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1


Sumário<br />

IParte - A revelação<br />

1. Revelação Divina ..............................................................................................................4<br />

2. Paradoxo, Mistério e Contradição ........................................................................................7<br />

3. Revelação Geral Imediata e<br />

Mediada ..................................................................................9<br />

4. A Revelação Especial e a<br />

Bíblia ........................................................................................11<br />

5. A Lei de Deus..................................................................................................................12<br />

6. Os Profetas de Deus........................................................................................................13<br />

7. O Cânon das Escrituras...................................................................................................14<br />

8. A Interpretação da Bíblia.................................................................................................16<br />

9. A Interpretação Pessoal ..................................................................................................18<br />

IIParte - A Natureza e os Atributos de Deus<br />

10. A Incompreensibilidade de Deus....................................................................................20<br />

11. A Triunidade de Deus....................................................................................................22<br />

12. A Auto-Existência de Deus.............................................................................................23<br />

13. A Onipotência de Deus..................................................................................................24<br />

14. A Onipresença de Deus..................................................................................................26<br />

15. A Onisciência de Deus...................................................................................................27<br />

16. A Santidade de Deus .....................................................................................................29<br />

17. A Bondade de Deus.......................................................................................................30<br />

18. A Justiça de Deus..........................................................................................................32<br />

IIIParte - As Obras e os Decretos de Deus<br />

19.A Criação......................................................................................................................34<br />

20. A Providência ...............................................................................................................36<br />

21. Os Milagres ..................................................................................................................38<br />

22. A Vontade de Deus........................................................................................................39<br />

23. A Aliança.......................................................................................................................41<br />

24. A Aliança das Obras......................................................................................................42<br />

IVParte - Jesus Cristo<br />

25. A Divindade de Cristo....................................................................................................44<br />

26. A Subordinação de Cristo..............................................................................................45<br />

27. A Humanidade de Cristo................................................................................................46<br />

28. A Impecabilidade de Cristo............................................................................................47<br />

29. O Nascimento Virginal...................................................................................................48<br />

30. Jesus Cristo como o Unigênito.......................................................................................49<br />

31. O Batismo de Cristo.......................................................................................................51<br />

32. A Glória de Cristo..........................................................................................................52<br />

33. A Ascensão de Cristo.....................................................................................................53<br />

34. Jesus Cristo como Mediador..........................................................................................55<br />

35. Os Três Ofícios de Cristo ...............................................................................................56<br />

36. Os Títulos de Jesus.......................................................................................................57<br />

PARA COMPREENDER AS ESCRITURAS<br />

O preparo doutrinário dos convertidos é sempre um desafio para a igreja. Onde<br />

encontrar material? Qual será o nível adequado 9 Que formatação e abordagem serão mais<br />

convenientes?<br />

É um privilégio apresentar Verdades Essenciais da Fé Cristã aos pastores e líderes.<br />

Criada por RC Sproul, mestre em Bíblia, essa obra foi originalmente publicada em um só<br />

volume, mas decidimos dividi-la em três cadernos e acrescentar as perguntas para avaliação e<br />

discussão, buscando torná-la mais útil no preparo dos crentes. A lista de assuntos dos dois<br />

outros cadernos encontra-se em cada um deles.<br />

Nossa época defende que basta crer, não importa em quê. Uma vez que a fé cristã é<br />

proposicional e a Palavra de Deus é a regra de fé e prática para o cristão, o conflito está<br />

armado e precisaremos de boa bagagem bíblica para resistir aos ataques do subjetivismo, do<br />

relativismo ou do agnosticismo dos nossos dias.<br />

Esta série certamente vai ajudar-nos a melhor compreender as Escrituras e a termos<br />

1


mais firmeza em nossa fé.<br />

Por isso, bom estudo.<br />

Cláudio Marra–Editor<br />

PARTE<br />

I<br />

1


REVELAÇÃO DIVINA 1<br />

Salmos 19.1-14; Efésios 3.1-13; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4<br />

Tudo o que sabemos sobre o Cristianismo nos foi revelado por Deus. Revelar<br />

significa “tirar o véu”. Tem a ver com remover a cobertura e descobrir algo que está<br />

encoberto.<br />

Quando meu filho era pequeno, nossa família desenvolveu uma tradição anual<br />

para comemorar seu aniversário. Em vez da prática geral de entregar os presentes,<br />

fazíamos isso por meio da nossa versão caseira do programa de televisão “Vamos Fazer<br />

um Trato”. Eu escondia os presentes destinados a ele, por exemplo, dentro de uma<br />

gaveta, debaixo do sofá ou atrás de uma cadeira. Então lhe dava algumas opções:<br />

“Você pode ganhar o que está na gaveta da minha escrivaninha ou o que está no meu<br />

bolso”. O ponto principal do jogo era o “grande trato do dia”. Eu colocava três<br />

cadeiras, uma ao lado da outra, cada uma delas coberta com um lençol. Cada lençol<br />

encobria um presente. Na primeira cadeira colocávamos um presente simples, na<br />

segunda o presente principal que ele iria ganhar e sobre a terceira uma muleta que ele<br />

havia usado quando quebrou a perna aos sete anos de idade.<br />

Meu filho escolheu a cadeira com a muleta por três anos consecutivos! (No final,<br />

sempre permitíamos que trocasse a muleta pelo presente.) No quarto ano, estava<br />

determinado a não escolher mais a muleta. Desta vez, eu escondi o presente principal<br />

junto com a muleta, na mesma cadeira, e deixei a ponta da muleta aparecendo por<br />

baixo do lençol. Ao ver a ponta da muleta, meu filho evitou cuidadosamente aquela<br />

cadeira. Ganhei de novo!<br />

A parte mais divertida da brincadeira era tentar adivinhar onde o presente estava<br />

escondido. Tratava-se contudo de um trabalho de mera suposição, pura especulação.<br />

A descoberta do verdadeiro tesouro só podia ser feita depois que o lençol era removido<br />

e o presente ficava exposto.<br />

O mesmo acontece com o nosso conhecimento de Deus. A especulação fútil sobre<br />

Deus é mera tolice. Se queremos conhecê-lo de verdade, temos de depender daquilo<br />

que ele revela sobre si mesmo.<br />

A Bíblia declara que Deus se revela de várias maneiras. Manifesta sua glória na<br />

natureza e por meio dela. Revelou-se nos tempos antigos por meio desonhose visões.<br />

As marcas da sua providência se manifestam nas páginas da História. Revela-se nas<br />

Escrituras inspiradas. O ponto mais alto da sua revelação é visualizado em Jesus<br />

Cristo, tornando-se ser humano — o que os teólogos chamam de “encarnação”.<br />

O autor da Carta aos Hebreus escreveu:<br />

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,<br />

pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro<br />

de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Hebreus 1.1,2<br />

Embora a Bíblia fale das “diversas maneiras” em que Deus se revela,<br />

distinguimos entre dois tipos principais de revelação — a geral e a especial.<br />

A revelação geral é chamada assim por duas razões: (1) ela é geral no conteúdo e<br />

(2) é revelada para uma audiência geral.<br />

Conteúdo geral<br />

A revelação geral nos proporciona o conhecimento de que Deus existe. “Os céus<br />

proclamam a glória de Deus”, diz o salmista. A glória de Deus é manifesta nas obras<br />

das suas mãos. Essa manifestação é tão clara e visível que nenhuma criatura pode<br />

1


deixar de percebê-la. Ela revela o poder eterno de Deus e sua divindade (Rm 1.18-23).<br />

A revelação na natureza, porém, não proporciona uma revelação plena de Deus. Não<br />

nos dá informações sobre o Deus Redentor que encontramos na Bíblia. O Deus que se<br />

revela na natureza, entretanto, é o mesmo Deus que se revela na Bíblia.<br />

Público geral<br />

Nem todas as pessoas no mundo já leram a Bíblia ou ouviram a proclamação do<br />

Evangelho. A luz da natureza, porém, brilha sobre todos, em todos os lugares, em<br />

todo o tempo. A revelação geral de Deus acontece diariamente. Deus nunca fica sem<br />

um testemunho de si mesmo. O mundo visível é como um espelho que reflete a glória<br />

do seu Criador.<br />

O mundo é um palco para Deus. Ele é o ator principal, que aparece em primeiro<br />

plano e no centro. Nenhuma cortina pode fechar-se para obscurecer sua presença.<br />

Basta um olhar de relance na criação para se perceber que a natureza não é sua<br />

própria mãe. Não existe a tal “Mãe Natureza”. A natureza em si mesma não tem<br />

poderes para produzir qualquer tipo de vida. A natureza, em si, é estéril. O poder de<br />

produzir vida reside no Autor da natureza—Deus. Colocar a natureza como a fonte de<br />

vida é confundir a criatura com o Criador. Todas asformas de adoração da natureza,<br />

portanto, são atos de idolatria e silo abomináveis para Deus.<br />

A luz da força da revelação geral, todo ser humano sabe que Deus existe. O<br />

ateísmo envolve a negação total de algo que é reconhecido como verdadeiro. Por isso a<br />

Bíblia diz: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (SI 14.1). Quando as<br />

Escrituras tratam tão severamente o ateu, chamando-o de “insensato”, elas estão<br />

fazendo um julgamento moral dele. Ser insensato, em termos bíblicos, não significa<br />

ter pouco entendimento ou falta de inteligência; é ser imoral. Como o temor do Senhor<br />

é o princípio da sabedoria, assim a negação de Deus é o máximo da loucura.<br />

DEUS<br />

SERES HUMANOS<br />

REVELAÇÃO<br />

Semelhantemente, o agnóstico nega a validade da revelação geral. () agnóstico,<br />

porém, é menos berrante que o ateu. Ele não nega terminantemente a existência de<br />

Deus. Pelo contrário, ele declara que as evidências são insuficientes para se decidir de<br />

uma maneira ou de outra quanto à existência de Deus. Prefere suspender seu<br />

julgamento, deixando o tema da existência de Deus uma questão em aberto. A luz da<br />

clareza da revelação geral, entretanto, a posição do agnosticismo não é menos<br />

abominável para Deus do que a do ateísta militante.<br />

Para qualquer pessoa, porém, cuja mente e coração'estão abertos, a glória de<br />

Deus é maravilhosa de se ver — desde os bilhões de universos no firmamento, até as<br />

partículas subatômicas que formam a menor das moléculas. Que Deus incrível nós<br />

servimos!<br />

Sumário<br />

1.O cristianismo é uma religião revelada.<br />

2.A revelação de Deus é uma automanifestação. Ele remove o véu que nos impede de<br />

conhecê-lo.<br />

3.Não podemos conhecer a Deus por meio de especulação.<br />

4.Deus se revelou de várias maneiras ao longo da História.<br />

5.A revelação geral é comunicada a todos os seres humanos.<br />

6.O ateísmo e o agnosticismo são baseados na negação daquilo que as pessoas sabem<br />

1


ser a verdade.<br />

7.A insensatez tem por fundamento a negação de Deus.<br />

8.A sabedoria tem por fundamento o temor de Deus.<br />

Revelação geral:<br />

Deus, o Criador.<br />

Revelação Especial:<br />

Deus o Redentor, é<br />

revelado aos que<br />

ouvem.<br />

Revelação comunicada a<br />

todos os humanos<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Qual a diferença entre “Conteúdo geral” e “público geral”?<br />

2. Que argumentos o autor usa para combater a ideia da natureza como “mãe”?<br />

3. Qual a diferença entre ateísmo e agnosticismo?<br />

4. Que revelações sobre o caráter e a natureza de Deus podem ser observadas na natureza?<br />

5. Há alguma forma convincente de tentarmos explicar a origem da vida e de todas as<br />

coisas criadas excluindo completamente a existência de Deus? Porquê?<br />

6. Certas pessoas ouvem a pregação da Palavra de Deus por muitos anos sem nenhuma<br />

reação diante de suas verdades. Permanecem indiferentes a tudo o que diz respeito a<br />

Deus e às coisas santas. Mas, no momento em que se convertem, tudo aquilo que<br />

sempre ouviram com indiferença passa a fazer sentido para eles e de repente sua atenção<br />

é despertada. O que aconteceu com essas pessoas que chegam até mesmo a dizer: “Como<br />

é que eu não compreendi isso antes?”<br />

1


PARADOXO, MISTÉRIO E CONTRADIÇÃO 2<br />

Mateus 13.11; Mateus 16.25; Romanos 16.25-27; 1 Coríntios2.7; 1Coríntios 14.33<br />

Ainfluência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as religiões<br />

orientais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no entendimento. Uma nova forma de<br />

misticismo tem surgido, a qual exalta o absurdo como a marca registrada da verdade religiosa.<br />

Lembremo-nos da máxima do Zen Budismo, de que “Deus é uma mão batendo palmas” como uma<br />

ilustração desse padrão.<br />

Dizer que Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação<br />

confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamento. Soa “profundo”<br />

e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e descobrirmos que na raiz é simplesmente destituída<br />

de sentido.<br />

A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opõe ao Autor<br />

de toda a verdade, o qual não é de forma alguma autor de confusão.<br />

O Cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada, porque<br />

irracionalidade admite candidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na própria Bíblia.<br />

Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas<br />

linhas divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distingui-las.<br />

Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos.<br />

Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas sobre Deus que<br />

sabemos serem verdadeiras, a despeito da nossa incapacidade de entendê-las totalmente. Não<br />

temos um ponto de referência humano para entender, por exemplo, um ser que é três em termos de<br />

pessoa, mas um só em essência (a Trindade), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas<br />

distintas, humana e divina (a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são<br />

“elevadas” demais para podermos compreendê-las.<br />

Encontramos problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade<br />

existe, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. Amaioria<br />

das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do<br />

movimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexos por milênios. Há muito mistério<br />

sobre a realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto no<br />

absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal<br />

para qualquer verdade.<br />

O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como “uma cãibra entre as<br />

orelhas”. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de<br />

paradoxofreqüentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia<br />

claramente o papel legítimo e a função do paradoxo. A palavraparadoxo vem de uma raiz grega que<br />

significa “parecer ou aparentar”. Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista<br />

“parecem” contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, freqüentemente pode-se<br />

encontrar as soluções. Por exemplo, Jesus disse: Quem perde a vida por minha causa achá-la-á<br />

(Mt.10:39). Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que “Deus é uma mão batendo<br />

palmas”. Soa como uma contradição. O que Jesus queria dizer, contudo, é que se alguém perde sua<br />

vida em um sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos<br />

diferentes, não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo<br />

relacionamento com a mesma pessoa.<br />

O termo paradoxo é freqüentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição,<br />

agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma<br />

contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da não-contradição<br />

declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não<br />

pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais<br />

fundamental de todas as leis da lógica.<br />

Ninguém pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente<br />

incompreensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto, certamente ele pode<br />

reconhecê-las pelo que são—falsidades. A palavra contradiçãovem do latim “falar contra”. Às vezes<br />

1


é chamada uma antinomia, que significa “contra a lei”. Para Deus, falar em contradições seria ser<br />

intelectualmente anormal, falar com uma língua bipartida. Até mesmo insinuar que o Autor da<br />

verdade poderia cair em contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A<br />

contradição é a arma do mentiroso — o pai da mentira, que despreza a verdade.<br />

Existe uma relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir ambos.<br />

Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de contato entre ambos os<br />

conceitos é seu caráter ininteligível. Os mistérios podem não ser claros para nós agora<br />

simplesmente porque nos falta a informação ou a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete<br />

que no céu teremos mais luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode<br />

resolver os atuais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na Terra para<br />

resolver uma óbvia contradição<br />

Sumário<br />

1.Paradoxoé uma contradição aparenteque, quando examinada com mais cuidado, pode<br />

apresentar uma solução.<br />

2.Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser solucionado.<br />

3.Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. E impossível ser resolvida, tanto<br />

pelos mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como no mundo vindouro.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Quais são alguns dos mistérios da fé e da natureza que o autor cita neste capítulo?<br />

2. Qual é o ponto em comum entre mistério e contradição? E em que aspecto eles são<br />

diferentes?<br />

3. Por causa dos seus paradoxos, a Bíblia tem sido considerada a “mãe de todas as heresias”.<br />

Com que auxílio contamos, a partir de textos bíblicos como 2 Coríntios 4.3-6 e João<br />

14.16,17 e 26 para não cairmos no erro de ensinar falsas idéias a partir de textos<br />

extraídos da própria Bíblia?<br />

4. A Bíblia fala de um mistério que esteve oculto desde os tempos eternos, mas que foi<br />

revelado à humanidade através da vida e obra de Jesus Cristo (Rm.16.25-27). Você crê<br />

que outros mistérios só serão revelados na eternidade, quando estivermos junto ao Pai?<br />

Quais seriam alguns destes mistérios para você?<br />

5. Qual é a sua atitude diante da Bíblia quando você se depara comtextos que apresentam<br />

aparentes contradições?<br />

1


REVELAÇÃO GERAL IMEDIATA E MEDIADA 3<br />

Salmos 19.1-4; Atos 14.8-18; Atos 17.16-34; Romanos 1.18-23; Romanos 2.14-15<br />

Quando eu era menino e minha mãe queria que fizesse algo para ela sem demora, acentuava a<br />

ordem usando o advérbio imediatamente. Ela dizia: “Filho, vá para o seu quartoimediatamente”.<br />

Minha mãe usava a palavra imediatamente para referir-se a um evento no tempo que devia<br />

ocorrer sem qualquer bloco de tempo intermediário. Na teologia, o termo imediato significa algo<br />

mais. Significa que algo acontece sepassar por nenhum agente, objeto ou meio intermediários. E<br />

uma ação que ocorre sem a participação de intermediários.<br />

Na teologia bíblica podemos distinguir dois tipos de revelação geral— aquela que é<br />

comunicada por meio de um agente intermediário e aquela que é comunicada diretamente. Quando<br />

falamos de revelação geral mediada, nos referimos à revelação transmitida por meio de alguma<br />

coisa. Quando os céus revelam a Deus, tornam-se os mediadores, ou o meio pelo qual Deus<br />

manifesta sua glória. Neste sentido, todo o universo é um meio de revelação divina. A criação dá<br />

testemunho do seu Criador.<br />

A Bíblia diz que a toda a Terra está repleta da glória de Deus. Lamentavelmente, com<br />

freqüência nós ignoramos essa glória que nos cerca. Temos a tendência de viver de maneira<br />

superficial. Estamos desatentos diante da maravilha que Deus nos proporciona em sua gloriosa<br />

criação. Estamos desligados e fora de contato. As idéias religiosas são inúteis se não expressam<br />

algo real.<br />

A presença sublime de Deus está em toda a nossa volta. Ainda assim, muitas vezes estamos<br />

cegos e surdos para ela. Não compreendemos sua linguagem. Exige mais do que simplesmente<br />

parar para cheirar as flores. A flor contém mais do que um aroma suave ou um perfume agradável.<br />

Ela transpira a glória do seu Criador. Todos nós estamos em contato com a revelação divina,<br />

quando reconhecemos a glória de Deus na natureza. A natureza não é divina. A glória de Deus,<br />

entretanto, enche a natureza e é revelada nela e por meio dela.<br />

Além de revelar sua glória indiretamente por meio da criação, Deus também se revela<br />

diretamente à mente humana. Essa é chamada revelação geral imediata.<br />

O apóstolo Paulo fala da Lei de Deus escrita em nosso coração (Rm.2.12-16). João Calvino<br />

falou sobre um senso do divino, o qual Deus implanta na mente de cada pessoa. Ele disse:<br />

Nós, inquestionavelmente, afirmamos que os homens têm em si mesmos certo senso da<br />

divindade; e isto, por um instinto natural. ...Deus mesmo dotou todos os homens com certo<br />

conhecimento de sua divindade, cuja memória ele constantemente renova e ocasionalmente<br />

amplia. (Institutas, II,I,43).<br />

Todas as culturas atestam a presença de alguma atividade religiosa, confirmando a incurável<br />

natureza religiosa da humanidade. Os seres humanos são religiosos no seu âmago. O caráter de tal<br />

religiosidade pode ser grosseiramente idolatra, mas até mesmo a idolatria, ou melhor,<br />

principalmente a idolatria, dá uma evidência desse conhecimento inato que pode ser distorcido, mas<br />

jamais destruído. Lá bem no fundo da nossa alma nós sabemos que Deus existe e que nos deu suas<br />

Leis. Procuramos sufocar esse conhecimento a fim de escapar dos seus mandamentos. Por mais<br />

que nos esforcemos, porém, não podemos calar essa voz interior. Ela pode ser abafada, mas jamais<br />

ser destruída.<br />

1


Sumário<br />

1. A glória de Deus é evidente em toda a nossa volta. Ela é mediada pela criação de Deus.<br />

2. Os seres humanos são religiosos por natureza.<br />

3. Deus implanta em todos os seres humanos um conhecimento inato de si mesmo. Isso se<br />

chama revelação geral imediata.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Como a natureza é instrumento para a revelação geral mediada de Deus?<br />

2. Onde é que Deus implantou o senso inato de si mesmo nos seres humanos?<br />

3. Que fato confirma a natureza religiosa da humanidade?<br />

4. Se toda a humanidade tem a lei de Deus gravada em seus corações, porque nem<br />

todos obedecem a esta lei?<br />

5. É possível pessoas não terem o conhecimento da Palavra de Deus e mesmo assim<br />

levarem vidas honestas e íntegras, em relação aos padrões dos homens?<br />

6. A revelação de Deus através da natureza é suficiente para a salvação de alguém? (Rm<br />

1.18-23)<br />

7. A consciência humana funciona como um indicador da existência de Deus? Porquê?<br />

1


REVELAÇÃO ESPECIAL E A BÍBLIA 4<br />

Salmos 119; João 17.17; 1 Tessalonicenses 2.13; 2 Timóteo 3.15-17; 2 Pedro 1.20-21<br />

Quando foi tentado por Satanás no deserto, Jesus o repreendeu com as palavras: “Está<br />

escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt<br />

4.4). Historicamente, a igreja tem efeito ecoar o ensino de Jesus, afirmando que a Bíblia é a<br />

vox Dei, a “voz de Deus” ou o verbum Dei, a “Palavra de Deus”. Chamar a Bíblia de “a Palavra<br />

de Deus” não significa sugerir que ela foi escrita pela própria mão de Deus, ou que caiu do céu<br />

num pára-quedas. A própria Bíblia claramente chama a atenção para seus muitos autores<br />

humanos. Se a estudarmos cuidadosamente, percebemos que cada autor humano tem seu<br />

próprio estilo literário peculiar, seu próprio vocabulário, ênfase especial, perspectiva e outros<br />

aspectos. Já que a produção da Bíblia envolveu esforço humano, como pode ser ela<br />

considerada Palavra de Deus?<br />

Bíblia é chamada de Palavra de Deus por causa da sua reivindicação, acreditada pela<br />

igreja, de que os escritores humanos não escreveram simplesmente suas próprias opiniões,<br />

mas que suas palavras foram inspiradas por Deus. O apóstolo Paulo escreve: “Toda Escritura<br />

é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16). A palavra inspiração é uma tradução da palavra grega que<br />

significa “sopro de Deus”. Quer dizer, Deus soprou a Bíblia. Assim como temos de expelir ar<br />

de nossa boca quando falamos, assim, em última análise, a Bíblia é Deus falando.<br />

Embora a Bíblia tenha chegado a nós por intermédio das mãos de autores humanos, a<br />

fonte suprema das Escrituras é Deus. Por isso os profetas podiam prefaciar suas palavras,<br />

dizendo: “Assim diz o Senhor”. Por isso Jesus também podia dizer: “A tua palavra é a verdade”<br />

(Jo 17.17) e “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35).<br />

A palavra inspiração também chama a atenção para o processo pelo qual o Espírito Santo<br />

superintendeu a produção da Bíblia. O Espírito guiou os autores humanos para que as<br />

palavras deles não fossem nada menos que a Palavra de Deus. Não sabemos como Deus<br />

superintendeu a redação original da Bíblia. Inspiração, entretanto, não significa que Deus<br />

ditou sua mensagem para aqueles que redigiram a Bíblia. Ao invés disso, o Espírito Santo<br />

comunicou as exatas palavras de Deus por intermédio dos escritores humanos.<br />

Os cristãos afirmam a infalibilidade e a inerrância da Bíblia porque, em última análise,<br />

Deus é seu autor. E porque Deus é incapaz de inspirar algo falso, sua palavra é totalmente<br />

verdadeira e digna de toda confiança. Qualquer literatura humana, elaborada pelos meios<br />

normais, está sujeita a erros. A Bíblia, porém, não é um projeto humano normal. Se a Bíblia<br />

foi inspirada por Deus e a sua redação foi supervisionada por ele, então não pode ter erros.<br />

Isso não significa que as traduções da Bíblia que temos hoje não estejam isentas de erro,<br />

mas que os manuscritos originais eram absolutamente corretos. Isso também não significa<br />

que cada declaração da Bíblia seja a expressão da verdade. O escritor do livro de Eclesiastes,<br />

por exemplo, declara que “no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem<br />

conhecimento, nem sabedoria alguma” (Ec 9.10). O escritor estava falando do ponto de vista<br />

do desespero humano e sabemos que esta declaração não expressa a verdade, de acordo com<br />

outros textos bíblicos. A Bíblia expressa a verdade até mesmo ao revelar a falsa argumentação<br />

de um homem desesperado.<br />

Sumário<br />

1. A inspiração é o processo por meio do qual Deus soprou sua palavra.<br />

2. Deus é a fonte suprema da Bíblia.<br />

3. Deus é o superintendente supremo da Bíblia.<br />

4. Somente os manuscritos originais da Bíblia eram isentos de erros.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que significa a expressão “A Bíblia é um livro divino-humano”?<br />

2. O que é inspiração?<br />

3. Por que o autor afirma que Deus é a fonte suprema da Bíblia?<br />

4. O que o autor quis dizer ao afirmar que Deus é o superintendente da Bíblia?<br />

5. Sua fé nas Escrituras seria abalada caso alguma escavação arqueológica descobrisse hoje uma<br />

terceira carta que Paulo escreveu aos coríntios e que não foi incluída na Bíblia?<br />

1


6. Como é que podemos saber de fato que o que lemos na Bíblia vem de Deus?<br />

7. Há alguma coisa, hoje, além da Bíblia, que dita regras e normas de condutas para a vida dos<br />

crentes? Se sim, a sua autoridade é inferior, superior ou está em pé de igualdade com as<br />

Escrituras Sagradas?<br />

8. “O sopro inspirativo” de Deus ainda sopra por outros meios hoje? Quais seriam alguns deles?<br />

A LEI DE DEUS 5<br />

Êxodo20:1-17; Salmos 115:3; Mateus 5:17-20; Romanos 7:7-25; Gálatas3:23-29<br />

Deus governa seu universo por meio de leis. A própria natureza opera sob seu governo<br />

providencial. As assim chamadas leis da natureza descrevem meramente a maneira normal de<br />

Deus estabelecer a ordem em seu universo. Essas "leis" são expressões da sua vontade<br />

soberana.<br />

Deus não está sujeito a nenhuma lei fora de si mesmo. Não existe nenhuma regra<br />

cósmica independente a qual Deus seja obrigado a obedecer. Ao contrário, Deus é a sua<br />

própria lei. Isso significa simplesmente que ele age de acordo com seu próprio caráter moral, o<br />

qual não só é moralmente perfeito, mas também é o padrão supremo da perfeição. Suas ações<br />

são perfeitas porque sua natureza é perfeita e ele sempre age de acordo com sua natureza.<br />

Portanto, Deus nunca é arbitrário, extravagante ou caprichoso. Ele sempre faz o que é certo.<br />

Como criaturas de Deus, também se requer de nós que façamos o que é certo. Deus exige<br />

que vivamos segundo sua lei moral, a qual ele nos revelou na Bíblia. Alei de Deus é o padrão<br />

supremo de justiça e a norma suprema para se julgar o certo e o errado. Como nosso criador<br />

soberano, Deus tem autoridade para impor obrigações sobre nós, exigir nossa obediência e<br />

obrigar nossa consciência. Deus também tem o poder e o direito de punir a desobediência<br />

quando violamos sua lei. (Pecado pode ser definido como desobediência à lei de Deus.)<br />

Algumas leis na Bíblia são baseadas diretamente no caráter de Deus. Tais leis refletem<br />

os elementos transculturais e permanentes das relações divinas e humanas. Outras leis foram<br />

planejadas de acordo com condições temporárias da sociedade. Isso significa que algumas leis<br />

são absolutas e eternas, enquanto que outras podem ser anuladas por Deus por razões<br />

históricas, tais como as leis alimentares e cerimoniais de Israel. Somente o próprio Deus pode<br />

revogar tais leis Os seres humanos em hipótese alguma têm a autoridade para anular as leis<br />

de Deus<br />

Não somos autônomos. Ou seja, não podemos viver de acordo com nossas próprias leis.<br />

A condição moral da humanidade é de heteronomia: vivemos sujeitos à lei de outrem. A forma<br />

específica da heteronomia sob a qual vivemos é a teonomia, ou seja, a lei de Deus.<br />

Autonomia = auto nomos = lei própria<br />

Heteronomia = hetero nomos = lei de outrem<br />

Teonomia = Theos nomos = lei de Deus<br />

Sumário<br />

1. Deus governa o universo por meio de leis. A lei da gravidade é um exemplo de uma das<br />

leis de Deus para a natureza. As leis morais de Deus são exibidas nos Dez Mandamentos<br />

2. Deus tem a autoridade para impor obrigações sobre suas criaturas.<br />

3. Deus age de acordo com a lei do seu próprio caráter.<br />

4. Deus revela sua lei moral à nossa consciência e nas Escrituras.<br />

5. Somente Deus tem a autoridade para revogar suas leis.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Por que as leis cerimoniais e dietéticas de Israel foram anuladas por Deus?<br />

2. Como soberano, que autoridade tem Deus sobre nós, em relação à lei?<br />

3.Por que a lei de Deus é perfeita?<br />

4.Que conseqüências podemos sofrer por desobedecer a lei de Deus? Cite alguns<br />

exemplos.<br />

5. Que privilégios obtemos em obedecer à lei de Deus?<br />

1


6. As leis de Deus privam o homem de privilégios que ele poderia desfrutar caso elas não<br />

existissem?<br />

1<br />

OS PROFETAS DE DEUS 6<br />

Deuteronômio 18.15-22; Isaías 6; Joel2.28-32; Mateus 7.15-20; Efésios 4.11-16<br />

Os profetas do Antigo Testamento foram pessoas que receberam um chamado único de Deus e<br />

que receberam suas mensagens de maneira sobrenatural, as quais deveriam transmitir a nós. Deus<br />

transmitiu sua palavra através dos lábios e dos escritos dos profetas.<br />

A profecia envolvia predição do futuro (preanunciar) e proclamação e exortação atuais da palavra<br />

de Deus (anunciar em seguida). Os profetas eram revestidos de tal maneira pelo Espírito Santo que<br />

suas palavras eram palavras de Deus. Por isso as mensagens proféticas geralmente eram prefaciadas<br />

com a frase: "Assim diz o Senhor".<br />

Os profetas foram os reformadores da religião de Israel. Chamavam o povo de volta à adoração<br />

pura e à obediência a Deus. Embora os profetas fossem críticos quanto à maneira como a adoração dos<br />

israelitas freqüentemente se degenerava num mero ritual, eles não condenavam nem atacavamas<br />

formas originais de adoração que Deushaviadado a seu povo. Os profetas não eram revolucionários nem<br />

anarquistas religiosos Sua tarefa era purificar, não destruir, reformar, não substituir o culto de Israel.<br />

Os profetas também se preocupavam profundamente com a justiça social e a integridade. Eram a<br />

consciência de Israel, chamando o povo ao arrependimento. Também funcionavam como promotores<br />

legais da aliança de Deus. Eles “intimavam” a nação por ter violado os termos da aliança com Deus.<br />

Os profetas falavam com autoridade divina porque Deus os chamava especificamente para serem<br />

Seu porta-vozes. Não herdavam sua função, nem eram eleitos para exercê-la. O chamado imediato de<br />

Deus, juntamente com o poder do Espírito Santo, constituíam as credenciais dos profetas.<br />

Os falsos profetas foram um problema constante em Israel. Ao invés de proferir os oráculos de<br />

Deus, transmitiam seus próprios sonhos e opiniões — dizendo ao povo somente o que este queria ouvir.<br />

Os verdadeiros profetas freqüentemente eram severamente perseguidos e rejeitados por seus<br />

contemporâneos por se recusarem a comprometer a proclamação de todo o conselho de Deus.<br />

Geralmente, os livros dos profetas são divididos em "profetas maiores" e "profetas menores". Essa<br />

distinção não se refere à maior ou menor importância dos profetas, mas ao volume dos seus escritos<br />

canônicos. Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel são chamados de profetas maiores, porque escreveram<br />

mais, enquanto que Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu,<br />

Zacarias, Malaquias são referidos como os profetas menores, porque seus livros são bem menores.<br />

Os apóstolos do Novo Testamento possuíam muitas das características dos profetas do Antigo<br />

Testamento. Os apóstolos e os profetas juntos são considerados como o fundamento da igreja.<br />

Sumário<br />

= Autor Supremo<br />

Autores Humanos<br />

INSPIRAÇÃODEUS<br />

BÍBLIA<br />

1. Os profetas do Antigo Testamento foram agentes da revelação divina.<br />

2. A profecia envolvia pré-anúncio e anúncio.<br />

3. Os profetas foram os reformadores do culto e da vida dos israelitas.<br />

4. Somente aqueles chamados diretamente por Deus tinham autoridade para<br />

serem seus profetas.<br />

5. Os falsos profetas expressavam suas próprias opiniões e falavam o que o povo queria ouvir.<br />

6. Profetas maiores e menores são designados assim de acordo com o volume enão pela<br />

importância dos seus escritos.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Quais eram as credenciais de um profeta no Antigo Testamento?<br />

2. Qual era o ministério dos profetas no Antigo Testamento?<br />

3. Hoje em dia, o dom de profeta tem sido muitas vezes entendido pelas igrejas evangélicas como<br />

aquela pessoa que prevê o futuro, revelando coisas tais como o que vai acontecer com a vida dapessoa,<br />

com quem ela vai se casar, qual emprego vai arrumar etc. Este tipo de profeta segue o modelo mostrado<br />

no A. Testamento?


4. Há falta de profetas na igreja de hoje, que mostrem os seus desvios e a chamem de volta ao<br />

arrependimento e à prática da justiça? Por quê?<br />

5. Seriam esses profetas hoje tão necessários para a igreja como foram os da época do Antigo<br />

Testamento para o povo de Israel? Por quê?<br />

6. Os seus ditos e/ou escritos teriam o mesmo peso de autoridade que os que estão registrados<br />

na Bíblia?<br />

7. Quais aspectos da vida e do culto da igreja evangélica seriam repreendidos caso os profetas do<br />

Antigo Testamento realizassem seus ministérios hoje?<br />

O CÂNON DAS ESCRITURAS 7<br />

Lucas 24.44-45; 1 Coríntios 15.3-8; 2 Timóteo 3.16-17; 2 Pedro 1.19-21; 2 Pedro 3.14-16<br />

Geralmente pensamos na Bíblia como um livro grande. Na verdade, trata-se de uma<br />

pequena biblioteca composta de 66 livros individuais. Juntos, tais livros compõem o que<br />

chamamos cânon da Escritura Sagrada. O termo cânon deriva-se de uma palavra grega que<br />

significa "vara de medir", "padrão", ou "norma". Historicamente, a Bíblia tem sido a regra<br />

autoritativa de fé e prática na Igreja.<br />

Com referência aos livros que compõem o Novo Testamento, existe completo acordo entre<br />

católicos romanos e protestantes. Existe, entretanto, forte divergência entre os dois grupos<br />

sobre o que deveria ser incluído no Antigo Testamento. Os católicos romanos consideram os<br />

livros chamados apócrifos como sendo canônicos, enquanto o protestantismo histórico não os<br />

considera. (Os livros apócrifos foram escritos depois que o Antigo Testamento já estava completo<br />

e antes que começasse o Novo Testamento.) O debate concernente aos apócrifos<br />

concentra-se na questão mais ampla do que era considerado canônico pela comunidade<br />

judaica. Existem fortes evidências de que os apócrifos não eram incluídos no cânon palestino<br />

dos judeus. Por outro lado, tudo indica que os judeus que viviam no Egito teriam incluído tais<br />

livros (traduzidos para o grego) no cânon alexandrino. Evidências recentes, entretanto, lançam<br />

dúvidas sobre isso.<br />

Alguns críticos da Bíblia argumentam que a Igreja não tinha a Bíblia como tal até quase<br />

o início do quinto século. Isso, porém, é uma distorção de todo o processo do desenvolvimento<br />

canônico. A Igreja reuniu-se em concilio em várias ocasiões nos primeiros séculos para decidir<br />

as disputas sobre quais livros pertenciam propriamente ao cânon. O primeiro cânon formal do<br />

Novo Testamento foi criado pelo herege Marcião, o qual produziu sua própria versão<br />

expurgada da Bíblia. Para combatê-lo, a Igreja descobriu que era preciso declarar qual o<br />

conteúdo exato do Novo Testamento.<br />

Embora a grande maioria dos livros que atualmente se acham incluídos no Novo<br />

Testamento claramente funcionava com autoridade canônica desde que foram escritos, houve<br />

alguns poucos livros cuja inclusão no cânon do Novo Testamento foi muito debatida. Esses<br />

livros incluíam Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.<br />

Houve também vários livros que disputavam a condição de canônicos, mas que não<br />

foram incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas<br />

por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. (Esse<br />

ponto é menosprezado pelos críticos que alegam que mais de dois mil volumes resultaram<br />

numa lista de 27. Daí eles perguntam: "Quais são as probabilidades de que os 27 selecionados<br />

sejam os corretos?") De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon<br />

foram realmente levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O<br />

Didaquê. Estes livros não foram incluídos no cânon das Escrituras porque não foram escritos<br />

por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada<br />

aos apóstolos<br />

Alguns cristãos ficam preocupados com o fato de que houve um processo de seleção<br />

histórica. Ficam perturbados com a dúvida: "Como podemos saber que o cânon do Novo<br />

Testamento inclui os livros certos?" A teologia tradicional católica romana responde a essa<br />

pergunta apelando para a infalibilidade da igreja. A igreja então é vista como "criadora" do<br />

cânon, tendo, portanto, a mesma autoridade que a própria Bíblia. O protestantismo clássico<br />

nega que a igreja seja infalível e também que ela "tenha criado" o cânon. A diferença entre o<br />

catolicismo romano e o protestantismo pode ser resumida da seguinte maneira:<br />

Visão do Catolicismo Romano.<br />

1


O Cânon é uma coleção infalível de livros infalíveis.<br />

Visão do Protestantismo Clássico.<br />

O Cânon é uma coleção falível de livros infalíveis.<br />

Visão dos Críticos Liberais.<br />

O Cânon é uma coleção falível de livros falíveis.<br />

Embora os protestantes creiam que Deus teve um cuidado especial e providencial para<br />

assegurar que os livros certos fossem incluídos, nem por isso consideram que ele tenha<br />

tornado a igreja infalível. Os protestantes também lembram aos católicos romanos que a igreja<br />

não "criou" o cânon A igreja identificou, reconheceu, recebeu e se submeteu ao cânon das<br />

Escrituras. O termo usado pela igreja em Concilio foi "recipimus", que significa "nós<br />

recebemos".<br />

Qual foi o critério de avaliação dos livros? As assim chamadas marcas de canonicidade<br />

incluíam o seguinte: 1. Tinham de ter autoria ou endosso apostólico; 2 Tinham de ser<br />

recebidos como autoritativos pela igreja primitiva; 3. Tinham de estar em harmonia com os<br />

livros a respeito dos quais não havia dúvidas.<br />

Embora numa época de sua vida Martinho Lutero tenha questionado a canonicidade de<br />

Tiago, posteriormente mudou de opinião. Não existe nenhuma razão séria para se ter um<br />

mínimo de dúvida de que os livros atualmente incluídos no cânon do Novo Testamento não<br />

sejam os verdadeiros.<br />

Sumário<br />

1. O termo cânon deriva-se do grego e significa "norma" ou "padrão". O cânon é usado<br />

para descrever a lista autoritativa de livros que a igreja reconheceu como Escrituras Sagradas,<br />

e portanto sua "regra" de fé e prática.<br />

2. Além dos 66 livros da Bíblia aceitos pelos protestantes, os católicos romanos também<br />

aceitam os Livros Apócrifos como Escritura autoritativa.<br />

3. Para combater as heresias, a Igreja descobriu que era preciso declarar quais livros<br />

tinham sido reconhecidos como sendo autoritativos.<br />

4. Existem alguns livros no cânon que foram assuntos de debate (Hebreus, Tiago, 2<br />

Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse) e alguns livros cuja inclusão foi considerada, mas que<br />

não foram admitidos no cânon, incluindo 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê.<br />

5. A Igreja não criou o Cânon, mas apenas reconheceu os livros que tinham as marcas de<br />

canonicidade e que portanto tinham autoridade na Igreja.<br />

6. As marcas de canonicidade incluíam: (1) autoria ou endosso apostólico; (2) autoridade<br />

reconhecida na Igreja primitiva e (3) estar em harmonia com os livros que já faziam parte<br />

inquestionável do cânon.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Por que os livros apócrifos não foram aceitos pelos protestantes como sendo<br />

canônicos?<br />

2. Por que os livros de 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê não foram incluídos<br />

no cânon do Novo Testamento?<br />

3. Como podemos saber que o cânon do Novo Testamento incluiu os livros certos?<br />

4. Qual a diferença entre a visão dos católicos romanos, dos protestantes e da crítica<br />

liberal quanto ao cânon?<br />

5. Que perigo está por trás do fato de aceitarmos a doutrina de que a Igreja criou o<br />

cânon e não apenas o reconheceu?<br />

6. Podem homens falhos decidir qual livro é e qual não é inspirado por Deus? Que<br />

instrumentos utilizaram para isso?<br />

7. Em que podemos identificar a soberania do Espírito Santo na formação do cânon?<br />

1


A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA 8<br />

Atos 15.15-16; Efésios 4.11-16; 2 Pedro 1.16-21; 2 Pedro 3.14-18<br />

Qualquer documento escrito, para poder ser compreendido, precisa ser interpretado.<br />

Nosso país possui indivíduos altamente capacitados, cuja tarefa diária é interpretar a<br />

Constituição. Eles formam o Supremo Tribunal Federal. Interpretar a Bíblia é uma tarefa<br />

muito mais solene do que interpretar a Constituição de um país. Requer grande cuidado e<br />

diligência.<br />

A Bíblia é o seu próprio Supremo Tribunal. A regra principal de interpretação bíblica é:<br />

"A Bíblia é sua própria intérprete". Esse princípio significa que a Bíblia deve ser interpretada<br />

pela própria Bíblia. O que é obscuro em uma parte da Bíblia pode ser esclarecido em outra<br />

parte. Interpretar a Bíblia pela Bíblia significa que não devemos colocar uma passagem contra<br />

outra. Cada texto deve ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas<br />

também à luz do contexto da Bíblia como um todo.<br />

Além disso, entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação<br />

da Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito dessa idéia de<br />

interpretação. Interpretação literal, estritamente falando, significa que devemos interpretar a<br />

Bíblia assim como está escrito. Um substantivo é interpretado como substantivo e um verbo,<br />

como um verbo. Quer dizer que todas as formas usadas na redação da Bíblia devem ser<br />

interpretadas de acordo com as regras normais que regem tais formas. Poesia deve ser tratada<br />

como poesia. Relatos históricos devem ser tratados como História. Parábolas como parábolas,<br />

hipérboles como hipérboles, e assim por diante.<br />

Nesse aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com as regras que governam a<br />

interpretação de qualquer outro livro. Em algumas de suas características, a Bíblia é diferente<br />

de qualquer outro livro que já foi escrito. Em termos de interpretação, entretanto, deve ser<br />

tratada como qualquer outro livro.<br />

A Bíblia não deve ser interpretada de acordo com nossos próprios desejos e preconceitos.<br />

Devemos buscar entender o que ela de fato diz e nos guardarmos de forçar nossos próprios<br />

pontos de vista sobre ela. Este é o passatempo dos hereges: buscar base bíblica para<br />

doutrinas falsas que não têm base no texto. O próprio Satanás citou as Escrituras de maneira<br />

ilegítima, num esforço para seduzir Jesus Cristo a pecar (Mt 4.1-11).<br />

A mensagem básica da Bíblia é simples e clara o suficiente para que até uma criança<br />

possa entender. Mesmo assim, o "alimento sólido" da Bíblia requer estudo e atenção<br />

cuidadosos para ser entendido adequadamente. Algumas questões tratadas na Bíblia são tão<br />

complexas e profundas que mantêm os maiores eruditos constantemente envolvidos no<br />

esforço de resolvê-las.<br />

Existem alguns princípios de interpretação que são básicos para todo estudo saudável da<br />

Bíblia. Incluem o seguinte: (1) As narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens de<br />

"ensino". Por exemplo, a história de Abraão oferecendo Isaque no Monte Moriá pode sugerir<br />

que Deus não sabia que Abraão tinha uma fé genuína. As passagens didáticas da Bíblia,<br />

porém, deixam claro que Deus é onisciente; (2) aquilo que é implícito sempre deve ser<br />

interpretado à luz do que é explícito; nunca deve ser o contrário. Isto é, se um texto específico<br />

parece ter uma idéia ou lição implícita, não devemos aceitar a implicação como correta se for<br />

contrária a algo que é declarado explicitamente em outro lugar da Bíblia; (3) as leis da lógica<br />

governam a interpretação da Bíblia. Por exemplo, se sabemos que todos os gatos têm cauda,<br />

não podemos deduzir que alguns gatos não têm. Se é verdade que alguns gatos não têm<br />

1


cauda, então não pode ser verdade também que todos os gatos têm. Isso não é apenas uma<br />

questão de leis técnicas de inferência; é uma questão de senso comum. Mesmo assim, a<br />

grande maioria das interpretações equivocadas da Bíblia é causada por deduções ilegítimas<br />

extraídas da Bíblia.<br />

Sumário<br />

1. A Bíblia é sua própria intérprete.<br />

2. Devemos interpretar a Bíblia literalmente — assim como está escrito.<br />

3. A Bíblia deve ser interpretada como qualquer outro livro.<br />

4. Partes obscuras da Bíblia devem ser interpretadas pelas partes mais claras.<br />

5. O implícito deve ser interpretado à luz do explícito.<br />

6. As leis da lógica governam aquilo que pode ser racionalmente deduzido da Bíblia.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que significa a regra principal da interpretação bíblica "A Escritura sagrada é sua<br />

própria intérprete"?<br />

2. O que o autor quer dizer quando afirma que a Bíblia deve ser interpretada como<br />

qualquer outro livro?<br />

3. O que significa para você o fato de que a Bíblia tanto pode ser entendida por uma<br />

criança, quanto há passagens que envolvem um esforço intenso e prolongado por parte dos<br />

estudiosos para esclarecê-la?<br />

4. Qual é o principal motivo pelo aparecimento da maioria das interpretações errôneas<br />

de passagens bíblicas?<br />

5. De que maneira uma correta interpretação da Bíblia pode afetar a vida de alguém?<br />

6. Se todos podem ler e entender a Bíblia, não corremos o risco de haver diferentes<br />

interpretações para a mesma passagem? Como fazemos num caso destes?<br />

7. Como o sentido de um texto obscuro pode ser esclarecido?<br />

1


A INTERPRETAÇÃO PESSOAL 9<br />

Neemias 8.8; 2 Timóteo 2.15; 2 Timóteo 3.14-17; Hebreus 1.1-4; 2 Pedro 1.20,21<br />

Dois dos grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação<br />

pessoal da Bíblia e a sua tradução para a língua do povo. O próprio Lutero colocou em foco<br />

essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um concilio no qual foi<br />

acusado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele declarou:<br />

"A menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará cativa da<br />

Palavra de Deus — não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado.<br />

Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que<br />

Deus me ajude. Amém."<br />

A declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua vernácula,<br />

tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja Católica Romana o direito exclusivo de<br />

interpretação. O povo não mais ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as<br />

tradições ou ensino eclesiástico como tendo autoridade igual à da Palavra de Deus. Segundo,<br />

colocou a interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais problemática. Levou aos<br />

mesmos excessos sobre os quais a Igreja Romana estava envolvida — interpretações subjetivas<br />

do texto que levam ao afastamento da fé cristã histórica.<br />

O subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da<br />

interpretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de interpretar a Bíblia<br />

da maneira que bem entende. Juntamente com o "direito" de interpretar as Escrituras vem<br />

também a responsabilidade de interpretá-las corretamente. Os crentes têm liberdade de<br />

descobrir as verdades das Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias<br />

verdades. São chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e evitar os<br />

perigos do subjetivismo.<br />

Portanto, buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a<br />

Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar entender o que a<br />

Palavra diz em seu contexto antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de<br />

aplicá-la à nossa vida. Uma declaração em particular pode ter numerosas aplicações pessoais<br />

possíveis, mas só pode ter um único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva<br />

junto consigo a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de cera" que<br />

pode ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete.<br />

Sumário<br />

1. A Reforma deu à Igreja uma tradução da Bíblia na língua comum e a cada crente o<br />

direito e a responsabilidade de interpretar a Bíblia pessoalmente.<br />

2. A tradição da igreja, embora seja instrutiva como um guia, não tem autoridade igual à<br />

da Bíblia.<br />

3. A interpretação pessoal não equivale a uma licença para o subjetivismo.<br />

4. O princípio da interpretação pessoal leva consigo a obrigação de buscar a<br />

interpretação correta da Bíblia.<br />

5. Embora cada texto bíblico tenha múltiplas aplicações, ele tem um único significado<br />

1


correto.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Antes do movimento da Reforma Protestante, como era feita a interpretação bíblica?<br />

2. Por que a interpretação bíblica, colocada na mão do povo, demonstrou ter sido um<br />

problema surgido com o movimento da Reforma Protestante?<br />

3. Qual a diferença entre interpretar e aplicar o texto bíblico?<br />

4. Por que o subjetivismo apresenta tanto risco para a correta interpretação bíblica?<br />

5. Livre exame da Bíblia tem levado crentes a praticarem a "livre interpretação" da Bíblia<br />

em benefício próprio? Como?<br />

6. Livre exame da Bíblia contribui para o crescimento espiritual do cristão? Por quê?<br />

7. Por que os cristãos não fazem uma única interpretação da Bíblia, aceita por todos,<br />

que evitaria divergências e o surgimento de tantas denominações diferentes?<br />

8. Um mesmo texto da Bíblia pode falar de diferentes maneiras com alguém? Como isso<br />

é possível?<br />

PARTE<br />

II<br />

1


A INCOMPREENSIBILIDADE DE DEUS<br />

1<br />

0<br />

Jó 38.1-41.34; Salmos 139. 1-18; Isaías 55.8-9; Romanos 11.33-36; 1Coríntios2.6-16<br />

Durante uma palestra nos Estados Unidos, um estudante perguntou ao teólogo suíço<br />

Karl Barth: "Dr. Barth, qual foi a coisa mais profunda que o Senhor já aprendeu em seu<br />

estudo da teologia?" Barth pensou por um momento e depois respondeu: "Jesus me ama, isto<br />

eu sei, pois a Bíblia assim o diz" (trecho de corinho para crianças). Os estudantes sorriram<br />

diante da resposta tão simplista, mas a risada deles tornou-se um sorriso tímido quando<br />

lentamente perceberam que Barth estava falando sério.<br />

Karl Barth deu uma resposta simples para uma pergunta profunda. Ao fazer isso, estava<br />

chamando a atenção pelo menos para duas noções de vital importância. (1) Na verdade cristã<br />

mais simples reside uma profundidade que pode ocupar a mente das pessoas mais brilhantes<br />

por toda uma vida. (2) Mesmo no aprendizado da teologia mais sofisticada, realmente nunca<br />

ultrapassamos o nível de uma criança no entendimento das misteriosas profundidades e<br />

riquezas do caráter de Deus.<br />

João Calvino usava outra analogia. Ele dizia que Deus fala conosco numa espécie de<br />

balbucio. Como os pais se empenham em falar numa "linguagem de bebê", quando se dirigem<br />

a seus filhos pequenos, assim também Deus, para se comunicar conosco, míseros mortais,<br />

precisa condescender a falar de maneira que possamos compreender.<br />

Nenhum ser humano tem a habilidade de compreender a Deus exaustivamente. Existe<br />

uma barreira que impede a compreensão total e abrangente de Deus. Somos criaturas finitas;<br />

Deus é um ser infinito. Nisso reside o nosso problema. Como o finito pode compreender o<br />

infinito? Os teólogos medievais tinham uma frase que se tornou um axioma dominante em<br />

todo estudo posterior de teologia: "O finito não pode apreender (ou conter) o infinito". Nada é<br />

mais óbvio do que isso: um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço<br />

finito.<br />

Esse axioma comunica uma das doutrinas mais importantes do Cristianismo ortodoxo. E<br />

a doutrina da incompreensibilidade de Deus. O termo pode ser mal-interpretado. Pode nos<br />

sugerir que, já que o finito não pode "apreender" o infinito, então não podemos saber nada<br />

sobre Deus. Se Deus está além da compreensão humana, isso não insinua que toda a nossa<br />

discussão religiosa não passa de tagarelice teológica e que, quando muito, somos deixados<br />

com um altar destinado a um Deus desconhecido?<br />

Essa de maneira alguma é a intenção. A incompreensibilidade de Deus não significa que<br />

não sabemos nada sobre ele. Antes significa que nosso conhecimento é parcial e limitado,<br />

muito além de um conhecimento ou de uma compreensão plena. O conhecimento que Deus<br />

nos dá por meio da revelação é real e útil. Podemos conhecer a Deus na mesma medida em<br />

que ele escolhe se revelar a nós. O finito pode "apreender" o infinito, mas o finito jamais<br />

poderá abarcar completamente o infinito. Sempre haverá mais sobre Deus do que podemos<br />

1


apreender<br />

A Bíblia se refere a isso da seguinte maneira: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor,<br />

nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos para sempre " (Dt<br />

29.29). Martinho Lutero referia-se a dois aspectos de Deus — o oculto e o revelado. Uma<br />

porção do conhecimento divino permanece oculta de nossa vista. Trabalhamos à luz do que<br />

Deus nos revelou.<br />

Sumário<br />

1. Existe um profundo significado mesmo na verdade cristã mais simples.<br />

2. Não importa quão profundo seja o nosso conhecimento teológico, sempre haverá<br />

muitos aspectos da natureza e caráter de Deus que permanecerão um mistério para nós.<br />

3. Nenhum ser humano pode ter um conhecimento pleno de Deus.<br />

4. A doutrina da incompreensibilidade de Deus não significa que não podemos conhecer<br />

nada sobre ele. Significa que nosso conhecimento é limitado, restringido por nossa<br />

humanidade.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que significa o axioma teológico "O finito não pode conter o infinito"?<br />

2. A noção da grandeza de Deus não pode nos desanimar na busca de conhecê-lo mais?<br />

Não seria inútil, de nossa parte, continuar tentando compreender um Deus que é de todo<br />

incompreensível?<br />

3. Que verdade da fé cristã soa como mais profunda para você? E qual parece ser a mais<br />

simples?<br />

1


A TRIUNIDADE DE DEUS<br />

Deuteronômio 6.4; Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.14; 1 Pedro 1.2<br />

1<br />

1<br />

A doutrina da Trindade é difícil e complexa para nós. As vezes pensamos que o<br />

Cristianismo ensina a noção absurda de que 1 + 1 + 1 = 1. Esta equação é claramente falsa. O<br />

termo Trindade não descreve a relação de três deuses, mas de um único Deus que é três<br />

pessoas. Trindade não significa triteismo, ou seja, que existem três seres que juntos são Deus.<br />

A palavra Trindade é usada num esforço para definir a plenitude da Deidade, tanto em termos<br />

da sua unidade como da sua diversidade.<br />

A formulação histórica da Trindade é que Deus é um em essência e três em pessoas.<br />

Embora tal fórmula seja misteriosa e mesmo paradoxal, de maneira nenhuma é contraditória.<br />

A unidade da Deidade é afirmada em termos de essência ou ser, enquanto que sua diversidade<br />

é expressa em termos de pessoas.<br />

Embora o termo trindade não seja encontrado na Bíblia, o conceito claramente está lá.<br />

Por um lado, a Bíblia afirma veementemente a unidade de Deus (Dt 6.4). Por outro lado, ela<br />

afirma claramente a plena divindade das três pessoas da Deidade: o Pai, o Filho e o Espírito<br />

Santo. A Igreja tem rejeitado as heresias do modalismo e do triteismo. O modalismo nega a<br />

distinção das pessoas dentro da Deidade, alegando que Pai, Filho e Espírito Santo são apenas<br />

modos pelos quais Deus se revela. O triteismo, por outro lado, declara falsamente que existem<br />

três seres que juntos formam Deus.<br />

O termo pessoa não significa uma distinção em essência mas uma diferente subsistência<br />

na Divindade. A subsistência na Deidade é uma diferença real, mas não essencial, no sentido<br />

de uma diferença no ser. Cada pessoa subsiste ou existe "sob" a pura essência divina.<br />

Subsistência é uma diferença dentro do escopo do ser, não um ser ou uma essência separada<br />

Todas as pessoas da Deidade possuem todos os atributos divinos.<br />

Existe também uma distinção na obra realizada pelas pessoas da Trindade Num sentido,<br />

a obra da salvação é comum a todas as três pessoas da Trindade Mesmo assim, na maneira de<br />

atividade existem diferentes operações assumidas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O<br />

Pai inicia a criação e a redenção; o Filho redime a criação; o Espírito Santo regenera e<br />

santifica, aplicando a redenção aos crentes.<br />

1


A Trindade não se refere a partes de Deus ou mesmo a seus papéis. As analogias<br />

humanas, como a do homem que é pai, filho e marido, não conseguem captar o mistério da<br />

natureza de Deus.<br />

A doutrina da Trindade não explica plenamente o mistério do caráter de Deus. Ao<br />

contrário, simplesmente estabelece o limite do qual não devemos passar. Define os limites da<br />

nossa reflexão finita. Exige que sejamos fiéis à revelação bíblica de que em um sentido Deus é<br />

um e em outro sentido diferente ele é três.<br />

Sumário<br />

1. A doutrina da Trindade afirma a triunidade de Deus.<br />

2. A doutrina da Trindade não é uma contradição: Deus é um em essência e três em pessoa.<br />

3. A Bíblia afirma que Deus é único e também afirma a divindade do Pai, do Filho e do Espírito<br />

Santo.<br />

4. A Trindade distingue-se pelo trabalho realizado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.<br />

5. A doutrina da Trindade estabelece os limites da especulação humana a respeito da natureza de<br />

Deus.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que são as doutrinas do "monismo" e do "triteísmo"?<br />

2. Quais são as diferentes operações do Pai, Filho e Espírito Santo na obra da salvação?<br />

3. De que modo a doutrina da Trindade pode afetar nossa vida de oração?<br />

4. Que diferença faz sabermos das obras que cada uma das três pessoas da Trindade realizou e<br />

continua realizando no plano da salvação?<br />

5. A doutrina da Trindade pode atrapalhar um incrédulo a aceitar o evangelho como verdadeiro?<br />

Ela deveria ser ensinada para alguém que está sendo evangelizado? Por quê?<br />

6. Quando adoramos a Deus, adoramos uma só pessoa, ou três?<br />

A AUTO EXISTÊNCIA DE DEUS<br />

1<br />

Salmos 90.2; João 1.1-5; Atos 17.22-31; Colossenses 1.15-20; Apocalipse 1.8<br />

2<br />

Quando a Bíblia declara que Deus é o Criador do universo, ela indica que Deus mesmo é<br />

incriado. Existe uma distinção crucial entre o Criador e a criação. A criação porta o selo do<br />

Criador e testemunha de sua glória. A criação, porém, nunca deve ser adorada. Ela não é<br />

suprema.<br />

É impossível que alguma coisa crie a si mesma. O conceito de autocriação é uma<br />

contradição de termos, uma afirmação sem sentido. Peço ao leitor que faça uma pausa e<br />

pense um pouco. Nada pode ser autocriado. Nem mesmo o próprio Deus pode criar a si<br />

mesmo. Para que Deus pudesse criar a si mesmo, teria de existir antes de si mesmo. Nem<br />

mesmo Deus pode fazer isso.<br />

Todo efeito deve ter uma causa. Isso é verdadeiro (por definição). Deus, porém, não é um<br />

efeito. Ele não tem um início e, portanto, não tem uma causa antecedente. Ele é eterno. Ele<br />

sempre foi ou é. Ele tem, dentro de si, o poder de ser. Ele não necessita de assistência de<br />

fontes externas para continuar a existir. Isso é o que se subentende pela idéia de autoexistência.<br />

Bem compreendido, trata-se de um conceito sublime e impressionante. Não<br />

conhecemos nada que se compare a ele. Tudo o que percebemos em nossa estrutura de<br />

referência é dependente e foi criado. Não podemos compreender plenamente algo como autoexistente.<br />

Entretanto, só porque é impossível (por definição) que uma criatura seja auto-existente,<br />

não significa que seja impossível para o Criador ser auto-existente. Deus, assim como nós,<br />

não pode ser autocriado. Deus, porém, diferentemente de nós, pode ser auto-existente. De<br />

fato, essa é a própria essência da diferença entre o Criador e a criação. E isso que faz dele o<br />

ser supremo e a fonte de todos os outros seres.<br />

O conceito de auto-existência não viola nenhuma lei da razão, da lógica ou da ciência. É<br />

1


uma noção racionalmente válida. Em comparação, o conceito da autocriação viola as leis mais<br />

básicas da razão, da lógica e da ciência — a lei da não-contradição. A auto-existência é<br />

racional; a autocriação é irracional.<br />

A noção de alguma coisa ser auto-existente não só é racionalmente possível, como é<br />

racionalmente necessária. Além disso, a razão exige que se algo é, então algo deve ter, em si<br />

mesmo, o poder de ser. De outra maneira nada existiria. A menos que algo exista em si<br />

mesmo, não seria possível existir absolutamente nada.<br />

Talvez a questão mais antiga e mais profunda de todas seja: por que existe algo, ao invés<br />

de nada? Uma resposta necessária pelo menos para parte desta pergunta é por que Deus<br />

existe. Deus existe em si mesmo eternamente. Ele é a fonte e o manancial de toda existência.<br />

Só ele tem, em si mesmo, o poder de existir. O apóstolo Paulo declara nossa dependência do<br />

poder do ser de Deus para nossa própria existência, quando diz: "Pois nele vivemos, e nos<br />

movemos, e existimos (At 17.28).<br />

Sumário<br />

1 Todo efeito deve ter uma causa.<br />

2. Deus não é um efeito; Ele não tem uma causa.<br />

3. Aautocriação é um conceito irracional.<br />

4. A auto-existência é um conceito racional.<br />

5. A auto-existência não só é racionalmente possível, mas é racionalmente necessária.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Deus é autocriado ou auto-existente? Por quê?<br />

2. Por que o autor afirma que autocriação é irracional e auto-existência é racional?<br />

3. Por que o autor afirma que a noção da auto-existência não só é possível, como também<br />

necessária?<br />

4. Se Deus existe antes de tudo, sempre existiu e é a origem criadora de tudo, há alguma coisa<br />

que possa ser maior do que Deus?<br />

5. Por que o homem moderno continua recusando aceitar a idéia de que Deus é a causa de tudo o<br />

que foi criado?<br />

6. O que podemos fazer quando compreendemos a verdade da "auto-existência" de Deus?<br />

7. Como a compreensão da "auto-existência" de Deus pode afetar nossa adoração e nossos atos de<br />

culto?<br />

A ONIPOTÊNCIA DE DEUS<br />

Gênesis 17.1; Salmos 115.3; Romanos 11.36; Efésios 1.11; Hebreus 1.3<br />

1<br />

3<br />

Todo teólogo mais cedo ou mais tarde tem de responder a uma pergunta feita por um<br />

aluno, a qual é colocada como um "quebra-cabeça que não pode ser montado". A antiga<br />

pergunta é: Deus pode criar uma pedra tão grande que ele mesmo não possa movê-la? A<br />

primeira vista, essa pergunta parece encurralar o teólogo com um dilema insolúvel. Se<br />

respondermos que sim, estamos dizendo que existe algo que Deus não pode fazer: Ele não<br />

pode mover a pedra. Se respondermos que não, então estamos declarando que Deus não pode<br />

criar tal pedra. De qualquer maneira que respondermos, seremos forçados a pôr limites no<br />

poder de Deus.<br />

Esse problema nos faz lembrar de uma outra charada: O que acontece quando uma força<br />

irresistível se choca contra um objeto irremovível? Podemos conceber uma força irresistível.<br />

Podemos, igualmente, conceber um objeto irremovível. O que não podemos conceber é a<br />

coexistência dos dois. Se uma força irresistível encontra um objeto irremovível, e o objeto se<br />

move, o mesmo não poderia mais ser chamado com propriedade de irremovível. Se o objeto<br />

não se mover, então nossa força "irresistível" não poderia mais ser chamada, com propriedade,<br />

irresistível. Portanto, vemos que a realidade não pode conter ambos — uma força irresistível e<br />

um objeto irremovível.<br />

Enquanto isso, voltemos à rocha que não pode ser movida. O dilema colocado aqui (como<br />

no caso da força irresistível) é um falso dilema. É falso porque é construído sobre uma<br />

1


premissa falsa. Supõe que "onipotência" significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Como<br />

termo teológico, contudo, onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. A<br />

Bíblia indica várias coisas que Deus não pode fazer: Ele não pode mentir (Hb 6.18). Não pode<br />

morrer. Não pode ser eterno e criado. Não pode agir contra sua própria natureza. Não pode ser<br />

Deus e não ser Deus ao mesmo tempo e na mesma relação.<br />

O que onipotência realmente significa é que Deus mantém poder absoluto sobre sua<br />

criação. Nenhuma parte da criação está fora do alcance e da abrangência do seu controle<br />

soberano. Portanto, existe uma resposta correta para o dilema da pedra. O quebra-cabeça<br />

pode ser montado. A resposta é não. Deus não pode criar uma pedra tão grande que não seja<br />

capaz de movê-la. Por quê? Se Deus criasse tal pedra, ele estaria criando algo sobre o qual não<br />

teria poder. Estaria assim destruindo sua própria onipotência. Deus não pode deixar de ser<br />

Deus; ele não pode deixar de ser onipotente.<br />

Quando a virgem Maria estava confusa pelo anúncio do anjo Gabriel a respeito da<br />

concepção de Jesus no ventre dela, o anjo lhe disse: “ para Deus não haverá impossíveis em<br />

todas as suas promessas " (Lc 1.37). Aqui o anjo lembra Maria da onipotência de Deus. Creio<br />

que mesmo os anjos são capazes de usar hipérbole. Estreitamente considerado, o anjo<br />

expressou uma teologia equivocada. Mas a compreensão bíblica mais ampla, porém, aponta<br />

para o sentido de que o poder de Deus vai muitíssimo além do poder da criatura. O que pode<br />

ser impossível para nós é possível para Deus. Dizer que nada é impossível para Deus significa<br />

que ele pode fazer qualquer coisa que queira fazer. Seu poder não é limitado por limitações<br />

finitas. Nada ou "coisa nenhuma" pode restringir seu poder. Mesmo assim, seu poder é ainda<br />

restringido pelo quê e quem ele é. O pecado é impossível para ele porque ninguém pode pecar<br />

sem querer pecar. Deus não pode cometer pecado porque jamais desejará fazê-lo. Jó chegou<br />

ao âmago dessa questão quando declarou: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos<br />

pode ser frustrado (Jó 42.2).<br />

Para o cristão, a onipotência de Deus é uma grande fonte de conforto. Sabemos que o<br />

mesmo poder que Deus demonstrou ao criar o universo está à disposição dele para assegurar<br />

nossa salvação. Ele mostrou esse poder na saída do povo de Israel do Egito. Mostrou seu<br />

poder sobre a morte na ressurreição de Cristo. Sabemos que nenhuma parte da criação pode<br />

frustrar seus planos para o futuro. Não existe nem uma molécula independente, solta no<br />

universo, e que seja capaz de comprometer os planos de Deus. Embora os poderes e as forças<br />

deste mundo ameacem fazer isso, não tememos. Podemos descansar no conhecimento de que<br />

nada pode resistir ao poder de Deus. Ele é o Deus Todo-Poderoso.<br />

Sumário<br />

1. Onipotência não significa que Deus pode fazer qualquer coisa. Ele não pode agir<br />

contra sua natureza.<br />

2. Onipotência refere-se ao poder soberano de Deus, sua autoridade e seu controle sobre<br />

a ordem criada.<br />

3. A onipotência, embora seja uma ameaça para o ímpio, é uma fonte de conforto para o<br />

crente.<br />

4. O mesmo poder que Deus exibiu na criação é manifestado na nossa redenção.<br />

5. Nada no universo pode atrapalhar ou frustrar os planos de Deus.<br />

Para avaliação e discussão<br />

1. O que significa a onipotência de Deus?<br />

2. Por que a doutrina da onipotência divina é fonte de conforto para o homem?<br />

3. Medo e pavor são reações corretas diante da consciência plena do poder de Deus?<br />

4. Que áreas da vida são afetadas quando começamos a compreender a extensão do<br />

poder de Deus?<br />

5. Deus pode impedir que a maldade continue progredindo tão rapidamente como<br />

acontece nos dias de hoje? Se pode, por que ele não o faz?<br />

1


A ONIPRESENÇA DE DEUS<br />

Jó 11.7-9; Jeremias 23.23. 24; Atos 17.22-31<br />

1<br />

4<br />

Projeção astral não passa de fantasia. Pessoas podem afirmar que podem deixar seus<br />

corpos e fazer uma viagem à Califórnia ou à índia e voltar sem precisar usar um trem, avião<br />

ou navio. Na verdade estão iludidas ou estão tentando enganar os outros com tais alegações.<br />

Mesmo que a alma ou o espírito de uma pessoa pudesse se "projetar" dessa maneira e<br />

"perambular" pelo planeta, tais viagens só poderiam incluir um lugar de cada vez. Nosso<br />

espírito humano continua sendo finito e nem agora nem nunca será capaz de estar em mais<br />

de um lugar ao mesmo tempo. Somente um Espírito infinito tem o poder da onipresença.<br />

Quando falamos da onipresença de Deus geralmente queremos dizer que sua presença<br />

está em todos os lugares. Não existe um lugar onde Deus não esteja. Mesmo assim, sendo<br />

espírito. Deus não ocupa um lugar, no sentido físico em que os objetos ocupam lugar no<br />

espaço. Deus não tem propriedades físicas que ocupem lugar no espaço. A chave para<br />

entender esse paradoxo é pensar em termos de outra dimensão. Abarreira entre Deus e nós<br />

não é uma barreira de tempo ou espaço. Para se encontrar com Deus, não existe um "aonde"<br />

ir ou um "quando" vai acontecer. Estar na presença imediata de Deus é entrar numa outra<br />

dimensão.<br />

1


Existe um segundo aspecto da onipresença de Deus que freqüentemente negligenciamos.<br />

A idéia de omnis relaciona-se não somente com os lugares onde Deus está, mas também a<br />

quanto dele está presente naquele determinado lugar. Deus não só está presente em todos os<br />

lugares, mas Deus está totalmente presente em cada lugar. Isso é chamado sua imensidade.<br />

Os crentes que moram em São Paulo experimentam a plenitude da presença de Deus,<br />

enquanto que os crentes que moram em Moscou experimentam a mesma presença. Sua<br />

imensidade, pois, não se refere ao seu tamanho, mas à sua capacidade de estar totalmente<br />

presente em todos os lugares.<br />

A doutrina da onipresença de Deus com razão nos enche de perplexidade. Além da reverência<br />

que ela gera, essa doutrina também se revela confortadora. Podemos sempre ter certeza da<br />

atenção integral de Deus. Nunca vamos ter de esperar na fila ou marcar um horário para estar<br />

com Deus. Quando estamos na presença de Deus, ele não está preocupado com os<br />

acontecimentos do outro lado do planeta. Esta doutrina evidentemente, de maneira alguma é<br />

confortante para o não-crente. Não existe lugar para se esconder de Deus. Não existe nenhum<br />

cantinho do universo onde Deus não esteja. O ímpio que está no infernonão está separado de<br />

Deus — está separado somente de sua benevolência. A ira de Deus está constantemente com<br />

ele.<br />

Davi, que muitas vezes exaltou a glória da onipresença de Deus nos Salmos, nós dá um<br />

resumo poético desta doutrina:<br />

Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos<br />

céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se<br />

tomo as asas da alvorada e me detenha nos confins dos mares, ainda lá me haverá<br />

de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Salmo 139.7-10<br />

Sumário<br />

1. Somente um Espírito infinito pode ser onipresente.<br />

2. Deus não é limitado pelo tempo e espaço. Seu Ser transcende o tempo e o espaço.<br />

3. A onipresença de Deus inclui sua imensidade, pela qual ele pode estar presente em<br />

sua plenitude em todo tempo, em todos os lugares.<br />

4. A onipresença de Deus é um conforto para o crente e um terror para o não-crente.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Comente esta frase: "Estar na presença de Deus é entrar em uma nova dimensão".<br />

2.Por que a doutrina da onipotência divina é motivo de conforto para o cristão?<br />

3.Por que ela é fonte de desconforto para o descrente?<br />

4.A comunhão pessoal com Deus pode ser afetada mediante a correta compreensão da<br />

sua onipresença?<br />

5.Pode esta doutrina servir de "desculpa" para alguns cristãos freqüentarem lugares que<br />

não sejam convenientes a um cristão ir? Por quê?<br />

6.Se Deus está em todo o lugar, por que nos reunimos num templo, em um determinado<br />

momento, para um serviço religioso chamado "culto de adoração"?<br />

A ONISCIÊNCIA DE DEUS<br />

Salmos 147.5; Ezequiel 11.5; Atos 15.18; Romanos 11.33-36; Hebreus 4.13<br />

1<br />

5<br />

Minha primeira experiência com o conceito de onisciência foi com algo relacionado com<br />

meu entendimento infantil sobre o Papai Noel. Alguém me disse que ele "fazia uma lista e a<br />

conferia duas vezes". Eu também pensava que o coelho da Páscoa vivia no sótão da nossa casa<br />

(fora da época da Páscoa) de onde podia me vigiar sem ser visto.<br />

A palavra onisciência significa "ter todo (omnis) conhecimento (ciência)". É um termo que<br />

só pode ser aplicado apropriadamente a Deus. Somente um ser infinito e eterno é capaz de<br />

conhecer todas as coisas. O conhecimento de uma criatura finita é sempre limitado por um<br />

ser finito.<br />

Deus, sendo infinito, é capaz de reconhecer todas as coisas, entender todas as coisas e<br />

1


assimilar tudo. Ele nunca aprende algo ou adquire um novo conhecimento. O futuro, bem<br />

como o passado e o presente, são totalmente conhecidos por ele. Nada pode surpreendê-lo.<br />

Devido ao fato de que o conhecimento de Deus excede imensamente o nosso (porque é<br />

muito mais elevado), alguns cristãos acreditam que o pensamento de Deus difere radicalmente<br />

em natureza do nosso. Por exemplo, tem-se tornado comum entre os cristãos a afirmação de<br />

que Deus opera numa lógica diferente da nossa. Esse conceito é conveniente quando<br />

tropeçamos num ponto difícil em nossa teologia. Se nos encontramos fazendo afirmações<br />

contraditórias, aliviamos nossa tensão apelando para a lógica diferente de Deus. Podemos<br />

dizer: "Isso pode ser contraditório para nós, mas não na mente de Deus".<br />

Tal raciocínio é fatal para o Cristianismo. Por quê? Se Deus de fato tem uma lógica<br />

diferente, ou seja, aquilo que é contraditório para nós é lógico para ele, então não temos razão<br />

para confiar numa única palavra da Bíblia. Qualquer coisa que a Bíblia nos diga então pode<br />

significar exatamente o oposto para Deus. Na mente de Deus, o bem e o mal podem não ser<br />

opostos e o Anticristo pode na verdade ser o Cristo.<br />

O conhecimento superior de Deus lhe permite resolver mistérios que nos deixam<br />

perplexos. Isso, porém, aponta para uma diferença de grau no conhecimento de Deus, não<br />

para uma diferença no tipo de lógica que ele usa. Visto que Deus é racional, nem ele mesmo<br />

pode conciliar contradições.<br />

A onisciência de Deus também emana da sua onipotência. Deus não é todo-ciente<br />

simplesmente por ele aplicar seu intelecto superior num estudo profundo do universo e todo o<br />

seu conteúdo. Ao contrário, Deus conhece tudo porque ele criou tudo e sua vontade prevalece<br />

sobre tudo. Como o governante soberano sobre o universo, Deus tem o controle do universo.<br />

Embora alguns teólogos tentem separar as duas coisas, é impossível para Deus conhecer<br />

todas as coisas sem ter o controle e é impossível para ele controlar tudo sem conhecer tudo.<br />

Como todos os atributos de Deus, a onisciência e a onipotência são interdependentes, duas<br />

partes necessárias do todo<br />

A onisciência de Deus, como sua onipotência e onipresença, também se relaciona ao<br />

tempo. O conhecimento de Deus é absoluto no sentido em que ele é eternamente consciente<br />

de todas as coisas. O intelecto de Deus é diferente do nosso no sentido em que ele não tem de<br />

"acessar" informações, como um computador tem de acessar um arquivo. Todo o<br />

conhecimento está sempre diretamente diante dele.<br />

O conhecimento que Deus tem de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Para o<br />

crente, essa idéia oferece segurança — Deus está no controle, ele entende. Deus não fica<br />

confuso diante dos problemas que nos confundem. Para o não-crente, entretanto, a doutrina<br />

destaca o fato de que a pessoa não pode esconder-se de Deus. Seus pecados estão expostos.<br />

Como Adão, eles tentam ocultar-se. Não existe, porém, nenhum lugar no universo em que o<br />

olhar de Deus, seja em amor ou em ira, não possa perscrutar.<br />

A onisciência de Deus é também uma parte crucial da sua promessa de introduzir a<br />

justiça no mundo. Para que um juiz possa estabelecer um veredicto perfeitamente justo,<br />

primeiro tem de conhecer todos os fatos. Nenhuma evidência pode ser oculta do escrutínio de<br />

Deus. Ele conhece todas as circunstâncias atenuantes.<br />

Sumário<br />

1.Onisciência significa "todo conhecimento".<br />

2.Somente um ser infinito pode possuir conhecimento infinito<br />

3. Deus tem um grau de conhecimento muito mais elevado do que o das criaturas, mas<br />

que é do mesmo tipo de lógica.<br />

4. Atribuir um tipo diferente de lógica a Deus é fatal para o Cristianismo<br />

5. A onisciência de Deus é baseada em seu ser infinito e em sua onipotência.<br />

6. A onisciência de Deus é crucial para o seu papel como Juiz do universo.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Por que é perigoso pensar que os pensamentos de Deus diferem radicalmente do tipo<br />

do nosso?<br />

2.Por que a doutrina da onisciência de Deus é motivo tanto de segurança como de<br />

1


perturbação?<br />

A SANTIDADE DE DEUS<br />

Êxodo 3.1-6; 1 Samuel 2.2; Salmos 99.1-9; Isaías 6.1-13; Apocalipse 4.1-11<br />

1<br />

6<br />

A primeira oração que aprendi quando criança foi uma simples ação de graças à mesa de<br />

refeições: "Deus é grande; Deus é bom; e nós lhe agradecemos este alimento".<br />

As duas virtudes atribuídas a Deus nesta oração, grandeza e bondade, podem ser<br />

definidas por uma única palavra bíblica — santo. Quando falamos da santidade de Deus,<br />

costumamos associá-la quase que exclusivamente com sua pureza e justiça. Certamente a<br />

idéia de santidade contém essas virtudes, mas elas não são o significado primário de<br />

santidade.<br />

A palavra bíblica santo tem dois significados distintos. O significado primário é<br />

1


"separação" ou "distinção". Quando dizemos que Deus é santo, chamamos a atenção para a<br />

profunda diferença que existe entre ele e todas as criaturas. Referimo-nos à majestade<br />

transcendente de Deus, sua augusta superioridade, em virtude do quê ele é digno de toda<br />

honra, reverência, adoração e louvor. Ele é "distinto" ou diferente de nós em sua glória.<br />

Quando a Bíblia fala de objetos santos, de pessoas santas ou de tempo santo, ela se refere a<br />

coisas que foram postas à parte, consagradas ou diferenciadas pelo toque de Deus sobre elas.<br />

O solo onde Moisés estava em pé, perto da sarça ardente, era um solo santo, porque Deus<br />

estava presente ali de uma maneira especial. E a proximidade do divino que torna o ordinário<br />

subitamente extraordinário, e torna aquilo que é comum em algo incomum.<br />

O significado secundário de santo se refere às ações puras e justas de Deus. Deus faz o<br />

que é certo. Ele nunca faz o que é errado. Deus sempre age de maneira certa porque sua<br />

natureza é santa. Assim, podemos distinguir entre a justiça interna de Deus (sua natureza<br />

santa) e a justiça externa de Deus (suas ações).<br />

Porque Deus é santo, ele é grandioso e bom. Não há nenhum mal misturado à sua<br />

bondade. Quando-somos chamados para ser santos, isso não significa que participamos da<br />

majestade divina de Deus, mas que devemos ser diferentes da nossa natureza pecaminosa<br />

normal como criaturas caídas. Somos chamados para espelhar e refletir o caráter e a atividade<br />

moral de Deus. Temos que imitar sua bondade.<br />

Sumário<br />

1. Santidade tem dois significados distintos: (1) "distinção" ou ser "separado" e (2) "puro e<br />

justo nas ações".<br />

SANTO<br />

=<br />

1. Distinção(majestade)<br />

2. Pureza (justiça)<br />

2. Somos chamados para ser santos — para refletir a justiça e a pureza de Deus<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Quais são os dois sentidos bíblicos para a palavra “santo”?<br />

2.O que significa o primeiro?<br />

3.O que significa o segundo?<br />

4.Deus nos pede coisas impossíveis de se realizarem? Então qual é o verdadeiro<br />

significado da exortação bíblica para sermos santos? Nós podemos ser realmente santos nesta<br />

vida?<br />

5.Que conseqüências a compreensão da santidade de Deus pode trazer para a vida<br />

prática do cristão?<br />

6.A santidade de Deus está relacionada com a exclusividade que Ele exige de todos os<br />

seus filhos: "Não terás outros deuses diante de mim..."(Êx 20.3)? Porquê?<br />

7.É verdadeira a afirmação que "somente um povo santo andará com o Senhor"? Sim,<br />

não, por quê?<br />

A BONDADE DE DEUS<br />

Êxodo 34.6, 7; Salmos 25. 8-10; Salmos 100.1-5; Tiago 1.17<br />

1<br />

7<br />

1


Uma das coisas mais divertidas da vida é ver um cachorrinho ou um gatinho perseguindo<br />

a própria sombra. Ficam tentando inutilmente apanhá-la. Quando eles se movem, a<br />

sombra também se move. Isso não acontece com Deus. Tiago declara: “Toda boa dádiva e todo<br />

dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou<br />

sombra de mudança”(Tg 1.17).<br />

Deus nunca muda. Com ele não existe “sombra de mudança”. Isso sugere que Deus é<br />

imaterial e portanto não pode projetar uma sombra e também que não existe nele um "lado<br />

sombrio", num senso figurativo ou moral. Sombras sugerem trevas, e em termos espirituais<br />

trevas pressupõem o mal. Desde que não há mal em Deus, também nele não há nenhum sinal<br />

de trevas. Ele é o Pai das luzes.<br />

Quando Tiago acrescenta que não há “sombra de mudança” em Deus, não é suficiente<br />

entender essa afirmação meramente em termos do ser imutável de Deus. Ela refere-se<br />

também ao caráter de Deus. Deus não só é totalmente bom, como também é consistentemente<br />

bom. Deus não sabe como ser outra coisa senão ser bom.<br />

A bondade está tão intimamente conectada a Deus que até mesmo filósofos pagãos como<br />

Platão equipararam a bondade suprema, a bondade mais elevada, ao próprio Deus. A bondade<br />

de Deus refere-se tanto ao seu caráter quanto ao seu comportamento. Suas ações procedem e<br />

emanam do seu ser. Ele age de acordo com o que ele é. Assim como uma árvore corruptível<br />

não pode produzir frutos incorruptíveis, assim também um Deus incorruptível não pode<br />

produzir frutos corruptíveis.<br />

A Lei de Deus reflete sua bondade. Deus é bom não porque obedece alguma lei cósmica<br />

fora dele mesmo, que o julga, ou porque ele define o que é bom e portanto pode agir de forma<br />

ilegal e usar sua autoridade para declarar que sua ação foi boa. A bondade de Deus tampouco<br />

é arbitrária ou caprichosa. Deus obedece uma lei, mas a lei que ele obedece é a lei do seu<br />

próprio caráter. Deus sempre age de acordo com seu próprio caráter, o qual é eterno, imutável<br />

e intrinsecamente bom. Tiago ensina que todo dom perfeito e toda boa dádiva vêm de Deus.<br />

Ele não só é o padrão supremo da bondade — ele é a Fonte de toda bondade.<br />

Um dos versículos mais populares do Novo Testamento é Romanos 8.28: “Sabemos que<br />

todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados<br />

segundo o seu propósito”. Esse texto sobre a providência divina é tão difícil de compreender<br />

quanto é popular. Se Deusé capaz de fazer com que tudo o que nos acontece funcione para o<br />

nosso bem; então, em última análise tudo o que nos acontece é positivo. Temos de ser<br />

cuidadosos aqui e colocar a ênfase na palavra última. No plano terreno, as coisas que nos<br />

acontecem podem de fato ser ruins (devemos ter cuidado para não chamar o bem de mal ou o<br />

mal de bem). Enfrentamos aflições, miséria, injustiças e muitos outros males. Ainda assim,<br />

Deus em sua bondade transcende todas essas coisas e age nelas para o nosso bem. Para o<br />

cristão, no final, não existem tragédias. No final, a providência de Deus opera em todos esses<br />

males que estão próximos de nós para o nosso benefício.<br />

Martinho Lutero entendeu esse aspecto da boa providência de Deus quando disse: “Se<br />

Deus me dissesse para comer o estrume de animais que fica nas ruas, eu não só comeria,<br />

como iria saber que aquilo era bom para mim”.<br />

Sumário<br />

1. As criaturas têm sombras projetadas pelas trevas do pecado.<br />

CRIATURA<br />

DEUS<br />

SOMBRA<br />

SEM SOMBRA<br />

Lei<br />

2. Não existe um lado sombrio em Deus.<br />

3. Deus não está sujeito a nenhuma lei<br />

Deus<br />

4. Deus não está isento de lei.<br />

Lei/DEUS<br />

1


5. Deus é lei para si mesmo.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que significa a expressão bíblica "sombra de mudança"? (Tg 1.17)<br />

2. Qual foi o filósofo pagão que equiparou a bondade maior com Deus?<br />

3.Por que a lei de Deus reflete a sua bondade? Ela não parece demonstrar mais a<br />

severidade de Deus?<br />

4. Por que é difícil aceitarmos as coisas dolorosas da vida, mesmo sabendo que elas<br />

operam juntamente com o propósito de Deus para nós?<br />

A JUSTIÇA DE DEUS<br />

1<br />

1


Gênesis 18.25; Êxodo 34.6, 7; Neemias 9.32, 33; Salmos 145.7; Romanos 9.14-33<br />

8<br />

Justiça é uma palavra que ouvimos diariamente. Ela é usada nos relacionamentos pessoais,<br />

nas convenções sociais, com respeito à legislação e nos vereditos pronunciados nos tribunais.<br />

Embora seja muito comum, essa palavra tem deixado perplexos os filósofos que tentam defini-la.<br />

Às vezes conectamos ou equipáramos justiça com aquilo que é conquistado ou merecido.<br />

Falamos sobre pessoas que receberam aquilo que mereciam em termos de recompensa ou de<br />

punição. As recompensas, porém, nem sempre são baseadas nos méritos. Suponha que façamos<br />

um concurso de beleza e declaramos que um prêmio será dado à pessoa que for considerada mais<br />

bonita. Se a "beleza" ganha o prêmio, não é porque exista algum mérito em ser bonito. Ao<br />

contrário, ajustiça é feita quando o concorrente mais bonito é justamente recompensado com o<br />

prêmio. Se os juízes votam em alguém que não consideram o mais bonito (por razões políticas ou<br />

porque foram subornados), então o resultado do concurso será injusto.<br />

Pelas razões como as mencionadas acima, Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa<br />

aquilo que lhe é devido". O que é "devido" pode ser determinado por obrigações éticas ou por um<br />

acordo pré-estabelecido. Se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que seu crime merece,<br />

tal punição é injusta. Se alguém recebe uma recompensa inferior à que mereceu, então a<br />

recompensa é injusta.<br />

Como, pois, a misericórdia se relaciona com ajustiça? Misericórdia e justiça obviamente são<br />

elementos diferentes, embora às vezes sejam confundidas. A misericórdia ocorre quando aquele<br />

que errou recebe uma punição menor do que merçcia ou uma recompensa maior do que lhe era<br />

devida.<br />

Deus tempera sua justiça com misericórdia. Sua graça é essencialmente um tipo de misericórdia.<br />

Deus é gracioso para conosco quando retém o castigo que merecemos e quando recompensa nossa<br />

obediência, a despeito do fato de que é nossa obrigação obedecê-lo, de maneira que não há mérito e não<br />

merecemos nenhuma recompensa. Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele nunca tem a<br />

obrigação de ser misericordioso. Deus reserva a si o direito de exercer sua graça de acordo com o<br />

beneplácito de sua vontade. Por isso disse a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter<br />

misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão " (Rm 9.15).<br />

Muitas pessoas às vezes se queixam de Deus não distribuir sua graça ou sua misericórdia<br />

igualmente a todas as pessoas, que ele, portanto, não é justo. Achamos que, se Deus perdoa uma<br />

pessoa, então ele tem a obrigação de perdoar todas.<br />

Vemos, porém, claramente nas Escrituras que Deus não trata todos da mesma maneira. Ele<br />

se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a nenhum outro pagão no mundo antigo.<br />

Revelou sua graça a Paulo de uma maneira que não revelou a Judas Iscariotes.<br />

Paulo recebeu graça de Deus, Judas Iscariotes recebeu justiça. Misericórdia e graça são formas de<br />

não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se o castigo de Judas fosse mais severo do que ele merecia,<br />

então ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não requer que Judas também recebesse.<br />

Se graça é exigida de Deus, ou seja, se Deus é obrigado a ser gracioso, então não estamos mais<br />

falando de graça, mas de justiça.<br />

Biblicamente, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, ele está fazendo o<br />

que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta retórica, a qual só poderia ter uma resposta óbvia: "Não<br />

fará justiça o Juiz de toda a terra?" {Gn 18.25). Semelhantemente, o apóstolo Paulo formulou uma<br />

pergunta retórica similar: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum " (Rm<br />

9.14).<br />

Sumário<br />

1. Justiça é dar o que é devido.<br />

2. Ajustiça bíblica está vinculada à retidão, ou seja, fazer o que é reto.<br />

3. A injustiça está fora da categoria da justiça e é uma violação da justiça. A misericórdia também<br />

está fora da categoria da justiça, mas não representa uma violação da justiça. -<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Qual é o exemplo que o autor cita para demonstrar que recompensa nem sempre é baseada no<br />

mérito?<br />

2.Quando somos recompensados por Deus pela nossa obediência, Ele está demonstrando graça<br />

ou justiça? Por quê?<br />

3.A justiça de Deus o obriga a punir todo pecado, conforme a lei: "A alma que pecar essa morrerá"<br />

- Ezequiel 18.4. Então, como conseguimos o perdão dos nossos pecados?<br />

4.Deus está obrigado a exercer sempre a justiça, pois ele é justo. Que conseqüência isto traz na<br />

vida do cristão? E na do não-cristão?<br />

1


5.Pode Deus exceder na aplicação da justiça a alguém? Ou pode ele recompensar alguém menos<br />

do que ele merece? Por quê?<br />

PARTE<br />

II<br />

I<br />

1


A CRIAÇÃO 1 9<br />

Gênesis 1; Salmos 33.19; Salmos 104.24-26; Jeremias 10.1-16; Hebreus 11.3<br />

Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Eu tive um início; você teve um<br />

início. Acasa onde moramos teve um início. As roupas que vestimos tiveram um início. Houve<br />

um tempo em que nossas casas, nossas roupas, carros, máquinas de lavar não existiam; nem<br />

nós mesmos existíamos. Essas coisas não eram. Nada pode ser mais óbvio.<br />

Estamos cercados por coisas e pessoas que obviamente tiveram um início e por isso<br />

somos tentados a pular para a conclusão de que tudo teve um início. Tal conclusão,<br />

entretanto, seria um salto fatal no abismo do absurdo. Seria fatal para a religião. Também<br />

seria fatal para a ciência e para a razão.<br />

Por quê? Não dissemos que todas as coisas no tempo e no espaço tiveram um início? Não<br />

seria o mesmo dizer simplesmente que tudo teve um início? De maneira alguma. Lógica e<br />

cientificamente é simplesmente impossível que todas as coisas tenham tido um início. Por<br />

quê? Se tudo o que existe um dia teve um início, então teria havido um tempo em que nada<br />

existia.<br />

Pare por um momento e reflita. Tente imaginar a existência de nada. Absolutamente<br />

nada. Nem mesmo podemos conceber a existência de absolutamente nada. O próprio conceito<br />

é meramente a negação de alguma coisa.<br />

Se já houve, porém, um tempo em que absolutamente nada existia, o que haveria agora?<br />

Certo. Nada! Seja houve um tempo em que não havia nada, então, pela lógica irresistível essa<br />

situação deveria persistir e continuaria sempre a não existir nada. Não haveria nem mesmo o<br />

"sempre" durante o qual nada existiria.<br />

Por que podemos estar certos, ou melhor, absolutamente certos de que seja houve um<br />

tempo em que não havia nada, então hoje deveria continuar não existindo nada? A resposta é<br />

espantosamente simples, a despeito do fato de que pessoas extremamente inteligentes às<br />

vezes tropeçam no óbvio. A resposta é simples porque você não pode obter algo a partir de<br />

nada. Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihilfit, quer dizer, “a partir do<br />

nada, nada procede”. O nada não pode produzir coisa alguma. Nada não pode rir, cantar,<br />

chorar, trabalhar, dançar ou respirar. O nada certamente não pode criar. O nada não pode<br />

fazer nada porque ele é nada. Ele não existe. O nada não tem nenhum poder porque não tem<br />

existência.<br />

Para que alguma coisa procedesse do nada, teria de possuir o poder da autocriação.<br />

Teria de ser capaz de criar a si própria ou trazer a si própria à existência. Isso, porém, é um<br />

completo absurdo. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si própria teria de ser antes<br />

de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem necessidade de ser criado. Para criar a si<br />

próprio, algo teria de ser e teria de não ser, existir e não existir ao mesmo tempo e no mesmo<br />

contexto. Isso é uma contradição. Essa idéia viola uma das mais fundamentais de todas as<br />

leis da razão e da ciência — a lei da não-contradição.<br />

Se sabemos alguma coisa, então sabemos que, se as coisas existem hoje, então de<br />

alguma maneira, em algum lugar, algo não teve início Sabemos de brilhantes pensadores,<br />

como Bertrand Russell, o qual em seu famoso debate com Frederick Copelston argumentou<br />

que o presente universo é o resultado de uma "série infinita de causas finitas". Isso coloca<br />

uma série sucessiva de eventos, um causando o outro, operando retrospectivamente para<br />

sempre na eternidade. Essa idéia simplesmente dá uma dimensão infinita ao problema da<br />

autocriação. É um conceito fundamentalmente absurdo. O fato de que ele tenha sido proposto<br />

por sábios não o torna menos absurdo. É pior do que absurdo. Absurdos podem ser reais.<br />

Esse conceito, porém, pela lógica, é impossível.<br />

Russell pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode refutá-la sem<br />

cometer suicídio mental. Sabemos (com base na lógica) que, se as coisas existem hoje, então<br />

deve ter havido algo que não teve início. A pergunta então é: o quê ou quem seria?<br />

Muitos estudiosos sérios acreditam que a resposta para esse o quê é encontrada dentro<br />

1


do próprio universo. Argumentam (como Carl Sagan fez) que não é necessário ir acima ou<br />

além do universo para encontrar algo que não teve início e do qual todas as outras coisas<br />

procederam. Quer dizer, não precisamos supor algo como "Deus" que é transcendente ao<br />

universo. O universo ou algo dentro dele, pode fazer muito bem o trabalho por si mesmo.<br />

Existe um erro sutil se movendo furtivamente no cenário apresentado acima. Esse erro<br />

tem a ver com o significado do termo transcendente. Na filosofia e na teologia, a idéia de<br />

transcendência significa que Deus está "acima e além" do universo, no sentido em que ele<br />

pertence a uma ordem mais elevada do que os outros seres. Geralmente nos referimos a Deus<br />

como o Ser supremo.<br />

O que torna o Ser supremo diferente do ser humano? Note que ambos os conceitos têm<br />

uma palavra em comum — ser. Quando dizemos que Deus é o Ser supremo, queremos dizer<br />

que ele é um ser que difere em gênero dos outros seres comuns Qual é exatamente essa<br />

diferença? Ele é chamado de supremo porque não tem início. Deus é supremo porque todos os<br />

outros seres lhe devemsua existência, e ele não deve sua existência a ninguém mais a não ser<br />

a si próprio. Ele é o Criador eterno. Todas as outras coisas são obra da sua criação<br />

Quando Carl Sagan e outros dizem que no universo — e não acima ou além dele — existe<br />

algo que não foi criado, estão meramente questionando de maneira evasiva sobre o endereço<br />

do Criador Estão dizendo que aquilo que não foi criado vive aqui (dentro do universo) e não "lá<br />

fora" (acima ou transcendente ao universo). Mas essa idéia ainda requer um Ser supremo<br />

Essa parte misteriosa do universo, da qual todas as coisas criadas procedem, ainda está<br />

acima e além de tudo na criação em termos de ser. Em outras palavras, ainda tem de existir<br />

um Ser transcendente.<br />

Quanto mais pensamos nesse "Criador dentro do universo", mais ele começa a soar como<br />

Deus. Ele não foi criado. Ele cria tudo Ele tem o poder de ser em si mesmo.<br />

O que fica claro como cristal é que se algo existe agora, então tem de haver um Ser<br />

supremo do qual todas as outras coisas procedem. A primeira declaração da Bíblia é:<br />

“Noprincípio criou Deus o céu e a terra”(Gn.1:1). Esse texto é fundamental para todo o<br />

pensamento cristão. Não se trata apenas de uma declaração religiosa—é um conceito<br />

racionalmente necessário.<br />

Sumário<br />

1.Tudo tem um início no tempo e no espaço.<br />

2.Uma coisa não pode proceder do nada. O nada não pode produzir coisa alguma.<br />

3.Se houve um tempo em que nada existia, então nada deveria existir hoje.<br />

4.Algo existe agora. Isso implica que existe algo que não teve início.<br />

5.As coisas não podem criar a si próprias, porque teriam de existir antes de serem.<br />

6.Se uma "parte" do universo não foi criada, então ela é superior ou transcendente às<br />

partes que tiveram início.<br />

7.Um ser não criado é supremo (uma ordem mais elevada do que os seres criados),<br />

independentemente de onde ele vive.<br />

8.Transcendência refere-se ao nível do ser e não à localização geográfica<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Qual cientista argumentou que a causa da criação do universo não deve ser buscada<br />

fora do próprio universo?<br />

2.Por que a lógica nos leva a pensar que, se existe alguma coisa agora, então algo deve<br />

existir que não teve início?<br />

3.O que significa o termo "transcendente"? Ele pode ser aplicado a Deus. Como e por<br />

quê?<br />

4.Existe alguma coisa que você possa criar sobre a qual você não tenha controle e<br />

domínio, ou não a conheça muito bem?<br />

5.Que atributo divino percebemos observando as coisas criadas, como por exemplo, a<br />

infinidade de seres existentes na terra, ar e mar?<br />

6.É possível alguém crer na existência de Deus apenas observando cuidadosamente o<br />

que foi criado e considerando a grandeza de tudo o que existe (lembre-se da máxima: "Alguma<br />

coisa não pode surgir do nada".)<br />

7.Que sentimento surge no coração quando lembramos que nossa vida tem começo, meio<br />

e fim, em contraste com a eternidade de Deus?<br />

1


A PROVIDÊNCIA<br />

Jó 38.1-41.34; Daniel 4.34, 35; Atos 2.22-24; Romanos 11.33-36<br />

2<br />

0<br />

A maior cidade de Rhode Island [um estado americano] chama-se Providência. Existe<br />

algo de extraordinário neste nome. Ele chama a nossa atenção para a grande lacuna na<br />

maneira de pensar entre as gerações passadas e a nossa sociedade atual. Quem iria chamar<br />

uma cidade de Providência, hoje em dia? A própria palavra soa arcaica e fora de moda.<br />

Quando leio os escritos de cristãos de séculos atrás, fico surpreso com a enorme<br />

quantidade de referências à providência de Deus. É como se antes do século XX os cristãos<br />

fossem muito mais conscientes e sensíveis para com a providência de Deus em sua vida. O<br />

espírito do naturalismo, que interpreta todos os eventos na natureza como sendo governados<br />

por forças independentes, causou um impacto em nossa geração.<br />

O significado fundamental da palavra providência é "ver antes ou com antecedência", ou<br />

"prover algo para". Com tais sentidos, a palavra fica longe de conseguir cobrir o profundo<br />

significado da doutrina da providência, a qual significa muito mais do que Deus ser um<br />

espectador dos eventos humanos. Contém muito mais do que uma mera referência à<br />

presciência de Deus.<br />

A Confissão de Fé de Westminster, feita no século XVII, definia providência da seguinte<br />

maneira:<br />

"Pela mui sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável<br />

conselho de sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da<br />

glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e<br />

governa todas as criaturas, todas a ações delas e todas as coisas, desde a maior até à menor."<br />

(Cap. VI)<br />

Aquilo que Deus cria, ele também sustenta. O universo não só depende de Deus para<br />

sua origem, mas depende dele também para continuar existindo. O universo não pode existir<br />

nem operar por seu próprio poder. Deus sustenta todas as coisas por seu poder. Nele nós<br />

vivemos, nos movemos e existimos.<br />

O ponto central da doutrina da providência é a ênfase no governo de Deus sobre o<br />

universo. Ele governa sua criação com absoluta soberania e autoridade. Ele governa tudo<br />

aquilo que acontece, desde os maiores eventos até os menores. Nada jamais acontece além do<br />

âmbito do seu governo soberano e providencial. Ele faz a chuva cair e o sol brilhar. Levanta e<br />

derruba reinos. Ele conta os cabelos da nossa cabeça e os dias da nossa vida.<br />

Existe uma diferença fundamental entre a providência de Deus e fortuna, destino ou<br />

sorte. A chave para esta diferença está no caráter pessoal de Deus. A fortuna é cega, enquanto<br />

Deus vê todas as coisas. O destino é impessoal enquanto Deus é nosso Pai. A sorte é muda<br />

enquanto Deus pode falar. Não existem forças cegas e impessoais operando na história<br />

humana. Tudo se passa por meio da mão invisível da providência de Deus.<br />

Num universo governado por Deus não existem eventos casuais. De fato, não existe algo<br />

como acaso. O acaso não existe. Não passa de uma palavra que usamos para descrever<br />

possibilidades matemáticas, mas que não tem nenhum poder em si, porque não tem<br />

existência. O acaso não é uma entidade capaz de influenciar a realidade. Acaso não é algo<br />

real. Não é nada.<br />

Outro aspecto da providência chama-se concorrência. Concorrência refere-se às ações<br />

conjuntas de Deus e seres humanos Somos criaturas com vontade própria. Fazemos coisas<br />

1


acontecerem. Mesmo assim, o poder causal que exercemos é secundário A soberana<br />

providência de Deus está acima e além das nossas ações. Ele opera sua vontade por meio das<br />

ações da vontade humana, sem violar a liberdade dessa vontade humana. O exemplo mais<br />

claro de concorrência encontrado nas Escrituras é o caso de José e seus irmãos. Apesar de os<br />

irmãos de José serem verdadeiramente culpados pela traição que fizeram contra ele, a<br />

providência de Deus estava operando até mesmo através do pecado deles. José disse aos<br />

irmãos: "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para<br />

fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida" (Gn 50.20)<br />

A providência redentora de Deus pode operar através das ações mais diabólicas. A pior<br />

ofensa que já foi cometida por um ser humano foi a traição de Jesus Cristo" por Judas<br />

Iscariotes. Mesmo assim, a morte de Cristo não foi um acidente na História. Aconteceu de<br />

acordo com o conselho determinado por Deus. O ato de perversidade de Judas ajudou a<br />

promover a melhor coisa que já aconteceu na História, a Expiação. Não é fortuito quando nos<br />

referimos àquele dia histórico como sexta-feira "santa".<br />

Sumário<br />

1. O conceito da providência divina geralmente não é entendido em nossos dias.<br />

2. A providência inclui a obra de Deus em sustentar sua criação.<br />

3. A providência se refere principalmente ao governo de Deus sobre a criação.<br />

4. À luz da providência divina, não existem forças impessoais tais como fortuna, destino<br />

ou acaso.<br />

5. A providência inclui a concorrência, por meio da qual Deus opera sua vontade divina<br />

por intermédio da vontade de suas criaturas.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Qual é o ponto central da doutrina da providência?<br />

2.Qual é a diferença entre providência e destino?<br />

3.Qual é o sentido do termo "concorrência"?<br />

4.De que modo a vida moderna tem obscurecido a nossa visão acerca da providência de<br />

Deus?<br />

5.Se Deus está sustentando a sua criação, conforme ensina a doutrina da providência,<br />

como explicar o fato da ciência estar descobrindo que o universo se decompõe ao longo dos<br />

milênios (como o sol, por exemplo, que é uma estrela em combustão, consumindo o seu gás<br />

que um dia irá acabar). Há um conflito entre a fé a ciência aqui?<br />

6.Existe algum conflito entre a doutrina da providência divina e a responsabilidade<br />

humana pelos seus atos? Sim, não, por quê?<br />

7.A doutrina da providência não pode nos levar a pensar que somos uns robôs? Como é<br />

que podemos conciliar os dois aspectos?<br />

8.Que diferença faz a doutrina da providência em nosso viver diário? Como podemos<br />

mudar nossa maneira de encarar as coisas que acontecem, e aquelas que deixam de<br />

acontecer, por estarmos mais conscientes da providência de Deus sobre nós?<br />

1


OS MILAGRES<br />

Êxodo 4.1-9; 1 Reis 17.21-24; João 2.11; Hebreus 2.1-4<br />

2<br />

1<br />

Às vezes, quando jogo golfe com os amigos, na minha vez de jogar (que geralmente é<br />

marcada por um grande número de bolas dentro d'água) eu acerto uma boa tacada, fazendo a<br />

bola atravessar por cima de um lago e cair na terra firme do outro lado. Por eu ser pastor, tal<br />

proeza é recebida pelos amigos com sobrancelhas erguidas e a expressão: “É um milagre!”<br />

Qualquer criança sabe que não é preciso um milagre para atirar uma pedra por cima de um<br />

lago. Também não é preciso um milagre para fazer uma bolinha de golfe atravessar por cima<br />

da água. Desde que a bola tenha a velocidade adequada e esteja na direção certa, a questão é<br />

simples.<br />

O termo milagre tende a ser usado levianamente hoje em dia. Um gol no futebol, uma<br />

situação em que se escapa "por um triz", ou a beleza de um pôr-do-sol são rotineiramente<br />

chamados de milagres. Entretanto, a palavra milagre pode ser usada de três maneiras<br />

distintas. A primeira descreve eventos comuns, mas que são impressionantes. Falamos sobre<br />

o nascimento de um bebê, por exemplo, como um milagre. Ao fazer isso, glorificamos a Deus<br />

pela complexidade e pela beleza da criação. Ficamos maravilhados diante da majestade do<br />

cosmos, quando Deus opera por intermédio dos meios secundários das leis naturais, as quais<br />

são também criação dele. Aqui o termo milagre refere-se às coisas comuns que apontam para<br />

uma causa incomum no poder de Deus.<br />

A segunda maneira em que podemos usar o termo milagre é similar à primeira.<br />

Freqüentemente, nas Escrituras, lemos sobre Deus operando por meios secundários num<br />

tempo e lugar mais específicos. A estrela de Belém, por exemplo, talvez tivesse uma causa<br />

natural e científica. O extraordinário alinhamento de um grupo de estrelas, ou uma fase da<br />

lua poderiam explicar seu intenso brilho Considerar essas possibilidades, entretanto, não<br />

torna o evento menos miraculoso. A luz espalhou seu brilho no momento do nascimento de<br />

Cristo. Mostrou o caminho de Belém aos magos. A estrela então era um milagre por ter<br />

ocorrido no tempo e no lugar certos. Tal milagre glorifica a Deus pela maneira como ele tece a<br />

tapeçaria da História de tal maneira que o evento ocorreu no momento exato, de uma maneira<br />

miraculosa.<br />

Terceiro, milagres referem-se a atos de Deus contrariando o que é natural Este é o uso<br />

mais técnico do termo. Jesus transformando água em vinho ouressuscitando Lázaro dentre os<br />

mortos são exemplos de Deus operando contra suas leis da natureza. Pode não haver<br />

nenhuma explicação natural para tais eventos. Servem para validar Cristo como o divino Filho<br />

de Deus.<br />

A Bíblia utiliza várias palavras para definir o conceito contido na simples palavra milagre. A Bíblia<br />

fala de sinais, maravilhas e prodígios. Em seu senso mais restrito, ligamos milagre à palavra bíblica<br />

sinal. Milagres são chamados de sinais porque, como todos os sinais, eles apontam, para além de si<br />

mesmos, para algo mais significativo. Deus usou os milagres para provar ou atestar seus agentes da<br />

1


evelação divina (Hb 2.3,4). Deus deu poder a Moisés para realizar milagres a fim de demonstrar que o<br />

tinha enviado. Da mesma maneira, o Pai autenticou o ministério do Filho por meio dos sinais que ele<br />

operou<br />

Atualmente existem três perspectivas diferentes de milagre. A primeira é a visão cética que nega<br />

que os milagres possam ocorrer. A segunda visão argumenta que os milagres aconteceram nos tempos<br />

bíblicos e continuam a acontecer hoje. A terceira visão é a que os verdadeiros milagres aconteceram na<br />

Bíblia, mas que Deus cessou de operar milagres uma vez que a revelação foi estabelecida nas<br />

Escrituras. Essa visão sustenta que Deus ainda opera no mundo de maneira sobrenatural, mas não<br />

concede mais poderes de operar milagres a seres humanos.<br />

Sumário<br />

1. A Bíblia fala sobre sinais, prodígios e maravilhas.<br />

2. A Bíblia registra diferentes tipos de milagres.<br />

3. Todo milagre é um evento sobrenatural, mas nem todo evento sobrenatural constitui um<br />

milagre.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Quais são os três sentidos em que a palavra milagre pode ser usada?<br />

2. Para que serviram os milagres operados por Jesus?<br />

3.Quais são os três pontos de vista atuais sobre os milagres?<br />

4.O novo nascimento, operado pelo Espírito Santo no coração de todo aquele que crê, poderia ser<br />

considerado um milagre? Por quê?<br />

5.Existe nos dias de hoje uma busca intensa pelos milagres. O que isto revela em termos de<br />

doutrina bíblica? Essas pessoas estão realmente buscando a Deus?<br />

6. E errado orarmos pedindo que Deus faça um milagre na nossa vida, ou na vida de outras<br />

pessoas (como uma cura, por exemplo)?<br />

A VONTADE DE DEUS<br />

João 19.11; Romanos 9.14-18; Efésios 1.11; Colossenses 1.9-14; Hebreus 6.13-18;<br />

A atriz Doris Day cantava uma canção popular cujo título era "Que será, será" ("O que<br />

tiver que ser, será"). A primeira vista, este tema transmite uma espécie de fatalismo<br />

deprimente A teologia do islamismo geralmente se refere a eventos específicos como "era a<br />

vontade de Alá".<br />

A Bíblia tem um profundo interesse na vontade de Deus—sua autoridade soberana sobre<br />

a criação e tudo nela. Quando falamos sobre a vontade de Deus, fazemos isso pelo menos de<br />

três maneiras diferentes O conceito mais amplo é conhecido como a vontade decretiva,<br />

soberana ou oculta de Deus. Por meio desta definição, os teólogos referem-se à vontade de<br />

Deus por intermédio da qual ele ordena soberanamente tudo o que acontece. Porque Deus é<br />

soberano e sua vontade nunca pode ser frustrada, podemos ter certeza de que nada acontece<br />

que ele não esteja no controle. Ele pelo menos tem de "permitir" seja o que for que vá<br />

acontecer. Mesmo quando Deus permite passivamente que algo aconteça, Eledecide permitir,<br />

de maneira que sempre tem o poder e o direito de intervir e evitar a ocorrência das ações e os<br />

eventos neste mundo. Desde que ele permita que as coisas aconteçam, num certo sentido elas<br />

acontecem de acordo com' 'sua vontade''.<br />

Embora a vontade soberana de Deus freqüentemente fique oculta de nós até que os<br />

eventos aconteçam, existe um aspecto da sua vontade que é claro para nós — sua vontade<br />

preceptiva. Aqui Deus revela sua vontade por meio da sua Lei santa. Por exemplo, é a vontade<br />

de Deus que não roubemos; que amemos nossos inimigos; que nos arrependamos; que<br />

sejamos santos. Esse aspecto da vontade de Deus é revelado em sua Palavra bem como em<br />

nossa consciência, por meio da qual Deus escreveu sua lei moral em nosso coração.<br />

Suas leis, quer se encontrem na Bíblia ou em nosso coração, são obrigatórias. Não temos<br />

autoridade para violar esta vontade Temos o poder ou a capacidade de obstruir a vontade<br />

preceptiva de Deus, embora nunca tenhamos o direito de fazê-lo. Tampouco podemos<br />

justificar nosso pecado, dizendo: "O que será, será". Pode ser a soberania de Deus ou sua<br />

vontade soberana que nos "permite" pecar, quando ele faz sua vontade soberana acontecer por<br />

intermédio das ações pecaminosas das pessoas. Deus determinou que Jesus fosse traído pela<br />

2<br />

2<br />

1


instrumentalidade da traição de Judas Mas isso não tornou seu pecado menosvil e desleal.<br />

Quando Deus "permite" que violemos sua vontade preceptiva, isso não deve ser entendido<br />

como uma permissão no sentido moral de conceder-nosele um direito moral. Sua permissão<br />

nos dá o poder para pecar, mas não o direito de fazê-lo.<br />

A terceira maneira pela qual a Bíblia fala sobre a vontade de Deus refere-se à vontade<br />

dispositiva de Deus. Essa vontade descreve a atitude de Deus. Ela define o que lhe é agradável.<br />

Por exemplo, Deus não tem prazer na morte do ímpio, ainda que certamente queira ou decrete<br />

a morte do ímpio O prazer supremo de Deus está em sua própria santidade e justiça Quando<br />

julga o mundo, ele tem prazer na defesa da sua própria justiça e integridade, embora não<br />

fique feliz, no sentido de ter prazer, na vingança contra aqueles que recebem seu juízo. Deus<br />

alegra-se quando nós encontramos nosso prazer na obediência, Ele se entristece<br />

profundamente quando somos desobedientes.<br />

Muitos cristãos ficam preocupados ou mesmo obcecados em descobrir "a vontade" de<br />

Deus para sua vida. Se a vontade que estamos buscando é sua vontade secreta, oculta e<br />

decretiva, então nossa busca será inútil. O conselho secreto de Deus é seu segredo. Ele não<br />

tem prazer em nos revelar isso. Longe de ser um sinal de espiritualidade, a busca pela vontade<br />

secreta de Deus é uma invasão injustificável de sua privacidade. O conselho secreto de Deus<br />

não é de nossa conta. Essa é a razão parcial por que a Bíblia tem uma visão tão negativa da<br />

cartomancia, necromancia e outras formas de práticas proibidas.<br />

Seríamos sábios em seguir o conselho de João Calvino, ele disse: "Quando Deus fecha<br />

seus santos lábios, eu desisto de inquirir". O verdadeiro sinal de espiritualidade é visto<br />

naqueles que buscam conhecer a vontade de Deus que é revelada em sua vontade preceptiva.<br />

Esta é aquela pessoa piedosa que medita na lei do Senhor dia e noite. Enquanto buscamos ser<br />

"guiados" pelo Espírito Santo, é vital que tenhamos em mente que o Espírito Santo<br />

primeiramente quer nos guiar na justiça. Somos chamados para viver nossa vida por meio de<br />

toda palavra que sai da boca de Deus. Sua vontade revelada é de nossa conta; na verdade,<br />

deve ser o assunto principal em nossa vida.<br />

Sumário<br />

1. Os três significados da vontade de Deus:<br />

(a) A Vontade soberana decretiva é a vontade pela qual Deus faz com que tudo o que<br />

decreta aconteça. Ela é oculta de nós até que aconteça.<br />

(b) A Vontade preceptiva é a lei revelada de Deus, ou seus mandamentos, os quais temos<br />

o poder, mas não o direito de violar.<br />

(c) A Vontade dispositiva descreve a atitude ou a disposição de Deus. Ela revela o que o<br />

agrada.<br />

2. A “permissão” soberana de Deus para o pecado humano não equivale à aprovação<br />

moral.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.O que quer dizer o termo “vontade decretiva” de Deus?<br />

2.O que significa a vontade preceptiva de Deus?<br />

3.Quais são as implicações da vontade dispositiva de Deus?<br />

4.Descobrir a vontade de Deus para nossa vida pode ser algo conseguido apenas com a<br />

Bíblia ou são necessários outros recursos e ajudas para isso?<br />

5.Quando pecamos, agimos contra a vontade de Deus, embora ele tenha permitido que o<br />

façamos. Por que Deus não nos impede de pecar de uma vez por todas?<br />

6.Quando alguém diz "Eu não sei o que Deus quer de mim", ele está revelando<br />

desconhecer a Palavra de Deus, a vontade revelada para nós. Mas onde descobrir a vontade de<br />

Deus para assuntos específicos da nossa vida como decisões sobre um novo emprego,<br />

matrimônio, se devemos aceitar uma proposta de mudança de cidade, escolha de profissão<br />

etc?<br />

7.Que auxílio temos para saber se a nossa vida está agradando a Deus, ou não?<br />

1


A ALIANÇA<br />

Gênesis 15; Êxodo 20; Jeremias 31.31-34; Lucas 22.20; Hebreus 8; Hebreus 13.20, 21<br />

2<br />

3<br />

A estrutura básica do relacionamento que Deus estabeleceu com seu povo é a aliança.<br />

Uma aliança é geralmente entendida como um contrato. Embora certamente existam algumas<br />

similaridades entre alianças e contratos, existem também algumas diferenças muito<br />

importantes. Ambos são acordos obrigatórios. Contratos são feitos a partir de posições de<br />

barganha relativamente iguais e ambas as partes têm liberdade de não assinar.<br />

Semelhantemente, a aliança também é um acordo. Na Bíblia, porém, as alianças geralmente<br />

não são entre iguais. Antes, seguem o padrão comum do antigo Oriente Médio, dos tratados<br />

entre suseranos e vassalos. Os tratados entre suseranos e vassalos (como visto entre os reis<br />

hititas) eram firmados entre um rei vencedor e o vencido. Não havia negociação entre as<br />

partes.<br />

O primeiro elemento dessas alianças bíblicas é o preâmbulo, o qual relaciona as<br />

respectivas partes. Êxodo 20.2 começa com a frase: "£« sou o Senhor, teu Deus ". Deus é o<br />

suserano; o povo de Israel é o vassalo. O segundo elemento é o prólogo histórico. Esta seção<br />

relaciona o que o suserano (ou Senhor) fez para merecer a lealdade — como livrou os israelitas<br />

da escravidão do Egito. Em termos teológicos, esta é a seção da graça.<br />

Na seção seguinte, o Senhor relaciona o que ele requer daqueles sobre quem governa.<br />

Em Êxodo 20, são os Dez Mandamentos. Cada um dos mandamentos era considerado um<br />

compromisso moral sobre toda a comunidade da aliança.<br />

A parte final desse tipo de aliança relaciona as bênçãos e as maldições. O Senhor faz uma lista<br />

dos benefícios que concederá aos vassalos se eles seguirem as estipulações da aliança. Um exemplo<br />

1


disso se encontra no quinto mandamento. Deus promete aos israelitas que seus dias seriam longos na<br />

Terra Prometida, se honrassem os pais. A aliança também apresenta maldições que sobreviriam se o<br />

povo não cumprisse com suas responsabilidades. Deus adverte Israel que não os considerava como<br />

inocentes se falhassem em honrar seu nome. Esse padrão básico fica evidente nas alianças de Deus<br />

com Adão, Noé, Abraão, Moisés e a aliança de Jesus Cristo com sua Igreja.<br />

Nos tempos bíblicos, as alianças eram ratificadas com sangue. Era costume que ambas as partes<br />

que estavam entrando em aliança passassem entre aspartes de um animal esquartejado, representando<br />

assim sua concordância com os termos da aliança (ver Jr 34.18). Temos um exemplo desse tipo de<br />

aliança em Gênesis 15.7-21. Nesse texto, Deus fez certas promessas a Abraão, as quais foram<br />

ratificadas por meio do sacrifício de animais. Nesse caso, porém, somente Deus passou entre as partes<br />

dos animais, indicando por meio de um juramento solene que estava se comprometendo a cumprir a<br />

aliança.<br />

A nova aliança, a aliança da graça, foi ratificada pelo derramamento do sangue de Cristo na cruz.<br />

No âmago desta aliança está a promessa divina de redenção. Deus não só prometeu redimir todo aquele<br />

que põe sua confiança em Cristo, mas selou e confirmou a promessa com o mais santo dos votos.<br />

Servimos e adoramos um Deus que se comprometeu para a nossa completa redenção.<br />

Sumário<br />

Elementos de uma aliança:<br />

1. Preâmbulo: identifica o soberano.<br />

2. Prólogo histórico: recapitula a história do relacionamento entre as partes.<br />

3. Estipulações: relaciona as condições da aliança.<br />

4. Juramentos/Votos: as promessas que obrigam as partes aos termos.<br />

5. Sanções: as bênçãos e as maldições (recompensas e punições) estipuladas para a obediência ou<br />

a violação da aliança.<br />

6. Ratificação: o selo da aliança por meio de sangue, isto é, o sacrifício de animais, e depois a<br />

morte de Cristo.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Qual é a diferença entre contrato e pacto ou aliança?<br />

2.Quais são as partes existentes num pacto ou aliança?<br />

3.Se nos tempos bíblicos os pactos eram ratificados com sangue, por que só Deus passou entre os<br />

animais sacrificados quando Ele fez certas promessas a Abraão (Gn 15.7-21)?<br />

4.Existe alguma possibilidade de Deus falhar no cumprimento de sua aliança com o seu povo?<br />

5.Qual é a nossa parte na aliança que Deus fez conosco? Há possibilidade de não cumprirmos<br />

este acordo?<br />

6.Se Deus é fiel à sua aliança, e nós somos infiéis, Deus não corre o risco de ver o seu plano de<br />

salvação frustado pela nossa incapacidade de permanecermos fiéis ao pacto que fez conosco em/Cristo<br />

Jesus? Ou fez Deus algo mais para garantir a nossa perseverança na fé?<br />

7.Em que a compreensão do pacto afeta a nossa vida cristã diária?<br />

A ALIANÇA DAS OBRAS<br />

Gênesis 2.17; Romanos 3.20-26; Romanos 10.5-13; Gálatas 3.10-14<br />

Quando Adão e Eva foram criados, entraram num relacionamento moral com Deus, seu<br />

Criador. Tinham a responsabilidade de obedecê-lo, sem nenhum direito inerente a<br />

recompensa ou bênção por tal obediência. Deus, entretanto, em seu amor, misericórdia e<br />

graça, voluntariamente entrou numa aliança com suas criaturas pela qual adicionou à sua lei<br />

uma promessa de bênção. Não se tratava de uma aliança entre partes iguais, mas de uma<br />

aliança que descansava sobre a iniciativa de Deus e sua autoridade divina.<br />

A aliança original entre Deus e a humanidade foi uma aliança de obras. Nesta aliança,<br />

Deus exigiu obediência perfeita e total ao seu governo. Prometeu vida eterna como bênção pela<br />

obediência, mas ameaçou a humanidade com a morte, caso desobedecessem sua lei. Todos os<br />

seres humanos, de Adão até nós, no tempo presente, inevitavelmente são membros dessa<br />

aliança. As pessoas podem recusar-se a obedecer ou até mesmo recusar-se a reconhecer a<br />

existência de tal aliança, mas nunca poderão escapar dela. Todo ser humano se acha em<br />

relacionamento de aliança com Deus, seja como violador da aliança ou como guardador da<br />

aliança. A aliança das obras é a base da nossa necessidade de redenção (porque nós a<br />

violamos) e nossa esperança de redenção (porque Cristo cumpriu seus termos por nós).<br />

2<br />

4<br />

1


Um único pecado já é suficiente para violar a aliança das obras e nos tornar devedores<br />

que não podem pagar a própria dívida para com Deus. O fato de que ainda tenhamos<br />

esperança de redenção, mesmo depois de pecar, ainda que seja um único pecado, é devido à<br />

graça de Deus e somente à graça de Deus.<br />

As recompensas que receberemos de Deus no céu também são atos de graça.<br />

Representam Deus coroando seus próprios dons de graça. Se Adão tivesse obedecido a aliança<br />

divina das obras, ele teria alcançado o mérito que procede da virtude de cumprir os requisitos<br />

da aliança com Deus. Adão caiu em pecado e por isso Deus, em sua misericórdia, acrescentou<br />

uma nova aliança com base na graça pela qual a salvação tornou-se possível e disponível.<br />

Somente um ser humano conseguiu guardar a aliança das obras. Essa pessoa foi Jesus.<br />

Sua ação, como segundo ou novo Adão, satisfez todos os termos da nossa aliança original com<br />

Deus. Seu mérito em alcançar isso está disponível a quem puser sua confiança nele.<br />

Jesus é a primeira pessoa a entrar no céu por suas boas obras. Nós também entramos<br />

no céu pelas boas obras — as boas obras de Jesus. Elas se tornam "nossas" boas obras<br />

quando nós recebemos Cristo pela fé. Quando depositamos nossa fé em Cristo, Deus credita<br />

as boas obras dele em nossa conta. A aliança da graça cumpre a aliança das obras porque<br />

Deus graciosamente aplica o mérito de Cristo em nossa conta. Desta maneira, pela graça<br />

satisfazemos os termos estabelecidos na aliança das obras.<br />

Sumário<br />

1. Deus entrou numa aliança de obras com Adão e Eva.<br />

2. Todo ser humano está inevitavelmente envolvido na aliança divina das obras.<br />

3. Todo ser humano é violador da aliança das obras.<br />

4. Jesus cumpriu a aliança das obras.<br />

5. A aliança da graça nos proporciona os méritos de Cristo, pelos quais os termos da<br />

aliança das obras são satisfeitos.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.No que consistia a aliança ou pacto das obras?<br />

2.Por que Deus estabeleceu o pacto da graça após o pacto das obras?<br />

3."Nós também entramos no céu pelas boas obras — as boas obras de Jesus." Explique<br />

esta frase.<br />

4.Que conseqüência direta a quebra do pacto das obras, por Adão e Eva, trouxe sobre o<br />

nosso viver diário?<br />

5.Como exatamente podemos ver manifestações da justiça de Cristo imputada sobre<br />

aqueles que crêem nele? Isso modifica o viver diário de alguma forma?<br />

6.Podemos fazer algo que possa nos dar o direito à vida eterna, mesmo estando debaixo<br />

do pacto da graça? Então, por que existe a necessidade de obedecermos a vontade de Deus?<br />

7.Que conseqüências práticas podemos perceber em nossa vida pelo fato de Cristo ter<br />

cumprido cabalmente as exigências da aliança das obras?<br />

PARTE<br />

IV<br />

1


A DIVINDADE DE CRISTO 2 5<br />

Marcos 2.28; João 1.1-14; João 8.58; João 20.28; Filipenses 2.9-11; Colossenses 1.19<br />

Para ser cristão, é indispensável ter fé na divindade de Cristo. Esta é uma parte essencial<br />

do Evangelho de Cristo no Novo Testamento. Mesmo assim, em todos os séculos, a Igreja tem<br />

sido obrigada a lidar com pessoas que alegam ser cristãs e ao mesmo tempo negam ou<br />

distorcem a divindade de Cristo.<br />

Na história da Igreja houve quatro séculos durante os quais a confissão da divindade de<br />

Cristo foi uma questão crucial e polêmica dentro da Igreja. Foram os séculos IV, V, XIX e XX.<br />

Visto estarmos vivendo num século em que as heresias estão assaltando a Igreja, urge que a<br />

confissão da divindade de Cristo seja resguardada.<br />

1


No Concilio de Nicéia, no ano 325 d.C, a Igreja, em oposição à heresia Ariana, declarou<br />

que Jesus é gerado e não criado, e que sua natureza divina é da mesma essência {homo<br />

ousios) que a do Pai. Essa afirmação declarou que a segunda pessoa da Trindade é uma em<br />

essência com Deus o Pai. Quer dizer, o "ser" de Cristo é o ser de Deus. Ele não é simplesmente<br />

semelhante à Deidade — ele é a Deidade.<br />

A confissão da divindade de Cristo é extraída do testemunho multiforme do Novo<br />

Testamento. Como o Verbo Encarnado, Cristo é revelado como sendo não só preexistente em<br />

relação à criação, mas também eterno. A Bíblia diz que ele estava no princípio com Deus e<br />

também que ele é Deus (Jó 1.1 -3). O fato de ele estar com Deus exige uma distinção pessoal<br />

dentro na Deidade. O fato de ser Deus exige sua inclusão na Deidade.<br />

Em outros textos, o Novo Testamento atribui a Jesus termos e títulos claramente divinos.<br />

Deus concedeu-lhe o preeminente título divino de Senhor (Fp 2.9-11). Como o Filho do<br />

Homem, Jesus reivindica ser o Senhor do sábado (Mc 2.28) e ter autoridade para perdoar<br />

pecados (Mc 2.1 -12). Ele é chamado o "Senhor da glória" (Tg 2.1) e recebeu adoração de bom<br />

grado, quando Tome confessou: "Senhor meu e Deus meu!" (Jó 20.28).<br />

Paulo declara que a plenitude da Deidade habita em Cristo corporalmente (Cl 1.19), e<br />

que Jesus é superior aos anjos, tema este reiterado no livro aos Hebreus. Adorar um anjo, ou<br />

qualquer outra criatura, não importa quão exaltada ela seja, é violar a proibição bíblica contra<br />

a idolatria. A expressão "Eu sou" repetida no Evangelho de João também testifica sobre a<br />

identificação de Jesus Cristo com a Deidade.<br />

No século V, o Concilio de Calcedônia (451 d.C.) afirmou que Jesus era verdadeiramente<br />

homem e verdadeiramente Deus. O concilio declarou que as duas naturezas de Jesus,<br />

humana e divina, eram sem mistura, confusão, separação ou divisão.<br />

Sumário<br />

1. A divindade de Cristo é uma doutrina essencial do cristianismo.<br />

2. A Igreja enfrentou crises causadas por heresias concernentes à divindade de Cristo<br />

nos séculos IV, V, XIX e XX.<br />

3. O Concilio de Nicéia (325 d.C.) afirmou a divindade de Cristo, declarando que ele é da<br />

mesma substância ou essência que o Pai, e que ele não era um ser criado.<br />

4.0 Novo Testamento afirma claramente a divindade de Cristo. 5. O Concilio de<br />

Calcedônia (451 d.C.) declarou que Jesus era verdadeiramente Deus.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.O que o Concilio de Nicéia afirmou sobre a divindade de Cristo?<br />

2.O que quer dizer a frase: O Verbo estava no princípio com Deus, e o Verbo era Deus?<br />

(Jó 1.1-3)<br />

3.Quais são algumas evidências bíblicas da divindade de Cristo?<br />

4.Se Jesus Cristo é Deus, da mesma essência que o Pai, podemos reunir-nos para adorálo<br />

em nossos atos de culto?<br />

5.Que conseqüências há para a vida do cristão o fato de não aceitar a divindade de<br />

Cristo? Isso implicaria no modo de ele crer?<br />

6.O conceito da divindade de Cristo não o coloca numa posição muito distante de nós,<br />

seus discípulos, a quem ele chama de amigos? Por quê?<br />

A SUBORDINAÇÃO DE CRISTO 2 6<br />

João 4.34; João 5.30; Filipenses 2.5-8; Hebreus 5.8-10; Hebreus 10.5-10<br />

O que é um subordinado? Em nosso idioma, é claro que ser subordinado a alguém é estar<br />

'"abaixo" de sua autoridade. Um subordinado não está no mesmo escalão; não está no mesmo nível de<br />

autoridade que seu superior. O prefixo sub significa "sob", e super significa "sobre" ou "acima".<br />

Quando falamos da subordinação de Cristo, temos de fazê-lo com grande cuidado. Nossa cultura<br />

relaciona subordinação com inferiorização. Na Trindade, porém, todos os membros são iguais em<br />

natureza, em honra e em glória. Todos os três membros são eternos e auto-existentes; todos<br />

1


compartilham todos os aspectos e atributos da deidade.<br />

No plano redentivo de Deus, entretanto, o Filho voluntariamente assume um papel de<br />

subordinação ao Pai. É o Pai quem envia o Filho ao mundo. O Filho obedientemente vem à Terra para<br />

fazer a vontade do Pai. Temos de ter cuidado, porém, para perceber que não há nenhum senso de<br />

obediência relutante. Assim como são o mesmo em glória, o Pai e o Filho também são um na vontade. O<br />

Pai deseja a redenção tanto quanto o Filho. O Filho almeja realizar a obra de salvação, assim como o Pai<br />

almeja que ele o faça. Jesus declarou que era consumido de zelo pela casa de seu Pai (Jó 2.17) e que<br />

sua comida e bebida era fazer a vontade do Pai (Jó 4.34).<br />

Finalmente, devemos observar que a subordinação e a obediência de Cristo não foram<br />

demonstradas apenas em meio ao sofrimento. O plano incluía todos os aspectos da obra de Cristo por<br />

nós e sua glorificação final. A Confissão de Westminster explica a inter-relação do propósito do Pai e a<br />

obra de Cristo:<br />

Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu unigênito<br />

Filho, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e<br />

Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo: e deu-lhe desde<br />

toda a eternidade um povo, para ser sua semente e para no devido tempo ser por ele remido,<br />

chamado, justificado, santificado e glorificado. (VIII) Ao submeter-se à perfeita vontade do<br />

Pai, Jesus fez por nós aquilo que não estávamos dispostos a fazer e éramos incapazes de<br />

fazer por nós mesmos: obedeceu perfeitamente à Lei de Deus. Em seu batismo, Jesus disse<br />

a João Batista: “Assim nos convém cumprir toda a justiça”(Mt 3.15). Toda a vida e o<br />

ministério de Jesus demonstraram sua perfeita obediência.<br />

Ao obedecer perfeitamente à Lei, Jesus cumpriu duas coisas vitais e importantíssimas. Por um<br />

lado, qualificou-se para ser nosso Redentor, o Cordeiro sem mácula. Se tivesse pecado, ele não poderia<br />

fazer expiação pelo seu próprio pecado, muito menos pelos nossos. Segundo, por meio de sua<br />

obediência perfeita, ele mereceu as recompensas que Deus prometera a todo aquele que guardasse sua<br />

aliança. Jesus mereceu as recompensas celestiais, as quais concedeu a nós Corno o subordinado,<br />

Jesus salvou um povo que tinha sido insubordinado.<br />

PAI = FILHO<br />

Iguais no ser enos atributos eternos<br />

Sumário<br />

1. Embora Cristo seja igual ao Pai em termos de natureza divina, é subordinado ao Pai em seu<br />

papel na Redenção.<br />

2. Subordinação não significa "inferioridade".<br />

3. A subordinação de Cristo é voluntária.<br />

4. A obediência perfeita de Cristo o qualificou para carregar os pecados do seu povo e para<br />

merecer as recompensas celestiais prometidas aos remidos.<br />

PAI<br />

O Filho se subordina na obra da Redenção<br />

FILHO<br />

Para avaliação e discussão<br />

1.Por que a submissão de Cristo ao Pai não significa inferioridade?<br />

2.Quais são as conseqüências de Cristo ter obedecido integralmente à lei?<br />

3.A submissão de Cristo ao Pai, sendo ambos iguais em essência e poder, serve de exemplo de<br />

vida para nós? Como?<br />

4.As recompensas que Jesus herdou por ter cumprido cabalmente a lei são estendidas a todos<br />

aqueles que estão unidos a ele pela fé. Podemos nós também repartir com outras pessoas as bênçãos<br />

que temos recebido do Pai?<br />

5.A submissão de Cristo pode ser expressa pela frase que ele usou em sua oração durante a<br />

agonia no Jardim do Getsêmani: "Pai, se possível passa de mim este cálice, mas não seja como eu<br />

quero, e sim como tu queres". Que exemplo podemos tirar disto para nossa vida de oração?<br />

6.A perfeita obediência de Cristo ao Pai foi voluntária. A sua morte também foi uma atitude voluntária de<br />

submissão do Filho ao Pai. Qual deve ser o grau de nossa submissão à vontade de Deus, e em quais<br />

circunstâncias?<br />

A HUMANIDADE DE CRISTO 2 7<br />

João 1.1-14; Gálatas 4.4; Filipenses 2.5-11; Hebreus 2.14-18; Hebreus 4.15<br />

Uma das doutrinas mais vitais do Cristianismo histórico é que o Deus Filho tomou uma<br />

verdadeira natureza humana. O grande Concilio de Calcedônia, no ano 451 da era cristã, afirmou que<br />

1


Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, e que suas duas naturezas são assim<br />

unidas, sem mistura, confusão, separação ou divisão, cada natureza retendo seus próprios atributos.<br />

A humanidade real de Jesus tem sido atacada principalmente em dois aspectos. A Igreja primitiva<br />

teve de lutar contra a heresia do docetismo, a qual ensinava que Jesus não tinha um corpo físico real ou<br />

uma verdadeira natureza humana. Essa doutrina argumentava que Jesus apenas "parecia" ter um<br />

corpo, mas na realidade ele era uma espécie de ser fantasmagórico. Justamente contra isso, João<br />

declarou veementemente que aquele que negasse que Jesus realmente se manifestou na carne era do<br />

Anticristo.<br />

A outra grande heresia que a Igreja rejeitou foi a heresia do monofisismo, a qual argumentava que<br />

Jesus não tinha duas naturezas, mas apenas uma. Essa natureza única não era totalmente divina nem<br />

totalmente humana, mas um misto de ambas. Essa natureza era chamada "teantrópica". A heresia do<br />

monofisismo defende uma natureza humana deificada ou uma natureza divina humanizada.<br />

Formas sutis de monofisismo têm ameaçado a Igreja em todas as gerações. A tendência segue na<br />

direção de permitir que a natureza humana seja engolfada pela natureza divina de tal maneira que as<br />

limitações reais da humanidade de Jesus são removidas.<br />

Temos de distinguir entre as duas naturezas de Jesus sem separá-las. Quando Jesus<br />

demonstrava fome, por exemplo, vemos isso como uma manifestação da natureza humana, não da<br />

divina. O que se diz sobre a natureza divina ou da natureza humana pode ser afirmado com relação à<br />

pessoa. Na cruz, por exemplo, Cristo, o Deus-homem, morreu. Isso, entretanto, não quer dizer que<br />

Deus morreu na cruz. Embora as duas naturezas permanecessem unidas depois da ascensão de Cristo,<br />

ainda temos de distinguir as naturezas, considerando o modo como ele está presente conosco. Com<br />

relação à sua natureza humana, Cristo não mais está presente conosco. Entretanto, em sua natureza<br />

divina, Cristo nunca está ausente de nós<br />

A humanidade de Cristo é como a nossa. Ele tornou-se homem "por nossa causa". Ele entrou em<br />

nossa situação para agir como nosso Redentor.<br />

Tornou-se nosso substituto, tomando sobre si nossos pecados, a fim de sofrer em nosso lugar. Ele<br />

também tornou-se nosso campeão, cumprindo a Lei de Deus em nosso favor.<br />

Na redenção, existe uma dupla mudança. Nossos pecados são atribuídos a Jesus. Sua justiça é<br />

atribuída a nós. Ele recebe o castigo merecido pela nossa humanidade imperfeita, enquanto nós<br />

recebemos a bênção por causa da sua humanidade perfeita. Em sua humanidade, Jesus tinha as<br />

mesmas limitações comuns a todos os seres humanos, exceto que ele era sem pecado. Em sua natureza<br />

humana, ele não era onisciente. Seu conhecimento, embora fosse acurado e exato, não era infinito.<br />

Havia coisas que ele não sabia, como por exemplo, o dia e a hora de sua volta à Terra. E claro que em<br />

sua natureza divina ele é onisciente e seu conhecimento é ilimitado.<br />

Como ser humano, Jesus estava restrito pelo tempo e espaço. Como todo ser humano, ele não<br />

podia estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Ele suava. Sentia fome. Chorava. Sofria dores. Ele<br />

era mortal, capaz de sofrer a morte. Em todos esses aspectos, Jesus era como nós<br />

Sumário<br />

1. Jesus tinha uma verdadeira natureza humana que estava perfeitamente unida àsua natureza<br />

divina.<br />

2 O docetismo dizia que Jesus não tinha um corpo físico real.<br />

3. A heresia do monofisismo envolve a deificação da natureza humana, de modo que a<br />

humanidade de Jesus é eclipsada pela sua divindade.<br />

4. A humanidade de Cristo é a base da sua identificação conosco.<br />

5. Jesus tomou nossos pecados sobre si e partilha conosco sua justiça.<br />

6. A natureza humana de Jesus tinha as limitações normais do ser humano, exceto que ele era<br />

sem pecado.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que era o docetismo? Qual religião aceita hoje seu ensino?<br />

2. Como se chama a heresia que ensinava que Jesus não tinha duas naturezas, mas apenas<br />

uma?<br />

3. Que manifestações da humanidade de Cristo podemos encontrar na Bíblia? E de sua<br />

divindade?<br />

4. Que conforto vem ao coração do crente fiel quando ele toma consciência de que Cristo sofreu<br />

tudo o que nós sofremos?<br />

5. É mais fácil seguir um líder, quando ele é igual a nós. Esta verdade se aplica ao nosso<br />

relacionamento de discipulado com Jesus? De que maneira?<br />

6. Que bênçãos nos advêm pelo fato de Cristo ter vivido uma humanidade perfeita, sem pecado?<br />

7. Nós temos condições de viver uma vida perfeita como a que Cristo viveu? Porquê?<br />

A IMPECABILIDADE DE CRISTO<br />

2<br />

1


Mateus 3.15; Romanos 5.18-21; 2 Coríntios 5.21; Hebreus 7.26; 1 Pedro 3.18<br />

8<br />

Quando falamos da impecabilidade de Cristo, geralmente estamos falando de sua<br />

humanidade. É desnecessário defender o caráter imaculado da divindade de Cristo, já que a<br />

divindade, de acordo com nossa definição, não pode e não comete pecado. A doutrina da<br />

impecabilidade de Cristo não tem sido alvo de controvérsias relevantes. Nem mesmo os<br />

hereges mais obtusos da História negaram esse aspecto da pessoa de Cristo.<br />

A impecabilidade de Cristo não serve meramente como exemplo para nós. É fundamental<br />

e necessária para nossa salvação. Se Cristo não tivesse sido "o Cordeiro sem mácula", ele não<br />

só não teria garantido a salvação de ninguém, mas ele próprio teria necessidade de um<br />

Salvador. A multidão de pecados que Cristo carregou sobre si na cruz requeria um sacrifício<br />

perfeito. Tal sacrifício tinha de ser feito por alguém que fosse isento de pecados.<br />

A impecabilidade de Cristo tinha aspectos negativos e positivos. Negativamente, Cristo foi<br />

completamente livre de qualquer transgressão. Jamais transgrediu qualquer uma das leis<br />

santas de Deus. Obedeceu escrupulosamente tudo aquilo que Deus ordenou. A despeito da<br />

sua impecabilidade, Cristo obedeceu também a lei dos judeus, submetendo-se à circuncisão,<br />

ao batismo e provavelmente até mesmo ao sistema de sacrifícios de animais. Positivamente,<br />

Cristo ansiava por obedecer à lei; estava comprometido em fazer a vontade de Pai. Foi dito<br />

sobre ele: "Ozelo da tua casa me consumirá " (Jó 2.17). Ele próprio disse que sua comida era<br />

fazer a vontade de seu Pai (Jó 4.34).<br />

Uma questão difícil concernente à impecabilidade de Cristo é mencionada em Hebreus 4.15: "não<br />

temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em<br />

todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado". Se Cristo foi tentado como nós somos, como<br />

poderia ter sido sem pecado? O problema fica ainda mais complicado quando lemos Tiago 1.14,15:<br />

"cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver<br />

concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte ".<br />

Tiago descreve um gênero de tentação que emana dos desejos pecaminosos em nosso interior.<br />

Esses desejos já são de natureza pecaminosa. Se Jesus foi tentado como somos, pareceria indicar que<br />

ele tinha desejos pecaminosos.<br />

Entretanto, esse é precisamente o ponto da frase, "mas sem pecado", do texto de Hebreus. Jesus<br />

tinha desejos. Contudo, não tinha desejos pecaminosos. Quando foi tentado por Satanás, o ataque veio<br />

de fora. Era uma tentação externa. Satanás tentou seduzi-lo e fazê-lo comer durante seu período de<br />

jejum. Certamente Jesus tinha fome física, tinha desejo por comida. Contudo, não havia pecado algum<br />

em sentir fome. Naquilo em que era igual a todos os homens, Jesus queria comer. Contudo, Jesus não<br />

era igual em todas as coisas. Ele estava comprometido a obedecer à vontade do Pai. Não sentia nenhum<br />

desejo de pecar.<br />

Foi por meio da sua impecabilidade que Jesus se qualificou para ser o sacrifício perfeito por<br />

nossos pecados. Entretanto, nossa salvação requer dois aspectos da redenção. Não era só necessário<br />

que Cristo fosse nosso substituto e recebesse o castigo pelos nossos pecados; ele também tinha que<br />

cumprir perfeitamente a lei de Deus para assegurar o mérito necessário para que recebêssemos as<br />

bênçãos da aliança de Deus. Jesus não só morreu como o perfeito pelo imperfeito, o imaculado pelo<br />

pecaminoso, mas também viveu a vida de perfeita obediência exigida para nossa salvação.<br />

Sumário<br />

1. A impecabilidade de Cristo é necessária para nossa salvação.<br />

2. Jesus fez expiação como o Cordeiro sem mácula.<br />

3. Cristo não foi tentado por desejos pecaminosos.<br />

4. Por meio da sua perfeita obediência, Jesus adquiriu ajustiça (mérito) requerida para nossa<br />

salvação.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Por que a impecabilidade de Cristo é fundamental para nossa salvação?<br />

2.Qual a diferença entre os desejos que Cristo experimentou e os nossos desejos?<br />

3. Explique a frase: "Jesus não só morreu como o perfeito pelos imperfeitos..., mas ele viveu a vida<br />

de perfeita obediência requerida para a nossa salvação".<br />

4. Como podemos impedir que uma tentação se transforme em pecado?<br />

5. Cristo podia "não pecar". E nós, também temos a possibilidade de "não pecar"? Por quê?<br />

6. De que maneira a perfeição de Cristo serve para confirmar sua vida como exemplo para nós?<br />

7. Como encaramos o desafio de uma vida de santidade, diante de realidades como as relatadas<br />

em Marcos 7.20-23?<br />

1


O NASCIMENTO VIRGINAL<br />

Isaías 7.10-16; Mateus 1.23; Romanos 1.3, 4; 1 Coríntios 15.45-49; Gálatas 4.4<br />

2<br />

9<br />

A doutrina do nascimento virginal de Cristo sustenta que seu nascimento foi resultado<br />

de uma concepção miraculosa, por meio da qual a Virgem Maria concebeu um bebê em seu<br />

útero pelo poder do Espírito Santo, sem um pai humano. O nascimento miraculoso de Cristo<br />

nos diz muito sobre sua natureza. O fato de ter nascido de uma mulher demonstra que ele era<br />

realmente humano e que se tornou um de nós. A humanidade de Cristo, contudo, não era<br />

precisamente como a nossa. Nós nascemos com o pecado original — Cristo, não.<br />

O nascimento virginal também relaciona-se com a divindade de Cristo. Embora<br />

certamente seja possível que a Divindade entrasse no mundo de outra maneira além de um<br />

nascimento virginal, o milagre de seu nascimento aponta para sua divindade. O anúncio do<br />

anjo Gabriel a Maria enfatiza este ponto. Quando o anjo disse a Maria que ela teria um filho,<br />

ela ficou perplexa: "Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? " (Lc 1.34).<br />

A resposta de Gabriel é de um significado decisivo para nosso entendimento do<br />

nascimento virginal: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a<br />

sua sombra; por isso. também o ente que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1.35).<br />

Momentos depois o anjo acrescentou: "Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as<br />

suas promessas" (Lc 1.37).<br />

Excetuando-se o sistema de inseminação artificial, que representa uma variação<br />

moderna e não miraculosa de concepção, nada é mais regular ou comum na natureza do que<br />

a relação que resulta na concepção de um bebê. Uma mulher ficar grávida sem ter tido<br />

qualquer intercurso sexual com um homem não só é biologicamente extraordinário, tal coisa é<br />

claramente contrária às leis da natureza.<br />

O filho de Maria, entretanto, não foi gerado por ela própria. O "'pai" do bebê é o Espírito<br />

Santo. A linguagem bíblica, ao falar do Espírito descendo sobre Maria e a "envolvendo com sua<br />

sombra", lembra a descrição do relato da obra do Espírito Santo na criação original do mundo.<br />

Revela que aquela criança seria uma criação especial e que seu pai seria o próprio Deus.<br />

Aqueles que não crêem no nascimento virginal geralmente não crêem que Jesus é o<br />

legítimo Filho de Deus. E assim, o nascimento virginal é como um "divisor de águas",<br />

separando os cristãos ortodoxos daqueles que não crêem na Ressurreição e na Expiação.<br />

Sumário<br />

1.A Bíblia ensina claramente e sem ambigüidade o nascimento virginal<br />

2.O nascimento de Jesus, de uma mulher, aponta para sua humanidade e sua<br />

manifestação como o novo ou o segundo Adão.<br />

3. O fato de Jesus ter nascido sem uma paternidade humana aponta para sua natureza<br />

divina como o Filho de Deus.<br />

4. A negação do nascimento virginal geralmente está ligada à negação dos elementos<br />

sobrenaturais ou miraculosos das Escrituras.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Como foi gerado o bebê de Maria?<br />

2.Por que o nascimento virginal de Cristo também se relaciona com a sua divindade?<br />

3.O que nos lembra a frase "o poder do Altíssimo te envolverá"?<br />

4.Quais as implicações na nossa vida diária quando aceitamos que Jesus Cristo nasceu<br />

de uma virgem?<br />

1


JESUS CRISTO COMO O UNIGÊNITO 3 0<br />

João 1.1-18; Colossenses 1.15-19; Hebreus 1.1-14<br />

A referência bíblica a Jesus como "o unigênito do Pai" (Jó 1.14) tem provocado grandes<br />

controvérsias na história da Igreja. Pelo fato de Jesus ser chamado também de "o primogênito<br />

de toda a criação" (Cl 1.15), tem-se argumentado que a Bíblia ensina que ele não é divino, e,<br />

sim, uma criatura exaltada.<br />

As Testemunhas de Jeová e os Mórmons negam a divindade de Cristo apelando para<br />

esses conceitos. É principalmente por causa dessa negação da divindade de Cristo que esses<br />

grupos são considerados como seitas e não como denominações cristãs.<br />

A divindade de Cristo tornou-se uma questão crucial no século IV, quando o herege Ário<br />

negou a Trindade. O principal argumento dele contra a divindade de Cristo antecipou os<br />

argumentos atuais das Testemunhas de Jeová e dos Mórmons. Ário foi condenado como<br />

herege no Concilio de Nicéia no ano 325 d.C.<br />

Ário alegava que a palavra grega traduzida por "unigênito" significa "acontecer", "tornarse",<br />

ou "começar a ser". Aquilo que é gerado deve ter um início no tempo. Tem de ser finito<br />

com relação ao tempo, que é um sinal da condição de criatura. Ser o "primogênito de toda a<br />

criação" pressupõe o nível supremo da condição de criatura, uma categoria mais que os anjos,<br />

mas não vai além do nível de criatura. Adorar uma criatura é praticar idolatria. Nenhum anjo,<br />

nem qualquer outra criatura é digna de adoração. Ário via a atribuição de divindade a Jesus<br />

Cristo como uma blasfêmia e rejeição do monoteísmo bíblico. Para Ario, Deus deve ser<br />

considerado como "um", tanto no ser como em pessoa.<br />

O Credo de Nicéia reflete a resposta da Igreja à heresia ariana. Confessa que Jesus era<br />

"gerado, não criado". Nesta fórmula simples a Igreja demonstrava zelo em se proteger contra a<br />

idéia de interpretar o termo unigênito significando ou implicando uma condição de criatura.<br />

Alguns historiadores têm falhado em relação ao Concilio de Nicéia, engajando-se na<br />

defesa especial ou no exercício de ginástica mental ao fugirem do significado claro e simples<br />

da palavra grega, unigênito, e da frase "primogênito de toda a criação". A Igreja, porém, não<br />

fugiu arbitrariamente do significado simples desses termos. Havia bases justificáveis para<br />

proteger o termo unigênito com o qualificativo "não criado".<br />

Primeiro, a Igreja estava procurando entender esses termos no contexto total do ensino<br />

bíblico concernente à natureza de Cristo. Convencida de que o Novo Testamento claramente<br />

atribui divindade a Cristo, a Igreja se pôs contra lançar uma parte das Escrituras contra<br />

outra.<br />

Segundo, embora o Novo Testamento fosse escrito na língua grega, a maioria das formas<br />

de pensamentos e conceitos está saturada de significados hebraicos. Os conceitos hebraicos<br />

são expressos por meio do veículo da língua grega. Este fato soa como uma advertência contra<br />

a interpretação muito literal com base nas difíceis nuanças do grego clássico. Assim como<br />

João usa o termo logos para referir-se a Jesus, seria um erro saturar esse termo<br />

exclusivamente com as idéias gregas associadas ao uso da palavra.<br />

Terceiro, o termo unigênito é usado numa forma modificada no Novo Testamento. Em<br />

João 1.14, Jesus é referido como "o unigênito do Pai". Em algumas traduções, em João 1.18,<br />

ele é chamado novamente de o "Filho unigênito". Existem evidências significativas nos<br />

manuscritos que sugerem que o original grego dizia "o Deus unigênito". Tivesse esse texto sido<br />

aceito, acabaria o debate. Entretanto, se tratarmos o texto como redigido "o Filho unigênito",<br />

ainda teremos um modificador crucial. Jesus é chamado o único gerado (gr., monogenais). O<br />

prefixo mono no grego é mais forte do que a palavra único em nosso idioma. Jesus é<br />

absolutamente singular em sua genitural. Ele é o único gerado. Ninguém ou nenhum outro é<br />

gerado no sentido como Jesus o foi. O fato de a Igreja falar sobre Jesus como o eterno<br />

unigênito é uma tentativa de fazer justiça a isso. O Filho procede eternamente do Pai, não<br />

1


como criatura, mas como a Segunda Pessoa da Trindade.<br />

O livro de Hebreus, que também refere-se a Jesus como sendo "gerado" (Hb 1.5), talvez<br />

seja a epístola que nos fornece a mais elevada Cristologia encontrada no Novo Testamento. O<br />

único livro que rivaliza com Hebreus nesse aspecto é o Evangelho de João. E João quem<br />

claramente chama Jesus de "Deus". Também é João quem fala de Cristo como o "unigênito".<br />

Finalmente, a frase "primogênito de toda a criação" deve ser entendida à luz do contexto<br />

da cultura judaica do século I. Deste ponto de vista, podemos ver que o termo primogênito<br />

refere-se à condição exaltada de Cristo como o herdeiro do Pai. Assim como o filho primogênito<br />

geralmente recebia a herança patriarcal, assim Jesus, como o divino Filho, recebe o reino do<br />

Pai como sua herança.<br />

Sumário<br />

1. O fato de Jesus ser chamado "o unigênito do Pai" e de "primogênito de toda a criação"<br />

tem criado controvérsias na história da Igreja quanto à sua divindade.<br />

2.Testemunhas de Jeová e os Mórmons usam tais passagens para negar a divindade de<br />

Cristo.<br />

3.O Credo de Nicéia claramente expressa que Jesus era "gerado, não criado". Essa<br />

distinção cuidadosa era um reflexo da afirmação do Novo Testamento da divindade de Cristo.<br />

4. Jesus é chamado “o unigênito” do Pai. Jesus é o único gerado do Pai, não como<br />

criatura, mas como o eterno Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade.<br />

5. O termo primogênito deve ser entendido à luz do contexto do judaísmo do século I.<br />

Jesus é o "primogênito de toda a criação" no sentido de que ele é o herdeiro de tudo aquilo que<br />

pertence ao Pai.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Qual era o argumento de Ário para negar a divindade de Cristo?<br />

2.Quais seitas negam a divindade de Cristo, baseadas nos textos de João 1.14 e<br />

Colossenses 1.15?<br />

3.Como devemos entender a frase "o primogênito de toda a criação" (Cl 1.15)?<br />

4.Além de herdeiro de Deus, Cristo é chamado também no Novo Testamento "irmão mais<br />

velho de todos os que crêem". Que bênçãos nos advêm do fato de sermos irmãos "mais novos"<br />

de Cristo?<br />

5.O Novo Testamento também diz que o Pai e o Filho têm uma relação de comunhão e<br />

amor. Como somos beneficiados por esta relação especial que o Pai tem com o Filho?<br />

6.Como a consciência da divindade de Cristo pode nos ajudar a lidar com os problemas<br />

que freqüentemente surgem em nossas igrejas?<br />

1


O BATISMO DE CRISTO 3 1<br />

Isaías 40.3; Mateus 3.13-17; Marcos 1.1-5; 2 Coríntios 5.21<br />

O ritual do batismo com água realizado por João Batista está intimamente relacionado<br />

como sacramento do batismo instituído por Jesus como o sinal da Nova Aliança. Embora<br />

hajauma continuidade entre ambos, não devem ser vistos como idênticos.<br />

O batismo de João, devidamente considerado, pertence ao Antigo Testamento. Embora<br />

leiamos sobre ele no Novo Testamento, a Nova Aliança só começou depois do ministério de<br />

João. Era uma exigência que Deus fez a seu povo Israel. Era um batismo de preparação. João<br />

pregou que o Reino de Deus estava próximo. Ele era o arauto do Messias. A proximidade da<br />

vinda do Reino de Deus foi vista na iminente aparição de Cristo. O Rei Messias estava prestes<br />

a ser conhecido, mas o povo de Israel não estava pronto para ele. Estavam despreparados.<br />

Não estavam limpos.<br />

O batismo de João foi uma inovação radical. Antes dele, exigia-se que os gentios que se<br />

convertiam ao judaísmo passassem por um ritual de purificação. Com o aparecimento de João<br />

Batista, Deus ordenou que os judeus também se arrependessem e fossem lavados. Os líderes<br />

religiosos judeus consideravam a exigência de João herética e insultuosa. Significava que João<br />

Batista estava tratando os judeus como se fossem gentios impuros.<br />

Jesus submeteu-se voluntariamente ao batismo de João, até mesmo insistindo para ser<br />

batizado (contra os protestos do próprio João), porque em seu papel como Messias era preciso<br />

que se submetesse a todas as exigências da lei de Deus para Israel. Em sua identificação com<br />

seu povo, Jesus foi batizado para cumprir toda a justiça.<br />

O marco para o início do ministério terreno de Jesus deu-se quando ele entrou no Rio<br />

Jordão para ser batizado por João Batista. Aqui ele não só identificou-se com o pecado do seu<br />

povo, mas também recebeu a unção do Espírito Santo para o ministério. Num certo sentido,<br />

esta foi a ordenação de Jesus. Aqui ele iniciou sua vocação como o Cristo.<br />

O termo Cristo significado ungido". Jesus foi ungido pelo Espírito Santo em seu batismo<br />

e começou a cumprir o papel de Messias conforme descrito por Isaías: "O Espírito do Senhor<br />

Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados de<br />

coração, a proclamar libertação aos cativos e apor em liberdade os algemados" (Is 61.1).<br />

Sumário<br />

1. O batismo de João era uma preparação para a vinda do Messias.<br />

2. O batismo de João era considerado como insulto pelos líderes judeus porque<br />

insinuava que eles eram "impuros".<br />

3. Jesus foi batizado não por causa dos seus próprios pecados mas para identificar-se<br />

com os pecadores que viera salvar<br />

4. Jesus foi ordenado ou ungido em seu batismo.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Por que o batismo de João Batista é considerado um batismo de preparação?<br />

2. Por que o clero judeu considerou o batismo de João Batista herético e insultuoso?<br />

3. Que marca o batismo de Jesus no rio Jordão realiza no seu ministério?<br />

4. Ao submeter-se ao batismo de João, Jesus mostrou que estava disposto a cumprir<br />

1


tudo o que era necessário, como membro da raça humana. Embora fosse Deus, Jesus nos deu<br />

uma lição de humildade. O que efetivamente podemos fazer para seguir este exemplo de Jesus<br />

nos dias de hoje?<br />

5. Mesmo sendo Deus, Jesus somente iniciou o seu ministério após ter sido ungido por<br />

Deus, no seu batismo. Que lições podemos tirar disso para o nosso serviço cristão?<br />

6. O orgulho dos líderes religiosos judeus impediu-os de serem batizados por João. Que<br />

outras bênçãos podemos perder quando agimos com orgulho diante de Deus?<br />

7. O ministério de João Batista foi preparar o caminho para a vinda do Messias. Em que<br />

sentido nossa vida cristã pode assemelhar-se ao ministério de João nos dias de hoje?<br />

A GLÓRIA DE CRISTO 3 2<br />

Mateus 17.1-9; Marcos 13.24-27; Hebreus 1.1-3; Apocalipse 22.4, 5<br />

Temos a tendência de pensar em glória como algo a ser atingido por vitórias<br />

extraordinárias num esporte, de realizações comerciais ou por meio da fama pessoal. Na<br />

Bíblia, porém, glória tem a ver com o brilho radiante que emana da transcendente majestade<br />

de Deus. Em momentos cruciais, o esplendor da divindade de Jesus irrompeu de dentro do<br />

manto de sua humanidade.<br />

A glória de Cristo talvez nunca tenha se tornado tão evidente quanto na Transfiguração.<br />

A palavra grega para transfiguração é metamorphoomai, da qual se deriva nossa palavra<br />

metamorfose. Denota uma mudança de forma, como, por exemplo, a transformação que ocorre<br />

quando uma crisálida se transforma numa borboleta. O prefixo trans significa literalmente<br />

"através de". Na transfiguração, um limite ou barreira foi transposta. Podemos chamar de<br />

cruzar a linha entre o natural e o sobrenatural, entre o humano e o divino. A transfiguração<br />

cruzou a fronteira das dimensões e entrou na esfera de Deus.<br />

Na Transfiguração, uma luz radiante brilhou de Jesus. Essa luz foi a manifestação visível<br />

de que a barreira tinha realmente sido transposta. Existem algumas similaridades entre esta<br />

manifestação de glória e o brilho no rosto de Moisés quando retornou do monte Sinai com os<br />

Dez Mandamentos. As diferenças, contudo, são significativas. A face de Moisés brilhou com<br />

glória refletida. Cristo não refletiu simplesmente o brilho da glória divina, mas sua glória é o<br />

resplendor da glória divina. Neste sentido, sua glória claramente transcende a glória refletida<br />

no rosto de Moisés.<br />

Cristo, portanto, não refletiu uma luz, mas ele mesmo era a fonte da luz. A<br />

Transfiguração era uma mostra do que os cristãos iriam experimentar naNova Jerusalém. Em<br />

Apocalipse 21.23, João explica que a cidade celestial não terá necessidade do sol ou da lua<br />

para iluminá-la. A glória de Deus a iluminará. O Cordeiro será sua luz. João escreve:<br />

"Contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem<br />

precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e<br />

reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22.4, 5).<br />

Não deveríamos ficar surpresos pelo fato de a glória de Cristo ter brilhado na<br />

Transfiguração. A surpresa deveria ser pelo fato de que ele voluntariamente escondeu sua<br />

glória por amor dos seus filhos.<br />

Sumário<br />

1. A glória de Cristo se revelou na Transfiguração.<br />

2. A Transfiguração de Cristo foi uma mudança de forma e o transpor do natural para o<br />

sobrenatural.<br />

3. A glória de Cristo não é um simples reflexo da glória de Deus, mas a própria glória de<br />

Deus.<br />

1


Para discussão e avaliação<br />

1.Que limite ou barreira foi ultrapassada na Transfiguração de Cristo?<br />

2.Qual é a diferença entre a glória de Cristo no monte e a glória que Moisés refletiu<br />

quando desceu do Sinai?<br />

3.De que maneira podemos refletir a glória de Deus em nossas atitudes do dia-a-dia?<br />

4.A luz que vem da presença de Deus iluminará continuamente a Nova Jerusalém<br />

(conforme Apocalipse 22.4, 5). Hoje, o que ilumina a nossa vida para fazermos o que é correto<br />

e direito?<br />

5.Que atitudes nossas podem impedir que a glória de Cristo seja refletida em nós?<br />

6.Que relação tem a glória de Cristo com o fato de sermos "luz do mundo"? Como o<br />

mundo pecaminoso pode receber o brilho da glória que existe na pessoa de Cristo?<br />

A ASCENSÃO DE CRISTO 3 3<br />

Lucas 24.50-53; Romanos 8.34; Romanos 14.9, 10; Efésios 4.7-8; Hebreus 9.23-28<br />

A importância da Ascensão é freqüentemente ignorada na Igreja moderna. Temos<br />

celebrações especiais e feriados para comemorar o nascimento (Natal), a morte (Sexta-feira da<br />

Paixão) e a ressurreição de Cristo (Domingo de Páscoa). A maioria das igrejas, entretanto, faz<br />

pouca ou nenhuma menção à Ascensão. No entanto, a Ascensão é um evento de profunda<br />

importância no processo da redenção. Marca o momento do ponto mais elevado da exaltação<br />

de Cristo antes do seu retorno ao céu. Foi na Ascensão que Cristo entrou na sua glória.<br />

Jesus descreveu sua partida desta terra como sendo melhor para nós do que sua<br />

presença permanente. Quando anunciou sua partida pela primeira vez aos discípulos, eles<br />

ficaram tristes com a notícia. Contudo, mais tarde compreenderam a importância deste<br />

grande evento. Lucas nos registra a Ascensão:<br />

Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o<br />

encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus<br />

subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes<br />

disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que<br />

dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. Atos 1.9-11<br />

Notamos que Jesus partiu numa nuvem. Provavelmente esta seja uma referência à<br />

Shekinah, a nuvem da glória de Deus. A Shekinah excede qualquer nuvem comum em<br />

radiância. Representa a manifestação visível da glória radiante de Deus. Portanto, a forma<br />

como Jesus partiu de maneira alguma foi comum. Foi um momento de esplendor<br />

extraordinário.<br />

"Ascender" significa "subir" ou "elevar". Entretanto, quando o termo ascensão é usado<br />

com relação a Cristo, tem um significado mais profundo, mais rico e mais específico. A<br />

ascensão de Jesus foi um evento único. Vai além de Enoque sendo levado diretamente para o<br />

céu ou a artida do profeta Elias numa carruagem de fogo.<br />

A ascensão de Jesus refere-se à sua ida para um lugar especial, com um propósito<br />

especial. Ele foi para o Pai, para sentar-se à direita dele. Foi elevado para a sede de autoridade<br />

cósmica. Jesus subiu ao céu para sua coroação, sua confirmação como Rei dos reis.<br />

Jesus também ascendeu para entrar no Santo dos Santos celestial a fim de continuar<br />

sua obra como nosso grande Sumo Sacerdote. No céu, ele governa como Rei e intercede por<br />

nós como nosso Sumo Sacerdote. Desta sua posição de autoridade elevada, ele derramou seu<br />

Espírito sobre a Igreja. João Calvino observa:<br />

Sendo elevado ao céu, ele retirou sua presença corpórea da nossa vista; isso não quer<br />

dizer que cessou de estar com seus seguidores, os quais ainda são peregrinos sobre a<br />

terra, mas significa que pode governar tanto o céu como a Terra mais imediatamente<br />

1


pelo seu poder. (II, XVI, 14)<br />

Quando Jesus ascendeu ao céu para sua coroação como Rei dos reis, assentou-se à mão<br />

direita de Deus. A destra de Deus é a sede de autoridade. Desta posição Jesus governa,<br />

administra seu reino e preside como Juiz do céu e da terra.<br />

A destra do Pai, Jesus está sentado como a Cabeça do seu Corpo, a Igreja. No entanto,<br />

nesta posição, sua autoridade e jurisdição de governo e administração estendem-se para além<br />

da esfera da sua Igreja e engloba o mundo todo. Embora a Igreja e o Estado sejam distintos<br />

dentro do domínio de Cristo, nunca são separados ou divorciados. Sua autoridade estende-se<br />

sobre ambos. Todos os governadores do mundo devem prestar contas a ele e serão julgados<br />

por ele em sua função de Rei dos reis e Senhor dos senhores.<br />

Todos no céu e na terra são chamados por Deus para reverenciarem a majestade de<br />

Jesus, para serem governados por sua mão, para darem-lhe a honra devida e submeterem-se<br />

ao seu poder. Finalmente, todos estarão diante dele, quando ele assentar-se para o julgamento<br />

final.<br />

Jesus tem autoridade para derramar seu Espírito Santo sobre a Igreja. Entretanto, ele só<br />

derramou seu Espírito depois que se sentou à destra de Deus. O Espírito ministra em<br />

subordinação ao Pai e ao Filho, os quais juntos o enviaram para aplicar a obra de salvação<br />

que Cristo adquiriu para os crentes.<br />

Sentado à mão direita de Deus, Jesus não só exerce seu papel como Rei dos reis, mas<br />

também desempenha a função de juiz cósmico. Ele é o juiz sobre todas as nações e todas as<br />

pessoas. Embora Jesus governe como nosso juiz, ele foi designado por Deus para ser também<br />

nosso advogado. Ele é nosso defensor. No julgamento final, o advogado nomeado para nos<br />

defender será o próprio juiz que preside. Uma amostra da intercessão de Jesus em favor dos<br />

santos pode ser vista no martírio de Estêvão:<br />

Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glóriade Deus e Jesus<br />

que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo oscéus abertos e o Filho do homem em<br />

pé à destra de Deus! Atos 7.55,56<br />

Sumário<br />

1. A Ascensão recebe pouquíssima atenção na Igreja moderna.<br />

2. A Ascensão marca um ponto extremamente importante da exaltação de Cristo na<br />

história da redenção.<br />

3 Cristo partiu numa nuvem de glória.<br />

4. Cristo ascendeu a um lugar específico, com um propósito específico: sua coroação<br />

como Rei dos reis<br />

5. Em sua ascensão, Cristo tomou posse de sua função como Sumo Sacerdote celeste e<br />

está sentado à destra de Deus, a sede de autoridade cósmica.<br />

6. Desta posição à direita de Deus, Jesus autorizou o derramamento do Espírito Santo<br />

no Dia de Pentecostes.<br />

7. Em sua posição de autoridade, Jesus é o juiz sobre todos.<br />

8. Jesus também serve como o Advogado ou defensor em favor do seu povo.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. Qual foi o propósito da ascensão de Cristo?<br />

2. O que significa o fato de que Jesus está assentado à mão direita do Pai?<br />

3.Que conseqüência prática tem para a nossa vida a ascensão de Cristo e sua coroação<br />

como Rei dos reis e Senhor dos senhores? Isso faz alguma diferença na vida profissional,<br />

estudantil e familiar, por exemplo?<br />

4.Que diferença faz, na nossa luta contra o pecado, a tentação e o diabo, o fato de Cristo<br />

estar assentado à direita de Deus Pai, julgando e governando todas as coisas?<br />

5.Que conforto podemos ter em nossa vida pelo fato do Cristo glorificado ser o nosso<br />

advogado perante Deus Pai?<br />

6. Existe a possibilidade do inimigo de Deus fazer o que quiser com a nossa vida? Sim,<br />

não, por quê?<br />

1


JESUS CRISTO COMO MEDIADOR<br />

Romanos 8.33, 34; 1 Timóteo 2.5; Hebreus 7.20-25; Hebreus 9.11, 12<br />

3<br />

4<br />

Um mediador é um intermediário. E aquele que fica entre duas ou mais pessoas ou<br />

grupos em disputa e tenta promover sua reconciliação. Em termos bíblicos, os seres humanos<br />

são descritos como vivendo em inimizade contra Deus. Nós nos rebelamos, nos revoltamos e<br />

nos recusamos obedecer a Lei de Deus. Como resultado, a ira de Deus permanece sobre nós.<br />

Para que esta situação catastrófica seja mudada ou remediada, é necessário que nos<br />

reconciliemos com Deus.<br />

Para efetuar nossa reconciliação, Deus o Pai designou e enviou seu Filho para ser nosso<br />

Mediador. Cristo traz a nós nada menos que a majestade divina do próprio Deus — ele é o<br />

Deus encarnado. Para isso, ele tomou para si uma natureza humana e voluntariamente<br />

submeteu-se às exigências da lei de Deus.<br />

Cristo não iniciou a reconciliação tentando persuadir o Pai a deixar de lado sua ira. Ao<br />

contrário, no conselho eterno da Deidade houve completa concordância entre o Pai e o Filho<br />

de que este deveria vir como nosso Mediador. Nenhum anjo poderia representar Deus<br />

adequadamente em relação a nós; somente o próprio Deus poderia fazê-lo.<br />

Na encarnação, o Filho tomou para si a natureza humana a fim de efetuar a redenção da<br />

descendência caída de Adão. Por meio da sua perfeita obediência, Cristo satisfez as exigências<br />

da lei de Deus e mereceu a vida eterna para nós. Por sua submissão à morte expiatória na<br />

cruz, ele satisfez as exigências da ira de Deus contra nós. Positiva e negativamente, Cristo<br />

satisfez os requerimentos divinos para a reconciliação. Estabeleceu para nós uma nova<br />

aliança com Deus por meio do seu sangue e continua a interceder por nós diariamente como<br />

nosso Sumo Sacerdote.<br />

Um mediador eficiente é aquele capaz de gerar a paz entre as partes em conflito ou<br />

inimizadas. Este foi o papel que Jesus desempenhou como nosso perfeito Mediador. Paulo<br />

declarou que temos paz com Deus por intermédio da obra de Cristo de reconciliação:<br />

"Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo "<br />

(Rm 5.1).<br />

A obra medianeira de Cristo é superior a de todos os outros mediadores. Moisés foi o<br />

mediador da antiga aliança. Serviu como intermediário de Deus, dando a lei aos israelitas.<br />

1


Jesus, porém, é superior a Moisés. O autor de Hebreus declara:<br />

Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés,<br />

quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu. Pois toda casa é<br />

estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus. E<br />

Moisés era fiel em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que<br />

haviam de ser anunciadas; Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa<br />

somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.<br />

Hebreus 3.3-6<br />

Sumário<br />

1. Um mediador age para promover a paz entre as partes inimizadas.<br />

2. Cristo, como Deus-homem nos reconcilia com o Pai.<br />

3. Cristo e o Pai estão concordes, desde a eternidade, de que Cristo seria nosso<br />

Mediador.<br />

4. A obra medianeira de Cristo é superior a dos profetas, dos anjos e de Moisés.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.O que é um mediador?<br />

2.Como foi que Cristo satisfez os requerimentos divinos para a reconciliação?<br />

3.Por que nossas orações são feitas em nome de Jesus?<br />

4.Que bênçãos nos vêm da obra de reconciliação que Cristo efetuou entre nós e Deus,<br />

como nosso Mediador?<br />

5.O que o nosso Mediador continua fazendo por nós hoje?<br />

6.Qual a eficácia da mediação de Cristo por nós, segundo o texto de Hebreus 3.23-25?<br />

Ele pode realmente compreender as nossas necessidades e levá-las diante do trono do Pai? Por<br />

quê?<br />

OS TRÊS OFÍCIOS DE CRISTO 3 5<br />

Salmos 110; Isaías 42.1-4; Lucas 1.26-38; Atos 3.17-26: Hebreus 5.5, 6<br />

Uma das grandes contribuições para o entendimento dos cristãos sobre a obra de Cristo<br />

é a exposição de João Calvino dos três ofícios de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei<br />

(Institutos II, XV). Como Profeta de Deus por excelência. Jesus era tanto o objeto quanto o<br />

agente da profecia. Sua pessoa e sua obra são os pontos focais da profecia do Antigo<br />

Testamento, enquanto ele próprio é um profeta. Nas declarações proféticas do próprio Jesus, o<br />

Reino de Deus e o seu papel dentro desse Reino vindouro são os temas principais. A atividade<br />

principal de um profeta era declarar a Palavra de Deus. Jesus não só declarou a Palavra de<br />

Deus, mas ele é a própria Palavra de Deus. Jesus foi o supremo profeta de Deus, sendo a<br />

Palavra de Deus na carne.<br />

O profeta do Antigo Testamento era um tipo de mediador entre Deus e o povo de Israel.<br />

Ele falava ao povo da parte de Deus. O sacerdote falava com Deus em favor do povo. Jesus<br />

também desempenhou o papel do grande Sumo Sacerdote. Os sacerdotes do Antigo<br />

Testamento ofereciam sacrifícios regularmente, mas Jesus ofereceu um sacrifício de valor<br />

eterno, uma vez por todas. A oferta de Jesus ao Pai foi o sacrifício de si mesmo. Ele era tanto a<br />

oferta quanto o ofertante.<br />

Enquanto no Antigo Testamento as funções medianeiras de profeta, sacerdote e rei eram<br />

ocupadas separadamente por indivíduos, todas as três funções foram ocupadas<br />

supremamente na única pessoa de Jesus. Jesus cumpriu a profecia messiânica do Salmo 110.<br />

Ele é o descendente e Senhor de Davi. E o Sacerdote que também é o Rei. O Cordeiro que foi<br />

morto é também o Leão de Judá. Para obter plena compreensão da obra de Cristo não<br />

devemos vê-lo simplesmente como profeta, ou como sacerdote, ou como rei. Todos os três<br />

1


ofícios são perfeitamente desempenhados por ele.<br />

Sumário<br />

1. Jesus é o cumprimento da profecia do Antigo Testamento e ele próprio é profeta.<br />

2. Jesus era tanto o Sacerdote como o sacrifício. Como Sacerdote, ele se ofereceu como o<br />

sacrifício perfeito pelo pecado.<br />

3. Jesus é o ungido Rei de todos os reis e Senhor de todos os senhores.<br />

Os Três Ofícios de Mediação<br />

DEUS<br />

Profeta Sacerdote Rei<br />

O Povo de Deus<br />

Para discussão e avaliação<br />

1.Quais são os três ofícios de Cristo?<br />

2.Por que Cristo é chamado o supremo profeta de Deus?<br />

3.Por que é dito que Cristo é tanto a oferenda como o ofertante no ofício sacerdotal?<br />

4.Que significado tem para o povo de Deus, nos dias de hoje, a compreensão de Jesus<br />

com o Rei dos reis e Senhor dos senhores?<br />

5.A profecia de Jesus que maior esperança traz ao cristão é, sem dúvida, a da sua volta<br />

para buscar o seu povo. Que diferença isso faz no dia-a-dia da vida do cristão? Que diferença<br />

deve fazer?<br />

6.Jesus cumpriu totalmente o ofício do Grande Sacerdote do Antigo Testamento. No<br />

momento de sua morte na cruz, o véu do santuário, que separava o santo lugar do santíssimo<br />

lugar, (onde estava a arca da aliança que representava a presença de Deus) rasgou-se de alto<br />

a baixo, deixando claro que Cristo abrira um novo e vivo caminho entre os homens e Deus (Hb<br />

10.19-22). Hoje, que benefícios temos por nos aproximarmos do trono de Deus de forma<br />

direta, por meio de Jesus, nosso Grande Sumo sacerdote?<br />

OS TÍTULOS DE JESUS<br />

Gênesis 1.1-2.3; Mateus 9.1-8; Mateus 16.13-21; João 1.1-18; Apocalipse 19.11-16<br />

3<br />

6<br />

Jesus de Nazaré recebeu mais títulos do que qualquer outra pessoa na História. Uma lista<br />

breve incluiria o seguinte:<br />

Cristo<br />

Senhor<br />

Filho do Homem<br />

Salvador<br />

Filho de Davi<br />

Grande Sumo Sacerdote<br />

Filho de Deus<br />

Alfa e Ômega<br />

Mestre<br />

Professor<br />

Justiça<br />

Profeta<br />

Rosa de Sarom<br />

Lírio dos Vales<br />

Advogado<br />

Leão de Judá<br />

1


Cordeiro de Deus<br />

Segundo Adão<br />

Os principais títulos dados a Jesus são:<br />

1.Cristo. O título Cristo é usado com tanta freqüência, referindo-se a Jesus, que as pessoas<br />

às vezes o confundem com seu segundo nome. Entretanto, não se trata de um nome, mas de um<br />

título que indica sua posição e sua obra como Messias. O termo Cristo vem da palavra grega<br />

Christos, usada para traduzir a palavra hebraica para Messias. Tanto Cristo quanto Messias<br />

significam "o Ungido".<br />

No Antigo Testamento, o conceito do Messias prometido, o qual seria singularmente ungido<br />

pelo Espírito Santo, era uma idéia complexa, com muitas interpretações. Os judeus não tinham<br />

todos a mesma idéia sobre o Messias.<br />

Um conceito sobre o Messias era que ele seria um rei. Seria o Filho ungido de Davi, o Leão de<br />

Judá, o qual restauraria o reino caído de Davi. (Este aspecto excitava grandemente os judeus e<br />

avivava as chamas da esperança em um governante político que iria libertá-los da sujeição a<br />

Roma.)<br />

O Messias, porém, era também chamado o Servo de Deus, na verdade o Servo Sofredor<br />

mencionado na profecia de Isaías. Parecia praticamente impossível unir esses dois papéis numa só<br />

pessoa, embora obviamente fossem unidos em Jesus.<br />

O Messias também seria um ser celestial (Filho do Homem) e teria uma relação única com o<br />

Deus Pai (Filho de Deus). Seria também profeta e sacerdote. Quanto mais percebemos o quanto o<br />

conceito do Messias era complexo, mais ficamos maravilhados com a maneira intrincada pela qual<br />

todos esses aspectos foram reunidos na pessoa e na obra de Jesus.<br />

2.Senhor.O segundo usado com maior freqüência para Jesus no Novo Testamento é o título<br />

Senhor. Este título é de suprema importância para o entendimento do perfil de Jesus no Novo<br />

Testamento. O termo senhor é usado de três maneiras distintas no Novo Testamento. A primeira é<br />

uma forma comum de tratamento, semelhante ao nosso uso de "senhor" [sim, senhor; Sr. José<br />

etc.]. O segundo uso refere-se ao dono de escravos, ou "amo". Aqui é aplicado num sentido<br />

figurado a Jesus. Ele é o nosso Dono. O terceiro é o uso imperial. Refere-se àquele que é soberano.<br />

No século I, os imperadores romanos exigiam um juramento de lealdade por parte dos<br />

súditos, por meio do qual exigia-se que repetissem a fórmula: "César é Senhor". Os cristãos eram<br />

torturados por se recusarem a concordar com isso. Em vez disso, proclamaram o primeiro credo<br />

cristão: "Cristo é o Senhor". Chamar Jesus de "Senhor" era radical não só do ponto de vista dos<br />

romanos, mas especialmente do ponto de vista dos judeus, pois era o título dado ao próprio Deus<br />

no Antigo Testamento.<br />

O título Senhor foi concedido a Jesus por Deus o Pai. É o "nome que está acima de todo<br />

nome", sobre o qual Paulo fala em Filipenses 2.9.<br />

3. Filho do Homem.Este é um dos mais fascinantes títulos dados a Jesus e talvez o que é<br />

mais freqüentemente mal-interpretado. Pelo fato de que a Igreja confessa a dupla natureza de<br />

Jesus, que ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, e porque a Bíblia descreve<br />

Jesus como Filho do Homem e Filho de Deus, é tentador concluir que Filho do Homem refere-se à<br />

humanidade de Jesus e Filho de Deus refere-se à sua divindade. Esse, entretanto, não é exatamente<br />

o caso. Embora o título Filho do Homem inclua um elemento de humanidade, sua<br />

referência primária é à natureza divina de Jesus. O título Filho de Deus também inclui uma<br />

referência à divindade, mas sua ênfase primária é sobre a obediência de Jesus como filho.<br />

Este título. Filho do Homem, tem ainda mais importância quando compreendemos que,<br />

embora esteja em terceiro lugar (bem embaixo na lista), em termos de freqüência de uso no Novo<br />

Testamento (atrás de Cristo e Senhor), está em primeiro lugar (com uma grande margem) nos títulos<br />

que Jesus usava para referir-se a si próprio. Filho do Homem é a designação mais favorita de Jesus<br />

para si mesmo.<br />

A importância deste título é tirada da sua ligação com o uso que Daniel fez dele no Antigo<br />

Testamento (ver Dn 7). Ali, Filho do Homem claramente referia-se a um ser celestial que agia como<br />

um Juiz cósmico. Nos lábios de Jesus o título não é um exercício de falsa humildade, mas uma<br />

ousada reivindicação de autoridade divina. Jesus alegou, por exemplo, que o Filho do Homem<br />

tinha autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10), uma prerrogativa divina, e era Senhor do sábado<br />

(Mc 2.28).<br />

4. O Logos.Nenhum título de Jesus despertou mais intenso interesse filosófico e teológico nos<br />

primeiros três séculos do que o título Logos. O Logos era central no desenvolvimento da Cristologia da<br />

Igreja Primitiva. O prólogo do Evangelho de João é crucial para este entendimento cristológico do Logos.<br />

1


João escreve: "No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo (Logos) estava com Deus, e o Verbo (Logos) era<br />

Deus " (Jó 1.1).<br />

Nesta passagem notável, o Logos é tanto distinto de Deus ("estava com Deus"), quanto identificado<br />

com Deus ("era Deus"). Este paradoxo teve grande influência no desenvolvimento da doutrina da<br />

Trindade, em que o Logos é visto como a Segunda Pessoa da Trindade. Ele difere em pessoa do Pai, mas<br />

é um em essência com o Pai.<br />

E fácil de entender por que os filósofos cristãos foram atraídos pelo conceito do Logos como um<br />

título de Jesus. Embora o termo possa ser traduzido simplesmente como "palavra", ele tinha um<br />

histórico de utilização como termo técnico na filosofia o qual deu ao Logos um significado muito rico. Os<br />

antigos gregos preocupavam-se com o sentido do universo e por isso se engajaram numa busca pela<br />

"realidade suprema" (metafísica). Eles buscavam o fator unifícador ou o poder que traria a ordem e a<br />

harmonia na amplamente diversificada esfera da criação (cosmologia). Os filósofos procuravam por uma<br />

nous (mente) à qual (ou a quem) poderiam atribuir a ordem de todas as coisas. A essa realidade<br />

suprema unificadora os gregos deram o nome de Logos. Ela proporcionaria a coerência ou a "lógica" da<br />

realidade. O conceito foi usado por Heráclito e posteriormente pela filosofia Estóica, na qual era usada<br />

como uma lei cósmica e abstrata.<br />

Embora desta maneira o termo fizesse parte da bagagem da filosofia grega anterior ao<br />

Cristianismo, o uso bíblico do Logos vai muito além do uso grego. Em Gênesis 1 3 e seguintes, a Bíblia<br />

diz: “Disse Deus... e assim se fez”. Desta maneira, foi por meio da Palavra de Deus que a criação veio à<br />

existência. O que distancia o conceito do Logos da filosofia grega, de maneira mais significativa,<br />

contudo, é que o Logos do Novo Testamento épessoal — a Palavra é uma pessoa divina e tornou-se um<br />

homem, o qual viveu e morreu em nosso mundo.<br />

Sumário<br />

1. Messias significa "ungido" e é usado como um título de Jesus indicando seu papel tanto como<br />

Rei como Servo Sofredor. Messias é o título usado com mais freqüência referindo-se a Jesus.<br />

2. Senhor é o segundo título usado com mais freqüência para Jesus e refere-se à sua autoridade<br />

suprema como Soberano do universo.<br />

3. Filho do Homem é o título que o próprio Jesus usava com mais freqüência referindo-se a si<br />

mesmo. Este título refere-se primariamente ao papel de Jesus como Juiz de todo o cosmos.<br />

4. O título Logos tem uma rica herança tanto da cultura grega como da judaica. Jesus é o Logos<br />

— o Criador do universo, a realidade suprema por trás dele e aquele que está constantemente<br />

sustentando-o.<br />

Para discussão e avaliação<br />

1. O que significa o termo Messias?<br />

2. Qual foi o título que Jesus mais usou referindo-se a si mesmo?<br />

3. Qual é o título de Jesus que nos lembra que ele está constantemente sustentando o universo?<br />

4. Proclamar Jesus com o Senhor absoluto de nossa vida provoca algum tipo de perseguição hoje<br />

em dia?<br />

5."Por que o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido"? O que significa esta<br />

frase de Jesus em sua vida?<br />

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