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mArketing & negócios<br />
selimaksan/iStock<br />
A empulhação do uso<br />
<strong>de</strong> dados na publicida<strong>de</strong><br />
De quando em quando surge uma<br />
“novida<strong>de</strong>” que tenta substituir<br />
as fórmulas seculares <strong>de</strong> sucesso<br />
RAFAEL SAMPAIO<br />
Esta é uma discussão que tem dominado<br />
parte importante do marketing e da<br />
publicida<strong>de</strong> nos países <strong>de</strong> Primeiro Mundo:<br />
a aposta no uso <strong>de</strong> dados como substitutivo,<br />
parcial ou integral, dos fundamentos<br />
seculares <strong>de</strong> sucesso do mercado <strong>de</strong> consumo.<br />
Que são, como se sabe, <strong>de</strong>senvolver<br />
um produto/serviço realmente bom; contar<br />
com uma estratégia <strong>de</strong> marketing inteligente;<br />
usar mensagens feitas com talento;<br />
e aplicar verbas em mídia <strong>de</strong> massa no volume<br />
suficiente para fazer diferença.<br />
Algumas <strong>de</strong>ssas fórmulas foram (ou são)<br />
coisas como o posicionamento, o targeting,<br />
a comunicação por conteúdo, as ações <strong>de</strong><br />
experiência, o marketing <strong>de</strong> re<strong>de</strong>, a comunicação<br />
viral e, mais recentemente, o<br />
uso <strong>de</strong> dados para <strong>de</strong>finir o que falar, para<br />
quem falar, como falar e por qual mídia digital.<br />
Essas fórmulas po<strong>de</strong>m ser muito úteis<br />
para incrementar as receitas baseadas nos<br />
quatro fundamentos básicos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
do momento do mercado, do target, da situação<br />
concorrencial e do estágio do ciclo<br />
<strong>de</strong> vida da marca.<br />
O problema é quando se tenta usar uma<br />
ou mais <strong>de</strong>las como uma compensação para<br />
a ausência ou <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> um ou mais<br />
<strong>de</strong>sses fundamentos, com a ilusão <strong>de</strong> que<br />
essa “solução mágica” terá força suficiente<br />
para cumprir o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa.<br />
Autores, palestrantes, provedores específicos<br />
<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ssas soluções têm,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente, todo o interesse em supervalorizar<br />
a fórmula à qual estão ligados e<br />
não são poucos os anunciantes e publicitários<br />
que se apaixonam pela novida<strong>de</strong> e<br />
tentam usá-las quase que a fórceps em suas<br />
estratégias e táticas, relaxando no que é realmente<br />
essencial.<br />
A última moda é o uso <strong>de</strong> dados, apresentados<br />
como uma revolução da precisão<br />
e da eficiência, capazes <strong>de</strong> gerar resultados<br />
como nunca antes na história do mercado.<br />
A essência do problema é justamente os<br />
tais dados, que são muito difíceis <strong>de</strong> serem<br />
coletados e, mais ainda, trabalhados.<br />
Seja porque é complicado levantar dados<br />
realmente acurados, o fato <strong>de</strong> que a dinâmica<br />
do mercado ou dos consumidores<br />
po<strong>de</strong> torná-los obsoletos rapidamente, seja<br />
porque fazer a “sinapse” das conexões<br />
entre eles é tarefa <strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong>,<br />
que ainda estamos longe <strong>de</strong> dominar. Pior<br />
ainda é quando esses dados são oferecidos<br />
por provedores que os obtêm e tratam em<br />
“caixas-pretas” em termos <strong>de</strong> sua origem,<br />
proprieda<strong>de</strong> e metodologia <strong>de</strong> tratamento.<br />
Isso tem ocorrido com uma espantosa<br />
frequência por boa parte das novas mídias<br />
digitais, pelas chamadas adtechs e agências<br />
ou profissionais <strong>de</strong>ficientes nos talentos<br />
e competências clássicas, que se propõem<br />
trabalhar <strong>de</strong> modo mais “mo<strong>de</strong>rno”<br />
e “eficiente”. Uma dramática reflexão sobre<br />
a bad trip na qual parte do mercado dos países<br />
<strong>de</strong> Primeiro Mundo está entrando – e<br />
que vem chegando em perigosas ondas ao<br />
Brasil – está exposta no paper escrito por<br />
um professor do MIT, um da Escola <strong>de</strong> Negócios<br />
<strong>de</strong> Melbourne e um alto executivo<br />
do GroupM (a holding <strong>de</strong> mídia da WPP).<br />
No documento, que po<strong>de</strong> ser acessado<br />
em http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3203131,<br />
eles constatam que os profiles oferecidos<br />
pelas principais mídias digitais e adtechs<br />
são dramaticamente imprecisos em relação<br />
a aspectos básicos como gênero (na faixa<br />
<strong>de</strong> quase 60%) e nos atributos <strong>de</strong>finidos<br />
(mais <strong>de</strong> 60%).<br />
E mesmo quando se conclui pela eficiência<br />
superior <strong>de</strong> uma programação, ela custa<br />
muito mais que uma campanha feita pelos<br />
critérios tradicionais <strong>de</strong> mídia (184% <strong>de</strong> ganho<br />
contra um custo 238% maior em um<br />
caso concreto analisado).<br />
A conclusão é óbvia: muito cuidado com<br />
o canto da sereia <strong>de</strong> soluções baseadas em<br />
alta tecnologia, mas sem transparência,<br />
que partem <strong>de</strong> base <strong>de</strong> dados pouco robustas<br />
– como a maioria do que os digital vendors<br />
têm oferecido.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
32 6 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark