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BRASIL COMBATE MAGAZINE | EDIÇÃO #3 | MAIO 2018

Revista digital especializada em esportes de combate, com periodicidade bimestral. Na terceira edição da revista Brasil Combate, abordaremos a história de um que exporta seus atletas de jiu jitsu para o mundo. Foi-se o tempo em que viver profissionalmente do jiu jitsu era um sonho distante. A constatação é um reflexo de como a nova geração tem investido em viver do esporte, tornando o hobby mais profissional e competitivo. Hoje, o cenário no Brasil permite isso. O esporte cresceu em termos de organização, estrutura e investimento e a tendência é que o crescimento continue. Sobre o assunto, conversamos com o faixa preta da Atos Jiu Jitsu, Lucas “Hulk” Barbosa, represente da nova geração de campeões do jiu jitsu brasileiro.

Revista digital especializada em esportes de combate, com periodicidade bimestral. Na terceira edição da revista Brasil Combate, abordaremos a história de um que exporta seus atletas de jiu jitsu para o mundo. Foi-se o tempo em que viver profissionalmente do jiu jitsu era um sonho distante. A constatação é um reflexo de como a nova geração tem investido em viver do esporte, tornando o hobby mais profissional e competitivo. Hoje, o cenário no Brasil permite isso. O esporte cresceu em termos de organização, estrutura e investimento e a tendência é que o crescimento continue. Sobre o assunto, conversamos com o faixa preta da Atos Jiu Jitsu, Lucas “Hulk” Barbosa, represente da nova geração de campeões do jiu jitsu brasileiro.

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Edição <strong>#3</strong> • Ano I • Maio <strong>2018</strong><br />

<strong>BRASIL</strong><br />

<strong>COMBATE</strong><br />

M A G A Z I N E<br />

MADE IN<br />

<strong>BRASIL</strong>:<br />

ATLETAS PARA EXPORTAÇÃO<br />

ABRINDO<br />

O JOGO<br />

NILSON LIBONI, DA EQUIPE<br />

GRACIE HUMAITÁ<br />

QUARTEL<br />

GENERAL<br />

GRACIE BARRA BRASÍLIA<br />

EXCLUSIVA COM LUCAS BARBOSA “HULK”, ATLETA DA ATOS JIU JITSU


20<br />

ÍNDICE<br />

04 Quartel General - QG<br />

Gracie Barra Brasília.<br />

06 Mulheres de luta<br />

Nina Moura.<br />

10<br />

10 A bela é fera<br />

Ingrid Brasil.<br />

12 Capa<br />

Made in Brazil: Atletas para exportação.<br />

36<br />

16 Conditioning Training<br />

Fortalecimento de quadril e abdômen.<br />

28<br />

12<br />

16<br />

18 Medalhou<br />

Leonardo Junior (Cícero Costha).<br />

20 Pratas da casa<br />

Bernardo Pitel (Nova União).<br />

20 Por dentro das regras<br />

A importância da regra.<br />

24 Enciclopédia<br />

Mestre Stanlei Virgilio.<br />

27 Alimentação afiada<br />

A polêmica do óleo de coco.<br />

28 Superação<br />

Farlley Milioni.<br />

30 Abrindo o jogo<br />

Nilson Liboni (Gracie Humaíta).<br />

32 Feras do MMA<br />

O legado de Victor Belfort.<br />

33 Siga<br />

Os influentes do instagram.<br />

34 Fisioterapia Esportiva<br />

Recovery e os principais recursos.<br />

36 Cobertura<br />

Internacional Grappling Jiu Jitsu.<br />

2 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


EDITORIAL<br />

Já parou para pensar que a greve dos caminhoneiros pode ser<br />

um alerta para nós, lutadores?<br />

Enquanto fechávamos esta edição, a greve dos caminhoneiros<br />

entrava no quinto dia, mostrando muita força. A paralisação<br />

ganhou apoio popular, tendo em vista a legitimidade de sua<br />

reivindicação: abaixar o preço do diesel. É claro que a falta de<br />

circulação de mercadorias é incômoda e traz diversas consequências,<br />

principalmente econômicas, e surge a possibilidade<br />

de desabastecimento, a depender da duração da greve. Mas, e<br />

aí: vale a pena não se conformar?<br />

Depois da resistência e das consequências, o resultado: reivindicação<br />

atendida. Com isso, fica a reflexão: vale sim a pena<br />

se movimentar em busca de mudanças. No contexto da arte<br />

suave, talvez seja o momento para pleitear melhorias com as<br />

federações e os organizadores de eventos dos esportes de<br />

combate. Será mesmo legítimo fazê-lo, tendo em vista termos<br />

tão poucos eventos em nosso país? Sim, pois o contexto mudou<br />

— antes, eram poucos atletas competidores, mas hoje há<br />

muito mais, competindo e pagando inscrições, o que significa<br />

mais arrecadação.<br />

Diante disso, por que não abaixam o valor das inscrições, democratizando<br />

o esporte? Porque a principal federação de jiu<br />

jitsu do país não permite. Por que um percentual dos valores<br />

arrecadados não retorna como investimento na arte suave?<br />

Não é um absurdo pensar em mobilizações contra esta conduta.<br />

É claro que um abafa logo seria promovido e professores de<br />

grandes academias receberiam uma cota maior pela quantidade<br />

de inscritos. Opa, isso já não acontece? Não se engane, leitor:<br />

o mundo é business. O mais intrigante é que algumas equipes<br />

deixam claro em suas regras que, nos eventos da federação Y,<br />

é preciso a participação de um percentual de competidores por<br />

academia franqueada, em troca de algumas benesses.<br />

Em meio a tantas crises, os lutadores são desrespeitados por<br />

quem deveria justamente valorizá-los. Campeonatos sem premiações<br />

decentes, empresários que não têm "condições" e nem<br />

a cultura de patrocinar atletas, um governo que não investe nos<br />

esportes de combate. Há ainda as federações que pensam como<br />

empresas, visando unicamente o lucro, mesmo a despeito da<br />

transparência. Sem adentrar o mérito desta polêmica, usando<br />

as palavras do entrevistado Eliezer Dutra “Piezi”, na sessão QG,<br />

um dia a casa cai.<br />

De tudo, a conclusão é que o Brasil poderia ser um país com<br />

maior aproveitamento de seus atletas e menos exportação deles.<br />

Atualmente, contudo, isso não é possível, já que nossos atletas<br />

não têm incentivo para treinar, competir e viver do jiu jitsu —<br />

e não para o jiu jitsu. Você acha mesmo que os profissionais<br />

que vivem fora do país não queriam estar próximos dos seus<br />

parentes? A vida lá fora não é fácil, mas ainda é melhor do que<br />

a que os atletas enfrentam todos os dias no Brasil.<br />

Editor Chefe<br />

Wesley Moura<br />

editor@brasilcombate.com.br<br />

Comercial<br />

comercial@brasilcombate.com.br<br />

Revisão<br />

Mariana Moura<br />

Colaboradores<br />

Bruno Santos, Fábio Quio, Kleber<br />

Santos, Michael Nunes, Sabrina<br />

Cavalcanti, Vandeir Silva e Vinícius<br />

Bispo<br />

Editor de Fotografia<br />

Jack Taketsugo<br />

Foto capa<br />

Ivo Ribeiro - CG Artist<br />

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Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 3


QG - GRACIE BARRA BRASÍLIA<br />

Michael Nunes<br />

Repórter<br />

@maikin_nunes<br />

Olíder da Gracie Barra<br />

Brasília e entorno,<br />

Eliezer Dutra, mais<br />

conhecido como Piezi,<br />

é o personagem da sessão Quartel<br />

General. Com mais de 40 anos dedicados<br />

ao jiu jitsu, nesta entrevista<br />

ele abre o jogo sobre o racha que<br />

existe na equipe. Fala ainda que, se<br />

não fosse a atitude tomada anos<br />

atrás, provavelmente hoje não haveria<br />

Gracie Barra na capital federal.<br />

Piezi está à frente da equipe desde<br />

o ano 2000 e afirma: ilude-se quem<br />

acha que a Gracie Barra não tem<br />

subversões internas. Sua liderança<br />

por vezes é questionada e, por isso,<br />

entra em conflito com a opinião de<br />

alguns membros, evidenciando um<br />

racha interno, cena já vista em outras<br />

épocas da escola. De opinião firme<br />

e mesmo com as divergências, tem<br />

consciência da responsabilidade que<br />

é liderar uma grande equipe.<br />

Pieze já graduou mais de setenta<br />

atletas a faixa preta, entre eles alguns<br />

campeões nacionais e internacionais.<br />

Com pulso firme, ele tenta manter a<br />

Gracie Barra Brasília nos trilhos de<br />

vitórias e avanços. Em nosso bate-<br />

-papo, ele fala da pouca estrutura<br />

para o esporte no Brasil e critica a<br />

falta de transparência da Federação<br />

Brasiliense de Jiu Jitsu.<br />

Brasil Combate: Como foi o seu início<br />

no jiu jitsu?<br />

Piezi: Eu treino desde os nove anos<br />

de idade. Meu primeiro mestre foi Ary<br />

Sardela. Na época, só havia quatro<br />

faixas pretas em Brasília. Depois que<br />

ele decidiu ir embora da cidade, comecei<br />

a treinar com o Jucão e ganhei<br />

a faixa preta em 1999.<br />

BC: Até o fim dos anos 90, você<br />

representava a bandeira do Jucão.<br />

Como aconteceu a mudança para a<br />

Gracie Barra?<br />

Piezi: A verdade é que fomos pegos<br />

de surpresa no fim de um treino,<br />

quando o Jucão avisou que estava<br />

indo embora e todos nós ficamos sem<br />

4 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


QG - GRACIE BARRA BRASÍLIA<br />

Foto: Arquivo Pessoal<br />

direção. Eu era o único faixa preta<br />

do Jucão, e ele deixou o comando<br />

da equipe em minhas mãos. Eu não<br />

sabia como iria assumir a responsabilidade.<br />

À época,<br />

eu já morava em<br />

Valparaíso (GO) e<br />

a grande maioria<br />

da equipe morava<br />

em Brasília-DF. O<br />

Fábio Costa, que<br />

era faixa marrom,<br />

foi até o Rio de Janeiro, conversar<br />

com o mestre Carlinhos Gracie, pois<br />

o Jucão foi graduado por ele, e, nesta<br />

reunião com o Carlinhos, foi decidido<br />

que nós iríamos representar a Gracie<br />

Barra Brasília e eu iria ficar como o<br />

"A verdade é que fomos<br />

pegos de surpresa no fim<br />

de um treino, quando o<br />

Jucão avisou que estava<br />

indo embora e todos nós<br />

ficamos sem direção”.<br />

líder da equipe.<br />

BC: A Gracie Barra Brasília possui<br />

academias em várias cidades do<br />

Distrito Federal e tem a fama de ser<br />

um time dividido. O<br />

que acontece nos<br />

bastidores que gera<br />

este ambiente?<br />

Piezi: Sinceramente,<br />

isso acontece por<br />

falta de respeito. É<br />

muito difícil juntar<br />

esses caras, eles, infelizmente, não<br />

entendem. É preciso avançar. Ontem<br />

fomos alunos, hoje somos professores<br />

e donos de academias. Enquanto<br />

houver troca de vaidade e orgulho, a<br />

união é inviável. Acredito que, se você<br />

é mais graduado que o outro, tem de<br />

haver respeito, ter a consciência de<br />

que há espaço para todos crescerem<br />

em harmonia. Enquanto não houver<br />

uma mudança de pensamento, continuaremos<br />

nesse "bolo rachado".<br />

BC: Quantos alunos tem a Gracie Barra<br />

Brasília e entorno? Quantos atletas<br />

você já graduou a faixa preta?<br />

Piezi: A Gracie Barra Brasília e a do<br />

entorno têm média de 500 alunos.<br />

Até hoje tive o prazer de colocar a<br />

faixa preta na cintura de 71 atletas.<br />

Todos por merecimento e empenho.<br />

BC: Em diversos meios de comunicação,<br />

foi veiculada a notícia de que<br />

a Federação Brasiliense de Jiu Jitsu<br />

estaria envolvida em um possível es-<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 5


cândalo de mais de<br />

R$ 300 mil ilegais.<br />

Qual a sua opinião<br />

sobre o assunto?<br />

Piezi: As federações<br />

são formadas<br />

para criar o registro<br />

do atleta, uma<br />

identidade. E esta identidade tem<br />

que ser desenvolvida. Se o papel<br />

da federação é aumentar o nível<br />

do atleta, as de Brasília estão deixando<br />

a desejar, pois só pensam no<br />

lado financeiro e se esquecem dos<br />

atletas. As premiações quase não<br />

ocorrem e, quando existem, não são<br />

atrativas para os atletas. Quanto à<br />

transparência, uma hora a casa cai.<br />

As federações não prestam contas<br />

do que está acontecendo, das verbas<br />

que estão recebendo e o de como os<br />

valores estão sendo gastos. Apenas<br />

querem fazer eventos grandes, pagar<br />

pouco e encher o bolso de dinheiro.<br />

BC: Falando em competições e em<br />

apoio, a Secretaria de Esportes e<br />

Lazer desenvolve o programa Compete<br />

Brasília, que oferece apoio ao<br />

atleta, custeando as passagens para<br />

os eventos nacionais e internacionais.<br />

Qual a sua análise sobre o programa?<br />

Piezi: O compete Brasília é muito<br />

bom. Eu estive na Câmara Legislativa<br />

lutando por ele. O que falta são algumas<br />

implementações, que há dois<br />

anos estão em processo e também<br />

diminuir a burocracia na entrega<br />

dos documentos. Por exemplo: se o<br />

atleta viaja hoje para lutar no Estados<br />

Unidos e na outra semana para<br />

a Europa, eles pedem os mesmos<br />

documentos. Agora, imagina o atleta<br />

ter de parar sua rotina de treinos para<br />

ir atrás de tudo isso. O que falta é<br />

um cadastro de cada atleta, juntamente<br />

com a Federação de Jiu Jitsu,<br />

o que conferiria mais transparência<br />

e profissionalismo.<br />

BC: O que falta para os atletas brasilienses<br />

se destacarem mais e estarem<br />

entre os melhores do esporte?<br />

Piezi: Oportunidade para expandirem<br />

seu jiu jitsu. O que acontece com<br />

esses caras é que eles têm todo patrocínio,<br />

apoio e suporte por trás, na<br />

"Quanto à transparência,<br />

uma hora a casa cai. As<br />

federações não prestam<br />

contas do que está acontecendo,<br />

das verbas que estão<br />

recebendo e o de como os<br />

valores estão sendo gastos”.<br />

parte física, fisiológica,<br />

alimentação e<br />

despesas. O esporte<br />

hoje se consolidou<br />

e o mundo todo<br />

conhece o jiu jitsu;<br />

os atletas de nome<br />

vivem em prol disso,<br />

se dedicam 24h, apenas para focar<br />

na preparação para os campeonatos.<br />

Falta também apoio para os atletas.<br />

Aqui temos muitos casca-grossa que,<br />

sem dúvida alguma, se tivessem o suporte<br />

necessário, bateriam de frente<br />

com qualquer um. Você acha que o<br />

atleta Gilmar Oliveira era para estar<br />

aqui em Brasília? Nunca, o Gilmar<br />

paga para alguém trabalhar no lugar<br />

dele, para poder viajar e competir.<br />

BC: O que te motiva até hoje no jiu<br />

jitsu?<br />

Piezi: Ver a minha equipe no rumo<br />

das vitórias e ser colaborador deste<br />

processo, que é um trabalho coletivo.<br />

Eu não quero me aparecer. A função<br />

do técnico não é se mostrar, e sim a<br />

de criar talentos. Eu fico por detrás<br />

dos bastidores e, quando vejo a vitória<br />

de qualquer um da Gracie Barra, eu<br />

me sinto realizado.<br />

BC: Hoje você está com 52 anos de<br />

idade e ainda gosta de competir<br />

nos campeonatos. Qual é o segredo<br />

de competir e ainda ser referência<br />

para muitos?<br />

Piezi: Eu acredito que é o amor por<br />

aquilo que faço. Com amor, você<br />

coloca mais valor, vai ao limite. Sem<br />

preguiça e muita boa vontade, respeitando<br />

o próximo e com humildade.<br />

Eu ganho um campeonato<br />

e, na outra<br />

semana, já estou<br />

treinando. Meus<br />

alunos já me viram<br />

treinar machucado,<br />

de pé quebrado,<br />

com gesso, supercílio com ponto.<br />

Eu não faço isso para aparecer, mas<br />

sim para servir de lição de que, ainda<br />

na minha idade, tenho meus alvos<br />

conquistados pela disciplina, amor<br />

e disposição. Sem histórias tristes.<br />

BC: Hoje em dia o jiu jitsu ganhou<br />

muitos adeptos e, no termo atual,<br />

"O Brasil é um seleiro de<br />

atletas casca-grossa. Somos<br />

o país do futebol e<br />

também o do jiu jitsu. A<br />

tendência é exportar mais”.<br />

está um pouco “Nutella”. Como você,<br />

um atleta “raiz”, das antigas da arte<br />

suave, enxerga essa novas geração?<br />

Piezi: Com essa mudança do esporte,<br />

há muitos professores que fazem do<br />

jiu jitsu um “bussiness”. Eu sou muito<br />

antigo, então é um pouco difícil para<br />

mim me moldar a esse padrão contemporâneo.<br />

É duro ver pessoas que<br />

querem ir aos treinos só para mostrar<br />

nas redes sociais que é lutador. Eu<br />

vi que tem curso on-line de jiu jitsu,<br />

em que a pessoa ganha a faixa preta<br />

com certificado e tudo apenas assistindo<br />

a vídeos. Está de sacanagem?<br />

Aluno meu, independente da faixa<br />

em que está, é porque merece. Você<br />

vai na minha escola e vai ver faixa<br />

azul duríssimo, que dá trabalho de<br />

verdade nos treinos. Eu não tolero<br />

isso. Se vierem esses “tipos” aqui,<br />

verão que a coisa é diferente.<br />

BC: Nesta edição abordaremos o<br />

tema “Brasil que Exporta”. Qual seu<br />

pensamento sobre isso?<br />

Piezi: O Brasil é um seleiro de atletas<br />

casca-grossa, somos o país do futebol<br />

e também o do jiu jitsu. A tendência é<br />

exportar mais. Infelizmente, o nosso<br />

governo não nos oferece uma estrutura<br />

mínima para vivermos do esporte<br />

e é natural o atleta, pensando em um<br />

futuro promissor, buscar melhores<br />

condições fora do país. O atleta que<br />

vive apenas do jiu jitsu aqui no Brasil<br />

já é um vencedor. Eu mesmo não vivo<br />

somente da luta. O jiu jitsu está cada<br />

vez mais globalizado: hoje, podemos<br />

ver diversos gringos ganhando<br />

campeonatos, mas eles aprenderam<br />

com quem? Com<br />

os guerreiros brasileiros.<br />

Eu já tive<br />

vários convites para<br />

ir morar fora e vou<br />

te dizer: foi duro<br />

recusar. Vou dar o<br />

exemplo da nossa equipe: o Tussa e<br />

o Baratinha puxam o chão da Jackson<br />

Wink, umas das maiores — se não a<br />

maior — equipe de MMA do mundo.<br />

De lá, saiu a fera Jonh Jones. Ver o<br />

Tussa ensinando ele nos enche de<br />

orgulho. BC<br />

6 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


SHCES TRECHO 2 CONJUNTO 34 BLOCO B - LAGO SUL- BRASÍLIA-DF<br />

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Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 7


MULHERES<br />

DE LUTA<br />

Wesley Moura<br />

editor@brasilcombate.com.br<br />

@wesleydemoura<br />

NINA MOURA: ATLETA EXPORTAÇÃO<br />

A<br />

seção Mulheres de luta<br />

desta edição apresentará<br />

mais um talento exportado<br />

para o exterior:<br />

Nivia de Souza Moura, popularmente<br />

conhecida no jiu jitsu como Nina<br />

Moura. A atleta de 25 anos atualmente<br />

reside no estado do Texas,<br />

Estados Unidos, mas, antes disso,<br />

já enfrentou diversas dificuldades<br />

em solo brasileiro.<br />

Nina já bateu na trave de ser campeã<br />

mundial duas vezes e, além desses<br />

títulos, foi campeã Europeia, vice-<br />

-campeã Americana (peso e absoluto),<br />

campeã Sul<br />

Americana, ficou<br />

em terceiro lugar<br />

no Pan Americano,<br />

foi três vezes<br />

campeã Brasileira,<br />

duas vezes campeã Brasileira No Gi<br />

e já chegou a subir ao pódio mais<br />

de 40x como campeã dos Opens da<br />

IBJJF pelo Mundo.<br />

Antiga moradora de São Sebastião,<br />

cidade satélite de Brasília, para<br />

conseguir arcar com as despesas<br />

das competições a atleta já chegou<br />

a vender canecas personalizadas,<br />

"Eu vim de uma família muito<br />

humilde e sem condições<br />

de me ajudar financeiramente".<br />

fazer rifas e outros. O que ela nunca<br />

deixou de buscar foi um lugar ao<br />

sol, assim como diversos brasileiros<br />

que sonham um dia em viver do<br />

Brazilian Jiu Jitsu.<br />

Antes de vencer nos tatames, esta<br />

campeã precisou vencer as dificuldades<br />

impostas pela própria vida. Para<br />

ela, que já deixou de se alimentar<br />

para ir aos treinos, mas hoje vive<br />

com dignidade graças ao jiu jitsu,<br />

tudo valeu a pena.<br />

Brasil Combate: Quem é Nina Moura<br />

por Nina Moura?<br />

Nina Moura: Uma mulher de Deus,<br />

amante do jiu jitsu<br />

e determinada a ser<br />

a melhor atleta do<br />

esporte mundial<br />

BC: Você praticava<br />

judô desde os 12<br />

anos de idade, juntamente com o<br />

seu irmão Pedro Moura (Ribeiro<br />

JJ). Depois, passou a praticar a arte<br />

suave. De fato, o que te fez migrar<br />

para o jiu jitsu?<br />

Nina Moura: Devido a recorrentes<br />

lesões no joelho, ocasionadas pelas<br />

quedas no judô, decidi acompanhar<br />

meu irmão, que já competia no jiu<br />

É com esse sorriso que ela desbanca as dificuldades da vida e busca seu lugar ao sol<br />

Fotos: Arquivo Pessoal<br />

8 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


jitsu. Percebi que<br />

na arte suave eu<br />

não me lesionava<br />

tanto como no judô.<br />

BC: A lesão no joelho<br />

te fez abandonar o judô ou<br />

seu ciclo na modalidade já tinha se<br />

fechado e oportunidades melhores<br />

eram vislumbradas no jiu jitsu?<br />

Nina Moura: Amo o judô e essa foi a<br />

primeira arte marcial com que tive<br />

contato e por que me apaixonei.<br />

Confesso que, no início, não gostava<br />

muito de jiu jitsu, até pela dificuldade<br />

em treinar com mulheres, já que o<br />

esporte era mais difundido entre<br />

os homens. Aos poucos, contudo, fui<br />

me adaptando e as oportunidades<br />

foram aparecendo. Hoje o jiu jitsu é<br />

minha vida.<br />

BC: Sua infância e adolescência<br />

foram marcadas por tempos duros<br />

e difíceis. É verdade que o jiu jitsu<br />

te salvou e foi ferramenta para<br />

ajudar outras pessoas, que estavam<br />

seguindo um caminho às margens<br />

"Em todas as academias<br />

que percorri, durante meus<br />

oito anos no esporte, aprendi<br />

e também ensinei".<br />

"Empresas não investem<br />

porque o jiu jitsu não é<br />

olímpico e, com isso, o<br />

investimento não traz benefícios<br />

a elas".<br />

da sociedade?<br />

Nina Moura: Sim,<br />

realmente a minha<br />

infância foi muito<br />

difícil. Eu vim de<br />

uma família muito<br />

humilde e sem<br />

condições de me ajudar financeiramente.<br />

Tanto o judô quanto o jiu jitsu<br />

foram ferramentas importantes para<br />

me tornar a mulher que sou hoje.<br />

BC: Você já defendeu diversas academias,<br />

como a Ribeiro Jiu Jitsu, a<br />

Barreto, a Gracie Barra. Você acha que<br />

esta mudança faz parte da profissionalização<br />

do jiu jitsu ou foi um mero<br />

dessabor, enquanto esteve nelas?<br />

Nina Moura: Com certeza, todo ser<br />

humano passa por ciclos na vida e,<br />

em todas as academias que percorri,<br />

durante meus oito anos no esporte,<br />

aprendi e também ensinei. Hoje me<br />

tornei um pouco de cada um deles.<br />

BC: Em sua visão, é possível viver<br />

profissionalmente do jiu jitsu?<br />

Nina Moura: Não é fácil se tornar<br />

atleta profissional de um esporte<br />

que ainda não é olímpico, mas, com<br />

Deus, determinação e força de vontade,<br />

tudo se torna<br />

possível. Basta<br />

acreditar e manter<br />

o foco.<br />

BC: A maior dificuldade<br />

para um competidor das artes<br />

marciais é a falta de investimento.<br />

Esta realidade, vivida hoje no Brasil,<br />

também está presente nos Estados<br />

Unidos? Há um desinteresse dos<br />

governantes e empresas americanas<br />

quando o assunto é esporte?<br />

Nina Moura: Na minha opinião, a<br />

falta de investimento é maior de<br />

todas. Empresas não investem porque<br />

o jiu jitsu não é olímpico e, com isso,<br />

o investimento não traz benefícios a<br />

elas. Os governantes não investem,<br />

porque mal sabem administrar o<br />

dinheiro público e, assim, atletas não<br />

buscam investimentos por falta de<br />

apoio e de vontade própria.<br />

BC: Você acha que essa migração<br />

de grandes atletas do jiu jitsu para<br />

outros países um dia chegará ao fim,<br />

tendo em vista que a arte suave estará<br />

bem difundida<br />

pelo mundo?<br />

Nina Moura: Não.<br />

O mundo é imenso<br />

e há espaço para<br />

todos, basta cada<br />

um focar e ir em<br />

busca de seus sonhos, onde quer<br />

que eles estejam.<br />

BC: O americano é um estudioso<br />

mais comprometido da arte suave<br />

que o brasileiro?<br />

Nina Moura: Sim, eles treinam todos<br />

os dias e ainda são comprometidos<br />

com a boa alimentação. Outra coisa<br />

que faz muita diferença é que nos<br />

EUA tudo é mais fácil e acessível<br />

financeiramente, o que faz com que<br />

o desempenho físico dos atletas<br />

americanos seja melhor que o de<br />

outros.<br />

BC: Qual dica você deixa para nossas<br />

leitoras? Quais atividades é possível<br />

praticar fora da academia, que<br />

agreguem aos treinos de jiu jitsu?<br />

Nina Moura: Busquem a Deus em<br />

primeiro lugar. Ele é a força capaz<br />

de surpreender qualquer um. O restante<br />

é complemento. Determinação,<br />

vontade de vencer, constância, foco e<br />

amor pelo que faz. Em complemento<br />

ao jiu jitsu, pratico ginástica natural,<br />

barras, alongamentos e yoga.<br />

BC: Você acha que os presidentes de<br />

federações são mais empresários do<br />

que entusiastas do esporte, ou seja,<br />

só querem lucrar com a arte suave<br />

e, por isso, não passam o posto de<br />

presidentes?<br />

Nina Moura: Há empresários que<br />

investem e os que lucram. Vejo que<br />

não andamos em direção alguma,<br />

enquanto existir essa divergência<br />

entre nossos representantes.<br />

BC: Recentemente, os números de<br />

inscritos e o dinheiro arrecadado<br />

pela CBJJ no campeonato Brasileiro<br />

de <strong>2018</strong> foram expostos e, com isso,<br />

houve revolta de alguns atletas<br />

quanto ao grande faturamento e à<br />

falta de premiação para os participantes.<br />

Você concorda com a maioria<br />

dos competidores quando o assunto<br />

é retorno do investimento aos atletas<br />

competidores?<br />

Nina Moura: Com certeza, até porque<br />

todos os competidores, para participar<br />

de uma competição, investem<br />

tempo, dinheiro e muito esforço para<br />

apenas ter seus nomes escritos como<br />

campeões e uma medalha simbólica.<br />

É preciso comprometimento de<br />

patrocinadores, atletas e administradores<br />

de campeonatos, para que<br />

haja mais incentivo aos atletas.<br />

Da periferia de Brasília para o estado do<br />

Texas, nos Estados Unidos da América<br />

BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 9


Fotos: Arquivo Pessoal<br />

A BELA É FERA<br />

INGRID <strong>BRASIL</strong><br />

Quem olha a foto acima não imagina que a carioca de 33 anos pesava 125 kg, mas, por<br />

conta de uma mudança radical em seu estilo de vida, acabou se tornando modelo de<br />

biquíni. A receita? Reeducação alimentar e dedicação aos exercícios físicos. Dona de<br />

um rosto inexplicavelmente belo e de um corpo que arranca olhares, Ingrid Brasil é<br />

integrante da equipe de jiu jitsu Gracie Elite Icaraí e, nesta edição, será protagonista da<br />

sessão A Bela é Fera.<br />

A faixa branca dois graus sentiu o prazer de estar no lugar mais alto do pódio na Copa<br />

Kyra Gracie de Jiu Jitsu, realizada na Cidade das Artes, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.<br />

Essa era mais uma guerra que enfrentou, mas a maior vitória foi derrotar a obesidade. A<br />

rotina antes sem regras da jovem mudou drasticamente e, hoje, a loira de 1.78 de altura<br />

pesa 76kg.<br />

De simplicidade e simpatia tão incríveis quanto sua fisionomia, Ingrid, para se manter<br />

no corpo ideal, faz uma hora de musculação e acrescenta, em sua rotina diária, um<br />

esporte de alta intensidade (surf, corrida de rua ou jiu jitsu), sem falhar. Com esse pique<br />

todo, a bela não deixa dúvidas de que é apaixonada por esportes. BC<br />

10 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


CAPA<br />

MADE IN: <strong>BRASIL</strong><br />

Atletas são exportados para viver do jiu jitsu e não para o jiu jitsu. Uma visão mais business é realidade<br />

Wesley Moura<br />

editor@brasilcombate.com.br<br />

@wesleydemoura<br />

Fotos: Vitor Freitas<br />

Foi-se o tempo em que<br />

viver profissionalmente<br />

do jiu jitsu era um sonho<br />

distante. A constatação é<br />

um reflexo de como a nova geração<br />

tem investido em viver do esporte,<br />

tornando o hobby mais profissional e<br />

competitivo. Hoje, o cenário no Brasil<br />

permite isso. O esporte cresceu em<br />

termos de organização, estrutura e<br />

investimento e a tendência é que o<br />

crescimento continue. Assim como<br />

no futebol, um garoto de 10 anos já<br />

pode pensar em ser atleta profissional,<br />

o que seria impossível no país<br />

no final dos anos 1990.<br />

Competições que oferecem viagens<br />

internacionais como premiação<br />

auxiliam não só na formação de<br />

um atleta competidor profissional,<br />

mas de um ser humano melhor.<br />

O grande obstáculo para a<br />

concretização deste sonho,<br />

contudo, ainda é a dificuldade<br />

para conseguir um bom<br />

patrocínio, pois competir<br />

não exige apenas condições<br />

físicas e técnicas;<br />

é necessário também<br />

condições financeiras<br />

para arcar com os<br />

custos de inscrições,<br />

deslocamentos e<br />

hospedagens. Há<br />

ainda um rol de<br />

requisitos pré-<br />

-competição,<br />

como a recuperação<br />

de lesões,<br />

a preparação física, os medicamentos<br />

e tratamentos<br />

médicos. Talvez<br />

o mais “fácil”,<br />

o primeiro<br />

passo,<br />

seja a<br />

aquisição<br />

de<br />

materiais<br />

esportivos<br />

e a suplementação,<br />

o que nem<br />

todos conseguem<br />

e, por<br />

isso, acabam<br />

desistindo<br />

do sonho por falta de incentivo<br />

e apoio.<br />

Viver do esporte no Brasil não é<br />

tarefa fácil, já que no país o investimento<br />

no esporte é baixo. Os<br />

recursos são escassos e estão em<br />

falta para todas as modalidades,<br />

até mesmo para os esportes<br />

olímpicos. No caso de esportes<br />

que não integram o programa<br />

olímpico, o incentivo do governo<br />

se torna praticamente<br />

inexistente.<br />

Há alguns programas governamentais<br />

que incentivam<br />

o atleta competidor, mas,<br />

quando não são burocráticos,<br />

o governo<br />

veta por<br />

motiv<br />

o s<br />

12 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


desconhecidos, e declara a falta<br />

de condições financeiras, caso do<br />

Programa Compete Brasília. Este<br />

programa incentiva a participação<br />

de atletas e paratletas de alto<br />

rendimento das mais diversas modalidades<br />

em campeonatos nacionais<br />

e internacionais, por meio da<br />

concessão de transporte aéreo ou<br />

transporte terrestre.<br />

Sobre o assunto, conversamos com<br />

o faixa preta da Atos Jiu Jitsu, Lucas<br />

“Hulk” Barbosa, represente da nova<br />

geração de campeões do jiu jitsu<br />

brasileiro. Ouro no absoluto do<br />

Campeonato Brasileiro, Europeu e<br />

campeão Pan-americano de <strong>2018</strong>.<br />

Lucas Hulk também brilhou no ano<br />

passado e faturou ouro duplo no<br />

Mundial de Jiu Jitsu Sem Kimono<br />

da IBJJF.<br />

Na divisão aberta para todos os<br />

pesos, Hulk venceu quatro lutas,<br />

chegando a finalizar em duas oportunidades,<br />

antes de chegar à final<br />

da categoria contra Victor Honório<br />

(Qatar BJJ). Por questões de saúde<br />

(infeção intestinal), Honório não<br />

pode fazer a luta final da categoria<br />

absoluta do Campeonato Brasileiro<br />

"A mudança me fez amadurecer,<br />

aqui o jiu jitsu é<br />

negócio, diferentemente<br />

do Brasil".<br />

Hulk esmaga a categoria e o absoluto no Brasileiro de <strong>2018</strong> e segue para o Mundial<br />

de <strong>2018</strong>.<br />

A história, de Hulk<br />

nem sempre foi<br />

simples. Para o<br />

campeão, a mudança<br />

para o Rio<br />

de Janeiro, aos 21 anos, ainda na<br />

faixa roxa, significou acreditar em<br />

algo que era a sua esperança, mesmo<br />

cheio de dúvidas e inseguranças sobre<br />

ser o jiu jitsu o melhor caminho.<br />

Essa e outras particularidades serão<br />

reveladas na entrevista abaixo.<br />

Brasil Combate: Você se mudou para<br />

o Rio de Janeiro quando ainda era<br />

faixa roxa. Foram tempos difíceis?<br />

Por quê?<br />

Lucas Barbosa: Mudei para o Rio<br />

quando tinha 20 anos, era faixa roxa<br />

na época. Tinha recebido o convite<br />

do professor Marcio Rodrigues para<br />

ingressar a equipe dele. Foram<br />

momentos difíceis, pelo fato de ter<br />

saído da minha zona de conforto,<br />

estar longe da família e dos amigos.<br />

Então, no começo foi difícil a<br />

adaptação, pois a saudade apertava<br />

e havia incerteza se o sonho seria<br />

ou não bem-sucedido. De toda sorte,<br />

continuei firme e deu certo, não tinha<br />

apoio no tempo, então era mais em<br />

busca de um sonho mesmo.<br />

BC: Você deixou sua família e as<br />

comodidades do Brasil em nome do<br />

sonho de viver do esporte que ama.<br />

Hoje, trabalha dando aulas na ATOS<br />

Jiu Jitsu na Califórnia. O que mudou<br />

em sua vida após a ida para os EUA?<br />

LB: Eu acho que mudou muito. Foram<br />

momentos difíceis<br />

de adaptação, sair<br />

do Brasil e ir para<br />

os Estados Unidos,<br />

onde a cultura é<br />

diferente. Também<br />

cheguei aos EUA da mesma forma<br />

que fui para o Rio. Não sabia falar<br />

muito inglês, demorei um tempo<br />

para aprender, mas, graças a Deus,<br />

convivendo com os americanos,<br />

pude desenvolver o idioma. Uma<br />

dica para as pessoas que querem vir<br />

para os Estados Unidos e acham que<br />

é fácil: se você não souber falar a<br />

língua, tudo fica difícil. Então, esta foi<br />

uma barreira no início, mas consegui<br />

conquistar o meu espaço na Atos. A<br />

mudança me fez amadurecer, aqui o<br />

jiu jitsu é negócio, diferentemente<br />

do Brasil.<br />

BC: De quem partiu e quando surgiu<br />

o convite para integrar a ATOS Jiu<br />

Jitsu, nos EUA?<br />

LB: A oportunidade de ir para a Atos<br />

surgiu quando fui para Long Beach<br />

lutar o mundial. Toda vez que eu<br />

vinha para Long Beach, procurava<br />

uma academia para ficar e tinha<br />

uma Atos em Long Beach, do Kevin,<br />

uma das filiais em que eu sempre<br />

treinava. Inclusive, quando eu conquistei<br />

a marrom, fiquei treinando lá<br />

um mês. Quando decidi me mudar<br />

para a Califórnia, falei com Kevin<br />

que pensava primeiro em morar e<br />

treinar em Long Beach, ao que ele<br />

me disse: ”eu quero muito que você<br />

treine aqui, mas acho que você não<br />

vai evoluir aqui”. E me indicou como<br />

o lugar certo a Atos em San Diego,<br />

na Califórnia, com o André Galvão,<br />

e foi assim que surgiu o convite. Ele<br />

conversou com o Galvão, que gostou<br />

da ideia, pois já me conhecia, então<br />

me mandou mensagem, trocamos<br />

ideia e recebi o convite do Galvão<br />

para vir morar aqui. Não pensei<br />

duas vezes.<br />

BC: A maior dificuldade para um<br />

competidor das artes marciais é<br />

a falta de investimento. Realidade<br />

vivida hoje no Brasil, esta é também<br />

a dos Estados Unidos?<br />

LB: No começo do atleta no jiu jitsu,<br />

a falta de investimento é falta de<br />

incentivo. Em relação ao Brasil e<br />

aos Estados Unidos, eu me lembro<br />

que, quando eu morava no Brasil,<br />

era faixa-roxa, não tinha apoio nem<br />

para comprar quimono. A pouca força<br />

que tinha era a da família. Aqui, não:<br />

vejo atletas que estão na roxa, com<br />

patrocínio de quimono e ganham<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 13


até bônus. Há toda uma estrutura<br />

que influencia o lutador a crescer.<br />

A galera sabe fazer highlight, fazem<br />

vídeos se promovendo, ou seja, aqui<br />

as pessoas se promovem mais e conseguem<br />

ganhar mais investimento<br />

com isso. O começo é difícil, mas em<br />

relação aos Estados Unidos a gente<br />

tem mais apoio no jiu jitsu do que<br />

no Brasil.<br />

BC: Em sua visão e experiência,<br />

é possível viver<br />

profissionalmente<br />

do jiu jitsu?<br />

LB: Eu acho que<br />

dá sim. É possível<br />

viver profissionalmente<br />

do jiu jitsu,<br />

depende de onde e do segmento que<br />

se quer: abrir uma academia ou ser<br />

atleta. É preciso traçar estratégias<br />

para o que se deseja alcançar, se você<br />

quer só viver ou se quer conquistar<br />

algo a mais e ser bem-sucedido,<br />

tudo depende do seu esforço. Não<br />

é só chegar e abrir uma academia,<br />

pois há uma estrutura por detrás.<br />

Então, para se viver do jiu jitsu, é<br />

preciso ser profissional, trabalhar<br />

com seriedade e se valorizar.<br />

BC: Acha que essa migração de grandes<br />

atletas do jiu jitsu para outros<br />

países um dia chegará ao fim, tendo<br />

em vista que a arte suave estará bem<br />

difundida pelo mundo e não mais<br />

precisarão dos brasileiros?<br />

LB: Isso vai chegar ao fim, mas vai<br />

demorar um pouco ainda. Eu tenho<br />

viajado um pouco pelo mundo, realizando<br />

seminários e participando<br />

de campeonatos e, pelos lugares por<br />

que passei, vi que o jiu jitsu ainda<br />

não tem o mesmo nível em todos<br />

os países.<br />

BC: Você acha que os gringos irão<br />

assumir o topo do jiu jitsu, hoje<br />

liderado por brasileiros? Quais os<br />

pontos fortes dos americanos e em<br />

quais precisam se desenvolver?<br />

LB: Eu acho que os americanos,<br />

europeus, asiáticos têm atletas duros.<br />

Já existem atletas gringos que<br />

estão se igualando aos brasileiros,<br />

mas o nível de atletas brasileiros<br />

ainda é maior, com isso temos mais<br />

"Não é tão profissional porque,<br />

no Brasil, o jiu jitsu não<br />

é visto como negócio, mas<br />

sim como uma academia<br />

mesmo, na camaradagem".<br />

probabilidade de chegar ao topo do<br />

que eles. O jiu jitsu se igualando,<br />

em breve, não haverá só brasileiro<br />

disputando finais.<br />

BC: O americano é um estudioso<br />

mais comprometido com a arte suave<br />

que o brasileiro?<br />

LB: O americano é mais estudioso<br />

sim. Eles desenvolvem mais técnicas,<br />

mais detalhes e têm, por exemplo,<br />

o Keenan Cornelius, que inventou<br />

um das guardas<br />

mais usadas no<br />

jiu jitsu. Acho que<br />

os brasileiros são<br />

mais raçudos, e, às<br />

vezes, o que falta<br />

aos americanos,<br />

talvez por conta da cultura, é deixar<br />

o coração falar, pois eles têm muita<br />

técnica.<br />

BC: Com relação à estrutura oferecida<br />

no Brasil aos competidores de<br />

alto rendimento, o que é preciso<br />

melhorar?<br />

LB: A estrutura é a mesma em ambos<br />

os países. A diferença é o incentivo,<br />

o apoio para o atleta. Por exemplo,<br />

se você tiver condições de ir à fisioterapia,<br />

de fazer um treino de força<br />

e ter suplementação e alimentação<br />

corretas, você tem condições de ser<br />

um atleta de alto rendimento. Às<br />

vezes, o que falta é o incentivo e a<br />

gente não tem isso.<br />

BC: Há diferença entre os treinos<br />

feitos no Brasil e os praticados nos<br />

EUA?<br />

LB: Há. No Brasil, a galera vai muito<br />

no instinto de treinamento. O pessoal<br />

treina muito de manhã, tarde e à<br />

noite, mas não estuda muito como<br />

deve ser o treino, como ele tem que<br />

ser para o campeonato. Aqui, todos<br />

os treinos são estudados para não<br />

causar overtraining ao atleta, ou, se<br />

o atleta estiver machucado, buscam<br />

saber o que pode ou não treinar e<br />

como seria a melhor forma de treino.<br />

BC: Em outros relatos, você chegou<br />

a mencionar que o jiu jitsu no Brasil<br />

deve ser levado mais a sério e que<br />

não é tão profissional assim. Poderia<br />

explicar este pensamento?<br />

LB: Não é tão profissional porque,<br />

no Brasil, o jiu jitsu não é visto como<br />

negócio, mas sim como uma academia<br />

mesmo, na camaradagem. Se<br />

quiserem trabalhar profissionalmente<br />

com JJ, ele tem de ser encarado<br />

como uma modalidade de negócio.<br />

BC: O jiu jitsu online é uma realidade<br />

nos EUA, já no Brasil esta ferramenta,<br />

como curso, ainda sofre bastante<br />

preconceito. Qual o seu ponto de<br />

vista sobre a ferramenta? Por que<br />

há tanto preconceito por parte de<br />

alguns?<br />

As cicatrizes e a simplicidade do campeão,<br />

nascido em Roraima<br />

14 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Esta seria a terceira batalha contra Victor Honório, mas Honório teve uma infecção intestinal<br />

LB: O jiu jitsu on-line às vezes pode<br />

te ajudar a aprender alguns movimentos.<br />

Claro que não é mesma<br />

coisa de ter um professor para te<br />

corrigir, mas eu acho que ajuda sim,<br />

ajuda aquelas pessoas que já têm<br />

experiência no esporte. De marrom<br />

até roxa, acredito que o curso pode<br />

agregar conhecimento. Para um<br />

faixa-branca ou faixa-azul, contudo,<br />

não acho recomendável.<br />

BC: No último campeonato Brasileiro,<br />

você passou sobrando pelos adversários<br />

no absoluto faixa-preta, ao<br />

vencer quatro lutas e finalizar outras<br />

em duas oportunidades. De certa<br />

forma, se decepcionou por não poder<br />

lutar a final contra o Victor Honório<br />

(Qatar BJJ)? Você está aguardando<br />

este tira-teima?<br />

LB: Infelizmente, essa luta terá que<br />

ser adiada. Na verdade, eu não escolho<br />

adversário, não procuro e nem<br />

busco adversário. Eu acho que haverá<br />

outra oportunidade, não sei quando,<br />

mas, se tiver será uma luta muito boa.<br />

Já lutei com ele duas vezes, então<br />

uma terceira para ter o tira-teima<br />

será bom. Não vou ficar procurando<br />

luta, quando surgir a oportunidade,<br />

acontecerá. Fiquei chateado por não<br />

lutar a final no absoluto, ele estava<br />

doente lá, passou mal, eu também<br />

estava machucado, me lesionei no<br />

absoluto e não pude lutar a categoria.<br />

Mas fui lá e apareci, ninguém<br />

sabia desse acontecido, não falei<br />

para ninguém, mas também não<br />

estava pensando em lutar a final<br />

do absoluto. Acabou que não teve<br />

a luta. Fiquei decepcionado com a<br />

galera, pois algumas pessoas vaiaram.<br />

Eu fui lá e o cara também, mas<br />

a luta não aconteceu porque ele<br />

estava doente, não foi por mal que<br />

isso aconteceu, ninguém queria que<br />

aquilo acontecesse. Ano que vem, se<br />

Deus quiser, lutarei o brasileiro de<br />

novo, chegarei à final do absoluto e<br />

darei esse show para a galera.<br />

BC: Sabemos que o seu próximo<br />

desafio é ser campeão mundial pela<br />

IBJJF. Acha que seria possível este<br />

sonho para aquele Lucas Barbosa<br />

de Roraima, que quase não teve<br />

apoio e incentivo financeiro para<br />

as competições da pequena cidade?<br />

LB: Tudo é possível. De onde eu vim<br />

e como cheguei até aqui foi com a<br />

mínima porcentagem de dar certo<br />

e, se eu consegui, mesmo com todas<br />

as dificuldades, acredito que é<br />

possível chegar lá e ganhar aquele<br />

título. Estou treinando bem, estou<br />

em uma fase boa, preparado mental,<br />

espiritual e fisicamente, então é só<br />

chegar lá e fazer o trabalho que<br />

vai dar tudo certo e, se Deus quiser,<br />

levarei o nome de Roraima ao topo<br />

do pódio.<br />

BC: Poderia falar um pouco da programação<br />

de treinos no QG da Atos,<br />

em San Diego, na Califórnia para<br />

o mundial? Como você se prepara<br />

para as batalhas?<br />

LB: Os treinamentos estão pegando<br />

fogo. A galera está bem focada. Estamos<br />

bem, rumo ao segundo título<br />

mundial, ganhando tudo aqui. O Galvão<br />

está puxando o treino de todo<br />

mundo, a equipe está se sentindo<br />

bem, sem lesões, sem overtraining.<br />

Então, ele está sabendo fazer o camp<br />

para o mundial.<br />

BC: Recentemente, os números de<br />

inscritos e o dinheiro arrecadado<br />

pela CBJJ no campeonato Brasileiro<br />

de <strong>2018</strong> foram expostos, o que<br />

causou revolta em alguns atletas<br />

quanto ao grande faturamento e<br />

à falta de premiação em dinheiro<br />

para os participantes. Qual sua<br />

opinião a respeito? A premiação em<br />

dinheiro é importante para o atleta<br />

competidor?<br />

LB: O dinheiro sempre será importante<br />

na vida do atleta competidor.<br />

Ninguém vive só de medalhas.<br />

A CBJJ e IBJJF deveriam realizar<br />

campeonatos com premiação em<br />

dinheiro, para incentivar os atletas,<br />

principalmente a federação, a<br />

CBJJ, pois o campeonato por eles<br />

realizado tem muito prestígio. Os<br />

atletas sempre lutarão o brasileiro, o<br />

mundial, o sul-americano, mas, com<br />

dinheiro, o incentivo pelo trabalho<br />

duro seria maior. Ter um grande<br />

número de inscritos e nada para os<br />

atletas é lamentável. Entendo que<br />

as federações tenham a intenção de<br />

transformar o esporte em olímpico<br />

ou ainda manter o boa fama da<br />

competição, mas é preciso pensar<br />

mais nos atletas.<br />

Ter um grande número<br />

de inscritos e<br />

nada para os atletas<br />

é lamentável".<br />

BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 15


CONDITIONING TRAINING<br />

FORTALECENDO O<br />

QUADRIL E ABDÔMEN<br />

Já ouviu falar que o quadril é fundamental para os praticantes da arte suave? Vamos descobrir o porquê<br />

Bruno Santos<br />

Educador Físico e atleta de jiu jitsu<br />

@treinadorbrunosantos<br />

Oquadril está interligado<br />

com todo o centro do<br />

corpo, é parte integrante<br />

do Core e responsável<br />

pela transmissão de energia,<br />

absorção dos impactos e pelas<br />

rotações que fazemos no jiu jitsu.<br />

Se o quadril for fraco, consequentemente<br />

a movimentação poderá ser<br />

comprometida. Por outro lado, um<br />

quadril forte e solto proporciona<br />

melhor desempenho em uma raspagem,<br />

na reposição da guarda e<br />

até mesmo a evolução na passagem<br />

de guarda. É fundamental, portanto,<br />

que o atleta da arte suave tenha<br />

seu Core fortalecido e estabilizado.<br />

Ao realizar a guarda, o quadril é<br />

bastante exigido: ele suportará o<br />

peso do adversário, além de ser<br />

base das sequências de ataques<br />

que podem ser feitos partindo da<br />

guarda. Apenas para relembrar, as<br />

partes mais importantes do corpo<br />

para o jiu jitsu são: o quadril, as<br />

pernas, a lombar e o abdômen.<br />

Se você é guardeiro e gosta de<br />

trabalhar na De La Riva, na aranha,<br />

na aberta, na fechada ou qualquer<br />

outra, é preciso desenvolver habilidades<br />

de deslocar o passador para<br />

o alto e se posicionar embaixo dele,<br />

sustentando todo o peso do adversário.<br />

Neste caso, é necessário um<br />

bom trabalho de fortalecimento e<br />

resistência muscular, flexibilidade,<br />

força, explosão e técnica.<br />

A seguir, preparamos uma sequência<br />

de exercícios simples para o fortalecimento<br />

de quadril e abdômen.<br />

Saída de quadril: Deitado no chão<br />

com os braços esticados para o<br />

lado como se estivesse empurrando<br />

algo, flexione os joelhos e<br />

ponha os pés no chão. Faça um<br />

movimento específico de saída de<br />

quadril posicionando o corpo de<br />

lado, mantendo sempre os braços<br />

esticados para cima. Retorne para<br />

a posição inicial antes de fazer o<br />

movimento para o outro lado. Faça<br />

de 3 a 4 séries de 15 a 20 repetições<br />

para cada lado. (fig.1)<br />

Rotação de tronco no solo: Posicione<br />

o corpo sentado, tronco a 45º<br />

do solo. Segure uma anilha, bola,<br />

kettlebell, com os braços esticados<br />

paralelos a coxa e mantenha os<br />

pés afixados no chão. Faça giros<br />

alternando de um lado para o<br />

outro, mantendo os joelhos o mais<br />

firme possível e os braços sempre<br />

esticados. A cabeça acompanha o<br />

movimento. Faça de 3 a 4 séries<br />

de 15 a 20 repetições, alternando<br />

os lados. (fig.2)<br />

Passada lateral com mini band: Em<br />

pé, posicione o elástico na altura<br />

da canela e faça movimentos laterais<br />

entre 3 a 4 séries de 12 a 20<br />

repetições. Lembre-se de manter<br />

o abdômen sempre contraído para<br />

fortalecimento do quadril e core.<br />

(fig.3)<br />

Prancha isométrica: A posição inicial<br />

é bastante simples. Em decúbito<br />

ventral, deite-se no chão. Apoiando-<br />

-se sobre os cotovelos e a ponta dos<br />

pés, mantenha o corpo totalmente<br />

alinhado e permaneça imóvel nesta<br />

com o abdome contraído. Faça entre<br />

3 a 4 séries o máximo de tempo que<br />

conseguir permanecer na posição.<br />

Comece realizando 15 segundos<br />

de isometria e aumente o tempo<br />

conforme seu desempenho. (fig.4)<br />

Elevação de coxa decúbito dorsal:<br />

Em Decúbito dorsal, deite-se de<br />

barriga para cima, com um joelho<br />

flexionado e outro estendido,<br />

quadril apoiado no chão e braços<br />

flexionados ao lado do corpo mantendo<br />

o tronco apoiado e pescoço<br />

relaxado. Contraia o abdômen e<br />

eleve a perna que está estendida<br />

até a altura do joelho oposto. Sustente<br />

a posição por 3 segundos e<br />

faça entre 3 a 4 séries de 12 a 20<br />

repetições. Mantenha a contração<br />

do abdômen durante a descida da<br />

perna. (fig.5)<br />

Veja as imagens dos movimentos<br />

na próxima página. Em caso de<br />

dúvidas, procure a supervisão de<br />

um profissional de educação física.<br />

16 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


CONDITIONING TRAINING<br />

1b.<br />

1a.<br />

2a.<br />

2b.<br />

3. 4.<br />

5a.<br />

5b.<br />

BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 17


MEDALHOU<br />

LEONARDO JUNIOR<br />

Jack Taketsugo<br />

Repórter<br />

@jack_tkts<br />

O ex-jogador de futebol, hoje atleta<br />

de jiu jitsu tem conquistado vários<br />

feitos na faixa azul.<br />

E<br />

mpinar pipa, jogar bola e participar de peneiras<br />

de futebol era a realidade de Leonardo<br />

Mário Pereira Junior, nascido e criado na Ceilândia,<br />

cidade satélite de Brasília-DF. Desde<br />

cedo, Leonardo já não pensava muito em se divertir e<br />

sim em conseguir um emprego como jogador de futebol,<br />

a fim de contribuir com as despesas de casa.<br />

Da adolescência para fase adulta, a cinzenta vida de<br />

sacrifícios começou a mudar de cor. O amigo Guilherme,<br />

mais conhecido como Guima, percebeu o potencial que<br />

Leonardo tinha como atleta, mas da arte suave.<br />

“Eu estava jogando bola na quadra com uns amigos e o<br />

Guima, meu amigo, que sempre me chamava para ir ao<br />

treino de jiu jitsu, fez mais um convite. O meu esporte<br />

era o futebol. Cheguei a jogar em uma categoria de base<br />

e já participei de um teste para entrar no Brasiliense.<br />

Depois de tanto ignorar os convites do Guima, resolvi ir<br />

conhecer o treino de jiu jitsu naquele dia”, explica.<br />

A aposta deu certo e mais um atleta entrou para o time<br />

da arte suave. “Passamos na casa dele depois do futebol,<br />

pegamos os quimonos e seguimos para o treino, que<br />

era na Associação Leão de Judah, um projeto da Strong<br />

Fighters. Quando o treino terminou, fiquei muito interessado<br />

e logo perguntei como poderia continuar treinando.<br />

Eu estava, naquela época, jogando no time do Ceilândia.<br />

Larguei o futebol e resolvi treinar<br />

jiu jitsu”, relembra.<br />

Após treinar por três anos em<br />

Brasília, Leonardo que já pensava<br />

em sobreviver da arte suave,<br />

movido por novos desafios,<br />

desembarcou em São<br />

Paulo, para treinar no<br />

Projeto Social Lutando<br />

Pelo Bem – PSLPB - Cícero<br />

Costha. Em sua mala, apenas<br />

algumas peças de<br />

roupa, dois quimonos<br />

surrados e sua faixa<br />

azul.<br />

“O professor Cícero<br />

Costha estava<br />

dando assistência<br />

aos alunos que<br />

estavam competindo<br />

no campeonato<br />

Brasileiro e<br />

fui cumprimentá-lo, como<br />

qualquer admirador do<br />

seu trabalho o faria. Ele,<br />

Fotos: Jack Taketsugo<br />

18 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


então, me perguntou como eu havia<br />

me saído na competição e, quando<br />

disse que o resultado fora o primeiro<br />

lugar, ele me deu os parabéns, me<br />

perguntou por quanto tempo eu<br />

ficaria em São Paulo e me convidou<br />

para fazer um treino no CT do PSLPB<br />

Cícero Costa. Acabei não indo. Alguns<br />

meses depois, ele foi à Brasília dar<br />

um seminário, do qual participei, e,<br />

na oportunidade, conversamos sobre<br />

eu ir treinar em São Paulo, definitivamente.<br />

Foi, então, que ele me deu a<br />

oportunidade de me mudar para lá”.<br />

Vale o alerta: todos aqueles que<br />

ingressam no jiu jitsu, com o intuito<br />

de fazer um simples treino, precisam<br />

estar preparados. Isso, pois, em um<br />

curto espaço de tempo, pode ocorrer<br />

uma mudança, capaz de transformar<br />

todos os aspectos da sua história e<br />

fazer com que, de mero adepto ao<br />

esporte, você se torne competidor.<br />

Foi assim com Leonardo que, desde<br />

suas primeiras aulas, já sabia que<br />

queria competir. “Eu tinha duas<br />

semanas treinando, fui assistir uns<br />

amigos que iriam lutar e foi aí que me<br />

deu muita vontade. Com um mês de<br />

treino, lutei um campeonato interno<br />

e fui campeão. Desde então, nunca<br />

parei e já viajei bastante. Lutei em<br />

muitos lugares. Graças ao esporte,<br />

tenho conhecido o mundo. No meu<br />

primeiro campeonato fora de Brasília,<br />

o Mundial da CBJJE, fui campeão. No<br />

fim desse mesmo ano, peguei a faixa<br />

azul já entrando de juvenil e sendo<br />

campeão Brasileiro CBJJ”, comenta.<br />

Já treinando e competindo pela<br />

equipe Cícero Costa, o atleta fala<br />

sobre as rotinas de treino no Centro<br />

de Treinamento em São Paulo: “Os<br />

treinos sempre são duros. De alguns<br />

meses para cá, tenho tentado dar o<br />

meu melhor em cada treino. Tento<br />

fazer sempre dois de jiu jitsu e, quando<br />

não dá, faço uma preparação de<br />

musculação. Nos treinos, dispomos de<br />

bastante tempo pra fazer posição, que<br />

é o que me fez evoluir demais”, diz.<br />

Além de falar sobre esta fase, Leonardo<br />

comenta as conquistas que<br />

obteve neste curto espaço de tempo.<br />

“Desde que cheguei a São Paulo, fui<br />

Leonardo Junior, ostentando suas conquistas. Entre elas, a medalha do Pan Americano <strong>2018</strong><br />

campeão Brasileiro pela CBJJ, Pan<br />

Americano pela IBJJF, campeão em<br />

diversos Opens da IBJJF e campeão<br />

de várias competições da UAEJJF. De<br />

todos, o que me deu mais emoção ao<br />

conquistar o primeiro lugar foi o Brasileiro<br />

de Jiu Jitsu. O pan-americano<br />

também foi incrível, mas no brasileiro<br />

a emoção foi muito maior”.<br />

Para chegar até aqui, o competidor de<br />

18 anos não teve vida fácil. A infância<br />

difícil em Brasília marcou o início<br />

de trajetória do atleta que, muitas<br />

vezes, teve de deixar de acompanhar<br />

alguns ‘colegas’: “Eu não imaginava<br />

que, ao começar a treinar o jiu jitsu,<br />

as portas se abririam tanto assim. Saí<br />

de uma cidade onde muitos jovens<br />

e, inclusive alguns amigos meus,<br />

seguiram o caminho errado da vida.<br />

Então, você não tem tanta perspectiva<br />

de mudanças, mas, quando você traça<br />

seu caminho, lá na frente enxerga<br />

que as coisas podem acontecer de<br />

verdade”, explica, aliviado.<br />

Quem conhece Leonardo sabe o<br />

quanto ele treina e se dedica ao<br />

esporte. O ouro no Pan de <strong>2018</strong><br />

– finalizando todas as lutas e repetindo<br />

o feito este mês no Open do<br />

Canadá –, e a prata no Brasileiro de<br />

<strong>2018</strong> foram consequências de um<br />

trabalho árduo, no qual ele sempre<br />

esteve focado.<br />

“Estou em Ontário, Toronto, e ainda<br />

não sei bem quanto tempo vou ficar,<br />

mas lutarei os eventos da IBJJF, ACB<br />

e UAE nos Estados Unidos e alguns<br />

aqui no Canadá. O camp será na Action<br />

& Reaction, onde ficarei o tempo<br />

em que estiver no Canadá. Quero<br />

ser campeão mundial na faixa azul”.<br />

Saí de uma cidade<br />

onde muitos<br />

jovens e, inclusive<br />

alguns amigos<br />

meus, seguiram o<br />

caminho errado<br />

da vida. Então,<br />

você não tem tanta<br />

perspectiva de<br />

mudanças...".<br />

BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 19


PRATAS DA CASA<br />

BERNARDO PITEL<br />

Elton Costa<br />

Repórter<br />

Integrante da equipe Nova União, Bernardo Pitel<br />

fez história no jiu jitsu brasileiro durante os<br />

períodos de competição. O brasileiro chegou<br />

conquistar a inédita medalha de ouro no Mundial<br />

de Jiu Jitsu, na categoria até 64kg e hoje integra<br />

o quadro dos únicos dois campeões brasiliense que<br />

já conquistaram na categoria adulto a competição.<br />

Pitel é o primeiro faixa preta do também campeão<br />

mundial de jiu jitsu, João Roque (ex-UFC).<br />

Bernardo foi um dos grandes nomes da categoria<br />

pluma, mas se afastou das competições quando<br />

as lesões começaram a surgir. Ele fala do drama<br />

que vive em relação às lesões e sobre a segunda<br />

cirurgia que está prestes a fazer. O atleta tem esperança<br />

de retornar às competições.<br />

Atualmente morando nos Estados Unidos, lá também<br />

ministra suas aulas e seminários de jiu jitsu. Muita<br />

coisa mudou na vida do campeão, mas o amor pelo<br />

esporte permanece. Assim como outros, Bernardo Pitel<br />

é mais um entre os vários brasileiros que deixaram o<br />

país para viver do jiu jitsu no exterior.<br />

Brasil Combate: Você comandou as categorias galo e<br />

pluma por diversos anos, no início da década de 2000.<br />

O que mudou no jiu jitsu competitivo daquela época<br />

para esta?<br />

Bernardo Pitel: Eu não acho que comandei as duas categorias,<br />

mas sempre me esforcei, com dedicação, para<br />

estar entre elas. De lá para cá, muitas coisas mudaram,<br />

como as regras, as punições e a internet.<br />

BC: Desde a faixa azul, você já lutava em outros países,<br />

realidade que não é compartilhada por todos os atletas<br />

de jiu jitsu brasileiro. Como conseguiu este feito na época?<br />

BP: Realmente, era difícil conseguir um patrocínio.<br />

Naquela época, lutei um pan-americano de faixa azul<br />

1997, em que fui campeão, e um pan-americano e faixa<br />

preta em 2005, em que fiquei em 3º lugar. Já em 2007,<br />

fui campeão brasileiro e a CBJJ forneceu as passagens<br />

aéreas para todos os campeões, pois era o primeiro ano<br />

em que o mundial seria nos Estados Unidos. Até hoje, o<br />

campeonato é realizado lá, na pirâmide em Long Beach.<br />

BC: Você fez uma cirurgia no quadril direito e está prestes<br />

a fazer outra no lado esquerdo, para colocar uma prótese.<br />

Veremos Bernardo Pitel nas competições novamente ou<br />

a aposentadoria chegou?<br />

BP: É muito ruim ficar longe dos tatames. É inexplicável,<br />

não vejo a hora de fazer essa cirurgia e voltar<br />

a ser feliz ensinando e praticando o BJJ. Anunciei minha<br />

aposentadoria no Mundial Master em 2016, pois estava<br />

sentindo muita dor, mas, quem sabe, depois da cirurgia,<br />

eu me sentindo bem, lute de novo. A prioridade agora é<br />

minha saúde e meu filho Henri Pitel.<br />

BC: Durante sua trajetória no jiu jitsu competitivo, faltou<br />

algum título, alguma luta ou até mesmo alguma realização<br />

pessoal dentro do esporte? Compartilhe conosco<br />

este momento.<br />

BP: Eu lutei com quase todos os casca grossa da minha<br />

época. Parei de lutar de cabeça erguida e realizado.<br />

BC: Na sua opinião, os presidentes de federações são mais<br />

empresários do que entusiastas do esporte, ou seja, só<br />

querem lucrar com a arte suave e, por isso, não passam<br />

o posto de presidentes?<br />

BP: Há presidente que promete e não cumpre. O pessoal<br />

reclama, mas não faz nada. Em 2005, havia um ranking,<br />

em que um presidente de federação prometeu uma<br />

certa quantia de dinheiro, não pagou e está no cargo até<br />

hoje. Eu vejo reclamações, mas não há um movimento<br />

de mudança. BC<br />

Fotos: Jakson Santos<br />

20 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 21


POR DENTRO DAS REGRAS<br />

A importância das regras para as artes marciais de combate<br />

Vandeir Silva<br />

Árbitro e Atleta de jiu jitsu<br />

@vandeirsilva<br />

Ofilósofo Johan Huizinga<br />

argumentava que o jogo<br />

é uma categoria absolutamente<br />

primária da<br />

vida, elemento universal, presente<br />

em todas as culturas humanas.<br />

Assim, o jogo está na base do<br />

surgimento e desenvolvimento da<br />

civilização.<br />

Para que haja um jogo ou uma<br />

competição (possível característica<br />

deste), são necessários três elementos<br />

básicos: praticante(s) disposto(s)<br />

a participar, um ambiente específico<br />

e a REGRA.<br />

A regra tem como funções principais<br />

em qualquer esporte, proteger a<br />

integridade física de seus praticantes,<br />

definir o início e o fim do<br />

jogo e como se dará a interação<br />

entre os participantes em prol da<br />

tentativa de se alcançar o objetivo<br />

inicialmente proposto, garantindo,<br />

assim, sua continuidade.<br />

A regra define a coerência e a<br />

estrutura do jogo ou competição,<br />

atribuindo significado ao seu contexto,<br />

influenciando como efeito a<br />

aprendizagem e o desenvolvimento<br />

do esporte. Sem ela, mesmo diante<br />

de todo possível envolvimento e<br />

estimulação física e/ou mental,<br />

não seria possível o cumprimento<br />

de premissa inicial. Por isso, é importante<br />

estudá-las e conhecê-las.<br />

Por meio de seu domínio, surgem<br />

diferentes ferramentas e estratégias<br />

e, por meio de sua aplicação, novas<br />

metodologias são desenvolvidas,<br />

definindo diferentes tipos ou formatos<br />

na aplicação das regras, seja<br />

em ambiente competitivo ou em<br />

sua prática e treinamento. Assim, é<br />

necessária a constante atualização<br />

da regra, em função de nova perícia<br />

incorporada ao jogo.<br />

Analisando as características<br />

inerentes à regra, percebe-se sua<br />

importância representativa da qualidade<br />

física, intelectual e mesmo<br />

moral, das pessoas e organizações<br />

que interagem dentro de seu meio.<br />

Socialmente falando, bons exemplos<br />

de comportamento e respeito às<br />

regras transmitem à sociedade um<br />

parâmetro para uma humanidade<br />

mais pacífica e sustentável.<br />

Em ultima análise, é importante ressaltar<br />

aos professores, pais, atletas<br />

mais experientes, dirigentes esportivos,<br />

profissionais envolvidos na<br />

organização esportiva, entre outros,<br />

que o respeito à norma transmite,<br />

ainda que de forma inconsciente,<br />

aqueles a si subordinados ou liderados,<br />

princípios de atribuição<br />

moral e ética, que se relacionam<br />

com o respeito às demais pessoas.<br />

Isso é inicialmente compartilhado<br />

com um grupo social e levado para<br />

outras instituições, universidades,<br />

empresas, famílias, em benefício<br />

do funcionamento do grupo, colaborando<br />

para a paz social.<br />

Assim, o papel da regra vai além<br />

daquilo que está no papel.<br />

Na próxima edição abordaremos<br />

casos reais, com fundamento nas<br />

regras da Confederação Brasileira<br />

de Jiu Jitsu (CBJJ). Se você tiver<br />

dúvida em relação a alguma regra<br />

ou necessitar de esclarecimentos,<br />

entre em contato conosco pelas<br />

redes sociais ou pelo e-mail da<br />

redação. Até a próxima. BC<br />

Foto: Jack Taketsugo<br />

22 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 23


ENCICLOPÉDIA<br />

STANLEI VIRGILIO – O <strong>MAIO</strong>R PESQUISADOR DA HISTÓRIA DO JUDÔ E JIU JITSU<br />

Sensei Stanlei, o primeiro em pé da esquerda para direita, com seus alunos, no Clube Stanlei de Judô de Campinas, São Paulo, na década de 90<br />

Fabio Quio Takao<br />

Atleta de jiu jitsu e pesquisador<br />

fabio.quio1@gmail.com<br />

Em um universo com figuras<br />

e histórias cada vez<br />

mais efêmeras, os valores<br />

intrínsecos às artes marciais<br />

orientais, tais como honrar<br />

os mestres e reverenciar o esforço<br />

dos pioneiros, estão cada vez mais<br />

raros. Felizmente, obras como a<br />

do Sensei Stanlei mostram que<br />

perpetuar a história tem um papel<br />

fundamental no desenvolvimento<br />

do ser humano.<br />

O maior autor de livros sobre o<br />

judô brasileiro, Stanlei Virgílio, foi<br />

responsável por registrar os principais<br />

personagens e acontecimentos<br />

que fatalmente seriam esquecidos<br />

pelas novas gerações de lutadores.<br />

Seu amor pelo judô foi tamanho<br />

que a prática, desde sua juventude,<br />

e posteriormente sua atuação como<br />

Sensei, foram apenas o início de sua<br />

contribuição para o esporte. Stanlei<br />

quis retribuir muito mais à arte<br />

marcial, que mudara sua vida, registrando<br />

seu conhecimento de forma<br />

"Até o lançamento do livro<br />

de Stanlei, mesmos os praticantes<br />

mais experientes<br />

de jiu jitsu basicamente só<br />

sabiam o nome de Conde<br />

Koma e que o mesmo havia<br />

ensinado Carlos Gracie".<br />

que as gerações<br />

futuras pudessem<br />

aprender, por meio<br />

de uma metodologia<br />

organizada e<br />

racional, os mais<br />

sutis detalhes da<br />

arte.<br />

Nascido em Rio<br />

Claro, São Paulo em 1932, conheceu<br />

o judô aos 20 anos em Assis (SP).<br />

Em 1969, recebeu seu diploma de<br />

faixa preta e, finalmente, em 1987<br />

fundou o Clube Stanlei de Judô e<br />

Ginástica em Campinas (SP).<br />

A lista de publicações do autor impressiona:<br />

“A Arte do Judô” (1987),<br />

“Judô – golpes extra Gokiô” (1990),<br />

“Judô Campinas-história e arte”<br />

(1994), “Defesa Pessoal” (1994) em<br />

parceria com o professor de jiu jitsu<br />

Carlos Alberto Liberi,<br />

“Arte e o ensino<br />

do Judô” (2000),<br />

“Conde Koma- O<br />

invencível Yondan<br />

da história” (2002),<br />

“Personagens e<br />

histórias do Judô<br />

brasileiro” (2002)<br />

e “Judô - Ne-Wazá” (2016).<br />

Suas pesquisas despertaram interesse<br />

do público praticante de<br />

judô e também dos praticantes do<br />

jiu jitsu, por meio do livro sobre a<br />

vida de Mitsuyo Maeda, personagem<br />

que, apesar de ser oriundo do judô<br />

24 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Kodokan, foi o ponto de partida<br />

para o desenvolvimento do jiu jitsu<br />

praticado pela família Gracie.<br />

Até o lançamento do livro de Stanlei,<br />

mesmos os praticantes mais experientes<br />

de jiu jitsu basicamente só<br />

sabiam o nome de Conde Koma e<br />

que o mesmo havia ensinado Carlos<br />

Gracie. Foi apenas por meio desta<br />

obra que a figura quase mitológica<br />

do Conde Koma passou a ter<br />

feições humanas, com contornos<br />

fascinantes.<br />

Outros personagens que foram<br />

antagonistas da família Gracie e,<br />

portanto, também importantes<br />

figuras do cenário de lutas esportivas<br />

e também de “Vale Tudo”, como<br />

os irmãos Yassuite<br />

e Naoite Ono,<br />

também foram<br />

devidamente citados<br />

nos livros<br />

de Stanlei.<br />

Se o livro “Personagens<br />

e histórias<br />

do judô brasileiro”<br />

pode ser considerado<br />

a publicação<br />

mais importante<br />

sobre a história<br />

do judô nacional, “Conde Koma - o<br />

invencível Yondan da história” foi<br />

crucial para estimular uma nova<br />

geração de pesquisadores, que<br />

passou a se interessar mais pela<br />

origem do jiu jitsu brasileiro. Para<br />

conseguir material de pesquisa,<br />

Stanlei recorreu a viagens, entrevistas<br />

e até a caríssimas traduções<br />

de textos japoneses, a fim de compartilhar<br />

interessantes passagens<br />

sobre a vida de Maeda, até então<br />

completamente desconhecidas<br />

pelos amantes das artes marciais.<br />

Aos 85 anos, no dia 9 de março de<br />

2017 o Kodansha Stanlei Virgílio<br />

faleceu, deixando muita saudade e<br />

um legado inestimável para o judô<br />

e jiu jitsu brasileiro.<br />

Stanlei concedera uma entrevista<br />

em novembro de 2011 em seu Dojô<br />

de aspecto tradicional e, ao mesmo,<br />

tempo cativante. Com uma simpatia<br />

ímpar e humildade que não deixava<br />

"Para conseguir material de<br />

pesquisa, Stanlei recorreu a<br />

viagens, entrevistas e até<br />

a caríssimas traduções de<br />

textos japoneses, a fim de<br />

compartilhar interessantes<br />

passagens sobre a vida de<br />

Maeda, até então completamente<br />

desconhecidas<br />

pelos amantes das artes<br />

marciais".<br />

transparecer que estávamos ouvindo<br />

o maior conhecedor da história<br />

do judô brasileiro, pudemos saber<br />

mais sobre o pioneiro das pesquisas<br />

sobre lutas que inspirou o autor<br />

deste texto a se aprofundar na<br />

história das artes marciais.<br />

Brasil Combate: Como iniciou seu<br />

contato com o judô?<br />

Stanlei Virgilio: Por curiosidade.<br />

Junto com alguns amigos, fomos<br />

conhecer uma luta praticada pelos<br />

japoneses, que diziam ser terrível.<br />

Fui um tanto apreensivo, mas, ao<br />

chegar, fiquei surpreso com a cordialidade<br />

e o ambiente saudável.<br />

Foi amor à primeira vista. Passei<br />

por alguns Senseis ao longo do meu<br />

aprendizado. Por<br />

conta do meu trabalho,<br />

tive oportunidade<br />

de praticar<br />

o judô em várias<br />

cidades do Brasil.<br />

Em relação ao<br />

meu período como<br />

Sensei, sempre tive<br />

preocupação maior<br />

em formar excelentes<br />

cidadãos, mas<br />

alguns também se<br />

destacaram como competidores,<br />

como um aluno que passou uma<br />

temporada treinando com o grande<br />

Sensei João Gonçalves. Após alguns<br />

meses, o João Gonçalves me ligou<br />

elogiando a técnica desse aluno que<br />

estava treinando com competidores<br />

muito mais experientes.<br />

BC: Quando o senhor sentiu que<br />

poderia transformar sua experiência<br />

em livros?<br />

SV: Quando comecei a praticar<br />

judô, gostei tanto do esporte que<br />

busquei publicações, mas não<br />

encontrei quase nada. Cheguei a<br />

ganhar um pequeno livro, mas era<br />

muito fraco. Em 1954 me lembro<br />

de um livro publicado aqui de um<br />

autor português e era muito bom,<br />

mas era uma exceção. Sentia que<br />

era necessário elaborar um livro<br />

baseado em princípios pedagógicos<br />

e que fosse mais aprofundado sobre<br />

a técnica do judô. Comecei, então, a<br />

buscar e catalogar todo e qualquer<br />

texto, matérias de jornais e revistas<br />

que trouxessem informações sobre<br />

a história, prática e ensino do judô.<br />

Após algum tempo, percebi que meu<br />

primeiro livro estava pronto. Continuei<br />

com essa pesquisa incessante e<br />

os livros que vieram a seguir foram<br />

saindo de forma mais natural.<br />

BC: Analisando o histórico do judô<br />

contado em seu livro “Personagens<br />

e histórias do judô brasileiro”, constatamos<br />

que a partir da década de<br />

30 havia três grupos distintos que<br />

compunham o judô brasileiro: a<br />

Academia Ono liderada por Yassuite<br />

e Naoite Ono, os representantes<br />

“oficiais” do Kodokan lideradas por<br />

Tatsuo Okoshi e a mais numerosa<br />

que era a Budokan liderada por<br />

Ryuzo Ogawa. Podemos afirmar<br />

que a Budokan e suas academias<br />

afiliadas organizaram o judô espor-<br />

Stanlei Virgílio – o mais importante autor<br />

de livros sobre o judô brasileiro<br />

Fotos: Arquivo Pessoal<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 25


tivo no Brasil?<br />

SV: Isso mesmo. Os irmãos Ono<br />

inicialmente dedicaram-se mais a<br />

lutar desafios nas regras do jiu jitsu,<br />

da luta livre ou até mesmo “valendo<br />

tudo”. O representante do Kodokan,<br />

Tatsuo Okoshi, não tinha o judô<br />

como atividade principal, ao passo<br />

que a Budokan de Ryuzo Ogawa<br />

tinha dezenas de filiais espalhadas<br />

por São Paulo e, mais tarde, passou<br />

a orientar a academia de Augusto<br />

Cordeiro, a principal academia de<br />

judô do Rio de Janeiro. Ogawa<br />

impunha uma disciplina rígida em<br />

seus treinamentos e passou a ser<br />

exemplo de organização para todas<br />

as academias. Seus campeonatos<br />

internos eram enormes e de alto<br />

nível técnico.<br />

BC: Em relação aos livros que<br />

abordam as técnicas e o sistema<br />

de ensino do judô, quais foram as<br />

maiores dificuldades?<br />

SV: Eu queria organizar um método<br />

de ensino científico, pois não havia<br />

nada na época com essa preocupação.<br />

Foi muito trabalhoso, pois<br />

cheguei a cronometrar séries de<br />

exercícios e repetições para que<br />

o método fosse o mais eficiente<br />

possível. A parte das ilustrações<br />

dos primeiros livros<br />

foi bastante<br />

complicada incialmente,<br />

já que não<br />

existiam tantos recursos<br />

como programas<br />

específicos<br />

para demonstrar<br />

os golpes. Minha<br />

preocupação em<br />

relação aos meus<br />

livros sempre foi<br />

que houvesse não só a abordagem<br />

técnica, mostrando uma sequência<br />

adequada para o aprendizado do<br />

judô, mas que também mostrasse<br />

o quão importante são a filosofia<br />

e a história do judô.<br />

BC: Como conseguiu entrevistar<br />

todos os grandes pioneiros do judô?<br />

"Minha preocupação em<br />

relação aos meus livros<br />

sempre foi que houvesse<br />

não só a abordagem técnica,<br />

mostrando uma sequência<br />

adequada para o<br />

aprendizado do judô, mas<br />

que também mostrasse o<br />

quão importante são a filosofia<br />

e a história do judô".<br />

SV: Não foi fácil. Alguns foram<br />

bastante solícitos, pois eu já tinha<br />

algum contato, mas outros mestres,<br />

por modéstia ou até por não saber<br />

qual era o objetivo principal das<br />

entrevistas, acabavam me evitando<br />

no início. Graças à<br />

ajuda da Federação<br />

e de amigos<br />

em comum, os mais<br />

tímidos acabaram<br />

por me atender e<br />

dar importantes<br />

testemunhos de<br />

como o judô e outras<br />

modalidades<br />

como jiu jitsu e<br />

luta livre se desenvolveram<br />

no Brasil.<br />

BC: O livro sobre o Conde Koma<br />

trouxe muita luz sobre um personagem<br />

que, apesar de ter vindo do<br />

Kodokan, acabou por gerar mais<br />

impacto na criação do jiu jitsu brasileiro.<br />

Como foi pesquisar em uma<br />

época em que não havia internet?<br />

SV: Eu tive que viajar muito para<br />

buscar informações e colher entrevistas.<br />

Na época em que estava<br />

pesquisando, consegui marcar<br />

uma entrevista com Hélio Gracie,<br />

apesar de ele já adiantar que sabia<br />

muito pouco sobre o Mitsuyo<br />

Maeda. Recebeu-me muito bem e<br />

me mostrou alguns vídeos dos seus<br />

filhos atuando nos Estados Unidos.<br />

Ele me escreveu um bilhete depois<br />

que enviei o livro pronto, elogiando<br />

meu trabalho. Além da pesquisa<br />

em jornais da época que citei nos<br />

livros, complementei minha busca<br />

viajando até Manaus, no bairro<br />

chamado Cachoeirinha, onde o<br />

Satake morou, além de falar com<br />

vizinhos e visitar o consulado. Tudo<br />

isso para buscar fragmentos que<br />

poderiam complementar a história<br />

desses personagens que foram tão<br />

importantes para as artes marciais. BC<br />

Carta de Hélio Gracie agradecendo a pesquisa de Stanlei Virgílio em 2002.<br />

26 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


ALIMENTAÇÃO AFIADA<br />

A POLÊMICA DO ÓLEO DE COCO<br />

Sabrina Cavalcanti<br />

Nutricionista Esportiva<br />

@nutrisabrinacavalcanti<br />

Quando se fala em nutrição, sobretudo a esportiva,<br />

muitas soluções milagrosas aparecem,<br />

mas a maioria delas não está cientificamente<br />

fundamentada. Com o óleo de côco não foi diferente. Ele<br />

já foi (e ainda é) taxado de: emagrecedor, imunomudulador,<br />

laxante, regulador de HDL, energizante, pré-treino,<br />

pós-treino, dentre outros. A polêmica é grande e envolve<br />

muitos profissionais da saúde, marketeiros e incluenciadores<br />

digitais.<br />

Para trazer luz ao tema, algumas sociedades e associações<br />

de classes brasileiras decidiram se posicionar<br />

a respeito. Nesta edição vou apresentar alguns desses<br />

posicionamentos.<br />

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia<br />

(SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da<br />

Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) fizeram<br />

uma comunicação pública a respeito da INEFICÁCIA do<br />

óleo de côco, como poderoso emagrecedor (publicidade<br />

feita massivamente por anos).<br />

Além disso, o comunicado enfatiza possíveis danos à<br />

saúde, provocados pelo consumo excessivo desse tipo<br />

de óleo, dada sua elevada concentração de dois tipos de<br />

gorduras, a saber, os ácidos graxos: láurico e mirístico<br />

(conhecidamente hipercolesterolêmicos).<br />

Em 2013, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC),<br />

em suas diretrizes sobre o Consumo de Gorduras e<br />

Saúde Cardiovascular, desaconselhou o uso de óleo de<br />

côco por pacientes que apresentem colesterol elevado<br />

(hipercolesterolemia), pois alguns estudos comprovaram<br />

aumento significativo da fração no HDL e triglicérideos<br />

associado ao consumo do produto.<br />

Por sua vez, o Conselho Federal de Nutricionistas, em<br />

seu site, aborda o tema da seguinte forma:<br />

“...considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre<br />

os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as<br />

concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o<br />

preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco,<br />

quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade,<br />

equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que<br />

seja usado em pequenas quantidades e em preparações<br />

culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in<br />

natura ou minimamente processados, não sendo recomendado<br />

para tratamento da hipercolesterolemia”<br />

Já a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) foi<br />

além e pulicou comunicado oficial bem detalhado,<br />

que vale a pena ser lido no site da ABRAN. Em resumo,<br />

após a citação de vários estudos científicos ao longo<br />

do comunicado, a ABRAN disserta: que dada a “robusta<br />

associação entre consumo de ácidos graxos saturados e o<br />

risco de doenças cardiovasculares”, o óleo de coco não deve<br />

ser prescrito na prevenção ou no tratamento da obesidade,<br />

pois, não emagrece.<br />

Além disso, o óleo também não deve ser prescrito para<br />

prevenção ou tratamento de doenças neuro-degenerativas,<br />

nem como nutriente antimicrobiano, nem como imunomodulador,<br />

pela ausência de grandes estudos, bem controlados,<br />

relativos ao óleo de coco em humanos”.<br />

Usar ou não usar o oléo de coco?<br />

Diante do demonstrado acima, a dúvida paira. Bom, o<br />

corpo necessita de todos os tipo de gorduras: saturadas,<br />

poliinsaturadas, monoinsaturadas, em quantidades<br />

adequadas. É necessário colesterol para produzir alguns<br />

tipos de hormônios, por exemplo. Então, a fim de manter<br />

uma alimentação saudável e equilibrada, sobretudo para<br />

lutadores, nenhum grupo alimentar deve ser excluído da<br />

dieta, e também soluções milagrosas, sem embasamento<br />

científico, não devem ter adesão.<br />

É importante ressaltar que o enumerado aqui não é a<br />

demonização do produto. O objetivo é esclarecer que o<br />

óleo de côco deve ser consumido de forma moderada,<br />

assim como a manteiga, a carne vermelha, entre outros.<br />

Isso, porque algumas pessoas compram falsas ideias de<br />

que o óleo de côco é o salvador da pátria.<br />

É preciso cautela, ao se deparar com campanhas publicitárias<br />

que afirmam o óleo de coco servir para tratamentos<br />

capilares, tratamentos dermatológicos, laxantes e ainda<br />

seca barriga. Tudo isso seria ótimo em um só produto,<br />

mas não é o caso.<br />

Assim, nosso posicionamento está referendado pelas<br />

as cinco sociedades e associações mais renomadas do<br />

Brasil. O conhecimento científico está em constante<br />

construção e, por isso, devemos estar atentos a estudos<br />

e não a campanhas publicitárias.<br />

De toda sorte, alimentação saudável + atividade física +<br />

sono adequado + consumo adequado de água + paz de<br />

espírito: esta é a melhor receita para o sucesso. BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 27


SUPERAÇÃO<br />

Aos 15 anos, diagnosticado com osteosarcoma e metástases no<br />

pulmão, mesmo passando por severas quimioterapias, teve a perna<br />

amputada. Desde então, Farlley passou a maior parte de seu tempo<br />

caindo e levantando do chão.<br />

Jack Taketsugo<br />

Repórter<br />

@jack_tkts<br />

A<br />

proposta apresentada<br />

nesta sessão é a de<br />

um novo olhar sobre<br />

as possibilidades que<br />

os portadores de necessidades<br />

especiais têm em relação aos seus<br />

sonhos. Neste contexto, o jiu jitsu se<br />

mostra um esporte inclusivo.<br />

Nesta edição, apresentaremos mais<br />

um heroi que desafia não só os seus<br />

competidores, mas a si mesmo e<br />

as dificuldades impostas por seu<br />

próprio corpo.<br />

Mineiro de Montes Claros, Farlley<br />

Milioni é atleta paraolímpico do<br />

jiu jitsu e coleciona diversas títulos<br />

em seu currículo, dentre eles o de<br />

campeão mundial de para jiu jitsu,<br />

realizado em Abu Dhabi, Emirados<br />

Árabes, no torneio Word Professional<br />

Jiu-Jitsu Championship. Em 2016,<br />

Farlley foi bicampeão mundial de<br />

jiu jitsu por peso e vice-campeão<br />

mundial na categoria absoluto, em<br />

torneios paraolímpicos. Disputou<br />

também uma série de eventos com<br />

atletas não paraolímpicos, sendo<br />

campeão da terceira Copa Norte<br />

de Minas, do segundo Open de Jiu<br />

Jitsu e do BH Open. Aos 30 anos, o<br />

atleta da GFTeam raciona o tempo<br />

entre os treinamentos na academia<br />

e a faculdade de medicina.<br />

A vida, contudo, nem sempre foi de<br />

pódio. Aos 15 anos, Farlley começou<br />

a sentir fortes dores em um dos<br />

joelhos, que muitas vezes o impediam<br />

de ficar de pé. No hospital, o<br />

diagnosticaram com osteosarcoma,<br />

um tipo de severo de câncer ósseo.<br />

Diante de médicos especialistas, foi<br />

informado que teria de se submeter<br />

a dolorosas quimioterapias, porém o<br />

tumor não regrediu com as sessões<br />

e o atleta teve sua primeira derrota:<br />

a amputação de sua perna esquerda.<br />

Um mês depois, Farlley por um<br />

instante se viu abatido por mais<br />

um novo golpe cruel: o diagnóstico<br />

de metástase no pulmão, o que fez<br />

com que fosse submetido a outra<br />

cirurgia. Desta vez, o atleta sagrou-<br />

-se campeão do próprio destino:<br />

“Os médicos conseguiram retirar a<br />

metástase e, de lá para cá, graças<br />

Deus, não apareceram mais sinais<br />

dela. Estou curado há 15 anos”,<br />

comemora.<br />

O início foi difícil e ele passou a<br />

maior parte de seu tempo caindo e<br />

levantando do chão. A vida seguiu,<br />

graduou-se em Direito, na mesma<br />

época em que trabalhava em um<br />

banco, mas, como todo campeão,<br />

Farlley não se satisfez e almejava<br />

mais. “Desde a minha infância, eu<br />

queria ser médico. Assim que me<br />

formei em direito, larguei meu emprego<br />

no banco e passei a estudar<br />

para ser aprovado no curso de medicina.<br />

Consegui ingressar, e hoje<br />

estou no terceiro ano do curso na<br />

Universidade Estadual de Montes<br />

Claros”. Sonho realizado.<br />

Desde então, os sonhos tornaram-<br />

Farlley ingressando na área de luta do Abu<br />

Dhabi World Pro Jiu-Jitsu <strong>2018</strong><br />

Fotos: Arquivo Pessoal<br />

28 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Foto: Jack Taketsugo<br />

Com a calma de um campeão, o atleta busca a finalização, no International Pro Jiu Jitsu Championship realizado na cidade de Brasília<br />

-se objetivos e os desafios foram<br />

superados um a um. Nessa esteira,<br />

o jiu jitsu também se tornou um<br />

passo desafiador para Farlley: “O jiu<br />

jitsu entrou na minha vida há cinco<br />

anos. Eu fazia musculação em uma<br />

academia em Montes Claros e um<br />

vidro separava o tatame da área<br />

de musculação. eu passava por lá<br />

e pensava comigo: que legal, será<br />

que eu consigo? Bom, pelo menos<br />

é uma luta de chão, talvez eu consiga.<br />

Observava o treino a distância,<br />

imaginando como eu poderia me<br />

sair naquela modalidade. Até que<br />

um dia, o professor Liu (Eliechiton<br />

Leopoldo) me abordou e me perguntou<br />

se eu não gostaria de fazer uma<br />

aula experimental, ao que titubeei e<br />

o questionei se eu conseguiria. Ele,<br />

prontamente, me respondeu: “claro<br />

que você consegue. A deficiência está<br />

na sua mente e não no seu corpo”.<br />

Tocado com o convite do professor,<br />

Farlley retornou à academia no dia<br />

seguinte e fez a aula experimental<br />

de jiu jitsu. Depois disso, nunca<br />

mais se viu sem os treinos e até já<br />

foi eleito atleta do ano no Troféu<br />

Bola Cheia – Prêmio Marcelino Paz<br />

do Nascimento premiação realizada<br />

pelo globoesporte.com. “Eu me<br />

apaixonei pelo esporte. Na semana<br />

seguinte, comprei meu primeiro<br />

quimono e, de lá para cá, não parei<br />

mais de praticar o jiu jitsu. Treino há<br />

cinco anos e há quatro participo de<br />

competições. Já conquistei diversos<br />

títulos. No ano de 2017, fui eleito o<br />

atleta do ano na cidade de Montes<br />

Claros”.<br />

Em relação ao Word Professional<br />

Jiu-Jitsu Championship, em que<br />

compete na categoria classe C, para<br />

amputados acima do joelho, Farlley<br />

comenta: “Dentre as competições, a<br />

mais importante que eu participei<br />

foi o mundial do World Pro pela<br />

UAEJJF. Essa é a competição mais<br />

importante do mundo em termos<br />

de reconhecimento, premiação,<br />

estrutura, comprometimento com<br />

o atleta. Para me classificar para<br />

o torneio, tive de passar por várias<br />

etapas da competição promovidas<br />

pela UAEJJF. Sinto-me muito feliz e<br />

realizado no esporte. A adrenalina<br />

das competições é incrível”.<br />

Agora, inicia-se a nova temporada<br />

de competições e, neste mês, acontecerá<br />

o primeiro Word Professional<br />

Jiu-Jitsu Championship no Brasil, que<br />

será sediado em Gramado-RS. “Quero<br />

me classificar e poder defender meu<br />

título ano que vem em Abu Dhabi.<br />

Quero começar bem o ano com o pé<br />

direito literalmente (risos)”. BC<br />

Farlley conquista a medalha de prata no Gran Slam <strong>2018</strong>, realizado na cidade do Rio de Janeiro<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 29


ABRINDO O JOGO<br />

DUAS OPÇÕES DE ESTRANGULAMENTO NA MONTADA<br />

Faixa preta de jiu jitsu há mais de 23 anos, Nilson Liboni<br />

é representante da equipe Gracie Humaitá e foi formado<br />

pelos Mestres Royler e Rolker Gracie. O casca-grossa<br />

também pratica muay thai, mas foi na arte suave que se<br />

sagrou bi-campeão mundial, entre outros títulos nacionais<br />

e internacionais.<br />

Hoje, a sessão abrindo o jogo será apresentada pelo<br />

professor Nilson Liboni, que mostrará duas opções de<br />

estrangulamento surpresa, partindo da montada. Atenção<br />

aos detalhes.<br />

seu adversário.<br />

3.<br />

1.<br />

Se o adversário tentar a saída, aplicando um upa para<br />

o lado em que você estiver, fique tranquilo, porque terá<br />

um apoio fácil com sua mão e poderá também atacar<br />

com o arm-lock.<br />

4.<br />

Faça a pegada com a palma da mão para cima na gola<br />

cruzada de seu adversário. Detalhe: coloque a mão o<br />

mais fundo possível e encoste o cotovelo no peito dele.<br />

2.<br />

É importante que seu tríceps esteja encostado no pescoço<br />

de seu adversário, o mais justo possível.<br />

Quando não conseguir o estrangulamento convencional,<br />

coloque o cotovelo da outra mão rente ao pescoço de<br />

5.<br />

30 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


Na hora de finalizar, abaixe bem seu corpo, como se<br />

fizesse um sprawl, abrindo o cotovelo da mão que está<br />

na gola, sem desencostar do peito de seu adversário,<br />

até ele bater.<br />

6.<br />

Para finalizar, gire seu corpo para o lado da mão nas<br />

costas e puxe a mão da gola para você, até seu adversário<br />

desistir.<br />

9.<br />

Dificilmente você será retirado da montada com o upa<br />

para o outro lado, mas, se for, segure na faixa ou no<br />

quimono, sem desencostar o braço do pescoço dele.<br />

7.<br />

Gostou da posição? Conheça mais sobre o professor<br />

Liboni .<br />

Praticante do esporte há mais de 38 anos, Liboni é da<br />

antiga escola do jiu jitsu, mas não deixou a tecnologia<br />

passar em branco: resolveu usá-la para disseminar todo<br />

o seu conhecimento pelas mídias sociais. O professor<br />

tem um canal no youtube, o BJJ Upgrade, que conta com<br />

mais de 100 vídeo-aulas.<br />

O programa de aulas do BJJ Upgrade auxilia desde os<br />

atletas iniciantes até os mais experientes dentro da arte<br />

suave. No canal, Liboni mostra, com detalhes, dicas de<br />

construção das aulas, finalizações e técnicas de jiu jitsu.<br />

Esta minúcia enriquece ainda mais o conteúdo divulgado.<br />

Veja as pegadas na foto. A mão que está na gola no<br />

pescoço não muda, continua segurando, já a outra, que<br />

estava com o cotovelo no tatame segura nas costas ou<br />

a faixa, sem desencostar o braço do pescoço.<br />

8.<br />

BC<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 31


FERAS DO MMA<br />

O LEGADO DE VITOR BELFORT<br />

Foto: JUFC/Divulgação<br />

Kleber Santos<br />

Repórter<br />

@ferasdomma<br />

D<br />

entro e fora do octógono,<br />

Vitor Belfort foi único.<br />

Esteve no lugar certo, na<br />

hora certa e na entidade<br />

que o projetaria mundialmente: o<br />

UFC. Foi lá que fez sua segunda luta<br />

como profissional nas Artes Marciais<br />

Mistas no UFC 12, no dia 7 de fevereiro<br />

de 1997, e onde, em 12 de maio<br />

de <strong>2018</strong>, no UFC 224, encerrou sua<br />

carreira. O atleta participou da fase<br />

antiga e da moderna da organização,<br />

sendo que sua trajetória se confunde<br />

com o próprio crescimento do MMA<br />

no mundo. Além do UFC, passou pelo<br />

Strikeforce, Cage Rage, Pride, só para<br />

citar os principais.<br />

Em 41 lutas como profissional,<br />

venceu 26, perdeu 14 e houve uma<br />

luta sem resultado (No Contest). Um<br />

currículo assim talvez não chamasse<br />

tanta atenção, mas são nos detalhes<br />

das lutas que se percebe o porquê<br />

ser chamado “Fenômeno”. Dos 26<br />

confrontos, venceu 7 em menos<br />

de um minuto. E mais:<br />

com apenas quatro<br />

meses de sua estreia<br />

profissional, lutou no<br />

UFC 12 duas lutas sem<br />

luvas na mesma<br />

noite, que, juntas,<br />

duraram apenas<br />

dois minutos,<br />

conquistando<br />

o cinturão do<br />

Torneio de Pesados<br />

do UFC,<br />

com apenas<br />

19 anos. Ninguém<br />

tinha<br />

vencido uma<br />

final de torneio<br />

de for-<br />

ma tão rápida e avassaladora. A<br />

façanha pode ter surpreendido muita<br />

gente, mas não o seu mestre Carlson<br />

Gracie, professor que lhe deu a faixa<br />

preta de jiu jitsu e o levou para<br />

treinar nos Estados Unidos.<br />

O fenômeno ganhou mais nome<br />

quando houve a primeira luta do<br />

UFC no Brasil, em 1998. Quem não<br />

se recorda da sequência de socos<br />

em Wanderlei Silva? Na prática, ele<br />

foi o terceiro brasileiro de renome a<br />

se destacar no UFC, atrás apenas de<br />

Royce Gracie e Marcos Ruas. Depois<br />

do duelo com Wand, aventurou-se no<br />

Pride e conquistou quatro vitórias<br />

e uma derrota. Foi quando mostrou<br />

atacar no esporte de outra forma:<br />

através da televisão, mas não lutando.<br />

Em 2002, Belfort aceitou participar<br />

da segunda edição da Casa dos Artistas,<br />

no SBT, o que fez popularizar<br />

um pouco mais o MMA no Brasil. O<br />

atleta permaneceu no programa por<br />

nove semanas e, apenas dois meses<br />

após a saída da Casa, emplacou<br />

uma luta com Chuck Liddell, com<br />

transmissão do próprio SBT, que foi<br />

no reboque da fama de Belfort. Ele<br />

perdeu, mas apresentou para a TV<br />

aberta brasileira este esporte pela<br />

primeira vez.<br />

Apesar da derrota, duas lutas depois,<br />

Vitor acabou se sagrando campeão<br />

do Meio-Pesado do UFC, ao ganhar<br />

de Randy Couture, que, na verdade,<br />

abandonou a luta por conta da<br />

emenda da luva de Belfort que cortou<br />

olho de Couture. Independente disto,<br />

pela primeira vez um lutador havia<br />

conquistado dois cinturões em categorias<br />

distintas. Feito significativo.<br />

A partir daí, Vitor Belfort viveu seu<br />

pior momento. De 2004 a 2006,<br />

perdeu cinco lutas de sete, mas<br />

deu a volta por cima e emplacou<br />

cinco vitórias, das quais quatro por<br />

nocautes. Foi quando foi novamente<br />

protagonista do UFC, ao ter a chance<br />

de lutar contra Anderson Silva,<br />

então campeão dos Médios. Apesar<br />

do nocaute antológico que sofreu<br />

de Spider, a luta foi transmitida ao<br />

vivo pela Rede Globo com narração<br />

de Galvão Bueno. A partir daí, o MMA<br />

tornou-se febre no país, alcançando<br />

um público até então inatingível.<br />

Depois de lutar e vencer duas vezes,<br />

Vitor participou do The Ultimate<br />

Fighter Brasil, um reality show no<br />

qual foi treinador de aspirantes ao<br />

UFC. Mais visibilidade e divulgação<br />

do esporte em tevê aberta.<br />

RECOMEÇO<br />

Após perder para Jon Jones, muita<br />

gente pensou que Belfort já estava<br />

em fim de carreira. Em 2013, contudo,<br />

ele se reinventou e, com ajuda da<br />

Terapia de Reposição de Testosterona<br />

(TRT), obteve três vitórias espetaculares<br />

com chutes na cabeça: Michael<br />

Bisping, Luke Rockhold e Dan Henderson.<br />

Era a chance de que precisava<br />

para tentar obter o cinturão de três<br />

categorias diferentes, agora pelo<br />

Médios. Ele lutou com o campeão<br />

da época, Chris Weidman, e perdeu.<br />

Esboçou se superar ao vencer Dan<br />

Henderson, quebrando o recorde de<br />

mais nocautes na história do UFC<br />

(12), mas nunca mais foi o mesmo.<br />

No final da carreira, perdeu três<br />

lutas, venceu uma e teve uma luta<br />

sem resultado. Na mesma linha, a<br />

aposentadoria não poderia ter sido<br />

pior: no último duelo, o nocaute de<br />

Lyoto Machida foi semelhante ao<br />

sofrido contra Anderson Silva. Nas<br />

palavras do próprio Belfort, publicada<br />

em redes sociais: “Quem disse que<br />

um raio não atinge o mesmo lugar<br />

duas vezes...”. É verdade, Belfort, um<br />

raio pode até cair no mesmo lugar<br />

duas vezes, mas um fenômeno como<br />

você é único. O MMA agradece a sua<br />

carreira de mais de 20 anos no topo<br />

deste esporte! BC<br />

32 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


OS INFLUENTES<br />

DO INSTAGRAM<br />

@JIUJITSU_<strong>BRASIL</strong>: A página foi criada em<br />

junho de 2014, com o intuito de ajudar e incentivar<br />

as pessoas a praticarem jiu jitsu. Hoje<br />

é uma das maiores páginas de jiu jitsu do Brasil<br />

e tem cumprido sua principal missão: divulgar<br />

a verdadeira filosofia da arte suave.<br />

@JIUJITSUVICIADOS: A missão do perfil é<br />

apoiar os seguidores, com a divulgação de<br />

seus trabalhos e apresentação de vídeos com<br />

posições e novidades a respeito do jiu jitsu.<br />

Isso, para fornecer um serviço de qualidade,<br />

respeitando todas as equipes.<br />

@LUTADORASDEJIUJITSU: Criado há quase<br />

três anos para incentivar e propagar o esporte<br />

entre as mulheres, por meio de postagens de<br />

fotos, divulgando lutadoras jiujiteiras, que estão<br />

conquistando seu espaço e seu valor dentro<br />

da arte suave.<br />

@BJJOLDSCHOOL: Jiu Jitsu Old School é uma<br />

página dedicada a todos os amantes da arte<br />

suave, que tem o jiu jitsu como um verdadeiro<br />

estilo de vida. Há vídeos e publicações de todas<br />

as melhores academias, atletas, profissionais e<br />

professores do mundo.<br />

@TATAME4GIRLS: Dedicado à divulgação do<br />

jiu jitsu feminino. Disponibiliza dicas de nutrição,<br />

técnicas de luta, divulgação de atletas<br />

e campeonatos e tem como principal objetivo<br />

mostrar que o jiu jitsu é um esporte que se adequa<br />

perfeitamente às características femininas.<br />

@JIUJITSUDAQUI: O canal objetiva divulgar<br />

as equipes, atletas e campeonatos da região<br />

Centro Oeste do Brasil, para tornar conhecido<br />

o jiu jitsu de alto nível da capital federal e do<br />

entorno.<br />

111K<br />

seguidores<br />

109K<br />

seguidores<br />

55,3K<br />

seguidores<br />

35,1K<br />

seguidores<br />

14,7K<br />

seguidores<br />

3,4K<br />

seguidores<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 33


FISIOTERAPIA ESPORTIVA<br />

RECOVERY E OS PRINCIPAIS RECURSOS<br />

NA RECUPERAÇÃO DOS LUTADORES<br />

Vinícius Bispo<br />

Fisioterapeuta e atleta de jiu jitsu<br />

@viniciusbiispo<br />

P<br />

rezados leitores, nesta<br />

edição abordaremos um<br />

tema muito falado nos<br />

bastidores do esporte<br />

nos últimos dois anos, em todo o<br />

mundo: o recovery. Esta palavra,<br />

escrita em inglês, em português<br />

significa “recuperação” e passou a<br />

ser bastante utilizada por inúmeros<br />

praticantes de diversos esportes,<br />

de alto rendimento ou de forma<br />

amadora.<br />

As estratégias de recuperação no<br />

esporte vêm se tornando pontos<br />

chave capazes de auxiliar o desempenho<br />

esportivo do atleta. E,<br />

claro, nos esportes de combate não<br />

poderia ser diferente.<br />

Atualmente, as atividades de recovery<br />

integram o programa preventivo<br />

e visam otimizar o processo<br />

de recuperação das cargas de<br />

treinamento intensas, podendo<br />

determinar, de forma significativa,<br />

o resultado de uma luta.<br />

O avanço tecnológico e científico de<br />

equipamentos e métodos utilizados<br />

por fisioterapeutas faz com que<br />

os recursos sejam intensificados,<br />

visando, principalmente, uma adequada<br />

recuperação ao atleta, a fim<br />

de minimizar as sobrecargas (não<br />

benéficas) advindas do treinamento<br />

e da competição.<br />

Cientificamente, durante o treinamento<br />

excessivo os atletas estão<br />

em um platô de desempenho<br />

crônico que não pode ser influenciado<br />

negativamente por baixas<br />

quantidades de repouso e recuperação.<br />

Os sintomas do excesso de<br />

treinamento incluem alterações no<br />

Atleta Thiago Pereira (Ribeiro JJ), realizando o recovery por meio da tecnologia Game Ready<br />

humor, apatia geral, diminuição da<br />

autoestima, instabilidade emocional,<br />

agitação, irritabilidade, insônia,<br />

perda de peso e apetite, aumento<br />

da frequência cardíaca em repouso,<br />

alterações hormonais<br />

e aumento da<br />

predisposição a<br />

lesões. No entanto,<br />

caso estratégias<br />

efetivas de recuperação<br />

sejam<br />

adotadas, a sessão<br />

de treinamento<br />

coincidirá com a<br />

fase de supercompensação<br />

e, consequentemente,<br />

a capacidade de<br />

desempenho aumentará.<br />

Em termos gerais, a recuperação<br />

pode ser dividida em dois principais<br />

pontos: recuperação mental e<br />

"Os sintomas do excesso<br />

de treinamento incluem<br />

alterações no humor, apatia<br />

geral, diminuição da<br />

autoestima, instabilidade<br />

emocional, agitação, irritabilidade,<br />

insônia, perda<br />

de peso e apetite, aumento<br />

da frequência cardíaca<br />

em repouso, alterações<br />

hormonais e aumento da<br />

predisposição a lesões".<br />

física. A recuperação mental passa<br />

por métodos que culminam em<br />

reduzir os estresses relacionados<br />

à fadiga mental, envolvendo os<br />

níveis biopsicossociais. Ou seja, o<br />

estresse advindo<br />

do treinamento,<br />

dos aspectos socioeconômicos<br />

e<br />

psicológicos podem<br />

influenciar<br />

negativamente o<br />

estado mental do<br />

atleta. Assim, no<br />

momento da luta,<br />

os níveis de fadiga<br />

mental podem<br />

desempenhar um<br />

papel fundamental<br />

na tomada de decisão como, por<br />

exemplo, o momento certo para<br />

chutar, socar, agarrar e colocar para<br />

baixo (queda). O tempo mínimo<br />

Fotos: Divulgação<br />

34 • Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br Maio de <strong>2018</strong>


para a tomada de<br />

decisão exigido<br />

na luta pode estar<br />

intimamente<br />

associado à fadiga<br />

mental, pois os<br />

níveis de concentração<br />

do atleta<br />

podem estar reduzidos<br />

e, desta<br />

forma, influenciar<br />

significativamente<br />

a sua atitude dentro<br />

do combate.<br />

Já a recuperação física, em termos<br />

gerais, divide-se em dois pontos<br />

principais: a recuperação muscular<br />

e a recuperação articular. O<br />

nível cada vez mais alto e exigido<br />

durante os treinamentos dentro<br />

das academias de combate certamente<br />

propicia e leva o atleta a se<br />

tornar uma máquina na modalidade<br />

praticada. E, claro, toda máquina<br />

necessita de reparos.<br />

O esforço máximo desempenhado<br />

pode gerar sobrecargas musculares<br />

e articulares, seja por uso excessivo<br />

(overtraining), por erros durante<br />

o treinamento e periodizações,<br />

descansos inadequados ou até<br />

mesmo pela execução inadequada<br />

das técnicas.<br />

Os sinais e sintomas relacionados às<br />

disfunções musculares e articulares<br />

podem ser identificados por meio<br />

de um aumento da temperatura no<br />

local da lesão, contraturas (músculo<br />

rígido), perda da flexibilidade, presença<br />

de hematomas, movimentos<br />

prejudicados, dor local e irradiada,<br />

dor ao tocar no local, entre outros.<br />

Atualmente, existem algumas estratégias<br />

para minimizar as sobrecargas,<br />

deixando o atleta mais apto a<br />

realizar o seu próximo treinamento<br />

ou sua próxima luta.<br />

Os principais recursos presentes na<br />

literatura e utilizados para promover<br />

a recuperação dos lutadores são:<br />

"Os sinais e sintomas relacionados<br />

às disfunções<br />

musculares e articulares<br />

podem ser identificados<br />

por meio de um aumento<br />

da temperatura no local<br />

da lesão, contraturas<br />

(músculo rígido), perda da<br />

flexibilidade, presença de<br />

hematomas, movimentos<br />

prejudicados, dor local e<br />

irradiada, dor ao tocar no<br />

local, entre outros".<br />

diminuir quadros<br />

inflamatórios pós-<br />

-treino e corrigir<br />

alterações articulares<br />

e musculares<br />

que geram dores,<br />

alterações posturais<br />

e tensões;<br />

- Crioterapia: é uma<br />

das estratégias de<br />

recuperação mais<br />

adotadas na medicina<br />

esportiva e amplamente<br />

utilizada por atletas de diversas<br />

modalidades, principalmente na<br />

tentativa de atenuar o cansaço e a<br />

fadiga após as sessões de treinos. Há<br />

muitos anos, a crioterapia vem recebendo<br />

destaque para o tratamento<br />

de lesões e, assim como vem sendo<br />

utilizada de forma estratégica na<br />

recuperação após exercícios, pode<br />

também ser utilizada de diferentes<br />

maneiras, tais como: bolsas de gelo,<br />

massagem com gelo, sprays frios,<br />

banho de imersão, associada à compressão<br />

contínua ou intermitente,<br />

entre outros.<br />

- Sistema de compressão pneumática:<br />

o sistema de compressão<br />

pneumática é uma das estratégias<br />

de recuperação tradicionalmente<br />

utilizada para tratar várias condições<br />

que envolvem o sistema musculo<br />

esquelético. Considera-se que<br />

as roupas de compressão melhoram<br />

o retorno venoso, por meio da aplicação<br />

de compressão graduada aos<br />

membros, desde proximal até distal.<br />

Embora existam poucas evidências<br />

sobre o uso roupas de compressão e<br />

recuperação para atletas, a pequena<br />

quantidade de dados sugere que<br />

pode haver benefícios e não há<br />

indícios de que impeçam o processo<br />

de recuperação.<br />

- Fisioterapia aquática: as sessões<br />

de recuperação no ambiente aquático<br />

são comumente utilizadas por<br />

atletas na tentativa de acelerar<br />

a recuperação. Essas sessões de<br />

recuperação ativa são tipicamente<br />

usadas para reduzir dor, espasmo<br />

muscular, rigidez articular e proporcionar<br />

melhora na circulação.<br />

Lembre-se: para traçar um protocolo<br />

adequado à sua necessidade e que<br />

lhe traga resultados, procure um<br />

fisioterapeuta.<br />

Até a próxima edição. Oss... BC<br />

Fotos: Divulgação<br />

- Recursos eletrofísicos, terapias<br />

manuais (liberação miofascial) e<br />

alternativas: amplamente utilizados<br />

entre os atletas de combate, para<br />

Atleta Thiago Pereira (Ribeiro JJ), realizando o recovery por meio de estímulos eletrofísico<br />

Maio de <strong>2018</strong> Brasil Combate Magazine • www.brasilcombate.com.br • 35


Fotos: Jack Taketsugu/Brasil Combate<br />

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