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edição de 4 de junho de 2018

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mas, Douglas Patrício, CEO das<br />

empresas Z+ no Brasil, explica<br />

que adotar <strong>de</strong>terminadas causas<br />

passa por uma questão i<strong>de</strong>ológica.<br />

“Quando você faz esse<br />

tipo <strong>de</strong> trabalho, precisa acreditar<br />

que está fazendo a diferença.<br />

Não dá para servir simplesmente<br />

como marketing. Senão,<br />

é impossível construir uma<br />

relação duradoura. Precisa ser<br />

algo <strong>de</strong> convicção da agência. O<br />

resto é consequência”.<br />

Ivan Franchet/Instituto Ayrton Senna<br />

Divulgação<br />

moeda <strong>de</strong> troCa<br />

Em qualquer contrato entre<br />

cliente e agência, ainda que<br />

seja uma ONG, há sempre uma<br />

relação ganha-ganha. No caso<br />

das entida<strong>de</strong>s ligadas à causa,<br />

credibilida<strong>de</strong> e reputação são<br />

os atributos <strong>de</strong> mais valor oferecidos,<br />

como explica Thiago,<br />

Fernan<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> negócios<br />

do Instituto Ayrton Senna.<br />

“Tem muita gente que acha<br />

que só porque você é uma ONG<br />

você precisa aceitar qualquer<br />

coisa e dar tudo o que querem<br />

em troca. Esse é um <strong>de</strong>safio<br />

<strong>de</strong> relacionamento. A gente<br />

tem um cuidado gran<strong>de</strong> com a<br />

nossa marca. Mais do que um<br />

legado <strong>de</strong> reputação ao longo<br />

<strong>de</strong> 23 anos, temos um legado<br />

construído em cima da história<br />

do Ayrton Senna, uma das poucas<br />

unanimida<strong>de</strong>s nacionais”.<br />

Em troca <strong>de</strong>sse cartão <strong>de</strong> visita,<br />

não só agências, mas anunciantes<br />

interessados em parcerias e<br />

projetos <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> causa<br />

oferecem não apenas dinheiro,<br />

mas recursos e inteligência estratégica<br />

para a comunicação,<br />

um dos principais impulsionadores<br />

<strong>de</strong> doações.<br />

Do lado das agências, entre as<br />

razões para o trabalho pró-bono<br />

está o propósito e DNA <strong>de</strong> seus<br />

fundadores, mas também passa,<br />

claro, pela visibilida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong><br />

criativa. “É <strong>de</strong>scabido fazer<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong><br />

forma oportunista”, avalia Patrício,<br />

da Z+. Para o executivo, a<br />

Fernan<strong>de</strong>s: “Não é porque somos ONG que aceitamos tudo”<br />

“há várioS<br />

criativoS que<br />

eStão canSadoS <strong>de</strong><br />

ver gran<strong>de</strong>S i<strong>de</strong>iaS<br />

morrerem <strong>de</strong>poiS<br />

doS feStivaiS”<br />

gran<strong>de</strong> sacada é fazer trabalhos<br />

que funcionem. “Se o objetivo<br />

for arrecadar fundos, temos <strong>de</strong><br />

cumprir esse papel por meio<br />

<strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, ainda que com<br />

poucos recursos. Se ganharmos<br />

Cannes e não arrecadarmos, não<br />

adianta. Falhamos”.<br />

Para Moran, a propaganda<br />

continua sendo uma das principais<br />

ferramentas para multiplicar<br />

o alcance <strong>de</strong> causas. A<br />

gran<strong>de</strong> discussão nesse sentido<br />

é a continuida<strong>de</strong> dos projetos,<br />

ou seja, a campanha não <strong>de</strong>ve<br />

ser um fim em si mesma. “Há<br />

vários criativos que estão cansados<br />

<strong>de</strong> ver gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

causas morrerem logo <strong>de</strong>pois<br />

dos festivais. Se for para pensar<br />

em reconhecimento, que<br />

tal pensarmos em um Nobel da<br />

Paz? Devemos pensar em causar<br />

impacto <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, não<br />

somente nas impressões. Precisamos<br />

transcen<strong>de</strong>r o entendimento<br />

<strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> causas”.<br />

Como exemplo, ressalta<br />

como Refugee Nation tem sido<br />

<strong>de</strong>sdobrada, com exposições<br />

em museus mundo afora e a<br />

venda <strong>de</strong> produtos licenciados.<br />

InvestImento prIvado<br />

Se no terceiro setor a criativida<strong>de</strong><br />

impera em campanhas<br />

mundialmente difundidas, na<br />

iniciativa privada o assunto engatinha.<br />

A filantropia nos mol<strong>de</strong>s<br />

tradicionais em que gran<strong>de</strong>s<br />

marcas doam valores astronômicos<br />

a trabalhos sociais, inexiste.<br />

O cenário atual é <strong>de</strong> empresas<br />

que, em vez <strong>de</strong> buscar parceria<br />

com alguma causa social que já<br />

esteja funcionando e que tenha<br />

escala, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m criar um braço<br />

próprio por “boniteza”, avalia<br />

Fernan<strong>de</strong>s, do Instituto Ayrton<br />

Senna. Para Edson Brito, superinten<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> marketing e relações<br />

institucionais da AACD,<br />

outro fator que ainda freia o<br />

avanço <strong>de</strong>sse segmento é o aculturamento<br />

do consumidor a<br />

respeito <strong>de</strong> como contribuir por<br />

meio <strong>de</strong> marcas. Como exemplo,<br />

compara a campanha <strong>de</strong> restauração<br />

da Estátua da Liberda<strong>de</strong>,<br />

nos Estados Unidos, realizada<br />

pela Amex, em 1983. Durante<br />

quatro meses, a ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cartão<br />

<strong>de</strong> crédito doaria um centavo<br />

<strong>de</strong> dólar para cada transação. Ao<br />

a Máquina resolvedora <strong>de</strong> Problemas, da Z+ para a AACD, ganhou um Leão <strong>de</strong> bronze na categoria Media, em Cannes, em 2017<br />

Mateos: “Marcas têm receio <strong>de</strong> parecerem oportunistas”<br />

Divulgação<br />

final do processo, foram arrecadados<br />

US$ 4 milhões. Segundo<br />

o executivo, campanhas semelhantes<br />

no Brasil não chegam<br />

próximo a 10% nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Para fechar a conta, parcerias<br />

estratégicas com marcas <strong>de</strong> diversas<br />

categorias têm sido uma<br />

saída. Na AACD, além do carro-<br />

-chefe, o Teleton, maratona solidária<br />

veiculada pelo SBT; a re<strong>de</strong><br />

varejista Assai, com a venda <strong>de</strong><br />

sacolas bio<strong>de</strong>gradáveis; Outback,<br />

com a venda <strong>de</strong> chás, e Parque<br />

da Mônica, entre outros,<br />

complementam a renda dos centros<br />

<strong>de</strong> assistência da entida<strong>de</strong>.<br />

“A longevida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas parcerias<br />

é um fator <strong>de</strong> sucesso no Brasil<br />

que permite avaliar como isso<br />

impacta o B2B e o consumidor.<br />

E do nosso lado, conseguimos<br />

avaliar o impacto efetivo no dia<br />

a dia e <strong>de</strong>volver para a socieda<strong>de</strong><br />

esses indicadores”.<br />

Reforçando o papel das causas<br />

para o consumidor, a pesquisa<br />

Marketing Relacionado<br />

à Causa, realizada em parceria<br />

entre a ESPM, Ipsos, Instituto<br />

Ayrton Senna e Smiles, no ano<br />

passado, revelou que 82% dos<br />

brasileiros consi<strong>de</strong>ram muito<br />

importante que as empresas que<br />

ven<strong>de</strong>m produtos e serviços <strong>de</strong>monstrem<br />

alto grau <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

social. Ainda assim,<br />

não vemos gran<strong>de</strong>s campanhas<br />

comunicando o que marcas têm<br />

feito nesse segmento. Segundo<br />

Mateos, da Leo Burnett, uma<br />

das razões é a possível preocupação<br />

<strong>de</strong> parecer oportunista.<br />

“Há um certo receio da marca<br />

<strong>de</strong> comunicar isso, mesmo<br />

que ela seja altamente engajada.<br />

Quando uma marca <strong>de</strong> fast<br />

food, por exemplo, abraça a<br />

questão saudável, sempre gera<br />

<strong>de</strong>sconfiança. Po<strong>de</strong>m achar que<br />

ela quer colocar band-aid na<br />

questão”. Para o executivo, vale<br />

sempre o bom senso: “algumas<br />

marcas preferem se manter low<br />

profile para não ter algum tipo<br />

<strong>de</strong> repercussão negativa”.<br />

jornal propmark - 4 <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 11

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