Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mas, Douglas Patrício, CEO das<br />
empresas Z+ no Brasil, explica<br />
que adotar <strong>de</strong>terminadas causas<br />
passa por uma questão i<strong>de</strong>ológica.<br />
“Quando você faz esse<br />
tipo <strong>de</strong> trabalho, precisa acreditar<br />
que está fazendo a diferença.<br />
Não dá para servir simplesmente<br />
como marketing. Senão,<br />
é impossível construir uma<br />
relação duradoura. Precisa ser<br />
algo <strong>de</strong> convicção da agência. O<br />
resto é consequência”.<br />
Ivan Franchet/Instituto Ayrton Senna<br />
Divulgação<br />
moeda <strong>de</strong> troCa<br />
Em qualquer contrato entre<br />
cliente e agência, ainda que<br />
seja uma ONG, há sempre uma<br />
relação ganha-ganha. No caso<br />
das entida<strong>de</strong>s ligadas à causa,<br />
credibilida<strong>de</strong> e reputação são<br />
os atributos <strong>de</strong> mais valor oferecidos,<br />
como explica Thiago,<br />
Fernan<strong>de</strong>s, diretor <strong>de</strong> negócios<br />
do Instituto Ayrton Senna.<br />
“Tem muita gente que acha<br />
que só porque você é uma ONG<br />
você precisa aceitar qualquer<br />
coisa e dar tudo o que querem<br />
em troca. Esse é um <strong>de</strong>safio<br />
<strong>de</strong> relacionamento. A gente<br />
tem um cuidado gran<strong>de</strong> com a<br />
nossa marca. Mais do que um<br />
legado <strong>de</strong> reputação ao longo<br />
<strong>de</strong> 23 anos, temos um legado<br />
construído em cima da história<br />
do Ayrton Senna, uma das poucas<br />
unanimida<strong>de</strong>s nacionais”.<br />
Em troca <strong>de</strong>sse cartão <strong>de</strong> visita,<br />
não só agências, mas anunciantes<br />
interessados em parcerias e<br />
projetos <strong>de</strong> marketing <strong>de</strong> causa<br />
oferecem não apenas dinheiro,<br />
mas recursos e inteligência estratégica<br />
para a comunicação,<br />
um dos principais impulsionadores<br />
<strong>de</strong> doações.<br />
Do lado das agências, entre as<br />
razões para o trabalho pró-bono<br />
está o propósito e DNA <strong>de</strong> seus<br />
fundadores, mas também passa,<br />
claro, pela visibilida<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong><br />
criativa. “É <strong>de</strong>scabido fazer<br />
qualquer tipo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong><br />
forma oportunista”, avalia Patrício,<br />
da Z+. Para o executivo, a<br />
Fernan<strong>de</strong>s: “Não é porque somos ONG que aceitamos tudo”<br />
“há várioS<br />
criativoS que<br />
eStão canSadoS <strong>de</strong><br />
ver gran<strong>de</strong>S i<strong>de</strong>iaS<br />
morrerem <strong>de</strong>poiS<br />
doS feStivaiS”<br />
gran<strong>de</strong> sacada é fazer trabalhos<br />
que funcionem. “Se o objetivo<br />
for arrecadar fundos, temos <strong>de</strong><br />
cumprir esse papel por meio<br />
<strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, ainda que com<br />
poucos recursos. Se ganharmos<br />
Cannes e não arrecadarmos, não<br />
adianta. Falhamos”.<br />
Para Moran, a propaganda<br />
continua sendo uma das principais<br />
ferramentas para multiplicar<br />
o alcance <strong>de</strong> causas. A<br />
gran<strong>de</strong> discussão nesse sentido<br />
é a continuida<strong>de</strong> dos projetos,<br />
ou seja, a campanha não <strong>de</strong>ve<br />
ser um fim em si mesma. “Há<br />
vários criativos que estão cansados<br />
<strong>de</strong> ver gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />
causas morrerem logo <strong>de</strong>pois<br />
dos festivais. Se for para pensar<br />
em reconhecimento, que<br />
tal pensarmos em um Nobel da<br />
Paz? Devemos pensar em causar<br />
impacto <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, não<br />
somente nas impressões. Precisamos<br />
transcen<strong>de</strong>r o entendimento<br />
<strong>de</strong> campanhas <strong>de</strong> causas”.<br />
Como exemplo, ressalta<br />
como Refugee Nation tem sido<br />
<strong>de</strong>sdobrada, com exposições<br />
em museus mundo afora e a<br />
venda <strong>de</strong> produtos licenciados.<br />
InvestImento prIvado<br />
Se no terceiro setor a criativida<strong>de</strong><br />
impera em campanhas<br />
mundialmente difundidas, na<br />
iniciativa privada o assunto engatinha.<br />
A filantropia nos mol<strong>de</strong>s<br />
tradicionais em que gran<strong>de</strong>s<br />
marcas doam valores astronômicos<br />
a trabalhos sociais, inexiste.<br />
O cenário atual é <strong>de</strong> empresas<br />
que, em vez <strong>de</strong> buscar parceria<br />
com alguma causa social que já<br />
esteja funcionando e que tenha<br />
escala, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m criar um braço<br />
próprio por “boniteza”, avalia<br />
Fernan<strong>de</strong>s, do Instituto Ayrton<br />
Senna. Para Edson Brito, superinten<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> marketing e relações<br />
institucionais da AACD,<br />
outro fator que ainda freia o<br />
avanço <strong>de</strong>sse segmento é o aculturamento<br />
do consumidor a<br />
respeito <strong>de</strong> como contribuir por<br />
meio <strong>de</strong> marcas. Como exemplo,<br />
compara a campanha <strong>de</strong> restauração<br />
da Estátua da Liberda<strong>de</strong>,<br />
nos Estados Unidos, realizada<br />
pela Amex, em 1983. Durante<br />
quatro meses, a ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> cartão<br />
<strong>de</strong> crédito doaria um centavo<br />
<strong>de</strong> dólar para cada transação. Ao<br />
a Máquina resolvedora <strong>de</strong> Problemas, da Z+ para a AACD, ganhou um Leão <strong>de</strong> bronze na categoria Media, em Cannes, em 2017<br />
Mateos: “Marcas têm receio <strong>de</strong> parecerem oportunistas”<br />
Divulgação<br />
final do processo, foram arrecadados<br />
US$ 4 milhões. Segundo<br />
o executivo, campanhas semelhantes<br />
no Brasil não chegam<br />
próximo a 10% nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Para fechar a conta, parcerias<br />
estratégicas com marcas <strong>de</strong> diversas<br />
categorias têm sido uma<br />
saída. Na AACD, além do carro-<br />
-chefe, o Teleton, maratona solidária<br />
veiculada pelo SBT; a re<strong>de</strong><br />
varejista Assai, com a venda <strong>de</strong><br />
sacolas bio<strong>de</strong>gradáveis; Outback,<br />
com a venda <strong>de</strong> chás, e Parque<br />
da Mônica, entre outros,<br />
complementam a renda dos centros<br />
<strong>de</strong> assistência da entida<strong>de</strong>.<br />
“A longevida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas parcerias<br />
é um fator <strong>de</strong> sucesso no Brasil<br />
que permite avaliar como isso<br />
impacta o B2B e o consumidor.<br />
E do nosso lado, conseguimos<br />
avaliar o impacto efetivo no dia<br />
a dia e <strong>de</strong>volver para a socieda<strong>de</strong><br />
esses indicadores”.<br />
Reforçando o papel das causas<br />
para o consumidor, a pesquisa<br />
Marketing Relacionado<br />
à Causa, realizada em parceria<br />
entre a ESPM, Ipsos, Instituto<br />
Ayrton Senna e Smiles, no ano<br />
passado, revelou que 82% dos<br />
brasileiros consi<strong>de</strong>ram muito<br />
importante que as empresas que<br />
ven<strong>de</strong>m produtos e serviços <strong>de</strong>monstrem<br />
alto grau <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
social. Ainda assim,<br />
não vemos gran<strong>de</strong>s campanhas<br />
comunicando o que marcas têm<br />
feito nesse segmento. Segundo<br />
Mateos, da Leo Burnett, uma<br />
das razões é a possível preocupação<br />
<strong>de</strong> parecer oportunista.<br />
“Há um certo receio da marca<br />
<strong>de</strong> comunicar isso, mesmo<br />
que ela seja altamente engajada.<br />
Quando uma marca <strong>de</strong> fast<br />
food, por exemplo, abraça a<br />
questão saudável, sempre gera<br />
<strong>de</strong>sconfiança. Po<strong>de</strong>m achar que<br />
ela quer colocar band-aid na<br />
questão”. Para o executivo, vale<br />
sempre o bom senso: “algumas<br />
marcas preferem se manter low<br />
profile para não ter algum tipo<br />
<strong>de</strong> repercussão negativa”.<br />
jornal propmark - 4 <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 11