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NK STORE (SÃO PAULO)<br />
A EFICÁCIA DA FUNÇÃO NIGHT SHIFT DO IPAD; IMAGENS-LUZ DE KLAUS OBERMAIER;<br />
HOTEL QO (AMSTERDÃ); A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NO DESIGN DE ILUMINAÇÃO;<br />
ARTS UNIVERSITY BOURNEMOUTH (POOLE); FOTO LUZ FOTO: ANDRÉS OTERO<br />
1
2 3
sucesso<br />
absoluto<br />
VAGAS<br />
ESGOTADAS<br />
23 e 24 de agosto<br />
Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />
São Paulo | Brasil<br />
Semana da Luz 2018<br />
grandes nomes reunidos para<br />
discutir conceitos e rumos da<br />
iluminação no maior congresso de<br />
Lighting Design da América Latina<br />
Confira os palestrantes dessa edição:<br />
Esther Stiller e Paulo Mendes da Rocha<br />
Keynote Speakers<br />
Brasil<br />
Mariana G. Figueiro<br />
Lighting Research Center -<br />
Rensselaer Polytechnic Institute<br />
EUA<br />
Carlos Fortes<br />
Estudio Carlos Fortes<br />
Luz + Design<br />
Brasil<br />
Mieke van der Velden<br />
Beersnielsen Lighting<br />
Designers<br />
Holanda<br />
Glenn Shrum<br />
Flux Studio<br />
Parsons School of Design<br />
EUA<br />
Klaus Obermaier<br />
artista multimídia, diretor,<br />
coreógrafo e compositor<br />
Áustria<br />
Marina Lodi<br />
Auma Estúdio<br />
Brasil<br />
Michael Grubb<br />
MGS – Michael Grubb Studio<br />
Reino Unido<br />
www.ledforum.com.br<br />
4 5
SUMÁRIO<br />
julho | agosto 2018<br />
edição <strong>69</strong><br />
54 56<br />
64<br />
76 80<br />
86<br />
10<br />
¿QUÉ PASA?<br />
68<br />
54<br />
RONDA<br />
Novo estudo do Lighting Research Center<br />
testa a eficácia da função night shift do iPad<br />
56<br />
64<br />
68<br />
76<br />
80<br />
86<br />
NK STORE<br />
Ponto, linha, plano<br />
UMA SEQUÊNCIA DE ADAPTAÇÕES: A LINGUAGEM<br />
CINEMATOGRÁFICA NO DESIGN DE ILUMINAÇÃO<br />
HOTEL QO<br />
Luz Sobrenatural<br />
IMAGENS-LUZ<br />
Klaus Obermaier<br />
ARTS UNIVERSITY BOURNEMOUTH<br />
A luz como combustível criativo<br />
FOTO LUZ FOTO<br />
Andrés Otero<br />
6 7
Thiago Gaya<br />
publisher<br />
Romulo Fialdini<br />
© zooey braun FOTOGRAFIE<br />
NK STORE<br />
Iluminação: Estúdio Carlos Fortes<br />
Foto: Andrés Otero<br />
Orlando Marques<br />
editor-chefe<br />
PUBLISHER<br />
Thiago Gaya<br />
LEDFORUM 2018<br />
EDITOR-CHEFE<br />
Orlando Marques<br />
Com a aproximação do LEDforum, esta edição da revista <strong>L+D</strong> traz um pouco do trabalho<br />
de alguns dos palestrantes do evento deste ano. Dessa forma, ampliamos o entendimento<br />
do leitor a respeito da produção profissional desses palestrantes, segundo a interpretação da<br />
revista e dos seus colaboradores.<br />
Destacamos o projeto da loja NK Store, do palestrante Carlos Fortes, titular do estúdio<br />
homônimo e colaborador da <strong>L+D</strong>, que neste ano celebra 30 anos de carreira como lighting<br />
designer. A matéria foi escrita pelo nosso colaborador Gilberto Franco, conhecedor profundo<br />
do trabalho de Fortes.<br />
A palestrante brasileira Dra. Mariana Figueiro, diretora do Lighting Research Center (LRC),<br />
apresenta uma matéria sobre a pesquisa realizada pelo instituto acerca da eficiência da função<br />
Night Shift do iPad. A versão para o português foi feita pela nossa colaboradora Mariana Novaes,<br />
ávida interessada em assuntos relacionados à luz e à saúde.<br />
Mieke van der Velden, lighting designer do escritório Beersnielsen, apresenta o novíssimo<br />
projeto do Hotel QO em Amsterdã, onde aplicou conceitos da interação entre a luz e os materiais<br />
como elementos-chave na definição da identidade de um espaço, tema da sua palestra no<br />
LEDforum. Marina Lodi, palestrante recém-graduada, apresenta um texto especialmente<br />
produzido para a <strong>L+D</strong>, a respeito de seu trabalho de graduação na Parsons New School of Design<br />
de Nova York, que tem como diretor o lighting designer Glenn Shrum, titular do Flux Studio,<br />
também palestrante do LEDforum.<br />
Michael Grubb, titular do escritório SMG – Studio Michael Grubb, apresenta o plano diretor<br />
e o projeto de iluminação da Arts University Bournemouth, em Poole, Reino Unido, por meio do<br />
texto de Mariana Novaes. Finalmente, depois de um bate-papo como nossa colaboradora Fernanda<br />
Carvalho, o artista multidisciplinar austríaco Klaus Obermaier, palestrante do encerramento do<br />
LEDforum 2018, apresenta três de seus incríveis espetáculos – “precisão com relação ao espaço<br />
e ao tempo”, como bem definiu Fernanda.<br />
Já na seção Foto Luz Foto, temos a honra de homenagear o fotógrafo Andrés Otero e de<br />
apresentar a “imagem-guia” do projeto de iluminação da loja NK Store, cuja seleção foi feita<br />
por ele mesmo.<br />
Para encerrar, nesta edição, a seção ¿Qué Pasa? traz 20 matérias, com destaque para a<br />
matéria que trata do trabalho do artista Lucas Arruda e para a que explica as “bioluminárias”,<br />
criação dos pesquisadores do MIT – Massachusetts Institute of Technology, e muito mais.<br />
Boa leitura e um bom LEDforum!<br />
DIRETORA DE ARTE<br />
Thais Moro<br />
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />
Charly Ho, Débora Torii, Fernanda Carvalho,<br />
Gilberto Franco, Luana Alves, Mariana Novaes,<br />
Marina Lodi, Orlando Marques<br />
REVISÃO<br />
Débora Tamayose<br />
CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />
Márcio Silva<br />
PUBLICIDADE<br />
Lucimara Ricardi | diretora<br />
Avany Ferreira | contato publicitário<br />
Paula Ribeiro | contato publicitário<br />
PARA ANUNCIAR<br />
comercial@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
PARA ASSINAR<br />
assinaturas@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
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O sofisticado MOVE IT SYSTEM revolucionou os sistemas de trilhos. Nenhuma<br />
ferramenta é necessária graças à conexão magnética dos equipamentos, o que<br />
confere flexibilidade para combiná-los de várias formas. A ausência de molduras<br />
e o design simples e eficiente dos acessórios criam um sistema especialmente<br />
elegante. O patenteado ajuste deslizante de foco torna fácil a definição da abertura<br />
do facho, para destaque de objetos ou outra função. Máxima qualidade de<br />
luz, excelente em todos os detalhes.<br />
Orlando Marques<br />
PUBLICADA POR<br />
Fernanda Carvalho, Charly Ho<br />
e Luana Alves, do escritório<br />
parceiro Design da Luz<br />
Editora Lumière Ltda.<br />
xal.com<br />
Estúdio, são os coeditores<br />
Rua João Moura, 661 – cj. 72, 05412-001<br />
convidados do ¿Qué Pasa?<br />
São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />
duplo, com a matéria “Branco<br />
www.editoralumiere.com.br<br />
sobre branco”, a respeito a<br />
exposição Deserto Modelo do<br />
8 artista visual Lucas Arruda.<br />
9
¿QUÉ PASA?<br />
LUZ NA ARQUITETURA<br />
HOSPITALAR<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TIL 2018<br />
Com o objetivo de afirmar cada vez mais seu<br />
posicionamento no panorama mundial dos eventos de<br />
iluminação, o LEDforum anuncia parceria com o evento<br />
International Trends in Lighting Event (TiL), que acontecerá<br />
no mês de setembro, em Bregenz, Áustria.<br />
O TiL tem como objetivo suprir a lacuna entre o<br />
design e a tecnologia, fornecendo novas ferramentas a<br />
lighting designers, arquitetos, engenheiros, consultores<br />
e pesquisadores para o reconhecimento do potencial do<br />
lighting design e sua consequente valorização. Na segunda<br />
edição, o evento contará com curadoria do renomado lighting<br />
designer Rogier van der Heide e oferecerá palestras sobre<br />
quatro grandes temas: “Lighting Heart & Soul” (iluminação,<br />
bem-estar e saúde), “The Right to Create” (sobre o processo<br />
de criação), “Humanizing Tech” (abordagem holística da<br />
experiência da luz) e “Além da iluminação” (acerca de<br />
conectividade, softwares e tecnologia). (D.T.)<br />
Aconteceu em 11 de junho o coquetel de lançamento<br />
do livro Luz na arquitetura hospitalar, da arquiteta e lighting<br />
designer Neide Senzi. Com mais de 25 anos de experiência em<br />
iluminação arquitetural, a autora apresenta no livro cerca de 25<br />
de seus projetos para ambientes de saúde, com o objetivo de<br />
ensinar o leitor a pensar a luz para esse tipo de espaço. Por meio<br />
de fotos e textos, Senzi aborda os aspectos mais relevantes<br />
inerentes a essa tipologia de uso, desde a sua concepção até<br />
a sua gestão.<br />
Editada pelo jornalista e publicitário Vitório Junior, o livro<br />
conta ainda com a participação de alguns dos maiores nomes<br />
no âmbito da arquitetura hospitalar no Brasil, que contribuíram<br />
com assuntos igualmente importantes, como a gestão<br />
hospitalar e a eficiência energética. (D.T.)<br />
Livro Luz na arquitetura hospitalar<br />
VJ Editora<br />
Edição bilíngue (português/inglês)<br />
220 páginas<br />
editoravj.com.br<br />
TiL 2018 – 2º International Trends in Lighting Event<br />
25 a 27 de setembro<br />
Bregenz, Áustria<br />
10 11
1<br />
Imagens: Daniela Xu<br />
¿QUÉ PASA?<br />
3º PRÊMIO CARLITOS DE<br />
DESIGN UNIVERSITÁRIO<br />
2<br />
3<br />
Promovido pela fabricante brasileira Luxion Iluminação, o<br />
Prêmio Carlitos de Design Universitário chega à sua terceira<br />
edição, cujos vencedores foram anunciados no último<br />
dia 5 de junho. O concurso tem por objetivo incentivar a<br />
integração entre os estudantes universitários e a indústria<br />
e, neste ano, recebeu 73 inscrições de estudantes de nove<br />
estados diferentes.<br />
A seleção dos vencedores ficou a cargo do júri, que<br />
contou com a participação de Thiago Gaya, publisher<br />
da <strong>L+D</strong>; de Ana Brum, diretora técnica do Centro Brasil<br />
Design; do lighting designer Antonio Carlos Mingrone,<br />
titular da Mingrone Iluminação; do arquiteto e designer<br />
Roque Frizzo, titular do estúdio Roque Frizzo Arquitetura<br />
e Design; e do designer Vinicius Siega, titular do estúdio<br />
Vinicius Siega Design.<br />
O primeiro lugar foi para a luminária Gras 1 , criada<br />
por Felipe Mazzocchi, que recebeu como prêmio uma<br />
luminária da Luxion, além da oportunidade de acompanhar<br />
a prototipação de seu projeto junto à equipe técnica da<br />
empresa. Em segundo ficou a luminária Treeluz 2 , de Renan<br />
Scotti, e, em terceiro, a coleção Balanço 3 4 , de Meline<br />
Ney. Foi selecionado ainda um quarto projeto, o pendente<br />
Senses, de Gregory Lorencet e Raieli Ferron, que recebeu<br />
menção honrosa. Parabéns a todos os participantes! (D.T.)<br />
12 13<br />
4
Sichau & Walter Architekten BDA<br />
1<br />
Johannes Roloff<br />
Aryeh Kornfeld<br />
2 3<br />
¿QUÉ PASA?<br />
35º IALD AWARDS<br />
Foram anunciados, no último mês de maio, os<br />
vencedores da 35ª edição da premiação anual promovida<br />
pela Associação Internacional de Lighting Designers (IALD).<br />
Em cerimônia realizada em Chicago, Estados Unidos, foram<br />
reconhecidos 17 projetos de 11 países, tendo sido distribuídos<br />
oito prêmios por mérito e sete por excelência, além de duas<br />
menções especiais.<br />
O grande vencedor da noite foi o projeto de iluminação<br />
para o Museu Alemão do Marfim 1 – publicado na edição<br />
65 da <strong>L+D</strong> – do escritório alemão Licht Kunst Licht,<br />
agraciado com o prêmio Radiance Award for Excellence in<br />
Lighting Design. Titular do escritório, o lighting designer<br />
Andreas Schultz recebeu ainda mais um prêmio, o Award<br />
of Excellence, pela iluminação da Cafeteria HSBC 2 , em<br />
Dusseldorf, Alemanha.<br />
Outro projeto devidamente reconhecido com o Award<br />
of Excellence foi o do Templo Bahá’í 3 – capa da <strong>L+D</strong> 63 –,<br />
em Peñalolén, Chile, desenvolvido pelo escritório Limarí<br />
Lighting Design, dirigido pelo lighting designer Pascal<br />
Chautard. (D.T.)<br />
14 15
16 17
1 2 3 4<br />
5<br />
6 7 8<br />
9<br />
¿QUÉ PASA?<br />
9º LEDFORUM NA SEMANA DA LUZ 2018<br />
Maior congresso latino-americano de iluminação arquitetural,<br />
o LEDforum mais uma vez esgotou as inscrições meses antes de<br />
sua realização. O evento de 2018 abordará a grande diversidade<br />
de assuntos de interesse da comunidade de iluminação, propondo<br />
um olhar panorâmico sobre o momento atual desse universo, em<br />
seus mais diversos aspectos.<br />
A grade completa dos palestrantes da edição 2018 conta<br />
com nomes de peso, como a lighting designer Esther Stiller 1 e<br />
o arquiteto Paulo Mendes da Rocha 2 , que se reunirão em um<br />
encontro histórico para discutir a respeito de arquitetura e de<br />
luz. A pesquisadora e professora brasileira radicada nos Estados<br />
Unidos Mariana G. Figueiro 3 , diretora do Lighting Research<br />
Center (LRC), abordará em sua palestra os efeitos da luz sobre o<br />
relógio biológico humano. O lighting designer norte-americano<br />
Glenn Shrum 4 , titular do Flux Studio, apresentará a palestra<br />
“Probabilidade e sorte – As maravilhas da luz natural”, sobre o<br />
poder da iluminação natural e a iluminação artificial na arquitetura.<br />
A holandesa Mieke van der Velden 5 integra a equipe do escritório<br />
Beersnielsen Lighting Designers, baseado em Roterdã, Países<br />
Baixos, e discorrerá sobre sua pesquisa acerca da aparência dos<br />
materiais, iluminados de diferentes formas e com distintos tipos de<br />
luz de LEDs. O premiado lighting designer inglês Michael Grubb<br />
6 , diretor de criação do escritório Michael Grubb Studio, falará<br />
sobre seu processo de trabalho em projetos de iluminação para o<br />
varejo. O lighting designer brasileiro Carlos Fortes 7 apresentará<br />
um panorama cronológico de projetos realizados ao longo de<br />
sua trajetória profissional, que este ano completa 30 anos. A<br />
cineasta e lighting designer brasileira Marina Lodi 8 mostrará<br />
sua investigação do potencial de uso dos espaços urbanos<br />
subterrâneos em Nova York e da adequação desses espaços,<br />
por meio da luz e dos materiais, para a adaptação humana. E,<br />
finalmente, o artista multimídia, diretor, coreógrafo e compositor<br />
austríaco Klaus Obermaier 9 apresentará sua visão a respeito do<br />
poder de influência da luz na composição cênica e na arte.<br />
Assim como em suas últimas edições, o LEDforum será<br />
antecedido pelo workshop internacional de iluminação, cujo tema<br />
este ano é “Ecologia da luz”, e encerrado pela festa Lighting Lovers.<br />
Ambos os eventos são realizados em parceria com a AsBAI.<br />
Últimos ingressos disponíveis para o workshop e para a festa<br />
podem ser adquiridos no site www.semanadaluz.com.br (D.T.)<br />
SEMANA DA LUZ 2018<br />
9º LEDforum<br />
23 a 24 de agosto<br />
Tivoli Mofarrej Hotel e Spa, São Paulo<br />
Workshop internacional<br />
Ecologia da luz<br />
19 a 22 de agosto<br />
Ecobairro Vila Jataí, São Paulo<br />
Festa Lighting Lovers<br />
24 de agosto<br />
Local a confirmar<br />
18 19
Seon-Yeong Kwak<br />
¿QUÉ PASA?<br />
BIOLUMINÁRIAS<br />
Já imaginou poder usar uma planta como abajur? Ou<br />
então que as ruas possam ser iluminadas unicamente por<br />
meio de árvores luminosas? Um grupo de engenheiros do MIT<br />
(Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos,<br />
parece ter dado o primeiro passo para permitir esse tipo de<br />
iluminação no futuro.<br />
Recentemente divulgada, a pesquisa financiada pelo<br />
Departamento de Energia norte-americano, com supervisão<br />
do professor Michael Strano, revelou a bem-sucedida tentativa<br />
de induzir plantas a gerar luz. Os testes em laboratório<br />
possibilitaram o fornecimento de iluminação pelas plantas<br />
durante quatro horas, e, apesar de o nível obtido ainda ser<br />
consideravelmente baixo, os cientistas estão esperançosos de<br />
que a técnica utilizada possa ser aprimorada para permitir a<br />
geração de níveis funcionais de iluminação.<br />
A técnica desenvolvida pelos pesquisadores deriva da<br />
nanobiônica vegetal, uma área de pesquisa relativamente nova –<br />
na qual o laboratório de Strano é pioneiro –, cujo objetivo é prover<br />
plantas com novas características por meio da incorporação<br />
de diferentes tipos de nanopartícula. Nesse caso, os cientistas<br />
utilizaram como base a luciferase – a enzima que permite aos<br />
vaga-lumes brilhar no escuro –, aliada a diferentes tipos de<br />
nanopartícula, responsáveis por levar cada componente à parte<br />
correta das plantas, além de evitar sua concentração em níveis<br />
que poderiam ser tóxicos para os vegetais. Os pesquisadores<br />
também estão trabalhando em soluções para permitir que<br />
as luzes possam ser desligadas em resposta a determinadas<br />
condições ambientais (por exemplo, a luz do sol), por meio do<br />
uso de inibidores da enzima. Futuramente, também planejam<br />
desenvolver um tipo de tinta ou spray para facilitar a aplicação<br />
das nanopartículas diretamente nas folhas das plantas, possibilitando<br />
a transformação de árvores e de outros vegetais de<br />
grande porte em fontes de luz.<br />
As tentativas de produção de plantas luminosas anteriormente<br />
documentadas utilizavam técnicas que envolviam a<br />
engenharia genética, sempre buscando que os vegetais já<br />
apresentassem o gene da luciferase. No entanto, o processo<br />
se mos trou extremamente trabalhoso, além de apresentar<br />
limitações com relação ao nível de luz produzido e às espécies<br />
de plantas utilizadas. Já o método desenvolvido por Strano pode<br />
ser aplicado em qualquer tipo de planta, tendo sido testado em<br />
exemplares de rúcula, couve, espinafre e agrião. “As plantas<br />
podem se autorregenerar, têm sua energia própria e já são<br />
adaptadas ao ambiente externo. Acreditamos que é o momento<br />
ideal para essa ideia. É o problema perfeito para a nanobiônica<br />
vegetal”, afirma Strano.<br />
O foco da equipe de cientistas é o desenvolvimento de<br />
plantas capazes de assumir funções atualmente desempenhadas<br />
por equipamentos dependentes de eletricidade. O grupo trabalha<br />
também no desenvolvimento de plantas capazes de detectar<br />
explosivos e enviar notificações a smartphones e de vegetais que<br />
podem monitorar condições de seca. (D.T.)<br />
20 21
Divulgação<br />
¿QUÉ PASA?<br />
RIZOMA<br />
Os designers do Estúdio Guto Requena costumam<br />
trabalhar com formas e efeitos de luz em grande parte de<br />
suas criações. Recentemente apresentaram o lançamento de<br />
uma linha de cobogós produzida em parceria com a fabricante<br />
brasileira de revestimentos Manufatti. A linha Rizoma tem<br />
seu design inspirado na estrutura homônima presente em<br />
algumas espécies de plantas, caracterizada por um tipo de<br />
caule que se desenvolve e se ramifica, geralmente de maneira<br />
horizontal e subterrânea.<br />
Ao mesmo tempo que remetem à tradição e valorizam o<br />
uso dos cobogós na cultura arquitetônica brasileira, as peças<br />
da coleção apresentam uma estética fortemente orgânica e<br />
artesanal que permite inúmeras possibilidades de montagens<br />
entre si, rompendo com os padrões uniformes gerados pelas<br />
configurações mais geométricas e tradicionais do clássico<br />
elemento vazado.<br />
São apenas dois modelos, gerados a partir de processos de<br />
design paramétricos, mas que, assim como na natureza, são<br />
caracterizados pela ausência de “raízes” ou de hierarquias,<br />
possibilitando distintas composições espaciais. “Rizoma foi<br />
projetado para se complementar em uma união uniforme<br />
em todos os seus lados de modo a gerar múltiplas opções<br />
de padrões ao rotacionar ou alternar modelos”, explica o<br />
designer Guto Requena, titular do estúdio.<br />
Conforme sua orientação em função da trajetória solar<br />
ao longo do dia e das estações do ano, as composições<br />
dos cobogós podem criar intricados desenhos de sombras<br />
projetadas nas superfícies opostas à incidência de luz direta<br />
do Sol. Mesmo quando não há contato direto com a luz natural,<br />
os elementos são vistos em silhueta, gerando uma espécie<br />
de negativo à estética anterior. O comportamento – de certa<br />
maneira imprevisível – da luz natural, com suas variações de<br />
intensidade, de cor e de posicionamento, fortalece o caráter<br />
orgânico do elemento vazado, produzindo, além das variadas<br />
opções de composições estéticas, infinitas possibilidades de<br />
luzes e sombras desenhando o espaço. (D.T.)<br />
22 23
¿QUÉ PASA?<br />
MAIS AO CUBO<br />
Imagens: Bia Ferrer<br />
Aconteceu em São Paulo, no último mês de maio, mais<br />
uma edição do SP Urban Digital Festival, evento que funde<br />
arquitetura, arte e novas mídias com o objetivo de expandir<br />
o conceito de arte por meio da tecnologia digital. Criado em<br />
2012, o festival é sempre realizado em espaços públicos,<br />
propondo a sua ocupação de formas inusitadas e estimulando<br />
a reflexão sobre o ambiente urbano.<br />
Sua última edição teve como temática a ação social “Maio<br />
Amarelo”, uma iniciativa da ONG Observatório Nacional de<br />
Segurança Viária que busca alertar a população quanto ao<br />
elevado índice de acidentes no trânsito em todo o mundo.<br />
Nesse contexto, o artista digital Muti Randolph concebeu a<br />
instalação +++ (Mais ao cubo), exibida entre os dias 17 e 31 de<br />
maio no Largo da Batata, um dos pontos de movimento mais<br />
intenso da Avenida Brigadeiro Faria Lima.<br />
Formada por uma sobreposição de placas de LEDs<br />
translúcidas, a obra tridimensional de 6 metros de altura<br />
remetia a um cruzamento, cujas superfícies reproduziam<br />
a ideia de um fluxo contínuo por meio de uma dinâmica de<br />
linhas e de pontos de luz justapostos. A instalação também<br />
apresentou conteúdo em áudio, gerado a partir da edição<br />
rítmica de sons e ruídos captados na região. O conteúdo<br />
audiovisual exibido foi gerado por um software desenvolvido<br />
pelo próprio artista, apresentando momentos de ordem e<br />
harmonia que se revezavam a instantes de caos.<br />
Pioneiro no uso de novas tecnologias aplicadas às artes<br />
visuais no Brasil, Muti Randolph buscou, com a obra, alertar<br />
para a falta de consciência e de respeito ao próximo no trânsito.<br />
A instalação pode ser interpretada ainda como um cruzamento<br />
entre o real e o virtual, propondo uma reflexão crítica quanto<br />
à crescente influência das tecnologias digitais – por meio de<br />
smartphones e de redes sem fio – na vida urbana cotidiana, as<br />
quais afetam diretamente os relacionamentos interpessoais e<br />
espaciais. (D.T.)<br />
24 25
¿QUÉ PASA?<br />
TRADIÇÃO E<br />
TRANSGRESSÃO<br />
Imagens: Eduardo Ohara<br />
Considerada um dos mais importantes eventos do<br />
mercado global de artes, a SP-Arte (Festival Internacional<br />
de Arte de São Paulo) chegou à sua 14ª edição, realizada<br />
no último mês de abril. A feira reuniu, no Pavilhão da<br />
Bienal, galerias nacionais e internacionais, algumas<br />
bastante conhecidas e outras novatas, que apresentaram<br />
um panorama do circuito contemporâneo.<br />
A convite da marca de champanhe Perrier-Jouët,<br />
patrocinadora do evento desde a sua 10ª edição, o Atelier<br />
Marko Brajovic concebeu, para a ocasião, a instalação<br />
O fruto proibido (ou Eden Tree). Inspirado pela história<br />
da marca – que, desde a sua fundação, em 1811, busca<br />
recontar a quase mítica história de amor vivida por seus<br />
fundadores, Pierre-Nicolas Perrier e Rose-Adélaïde Jouët,<br />
e sua grande paixão pela art nouveau –, o artista titular do<br />
estúdio concebeu uma experiência multissensorial que<br />
remonta ao tema da “árvore da vida”, como uma espécie<br />
de fruto do amor entre Perrier e Jouët.<br />
Trata-se de um grande elemento em forma de<br />
diamante, cujas superfícies douradas e translúcidas<br />
convidavam os visitantes até o seu interior. Ali, deparavam<br />
com uma fascinante árvore luminosa, constituída de<br />
neon, conformando uma infinita floresta de reflexos<br />
gerada pelas superfícies espelhadas no interior do<br />
espaço. As formas delicadas e sinuosas do tronco e dos<br />
galhos da árvore poderiam ainda ser associadas a outros<br />
elementos relacionados com a temática do Éden, como<br />
o fruto e a cobra.<br />
Ao mesmo tempo que aludia à arte clássica e a<br />
alguns de seus personagens históricos, a instalação os<br />
contextualizava de maneira contemporânea, atraindo<br />
e estimulando a interação do público e gerando um<br />
ambiente quase transgressor. A experiência contou<br />
também com trilha sonora exclusiva, composta pelo<br />
músico canadense Nicolas Lupescu. “O fruto proibido<br />
é um objeto e um espaço. É um convite ou, talvez, seja<br />
um portal de transformação para o público. Uma ordem<br />
evocativa de percepção consciente e inconsciente: a<br />
floresta, a árvore da vida, a sedução, o fruto proibido, o<br />
inesperado, a libertação”, resume seu criador, Marko<br />
Brajovic. (D.T.)<br />
26 27
3<br />
Divulgação<br />
¿QUÉ PASA?<br />
COEXISTÊNCIA ILIMITADA<br />
Desde 2005, a montadora japonesa Lexus oferece,<br />
anualmente, o Lexus Design Event durante a Semana de<br />
Design de Milão. O evento marca também a entrega do Lexus<br />
Design Award, que, desde 2014, promove ideias inovadoras<br />
que contribuam com a sociedade e com um futuro melhor<br />
e cujas quatro propostas finalistas têm seus protótipos<br />
executados e exibidos nessa ocasião.<br />
A cada ano, o evento e a competição se baseiam em<br />
um tema. Motivados pela missão da montadora de criar<br />
um mundo melhor por meio do design, os organizadores<br />
escolheram como tema neste ano o conceito de “CO-”,<br />
prefixo que, em latim, significa “com” ou “junto”. A escolha<br />
reflete a busca pela coexistência harmônica entre a natureza<br />
e a sociedade por meio do design sustentável e também as<br />
ideias de colaboração, coordenação e conexão. Assim nasceu<br />
o projeto do pavilhão Limitless Co-Existence, construído para<br />
o evento e criado pelo arquiteto japonês Sota Ichikawa como<br />
símbolo de um mundo onde todos se entendem, se respeitam<br />
e cuidam uns dos outros, sem exceções.<br />
A instalação propunha um percurso aos visitantes que<br />
iniciava com espaços para limpar a mente e ativar o senso de<br />
coletividade, cuja iluminação e acabamentos escuros denotavam<br />
um clima futurista. Em seguida, o público adentrava no<br />
espaço Prepare your Senses, onde um suporte em forma de<br />
infinito oferecia centenas de pirulitos que brilhavam sob a luz<br />
de uma única fonte luminosa, posicionada no centro da mesa.<br />
As guloseimas foram criadas especialmente para a ocasião<br />
com o intuito de aguçar os sentidos dos visitantes. A receita<br />
tinha como ingrediente principal a bergamota, adotada como<br />
aroma símbolo do evento, uma fruta de sabor marcante, mas<br />
que libera todo o seu potencial somente quando combinada<br />
com outros aromas, simbolizando o equilíbrio e a harmonia em<br />
sua coexistência.<br />
O espaço principal do pavilhão, Believe in Limitless,<br />
apresentava uma infinidade de fios de nylon de diferentes<br />
comprimentos, pendurados sob o forro, como representação<br />
da ideologia de que cada indivíduo é o centro do Universo.<br />
Cada um deles era simultaneamente iluminado por uma<br />
única fonte luminosa, um laser branco que projetava luz<br />
horizontalmente e em 360°, simbolizando o poder do<br />
design e da inovação como catalisadores da mudança e da<br />
inclusão. O arquiteto utilizou algoritmos para posicionar,<br />
com precisão, os 12 mil fios, visando controlar os<br />
movimentos do laser de maneira que parecessem aleatórios<br />
e, ao mesmo tempo, certificar-se de que nenhum dos fios<br />
ficaria na sombra. (D.T.)<br />
28 29
1 2 3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
5 6<br />
Imagens: Divulgação<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESPETÁCULO MONSTRUOSO<br />
A fabricante de vidros tcheca Lasvit, conhecida por suas<br />
coleções de luminárias e de objetos de vidro soprado, apresentou,<br />
no último mês de abril, mais uma de suas ousadas instalações.<br />
A exposição-espetáculo Monster Cabaret levou ao tradicional<br />
Teatro Gerolamo, em Milão, Itália, uma série de “monstros de<br />
vidro”, acompanhados por um autêntico show burlesco.<br />
Os monstros que habitam em cada um podem trazer<br />
medo e limitações, mas também representar uma saída para<br />
uma mentalidade mais aberta. Pensando nisso, a companhia<br />
convidou alguns dos mais respeitados nomes do cenário do<br />
design internacional para criar objetos de vidro que refletissem<br />
seus próprios “monstros” pessoais. O uso do vidro reflete a<br />
eternidade desses “monstros”, assim como a do material, e<br />
representou um desafio para a execução de algumas das peças<br />
em razão de sua complexidade. Toda a coleção está à venda, em<br />
edições limitadas.<br />
O arquiteto e designer polonês, radicado em Nova York,<br />
Daniel Libeskind apresentou os monstros Rosencrantz e<br />
Guildenstern 1 2 – como os personagens de Hamlet, de William<br />
Shakespeare –, feitos de um vidro especial, cuja cor reage à luz.<br />
Já o designer Oki Sato, diretor do estúdio japonês multidisciplinar<br />
nendo, criou a coleção Something Underneath 3 , inspirado em um<br />
conceito da cultura japonesa que se baseia na personificação<br />
do intangível e do inexplicável, cuja consequência é o medo do<br />
desconhecido. Os designers brasileiros Irmãos Campana criaram<br />
a coleção Outer Space Monsters 4 , uma dupla de extraterrestres<br />
com formas humanas que remetem a astronautas sem uma<br />
camada de proteção do mundo exterior.<br />
A principal instalação da mostra era The Independant 5 , um<br />
pendente gigante instalado no centro do auditório, composto de<br />
centenas de telas de televisão feitas de barras de vidro fundidas<br />
que aludiam às fake news. “Os monstros mais interessantes da<br />
nossa era podem se comunicar por meio das telas”, provoca<br />
Maxim Velčovský, diretor criativo da Lasvit e criador da instalação.<br />
Os shows burlescos também apresentaram um toque<br />
grotesco aliado ao glamour inerente ao estilo. Em conjunto<br />
com as apresentações, um show de luzes também era<br />
oferecido por meio dos 108 delicados pendentes da aclamada<br />
coleção Neverending Glory, da Lasvit, instalados no fundo do<br />
palco 6 . A exibição fez parte da Semana de Design de Milão<br />
e foi contemplada com o Milano Design Award, vencendo<br />
mais de 1.500 concorrentes, como a instalação que melhor<br />
interpretou o design contemporâneo e uma visão conceptual<br />
do futuro. (D.T.)<br />
30 31
SHOT & SWAP<br />
IRC<br />
>90<br />
MacAdam<br />
2 - step<br />
UGR<br />
Imagens: Space Encounters e Children of Light<br />
¿QUÉ PASA?<br />
FUGINDO DO CONVENCIONAL<br />
Chegamos<br />
para fazer<br />
o mesmo,<br />
de maneira<br />
diferente.<br />
Visitar uma feira como o Salone del Mobile de Milão<br />
pode ser bastante cansativo e consumir bastante tempo, o<br />
que faz com que, geralmente, restem poucos momentos para<br />
turismo ou mesmo para matar as saudades dos amigos de<br />
longa data que habitualmente se encontram nesse tipo de<br />
ocasião. Pensando nisso, os arquitetos do escritório holandês<br />
Space Encounters, sob supervisão da escritora, consultora e<br />
curadora de arte Anne van der Zwaag, criaram o Bar Anne,<br />
que funcionou durante cinco dias no mês de abril, como parte<br />
da Milan Design Week 2018.<br />
O local escolhido foi o histórico Museo Diocesano, em<br />
cuja galeria os arquitetos propuseram a instalação de uma<br />
estrutura composta de 25 arcos, criando espaços íntimos<br />
e, ao mesmo tempo, mantendo a permeabilidade visual. A<br />
estrutura foi complementada por uma instalação luminosa<br />
criada pelo duo de artistas visuais holandeses Children of<br />
Light. O jogo de linhas de LEDs RGB, presentes em todas<br />
as faces dos arcos, trazia um ar abstrato e cenográfico ao<br />
espaço durante o tempo de funcionamento do bar. Também<br />
foram oferecidos alguns espetáculos de luzes em conjunto<br />
com performances musicais.<br />
Um dos objetivos da instalação era divulgar a atual cena do<br />
design dos Países Baixos. Dessa forma, os demais espaços do<br />
bar foram decorados e mobiliados com diversas criações de<br />
mais de dez designers desse país, incluindo desde banquetas<br />
de design experimental até uma instalação interativa<br />
desenvolvida especialmente para as gorjetas dos garçons.<br />
Foram oferecidos almoço, jantar, aperitivos e drinques no<br />
local durante todo o dia, seguidos de apresentações de luzes<br />
e de música todas as noites. (D.T.)<br />
Qualidade Sensível<br />
Luminárias LED | Automação | Assessoria Técnica<br />
Tel.: 11 4765-3299 | Av. Manuel Bandeira, 303 | Bloco B - Conj. 12 | Vila Leopoldina | São Paulo<br />
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Imagens: Moment Factory<br />
¿QUÉ PASA?<br />
BASÍLICA VIVA<br />
Quatro intensos meses de produção de conteúdo visual,<br />
90 dias de instalação, um mês de testes e mais de cem pes soas<br />
envolvidas. Esse é o balanço por trás de Aura, uma das mais<br />
ambiciosas e criativas experiências audiovisuais produzidas<br />
pelo estúdio multimídia canadense Moment Factory.<br />
O projeto começou a ser concebido em 2015 como<br />
parte das comemorações pelo 375º aniversário da cidade de<br />
Montreal, Canadá, com o objetivo de dar vida à Basílica<br />
de Notre-Dame, uma das mais icônicas atrações turísticas da<br />
cidade. Inaugurado há quase dois séculos, o histórico edifício<br />
tem como características marcantes seus acabamentos em<br />
cores vivas e seus ricos detalhes dourados, elementos que<br />
foram as principais inspirações dos designers.<br />
Exibida pela primeira vez em 2017 e desde então<br />
adotada de maneira permanente, a experiência dura<br />
aproximadamente 45 minutos e é dividida em dois atos. O<br />
primeiro apresenta-se como um passeio que permite aos<br />
visitantes explorar a Basílica e suas obras de arte, acentuadas<br />
por meio de iluminação especial e de projeções. Em seguida,<br />
já sentados, os espectadores assistem a um espetáculo de<br />
impressionantes e imersivas projeções sobre as superfícies<br />
do local, acompanhado por uma trilha sonora orquestral<br />
composta especialmente para o projeto, interpretada ao vivo,<br />
conduzindo-os a uma jornada quase etérea.<br />
A ornamentação abundante da arquitetura demandou<br />
aos designers a realização de uma extensiva varredura do<br />
espaço, que resultou em um meticuloso modelo em 3D da<br />
catedral. Utilizando um sistema de mapeamento digital<br />
desenvolvido especialmente para o projeto, a equipe obteve<br />
a perfeita integração das projeções de vídeo à arquitetura.<br />
Foi dada atenção especial à vibrante paleta cromática<br />
presente nos acabamentos do espaço, cujas cores os<br />
designers buscaram saturar por meio da iluminação.<br />
Ao todo, foram utilizados 21 projetores e 140 luminárias,<br />
além de quatro equipamentos de laser que operam em<br />
conjunto com 20 espelhos. São oferecidas duas apresentações<br />
diárias, frequentemente esgotadas, que podem ser apreciadas<br />
por um público de cerca de 600 pessoas cada uma. Um vídeo<br />
da instalação pode ser conferido em momentfactory.com/<br />
work/all/all/aura. (D.T.)<br />
36 37
1<br />
3<br />
2<br />
Imagens: teamLab<br />
4<br />
¿QUÉ PASA?<br />
SEM LIMITES<br />
O coletivo de arte japonês teamLab, em conjunto com a<br />
incorporadora Mori Building, conhecida por sua atuação em<br />
prol da integração da arte nas cidades do Japão, anunciaram<br />
a abertura do Mori Building Digital Art Museum: teamLab<br />
Borderless, um inovador museu inteiramente digital. Com<br />
abertura prometida para o verão japonês, o museu será instalado<br />
em um espaço com cerca de 10 mil metros quadrados e<br />
abrigará a primeira exposição permanente do coletivo.<br />
Conhecidos por seus ousados e hipnóticos trabalhos<br />
com artes digitais, a equipe do teamLab concebeu um<br />
museu no qual não há barreiras entre uma obra e outra ou<br />
entre visitante e obra, transformando os próprios visitantes<br />
em parte das instalações. O conceito vai de encontro ao<br />
principal foco dos trabalhos do coletivo, que é “a libertação<br />
da arte de construções físicas e a transcendência às<br />
barreiras da sociedade contemporânea por meio da<br />
eliminação dos limites entre tecnologia e criatividade”,<br />
como eles mesmos definem.<br />
O espaço expositivo de Borderless será estruturado<br />
em cinco áreas. Uma delas será a “Athletics Forest”, que<br />
busca incentivar um tipo diferente de aprendizado, com base<br />
em uma visão tridimensional do mundo e em seu entendimento<br />
por meios físicos, e não apenas intelectuais. Como es tímulos<br />
ao pensamento tridimensional e à consciência espacial, serão<br />
apresentados trabalhos como Boing Boing Universe 1 , uma<br />
espécie de cama elástica com projeções interativas baseadas<br />
no ciclo de vida das estrelas; outra área é o Three-dimensional<br />
Light Bouldering 2 , um espaço de escalada com “pedras<br />
preciosas” luminosas, cujas cores reagem, em tempo real, de<br />
acordo com a movimentação dos visitantes; e Graffiti Nature<br />
– High Mountains and Deep Valeys 3 , um enorme espaço<br />
conformado por taludes de diversas alturas, sobre os quais<br />
são projetadas flores, insetos, animais e até mesmo criaturas<br />
desenhadas pelos próprios visitantes, cujo comportamento<br />
responde ao deslocamento do público.<br />
Dentre os cerca de 50 trabalhos que serão exibidos,<br />
destaca-se ainda Forest of Lamps 4 , uma floresta de<br />
pendentes de vidro Murano cujas luzes reagem à presença<br />
dos visitantes em um padrão determinado, permitindo saber<br />
quando novas pessoas adentram no espaço. Imagens e<br />
vídeos desses e de outros trabalhos podem ser conferidos<br />
em borderless.teamlab.art. (D.T.)<br />
38 39
MAD Architects Moreno Maggi<br />
Moreno Maggi<br />
¿QUÉ PASA?<br />
QUINTA DIMENSÃO<br />
Como parte das obras apresentadas na edição 2018<br />
da Semana de Design de Milão, o estúdio chinês MAD<br />
Architects concebeu a instalação Fifth Ring, uma iniciativa<br />
da montadora italiana Audi oferecida por seu laboratório<br />
de design italiano Audi City Lab. Exibida na histórica sede<br />
do Seminário Arcebispal de Milão, a obra consistia em um<br />
gigantesco anel, com 19 metros de diâmetro, suspenso sobre<br />
o pátio central do edifício datado de 1564.<br />
Apesar de suas enormes dimensões, a aparente leveza<br />
da estrutura foi potencializada pelas luzes em tons de branco<br />
dinâmico e RGB emitidas por suas faces superior e inferior,<br />
em solução desenvolvida pela marca italiana Artemide<br />
especialmente para a instalação. A programação de cores foi<br />
concebida em conjunto com a iluminação das fachadas do<br />
pátio e interagia também com uma trilha sonora ambiente.<br />
Os enormes espelhos-d’água abaixo do anel faziam com que<br />
ele parecesse flutuar, além de gerar fascinantes reflexos em<br />
resposta à dinâmica das luzes.<br />
A forma elementar foi escolhida como símbolo da<br />
contínua busca da humanidade pela perfeição. Visto de cima,<br />
o imponente elemento atuava como uma quinta fachada do<br />
tradicional pátio, enquanto de baixo o anel luminoso parecia<br />
emoldurar o céu. “O Fifth Ring pairando acima atua como um<br />
portal para uma quinta dimensão, abrindo o diálogo entre<br />
humanos e o desconhecido celestial”, filosofa a titular do<br />
MAD, Ma Yansong. (D.T.)<br />
40 41
Imagens: Alvaro Catalán de Ocón<br />
¿QUÉ PASA?<br />
FUTURO SUSTENTÁVEL<br />
COM TÉCNICAS ANCESTRAIS<br />
O projeto PET Lamp foi criado pelo designer espanhol<br />
Alvaro Catalán de Ocón em 2011, como forma de abordar duas<br />
importantes questões globais: o descarte de materiais plásticos<br />
e a centenária técnica da cestaria (fabricação artesanal de<br />
cestas com fibras). Unindo o reúso de garrafas de plástico<br />
PET a técnicas de tecelagem encontradas em alguns dos mais<br />
remotos cantos do mundo, o projeto dá origem a luminárias e<br />
abajures artesanais únicos.<br />
Desde a primeira experiência, realizada na Amazônia<br />
colombiana em 2011, a organização colabora com<br />
comunidades nativas de artesãos visando à obtenção de<br />
produtos com design atraente e que, ao mesmo tempo,<br />
carreguem a personalidade e a identidade da cultura local.<br />
Por meio da organização ACdO, o projeto já contou com a<br />
colaboração de artesãos indígenas de Cauca, na Colômbia,<br />
em 2012, e de Chimbarongo, no Chile, em 2013; além de<br />
artesãs da Etiópia, em 2014, e de Tóquio, em 2015. Após uma<br />
nova edição no Chile em 2016, dessa vez em colaboração com<br />
o povo Mapuche, o projeto chegou ao seu quinto continente<br />
em 2017, com a realização de um workshop na Austrália, a<br />
pedido da National Gallery of Victoria, em Melbourne.<br />
O local escolhido foi a comunidade de Ramingining, localizada<br />
na Terra de Arnhem, no extremo norte do continente, uma área<br />
declarada Reserva Aborígine. Durante seis semanas, a equipe do<br />
projeto esteve imersa na cultura local, buscando entender suas<br />
tradições, suas linguagens e suas técnicas e traduzi-las da forma<br />
mais expressiva possível no produto final. Como em todas as<br />
edições anteriores, os workshops realizados pela organização não<br />
contam com design ou planejamento prévio do produto que será<br />
desenvolvido, a fim de que haja maior liberdade de criação.<br />
O trabalho, realizado em colaboração com um grupo de<br />
tecelãs indígenas de um centro de artes local, foi iniciado<br />
com a coleta dos materiais necessários: garrafas PET usadas<br />
e fibras e raízes naturais de pândanos, que seriam tingidas<br />
com pigmentos naturais. As artesãs, a princípio, construíram<br />
luminárias individuais, criando formas circulares baseadas em<br />
seus tradicionais tapetes, as quais se encaixaram perfeitamente<br />
no formato das garrafas. No entanto, os fortes laços – de sangue<br />
ou não – entre as próprias tecelãs revelaram aos membros<br />
do projeto os complexos e intensos vínculos cultivados pela<br />
cultura aborígine, o que os levou à decisão de unir as luminárias<br />
individuais, formando duas grandes peças. “Todas as conexões<br />
foram representadas por meio de grandes círculos concêntricos<br />
entrelaçados que remetem também às curvas de nível de um<br />
mapa topográfico, com seus lagos, seus vales e suas montanhas”,<br />
descreve Ocón.<br />
As criações do PET Lamps são tradicionalmente exibidas<br />
durante a Feira de Milão e, neste ano, não foi diferente. Foi exposta,<br />
pela primeira vez na Europa, uma das peças desenvolvidas em<br />
Ramingining, na galeria Spazio Rossana Orlandi. A outra peça foi<br />
adquirida como parte da coleção permanente da National Gallery<br />
of Victoria. (D.T.)<br />
42 43
Imagens: Cruz-Diez, Adagp 2018<br />
¿QUÉ PASA?<br />
INTERAÇÕES CROMÁTICAS<br />
O artista franco-venezuelano Carlos Cruz-Diez é<br />
considerado um dos maiores nomes das artes cinéticas e<br />
ópticas, cujas obras geralmente envolvem experimentos<br />
relacionados à percepção e às cores. A última edição da<br />
feira internacional Art Basel, realizada em junho na cidade<br />
da Basileia, Suíça, contou com a exibição de uma instalação<br />
inédita do artista, apresentada pela Galeria Raquel Arnaud,<br />
sediada em São Paulo.<br />
Apesar de nunca ter sido exibida publicamente antes, a<br />
obra Translucent Chromointerferent Environment foi concebida<br />
em 2009 por Cruz-Diez como parte de sua extensiva<br />
pesquisa intitulada “Chromointerférence”, iniciada na<br />
década de 1960, na qual começou a investigar as variações<br />
cromáticas decorrentes da interação entre elementos<br />
coloridos de diferentes naturezas. A instalação imersiva<br />
acontece em um espaço octogonal, em cujo centro está<br />
localizado um conjunto de projetores, que estampam com<br />
padrões cromáticos as superfícies verticais translúcidas e<br />
também parte do piso. Os visitantes que caminham pela<br />
zona perimetral do ambiente podem então interagir com<br />
as projeções, gerando sombras nas telas – que lembram os<br />
tradicionais shows de sombras chineses – e estabelecendo<br />
um diálogo com os espectadores que observam seus<br />
movimentos desde o exterior da instalação.<br />
Segundo o artista, a obra foi criada com o intuito de<br />
explorar a natureza autônoma e dinâmica das cores e<br />
estabelecer uma nova dialética entre observador e obra<br />
de arte. “Translucent Chromointerferent Environment é um<br />
trabalho em desenvolvimento; é uma projeção aérea de<br />
uma malha luminosa em movimento, de maneira que tudo<br />
é transfigurado, tudo perde sua materialidade, e nós nos<br />
tornamos, simultaneamente, autores e atores. É um diálogo<br />
duplo de transfiguração, em que tudo o que era estático vira<br />
movimento”, explica Cruz-Diez. (D.T.)<br />
44 45
46 47
Agostino Osio/copyright OMA Alberto Moncada/copyright OMA<br />
¿QUÉ PASA?<br />
ESPAÇO CARTESIANO<br />
O renomado escritório de arquitetura internacional OMA,<br />
que tem como sócio fundador o arquiteto holandês Rem<br />
Koolhaas, conta também com uma ramificação – o AMO<br />
– destinada à aplicação do pensamento arquitetônico nos<br />
âmbitos do design e da pesquisa. Comumente trabalhando em<br />
paralelo com o OMA, com clientes em comum, o AMO foi o<br />
responsável pela concepção espacial do mais recente fashion<br />
show da grife de luxo italiana Prada, realizado no último mês de<br />
junho na Fondazione Prada, em Milão. O conjunto arquitetônico<br />
– uma antiga destilaria datada de 1910 e transformada em<br />
complexo cultural projetado pelo OMA – oferece amplos<br />
espaços expositivos, num dos quais foi apresentado o desfile<br />
da coleção masculina de primavera-verão 2019 da marca.<br />
Em contraposição ao caráter industrial e rústico da<br />
arquitetura do salão, foi adicionado ao piso um rigoroso grid<br />
de quadrados, identificados por coordenadas geográficas,<br />
que definiam o posicionamento dos convidados. Dentro de<br />
cada uma dessas formas geométricas, foram inseridos cubos<br />
infláveis de plástico transparente, definindo as áreas de<br />
assentos e as passarelas, configuradas como quatro trajetórias<br />
longitudinais paralelas. Os pufes são uma reedição – exclusiva<br />
para a Prada – da criação do designer dinamarquês Verner<br />
Panton para sua marca, a Verpan, nos anos 1960<br />
O cenário ganhou um toque psicodélico e misterioso<br />
gerado pelas luzes em tom rosa fluorescente, emitidas pelos<br />
projetores lineares instalados em todo o perímetro, rasantes ao<br />
piso. A luz colorida era sutilmente refletida no interior de cada<br />
cubo de plástico e também no piso e nas paredes do espaço,<br />
que foram integralmente revestidos com o mesmo plástico<br />
industrial. O efeito rasante ao piso não interferia na iluminação<br />
dos modelos, realizada por meio de baterias de projetores com<br />
luzes brancas, posicionados linearmente no teto e nas paredes,<br />
acompanhando cada uma das passarelas e reforçando o<br />
caráter rígido e serial da composição do espaço. (D.T.)<br />
48 49
¿QUÉ PASA?<br />
LUXO ESPACIAL<br />
Imagens: Starck Network<br />
A empresa norte-americana Axiom Space define-se como a<br />
maior companhia privada do mundo no segmento de exploração<br />
espacial. Comandada por uma equipe com vasta experiência<br />
em voos espaciais, a empresa está atualmente trabalhando na<br />
construção da primeira estação espacial comercial, que substituirá a<br />
famosa International Space Station (ISS) da Nasa, a ser aposentada<br />
em 2024. A Axiom Space Station será o primeiro passo em direção<br />
à privatização da órbita baixa da Terra (“Low Earth Orbit”, ou LEO),<br />
prometendo expandir os serviços – e as possibilidades de geração<br />
de lucros – até então oferecidos pela ISS.<br />
Como parte dos serviços da nova estação espacial, a Axiom<br />
anunciou recentemente o lançamento do primeiro programa<br />
de turismo espacial. Os pacotes custarão US$ 55 milhões por<br />
pessoa e incluirão um intenso programa de treinamento de<br />
dois anos, seguido por uma viagem de dez dias até a estação<br />
espacial, onde os visitantes poderão dedicar seu tempo às<br />
atividades que desejarem.<br />
Para tornar a aventura mais confortável e atraente, a Axiom<br />
convidou o renomado designer francês Philippe Starck para a<br />
concepção dos interiores do módulo habitacional da estação<br />
espacial. A proposta do designer para as cabines privadas dos<br />
viajantes é um misto de luxo e delicadeza, cujas cores e materiais<br />
foram inspirados em um universo fetal: “Minha visão é a criação<br />
de um ninho, um ovo confortável e amigável que seja convidativo<br />
e esteja em perfeita harmonia com os movimentos do corpo<br />
humano na ausência da gravidade”, descreve Starck.<br />
As superfícies revestidas de camurça em tom bege receberão<br />
a adição de centenas de nanoLEDs, cuja luz mudará de cor de<br />
acordo com o período do dia e também em resposta ao humor e<br />
ao ritmo biológico do passageiro. Os pontos luminosos propõem<br />
ainda uma continuidade à visão das estrelas no Espaço, por meio da<br />
ampla janela existente em cada módulo. Todos os acabamentos –<br />
desde as molduras de portas e janelas até as barras utilizadas para<br />
auxiliar na locomoção em gravidade zero – serão arredondados e<br />
revestidos de tecido em tons de dourado e bege.<br />
“Este é um projeto dos sonhos para um criador como eu,<br />
com uma fascinação genuína pela aviação e pela exploração do<br />
Espaço. A maior inteligência humana no mundo está voltada à<br />
pesquisa espacial, e eu acredito que o Espaço é a inteligência do<br />
futuro”, declara o designer. O lançamento do módulo habitacional<br />
da Axiom Space Station está previsto para 2022. (D.T.)<br />
50 51
Imagens: Ding Musa<br />
¿QUÉ PASA?<br />
BRANCO SOBRE BRANCO<br />
Na instalação Sem título, do conjunto intitulado Deserto-<br />
Modelo, além da tinta, o artista Lucas Arruda se utiliza da luz<br />
projetada para compor seis paisagens em uma sala branca,<br />
repetindo o tema recorrente de seus óleos sobre tela: mar,<br />
horizonte e céu. Jogando com as nuances mais sutis que<br />
nossos olhos podem captar, os trabalhos forçam o limite da<br />
percepção visual com muito pouca materialidade: tinta acrílica<br />
branca e algumas gotas de pigmento, além de luz projetada<br />
por um refletor Dedolight LED com regulagem de temperatura<br />
de cor e acessórios para foco e recorte da luz. A intensidade e a<br />
profundidade da experiência visual e de percepção espacial que<br />
a instalação provoca surpreendem e nos levam a imprevisíveis<br />
viagens metafísicas.<br />
O branco sobre branco lembra as infinitas possibilidades<br />
perceptivas exploradas nos trabalhos “white on white” do artista<br />
suprematista russo Kazimir Malevich e nas “white paintings”<br />
dos norte-americanos Robert Rauschenberg e Robert Ryman.<br />
Trata-se de uma sala branca com seis conjuntos de<br />
pinturas feitas de pigmento e luz, cada matéria cria um<br />
retângulo, e juntas formam outro retângulo separados por<br />
um corte horizontal – o físico, o palpável versus o etéreo, o<br />
imaginado, o irreal.<br />
O conjunto de paisagens brancas apresenta uma sutil variação<br />
de tonalidades de branco, tanto no retângulo de pigmento<br />
quanto no de luz. A luminosidade geral que banha a sala oscila<br />
lentamente, seguindo uma partitura previamente estabelecida.<br />
Tal luz oscilante, quando muito intensa, anula o retângulo<br />
projetado, ao mesmo tempo que revela as pinturas brancas sobre<br />
o fundo branco, fazendo-nos acreditar que o retângulo de luz<br />
se apagou. À medida que a luminosidade geral vai diminuindo,<br />
um estranho jogo de adaptação visual vai deixando o retângulo<br />
de luz mais visível e faz desaparecer as pinturas, até um ponto<br />
médio em que ambos se igualam, suspendendo no tempo nosso<br />
entendimento do que se passa e nos deixando em um estado<br />
de indefinição. A luz geral faz, então, um mergulho até o zero,<br />
eliminando as pinturas e exagerando os retângulos luminosos,<br />
que nos parecem janelas infinitas. Sem que seja possível perceber<br />
exatamente o ponto de inflexão, a sala começa a se acender<br />
novamente para nos lançar em outros nove minutos de uma eterna<br />
transformação. (por Charly Ho, Fernanda Carvalho, Luana Alves)<br />
52 53
A<br />
luz emitida por dispositivos eletrônicos portáteis<br />
(PEDs – portable eletronic devices), particularmente<br />
quando usados à noite, despertou grande interesse<br />
entre os pesquisadores do sono, os profissionais da área da<br />
Saúde e a mídia. Pesquisas mostram que a exposição à luz<br />
durante a noite (LAN – light at night) pode estar associada a<br />
ao sono insatisfatório, o que leva à diminuição da atenção e<br />
do desempenho ao longo do dia. A exposição à LAN também<br />
pode suprimir agudamente a melatonina, hormônio antioxidante<br />
produzido no período noturno e no escuro que informa ao<br />
corpo que é noite e o protege contra o desenvolvimento de<br />
doenças como o câncer. A luz de curto comprimento de onda<br />
na cor azul emitida por equipamentos eletrônicos pode ser<br />
RONDA<br />
Texto: Rohan Nagare, Barbara Plitnick e Mariana G. Figueiro<br />
Versão para o português: Mariana Novaes | Complemento de conteúdo: Orlando Marques<br />
Complemento de conteúdo: Mariana Novaes | Imagem: IStock<br />
NOVO ESTUDO DO LIGHTING RESEARCH CENTER (LRC)<br />
TESTA A EFICÁCIA DA FUNÇÃO NIGHT SHIFT DO IPAD<br />
especialmente prejudicial à produção de melatonina. Quando<br />
os PEDs em uso estão muito próximo dos olhos, aumenta a<br />
quantidade de luz recebida na retina – onde se localizam os<br />
receptores de luz –, o que agrava a ameaça de não ter uma<br />
boa noite de sono. Sabe-se hoje que todos os receptores<br />
(ipRGCs, cones e bastonetes) participam da interpretação<br />
do estímulo luminoso que influencia o relógio biológico e a<br />
supressão de melatonina.<br />
Em um esforço para abordar esse problema, em 2016 a<br />
Apple Inc. lançou a função night shift em sua linha de PEDs,<br />
incluindo o iPad, que no terceiro trimestre de 2017 era o tablet<br />
de computador mais popular do mundo e respondia por 25%<br />
do total de vendas globais de tablets no ano. O modo night<br />
shift permite que os usuários alterem a cor da tela para “mais<br />
quente” (ou seja, menos luz azul) ou “menos quente” (ou seja,<br />
mais luz azul), sem necessariamente alterar seu brilho. Um<br />
novo estudo do Lighting Research Center (LRC) do Rensselaer<br />
Polytechnic Institute investigou a eficácia do modo night shift<br />
para diminuir os impactos do uso noturno do iPad na supressão<br />
da melatonina, um indicador do sistema circadiano.<br />
No estudo, pesquisadoras do LRC, recrutaram 12 jovens<br />
para usar iPads entre às 23 horas e à 1 hora em quatro noites<br />
diferentes e em quatro condições experimentais. Uma das<br />
condições do estudo deliberadamente suprimiu os níveis de<br />
melatonina dos participantes ao fornecer uma intervenção<br />
de luz azul aos olhos dos participantes por meio de óculos de<br />
LED (light emitting diode – diodo emissor de luz) projetados<br />
pelo LRC. Uma segunda condição ocorreu em uma situação<br />
de pouca luz (< 5 lux), na qual os participantes usaram óculos<br />
com lentes laranjas que filtravam a luz azul – essa condição<br />
serviu de parâmetro de controle para os cálculos de supressão<br />
de melatonina. O estudo também usou duas intervenções de<br />
iluminação espectralmente distintas para o iPad, as quais foram<br />
geradas no ajuste do controle de temperatura de cor da função<br />
night shift, para uma faixa mais quente de cor (2.837 K) ou menos<br />
quente (5.997 K). Como parte do estudo, as pesquisadoras<br />
mediram independentemente a temperatura de cor correlata<br />
(TCC) de cada cenário da função night shift. Os participantes<br />
expostos às intervenções dos ajustes night shift de baixa TCC<br />
(mais quente) e de alta TCC (menos quente) usaram óculos<br />
sem lentes equipados com um medidor de luz circadiana<br />
desenvolvido pelo LRC, chamado Dimesimeter, que mediu as<br />
exposições à luz na altura dos olhos. Os dados do Dimesimeter<br />
foram usados para calcular o estímulo circadiano (CS) recebido<br />
pelos participantes durante o experimento.<br />
Luz circadiana é definida como a luz (quantidade e espectro)<br />
que estimula o relógio biológico ou, mais detalhadamente, é a<br />
irradiância na córnea ponderada para refletir a sensibilidade<br />
espectral do sistema circadiano humano, medida pela supressão<br />
aguda de melatonina após uma hora de exposição. Já estímulo<br />
circadiano é uma métrica desenvolvida pelo LRC, definida<br />
como a eficácia da irradiância espectralmente ponderada na<br />
córnea desde o limiar (CS = 0,1) até à saturação (CS = 0,7).<br />
Ambos os termos são métricas que caracterizam a sensibilidade<br />
espectral e absoluta do sistema circadiano humano, baseadas<br />
no conhecimento fundamental da fisiologia da retina, bem como<br />
nas características operacionais medi das da foto transdução<br />
circadiana (o processo pelo qual a retina converte a luz em<br />
sinais neurais para o sistema circadiano), do limiar de resposta à<br />
saturação. Embora a ciência implícita a essas métricas avançadas<br />
possa parecer complexa, as métricas de estímulo circadiano<br />
e luz circadiana podem ser aplicadas com relativa facilidade<br />
usando a calculadora de estímulo circadiano, disponível no<br />
site LRC Light and Health, que permite que se converta a<br />
iluminação fotópica presente no olho – fornecida por qualquer<br />
fonte de luz, em qualquer nível de luz – na eficácia dessa luz<br />
para estimular o sistema circadiano humano.<br />
Usando a Calculadora de CS, os pesquisadores puderam<br />
estimar detalhadamente a quantidade de supressão de<br />
melatonina registrada nos participantes. Os resultados<br />
mostraram que os três cenários de iluminação suprimiram<br />
significativamente a melatonina durante as duas horas de cada<br />
noite de estudo. E, o mais importante, não houve diferença<br />
significativa entre a eficácia dos dois cenários de night shift.<br />
Para uma exposição de duas horas ao iPad, o LRC mediu:<br />
• 23% de supressão de melatonina em ambientes regulares<br />
(não usando o night shift);<br />
• 19% de supressão de melatonina durante o uso do<br />
modo night shift com alta TCC;<br />
• 12% de supressão de melatonina durante o uso do<br />
modo night shift com baixa TCC.<br />
O principal argumento do estudo é que apenas a mudança de<br />
cor da tela é insuficiente para limitar o impacto dos dispositivos<br />
eletrônicos portáteis nos níveis de melatonina à noite; o brilho<br />
da tela também deve ser reduzido. Ao especificar iluminação<br />
para o sistema circadiano, é importante considerar o nível de<br />
luz, o espectro (cor), o tempo e a duração da exposição e o<br />
histórico fótico (exposições anteriores à luz).<br />
Em geral, os resultados desse estudo do LRC, ao enfatizar<br />
outros aspectos além do espectro de luz, podem ser úteis<br />
para desenvolvedores, fabricantes e usuários de dispositivos<br />
eletrônicos autoluminosos no uso e no desenvolvimento de<br />
monitores e telas visando à saúde e ao bem-estar. Além das<br />
propriedades espectrais, os pesquisadores do LRC recomendam<br />
que os usuários considerem a redução da quantidade de luz<br />
emitida pelos dispositivos, mantendo os níveis de luz baixos,<br />
limitando o uso de PEDs a uma hora por sessão e evitando<br />
exposições pelo menos duas horas antes de dormir, se possível,<br />
desligando-os. Mesmo que a melatonina não seja suprimida<br />
durante esse intervalo, esses dispositivos podem estimular<br />
o cérebro e, como resultado, podem prejudicar o sono.<br />
54 55
Na fachada principal, uma linha de iluminação oculta enfatiza de modo rasante a textura de painéis de concreto pré-moldado.<br />
Vitrines triangulares recebem iluminação direta, escondida atrás da testeira, e rasante nas paredes do fundo.<br />
PONTO, LINHA, PLANO<br />
Texto: Gilberto Franco | Fotos: Andrés Otero<br />
Discorrer sobre o projeto de iluminação da NK Store em<br />
São Paulo é uma oportunidade de percorrer de forma<br />
bastante didática todo o processo de realização de<br />
um projeto, desde a sua concepção, passando pela interação<br />
com os arquitetos, até chegar ao resultado final executado.<br />
Com efeito, o que salta aos olhos ao nos debruçarmos sobre o<br />
projeto dessa loja de aproximadamente 2.000 m² é a clareza e a<br />
ordenação dos elementos de iluminação, além de sua orquestração<br />
com o que se passa na arquitetura.<br />
Mas, para falar da iluminação, antes é necessário entendermos<br />
bem a arquitetura, suas propostas e seus desígnios, para depois<br />
compreender as respostas e as interações havidas, a fim de<br />
termos a visão de conjunto.<br />
O PROJETO ARQUITETÔNICO<br />
Situada no remembramento de três lotes urbano, a NK Store<br />
é resultado da evolução “orgânica” de uma loja de revenda de<br />
roupas femininas de luxo, originalmente pequena, ocupando<br />
apenas um dos lotes e depois, aos poucos, se propagando<br />
pelos demais. Esse crescimento não planejado culminou na<br />
necessidade de reordenação do espaço, de modo a abrigar<br />
todas as funções da loja e ainda oferecer uma “experiência”<br />
nova ao cliente.<br />
Esses três lotes organizam-se na forma de um grande<br />
“T”, com dois imóveis geminados na rua Haddock Lobo e o<br />
terceiro em uma rua secundária, o qual, além de funcionar<br />
como entrada da loja, dá acesso ao edifício administrativo<br />
da empresa.<br />
Para a escolha do arquiteto que viria a desenvolver o<br />
projeto, a cliente organizou um concurso privado entre alguns<br />
escritórios, do qual saiu vitorioso o projeto do Estudio Tupi,<br />
cujo estudo contou desde o início com a colaboração do<br />
Estudio Carlos Fortes no que tange à iluminação.<br />
Em linhas gerais, o projeto arquitetônico propôs trazer a<br />
entrada principal para a rua Haddock Lobo, deixando a outra<br />
como secundária. Para resolver a questão estrutural dos dois<br />
imóveis geminados, criou uma espécie de “caixa preta” central,<br />
toda revestida de madeira pau-ferro, que elide a presença dos<br />
pilares centrais originais, dividindo o espaço em duas pistas<br />
paralelas de 20 metros de comprimento, ladeadas por displays<br />
de araras. As poucas interligações entre corredores na caixa<br />
preta abrigaram espaços de marcas independentes revendidas<br />
na loja. Na ponta interna do “T”, uma impressionante escada<br />
helicoidal, réplica autorizada da escada do Palácio Itamaraty,<br />
ocupa o que antes fora um poço de iluminação e agora é coberto<br />
por uma claraboia, situada quatro andares acima, a qual dá<br />
acesso ao pavimento superior. Na continuação oposta, sete<br />
degraus abaixo do nível térreo e coberto pela hélice ascendente<br />
da escada, encontra-se o bar. Um interessantíssimo jogo de<br />
espelhos em arranjos ortogonais e diagonais, locados em<br />
pontos estratégicos, cria um caleidoscópio de visualizações<br />
inusitadas, por vezes incompreensíveis, da loja.<br />
56 57
58 59
LAYOUT, USOS<br />
As duas pistas que ladeiam a “caixa preta” e funcionam<br />
geralmente como circulação e visualização das araras podem,<br />
em ocasiões especiais, mudar completamente de aspecto, já<br />
que um engenhoso sistema de cortinas permite esconder todos<br />
os expositores de roupas, podendo os túneis e as aberturas do<br />
bloco central ser fechados, criando um espaço sem nenhum<br />
produto e dando novas possibilidades de uso, como desfiles. Na<br />
inauguração, por exemplo, esses corredores abrigaram imensas<br />
mesas de jantar de 18 metros, sem que nada se visse dos produtos.<br />
Em determinado momento, porém, as cortinas se abriram, e<br />
puderam ser vislumbradas todas as roupas expostas.<br />
No piso superior, além de um terceiro corredor expositivo,<br />
situa-se a área de provadores, esta também dotada de cortinas<br />
que permitem a remodelação do espaço, e, finalmente, uma área<br />
de vendas exclusiva, para produtos e atendimentos especiais.<br />
A ILUMINAÇÃO<br />
Na página dupla anterior, uma réplica autorizada da<br />
escada do Palácio Itamaraty é refletida e multiplicada<br />
por um jogo de espelhos. Acima, projetores embutidos<br />
em rasgos podem ora iluminá-la como uma grande<br />
escultura, ora como passarela para desfiles, ou mesmo<br />
como palco para pequenas apresentações. Ao fundo<br />
vê-se o reflexo no espelho das áreas administrativas.<br />
Na página ao lado, rasgos longitudinais no forro<br />
de gesso escondem trilhos eletrificados em suas<br />
laterais, permitindo rápida conexão/desconexão de<br />
projetores. Quando as cortinas e os nichos são abertos,<br />
esses projetores remodelam totalmente a percepção<br />
dos ambientes. Acima, no pavimento superior a<br />
mesma solução se repete. Uma sequência regular de<br />
retângulos luminosos inunda de luz a circulação. Junto<br />
às cortinas, sancas com barras de LED reforçam o<br />
aspecto diáfano do ambiente.<br />
Pontos, linhas e planos. Essas foram as ferramentas básicas<br />
utilizadas para atender à variedade de requisitos solicitados.<br />
Todas as paginações da loja oferecem sempre essas ordenações<br />
geométricas, que vão resolvendo as funções caso a caso. Nos<br />
corredores da entrada principal, por exemplo, houve a necessidade<br />
de criar dois sistemas independentes, um para iluminar as roupas<br />
que estão nos longos displays, e outro para iluminação eventual,<br />
como desfiles ou, como foi o caso no momento da inauguração,<br />
jantares. Esses sistemas constituíram-se de sulcos no teto<br />
com trilhos embutidos neles, que podem receber projetores<br />
variados. Para chegar a esse resultado técnico, Carlos desenvolveu<br />
um desenho especial em parceria com um fabricante, já que<br />
os modelos similares existentes no Brasil e no exterior não<br />
permitiam até hoje o uso desse sistema, a não ser com fixações<br />
predeterminadas. Cada um desses sulcos tem uma função: um<br />
ilumina o lado dos displays, o outro é reservado aos potenciais<br />
acontecimentos do corredor. Nos displays de araras, sancas com<br />
LED inundam de luz difusa as cortinas que os envolvem, uma<br />
na frente, outra no fundo.<br />
Os túneis que interligam os corredores, de arquitetura mais<br />
baixa, receberam planos luminosos no teto, como contraposição<br />
a seu aspecto naturalmente mais acanhado.<br />
Na interligação das duas vertentes de acesso, descortinase<br />
a majestosa escada, também um local de acontecimentos,<br />
podendo servir até de palco para pocket shows, desfiles etc. E<br />
para atender à multiplicidade das funções previstas foi criado<br />
60 61
Nos provadores, sancas luminosas acompanham o desenho curvo das cortinas cor-de-rosa. À esquerda, a parede de espelho<br />
duplica o espaço e a claraboia. Na imagem da página ao lado, conectando as duas galerias, túneis trapezoidais abrigam marcas<br />
convidadas. Um forro luminoso em tela tensionada se contrapõe ao achatamento do espaço, tornando-o vibrante. Nichos<br />
expositores de óculos são retroiluminados, de modo a ressaltar a transparência dos produtos.<br />
um conjunto de rasgos paralelos, com o mesmo sistema<br />
de projetores dos displays. De fato, segundo Fortes, assim<br />
como a arquitetura se propôs a utilizar o mínimo possível<br />
de acabamentos (concreto, pau-ferro, cortinas, latão), a<br />
iluminação procurou se valer de um mínimo de elementos<br />
para construir sua narrativa.<br />
No corredor do pavimento superior, novamente a presença<br />
de um plano luminoso em toda a sua extensão, ladeado pelos<br />
mesmos sulcos dos corredores do térreo. Ainda nesse pavimento,<br />
temos a área reservada, onde se encontram os produtos especiais,<br />
de maior valor, focados no atendimento individual aos clientes.<br />
A distinção, entretanto, fica por conta apenas dos produtos, já<br />
que a iluminação e os acabamentos são exatamente os mesmos,<br />
confirmando o “rigor” adotado pela arquitetura e também pela<br />
iluminação. Os provadores, também nesse andar, compõem-se<br />
de um conjunto de cortinas que permitem montar desde um<br />
cenário único até um todo dividido e são banhadas por sancas<br />
em offset de ambos os lados de cada uma.<br />
AUTOMAÇÃO<br />
Todo o projeto é controlável por automação, com protocolo<br />
de dimerização tipo forward phase, tendo as respectivas cenas<br />
sido elaboradas, montadas e registradas pelos autores do<br />
projeto. O mesmo rigor foi observado ao se fixar a dimerização<br />
em percentuais predefinidos: 100%, 80%, 50%, 10%. Com<br />
esse vocabulário de porcentagens, e horas antes do jantar de<br />
inauguração, foram montadas, criadas e registradas as cenas,<br />
basicamente chegada, início do jantar, apogeu (momento em<br />
que se abrem as cortinas, e o espaço outrora vazio se transforma<br />
em loja), show (na escada “Itamaraty”) e despedida.<br />
Pela organicidade de suas funções, que com poucos toques<br />
se modifica, pelo rigor de seus elementos construtivos, todos<br />
interligados entre si, em que iluminação e arquitetura quase “são”<br />
a mesma coisa, quase lembra um ser vivo, uma espécie de bicho,<br />
não os da natureza, talvez aqueles da Lygia Clark.<br />
NK STORE<br />
São Paulo<br />
Projeto de iluminação:<br />
Estudio Carlos Fortes<br />
Carlos Fortes, Débora Esposto (arquitetos titulares)<br />
Nathalie Lima Legal, Philippe Jacob, Thales Sportero (colaboradores)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Estudio Tupi<br />
Aldo Urbinati, Andrea Bazarian, Rafael Ayres (arquitetos titulares)<br />
Karen Abreu (colaboradora)<br />
Paisagismo:<br />
Rodrigo Oliveira<br />
Projeto de automação:<br />
e:light<br />
Projetos complementares e obra:<br />
Saeng<br />
Cliente:<br />
Natalie Klein Duek<br />
Fornecedores:<br />
e:light, dpot, Estúdio Jacqueline Terpins, Lemca, Lightsource, Lumini,<br />
Lutron, Osvaldo Matos, Tensoflex<br />
62 63
UMA SEQUÊNCIA DE ADAPTAÇÕES:<br />
A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA<br />
NO DESIGN DE ILUMINAÇÃO<br />
Texto e imagens: Marina Lodi<br />
A<br />
luz e a iluminação podem ser consideradas uma das<br />
principais ferramentas para definir as qualidades<br />
de um espaço. Por meio delas, além de ser possível<br />
revelar texturas, enaltecer cores e criar perspectivas, podemos<br />
proporcionar diversas sensações e assim enfatizar as intenções<br />
da arquitetura. Quando iluminamos um ambiente, seja<br />
interno, seja externo, podemos estabelecer parâmetros que<br />
nos ajudam a alcançar os resultados desejados. Enquanto<br />
aspectos qualitativos da luz podem ser obtidos por meio da<br />
definição de temperatura de cor, intensidade, origem e direção,<br />
aspectos quantitativos podem ser estabelecidos por meio de<br />
cálculos lumínicos. Assim, a luz é orquestrada para que se<br />
atinja conforto visual. Apesar dessas considerações e desses<br />
parâmetros, quando pensamos a luz e a iluminação, ainda<br />
acabamos por entender e analisar os espaços arquitetônicos<br />
como uma experiência estática, em que o tempo é pouco ou<br />
quase nada levado em consideração.<br />
Para empregar o tempo como um dos parâmetros que<br />
pode nos ajudar a criar experiências, precisamos ter foco nos<br />
aspectos qualitativos da luz, e não somente nos quantitativos.<br />
Dessa forma, nós nos beneficiaríamos dos estudos de<br />
luminância e das relações de contraste, em vez de somente<br />
dos de iluminância. Para auxiliar nessa investigação, é possível<br />
estabelecer uma comparação entre o uso de determinado<br />
espaço e sua iluminação com uma câmera fotográfica. Podemos<br />
utilizar nosso conhecimento sobre o funcionamento técnico<br />
de uma câmera e as teorias de montagem cinematográfica<br />
para produzir uma narrativa por meio da iluminação. Tudo<br />
isso com o objetivo de conduzir o usuário a uma melhor<br />
percepção e apreciação da arquitetura.<br />
64 65
Da mesma forma que uma câmera pode variar exposições<br />
por meio da abertura e da velocidade do diafragma, o corpo<br />
humano também pode constantemente ajustar as pupilas<br />
para que possamos ver e nos adaptar a diversas situações e<br />
variações de luminosidade. Assim, podemos também pensar<br />
que a arquitetura seria capaz de se comportar de maneira<br />
semelhante, variando a quantidade de incidência de luz em<br />
determinado ambiente em relação ao tempo que permanecemos<br />
nele ou transitamos por ele. Para atingir a mesma exposição<br />
em dois ambientes distintos, por exemplo, teríamos de ter mais<br />
incidência luminosa em um ambiente de maior permanência,<br />
uma vez que o corpo teria um tempo menor de adaptação,<br />
diferentemente de um ambiente em que seriam executadas<br />
tarefas de maior tempo de duração, com incidência de luz<br />
proporcionalmente menor.<br />
Uma vez que a exposição dos espaços é definida, eles<br />
se tornam um quadro, uma fotografia em movimento com<br />
a intenção de gerar sensações e também abrigar o usuário.<br />
No entanto, nossas experiências nunca são formadas apenas<br />
por um único momento, mas por uma sucessão deles, e isso<br />
também é verdade para a maneira como circulamos pelos<br />
ambientes em que a transição pode influenciar nosso processo<br />
de adaptação. Dessa maneira, uma vez que as exposições e<br />
a relação de luz e tempo são estabelecidas individualmente,<br />
é preciso criar ligações entre os diferentes fotogramas –<br />
frames – que vão então tornar possível um desenho de luz<br />
com foco na adaptação.<br />
A justaposição desses espaços controlados é capaz de<br />
contar histórias; e, além da analogia com a câmera fotográfica,<br />
podemos coreografar uma sequência arquitetônica como em<br />
um filme. Usando conceitos de montagem cinematográfica,<br />
podemos gerar intenções narrativas por meio da iluminação.<br />
Uma história, por exemplo, pode ser contada de maneiras<br />
diferentes, com mudanças de ritmo, métricas e tom; assim,<br />
tudo isso pode mudar o seu significado. Ao definir como<br />
comunicamos uma ideia, adicionamos conteúdo a ela.<br />
Nesse caso, “o meio é a mensagem”, tema já discutido em<br />
estudos sobre comunicação e mídia pelo teórico canadense<br />
Marshall McLuhan.<br />
O meio aqui é a forma tectônica dos espaços e como a<br />
luz vai interagir neles; da mesma forma que podemos mudar<br />
de diversas maneiras de uma cena para outra em um filme,<br />
utilizando técnicas como corte seco, fade ou dissolver, também<br />
podemos transitar entre ambientes de diversas maneiras,<br />
como subindo uma escada, abrindo e fechando uma porta,<br />
passando por uma abertura estreita ou larga. Essas transições<br />
vão alterar diretamente o processo de adaptação dos nossos<br />
olhos. Mostramos, assim, que a iluminação deve considerar<br />
o tempo não apenas como a duração de permanência em um<br />
ambiente, mas também a sua relação com o movimento entre<br />
os espaços e a possibilidade de diversos tipos de adaptação<br />
ou de narrativas.<br />
Vemos então que o design da luz é capaz de mudar nossa<br />
relação com o tempo e, desse modo, proporcionar a possibilidade<br />
do uso dos espaços de maneira mais intuitiva e harmônica.<br />
Acreditando no nosso corpo como ferramenta fundamental para<br />
o design, somos capazes de criar espaços funcionais ao mesmo<br />
tempo que suprimos o corpo com necessidades psicológicas<br />
e fisiológicas e assim acreditar em soluções holísticas que<br />
podem gerar integração social.<br />
66 67
A recepção do Hotel QO é definida pela montagem de anéis<br />
concêntricos de lâminas de cobre iluminadas por luminárias<br />
dimerizáveis LED 780 lm, 10 W, 3.000 K, 60°, IRC 95,<br />
embutidas no forro entre os anéis. Os painéis de espelhos<br />
envelhecidos da parede curva são iluminados por luminárias<br />
dimerizáveis LED 500 lm, 6 W, 3.000 K, 24°, RC 95, criando<br />
um dinâmico jogo de luz e sombra no piso, em virtude da<br />
reflexão da luz dos painéis e dos seus montantes.<br />
LUZ<br />
SOBRENATURAL<br />
Texto: Orlando Marques<br />
Fotos: Jonathan Andrew Photography,<br />
Ossip, Paul de Ruiter Architects<br />
Concebido na combinação entre projeto circular e<br />
sustentável com conforto e luxo, o Hotel QO tem<br />
como princípio oferecer aos visitantes de Amsterdã<br />
uma experiência inovadora: hospedar-se em um dos melhores<br />
hotéis da Europa e ao mesmo tempo contribuir para um<br />
mundo melhor.<br />
O projeto de arquitetura foi desenvolvido pelos escritórios<br />
holandeses Mulderblauw architecten e Paul de Ruiter Architects,<br />
e o projeto de iluminação, pelos lighting designers do escritório<br />
de Roterdã, Beersnielsen. Localizado nas margens do rio Amstel<br />
e nos arredores da estação Amstel de Amsterdã, o projeto<br />
está em processo de ser certificado com o selo LEED Platino,<br />
o primeiro hotel da Europa a receber essa certificação.<br />
68 <strong>69</strong>
Na área contígua à recepção, as colunas dos<br />
arcos, são iluminadas por projetores LED com<br />
fonte luminosa dupla 277 lm, 3.000 K, 6,4 W,<br />
IRC>80, 10° cada e visor branco leitoso para<br />
espalhar o facho na cavidade da coluna e drivers<br />
dimerizáveis locados em ponto remoto. No bar,<br />
destaque para a iluminação do revestimento do<br />
piso, com luminárias lineares LED 280 lm/m,<br />
2.800 K, 8,4 W/m, IRC>80, escondidas na base<br />
do revestimento de madeira. Pendentes com<br />
pendurais revestidos de trama de tecido preta e<br />
cúpula de concreto e fonte LED 450 lm, 3.000 K.<br />
Cada aspecto do hotel foi projetado para impactar<br />
positivamente no mundo, por meio de ações pontuais, desde a<br />
escolha dos materiais e das técnicas construtivas inovadoras e<br />
sustentáveis até a troca com o meio ambiente e a comunidade<br />
local. O Hotel QO possui 80% de suas áreas com aproveitamento<br />
máximo de penetração de luz natural, fachadas inteligentes com<br />
1.638 painéis móveis reagentes às condições climáticas exteriores<br />
e interiores, equipamentos de iluminação com tecnologia LED<br />
de baixo consumo energético e também uma estufa altamente<br />
tecnológica para a produção de alimentos, flores e plantas ornamentais<br />
utilizadas nos restaurantes e nas demais áreas do hotel.<br />
O conceito de iluminação do projeto inspirou-se no movimento<br />
da natureza para criar efeitos de luz. Mais especificamente<br />
nos raios dourados do sol nascente, aqueles que cegam<br />
momentaneamente e aguçam a percepção. Ou, como os<br />
designers colocam, “é um momento que você quer capturar,<br />
que dá arrepios”.<br />
À medida que a luz do dia torna os espaços dinâmicos,<br />
manifestações da luz do sol nas superfícies criam reflexos,<br />
sombras e projeções. Esses efeitos foram traduzidos em luz<br />
artificial como reflexos de refrações de luz na água, jogos de<br />
luz e sombra entre elementos de interiores e de paisagismo,<br />
70 71
feixes de raios de sol. Tudo isso depois de um cuidadoso estudo<br />
dos acabamentos em contato com a luz, com o objetivo de<br />
extrair o melhor de suas qualidades e seus efeitos.<br />
Na entrada do hotel, uma reluzente montagem de finas<br />
lâminas de bronze dispostas em círculos concêntricos define o<br />
espaço da recepção, dando calorosas boas-vindas aos hóspedes.<br />
Ao lado, arcos e colunas parecem feitos de ar quando iluminados<br />
internamente, por trás de telas metálicas, criando padrões<br />
moiré de interferência entre as telas. O balcão curvo do bar<br />
parece flutuar, revelando suas anáguas de pastilhas cerâmicas.<br />
Pendentes decorativos são suspensos por três pavimentos, até<br />
iluminar o topo do balcão do bar, contribuindo para a definição<br />
da escala humana no ambiente.<br />
Nas áreas comuns dos bares e dos restaurantes, a iluminação<br />
arquitetural muitas vezes é o resultado da combinação entre<br />
iluminação de destaque e iluminação geral, por meio de<br />
luminárias com diferentes distribuições fotométricas. Uma<br />
segunda camada luminosa, resultado de iluminação integrada<br />
em mobiliário e outros elementos de interiores, completa o<br />
desenho da luz nos espaços, enquanto luminárias decorativas<br />
de designers locais desenvolvem efeitos especiais em suas<br />
cúpulas e em materiais e superfícies nos arredores.<br />
As salas de reuniões no pavimento do mezanino também<br />
seguem os princípios das áreas púbicas, iluminadas com uma<br />
camada de iluminação difusa e de destaque tanto por meio<br />
de luminárias fixas quanto por meio de projetores orientáveis.<br />
Contemplativo e mágico, um inesperado efeito de reflexos de<br />
luz na água é projetado no forro do foyer das salas de reuniões,<br />
a partir do sofá circular, no centro do ambiente. Colunas<br />
circulares receberam segmentos de luminárias lineares de<br />
bronze para destacar seu acabamento de concreto.<br />
Nos corredores de circulação para os quartos, raios de<br />
luz parecem penetrar pelo pergolado de madeira junto ao<br />
forro, projetando feixes de luz nas paredes e no piso. É nesse<br />
O restaurante é iluminado por<br />
projetores LED 780 lm, branco<br />
dinâmico 3.000 K-2.000 K,<br />
15°, IRC 95, fixados em trilhos<br />
eletrificados. A face do balcão foi<br />
iluminada por luminárias lineares<br />
LED 280 lm/m, 2.800 K,<br />
8,4 W/m, IRC>80, escondidas<br />
sob o tampo do balcão.<br />
Os pendentes possuem fontes<br />
LED 300 lm, GU10, LED e<br />
dimerização branco quente<br />
2.700 K, IRC>90. No foyer da<br />
sala de reuniões, 12 miniprojetores<br />
customizados LED 180 lm,<br />
3.000 K, 40W, IRC 80-89,<br />
escondidos no sofá, criam efeito<br />
de refração da luz na água no<br />
forro do ambiente, controlados<br />
por controle DMX. As colunas<br />
de concreto são iluminadas<br />
por luminárias dimerizáveis<br />
customizadas com perfis lineares<br />
com 1.000 lm/m, 3.000 K,<br />
12 W/m, IRC>95 e drivers locados<br />
em pontos remotos.<br />
72 73
Os corredores de circulação dos quartos são iluminados por luminárias LED 320 lm, 3.000 K, 3 W, IRC 83 e facho ultrafechado, com<br />
distribuição de 180°, fixados ou no forro, ou entre as vigas de madeira. Tanto a arquitetura quanto o projeto de iluminação, simulam um<br />
ambiente de áreas externas. Nos corredores de circulação das áreas públicas, além da luminária para o efeito da penetração de luz natural,<br />
o projeto inclui luminárias 920 lm, 3.000 K, 12 W, IRC 90 para iluminação do piso. Nos quartos, luminárias dimerizáveis lineares 370 lm/m,<br />
4,8 W/m, 24 V, IRC>80 são integradas no mobiliário; e luminárias decorativas com emissão direta e indireta completam o projeto do hotel.<br />
ambiente que o conceito do projeto de iluminação se materializa,<br />
atribuindo ao espaço confinado qualidades de ambientes<br />
externos em harmonia com a natureza.<br />
Nos quartos de hóspedes, a iluminação integrada em<br />
detalhes nos elementos de interiores interage com uma paleta<br />
de materiais e cores que parecem ter sido inspirada pelos<br />
efeitos de luz dos corredores, revelando um ambiente calmo<br />
e revigorante. Por meio da definição de cenas de luz préprogramadas<br />
no sistema de automação, é possível escolher<br />
a iluminação do ambiente em virtude da hora do dia e da<br />
penetração da luz natural. Durante a noite, efeitos de luz e<br />
sombra no teto, provenientes da porção uplight das luminárias<br />
decorativas junto à janela, criam a iluminação da fachada.<br />
HOTEL QO<br />
Amsterdã, Holanda<br />
Projeto de iluminação:<br />
Beersnielsen<br />
Juliette Nielsen, Sjoerd Beers (titulares)<br />
Mieke van der Velden (coordenadora)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
Mulderblauw architecten<br />
Paul de Ruiter Architects<br />
Projeto de interiores:<br />
Tank<br />
Conran+Partners<br />
Fornecedores:<br />
Atelier Robotiq, BEGA, Delta Light, Foscarini,<br />
Gallotti&Radice, Henge, iGuzzini, Jacco<br />
Maris, TDE Lighttech, Terzani, Tom Kirk<br />
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As duas imagens mostram cenas do espetáculo Vivisector, uma plena integração entre vídeo e performance, em que projetor de<br />
imagens é a única fonte de luz utilizada. A narrativa da desconstrução visual do corpo humano é realizada por meio da projeção<br />
mapeada ensaiada com os movimentos dos bailarinos. Com esse recurso, o artista edita visualmente os corpos, que assumem<br />
características tridimensionais diversas, ora extremamente realistas e humanas, ora decompostas em pixels, tornando-se suportes<br />
para composições gráficas.<br />
IMAGENS-LUZ<br />
Texto: Fernanda Carvalho<br />
Fotos: Felix Noebauer (D.A.V.E.), Klaus Obermaier (Apparition, Vivisector), Marianne Weiss (D.A.V.E.)<br />
Não há uma definição única que caiba na multiplicidade<br />
de atuações do artista alemão Klaus Obermaier. Com<br />
formação universitária em Artes Visuais e Música,<br />
Obermaier expandiu sua atuação profissional e artística para a<br />
concepção e a direção de espetáculos e performances, a direção<br />
técnica de palco – o que inclui lighting design –, a composição<br />
musical, o projeto de tecnologia, a coreografia, entre outras<br />
áreas de atuação. Entre tantas habilidades e interesses, para<br />
ele não há uma hierarquia entre os distintos campos: todos<br />
têm igual importância para a criação de um trabalho artístico.<br />
Desde os anos 1990 atuando com criações artísticas<br />
variadas, o interesse por tecnologia em geral o levou a buscar<br />
parcerias específicas para desenvolver projetos, já que não<br />
havia formação em um campo tão desconhecido e inovador.<br />
A prática do learn by doing, ou seja, “tentativa e erro”, foi<br />
a única forma de adquirir conhecimentos no que havia de<br />
mais avançado em tecnologia, principalmente com relação<br />
à projeção de imagens.<br />
Os trabalhos de Obermaier são marcados pela precisão com<br />
relação ao espaço e ao tempo. O uso da projeção como fonte<br />
primordial de luz é uma escolha estética, pois alcança a leveza<br />
e a poesia que pretende, e técnica, uma vez que lhe permite o<br />
controle detalhado com limites precisos do campo visual. O<br />
projetor é, portanto, entendido, antes de tudo, como uma fonte<br />
de luz muito poderosa, capaz de iluminar com imagens o objeto<br />
que ele escolhe, processando uma separação entre figura e fundo,<br />
por meio do recorte da primeira e da supressão do segundo.<br />
No espetáculo Vivisector, a imagem do corpo dos dançarinos é<br />
projetada no corpo real, causando um estranhamento espacial e<br />
imagético. Aqui o projetor de imagens mapeadas é a única fonte<br />
de luz utilizada e incide apenas sobre os bailarinos, criando uma<br />
espacialidade mutante, quase bidimensional.<br />
76 77
As imagens da esquerda e acima mostram cenas do espetáculo D.A.V.E., em que precisas projeções mapeadas explicitam o sofrimento<br />
humano por meio de bizarras distorções do corpo. Em outros momentos, a inserção de iluminação convencional contrapõe o fantástico<br />
dessas imagens tecnológicas com o belo e conhecido corpo humano iluminado. Nas demais, fotos do espetáculo Apparition, vemos<br />
a exploração visual entre figura e fundo, criando fusões gráficas que confundem a percepção do espaço tridimensional e usam a<br />
presença do corpo humano como uma distorção ou uma interferência que desorganiza o fundo delimitado com perfeição.<br />
Já em D.A.V.E., misturou a luz projetada do vídeo com<br />
fontes de luz teatrais em momentos alternados. A luz<br />
posicionada na lateral – recurso tradicional da iluminação<br />
para dança – confere tridimensionalidade ao corpo real<br />
do bailarino. De maneira oposta, as imagens projetadas<br />
revelam possíveis manipulações e transformações do corpo<br />
humano. É como se existissem dois mundos: o dos corpos<br />
perfeitos, iluminados em toda a sua tridimensionalidade,<br />
e o das mutações bizarras e do sofrimento humano, criado<br />
pelas projeções.<br />
Em Apparition, além dos dançarinos, o fundo recebe<br />
imagens projetadas. Um preciso jogo entre projeção e<br />
luz cria uma relação entre o corpo “real”, iluminado por<br />
luzes convencionais, e outro corpo, “irreal”, que se destaca<br />
espacialmente do fundo, mas visualmente se funde e interage<br />
com ele.<br />
O uso da projeção de imagens no trabalho de Klaus<br />
Obermaier não é um exibicionismo tecnológico, mas um<br />
veículo poderoso para criar visualidades inusitadas utilizando<br />
como superfície de incidência o corpo humano, com seus<br />
movimentos e seus tempos. A clareza visual da narrativa<br />
criada é tal que o recurso tecnológico não se sobrepõe à<br />
poética, permitindo ao espectador embarcar na proposta<br />
artística de forma plena.<br />
VIVISECTOR<br />
2002<br />
Direção:<br />
Klaus Obermaier<br />
Coreografia:<br />
Chris Haring<br />
Bailarinos:<br />
Chris Haring, Olaf Reinecke, Robert Tirpak, Tom Hanslmaier<br />
D.A.V.E.<br />
2009<br />
Concepção, direção, vídeo e música:<br />
Klaus Obermaier<br />
Coreografia:<br />
Chris Haring<br />
APPARITION<br />
2004<br />
Concepção, direção, vídeo e música:<br />
Klaus Obermaier<br />
Coreografia e performance:<br />
“Apparition I”:<br />
Desirée Kongerød, Robert Tannion<br />
“Apparition II”:<br />
Desirée Kongerød, Matthew Smith<br />
Design interativo e desenvolvimento técnico:<br />
Ars Electronica Futurelab, Christopher Lindinger, Hirokazu<br />
Kato, Jing He, Peter Brandl, Universidade de Osaka<br />
78 79
Estabelecer hierarquias visuais para auxiliar na orientação espacial foi um dos<br />
objetivos do projeto. À esquerda, luminárias lineares LED 3.000 K embutidas<br />
no piso destacam a cor e a volumetria do pórtico de uma das entradas. O bloco<br />
de ensino A, destinado aos cursos de Maquiagem para Mídias e Performance,<br />
Maquete e Modelagem, teve a fachada iluminada em toda a sua extensão,<br />
revelando a textura do material perfurado do revestimento. As copas das<br />
árvores também receberam destaque por meio de embutidos de piso LED 20°, e<br />
os percursos são iluminados por meio de balizadores, sempre com TCC 3.000 K.<br />
A LUZ COMO<br />
COMBUSTÍVEL<br />
CRIATIVO<br />
Texto: Mariana Novaes | Fotos: Robin Goodlad<br />
A Arts University Bournemouth (AUB), localizada em Poole,<br />
região sul do Reino Unido, é uma instituição reconhecida pela<br />
educação em Arte, Design, Mídia e Performance. Em 2012,<br />
quando se tornou universidade (antes era reconhecida apenas<br />
como faculdade), o campus começou a ser ampliado para receber<br />
um número maior de estudantes. Com isso, a reitoria contratou<br />
equipes de arquitetura, urbanismo, paisagismo e projeto de<br />
iluminação para o desenvolvimento de um plano diretor com<br />
uma visão de longo prazo para a universidade.<br />
Partindo da ideia de reimaginar um campus para as práticas<br />
criativas, buscou-se desenvolver um ambiente construído<br />
que refletisse essa expressão e também a energia dentro dos<br />
programas de ensino, o qual deveria incorporar os valores da<br />
universidade: “Faça o que você ama, e coisas incríveis podem<br />
acontecer”.<br />
A natureza desses cursos ministrados na universidade e seu<br />
campus de tamanho compacto combinam-se para criar um caráter<br />
único, diferentemente de outras universidades. Trata-se de um<br />
campus envolvente, onde os alunos de todas as disciplinas se<br />
misturam em espaços que resultam em trabalhos colaborativos<br />
e no compartilhamento de conhecimentos e habilidades. Isso<br />
leva a alunos mais alinhados e entrosados, além de propiciar um<br />
constante burburinho de energia em todo o campus.<br />
80 81
Acima, na praça de acesso aos edifícios de serviço do campus, como biblioteca, teatro e recepção, o estúdio MGS escolheu<br />
manter as luminárias existentes – lineares RGB – integradas aos canteiros do jardim, complementando o cenário noturno com<br />
uplights para destaque das copas das árvores e da sinalização dos espaços. Na página ao lado, no topo, a diretriz do plano diretor<br />
foi manter a iluminação arquitetural existente, dando maior destaque à sinalização e aos letreiros relacionados aos edifícios.<br />
Abaixo, vista para o jardim que interliga os blocos de ensino A (mencionado na página anterior) e B (foundation diploma) do<br />
campus. As árvores e os percursos são destacados com luminárias LED 3.000 K.<br />
Manter esse caráter único foi um fator-chave na evolução dos<br />
princípios de design do plano diretor proposto pelo escritório de<br />
arquitetura Design Engine, em colaboração com o escritório de<br />
paisagismo Hyland Edgar Driver. Completando a equipe, em 2016<br />
o escritório de iluminação Michael Grubb Studio foi nomeado<br />
para desenvolver o plano diretor de iluminação do campus, assim<br />
como o projeto de sua iluminação externa.<br />
O plano diretor de iluminação teve como principais objetivos<br />
criar um ambiente coeso e iluminado depois de escurecer; utilizar<br />
a iluminação para desenvolver um caráter e uma identidade<br />
para o local; estabelecer uma hierarquia visual da iluminação<br />
para auxiliar na orientação; proteger os habitat circundantes; usar<br />
níveis adequados de luz em relação à segurança e proteção sem<br />
iluminação excessiva; minimizar a poluição luminosa, ofuscamento<br />
e flicker; gerar uma solução de baixo consumo de energia que seja<br />
fácil de manter; ser sensível aos desenvolvimentos vizinhos. O<br />
plano considerou, ainda, os requisitos operacionais do campus e o<br />
acontecimento de eventos e atividades, além de buscar responder<br />
à pergunta: Como a luz artificial pode ser usada para desenvolver<br />
um senso de lugar após o anoitecer?<br />
Também permitiu que inconsistências da iluminação existente<br />
fossem tratadas e sugeriu a implementação de soluções em várias<br />
fases, de maneira contínua, ainda em andamento. A iluminação<br />
existente no campus apresentava uma mistura de luminárias com<br />
lâmpadas de vapor de sódio, halógenas, fluorescentes e postes LED<br />
para iluminação viária. A pesquisa inicial avaliou qual iluminação<br />
existente precisava ser substituída e quais itens poderiam ser<br />
reaproveitados. Por exemplo, os postes de iluminação pública foram<br />
reaproveitados para uso em um novo estacionamento e em um novo<br />
projeto de iluminação pública para substituir as luminárias de sódio.<br />
A iluminação linear embutida no piso também foi reaproveitada e<br />
reprogramada para escurecer e mudar de cor em eventos especiais.<br />
Uma nova filosofia de controle de iluminação foi desenvolvida para<br />
o local, permitindo que a iluminação fosse reconfigurada, desligada e<br />
dimerizada com base na localização e no uso. Essa abordagem criou<br />
um ambiente iluminado que reage ao uso, melhora a orientação no<br />
espaço e reduz o consumo de energia em todo o espaço da AUB. Por<br />
exemplo, para a iluminação de amenidades, foi utilizado um sistema<br />
simples de controle principal que integra relógios astronômicos e<br />
sensores de luz natural para garantir que a iluminação não esteja<br />
em uso durante o dia. Um temporizador de iluminação também foi<br />
desenvolvido com o cliente, desligando todas as luminárias decorativas<br />
e não essenciais quando a universidade estiver fechada. A iluminação<br />
decorativa e arquitetônica é controlada por meio de protocolo de<br />
controle DMX. Cenas predefinidas foram desenvolvidas com o cliente<br />
para uso específico no inverno, no verão e em eventos. Elas também<br />
são controladas por relógios astronômicos e sensores de luz natural<br />
para evitar desperdício de energia.<br />
82 83
No topo, como parte do<br />
plano diretor de iluminação,<br />
algumas estruturas receberam<br />
intervenções inspiradas na light<br />
art, fazendo com que visadaschave<br />
ficassem mais atrativas<br />
e customizáveis para eventos e<br />
o uso em geral. Abaixo, a nova<br />
estrutura do bicicletário serviu<br />
de suporte para a inserção da<br />
logomarca da Universidade.<br />
O projeto de implementação<br />
do plano diretor e seus<br />
detalhamentos seguem em<br />
desenvolvimento.<br />
Acima, as superfícies laterais coloridas das diversas claraboias integradas aos blocos do campus receberam destaque por meio de<br />
luminárias lineares com óptica de facho assimétrico para efeito wall grazing.<br />
À medida que novas fases de desenvolvimento avançam<br />
ao longo dos anos, as diretrizes do plano diretor permitem que<br />
tudo se encaixe e favoreça a criação de um projeto de iluminação<br />
coeso, fácil de ser interpretado, implementado e operado em<br />
longo prazo.<br />
Na sequência da elaboração do plano diretor de iluminação, a<br />
equipe do Michael Grubb Studio, em colaboração com as demais<br />
equipes de design, desenvolveu um novo projeto de iluminação<br />
externo centrado em melhorarias na arquitetura e no movimento<br />
em torno do campus, de forma a criar um ambiente iluminado e,<br />
acima de tudo, defender o pensamento criativo da AUB.<br />
Com o campus agora sendo parte de um mundo 24 horas<br />
por dia sete dias por semana, o projeto de iluminação das áreas<br />
externas também levou em conta o fato de que os alunos estudam<br />
até mais tarde e que isso resulta em mais atividade e movimento<br />
entre os departamentos, a biblioteca e a oficina, bem como nas<br />
áreas sociais, como o café e o bar. Isso incluiu trabalhar nos<br />
blocos onde ficam os estudantes, construir fachadas de áreas<br />
ajardinadas com iluminação arquitetônica e explorar camadas de<br />
iluminação vertical e horizontal de forma a enfatizar elementoschave<br />
do projeto. A cor da luz também desempenha um papel<br />
significativo. Por exemplo, ajuda a identificar as áreas e os<br />
principais espaços dentro do campus. A iluminação RGB também<br />
foi programada com as cores da logomarca do campus para uso<br />
durante eventos, a fim de causar impacto visual.<br />
De acordo com Matt Waugh, lighting designer sênior<br />
responsável pelo projeto, “uma abordagem ‘menos é mais’ foi<br />
adotada para a iluminação no plano diretor. As quantidades<br />
de luminárias foram mantidas ao mínimo, usadas somente<br />
quando necessário para funcionalidade ou localização. A partir<br />
de testes e visitas ao local, entendemos onde a iluminação era<br />
mais necessária, ou seja, quais são as principais vias de acesso,<br />
entradas e áreas de lugares sentados. Continuamos a trabalhar<br />
em estreita colaboração com o cliente, os representantes dos<br />
alunos e a equipe de design e ouvimos as suas necessidades<br />
para garantir o fornecimento de soluções de iluminação futuras<br />
para melhor atender às necessidades dos usuários diariamente”.<br />
O trabalho desenvolvido para a AUB foi reconhecido e premiado<br />
em ampla escala, incluindo o Prêmio Regional do Royal Institute of<br />
British Architects (RIBA), a indicação ao Brick Award, o SPACES<br />
Highly Commended Award, o prêmio Innovation Civic Building;<br />
o prêmio SPACES Client of the Year.<br />
ARTS UNIVERSITY BOURNEMOUTH<br />
Poole, Reino Unido<br />
Projeto de iluminação:<br />
MGS – Michael Grubb Studio<br />
Michael Grubb (lighting designer titular)<br />
Matt Waugh (lighting designer sênior)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Design Engine Architects<br />
Projeto de paisagismo:<br />
HED – Hyland Edgar Driver<br />
Fornecedores:<br />
Architainment, Delta Light, Havells<br />
Sylvania, iGuzzini, Lucent Lighting,<br />
Mike Stoane Lighting, Simes<br />
84 85
FOTO LUZ FOTO<br />
ANDRÉS OTERO<br />
Escolhi esta imagem por ser esta área o fulcro do projeto.<br />
É a zona na qual convergem os principais ambientes, onde<br />
se apresentam a maior parte dos materiais e as soluções<br />
luminotécnicas criadas. É uma imagem-guia que, cotejada às<br />
restantes, explicita o espaço.<br />
Resultou da fusão de duas requisições do lighting designer: a<br />
realização de uma imagem do bar e outra geral do ambiente, com<br />
seu pé-direito duplo.<br />
Outra opção seria fazer uma única imagem na diagonal, mas<br />
isso acentuaria excessivamente a perspectiva, “agigantando”<br />
o primeiro plano. Para completar, duas paredes de espelho<br />
em ângulo reto dificultavam a escolha do ponto de vista, pois<br />
refletiam duplamente o ambiente. Optei por este enquadramento<br />
ortogonal, clássico, mas de um ponto de vista inusitado, que<br />
evidencia a continuidade do piso com o bar e enfatiza a majestade<br />
da escada. O restante do ambiente é mostrado pela reflexão dos<br />
espelhos, como em um puzzle: o térreo com a galeria de ingresso,<br />
com sua boiserie e suas cortinas, os caixas, o átrio, a escada em<br />
duas outras vistas, o mezanino e a claraboia.<br />
Para realizar a imagem, em vez de um único enquadramento<br />
usando uma objetiva Canon TSE 17 mm, optei<br />
por uma Canon TSE 24 mm, subdividindo a imagem em três<br />
áreas e juntando-as digitalmente. Desse modo, a perspectiva<br />
resultou menos exagerada.<br />
A câmera foi uma Canon 5DS, e a construção da<br />
imagem levou por volta de uma hora. O tratamento digital<br />
é tão indissociável na criação da imagem quanto a revelação<br />
na era do filme. Foi necessário aproximar esta imagem<br />
em 2D (objetiva) da experiência in loco (eminentemente<br />
subjetiva) da maneira mais universal possível. Basicamente,<br />
resolvendo questões inerentes à mídia, relacionadas a cor,<br />
contraste, luminosidade e nitidez. Por exemplo, diferentes<br />
equipamentos/lotes de LED têm diferentes emissões de<br />
verde, que, embora pouco perceptíveis ao olho humano,<br />
interferem na cor dos materiais, e a foto explicita essas<br />
variações. A minimização dessas diferenças e os ajustes de<br />
contraste e luminosidade foram feitos manualmente nas<br />
diferentes zonas da imagem.<br />
Andrés Otero é fotógrafo com intensa atuação em arquitetura, iluminação e design. Seu trabalho é publicado nas principais revistas desses segmentos,<br />
como Interni, Domus, Projeto Design e <strong>L+D</strong>, da qual foi editor. Andrés assinou também as imagens dos livros Lighting Design Brasil (2002),<br />
Lighting Design Europe (2004) e Sintonia fina (2016).<br />
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