc 2 ; Vol (m 3 ): volume de copa; %copa: percentagem de copa = (cc/htotal)*100; IAF: Índice de área foliar; Af (m 2 ): área foliar.<br />
92<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Interferências de espécies arbóreas na interceptação das águas pluviais urbanas<br />
Os parâmetros arbóreos das espécies estão expressos<br />
na Tabela 1 e foram necessários na análise das características<br />
dos indivíduos arbóreos e de seu desempenho<br />
quanto à interceptação.<br />
A precipitação bruta (PB) e a precipitação interna (PI)<br />
foram aferidas por quatro pluviógrafos do modelo RG-<br />
3-M, marca Onset, instalados a 1,50 m de altura do solo,<br />
de modo que três ficaram posicionados sob as copas<br />
das árvores e um em campo aberto. Os equipamentos<br />
foram instalados durante o período de novembro de<br />
2013 a março de 2014 e tiveram suas localizações sob<br />
as copas alteradas a cada 15 dias a fim de obter dados<br />
mais representativos. Os registros dos pluviógrafos foram<br />
adquiridos com uma discretização do intervalo de<br />
tempo em 1 minuto.<br />
O escoamento pelo tronco (ET) foi obtido por meio<br />
da construção de estruturas nas árvores que desaguavam<br />
em galões com capacidade de 23 L (Figura<br />
1). Tais estruturas para captação das águas<br />
foram executadas com calhas de borracha seladas<br />
ao tronco por meio da aplicação de espuma de poliuretano.<br />
Seguindo a metodologia proposta por Livesley et al.<br />
(2014), a interceptação pelas copas (CI) para cada<br />
evento chuvoso foi calculada conforme a Equação 1:<br />
CI = PB – (PI + ET) (1)<br />
Em que:<br />
CI = interceptação pelas copas;<br />
PB = precipitação bruta (precipitação acumulada total<br />
em cada evento chuvoso medido no pluviógrafo em<br />
campo aberto) (mm);<br />
PI= precipitação total acumulada sob a copa; e<br />
ET= escoamento total pelo tronco.<br />
A medição temporal dos eventos chuvosos com o uso<br />
dos pluviógrafos permitiu a padronização dos dados<br />
considerando que as chuvas ocorridas sob a copa da<br />
árvore tivessem a mesma duração e o mesmo momento<br />
de início e final que as chuvas ocorridas em<br />
campo aberto.<br />
Durante o período experimental, foram registrados<br />
104 eventos com variações de chuvas com intensidade<br />
média de 1,2 mm.h -1 até 38 mm.h -1 , e precipitação<br />
acumulada total variando entre 0,6 e 68,4 mm.<br />
Para o presente estudo, foram selecionados os 42<br />
eventos chuvosos que tiveram precipitações bruta<br />
acima de 5 mm.<br />
Figura 1 – Imagem de uma das estruturas para captação do escoamento pelo tronco.<br />
93<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
De modo geral, nota-se que há um comportamento variável<br />
entre PI + ET e CI nos eventos chuvosos considerados<br />
nas análises. Quanto à relação entre os eventos<br />
chuvosos e as CI (Figura 2), assim como em PI + ET, as<br />
medianas variaram de forma aleatória; de modo geral,<br />
mantiveram-se em grande parte com valores abaixo de<br />
10 mm e apenas alguns eventos chuvosos com comportamento<br />
diferente. Destaca-se o evento 94, que obteve<br />
a maior interceptação mediana, 13,3 mm, intensidade<br />
média de 31,6 mm.h -1 , precipitação acumulada<br />
de 29 mm, duração de 55 minutos e precipitação mediana<br />
acumulada sob as copas de 18,3 mm. Ao contrário,<br />
o evento 73 foi o de menor interceptação mediana<br />
de CI, 0,64 mm, intensidade média de 11,6 mm.h -1 ,<br />
precipitação acumulada total de 6,2 mm, duração de<br />
32 minutos e precipitação mediana acumulada sob as<br />
copas de 5,5 mm.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Na Figura 3 fica evidente que poucos eventos chuvosos<br />
tiveram seus valores medianos de PI + ET superiores<br />
a 10 mm. Destaca-se apenas o evento 100 que<br />
obteve valor mediano de PI + ET de 57 mm. A intensidade<br />
média desse evento foi de 27,2 mm.h -1 , precipitação<br />
acumulada de 68,4 mm, duração de 151 minutos<br />
e precipitação mediana acumulada sob as copas<br />
de 56,2 mm.<br />
Foi identificada pouca correlação linear (R 2 = 0,30)<br />
entre a PB e a CI nas três árvores envolvidas na pesquisa.<br />
Não há uma relação direta entre PB e CI nos<br />
eventos chuvosos considerados nas análises, comportamento<br />
que pode ser explicado pelas divergências<br />
entre as características arbóreas das espécies e<br />
dos eventos chuvosos.<br />
A capacidade de interceptação de chuvas em indivíduos<br />
arbóreos é influenciada por diversos aspectos,<br />
entre os quais podem-se destacar:<br />
• intensidade e duração da chuva;<br />
• espécie arbórea;<br />
• características arbóreas da espécie;<br />
• temperatura e umidade relativa do ar;<br />
• poda/manutenção dos indivíduos.<br />
Precipitação interna e escoamento pelo tronco (mm)<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
1 6 10 20 27 40 50 58 67 73 88 94 104<br />
Evento chuvoso<br />
Interceptação pelas copas (mm)<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
1 6 10 20 27 40 50 58 67 73 88 94 104<br />
Evento chuvoso<br />
PI + ET: precipitação interna e escoamento pelo tronco (mm); CI: interceptação pelas copas (mm).<br />
Figura 2 – Box plot das precipitações internas + escoamento pelo tronco e interceptações pelas copas<br />
nos três indivíduos arbóreos envolvidos na pesquisa durante os 42 eventos chuvosos considerados nas análises.<br />
94<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Interferências de espécies arbóreas na interceptação das águas pluviais urbanas<br />
Nos eventos chuvosos analisados quanto à CI, PB e PI<br />
(Figura 3), o desempenho das copas das árvores para<br />
interceptação (CI) obtiveram valores medianos de 3,8,<br />
4,5 e 5,7 mm para a Tabebuia ochracea (ipê amarelo),<br />
a Licania tomentosa (oiti) e a Mangifera indica (mangueira)<br />
respectivamente. A PB aferida pelo pluviógrafo<br />
externo teve valor mediano de 20,7 mm, enquanto as<br />
PI das mesmas espécies foram de 13,0, 10,2 e 13,3 mm.<br />
O ET (Figura 3) foi na Tabebuia ochracea (ipê amarelo)<br />
o menor valor mediano, 0,1 mm; na Mangifera indica<br />
(mangueira), o valor de 0,2 mm; e na Licania tomentosa<br />
(oiti) o maior valor maior obtido, 0,3 mm.<br />
Quanto ao retardo no tempo de início do evento chuvoso<br />
(R) (Figura 3), este foi de 2 minutos para Mangifera<br />
indica (mangueira) e Tabebuia ochracea (ipê amarelo).<br />
e de 3 minutos para a Licania tomentosa (oiti).<br />
Interceptação pelas copas (mm)<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
70<br />
* *<br />
ipê mang oi<br />
Precipitação bruta e interna (mm)<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
externo<br />
ipê mang oi<br />
*<br />
0,8<br />
7<br />
Escoamento pelo tronco (mm)<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
Retardo (mm)<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0,0<br />
0<br />
ipê mang oi ipê mang oi<br />
CI: interceptação pelas copas (mm); PB: precipitação bruta (mm); PI: precipitação interna (mm);<br />
ET: escoamento pelo tronco (mm); R: retardo no tempo de início do evento chuvoso (min).<br />
Figura 3 – Box plot dos 42 eventos chuvosos analisados em relação à CI, PB, PI, ET e R.<br />
95<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
A Mangifera indica (mangueira) foi o indivíduo arbóreo<br />
que apresentou melhor desempenho quanto ao CI e isso<br />
é explicado pelo fato de o exemplar possuir o maior volume<br />
de copa e índice e área foliar entre as espécies estudadas<br />
(Tabela 1), estar em grupo e se caracterizar por<br />
folhas simples, permanente e glabras e casca áspera. A<br />
Licania tomentosa (oiti) tem características folhosas similares<br />
à mangueira, porém com casca lisa. Tal característica<br />
arbórea explica seu melhor desempenho quanto ao escoamento<br />
pelo tronco, do mesmo modo que seu melhor<br />
desempenho em relação ao retardo pode ser explicado<br />
por sua copa densa com folhas e galhos intensamente<br />
entrelaçados favorecendo a retenção por maior tempo<br />
das águas de chuva por suas copas. A Tabebuia ochracea<br />
(ipê amarelo), por sua vez, obteve o menor desempenho<br />
quanto a CI, PI e ET, o que é justificado pelo fato de a espécie<br />
apresentar folhas compostas e pilosas e casca áspera,<br />
aspectos que reunidos favorecem o armazenamento de<br />
água na copa (CI) e reduzem a PI e ET.<br />
No evento chuvoso com maior PB (68,4 mm) (Figura 4),<br />
a PI nos indivíduos arbóreos foi, respectivamente, de<br />
40,4, 53 e 66,2 mm para o Tabebuia ochracea, a Mangifera<br />
indica e a Licania tomentosa. É perceptível que<br />
na Licania tomentosa (oiti) e na Mangifera indica (mangueira)<br />
os dados referentes aos registros de PI tiveram<br />
comportamentos semelhantes aos registros de PB,<br />
o que explica o bom desempenho desses indivíduos<br />
quanto à interceptação. Isso não ocorre no Tabebuia<br />
ochracea (ipê amarelo) pois, no mesmo evento, seus<br />
registros de PI foram distintos dos de PB, o que demonstra<br />
a menor capacidade de interceptação da espécie.<br />
Para esse evento de maior PB, em relação ao tempo<br />
de retardo para o início do evento chuvoso, o Tabebuia<br />
ochracea teve 2 minutos de retardo; a Mangifera indica,<br />
3 minutos; e a Licania tomentosa, 5 minutos, não demonstrando<br />
relação direta entre R e a PB, PI e CI nas<br />
espécies estudadas.<br />
Ipê<br />
Mangueira<br />
Precipitação (mm)<br />
70<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
50<br />
Precipitação (mm)<br />
70<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
50<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150<br />
t (min)<br />
t (min)<br />
PB (mm)<br />
PI (mm)<br />
Precipitação (mm)<br />
70<br />
65<br />
60<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
50<br />
Oiti<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150<br />
t (min)<br />
PB: Precipitação bruta; PI: Precipitação interna.<br />
Figura 4 – Hietogramas do evento chuvoso ocorrido nos dias 3 de março de 2014 a 4 de março de 2014,<br />
de 22h50 à 1h20, demonstrando o comportamento quanto à precipitação interna (mm) e precipitação bruta (mm).<br />
96<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Interferências de espécies arbóreas na interceptação das águas pluviais urbanas<br />
A Figura 5 expõe o comportamento do tempo ao pico<br />
do evento de maior PB (68,4 mm). Nos hietogramas<br />
é notória a diferença entre a PB registrada pelo pluviógrafo<br />
externo e as PI aferidas sob as copas. O pico<br />
do evento (PB) ocorreu em campo aberto aos 30 minutos,<br />
com precipitação de 3,8 mm. Nos exemplares<br />
arbóreos houve uma redistribuição desse valor máximo;<br />
por exemplo, no Ipê amarelo houve três outros<br />
sucessivos picos menores, com valores inferiores a<br />
2 mm ocorridos a 35, 40 e 46 minutos respectivamente.<br />
Comportamento semelhante pode ser observado<br />
tanto na mangueira quanto no oiti. Logo, fica evidente<br />
a ampliação do tempo ao pico, bem como a redução de<br />
sua intensidade em todas as espécies. A amplitude dos<br />
valores identificados na pesquisa poderá ser expandida<br />
à medida que novos exemplares forem associados em<br />
uma mesma área urbana, permitindo assim amortização<br />
de cheias e redução de diâmetros de tubulação dos<br />
sistemas de drenagem urbana.<br />
Obter uma metodologia-padrão para medir a interceptação<br />
pelas copas é extremamente difícil tendo em<br />
vista que os estudos são realizados em regiões de climas<br />
diversos utilizando espécies arbóreas diferentes<br />
(SOTO-SCHÖNHERR & IROUMÉ, 2016; LI et al., 2016).<br />
A precipitação mediana dos eventos analisados foi de<br />
20,7 mm. De modo geral, as interceptações medianas<br />
obtidas nos indivíduos arbóreos envolvidos na pesquisa<br />
foram de 4,5 mm. A Mangifera indica (mangueira)<br />
teve melhor interceptação em razão de suas características<br />
de arquitetura da copa, da casca e das folhas.<br />
Quanto ao retardo no tempo de início do evento chuvoso<br />
e o volume escoado pelo tronco, a Licania tomentosa<br />
(oiti) obteve os maiores valores em decorrência<br />
do fato de ser a única espécie aqui estudada com casca<br />
lisa. Em geral, a interceptação das espécies foi diretamente<br />
relacionada às suas características arbóreas, em<br />
especial a arquitetura da copa e particularidades das<br />
folhas e da casca.<br />
Precipitação bruta (mm)<br />
Precipitação interna (mm)<br />
4,0<br />
3,8<br />
3,6<br />
3,4<br />
3,2<br />
3,0<br />
2,8<br />
2,6<br />
2,4<br />
2,2<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
4,0<br />
3,8<br />
3,6<br />
3,4<br />
3,2<br />
3,0<br />
2,8<br />
2,6<br />
2,4<br />
2,2<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
Externo<br />
1516 17 18 1920 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50<br />
t(minn)<br />
Ipê<br />
1516 17 18 1920 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50<br />
t(minn)<br />
Precipitação interna (mm)<br />
Precipitação interna (mm)<br />
Mangueira<br />
1516 17 18 1920 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50<br />
t(minn)<br />
Figura 5 – Hietogramas de trecho do evento chuvoso ocorrido nos dias 3 de março de 2014 a 4 de março de 2014,<br />
de 22h50 à 1h20, demonstrando o comportamento variável de tempo ao pico nas espécies arbóreas.<br />
4,0<br />
3,8<br />
3,6<br />
3,4<br />
3,2<br />
3,0<br />
2,8<br />
2,6<br />
2,4<br />
2,2<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
4,0<br />
3,8<br />
3,6<br />
3,4<br />
3,2<br />
3,0<br />
2,8<br />
2,6<br />
2,4<br />
2,2<br />
2,0<br />
1,8<br />
1,6<br />
1,4<br />
1,2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
0,2<br />
0,0<br />
Oiti<br />
1516 17 18 1920 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50<br />
t(minn)<br />
97<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
A presença dessas árvores tem um grande significado<br />
em áreas urbanas, pois para o caso estudado houve<br />
uma redução de até 27% do volume precipitado durante<br />
chuvas ocorridas no município de Uruaçu, Goiás.<br />
Tal volume, sem a presença de árvores, escoaria diretamente<br />
para os sistemas de drenagem.<br />
A capacidade de interceptação por parte da arborização<br />
urbana é ressaltada com os resultados aqui obtidos<br />
por serem próximos aos encontrados por Xiao<br />
et al. (2000), que constataram, em eventos de precipitação<br />
de 8,8 mm, a interceptação média de 2 mm e<br />
o escoamento pelo tronco em torno de 0,8 mm. Silva<br />
et al. (2010) também concluíram que em eventos mais<br />
duradouros e com precipitações superiores a 20 mm as<br />
interceptações são em média 7,4 mm.<br />
Quanto aos efeitos das intensidades nas interceptações,<br />
em geral, na presente pesquisa, em eventos de baixa<br />
intensidade, de 1,2 mm.h -1 até 38 mm.h -1 , a interceptação<br />
foi superior, em média 4,5 mm. Já os resultados<br />
obtidos por Xiao & McPherson (2016) comprovaram<br />
que em intensidades maiores, de 3,5 a 139,5 mm.h -1 ,<br />
as interceptações eram inferiores, em média 0,86 mm.<br />
O estudo evidencia que a arborização urbana faz com<br />
que copas, ramos, troncos e raízes funcionem como<br />
obstáculos naturais para as águas das chuvas que,<br />
com uma retenção temporária, alcançam mais lentamente<br />
os corpos receptores, promovendo a ampliação<br />
do tempo de concentração, do tempo de retardo<br />
e consequentemente do tempo ao pico de vazão.<br />
Uma das consequências da urbanização é o aumento<br />
do volume escoado e das vazões de pico, ao mesmo<br />
tempo em que ocorre a redução do tempo de concentração,<br />
provocando eventos de cheias cada vez<br />
mais críticos (DU et al., 2012). As espécies arbóreas<br />
aqui estudadas apresentaram um tempo de retardo<br />
médio de 3 minutos, podendo chegar a até 15 minutos<br />
em eventos com menor intensidade. Ocasionaram<br />
também uma redistribuição dos picos de vazão, ampliando<br />
o tempo ao pico, bem como a redução de sua<br />
intensidade. Esses dados demonstram que as árvores<br />
colaboram para o aumento no tempo de concentração<br />
nas bacias hidrográficas urbanas, podendo assim<br />
minimizar as cheias, inundações e seus prejuízos.<br />
Os valores aparentemente pequenos relativos ao<br />
tempo de retardo são significativos quando associados<br />
às pequenas bacias hidrográficas, pois, em bacias<br />
cujo tempo de concentração é, por exemplo, em torno<br />
de 5 minutos, uma redução de 2 ou 3 minutos teria<br />
impactos relevantes nos sistemas de drenagem e<br />
corpos receptores.<br />
A presente pesquisa explorou a relação entre a capacidade<br />
de interceptação por parte de três espécies arbóreas e<br />
as mudanças que estas podem causar no funcionamento<br />
hidrológico urbano, obtendo quatro resultados principais:<br />
1. a capacidade de interceptação variou entre as espécies,<br />
confirmando a importância de aplicar esse tipo<br />
de pesquisa para outras localidades e espécies de<br />
árvores urbanas;<br />
2. por causa das diferenças na arquitetura arbórea,<br />
folha (índice e área foliar) e casca, espécies com<br />
copas mais frondosas, densas e cascas ásperas tiveram<br />
maiores capacidades de interceptação;<br />
3. as interceptações são superiores em eventos de<br />
baixa intensidade e curta duração;<br />
CONCLUSÕES<br />
98<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100<br />
4. há uma ampliação do tempo ao pico, bem como a<br />
redução de sua intensidade em todas as espécies, independentemente<br />
de suas características arbóreas.<br />
Tais conclusões foram elucidadas por meio do monitoramento<br />
contínuo de interceptação/armazenamento<br />
das copas e do escoamento pelo tronco, e, com isso,<br />
este trabalho comprovou a importância da presença<br />
das árvores para os estudos hidrológicos urbanos.<br />
Para eventos com precipitação média de 20,7 mm,<br />
a interceptação média ocasionada pelas espécies de<br />
Mangifera indica, Tabebuia ochracea e Licania tomentosa<br />
foi em média de 4,5 mm, equivalendo a uma redução<br />
de até 27% das águas pluviais que atingiriam a<br />
superfície do solo.<br />
Quantificar o potencial de diferentes espécies arbóreas<br />
para interceptar a precipitação sob uma variedade de
Interferências de espécies arbóreas na interceptação das águas pluviais urbanas<br />
condições meteorológicas é fundamental para validar a<br />
relação custo-eficácia do plantio de árvores como estratégia<br />
de infraestrutura verde. Ademais, as implicações à<br />
hidrologia urbana das interceptações pelas copas e pelo<br />
escoamento pelo tronco dependem do contexto da paisagem<br />
em que são inseridos. Em uma paisagem urbana<br />
com solo impermeável, com a cobertura arbórea de espécies<br />
semelhante às aqui estudadas, pode-se esperar<br />
uma redução significativa das águas pluviais que atingirão<br />
diretamente a superfície, bem como do escoamento, e o<br />
aumento dos tempos de concentrações das bacias.<br />
Os autores expressam seus agradecimentos a: Fundação<br />
de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás<br />
(FAPEG) por conceder uma bolsa de estudo para o<br />
primeiro autor; Financiadora de Estudos e Projetos<br />
(FINEP) pelo auxílio financeiro para a compra de<br />
AGRADECIMENTOS<br />
equipamentos; e Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />
Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão<br />
de bolsa de Produtividade em Desenvolvimento<br />
Tecnológico e Extensão Inovadora – Nível 2 ao segundo<br />
autor.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). HidroWeb: sistemas de informações hidrológicas. Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2014.<br />
ALMEIDA, I. K. de; ALMEIDA, A. K.; STEFFEN, J. L.; ALVES SOBRINHO, T. Model for estimating the time of concentration<br />
in watersheds. Water Resources Management, v. 30, n. 12, p. 4083-4096, 2016. DOI: 10.1007/s11269-016-1383-x<br />
ALVES, P. L. Capacidade de interceptação pelas árvores e suas influências no escoamento superficial urbano. Tese<br />
(Doutorado) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015.<br />
BERLAND, A.; HOPTON, M. E. Comparing street tree assemblages and associated stormwater benefits among<br />
communities in metropolitan Cincinnati, Ohio, USA. Urban Forestry & Urban Greening, v. 13, n. 4, p. 734-741, 2014.<br />
DOI: 10.1016/j.ufug.2014.06.004<br />
BORMANN, H. Impact of spatial data resolution on simulated catchment water balances and model performance of the<br />
multi-scale TOPLATS model. Hydrology and Earth System Sciences Discussions, v. 10, p. 165-179, 2006.<br />
DU, J.; QIAN, L.; RUI, H.; ZUO, T.; ZHENG, D.; XU, Y.; XU, C. Y. Assessing the effects of urbanization on annual runoff and<br />
flood events using an integrated hydrological modeling system for Qinhuai River basin, China. Journal of Hydrology, v.<br />
464-465, p. 127-139, 2012. DOI: 10.1016/j.jhydrol.2012.06.057<br />
FLETCHER, T. D.; ANDRIEU, H.; HAMEL, P. Understanding, management and modelling of urban hydrology and its<br />
consequences for receiving waters: A state of the art. Advances in Water Resources, v. 51, p. 261-279, 2013. https://<br />
doi.org/10.1016/j.advwatres.2012.09.001<br />
FREITAS, J. P. O.; DIAS, H. C. T.; SILVA, E.; TONELLO, K. C. Net precipitation in a semideciduous forest fragment in Viçosa<br />
city, MG. Revista Árvore, Viçosa, v. 40, n. 5, p. 793-801, 2016. http://dx.doi.org/10.1590/0100-67622016000500003<br />
GÓMEZ-BAGGETHUN, E.; BARTON, D. N. Classifying and valuing ecosystem services for urban planning. Ecological<br />
Economics, v. 86, p. 235-245, 2013. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2012.08.019<br />
HILDE, T.; PATERSON, R. Integrating ecosystem services analysis into scenario planning practice: Accounting for street<br />
tree benefits with i-Tree valuation in Central Texas. Journal of Environmental Management, v. 146, p. 524-534, 2014.<br />
https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2014.05.039<br />
HOLDER, C. D.; GIBBES, C. Influence of leaf and canopy characteristics on rainfall interception and urban hydrology.<br />
Hydrological Sciences Journal, v. 62, n. 2, p. 182-190, 2017. https://doi.org/10.1080/02626667.2016.1217414<br />
99<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
Alves, P.L.; Formiga, K.T.M.; Traldi; M.A.B.<br />
INKILÄINEN, E. N.; MCHALE, M. R.; BLANK, G. B.; JAMES, A. L.; NIKINMAA, E. The role of the residential urban forest in<br />
regulating throughfall: A case study in Raleigh, North Carolina, USA. Landscape and Urban Planning, v. 119, p. 91-103,<br />
2013. https://doi.org/10.1016/j.landurbplan.2013.07.002<br />
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). BDMEP – Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa.<br />
Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2014.<br />
KREBS, G.; KOKKONEN, T.; VALTANEN, M.; KOIVUSALO, H.; SETÄLÄ, H. A high resolution application of a stormwater<br />
management model (SWMM) using genetic parameter optimization. Urban Water Journal, v. 10, n. 6, p. 394-410, 2013.<br />
https://doi.org/10.1080/1573062X.2012.739631<br />
LEVIA, D. F.; GERMER, S. A review of stemflow generation dynamics and stemflow-environment interactions in forests<br />
and shrublands. Reviews of Geophysics, v. 53, n. 3, p. 673-714, 2015. DOI: 10.1002/2015RG000479<br />
LEVIA, D. F.; MICHALZIK, B.; NÄTHE, K.; BISCHOFF, S.; RICHTER, S.; LEGATES, D. R. Differential stemflow yield from<br />
European beech saplings: the role of individual canopy structure metrics. Hydrological Processes, v. 29, n. 1, p. 43-51,<br />
2015. DOI: 10.1002/hyp.10124<br />
LI, X.; NIU, J.; XIE, B. Study on hydrological functions of litter layers in North China. PLoS ONE, v. 8, n. 7, p. e70328, 2013.<br />
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0070328<br />
LI, X.; XIAO, Q.; NIU, J.; DYMOND, S.; VAN DOORN, N. S.; YU, X.; XIE B.; LV X.; ZHANG K.; LI, J. Process-based rainfall<br />
interception by small trees in Northern China: The effect of rainfall traits and crown structure characteristics. Agricultural<br />
and Forest Meteorology, v. 218-219, p. 65-73, 2016. https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2015.11.017<br />
LIVESLEY, S. J.; BAUDINETTE, B.; GLOVER, D. Rainfall interception and stemflow by eucalypt street trees – The impacts of canopy<br />
density and bark type. Urban Forestry e Urban Greening, v. 13, p. 192-197, 2014. https://doi.org/10.1016/j.ufug.2013.09.001<br />
NANKO, K.; WATANABE, A.; HOTTA, N.; SUZUKI, M. Physical interpretation of the difference in drop size distributions<br />
of leaf drips among tree species. Agricultural and Forest Meteorology, v. 169, p. 74-84, 2013. DOI: 10.1016/j.<br />
agrformet.2012.09.018<br />
SILVA, L. F.; LIMA, A. M. L. P.; SILVA FILHO, D. F.; COUTO, H. T. Z. Interceptação da chuva por duas espécies arbóreas em<br />
áreas verdes urbanas. CERNE, v. 16, p. 547-555, 2010. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-77602010000400014<br />
SOTO-SCHÖNHERR, S.; IROUMÉ, A. How much water do Chilean forests use? A review of interception losses in forest<br />
plot studies. Hydrological Processes, v. 30, n. 25, p. 4674-4686, 2016. DOI: 10.1002/hyp.10946<br />
VAN DIJK, A. I.; GASH, J. H.; VAN GORSEL, E.; BLANKEN, P. D.; CESCATTI, A.; EMMEL, C.; GIELEN, B.; HARMAN, I. N.; KIELY,<br />
G.; MERBOLD, L.; MONTAGNANI, L.; MOORS, E.; SOTTOCORNOLA, M.; VARLAGIN, A.; WILLIAMS, C. A.; WOHLFAHRT,<br />
G. Rainfall interception and the coupled surface water and energy balance. Agricultural and Forest Meteorology,<br />
v. 214-215, p. 402-415, 2015. https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2015.09.006<br />
XIAO, Q.; McPHERSON, E. G. Rainfall interception by Santa Monica’s municipal urban forest. Urban Ecosystems, Davis,<br />
v. 6, p. 291-302, 2002.<br />
XIAO, Q.; McPHERSON, E. G. Surface water storage capacity of twenty tree species in Davis, California. Journal of<br />
Environmental Quality, v. 45, n. 1, p. 188-198, 2016. https://doi.org/10.2134/jeq2015.02.0092<br />
XIAO, Q.; McPHERSON, E. G.; USTIN, S. L; GRISMER, M. E. A new approach to modeling tree rainfall interception.<br />
Journal of Geophysical Research Atmospheres, v. 105, p. 29173-29188, 2000. DOI: 10.1029/2000JD900343<br />
YANG, Y.; ENDRENY, T. A.; NOWAK, D. J. iTree-Hydro: snow hydrology update for the urban forest hydrology model. Journal<br />
of the American Water Resources Association, v. 47, p. 1211-1218, 2011. DOI: 10.1111/j.1752-1688.2011.00564.x<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
100<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 89-100
DOI: 10.5327/Z2176-947820180278<br />
ESTUDO COMPARATIVO DE ADSORÇÃO DE ÍONS METÁLICOS EM MEIO<br />
AQUOSO POR MEMBRANAS DE QUITOSANA RETICULADAS<br />
COMPARATIVE STUDY OF METAL IONS ADSORPTION IN<br />
AQUEOUS MEDIA BY CROSS-LINKED CHITOSAN MEMBRANES<br />
Carol Christina de Faria<br />
Bióloga, Mestre em Ciências<br />
Ambientais pelo Instituto de<br />
Ciência e Tecnologia, Universidade<br />
Estadual Paulista “Júlio de<br />
Mesquita Filho” (UNESP) –<br />
Sorocaba (SP), Brasil.<br />
Paulo Sergio Tonello<br />
Físico, Pós-doutorado em Estudos<br />
Ambientais pela Centro de Estudos<br />
Ambientais – CEA, UNESP. Professor<br />
do Instituto de Ciência e Tecnologia,<br />
UNESP – Sorocaba (SP), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Paulo Sergio Tonello – Universidade<br />
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />
Filho” – Instituto de Ciência e<br />
Tecnologia – Avenida Três de<br />
Março, 511 – Alto da Boa Vista –<br />
CEP 18087-180 – Sorocaba (SP),<br />
Brasil – E-mail: paulotonello@<br />
sorocaba.unesp.br<br />
Recebido: 07/08/2017<br />
Aceito: 01/03/2018<br />
RESUMO<br />
No presente trabalho, soluções multielementares com íons metálicos<br />
de diferentes concentrações iniciais foram preparadas para que fossem<br />
comparadas as capacidades de remoção de membranas de quitosana<br />
reticuladas com epicloridrina (CS−ECH) e com glutaraldeído (CS−GLA). O modelo<br />
de pseudossegunda ordem apresentou melhor ajuste em CS–ECH, enquanto<br />
o modelo de pseudoprimeira ordem obteve maior coeficiente de correlação<br />
na amostra CS–GLA, exceto pelo íon Al 3+ . A isoterma de Freundlich obteve o<br />
melhor ajuste para os dois tipos de membrana. CS–ECH apresentou capacidade<br />
de sorção para íons Cu 2+ , Pb 2+ , Al 3+ , Zn 2+ e Cd 2+ , respectivamente, de 53,87;<br />
13,66; 4,41; 2,31 e 1,66 mg g -1 . Já os valores obtidos por CS–GLA, para a mesma<br />
sequência de íons, foram de 20,25; 3,42; 2,54; 9,23 e 8,77 mg g -1 .<br />
Palavras-chave: metais pesados; poluição; remoção; recursos hídricos;<br />
reticulação.<br />
ABSTRACT<br />
In this work, multi-elements solutions with metallic ions of different initial<br />
concentrations were prepared to compare the removal capacities of chitosan<br />
membranes cross-linked with epichlorohydrin (CS−ECH) and glutaraldehyde<br />
(CS−GLA). The pseudo-second kinetic equation presented better fit in CS–ECH,<br />
while the pseudo-first kinetic model obtained a higher correlation coefficient<br />
in CS–GLA sample, except for Al 3+ ion. The Freundlich isotherm presented the<br />
best fit in both types of membrane. CS–ECH membrane obtained sorption<br />
capacity for Cu 2+ , Pb 2+ , Al 3+ , Zn 2+ e Cd 2+ , respectively, of 53.87, 13.66, 4.41,<br />
2.31 and 1.66 mg g -1 . The values obtained by CS–GLA membrane for the<br />
same sequence of ions were of 20.25, 3.42, 2.54, 9.23 e 8.77 mg g -1 .<br />
Keywords: heavy metal; pollution; removal; water resources; crosslinking.<br />
101<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
Os recursos hídricos têm sido historicamente impactados<br />
com a introdução de grandes volumes de metais<br />
potencialmente tóxicos (MPT) provenientes de atividades<br />
dos setores primário (agricultura e mineração), secundário<br />
(indústrias metalúrgica, química, tecnológica,<br />
alimentícia etc.) e doméstico (WANG & CHEN, 2014;<br />
UDDIN, 2017). Desse modo, os múltiplos usos da água<br />
podem ser comprometidos, pois muitos desses metais<br />
apresentam alta persistência ambiental e, em determinadas<br />
concentrações, podem causar sérios danos ao<br />
meio ambiente e à saúde pública (WU et al., 2016).<br />
Esses impactos negativos, por sua vez, ocorrem principalmente<br />
quando os MPT se bioacumulam em plantas e animais<br />
ou biomagnificam nas cadeias tróficas (MGBEMENA<br />
& OBODO, 2015). As respostas fisiológicas mais frequentes<br />
a esses poluentes culminam em efeitos carcinogênicos,<br />
mutagênicos e teratogênicos, bem como em desregulamento<br />
do sistema endócrino (KOEDRITH et al., 2013;<br />
YANG et al., 2015), desordens neurológicas e alterações<br />
comportamentais (ALI et al., 2013).<br />
INTRODUÇÃO<br />
Desse modo, visto que a poluição por MPT em meio<br />
aquoso constitui processo dinâmico e complexo,<br />
fica evidente a importância da aplicação de técnicas<br />
que promovam o monitoramento das águas ou a remoção<br />
de íons. Portanto, esses procedimentos são extremamente<br />
importantes, pois recuperam a qualidade<br />
da água e proporcionam o uso sustentável dos recursos<br />
hídricos.<br />
Nos últimos anos, é possível notar um crescente interesse<br />
da comunidade científica no desenvolvimento de<br />
produtos e procedimentos que promovam a separação<br />
dos metais pesados de águas residuais, tendo o processo<br />
de adsorção recebido atenção especial por constituir<br />
uma técnica simples, barata e de comprovada<br />
eficácia na remoção desses poluentes (BENASSI et al.,<br />
2006; WANG & CHEN, 2014). O mecanismo-base desse<br />
processo, por sua vez, consiste na transferência de<br />
massa por meio da qual uma substância é transportada<br />
passivamente da fase líquida para a superfície de um<br />
sólido (adsorvente), em que, então, serão estabelecidas<br />
ligações por meio de interações físicas e/ou químicas<br />
que culminarão na redução da concentração dos<br />
contaminantes em solução (GREEN, 2007; ROUQUEROL<br />
et al., 2013). Para atender às atuais exigências em termos<br />
de sustentabilidade e eficiência, é necessário que<br />
o adsorvente utilizado, entre outras características,<br />
tenha grande seletividade aos metais-alvo, produza<br />
baixa quantidade de resíduos secundários, seja de fácil<br />
aquisição, reutilizável, eco-friendly e biodegradável<br />
(BENASSI et al., 2006; KYZAS & KOSTOGLOU, 2014).<br />
Quitosana: aplicação ambiental<br />
Com essas premissas, muitos trabalhos científicos<br />
têm utilizado a quitosana (CS) e seus derivados para<br />
a remoção de íons metálicos em níveis traço de meios<br />
aquosos (RINAUDO, 2006; WANG & CHEN, 2014;<br />
CRINI et al., 2017). Esse biossorvente é um heteropolissacarídeo<br />
renovável, atóxico, abundante, acessível e<br />
obtido por meio da reação parcial de desacetilação dos<br />
grupos acetamina (R-NHCOCH 3<br />
) da quitina (polímero<br />
natural oriundo da estrutura esquelética de artrópodes,<br />
anelídeos, moluscos e celenterados, da parede<br />
celular de fungos, das leveduras e das algas) (RINAUDO,<br />
2006; ISLAM et al., 2017). A quitosana apresenta característica<br />
hidrofílica, polieletrolítica em meio ácido<br />
e é composta de grupos 2-amino-2-desoxi-D-glicopiranose<br />
(GlcN) (em maior proporção) unidos por ligações<br />
glicosídicas do tipo β (1→4) (BENASSI et al., 2006;<br />
CRINI et al., 2017). A grande capacidade de remoção<br />
desse biopolímero para diversos poluentes, entre eles,<br />
os íons metálicos, deve-se aos pares de elétrons livres<br />
dos átomos de N e O, respectivamente, dos grupamentos<br />
funcionais amina (–NH 2<br />
) e hidroxila (–OH) presentes<br />
ao longo de sua cadeia, que podem ser carregados<br />
positiva (em pH ácido) ou negativamente (em pH básico)<br />
e atuam como importantes sítios de coordenação<br />
(IGBERASE & OSIFO, 2015).<br />
Apesar de a quitosana apresentar altas taxas de adsorção<br />
em seu estado natural, seu desempenho pode<br />
ser maximizado por meio de modificações químicas<br />
que são facilmente realizadas ao utilizar a reatividade<br />
do grupamento amínico primário da posição C2 e dos<br />
grupos hidroxila das posições C3 e C6 (WANG & CHEN,<br />
2014; ISLAM et al., 2017). Essas modificações, no entanto,<br />
ocorrem sem alterar a estrutura fundamental<br />
do biopolímero e conferem à quitosana novas propriedades<br />
(aumento da densidade dos locais de adsorção<br />
102<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
e mudança de suas posições originais) ou melhoram<br />
as preexistentes (potencialização da seletividade, aumento<br />
da resistência física/mecânica e ampliação do<br />
espectro de pH para a remoção de íons metálicos)<br />
(YONG et al., 2015; 2016). As técnicas de derivatização<br />
Reticulação<br />
A reticulação ou reação de entrecruzamento pode<br />
ser reversível ou não e é realizada por agentes mono<br />
(ex.: epicloridrina — ECH) ou bifuncionais (ex.: glutaraldeído<br />
— GLA) que são “capazes” de unir as cadeias<br />
poliméricas da quitosana por mecanismos reacionais<br />
(GONSALVES et al., 2011). A intensidade do entrecruzamento,<br />
contudo, sofre influência das condições<br />
experimentais (temperatura, pH e tempo de reação)<br />
(BEPPU et al., 1999), das características físico-químicas<br />
do biopolímero (grau de desacetilação — GD — e<br />
massa relativa) (GUPTA & JABRAIL, 2006) e do agente<br />
reticulador (tipo e concentração) (BERGER et al., 2004).<br />
Laus e de Fávere (2011) estudaram o efeito do pH na<br />
capacidade máxima de adsorção (q máx<br />
) de quitosana reticulada<br />
com ECH e trifosfato (TPP) para íons Cu 2+ e Cd 2+<br />
em soluções aquosas. Os valores de pH que obtiveram<br />
maior q máx<br />
para Cu 2+ e Cd 2+ foram, respectivamente,<br />
de 6,0 (q máx<br />
=130,72 mg g -1 ) e 7,0 (q máx<br />
=83,75 mg g -1 ).<br />
Motawie et al. (2014) reticularam quitosana derivada<br />
de carapaça de camarão com ECH sob condições alcalinas<br />
para determinar q máx<br />
de íons U 6+ em soluções de<br />
pH variando de 1 a 3. O melhor resultado foi obtido a<br />
30°C, com pH=3 e em 120 minutos de tempo de contato.<br />
A solução em pH=1 apresentou menor remoção<br />
em razão da grande protonação dos grupos amina que<br />
reduziu a disponibilidade dos sítios de coordenação<br />
para os íons U 6+ . Kyzas et al. (2014) observaram ganho<br />
na capacidade de adsorção do pó de quitosana para<br />
o íon Cd 2+ em soluções aquosas, após modificação com<br />
são bastante diversificadas, porém as mais relatadas na<br />
literatura são: inserção de grupos funcionais (BADAWI<br />
et al., 2017), imobilização (SHAKER & YAKOUT, 2016),<br />
impressão de íons (MONIER et al., 2016) e reticulação<br />
(THAKUR & VOICU, 2016).<br />
ácido itacônico e retilação com GLA ou ECH. Os valores<br />
de q máx<br />
obtidos foram de 405 e 331 mg g -1 para GLA e<br />
ECH, respectivamente.<br />
Entretanto, o processo de reticulação em quitosana<br />
pode, em alguns casos, reduzir sua capacidade adsortiva<br />
para íons metálicos (OSIFO et al., 2008), visto que<br />
os agentes reticulantes reagem com os principais sítios<br />
de coordenação desse biopolímero (grupamentos<br />
amínicos e hidroxílicos) para formar as ligações cruzadas<br />
(GONSALVES et al., 2011). Sahin et al. (2011), por<br />
exemplo, protegeram os grupos (–NH 2<br />
) da quitosana<br />
com benzaldeído antes da reticulação com ECH e da<br />
inserção de novos grupos funcionais no biopolímero,<br />
para estudar a remoção de íons Cu 2+ em meio aquoso.<br />
Verificou-se que a reticulação se deu preferencialmente<br />
nos grupos C 6<br />
–OH da quitosana.<br />
Diante do exposto, o presente trabalho teve a finalidade<br />
de realizar um estudo comparativo da capacidade<br />
de adsorção de íons metálicos potencialmente tóxicos<br />
por membranas de quitosana modificadas por reticulação<br />
com epicloridrina (CS–ECH) ou glutaraldeído<br />
(CS–GLA) (via reação heterogênea e covalente de entrecruzamento),<br />
visando à utilização desses materiais<br />
em possíveis processos de remediação de águas e/ou<br />
efluentes contaminados. Para isso, foram utilizadas soluções<br />
aquosas sintéticas multielementares (Al 3+ , Cu 2+ ,<br />
Pb 2+ , Cd 2+ e Zn 2+ ) em variadas concentrações.<br />
Para atender ao objetivo proposto, membranas de<br />
quitosana foram produzidas e então reticuladas<br />
com ECH ou GLA. As alterações em âmbito químico<br />
e morfológico resultantes dessa modificação foram<br />
observadas, respectivamente, por espectroscopia<br />
na região do infravermelho com transformada de<br />
Fourier (FTIR), acoplada a um elemento de reflexão<br />
total atenuada com cristal de diamante (ATR), e<br />
por microscopia eletrônica de varredura (SEM) com<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
sonda para espectrometria de raios X por energia<br />
dispersiva (EDS). Os testes de cinética e de equilíbrio<br />
de adsorção foram realizados por meio do<br />
preparo de soluções multielementares (Cu 2+ , Pb 2+ ,<br />
Al 3+ , Zn 2+ e Cd 2+ ) com diferentes concentrações (em<br />
pH 5,0; I=0,01 mol L -1 (NaNO 3<br />
) e t=25°C) contendo<br />
a mesma quantidade de massa de adsorvente. Alíquotas<br />
foram extraídas dos Erlenmeyer em tempos<br />
regulares até o final do experimento (2.280 min)<br />
103<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
para quantificar os metais remanescentes em solução<br />
por meio de espectrometria de emissão óptica<br />
com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES).<br />
Em posse dos dados experimentais, as taxas de remoção<br />
e o tempo de equilíbrio foram determinados.<br />
Os modelos de pseudoprimeira e pseudossegunda<br />
Síntese das membranas de quitosana<br />
Uma solução de 1% em massa de quitosana (GD entre<br />
75 e 85% e peso molecular médio de 122,74 kDa) (Sigma-Aldrich<br />
® , St. Louis, Estados Unidos) foi obtida com<br />
a dissolução de 5 g do polímero em 495 mL de ácido<br />
acético (3% em volume) (Merck ® , São Paulo, Brasil),<br />
mantendo-se sob agitação magnética (Quimis ® , Q221M,<br />
Diadema, Brasil) a 140 rpm, em temperatura constante<br />
de 25°C, por 24 horas. A solução viscosa resultante com,<br />
aproximadamente, 5% (m/v) de quitosana foi filtrada<br />
duas vezes com o auxílio de tela de nylon para remoção<br />
dos materiais insolúveis, obtendo-se um filtrado límpido<br />
e homogêneo. Feito isso, 150 g de gel foram vertidos<br />
ordens foram aplicados para averiguar qual processo<br />
preponderou durante a adsorção dos analitos;<br />
e o estudo do equilíbrio de adsorção foi realizado<br />
aplicando os modelos de isotermas de Langmuir e<br />
Freundlich aos dados experimentais para determinação<br />
de q máx<br />
.<br />
em placa de petri (13,5 cm de diâmetro) e colocados em<br />
estufa a 60°C por 48 horas para evaporação do ácido<br />
acético. Em seguida, a placa foi preenchida com NaOH<br />
1 mol L -1 (Synth ® , São Paulo, Brasil) por 24 horas para promover<br />
a neutralização dos grupos amino da quitosana.<br />
O filme, então, foi retirado da placa e lavado com água<br />
ultrapura em abundância (resistividade de 18,2 MΩ.cm)<br />
e estocado em água de mesma qualidade a 4°C (PAIVA,<br />
2009). Todas as membranas foram igualmente cortadas<br />
em discos (A=4,90 cm 2 ) e seccionadas obliquamente<br />
para aumentar a superfície de contato.<br />
Reticulação das membranas de quitosana com epicloridrina ou glutaraldeído<br />
Seguindo a metodologia de Vieira e Beppu (2006),<br />
a reticulação heterogênea com ECH (Sigma-Aldrich ® ,<br />
Vetec, São Paulo, Brasil) foi realizada por meio da<br />
imersão de 3 g de membranas úmidas de quitosana<br />
em 50 mL de solução do reticulador a 0,01 mol L −1<br />
(preparada em 0,067 mol L −1 NaOH) a 40°C, mantendo-se<br />
sob constante agitação magnética (Solab-SL 91)<br />
por 2 horas. Feito isso, os filmes foram lavados com<br />
água ultrapura para remover os resíduos de ECH que<br />
Métodos de caracterização<br />
Espectroscopia de infravermelho com Transformada de Fourier<br />
não reagiram com a quitosana. Já a reticulação heterogênea<br />
com GLA (Synth ® , São Paulo, Brasil) foi feita<br />
por meio da imersão de 3 g de filme úmido de quitosana<br />
em 50 mL de solução do reticulante a 0,75% em<br />
massa, sem agitação, em temperatura ambiente por<br />
2 horas. Em seguida, as membranas foram lavadas<br />
com água ultrapura para remoção do excesso de GLA<br />
(VIEIRA & BEPPU, 2006).<br />
Foram realizadas nas membranas de CS natural (NCS) e<br />
reticuladas as análises de espectroscopia de infravermelho<br />
utilizando-se a técnica de FTIR (Varian Espectrometer<br />
Modelo 660) acoplada a um elemento de ATR com cristal<br />
de diamante (Pike Technologies Glade), para confirmar<br />
quais grupos funcionais estavam presentes na NCS<br />
antes e após a modificação química. As análises de FTIR<br />
foram feitas no espectro da região de 4.000 − 400 cm -1 .<br />
Caracterização morfológica e análise elementar<br />
Para comparar as mudanças físicas e identificar os<br />
componentes químicos das amostras, foram realizadas<br />
as análises morfológica e composicional semiquantitativa<br />
das membranas (com e sem reticulação) via caracterização<br />
de superfície por SEM (JEOL JSM-6010LA),<br />
com tensão de aceleração de 2,5 kV, acoplada a analisador<br />
de espectrometria de raios X por energia dispersiva<br />
(EDS).<br />
104<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
Determinação da capacidade de adsorção<br />
Tempo de equilíbrio e cinética de adsorção<br />
Para a determinação desses itens, foram preparadas soluções<br />
(v=100 mL) multielementares dos analitos (Al 3+ ,<br />
Cu 2+ , Pb 2+ , Cd 2+ e Zn 2+ ) em diferentes concentrações (0,25<br />
− 15 mg L -1 ), de força iônica 0,01 mg L -1 (determinada com<br />
NaNO 3<br />
), pH 5,0±0,1 (ajuste realizado com soluções de HCl<br />
e NaOH) (Quimis ® , Q400AS, Diadema, Brasil). Cada solução<br />
recebeu 3 discos (m=0,368 g) de quitosana reticulada<br />
(ECH/GLA) e, em seguida, foi submetida à agitação<br />
magnética (Quimis ® , 225M, Diadema, Brasil) constante<br />
de 140 rpm por até 48 horas em temperatura ambiente<br />
(25 o C). Feito isso, alíquotas de 2,5 mL foram retiradas em<br />
intervalos regulares (15; 30; 60; 120; 240; 480; 1.440 e<br />
2.880 min) até atingir o ponto de equilíbrio, para estudar<br />
o efeito do tempo de contato no processo de adsorção.<br />
Posteriormente, as amostras foram acidificadas em solução<br />
de HNO 3<br />
a 2%, e os metais em solução, quantificados<br />
por ICP-OES. A quantidade de íons metálicos adsorvidos<br />
no equilíbrio (q e<br />
) foi calculada de acordo com a Equação 1:<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Caracterização das membranas de quitosana natural e reticuladas<br />
Espectroscopia na região do infravermelho com transformada<br />
de Fourier–reflexão total atenuada com cristal de diamante<br />
A identificação das bandas características ou de novos<br />
agrupamentos químicos das membranas de CS–<br />
ECH e CS–GLA foi realizada por meio da técnica de<br />
FTIR (Figura 1). Desse modo, verificou-se quais foram<br />
as mudanças ocorridas na estrutura da quitosana<br />
após o processo de reticulação. Para CS–ECH,<br />
é possível notar modificações nos comprimentos de<br />
onda a 1.031 (estiramento vibracional C–O de álcoois<br />
primários), 1.075 (amina alifática), 1.150 (estiramento<br />
assimétrico da ponte C–O–C), 1.320 (grupamentos<br />
N-acetilglucosamina), 1.377 (ligação C–N),<br />
1.419 (vibrações de deformação do N–H de amina<br />
primária), 1.638 (estiramento C=O dos grupamentos<br />
de amina I) e 3.355 cm -1 (estiramento de N–H e estiramento<br />
de –OH). Observou-se aumento na intensidade<br />
entre 1.000 e 1.300 cm -1 , indicando a formação<br />
da ligação (C–O), característica do processo de<br />
reticulação com ECH (NGAH et al., 2002). As bandas<br />
( Co−Ce)<br />
xV<br />
qe<br />
=<br />
(1)<br />
m<br />
Em que:<br />
q e<br />
= a quantidade (mg g -1 ) de íons metálicos adsorvidos<br />
pelos discos de quitosana com reticulação (ECH/GLA)<br />
no equilíbrio;<br />
C o<br />
e C e<br />
= as concentrações metálicas (mg L -1 ) na solução<br />
inicial e após a adsorção, respectivamente;<br />
V = o volume (L) da solução;<br />
m = o peso total (g) dos discos de quitosana utilizados.<br />
O percentual de metal removido em razão da biossorção<br />
foi calculado de acordo com a Equação 2:<br />
( Co−Ce)<br />
% ldelremoção = × 100(2)<br />
C<br />
o<br />
1.075 e 1.031 cm -1 também tiveram suas intensidades<br />
diminuídas.<br />
Na membrana de CS–GLA é possível observar alterações<br />
nas ondas a 661, 668 (estruturas poliméricas),<br />
1.032 (estiramento de ligação C–O de álcoois primários),<br />
1.632 (estiramento C=O dos grupamentos de<br />
amidas I), 2.341 (estiramento C=N), 2.360 (amina primária)<br />
e 3.350 cm -1 (estiramento de N–H e estiramento<br />
de –OH). O entrecruzamento de CS com GLA se dá a<br />
partir da reação entre os grupos –NH 2<br />
e –OH do biopolímero<br />
com os grupos –C=O do reticulador, culminando,<br />
dessa forma, na perda de uma molécula de água e na<br />
formação de ligação imina (C=N) (WANG et al., 2004).<br />
Também foi possível observar a diminuição da intensidade<br />
do grupo a 3.350 cm -1 , o que indica, portanto,<br />
que o processo de reticulação ocorreu por meio desses<br />
grupos (estiramento de N–H e estiramento de –OH).<br />
Além disso, houve o aparecimento de duas novas ban-<br />
105<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
das, sendo elas a 2.360 e a 2.341 cm -1 (ligação imina),<br />
que correspondem à azometina formada após a conversão<br />
dos grupos amina da quitosana por meio do<br />
processo de reticulação com GLA; e o desaparecimento<br />
das bandas que se situam na região de 1.100 a 1.300<br />
cm -1 (grupos aminas que acabam se reduzindo em resposta<br />
ao bloqueio por GLA), culminando na formação<br />
Espectrometria de raios X por energia dispersiva<br />
O espectro EDS da membrana sem reticulação indicou<br />
a contagem relativa em porcentagem de massa<br />
de 60,29% de carbono (C), 11,22% de nitrogênio (N) e<br />
28,49% de oxigênio (O). A presença desses elementos<br />
está relacionada com a própria estrutura da quitosana.<br />
A amostra CS–ECH revelou percentuais de 62,95% de<br />
C; 10,03% de N; e 27,02% de O. Nota-se aumento no<br />
percentual de C e ligeira redução no percentual de N<br />
e O. Essas variações sinalizam que o processo de reticulação<br />
se deu principalmente nos grupos hidroxila do<br />
Efeito do tempo de contato<br />
da ligação N=C (WANG et al., 2004); portanto, essas<br />
modificações ratificam o sucesso da reticulação com<br />
GLA. Houve diminuição da banda a 1.632 cm -1 (estiramento<br />
C=O dos grupamentos de amidas I) e ocorrem<br />
picos na região de 668 a 661 cm -1 referentes ao surgimento<br />
de estruturas poliméricas que possuem anel<br />
aromático, fruto da reticulação dessa natureza.<br />
polímero e houve também a adição de carbono proveniente<br />
do reticulador ECH. Por outro lado, a membrana<br />
de CS−GLA apresentou valores para os mesmos elementos<br />
de 71,33, 7,10 e 21,57%; verifica-se, portanto,<br />
aumento no percentual de C e diminuição dos percentuais<br />
de N e O. As aminas foram preferencialmente utilizadas<br />
no processo de reticulação com GLA, pois esse<br />
grupo constitui o arcabouço das bases de Schiff. Resultados<br />
semelhantes podem ser conferidos no trabalho<br />
de Vieira (2008).<br />
A variação da taxa de remoção (%) (Equação 2) dos<br />
metais em função do tempo de contato em CS–ECH e<br />
CS–GLA, de modo geral, foi reduzida conforme a concentração<br />
das soluções iniciais aumentou, havendo,<br />
portanto, efeito de massa nesse experimento (Figuras<br />
2A e 2B).<br />
%T<br />
3365 3355 3350<br />
2750<br />
2341<br />
2360<br />
1636<br />
1632<br />
1031<br />
1074<br />
1150<br />
1322<br />
1377<br />
1419<br />
1377<br />
1419<br />
1320<br />
1150 1075<br />
1031<br />
(A)<br />
(B)<br />
(C)<br />
4000 3000<br />
Wavenumber<br />
2000 1000<br />
[cm-1]<br />
Figura 1 – Espectro de absorção no infravermelho de membrana de quitosana natural (A),<br />
membrana de quitosana reticulada com epicloridrina (B) e membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído (C).<br />
106<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
Esse fenômeno, por sua vez, pode ter ocorrido em<br />
função do aumento progressivo da competição entre<br />
os íons metálicos pelos mesmos sítios ativos do<br />
adsorvente. Conclui-se, então, que a dosagem do<br />
adsorvato pode ser considerada um fator importante<br />
por determinar a capacidade adsortiva das membranas<br />
em análise. Pelas Tabelas 1 e 2, referentes às<br />
taxas de adsorção obtidas no final do experimento<br />
(2.280 min), verificou-se que os percentuais de adsorção<br />
dos analitos foram maiores em CS–ECH, e que<br />
o íon Cu 2+ apresentou os índices mais altos de remoção<br />
para todas as concentrações e em ambas as<br />
amostras de adsorvente (média de 96% em CS–ECH<br />
e 92% em CS–GLA). Além disso, os tempos de equilíbrio<br />
obtidos sinalizaram que o processo adsortivo<br />
na quitosana reticulada com GLA ocorreu mais lentamente<br />
(≥2.280 min), assim como foi observado por<br />
Vieira (2008).<br />
A<br />
B<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Adsorção Cu 2+ . (%)<br />
0 0 500 1000 1500 2000 2500<br />
Tempo (Min)<br />
Adsorção Cu 2+ . (%)<br />
0 0 500 1000 1500 2000 2500<br />
Tempo (Min)<br />
Conc. 250 Conc. 500 Conc. 1000 Conc. 1500<br />
Conc. 2500 Conc. 5000 Conc. 10000 Conc. 15000<br />
Figura 2 − Efeito do tempo de contato nas capacidades de adsorção (%) de membrana<br />
de quitosana reticulada com epicloridrina (A) e membrana de quitosana reticulada com<br />
glutaraldeído (B) para íon Cu 2+ (100 mL, [0,25−15,00 mg L -1 ], 0,368 g de adsorvente e pH 5).<br />
Tabela 1 − Percentual de adsorção dos elementos Al 3+ , Cu 2+ , Pb 2+ , Cd 2+ e Zn 2+ em t=2.280 minutos em diferentes<br />
concentrações iniciais (mg L -1 ) de solução multielementar com membrana de quitosana reticulada com epicloridrina.<br />
Concentração<br />
(mg L -1 )<br />
Íon metálico<br />
Al 3+ Cu 2+ Pb 2+ Cd 2+ Zn 2+<br />
0,25 88% 100% 95% 68% 58%<br />
0,50 88% 100% 75% 57% 46%<br />
1,00 78% 99% 65% 59% 43%<br />
1,50 51% 98% 75% 62% 52%<br />
2,50 45% 94% 64% 53% 40%<br />
5,00 36% 92% 31% 33% 21%<br />
10,00 38% 90% 29% 37% 18%<br />
15,00 68% 93% 39% 48% 25%<br />
CS–ECH: membrana de quitosana reticulada com epicloridrina<br />
107<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
Cinética de adsorção<br />
A fim de identificar o mecanismo cinético responsável por<br />
controlar o processo de adsorção, como transferência de<br />
massa na solução e reação química, foram realizadas as<br />
análises comparativas dos coeficientes de correlação (R 2 )<br />
e dos valores do teste do χ 2 das equações de pseudoprimeira<br />
e pseudossegunda ordens (Tabelas 3 e 4).<br />
Tabela 2 − Percentual de adsorção dos elementos Al 3+ , Cu 2+ , Pb 2+ , Cd 2+ e Zn 2+ em t=2280 minutos em diferentes<br />
concentrações iniciais (mg L -1 ) de solução multielementar com membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído.<br />
Concentração<br />
(mg L -1 )<br />
Íon metálico<br />
Al 3+ Cu 2+ Pb 2+ Cd 2+ Zn 2+<br />
0,25 86% 99% 81% 29% 24%<br />
0,50 75% 98% 78% 31% 27%<br />
1,00 62% 97% 65% 30% 25%<br />
1,50 40% 95% 50% 24% 18%<br />
2,50 49% 94% 49% 23% 28%<br />
5,00 59% 89% 66% 32% 28%<br />
10,00 64% 86% 54% 30% 24%<br />
15,00 72% 85% 42% 27% 20%<br />
CS–GLA: membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído<br />
Metal<br />
Con c.<br />
(mg L -1 )<br />
Pseudoprimeira ordem R 2 k 1<br />
(min -1 )<br />
q exp<br />
(mg g -1 )<br />
q calc<br />
(mg g -1 )<br />
Al 3+ 0,25 y = -0,0012x + 1,9857 0,9588 2,76 x 10 -3 56,52 96,76 16,73<br />
Cu 2+ 0,25 y = -0,0035x + 1,8335 0,9977 8,06 x 10 -3 67,69 63,78 0,23<br />
Pb 2 0,25 y = -0,0007x + 1,7011 0,9622 1,61 x 10 -3 62,84 50,24 3,16<br />
Cd 2+ 0,25 y = -0,0002x + 1,4939 0,8281 4,60 x 10 -4 45,91 31,18 6,95<br />
Zn 2+ 0,25 y = -0,0002x + 1,3775 0,8387 4,60 x 10 -4 39,57 23,85 10,36<br />
Metal<br />
Tabela 3 – Parâmetros cinéticos de adsorção em membrana de quitosana reticulada com<br />
epicloridrina referentes aos modelos cinéticos de pseudoprimeira e pseudossegunda ordens.<br />
Conc.<br />
(mg L -1 )<br />
Pseudossegunda ordem R 2 k 2<br />
(g mg -1 min -1 )<br />
q exp<br />
(mg g -1 )<br />
q calc<br />
(mg g -1 )<br />
Al 3+ 0,25 y = 0,0168x + 0,4196 0,9988 6,72 x 10 -4 56,52 59,52 0,15<br />
Cu 2+ 0,25 y = 0,0145x + 0,3595 0,9994 5,84 x 10 -4 67,69 68,96 0,02<br />
Pb 2 0,25 y = 0,0149x + 1,5705 0,9949 1,41 x 10 -4 62,84 67,11 0,27<br />
Cd 2+ 0,25 y = 0,0216x + 2,072 0,9925 2,25 x 10 -4 45,91 46,29 0,003<br />
Zn 2+ 0,25 y = 0,0251x + 1,9517 0,9936 3,22 x 10 -4 39,57 39,84 0,001<br />
CS–ECH: membrana de quitosana reticulada com epicloridrina; R 2 : coeficiente de correlação; k 1:<br />
constante de velocidade de adsorção de pseudoprimeira<br />
ordem (min -1 ); k 2:<br />
constante de velocidade de adsorção de pseudossegunda ordem (g mg -1 min -1 ); q exp:<br />
quantidade de metal adsorvida no<br />
equilíbrio (mg g -1 ) determinada experimentalmente; q calc:<br />
quantidade de metal adsorvida no equilíbrio (mg g -1 ) calculada pelo modelo cinético.<br />
Χ 2<br />
Χ 2<br />
108<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
Modelo cinético de pseudoprimeira ordem<br />
O modelo cinético de pseudoprimeira ordem é utilizado<br />
em processos de adsorção do soluto de uma solução líquida<br />
e tem embasamento na capacidade de adsorção<br />
do sólido. A equação linearizada de pseudoprimeira ordem<br />
é apresentada na Equação 3 (LAGERGREN, 1898).<br />
ln (q e<br />
- q t<br />
)= lnq e<br />
– k 1<br />
t(3)<br />
Modelo cinético de pseudossegunda ordem<br />
O modelo cinético de pseudossegunda ordem é embasado<br />
na capacidade de adsorção da fase sólida e<br />
descreve o comportamento durante todo o tempo de<br />
contato. O modelo linear de pseudossegunda ordem é<br />
apresentada pela Equação 4 (HO & MCKAY, 1998):<br />
t/q t<br />
= (1/k 2<br />
q e2<br />
) + t/q e<br />
(4)<br />
Em que:<br />
q e<br />
e q t<br />
= a quantidade de metal adsorvida no equilíbrio<br />
(mg g -1 ) e no tempo t (min), respectivamente;<br />
k 1<br />
= a constante de velocidade de adsorção de pseudoprimeira<br />
ordem (min -1 ). Esta pode ser calculada pelo<br />
coeficiente angular da reta do gráfico ln (q e<br />
– q t<br />
) versus t.<br />
Se a cinética de pseudossegunda ordem é aplicável, um<br />
gráfico (t/q) versus t deve mostrar uma relação linear,<br />
com coeficiente linear (1/k 2<br />
q e2<br />
) e coeficiente angular<br />
1/q e<br />
. O valor da constante k é obtido por meio do<br />
coeficiente angular (HO & MCKAY, 1999).<br />
Para t=0, a taxa inicial de sorção h é dada pela Equação 5:<br />
h = k 2<br />
q e<br />
2<br />
(5)<br />
Em que:<br />
k 2<br />
= a constante de velocidade de adsorção de pseudossegunda<br />
ordem (g mg -1 min -1 );<br />
h = a taxa de adsorção inicial (mg g -1 min -1 ).<br />
Metal<br />
Con c.<br />
(mg L -1 )<br />
Pseudoprimeira ordem R 2 k 1<br />
(min -1 )<br />
q exp<br />
(mg g -1 )<br />
q calc<br />
(mg g -1 )<br />
Al 3+ 0,25 y = -0,0022x + 1,6363 0,9028 5,06 x 10 -3 58,22 43,28 5,15<br />
Cu 2+ 0,25 y = -0,0003x + 1,8047 0,9959 6,90 x 10 -4 65,98 63,78 0,07<br />
Pb 2 0,25 y = -0,0002x + 1,7007 0,978 4,60 x 10 -4 55,00 50,19 0,46<br />
Cd 2+ 0,25 y = -0,0002x + 1,2624 0,9852 4,60 x 10 -4 19,57 18,30 0,08<br />
Zn 2+ 0,25 y = -0,0002x + 1,1917 0,9821 4,60 x 10 -4 16,55 15,54 0,06<br />
Metal<br />
Tabela 4 – Parâmetros cinéticos de adsorção em membrana de quitosana reticulada com<br />
glutaraldeído referentes aos modelos cinéticos de pseudoprimeira e pseudossegunda ordens.<br />
Conc.<br />
(mg L -1 )<br />
Pseudossegunda ordem R 2 k 2<br />
(g mg -1 min -1 )<br />
q exp<br />
(mg g -1 )<br />
q calc<br />
(mg g -1 )<br />
Al 3+ 0,25 y = 0,0167x + 0,8178 0,9984 3,41 x 10 4 58,22 59,88 0,04<br />
Cu 2+ 0,25 y = 0,0138x + 2,4041 0,9875 7,92 x 10 -5 65,98 72,46 0,57<br />
Pb 2 0,25 y = 0,0171x + 2,9578 0,9859 9,88 x 10 -5 53,14 58,47 0,48<br />
Cd 2+ 0,25 y = 0,0349x + 9,6683 0,9434 1,25 x 10 -4 19,57 28,65 2,87<br />
Zn 2+ 0,25 y = -0,0002x + 1,1917 0,9821 3,19 x 10 -4 16,55 15,54 0,06<br />
CS–GLA: membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído; R 2 : coeficiente de determinação; k 1:<br />
constante de velocidade de adsorção de pseudoprimeira<br />
ordem (min -1 ); k 2:<br />
constante de velocidade de adsorção de pseudossegunda ordem (g mg -1 min -1 ); q exp:<br />
quantidade de metal adsorvida<br />
no equilíbrio (mg g -1 ) determinada experimentalmente; q calc:<br />
quantidade de metal adsorvida no equilíbrio (mg g -1 ) calculada pelo modelo cinético.<br />
Χ 2<br />
Χ 2<br />
109<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
Por meio da reta do gráfico de t/q t<br />
versus t pode-se calcular<br />
k 2<br />
pelo coeficiente linear.<br />
A título de exemplo, nas Tabelas 3 e 4 estão apresentadas<br />
as equações lineares dos modelos cinéticos de<br />
pseudoprimeira e pseudossegunda ordens com seus<br />
respectivos coeficientes de correlação para a solução<br />
de 0,25 mg L -1 das amostras de CS−ECH e CS−GLA. Todas<br />
as soluções provenientes de CS−ECH apresentaram<br />
boa correlação R 2 com a equação de pseudossegunda<br />
ordem, ou seja, a etapa limitante determinante<br />
do mecanismo cinético pode ser a adsorção química;<br />
portanto, ocorre o envolvimento de forças de valência<br />
por intermédio do compartilhamento ou da troca<br />
de elétrons entre adsorvente e adsorvato (SEPTHUM<br />
et al., 2007). O melhor ajuste a esse tipo de mecanismo<br />
pôde ser confirmado pelo menor grau de dispersão<br />
obtido pelo teste do χ 2 dos resultados previstos<br />
pelo modelo (q calc<br />
) em relação aos valores de q e<br />
determinados experimentalmente (q exp<br />
). Já a análise<br />
comparativa do R 2 e do χ 2 das soluções provenientes<br />
da amostra de CS–GLA revela que os analitos estudados,<br />
exceto pelo íon Al 3+ , apresentaram cinética de<br />
adsorção de pseudoprimeira ordem. Esse modelo,<br />
geralmente, tem melhor aplicação em tempos acima<br />
de 20 a 30 minutos iniciais do processo de adsorção,<br />
e a velocidade de remoção do adsorvato da solução é<br />
proporcionalmente dependente do número de sítios<br />
de ligação disponíveis no adsorvente (HO & MACKAY,<br />
1999). Aliabadi et al. (2013) também obtiveram boa<br />
correlação dos dados experimentais de adsorção de<br />
Cu 2+ , Pb 2+ e Cd 2+ em membrana de nanofibras formadas<br />
por quitosana e poli (óxido de etileno) com o modelo<br />
cinético de pseudoprimeira ordem.<br />
Isoterma de adsorção<br />
As isotermas de adsorção descrevem a relação entre<br />
adsorvato e adsorvente no equilíbrio (WAN et al.,<br />
2010), além de serem o meio mais comum de estabelecer<br />
se o processo adsortivo se trata de quimissorção<br />
ou fisissorção. O modelo de Langmuir supõe que<br />
a superfície do adsorvente possua sítios energéticos<br />
idênticos e que cada molécula do adsorbato ocupe um<br />
único sítio, bem como prevê a formação de uma monocamada<br />
de cobertura de adsorbato na superfície do<br />
adsorvente. Já o modelo de Freundlich descreve uma<br />
Por meio da análise dos parâmetros cinéticos de CS–<br />
ECH e CS–GLA é possível observar que o valor da constante<br />
de velocidade de adsorção (k) diminui à medida<br />
que a (C o<br />
) aumenta; portanto, isso pode ter refletido no<br />
tempo de equilíbrio (2.280 min) das soluções. A existência<br />
de uma quantidade definida de sítios ativos nas<br />
superfícies dos adsorventes pode explicar tal fato; então,<br />
em concentrações mais baixas, há sítios de coordenação<br />
disponíveis para que os íons metálicos sejam<br />
adsorvidos sem grandes dificuldades. Já o estudo das<br />
velocidades de adsorção obtidas das amostras CS–ECH<br />
e CS–GLA revelou que o segundo tipo de adsorvente<br />
apresentou valores mais baixos para esse parâmetro,<br />
mesmo em baixas concentrações iniciais, o que sinaliza<br />
uma adsorção ainda mais lenta. O íon Al 3+ apresentou,<br />
em grande parte das soluções e em ambos os tipos de<br />
amostras, os maiores valores da constante de velocidade,<br />
seguido dos elementos Zn 2+ e Pb 2+ . A taxa inicial de<br />
adsorção (h) (mg g -1 min -1 ), em média, para íons Al 3+ ,<br />
Cu 2+ , Pb 2+ , Zn 2+ e Cd 2+ em CS–ECH foi, respectivamente,<br />
de 20,83; 10,98; 10,31; 6,85 e 6,19. Para os mesmos<br />
íons em CS–GLA, os valores obtidos foram, respectivamente,<br />
de 6,66; 6,86; 2,86; 3,94 e 2,92. Esse parâmetro<br />
sinaliza que a adsorção inicial também apresentou<br />
diferenças entre os dois tipos de membrana, tendo a<br />
amostra CS–GLA apresentado médias mais modestas<br />
para todos os analitos em estudo. O processo de reticulação<br />
com GLA provoca a reorganização da estrutura<br />
química das cadeias poliméricas (WEBSTER et al.,<br />
2007) e isso pode constituir uma possível explicação<br />
para o retardamento do processo adsortivo nesse tipo<br />
de membrana, o que justifica os valores reduzidos para<br />
os parâmetros cinéticos em CS–GLA. Por outro lado,<br />
o íon Al 3+ , independentemente do tipo de adsorvente,<br />
obteve a maior taxa inicial de adsorção (h). Já o íon<br />
Cu 2+ obteve o segundo lugar na média de (h) em ambas<br />
as amostras.<br />
adsorção reversível heterogênea, visto que não se restringe<br />
a uma monocamada de cobertura do adsorvente<br />
(MCKAY, 1996).<br />
De acordo com os coeficientes de determinação calculados<br />
para ambos os modelos isotérmicos para as mostras<br />
de CS–ECH e CS–GLA (Tabela 5), a isoterma de Langmuir<br />
não foi aplicada com sucesso para todas as soluções,<br />
portanto, o modelo de Freundlich apresentou melhor<br />
ajuste para o processo de adsorção deste trabalho.<br />
110<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
A equação matemática utilizada para essa isoterma é<br />
expressa pela Equação 6, sendo comumente utilizada<br />
sua forma linearizada Equação 7 (SUBRAMAYAN;<br />
DAS, 2009):<br />
q e<br />
= K F<br />
C e<br />
1/n<br />
(6)<br />
ln q e<br />
= lnK F<br />
+ 1/n ln C e<br />
(7)<br />
Em que:<br />
K F<br />
= a constante de Freundlich (mg g -1 ) que indica a capacidade<br />
de sorção do adsorvente.<br />
O parâmetro “n” está relacionado com a distribuição dos<br />
sítios energéticos do adsorvente. Esse fator prediz se a isoterma<br />
é favorável (sendo os valores entre 0,1 e 1 indicadores<br />
de um ambiente que favorece a adsorção). Os valores<br />
das constantes de Freundlich e 1/n da equação linearizada<br />
podem ser obtidos plotando o gráfico de lnq e<br />
versus lnC e<br />
.<br />
Os valores do fator (n) obtidos para os íons Al 3+ , Cu 2+ ,<br />
Pb 2+ , Zn 2+ e Cd 2+ para os dois tipos de adsorvente CS–ECH<br />
e CS–GLA foram, respectivamente, de 1,88; 2,11; 1,53;<br />
1,61; 1,33 e 1,50; 1,45; 1,32; 1,04; 1,00, sendo esses índices<br />
indicadores de adsorção favorável. Os valores de<br />
1/n para os mesmos íons em CS–ECH e CS–GLA foram,<br />
respectivamente, de: 0,52; 0,47; 0,65; 0,62; 0,74 e 0,66;<br />
0,68; 0,75; 0,95; 0,99. Se o valor de 1/n está entre 0,1 e<br />
1, o processo de adsorção é descrito por quimissorção;<br />
e quanto mais próximo de 0, assume-se que mais heterogênea<br />
é a superfície da fase sólida.<br />
Os valores de q máx<br />
obtidos por CS–ECH para os íons Cu 2+ ,<br />
Pb 2+ , Al 3+ , Zn 2+ e Cd 2+ foram, respectivamente, de 53,87;<br />
13,66; 4,41; 2,31 e 1,66 mg g -1 . Já os valores de q máx<br />
na<br />
amostra de CS–GLA para os mesmos metais foram, respectivamente,<br />
de 20,25; 3,42; 2,54; 9,23 e 8,77 mg g -1 .<br />
Com esses dados é possível constatar que o íon Cu 2+ foi<br />
o analito mais removido em ambos os adsorventes. Entretanto,<br />
em CS–GLA, o q máx<br />
verificado para esse mesmo<br />
íon corresponde apenas a 37% do valor obtido por CS–<br />
ECH. Já os íons Pb 2+ e Al 3+ , que foram, respectivamente,<br />
o segundo e o terceiro elementos mais removidos por<br />
CS–ECH, também apresentaram valores reduzidos em<br />
CS–GLA. A diminuição da capacidade de sorção em quitosana<br />
reticulada com GLA foi relatada em outros trabalhos<br />
(BARONI et al., 2008; WU et al., 2010). Esse fenômeno<br />
ocorre possivelmente pelo bloqueio dos grupos<br />
aminosídicos livres da quitosana durante a formação<br />
das bases Schiff no processo de reticulação com GLA.<br />
Tabela 5 − Coeficientes de determinação das isotermas de Freundlich e Langmuir em membrana<br />
de quitosana reticulada com epicloridrina e membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído.<br />
Metal Freundlich (CS-ECH) R 2 Metal Freundlich (CS-GLA) R 2<br />
Al 3+ y= 0,6506x + 0,6453 0,859 Al 3+ y = 0,7531x + 0,4054 0,8363<br />
Cu 2+ y= 0,5293x + 1,7314 0,9541 Cu 2+ y = 0,665x + 1,3066 0,9942<br />
Pb 2 y= 0,473x + 1,1357 0,9224 Pb 2+ y = 0,6891x + 0,5352 0,941<br />
Cd 2+ y= 0,747x + 0,2207 0,9497 Cd 2+ y = 0,9906x - 0,9431 0,9865<br />
Zn 2+ y= 0,62x + 0,3639 0,9232 Zn 2+ y = 0,9598x - 0,9655 0,9742<br />
Metal Langmuir (CS-ECH) R 2 Metal Langmuir (CS-GLA) R 2<br />
Al 3+ y= 0,0005x +1,9829 0,3138 Al 3+ y = -5E-05x + 2,4936 0,0029<br />
Cu 2+ y = 0,0003x + 0,1196 0,6456 Cu 2+ y = 0,0007x + 0,1295 0,9772<br />
Pb 2 y = 0,0008x + 1,7062 0,6211 Pb 2+ y = 0,0004x + 1,8942 0,5492<br />
Cd 2+ y = 0,0004x + 2,8003 0,3568 Cd 2+ y = 0,0024x + 7,8931 0,7818<br />
Zn 2+ y = 0,001x + 4,6037 0,6088 Zn 2+ y = 0,004x + 9,5583 0,7411<br />
CS–ECH: membrana de quitosana reticulada com epicloridrina; CS–GLA: membrana de quitosana reticulada com glutaraldeído; R 2 : coeficiente<br />
de determinação.<br />
111<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
O nitrogênio presente nos grupos amina atua como doador<br />
de elétrons, de modo que ligações dativas com íons<br />
de metais de transição podem ser estabelecidas (NGAH<br />
et al., 2005). Em CS–ECH, o processo de reticulação se<br />
deu principalmente com os grupos hidroxila da quitosana,<br />
portanto, um maior número de grupos amina (−NH 2<br />
)<br />
ficou disponível para coordenar com os analitos, e isso se<br />
traduziu em valores mais elevados de q máx<br />
. Contudo, os<br />
íons Cd 2+ e Zn 2+ foram mais adsorvidos em CS–GLA, contrariando<br />
a tendência vista nos demais íons metálicos.<br />
Provavelmente, o surgimento de novos sítios de ligação<br />
após o entrecruzamento, como ligações imino, terminais<br />
de aldeído não reagidos ou grupos álcoois e hidroxilo não<br />
reagidos a partir de quitosana original (VIEIRA & BEPPU,<br />
2006), favoreceu esses analitos. Rangel-Mendez et al.<br />
(2009), por exemplo, por meio de análise com infravermelho<br />
(IR) em quitosana, observaram a coordenação<br />
de Cd 2+ com grupos álcoois secundários. Porém, as características<br />
intrínsecas dos íons metálicos (propriedades<br />
paramagnéticas, spin, estado de oxidação, valência)<br />
(WEBSTER et al., 2007), do sorvente (carga iônica, área<br />
superficial, tamanho do poro, densidade e grupos funcionais<br />
livres na superfície) e da solução (pH, temperatura)<br />
podem ter grande influência no processo de adsorção.<br />
Verificou-se, pela análise de infravermelho nas amostras<br />
de quitosana modificadas quimicamente com ECH e GLA,<br />
a presença dos grupos funcionais esperados para cada tipo<br />
de reticulação; portanto, o processo de entrecruzamento<br />
foi realizado com sucesso. Nos ensaios de adsorção, a<br />
cinética de pseudossegunda ordem apresentou os maiores<br />
coeficientes de correlação para todos os analitos na<br />
amostra CS–ECH. Em CS–GLA, a maioria dos íons metálicos<br />
obteve boa correlação (R 2 ) com a equação de pseudoprimeira<br />
ordem, exceto pelo elemento Al 3+ , que apresentou<br />
melhor ajuste ao modelo cinético de pseudossegunda ordem.<br />
Resultado semelhante foi obtido por Folzke (2013),<br />
que avaliou a remoção desse íon em colunas de adsorção<br />
preenchidas com material-suporte de não tecido composto<br />
de viscose, polipropileno e poliéster impregnado com<br />
quitosana. Os dados cinéticos foram ratificados pelo menor<br />
grau de dispersividade (χ 2 ) dos resultados previstos<br />
pelo modelo (q calc<br />
) em relação aos dados experimentais<br />
(q calc<br />
) obtidos das soluções de diferentes concentrações<br />
iniciais. Em relação à isoterma de adsorção, o modelo de<br />
CONCLUSÃO<br />
Freundlich apresentou o melhor ajuste para ambas as<br />
amostras estudadas. Com a análise dos percentuais de<br />
adsorção em função do tempo de contato, foi possível<br />
notar redução da taxa de remoção dos analitos e aumento<br />
do tempo de equilíbrio, à medida que a concentração<br />
das soluções aumentou, evidenciando, portanto, efeito de<br />
massa. O metal que apresentou melhor seletividade para<br />
os dois tipos de adsorvente foi o Cu 2+ (média de 96% em<br />
CS–ECH e 92% em CS–GLA), e as ordens de afinidade obtidas<br />
em CS–ECH e CS–GLA foram, respectivamente, de<br />
Cu 2+ >>>Pb 2+ >>Al 3+ >Zn 2+ >Cd 2+ e Cu 2+ >>Zn 2+ >Cd 2+ >Pb 2+ >Al 3+ .<br />
As quitosanas reticuladas com ECH ou GLA mostraram<br />
grande potencial para remoção dos íons metálicos estudados<br />
em soluções multicomponentes de diferentes concentrações.<br />
Contudo, as diferentes seletividades das membranas<br />
requerem a pré-identificação dos íons metálicos-alvo<br />
para que possam ser aplicadas quer seja em sistemas de<br />
tratamento de água e/ou efluentes (por exemplo, coluna<br />
de adsorção) ou como agente ligante em processos de<br />
monitoramento ambiental.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALI, H.; KHAN, E.; SAJAD, M. A. 2013. Phytoremediation of heavy metals—concepts and applications. Chemosphere,<br />
v. 91, n. 7, p. 869-881, 2013. https://doi.org/10.1016/j.chemosphere.2013.01.075<br />
ALIABADI, M.; IRANI, M.; ISMAEILI, J.; PIRI, H.; PARNIAN, M. J. Elestrospun nanofiber membrane of PEO Chitosan for<br />
the adsorption of nickel, cadmium, lead and copper ions from aqueous solution. Chemical Engineering Journal, v. 220,<br />
p. 237-243, 2013. DOI: 10.1016/j.cej.2013.01.021<br />
BADAWI, M. A.; NEGM, N. A.; KANA, M. A.; HEFNI, H. H.; MONEEM, M. A. Adsorption of aluminum and lead from<br />
wastewater by chitosan-tannic acid modified biopolymers: Isotherms, kinetics, thermodynamics and process mechanism.<br />
International Journal of Biological Macromolecules, v. 99, p. 465-476, 2017. DOI: 10.1016/j.ijbiomac.2017.03.003<br />
112<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
BARONI, P.; VIEIRA, R. S.; MENEGHETTI, E.; SILVA, M. G.; BEPPU, M. M. Evaluation of batch adsorption of chromium<br />
ions on natural and crosslinked chitosan membranes. Journal of Hazardous Materials, v. 152, n. 3, p. 1155-1163, 2008.<br />
https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2007.07.099<br />
BENASSI, J. C.; LAUS, R.; GEREMIAS, R.; LIMA, P. L.; MENEZES, C. T. B.; LARANJEIRA, M. C. M.; PEDROSA, R. C. Evaluation<br />
of remediation of coal mining wastewater by chitosan microspheres using biomarkers. Archives of Environmental<br />
Contamination and Toxicology, v. 51, n. 4, p. 633-640, 2006. DOI: 10.1007/s00244-005-0187-4<br />
BEPPU, M. M.; ARRUDA, E. J.; SANTANA, C. C. Síntese e caracterização de estruturas densas e porosas de quitosana.<br />
Polímeros, 1999. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-14281999000400027<br />
BERGER, J.; REIST, M.; MAYER, J. M.; FELT, O.; PEPPAS, N. A.; GURNY, R. Structure and interactions in covalently<br />
and ionically crosslinked chitosan hydrogels for biomedical applications. European Journal of Pharmaceutics and<br />
Biopharmaceutics, v. 57, n. 1, p. 19-34, 2004. https://doi.org/10.1016/S0939-6411(03)00161-9<br />
CRINI, G.; MORIN-CRINI, N.; FATIN-ROUGE, N.; DÉON, S.; FIEVET, P. Metal removal from aqueous media by polymerassisted<br />
ultrafiltration with chitosan. Arabian Journal of Chemistry, v. 10, p. S3826-S3839, 2017. https://doi.<br />
org/10.1016/j.arabjc.2014.05.020<br />
FOLZKE, C. T. Estudo da remoção de alumínio de água para abastecimento utilizando quitosana. Dissertação (Mestrado<br />
em Engenharia do Ambiente) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2013.<br />
GONSALVES, A. A.; ARAÚJO, C. R.; SOARES, N. A.; GOULART, M. O.; DE ABREU, F. C. Diferentes estratégias para a<br />
reticulação de quitosana. Química Nova, v. 34, n. 7, p. 1215-1223, 2011.<br />
GREEN, D. R. Perry’s Chemical Engineers’ Handbook. [s.l.]: McGraw-Hill, 2007.<br />
GUPTA, K. C.; JABRAIL, F. H. Glutaraldehyde and glyoxal cross-linked chitosan microspheres for controlled delivery of<br />
centchroman. Carbohydrate Research, v. 341, n. 6, p. 744-756, 2006. https://doi.org/10.1016/j.carres.2006.02.003<br />
HO, Y. S.; MCKAY, G. Pseudo-second order model for sorption processes. Process Biochemistry, v. 34, n. 5, p. 451-465,<br />
1999. https://doi.org/10.1016/S0032-9592(98)00112-5<br />
HO, Y. S.; MCKAY, G. Sorption of dye from aqueous solution by peat. Chemical Engineering Journal, v. 70, n. 2,<br />
p. 115-124, 1998. https://doi.org/10.1016/S0923-0467(98)00076-1<br />
IGBERASE, E.; OSIFO, P. Equilibrium, kinetic, thermodynamic and desorption studies of cadmium and lead by polyaniline<br />
grafted cross-linked chitosan beads from aqueous solution. Journal of Industrial and Engineering Chemistry, v. 26,<br />
p. 340-347, 2015. https://doi.org/10.1016/j.jiec.2014.12.007<br />
ISLAM, S.; BHUIYAN, M. R.; ISLAM, M. N. Chitin and chitosan: structure, properties and applications in biomedical engineering.<br />
Journal of Polymers and the Environment, v. 25, n. 3, p. 854-866, 2017. https://doi.org/10.1007/s10924-016-0865-5<br />
KOEDRITH, P.; KIM, H.; WEON, J. I.; SEO, Y. R. Toxicogenomic approaches for understanding molecular mechanisms of<br />
heavy metal mutagenicity and carcinogenicity. International Journal of Hygiene and Environmental Health, v. 216, n. 5,<br />
p. 587-598, 2013. https://doi.org/10.1016/j.ijheh.2013.02.010<br />
KYZAS, G. Z.; KOSTOGLOU, M. Green adsorbents for wastewaters: a critical review. Materials, v. 7, n. 1, p. 333-364, 2014.<br />
KYZAS, G. Z.; SIAFAKA, P. I.; LAMBROPOULOU, D. A.; LAZARIDIS, N. K.; BIKIARIS, D. N. Poly(itaconic acid)-grafted<br />
chitosan adsorbents with different cross-linking for Pb (II) and Cd (II) uptake. Langmuir, v. 30, n. 1, p. 120-131, 2014.<br />
DOI: 10.1021/la402778x<br />
LAGERGREN, S. Zur theorie der sogenannten adsorption gel¨oster stoffe. Handlingar Band, 1898, v. 24, p. 1-39, 1898.<br />
113<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Faria, C.C.; Tonello, P.S.<br />
LAUS, R.; DE FÁVERE, V. T. Competitive adsorption of Cu (II) and Cd (II) ions by chitosan crosslinked with epichlorohydrin–<br />
triphosphate. Bioresource Technology, v. 102, n. 19, p. 8769-8776, 2011. https://doi.org/10.1016/j.biortech.2011.07.057<br />
MCKAY, G. Use of adsorbents for the removal of pollutants from wastewaters. Boca Raton: CRC Press, 1996.<br />
MGBEMENA, N.; OBODO, G. A. Bioaccumulation of heavy metals in some fish samples from Oguta Lake, Imo State,<br />
Nigeria. Journal of Chemical Society of Nigeria, v. 40, n. 2, 2015.<br />
MONIER, M.; ABDEL-LATIF, D. A.; EL-REASH, Y. A. Ion-imprinted modified chitosan resin for selective removal of Pd (II)<br />
ions. Journal of Colloid and Interface Science, v. 469, p. 344-354, 2016. https://doi.org/10.1016/j.jcis.2016.01.074<br />
MOTAWIE, A. M.; MAHMOUD, K. F.; EL-SAWY, A. A.; KAMAL, H. M.; HEFNI, H.; IBRAHIEM, H. A. Preparation of chitosan<br />
from the shrimp shells and its application for pre-concentration of uranium after cross-linking with epichlorohydrin.<br />
Egyptian Journal of Petroleum, v. 23, n. 2, p. 221-228, 2014. https://doi.org/10.1016/j.ejpe.2014.05.009<br />
NGAH, W. S. W.; AB GHANI, S.; KAMARI, A. Adsorption behavior of Fe(II) and Fe(III) ions in aqueous solution on chitosan<br />
and cross-linked chitosan beads. Bioresource Technology, v. 96, n. 4, p. 443-450, 2005. https://doi.org/10.1016/j.<br />
biortech.2004.05.022<br />
NGAH, W. S. W.; ENDUD, C. S.; MAYANAR, R. Removal of copper(II) ions from aqueous solution onto chitosan and<br />
cross-linked chitosan beads. Reactive and Functional Polymers, v. 50, p. 181-190, 2002. https://doi.org/10.1016/<br />
S1381-5148(01)00113-4<br />
OSIFO, P. O.; WEBSTER, A.; VAN DER MERWE, H.; NEOMAGUS, H. W.; VAN DER GUN, M. A.; GRANT, D. M. The influence<br />
of the degree of cross-linking on the adsorption properties of chitosan beads. Bioresource Technology, v. 99, n. 15,<br />
p. 7377-7382, 2008. DOI: 10.1016/j.biortech.2008.01.053<br />
PAIVA, R. G. Obtenção e caracterização de membranas multicamadas de quitosana e alginato contendo cobre. 84f.<br />
Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Faculdade de Engenharia Química, Universidade Estadual de<br />
Campinas, Campinas, 2009.<br />
RANGEL-MENDEZ, J. R.; MONROY-ZEPEDA, R.; LEYVA-RAMOS, E.; DIAZ-FLORES, P. E.; SHIRAI, K. Chitosan selectivity<br />
for removing cadmium (II), copper (II), and lead (II) from aqueous phase: pH and organic matter effect. Journal of<br />
Hazardous Materials, v. 162, n. 1, p. 503-511, 2009. https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2008.05.073<br />
RINAUDO, M. Chitin and chitosan: properties and applications. Progress in Polymer Science, v. 31, n. 7, p. 603-632,<br />
2006. https://doi.org/10.1016/j.progpolymsci.2006.06.001<br />
ROUQUEROL, J.; ROUQUEROL, F.; LLEWELLYN, P.; MAURIN, G.; SING, K. S. Adsorption by powders and porous solids:<br />
principles, methodology and applications. Elsevier, 2013.<br />
SAHIN, M.; KOCAK, N.; ARSLAN, G.; UCAN, H. I. Synthesis of crosslinked chitosan with epichlorohydrin possessing two<br />
novel polymeric ligands and its use in metal removal. Journal of Inorganic and Organometallic Polymers and Materials,<br />
v. 21, n. 1, p. 69-80, 2011. http://dx.doi.org/10.1007%2Fs10904-010-9421-2<br />
SEPTHUM, C.; RATTANAPHANI, S.; BREMNER, J. B.; RATTANAPHAN, V. An adsorption study of Al(III) ions onto chitosan.<br />
Journal of Hazardous Material, v. 148, n. 1-2, p. 185-191, 2007.<br />
SHAKER, M. A.; YAKOUT, A. A. Optimization, isotherm, kinetic and thermodynamic studies of Pb (II) ions adsorption onto<br />
N-maleated chitosan-immobilized TiO 2 nanoparticles from aqueous media. Spectrochimica Acta Part A: Molecular<br />
and Biomolecular Spectroscopy, v. 154, p. 145-156, 2016. https://doi.org/10.1016/j.saa.2015.10.027<br />
SUBRAMANYAM, B.; DAS, A. Linearized and non-linearized isotherm models comparative study on adsorption of aqueous<br />
phenol solution in soil. International Journal of Environmental Science & Technology, v. 6, n. 4, p. 633-640, 2009.<br />
114<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
Estudo comparativo de adsorção de íons metálicos em meio aquoso por membranas de quitosana reticuladas<br />
THAKUR, V. K.; VOICU, S. I. Recent advances in cellulose and chitosan based membranes for water purification: a concise<br />
review. Carbohydrate Polymers, v. 146, p. 148-165, 2016. https://doi.org/10.1016/j.carbpol.2016.03.030<br />
UDDIN, M. K. A review on the adsorption of heavy metals by clay minerals, with special focus on the past decade.<br />
Chemical Engineering Journal, v. 308, p. 438-462, 2017. DOI: 10.1016/j.cej.2016.09.029<br />
VIEIRA, R. Adsorção competitiva dos íons cobre e mercúrio em membranas de quitosana natural e reticulada. 162f.<br />
Tese (Doutorado)–Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.<br />
VIEIRA, R. S.; BEPPU, M. M. Interaction of natural and crosslinked chitosan membranes with Hg (II) ions. Colloids and<br />
Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 279, n. 1, p. 196-207, 2006. DOI: 10.1016/j.colsurfa.2006.01.026<br />
WAN, M. W.; KAN, C. C.; ROGEL, B. D.; DALIDA, M. L. Adsorption of copper (II) and lead (II) ions from aqueous solution<br />
on chitosan-coated sand. Carbohydrate Polymers, v. 80, n. 3, p. 891-899, 2010. DOI: 10.1016/j.carbpol.2009.12.048<br />
WANG, T.; TURHAN, M.; GUNASEKARAN, S. Selected properties of pH-sensitive, biodegradable quitosan poly(vinyl<br />
alcohol) hydrogel. Polymer International, v. 53, p. 991-918, 2004. https://doi.org/10.1002/pi.1461<br />
WANG, J.; CHEN, C. Chitosan-based biosorbents: modification and application for biosorption of heavy metals and<br />
radionuclides. Bioresource Technology, v. 160, p. 129-141, 2014. https://doi.org/10.1016/j.biortech.2013.12.110<br />
WEBSTER, A.; HALLING, M. D.; GRANT, D. M. Metal complexation of chitosan and its glutaraldehyde cross-linked<br />
derivative. Carbohydrate Research, v. 342, n. 9, p. 1189-1201, 2007. https://doi.org/10.1016/j.carres.2007.03.008<br />
WU, F. C.; TSENG, R. L.; JUANG, R. S. A review and experimental verification of using chitosan and its derivatives as<br />
adsorbents for selected heavy metals. Journal of Environmental Management, v. 91, n. 4, p. 798-806, 2010. https://doi.<br />
org/10.1016/j.jenvman.2009.10.018<br />
WU, X.; COBBINA, S. J.; MAO, G.; XU, H.; ZHANG, Z.; YANG, L. A review of toxicity and mechanisms of individual and<br />
mixtures of heavy metals in the environment. Environmental Science and Pollution Research, v. 23, n. 9, p. 8244-8259,<br />
2016. https://doi.org/10.1007/s11356-016-6333-x<br />
YANG, O.; KIM, H. L.; WEON, J. I.; SEO, Y. R. Endocrine-disrupting chemicals: review of toxicological mechanisms<br />
using molecular pathway analysis. Journal of Cancer Prevention, v. 20, n. 1, p. 12-24, 2015. https://dx.doi.<br />
org/10.15430%2FJCP.2015.20.1.12<br />
YONG, S. K.; SHRIVASTAVA, M.; SRIVASTAVA, P.; KUNHIKRISHNAN, A.; BOLAN, N. Environmental applications of chitosan<br />
and its derivatives. In: VOOGT, P. (Org.). Reviews of Environmental Contamination and Toxicology. Springer International<br />
Publishing, 2015. v. 233. p. 1-43.<br />
YONG, S. K.; SKINNER, W. M.; BOLAN, N. S.; LOMBI, E.; KUNHIKRISHNAN, A.; OK, Y. S. Sulfur crosslinks from thermal<br />
degradation of chitosan dithiocarbamate derivatives and thermodynamic study for sorption of copper and cadmium<br />
from aqueous system. Environmental Science and Pollution Research, v. 23, n. 2, p. 1050-1059, 2016. https://doi.<br />
org/10.1007/s11356-015-5654-5<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
115<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 101-115
DOI: 10.5327/Z2176-947820180272<br />
VALORAÇÃO AMBIENTAL DE UM RIO URBANO: UMA APLICAÇÃO DO<br />
MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE EM LAGES, SANTA CATARINA<br />
ENVIRONMENTAL VALUATION OF AN URBAN RIVER: AN APPLICATION OF<br />
THE CONTINGENT VALUATION METHOD IN LAGES, SANTA CATARINA, BRAZIL<br />
Gabriel Nathan<br />
Nicola Mombach<br />
Bolsista de Iniciação Científica,<br />
Universidade do Estado de Santa<br />
Catarina (UDESC) – Lages (SC), Brasil.<br />
Júlia Wahrlich<br />
Engenheira ambiental e mestranda<br />
em Ciências Ambientais, UDESC –<br />
Lages (SC), Brasil.<br />
Ana Paula Coelho Clauberg<br />
Engenheira ambiental e mestranda<br />
em Ciências Ambientais, UDESC –<br />
Lages (SC), Brasil.<br />
Lucas Silveira Beninca<br />
Engenheiro ambiental pela UDESC –<br />
Lages (SC), Brasil.<br />
Flávio José Simioni<br />
Professor do Programa de Pós-<br />
Graduação em Ciências Ambientais<br />
da UDESC – Lages (SC), Brasil.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Flávio José Simioni – Avenida Luiz de<br />
Camões, 2.090 – Conta Dinheiro –<br />
CEP 88520-000 – Lages (SC), Brasil –<br />
E-mail: flavio.simioni@udesc.br<br />
Recebido: 29/06/2017<br />
Aceito: 14/03/2018<br />
RESUMO<br />
O Rio Carahá é um dos principais rios urbanos de Lages, Santa Catarina, cuja<br />
qualidade da água está comprometida pela disposição inadequada de esgoto<br />
sanitário e lixo doméstico. Avenidas contornam suas margens e, frequentemente,<br />
ocorre o transbordo, afetando a população ribeirinha. Em função dessa<br />
problemática, o presente trabalho objetivou estimar o valor ambiental dado pela<br />
população de Lages para sua preservação, por meio de aplicação do método<br />
de valoração contingente (MVC), bem como avaliar as diferenças de percepção<br />
ambiental considerando a estratificação das pessoas de acordo com a sua<br />
relação com o recurso ambiental analisado ou a influência deste no seu dia a dia,<br />
considerando sua localização geográfica. Os dados foram coletados mediante<br />
a aplicação de questionários utilizando-se o método referendum e analisados<br />
por regressão logística (logit) e pela análise de componentes principais (ACP).<br />
Os resultados demonstram disposição a pagar (DAP) negativa para 61% dos<br />
entrevistados, sendo que 48% foram caracterizados como um voto de protesto.<br />
Os valores do benefício individual estimados pela regressão logística foram de<br />
R$ 2,95, considerando toda a amostra, e de R$ 20,18, quando foram retirados<br />
os votos de protesto, indicando forte influência destes nos resultados. A ACP<br />
mostrou-se adequada e proporcionou uma visão mais holística, sobretudo<br />
quando se deseja comparar diferentes grupos sociais que compõem a amostra.<br />
Palavras-chave: recurso hídrico; regressão logística; análise de<br />
componentes principais.<br />
ABSTRACT<br />
The Carahá River is one of the main urban rivers of Lages, Santa Catarina,<br />
Brazil, whose water quality is compromised by the inadequate disposal of<br />
sanitary sewage and household waste. Avenues surround its banks, and often<br />
overflow occurs affecting the riverine population. The objective of this study<br />
was to estimate the environmental value given by the population of Lages for<br />
its preservation through the application of the contingent valuation method<br />
(CVM), as well as to evaluate the differences in environmental perception<br />
considering the stratification of people according to its relation or influence<br />
with the evaluated environmental resource, considering its geographic<br />
location. Data were collected through the application of questionnaires<br />
using the referendum method and analyzed by logit regression and principal<br />
component analysis (PCA). The results show negative willingness to pay<br />
(WTP) for 61% of the interviewees, with 48% being characterized as a “protest<br />
vote”. The value of the individual benefit estimated by the logistic regression<br />
was R$ 2.95, considering the entire sample, and R$ 20.18, when the protest<br />
votes were removed, indicating strong influence of the protest votes in the<br />
results. The PCA was adequate and provided a more holistic view, especially<br />
when the aim is to compare different social groups that make up the sample.<br />
Keywords: water resource; logistic regression; principal component analysis.<br />
116<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
O surgimento das cidades esteve, em grande medida,<br />
vinculado com a relação entre a população e os rios.<br />
No Brasil, estes têm sofrido fortes ações antrópicas,<br />
decorrentes da falta de planejamento urbano e de<br />
ocupações irregulares. Estudos apontam evidências de<br />
que as mudanças climáticas ocorrem principalmente<br />
graças à ação do homem e, independentemente de<br />
antrópicas ou não, elas podem aumentar as chances<br />
de ocorrência e/ou força de eventos naturais extremos<br />
(IPCC, 2013).<br />
Nesse contexto, a relação da população com os rios<br />
urbanos sofre profundas alterações, ou seja, de um<br />
cenário em que os rios eram úteis (pelo fornecimento<br />
de água, alimentos etc.) para outro em que<br />
recebem esgoto e lixo, revertendo-se em problemas<br />
para os moradores ribeirinhos, sobretudo com alagamentos<br />
e inundações. Isso reflete um conflito entre<br />
o desenvolvimento das cidades e a preservação dos<br />
rios urbanos. Contudo, estudos demonstram que a<br />
ligação entre economia e meio ambiente pode ser<br />
vantajosa para ambos, visto que não são mais considerados<br />
como lados opostos a serem escolhidos<br />
(HASSELMANN et al., 2013).<br />
Tendo em vista a dinâmica entre economia e meio<br />
ambiente, Ciriacy-Wantrup (1947) propôs, de forma<br />
pioneira, que a prevenção da erosão do solo geraria<br />
benefícios ao mercado, e que uma maneira de estimar<br />
esses benefícios seria por meio da disposição a<br />
pagar (DAP) de indivíduos. Davis (1963) fez a primeira<br />
aplicação prática do método e, desde então, este foi<br />
aprimorado (ARROW et al., 1993) e tem ganhado popularidade<br />
devido a sua flexibilidade e aplicabilidade<br />
(XIE & ZHAO, 2018).<br />
Modelos econométricos são mais comumente utilizados<br />
para determinar a DAP, levando em consideração<br />
as características dos respondentes, como variáveis socioeconômicas<br />
e outras informações, relacionadas ao<br />
aspecto avaliado (MAJUMDAR et al., 2011; OLIVEIRA<br />
& MATA, 2013; LO & JIM, 2015). A valoração do meio<br />
ambiente tem como propósito incorporar os custos e<br />
benefícios gerados pelas atividades econômicas, para<br />
que os agentes econômicos possam tomar decisões<br />
mais coerentes no que diz respeito à utilização dos recursos<br />
naturais (MATTOS et al., 2000).<br />
INTRODUÇÃO<br />
A abordagem mais utilizada para determinar a DAP<br />
para os bens públicos é o método de valoração contingente<br />
(MVC), que consiste em estimar os valores<br />
econômicos relacionados à DAP ou a aceitar utilizando<br />
respostas às perguntas da pesquisa (OERLE-<br />
MANS et al., 2016). Akhtar et al. (2017) discutem<br />
que a ferramenta apresenta ao consumidor oportunidades<br />
hipotéticas para comprar bens públicos,<br />
contornando certa ausência de mercado real para<br />
eles. Segundo Carson e Hanemann (2005), a valoração<br />
contingente ajuda a identificar o interesse do<br />
público e auxilia na tomada de decisão. Venkatachalam<br />
(2004) discorre sobre a importância do MVC e<br />
sobre a sua aplicabilidade futura, ressaltando que o<br />
instrumento resulta em informações úteis quando é<br />
conduzido de forma cuidadosa.<br />
Integrante da Bacia do Rio Canoas e cruzando o perímetro<br />
urbano de Lages, o Rio Carahá é de grande<br />
importância para o desenvolvimento da cidade, porém<br />
esse recurso natural vem sendo impactado por<br />
diversos problemas ambientais consequentes da reduzida<br />
taxa de saneamento regional e de influências<br />
culturais arraigadas na população, como a disposição<br />
de lixo doméstico nas suas margens. Além disso, possui<br />
uma pequena e insuficiente faixa de mata ciliar,<br />
implicando o agravamento das consequências das<br />
inundações e enchentes que ocorrem em épocas de<br />
chuvas intensas. Reis et al. (2009) observaram que os<br />
dois principais motivos para um evento de enchente<br />
ter ocorrido em 2008 foram a pequena largura da<br />
faixa ciliar do rio e a sua arborização irregular. Ainda,<br />
segundo os mesmos autores, a densidade e a riqueza<br />
das espécies arbóreas nas margens do rio são baixas<br />
e há trechos de até 2 km de extensão destituídos de<br />
espécies nativas.<br />
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho<br />
foi estimar o valor ambiental dado pela população<br />
de Lages à preservação do Rio Carahá, por meio da<br />
aplicação do MVC, bem como avaliar as diferenças<br />
de percepção ambiental considerando a estratificação<br />
das pessoas de acordo com a sua relação com<br />
o recurso ambiental analisado ou a influência deste<br />
no seu dia a dia, considerando sua localização<br />
geográfica.<br />
117<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Mombach, G.N.N. et al.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Área estudada<br />
O Rio Carahá localiza-se no perímetro urbano da cidade<br />
de Lages, Região Serrana de Santa Catarina, e é afluente<br />
do Rio Caveiras, que integra a Bacia Hidrográfica do<br />
Rio Canoas (Figura 1).<br />
O município de Lages possui, segundo dados de 2016<br />
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),<br />
população estimada de 158.732 habitantes e extensão<br />
de 2.631,504 km 2 . A base da economia sustenta-se pela<br />
agricultura e pecuária, com impacto significativo da indústria<br />
madeireira, principalmente pela produção de<br />
papel e celulose. Ainda segundo dados do IBGE (2016),<br />
Lages encerrou o ano de 2014 com produto interno<br />
bruto (PIB) per capita de R$ 26.792,76 e, em 2010, o<br />
índice de desenvolvimento humano (IDH) era de 0,770.<br />
Também de acordo com o IBGE, em 2010, 84,9% da<br />
cidade possuíam esgotamento sanitário adequado, estando<br />
entre as 50 melhores do Estado (de 295 totais) e<br />
800 melhores no país (de 5.570 totais) no quesito.<br />
Em decorrência do processo de urbanização, o Rio Carahá<br />
apresenta rodovias em suas margens e as áreas<br />
próximas são povoadas. É afetado pelo despejo de<br />
esgoto doméstico e industrial ao longo do seu percurso,<br />
bem como pela disposição inadequada de lixo,<br />
o que compromete a qualidade da água e a vida dos<br />
cidadãos, sobretudo em períodos de chuvas intensas,<br />
quando ocorre o transbordo do rio (Figuras 2A<br />
e 2B), provocando alagamentos que atingem as residências<br />
da população ribeirinha. De acordo com Antunes<br />
et al. (2014), a nascente do rio se encontra em uma área<br />
de afloramento e recarga do aquífero guarani, sendo<br />
considerado classe 4 desde a nascente, de acordo com a<br />
Resolução CONAMA nº 357/2005.<br />
54°O 53°O 52°O 51°O 50°O 49°O 48°O<br />
Paraná<br />
Rio Grande do Sul<br />
Rio Grande<br />
do Sul<br />
51°O 50°O<br />
Legenda<br />
Santa Catarina<br />
Bacia Hidrográfica do<br />
Rio Canoas<br />
Oceano<br />
Atlânco<br />
28°S 27°S<br />
6920000 6921000 6922000 6923000 6924000 6925000 6926000 6927000<br />
562000 563000 564000 565000 566000 567000 568000 569000<br />
562000 563000 564000 565000 566000 567000 568000 569000<br />
N<br />
Sistema de Referência SIRGAS 2000 Zona 22 S<br />
Bacia Hidrográfica do Rio Carahá Sistema de Projeção UTM<br />
Rio Carahá<br />
0 0,5 1 2 3 4 km<br />
Figura 1 – Mapa de localização do Rio Carahá.<br />
6920000 6921000 6922000 6923000 6924000 6925000 6926000 6927000<br />
118<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
População e amostra<br />
O tamanho da amostra foi definido para estimar a<br />
proporção de respostas quanto à DAP, considerando<br />
erro máximo de 7%, com nível de confiança de 95%.<br />
Assim, foram entrevistadas, durante o período de setembro<br />
a novembro de 2016 e fevereiro de 2017, 177<br />
pessoas residentes em Lages. Neste estudo, a amostra<br />
foi estratificada em três grupos de interesse:<br />
• Marginal afetado (MA), com n=75, considerados<br />
aqueles que residem próximos ao rio e já sofreram<br />
de alguma maneira com os impactos relacionados<br />
às enchentes e às inundações;<br />
• Marginal não afetado (MNA), com n=69, aqueles<br />
que residem próximos ao curso do rio, porém não<br />
sofrem problemas diretos com a sua influência;<br />
• Distante do rio (DR), com n=33, para aqueles que<br />
residem distantes do curso d’água aqui relacionado<br />
e não sofrem influência direta.<br />
Markantonis et al. (2013) demonstram a importância<br />
de subdividir as amostras dependendo do grau de interesse<br />
em relação ao recurso estudado em vez de utilizar<br />
amostragem aleatória.<br />
Estratégia de coleta de dados e variáveis de análise<br />
Foi aplicado o MVC, utilizando um questionário como<br />
instrumento de coleta de dados, adaptado de Simioni<br />
et al. (2016). Inicialmente, os entrevistados foram<br />
esclarecidos sobre qual era o propósito da pesquisa e<br />
sobre a situação atual do recurso ambiental estudado.<br />
Em seguida, foi obtido o perfil socioeconômico dos entrevistados,<br />
utilizando estas informações como variáveis<br />
explicativas:<br />
• Idade: representa a idade, em anos, da pessoa entrevistada;<br />
• Gênero: atribuído 1 para masculino e 2 para feminino;<br />
• Educação: a variável foi medida considerando o nível<br />
de escolaridade do entrevistado, atribuindo-se 0<br />
para os casos em que o respondente não estudou,<br />
1 para os que apresentaram ensino fundamental<br />
incompleto, 2 para ensino fundamental completo,<br />
A<br />
B<br />
Fonte: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (2017).<br />
Figura 2 – (A) Rio Carahá com vazão normal; (B) Rio Carahá com transbordo.<br />
119<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Mombach, G.N.N. et al.<br />
3 para ensino médio incompleto, 4 para ensino médio<br />
completo, 5 para ensino superior incompleto, 6<br />
para ensino superior completo, 7 para aqueles com<br />
pós-graduação incompleta, 8 para mestrado e 9<br />
para doutorado;<br />
• Renda: representa a renda mensal familiar bruta,<br />
atribuindo-se 0 para os casos em que a família não<br />
possui renda, 1 para as famílias com renda de até<br />
1 salário mínimo (SM), 2 para renda de 1 a 2 SMs,<br />
3 para renda de 2 a 5 SMs, 4 para renda de 5 a<br />
10 SMs, 5 para renda de 10 a 20 SMs, 6 para renda<br />
de 20 a 30 SMs e 7 para as famílias com renda superior<br />
a 30 SMs.<br />
Tratamento estatístico dos dados<br />
Para a identificação do valor destinado ao recurso ambiental,<br />
as informações foram analisadas preliminarmente<br />
por meio de estatísticas descritivas. Posteriormente,<br />
os dados foram submetidos à construção de<br />
modelos de regressão logit, que permite realizar predição<br />
para variáveis dependentes dicotômicas a partir de<br />
um conjunto de variáveis explicativas.<br />
Com o modelo de regressão foi possível identificar<br />
quais variáveis aumentam a probabilidade de os indivíduos<br />
contribuírem. As estimativas de probabilidade<br />
(não lineares) situam-se dentro do intervalo zero e um,<br />
dado que o efeito marginal de uma variável sobre a<br />
probabilidade depende do comportamento de outras<br />
variáveis. O modelo de regressão logit é especificado<br />
pela Equação 1.<br />
1<br />
Logit : p = Pr[Y = 1] = (1)<br />
1 + e<br />
- X´β<br />
Onde:<br />
Y corresponde à variável dependente e indica se o indivíduo<br />
concorda ou não com o valor da DAP proposto<br />
pelo método referendum (0=não; 1=sim);<br />
A DAP dos respondentes para recuperação e manutenção<br />
do Rio Carahá foi considerada como variável<br />
dependente, obtida a partir de uma situação hipotética,<br />
na qual o valor sugerido seria adicionado à<br />
conta de luz do entrevistado. Os valores propostos<br />
foram: R$ 2,00; R$ 5,00; R$ 10,00; R$ 20,00 e<br />
R$ 50,00, utilizando o método referendum, isto é, o<br />
entrevistado respondeu se estaria disposto a contribuir<br />
(0=não; 1=sim) com o valor sugerido. Os valores<br />
foram estipulados com base nos dados obtidos em<br />
uma pré-amostra, em que entrevistas foram feitas<br />
em forma de lances livres. Nesses casos, o campo<br />
“valor” foi deixado em aberto e os entrevistados<br />
manifestavam livremente sua DAP (valor), conforme<br />
suas limitações financeiras e a importância atribuída<br />
ao caso.<br />
Nos casos em que a resposta do entrevistado foi<br />
negativa, questionou-se sobre qual seria a justificativa<br />
para a resposta, motivada por uma limitação<br />
financeira e/ou incapacidade de pagamento ou se<br />
refletia um voto de protesto. De forma complementar,<br />
com o intuito de qualificar a reposta do entrevistado,<br />
buscou-se identificar a percepção dos<br />
entrevistados quanto aos problemas e benefícios<br />
relacionados ao Rio Carahá que afetam sua qualidade<br />
de vida.<br />
X é o conjunto de variáveis independentes (parâmetros)<br />
que influenciam;<br />
Pr é a probabilidade de o indivíduo apresentar DAP positiva;<br />
e<br />
β são os coeficientes dos parâmetros estimados.<br />
O modelo de regressão foi aplicado considerando todas<br />
as variáveis independentes (idade, localização, gênero,<br />
escolaridade, renda e preço), com e sem os votos<br />
de protesto. Para avaliar o poder de predição dos modelos,<br />
foram utilizados: a função log-verossimilhança<br />
Log-Likelihood (-2LL), o R 2 de Cox e Snell e o teste de<br />
Hosmer-Lemeshow (H L<br />
), conforme descrevem Ribas e<br />
Vieira (2011). As regressões foram realizadas no software<br />
Minitab Statistical, versão 16.<br />
Para verificar quais variáveis estavam associadas às respostas<br />
“sim” e “não”, bem como aos diferentes grupos<br />
de localização geográfica — MA, MNA e DR, os dados<br />
também foram submetidos à análise estatística multivariada.<br />
No primeiro caso, o objetivo foi identificar<br />
quais variáveis independentes contribuem para explicar<br />
o comportamento dos indivíduos ao expressarem<br />
120<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
sua DAP; e, no segundo caso, foi distinguir (separar) os<br />
grupos (MA, MNA e DR) a partir de seus componentes<br />
principais, dando igual ênfase a todas as variáveis ao<br />
mesmo tempo. Para a seleção do modelo de resposta,<br />
verificou-se o comprimento do gradiente (resposta em<br />
relação ao eixo), optando-se pela análise de componentes<br />
principais (ACP), usando o software CANOCO,<br />
versão 4.5, conforme metodologia descrita por Ter<br />
Braak e Smilauer (1998).<br />
Os resultados da pesquisa indicaram que 38,98% dos<br />
entrevistados estão dispostos a contribuir para a manutenção<br />
do Rio Carahá, enquanto 61,02% indicaram<br />
DAP zero. As estatísticas descritivas e a participação<br />
percentual das respostas “sim” e “não”, com e sem<br />
os votos de protesto, são apresentadas na Tabela 1.<br />
Observa-se que a retirada dos votos de protesto resultou<br />
na elevação da DAP para 72,63%, sobretudo nos<br />
grupos MA e DR. De maneira geral, os dados revelam<br />
o predomínio de baixo nível de escolaridade e renda<br />
dos entrevistados.<br />
A Figura 3 apresenta a participação percentual de respostas<br />
“sim” de acordo com o preço sugerido. Nota-se<br />
que, para preços de até R$ 20,00, tal variação não foi<br />
preponderante para influenciar a decisão de contribuir<br />
do entrevistado, contudo, houve queda significativa<br />
para o maior preço sugerido.<br />
A alta frequência de respostas “não” (108, totalizando<br />
61,02% dos entrevistados) para DAP foi observada em<br />
estudos similares (SAZ-SALAZAR & GUAITA-PRADAS,<br />
2013; CHEN & HUA, 2015) e classificada em dois motivos<br />
principais: “sem condições financeiras” ou voto<br />
de protesto. O primeiro caso relaciona os entrevistados<br />
que geralmente ganhavam até 2 SMs e não tinham<br />
condições de apresentar DAP positiva, verificada em<br />
22,22% dos entrevistados. No caso dos votos de protesto,<br />
as justificativas apresentadas foram: “o governo<br />
deveria financiar este tipo de investimento” (56,48%);<br />
“não confia na efetivação da contribuição pela organização<br />
não governamental — ONG” (12,04%); “já existem<br />
altas cargas tributárias” (37,04%); “existe muita<br />
corrupção” (7,41%). Com exceção dos votos relacionados<br />
a ONGs (12,04%), o restante dos votos de protesto<br />
(87,94%) está relacionado ao governo e, possivelmente,<br />
foi influenciado pela situação político-econômica<br />
brasileira, gerando desconforto em parte da nação<br />
para com o governo no período em que este estudo<br />
foi realizado. Resultados semelhantes também foram<br />
encontrados por Saz-Salazar e Guaita-Pradas (2013),<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
em que 32,6% das respostas foram consideradas forma<br />
de protesto; e também por Chen e Hua (2015), com<br />
61,7% das respostas apresentando falta de confiança<br />
no governo.<br />
Outro fator levado em consideração foi a possível insegurança<br />
por parte dos entrevistados sobre o resultado<br />
do suposto projeto de manutenção e recuperação do<br />
rio, visto que a iniciativa seria paga pelos participantes.<br />
Van Houtven et al. (2017) citam que a DAP é sensível<br />
à magnitude do projeto em questão, uma vez que, dependendo<br />
da sua apresentação, um interesse maior<br />
poderia ser despertado por parte da população entrevistada,<br />
afetando a DAP. No presente trabalho não houve<br />
manifestação de desconfiança quanto à magnitude<br />
do projeto, porém 12,04% dos moradores não acreditam<br />
na sua execução.<br />
O alto índice de respostas consideradas como nulas<br />
ou votos de protesto é muito comum em trabalhos<br />
que utilizam o MVC (COSTA et al., 2015). Ao analisar<br />
10 trabalhos brasileiros que utilizam a DAP, Costa et al.<br />
(2015) observaram que apenas 3 obtiveram percentuais<br />
de votos de protesto em relação aos de respostas<br />
“não” abaixo de 50%, sugerindo existir uma grande relação<br />
entre a não contribuição e a desconfiança do respondente<br />
com o poder público ou, ainda, a alta carga<br />
tributária já existente.<br />
Os resultados do modelo de regressão logit, com<br />
e sem votos de protesto, são apresentados na Tabela<br />
2. As variáveis significativas foram: idade, localização<br />
e preço (p
Mombach, G.N.N. et al.<br />
Variável<br />
Tabela 1 – Participação percentual e estatísticas descritivas das<br />
variáveis explicativas para a valoração do Rio Carahá, com e sem votos de protesto.<br />
Categorias da<br />
variável<br />
Com votos de protesto (n=177)<br />
122<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129<br />
Sem votos de protesto (n=95)<br />
Sim (38,98%) Não (61,02%) Sim (72,63%) Não (27,37%)<br />
Idade (µ; σ) -- 39,94 (15,28) 47,67 (19,95) 39,94 (15,28) 52,23 (17,67)<br />
Localização (%) 1 MNA 10,73 28,25 20,00 21,05<br />
MA 20,34 22,03 37,89 6,32<br />
DR 7,91 10,73 14,74 0,00<br />
Escolaridade (%) 1 Médio completo 9,04 10,73 16,84 4,21<br />
Analfabeto 0,00 0,56 0,00 1,05<br />
Fundamental<br />
incompleto<br />
9,04 20,90 16,84 16,84<br />
Fundamental<br />
completo<br />
4,52 7,34 8,42 2,11<br />
Médio<br />
incompleto<br />
3,95 5,08 7,37 1,05<br />
Superior<br />
incompleto<br />
5,65 9,04 10,53 2,11<br />
Superior<br />
completo<br />
5,08 3,39 9,47 0,00<br />
Pós-graduação 1,69 3,39 3,16 0,00<br />
Mestrado 0,00 0,56 0,00 0,00<br />
Doutorado 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Renda (%) 1 2 a 5 SMs 19,21 17,51 35,79 3,16<br />
5 a 10 SMs 2,26 4,52 4,21 1,05<br />
Nenhuma renda 0,00 0,56 0,00 1,05<br />
Até 1 SM 11,30 22,03 21,05 18,95<br />
1 a 2 SMs 5,08 14,12 9,47 5,26<br />
10 a 20 SMs 0,56 2,26 1,05 0,00<br />
20 a 30 SMs 0,56 0,00 1,05 0,00<br />
Mais de 30 SMs 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Gênero (%) 1 Masculino 21,47 28,25 40,00 7,37<br />
Feminino 17,51 32,77 32,63 20,00<br />
Preço (%) 1 R$ 10,00 11,86 7,91 22,11 3,16<br />
R$ 2,00 10,17 12,43 18,95 3,16<br />
R$ 5,00 6,78 14,69 12,63 7,37<br />
R$ 20,00 7,91 11,86 14,74 5,26<br />
R$ 50,00 2,26 14,12 4,21 8,42<br />
µ: média; σ: desvio padrão; MA: marginal afetado; MNA: marginal não afetado; DR: distante do rio; SM: salário-mínimo; 1 Os dados representam<br />
as parciais da participação percentual obtida em “sim” e “não”, por exemplo: a soma dos grupos MA (20,34%), MNA (10,73%) e DR (7,91%) totaliza<br />
38,98% de resposta “sim”, com votos de protesto.
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
70,0%<br />
Porcentagem de respostas “sim”<br />
60,0%<br />
50,0%<br />
40,0%<br />
30,0%<br />
20,0%<br />
10,0%<br />
0,0%<br />
R$2,00 R$5,00 R$10,00 R$20,00 R$50,00<br />
Preço sugerido pelo método referendum<br />
Figura 3 – Porcentagem de respostas “sim” de acordo com o valor sugerido pelo método referendum.<br />
Variáveis<br />
Tabela 2 – Regressão logit para a valoração do Rio Carahá, com e sem os votos de protesto.<br />
Regressão logit<br />
Modelo 1<br />
Com votos de protesto (n=177)<br />
Modelo 2<br />
Sem votos de protesto (n=95)<br />
Coeficiente Wald valor p Coeficiente Wald Valor p<br />
Constante 2,111 2,14 0,032 6,176 2,85 0,004<br />
Idade -0,027 -2,51 0,012 -0,047 -2,34 0,019<br />
Localização -0,455 -1,95 0,050 -1,417 -2,53 0,011<br />
Gênero -0,274 0,80 0,423 -1,157 -1,72 0,086<br />
Escolaridade 0,001 0,01 0,990 0,445 1,72 0,086<br />
Renda 0,136 0,73 0,463 0,618 1,51 0,132<br />
Preço -0,035 -3,02 0,003 -0,067 -3,01 0,003<br />
-2LL -107,245 (p
Mombach, G.N.N. et al.<br />
A análise do poder preditivo dos modelos pelo valor<br />
de -2LL revelou significância estatística (p0,05) entre os valores preditos<br />
e os observados; logo, os modelos produzem estimativas<br />
confiáveis. Por fim, o modelo 1 apresenta 69,8% de<br />
probabilidade de resultados corretamente preditos e o<br />
modelo 2 chega a 88%.<br />
Considerando somente as variáveis significativas<br />
(p
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
Não se identifica associação dos grupos de localização<br />
geográfica (MA, MNA e DR) com a DAP na presença dos<br />
votos de protesto (Figura 4A); contudo, com a retirada<br />
desses (Figura 4B), há clara relação entre o grupo DR e<br />
a DAP “sim”, bem como dos grupos MA e MNA com a<br />
resposta “não” ao método referendum.<br />
Oliveira e Mata (2013) afirmaram que uma minoria é<br />
apta de senso crítico e tende a não contribuir para a<br />
manutenção e revitalização do recurso natural, devido<br />
à alta carga tributária que já paga e à presença de<br />
corrupção e desvio de dinheiro vivenciadas atualmente<br />
no Brasil. Markantonis et al. (2013) afirmaram também<br />
que a DAP possui relação com a renda do indivíduo e se<br />
o mesmo é diretamente afetado ou não pela enchente,<br />
como também pelo nível de conhecimento do problema.<br />
Outra semelhança entre os estudos é evidenciada<br />
na disparidade do valor da DAP (preço) com as respostas<br />
“sim”, quando o valor mais citado não foi um dos<br />
menores possíveis e a variável “preço” não demonstra<br />
relação direta com a resposta “sim” ou “não”.<br />
A análise dos dados descritivos considerando as diferentes<br />
percepções dos grupos avaliados quanto à sua<br />
localização geográfica (MA, MNA e DR) é apresentada<br />
na Tabela 3. Constata-se que os grupos MA e DR apresentaram<br />
comportamento semelhante quanto à DAP,<br />
com 48 e 42,42% de respostas “sim”, respectivamente.<br />
Por outro lado, o grupo MNA foi o que apresentou a<br />
menor contribuição, com 72,46% respondendo “não”.<br />
A análise dos dados da Tabela 3 evidencia que o grupo<br />
MA é o que apresenta os menores níveis de escolaridade<br />
e renda, e esses indicadores melhoram à medida<br />
que se afasta do rio, revelando que a população próxima<br />
dali é mais carente.<br />
A ACP resultou em diferentes associações entre<br />
os grupos avaliados e as variáveis respostas quando<br />
os votos de protesto são excluídos das análises.<br />
Na primeira situação, com os votos de protesto<br />
(Figura 5A), os entrevistados distantes do rio (DR) diferenciaram-se<br />
dos demais caracterizados por aqueles<br />
com maior idade e do sexo feminino. Entretanto,<br />
sem os votos de protesto (Figura 5B), os três grupos<br />
avaliados foram diferentes entre si. Nessa situação,<br />
o grupo DR caracteriza-se por escolaridade e renda<br />
maiores, conferindo maior DAP, o que reflete maior<br />
percepção ambiental.<br />
Nota-se que os resultados comparados por grupo de<br />
localização geográfica também foram significativamente<br />
afetados pelos votos de protesto. Para o grupo MA,<br />
33 respostas dos 39 participantes que apresentaram<br />
DAP negativa, ou seja, 84,6%, configuraram-se como<br />
voto de protesto. Para os grupos MNA e DR, os valores<br />
foram de 60 e 100%, respectivamente. Assim, a alta<br />
incidência de votos de protesto explica a alteração dos<br />
resultados demonstrados na Figura 5, tal como evidenciado<br />
por Lo e Jim (2015).<br />
Em relação aos problemas ligados ao Rio Carahá, as<br />
enchentes foram apontadas por 118 entrevistados<br />
(66,7% da amostra) como o principal. A propagação de<br />
vetores de doenças e o mau cheiro foram elencados<br />
por 92 entrevistados (52% da amostra). Conforme relatam<br />
Antunes et al. (2014), o odor ruim é proveniente<br />
do descarte inadequado de lixo e esgoto.<br />
Quanto aos benefícios, foram apontadas as facilidades<br />
proporcionadas pelo trânsito na Avenida Belizário<br />
Ramos, às margens do rio, por 42 entrevistados<br />
(23,7%), seguido do lazer (11,3%) e do uso da<br />
ciclovia (8%). Cerca de 25% dos entrevistados não<br />
relataram qualquer problema ou benefício proporcionado<br />
pelo rio.<br />
Considerando a análise das respostas dos entrevistados<br />
relacionadas aos problemas e benefícios proporcionados<br />
pelo rio, fica evidente que os moradores não<br />
percebem seus atributos ambientais como um recurso<br />
natural, seja pelas funções ambientais ou pelas funções<br />
urbanas relacionadas à água, o que explica a alta porcentagem<br />
de respostas “não” ao método referendum<br />
e a alta incidência de votos de protesto, delegando ao<br />
poder público a responsabilidade pela preservação do<br />
rio. Assim, caracterizam-se as dificuldades relacionadas<br />
à preservação de rios urbanos, em função do que<br />
eles representam para a população.<br />
A discussão da preservação dos recursos hídricos tem<br />
sido cada vez mais acentuada nos últimos anos. Os<br />
CONCLUSÃO<br />
rios representam fonte de água para abastecimento<br />
humano (via rede pública), sobretudo para as popu-<br />
125<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Mombach, G.N.N. et al.<br />
Variável<br />
Idade (µ; σ)<br />
Tabela 3 – Participação percentual e estatísticas descritivas das<br />
variáveis explicativas considerando os grupos de localização em relação ao Rio Carahá.<br />
Categorias<br />
da variável<br />
MA (n=75) MNA (n=69) DR (n=33)<br />
Sim (48%) Não (52%)<br />
Sim Não Sim Não<br />
(27,54%) (72,46%) (42,42%) (57,58%)<br />
40,44 48,92 45,03 50,58 45,30 45,29<br />
(16,56) (19,10) (18,54) (20,21) (18,90) (18,53)<br />
Médio<br />
Escolaridade<br />
(%) 12,00 14,67 8,70 10,14 3,03 3,03<br />
1<br />
Superior<br />
2,67 5,33 1,45 8,70 21,21 18,18<br />
incompleto<br />
Analfabeto 0,00 1,33 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Fundamental<br />
incompleto<br />
17,33 17,33 4,35 34,78 0,00 0,00<br />
Fundamental<br />
completo<br />
8,00 4,00 2,90 7,25 0,00 15,15<br />
Médio<br />
incompleto<br />
1,33 4,00 4,35 5,80 9,09 6,06<br />
Superior<br />
completo<br />
5,33 2,67 2,90 2,90 9,09 6,06<br />
Pósgraduação<br />
1,33 1,33 2,90 2,90 0,00 9,09<br />
Mestrado 0,00 1,33 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Doutorado 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Nenhuma<br />
renda<br />
0,00 0,00 0,00 1,45 0,00 0,00<br />
Até 1 SM 17,33 22,67 5,80 30,43 9,09 0,00<br />
1 a 2 SMs 5,33 9,33 5,80 18,84 3,03 15,15<br />
Renda (%) 1 2 a 5 SMs 22,67 14,67 13,04 18,84 24,24 24,24<br />
5 a 10 SMs 2,67 2,67 1,45 2,90 3,03 12,12<br />
10 a 20 SMs 0,00 2,67 0,00 0,00 3,03 6,06<br />
20 a 30 SMs 0,00 0,00 1,45 0,00 0,00 0,00<br />
Mais de 30<br />
SMs<br />
0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00<br />
Masculino 22,67 20,00 14,50 33,33 33,33 36,36<br />
Gênero (%) 1 Feminino 25,33 32,00 13,04 39,13 9,09 21,21<br />
Preço (%) 1 R$ 10,00 12,00 6,67 8,70 18,84 18,18 3,03<br />
R$ 2,00 12,00 8,00 7,25 1,45 12,12 15,15<br />
R$ 5,00 6,67 16,00 7,25 30,43 6,06 9,09<br />
R$ 20,00 12,00 8,00 4,35 18,84 6,06 18,18<br />
R$ 50,00 5,33 13,33 0,00 2,90 0,00 12,12<br />
µ: média; σ: desvio padrão; MA: marginal afetado; MNA: marginal não afetado; DR: distante do rio; SM: salário-mínimo; 1 Os dados representam<br />
as parciais da participação percentual obtida em “sim” e “não”, por exemplo: a soma dos gêneros masculino (22,67%) e feminino (25,33%) totaliza<br />
48% de resposta “sim” para o grupo MA.<br />
126<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
-2,0 CP 2 (19,5%)<br />
2,0<br />
DP Sim<br />
MNA<br />
MA<br />
Escolaridade<br />
Renda<br />
Gênero<br />
Preço<br />
-2,0 CP 1 (34,8%)<br />
Idade<br />
DR<br />
1,5<br />
2,0<br />
CP 2 (20,0%)<br />
-1,5<br />
Renda<br />
Escolaridade<br />
DR<br />
DP Sim<br />
MA<br />
Preço<br />
Gênero<br />
MNA<br />
Idade<br />
-1,5 2,0<br />
CP 1 (38,8%)<br />
MA: marginal afetado; MNA: marginal não afetado; DR: distante do rio.<br />
Figura 5 – Relação entre os componentes principais, em (A) com votos de protesto<br />
e em (B) sem votos de protesto, discriminando os diferentes grupos de localização dos entrevistados<br />
e suas variáveis respostas (idade, gênero, preço, renda, escolaridade e disposição a pagar “sim”).<br />
lações urbanas; contudo, sofrem diferentes tipos de<br />
impactos decorrentes da atividade antrópica. A valoração<br />
desses recursos naturais é uma das ferramentas<br />
que podem refletir sua importância no cenário<br />
das políticas públicas que envolvem esforços para sua<br />
recuperação e preservação. Nesse contexto, os objetivos<br />
deste estudo foram estimar o valor ambiental<br />
dado pela população de Lages para a preservação do<br />
Rio Carahá, por meio da aplicação do MVC, e avaliar<br />
as diferenças de percepção ambiental considerando a<br />
estratificação das pessoas de acordo com a sua relação<br />
com o recurso ambiental analisado ou a influência<br />
deste no seu dia a dia.<br />
Na estimativa do valor ambiental, a DAP foi negativa<br />
para 61% dos entrevistados, sendo que 48% representavam<br />
voto de protesto. O modelo logit resultou em<br />
estimativa do valor do benefício individual de R$ 2,95,<br />
considerando toda a amostra, e de R$ 20,18, quando<br />
foram retirados os votos de protesto, melhorando significativamente<br />
o poder preditivo do modelo. Na maior<br />
parte dos casos, o protesto esteve vinculado à obrigação<br />
do governo para com a preservação do recurso<br />
ambiental estudado. O impacto nos resultados também<br />
foi percebido pela ACP, sobretudo quando foram<br />
comparados os grupos de localização geográfica em<br />
relação ao rio. Sem os votos de protesto, o grupo DR,<br />
com maior renda e escolaridade, apresentou melhor<br />
percepção ambiental (maior associação à DAP “sim”).<br />
A ACP usada no presente trabalho, associada aos modelos<br />
de regressão logística, mostrou-se excelente ferramenta<br />
estatística para demonstrar as relações existentes<br />
entre a DAP e as variáveis respostas, bem como para entender<br />
o comportamento de diferentes grupos da amostra.<br />
Assim, possibilita uma visão mais abrangente das relações<br />
entre as variáveis, sendo recomendado o seu uso<br />
para outros estudos nesta área do conhecimento.<br />
127<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Mombach, G.N.N. et al.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AKHTAR, S.; SALEEM, W.; NADEEM, V. M.; SHAHID, I.; IKRAM, A. Assessment of willingness to pay for improved air<br />
quality using contingent valuation method. Global Journal of Environmental Science and Management, v. 3, n. 3, p.<br />
279-286, 2017. DOI: 10.22034/gjesm.2017.03.03.005<br />
ANTUNES, C. M. M.; BITTENCOURT, S. C.; RECH, T. D.; OLIVEIRA, A. C. Qualidade das águas e percepção de moradores<br />
sobre um rio urbano. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n. 32, p. 75-87, 2014.<br />
ARROW, K. J.; SOLOW, R.; PORTNEY, P. R.; LEAMER, E. E.; RADNER, R.; SCHUMAN, H. Report of the national oceanic and<br />
atmospheric administration (NOAA) panel on contingent valuation. Federal Register, v. 58, n. 10, p. 4601-4614, 1993.<br />
CARSON, R.; HANEMANN, W. M. Contingent valuation. Handbook of Environmental Economics, v. 2, p. 821-936, 2005.<br />
https://doi.org/10.1016/S1574-0099(05)02017-6<br />
CHEN, W. Y.; HUA, J. Citizens’ distrust of government and their protest responses in a contingent valuation study<br />
of urban heritage trees in Guangzhou, China. Journal of Environmental Management. v. 155, p. 40-48, 2015. DOI:<br />
10.1016/j.jenvman.2015.03.002<br />
CIRIACY-WANTRUP, S. V. Capital returns from soil conservation practices. Journal of Farm Economics, v. 29, n. 4 parte II,<br />
p. 1181-1196, 1947. DOI: 10.2307/1232747<br />
COSTA, M. E. L. da; MELO E SOUZA, R. A. T. de; RIBEIRO, A. R.; PASA, M. C. Respostas de protesto na disposição a pagar<br />
espontânea e induzida nas técnicas de lances livres e referendo pelo método de valoração contingente. Biodiversidade,<br />
v. 14, n. 1, p. 117-144, 2015.<br />
COSTA, M. E. L.; SOUZA, R. A. T. de M. Utilização de variáveis binárias como explicativas para a disposição a pagar manifestada<br />
pelos frequentadores de uma unidade de conservação urbana em Cuiabá – MT. Biodiversidade, v.15, n. 2, p. 62-74, 2016.<br />
DAVIS, R. K. The value of outdoor recreation: an economic study of the maine woods. Dissertação (Doutorado) –<br />
Universidade de Harvard, Cambridge, 1963.<br />
DZIEGIELEWSKA, D. A.; MENDELSOHN, R. Does “No” mean “No”. Environmental and Resource Economics, p. 71-87,<br />
2007. DOI: 10.1007/s10640-006-9057-4<br />
HASSELMANN, K.; JAEGER, C.; LEIPOLD, G.; MANGALAGIU, D.; TÁBARA, J. D. Reframing the problem of climate change:<br />
from zero sum game to win–win solutions. Nova York: Routledge, 2013.<br />
HILDEBRAND, E.; GRAÇA, L. R.; HOEFLICH, V. A. “Valoração contingente” na avaliação econômica de áreas verdes<br />
urbanas. Revista Floresta, v. 32, n. 1, p. 121-132, 2002. http://dx.doi.org/10.5380/rf.v32i1.2353<br />
HOSMER JUNIOR, D. W.; LEMESHOW, S.; STURDIVANT, R. X. Applied logistic regression. John Wiley & Sons, 2013. v. 398.<br />
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades, 2016. 2016. Disponível em: . Acesso em: 10 maio 2017.<br />
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Climate Change 2013: the physical science basis.<br />
Contribution of working group I to the fifth assessment report of the intergovernmental panel on climate change.<br />
Cambridge/New York: University Press, 2013.<br />
JUSTO, W. R.; RODRIGUES, C. P. B. Valoração econômica do Parque Ecológico Estadual do Sítio Fundão, Crato, CE.<br />
Revista de Política Agrícola, n. 1, p. 4-17, 2014.<br />
LO, A. Y.; JIM, C. Y. Protest response and willingness to pay for culturally significant urban trees: Implications for<br />
Contingent Valuation Method. Ecological Economics, v. 114, p. 58-66, 2015. DOI: 10.1016/j.ecolecon.2015.03.012<br />
128<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129
Valoração ambiental de um rio urbano: uma aplicação do método de valoração contingente em Lages, Santa Catarina<br />
MAJUMDAR, S.; DENG, J.; ZHANG, Y.; PIERSKALLA, C. Using contingent valuation to estimate the willingness of tourists<br />
to pay for urban forests: a study in Savannah, Georgia. Urban Forestry & Urban Greening, v. 10, n. 4, p. 275-280, 2011.<br />
DOI: 10.1016/j.ufug.2011.07.006<br />
MARKANTONIS, V.; MEYER, V.; LIENHOOP, N. Evaluation of the environmental impacts of extreme floods in the Evros River<br />
basin using contingent valuation method. Natural Hazards, v. 69, n. 3, p. 1535-1549, 2013. DOI: 10.1007/s11069-013-0762-3<br />
MATTOS, K. M. da C.; FERRETI FILHO, N. J.; MATTOS, A. Uma abordagem conceitual sobre a valoração econômica de<br />
recursos naturais. In: SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SOCIOECONÔMICOS DO PANTANAL, 3. Anais... Mato<br />
Grosso do Sul, 2000.<br />
NOGUEIRA, J. M.; MEDEIROS, M. A. A.; ARRUDA, F. S. T. Valoração econômica do meio ambiente: ciência ou empiricismo?<br />
Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 17, n. 2, p. 81-115, 2000.<br />
OERLEMANS, L. A. G.; CHAN, K. Y.; VOLSCHENK, J. Willingness to pay for green electricity: a review of the contingent<br />
valuation literature and its sources of error. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 66, p. 875-885, 2016. DOI:<br />
10.1016/j.rser.2016.08.054<br />
OLIVEIRA, K. T. L. L.; MATA, H. T. da C. Qual o valor de uma praia limpa? Uma aplicação do método de valoração contingente<br />
no bairro Rio Vermelho, Salvador-BA. In: ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA, 9., Salvador. Anais... Salvador: UFB/SEI, 2013.<br />
REIS, C. A. M.; SILVA, A. C.; HIGUCHI, P.; SOUZA, S. T.; FERREIRA, C. J. S. M.; MICHELON, B.; MORO, L. Diagnóstico da<br />
vegetação arbórea e proposta de arborização do Rio Carahá na cidade de Lages, SC. Revista da Sociedade Brasileira de<br />
Arborização Urbana, v. 4, n. 3, p. 130-142, 2009.<br />
RIBAS, J. R.; VIEIRA, P. R. da C. Análise multivariada com o uso do SPSS. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2011.<br />
SAZ-SALAZAR, S. del; GUAITA-PRADAS, I. The drovers’ routes as environmental assets: a contingent valuation approach.<br />
Land Use Policy, v. 32, p. 78-88, 2013. DOI: 10.1016/j.landusepol.2012.10.006<br />
SILVEIRA, V. C.; CIRINO, J. F.; PRADO FILHO, J. F. do. Valoração econômica da área de proteção ambiental estadual da Cachoeira<br />
das Andorinhas – MG. Revista Árvore, v. 37, p. 257-266, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-67622013000200007<br />
SIMIONI, F. J.; MOMBACH, G. N. N.; DONADEL, C.; ALVARENGA, R. A. F. Environmental valuation of an artificial lake in<br />
Brazil: an application of the contingent valuation method. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, v. 42, p. 121-132,<br />
2016. DOI: 10.5327/Z2176-947820160170<br />
TER BRAAK, C. J. F.; SMILAUER, P. C. Reference manual and user’s guide to Canoco for windows: software for canonical<br />
community ordination (version 4). Nova York: Microcomputer Power, 1998.<br />
VAN HOUTVEN, G. L.; PATTANAYAK, S. K.; USMANI, F.; YANG, J. C. What are households willing to pay for improved<br />
water access? Results from a meta-analysis. Ecological Economics, v. 136, p. 126-135, 2017. DOI: 10.1016/j.<br />
ecolecon.2017.01.023<br />
VENKATACHALAM, L. The contingent valuation method: a review. Environmental Impact Assessment Review, v. 24, n. 1,<br />
p. 89-124, 2004. DOI: 10.1016/S0195-9255(03)00138-0<br />
XIE, B. C.; ZHAO, W. Willingness to pay for green electricity in Tianjin, China: Based on the contingent valuation method.<br />
Energy Policy, v. 114, p. 98-107, 2018. DOI: 10.1016/j.enpol.2017.11.067<br />
© 2018 Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental<br />
Este é um artigo de acesso aberto distribuído nos termos de licença Creative Commons.<br />
129<br />
<strong>RBCIAMB</strong> | n.47 | mar 2018 | 116-129