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A Revista Mariana Histórica e Cultural é uma publicação eletrônica criada pelo professor<br />
Cristiano Casimiro dos Santos em parceria com Associação Memória, Artes, Comunicação e<br />
Cultura – AMACULT de Mariana. O periódico mensal tem por objetivo divulgar matérias, artigos,<br />
ensaios, entrevistas e resenhas sobre a cultura e história da cidade de Mariana.<br />
A Revista mostra a cultura de uma forma leve e traz histórias e curiosidades que marcam estes<br />
322 anos da cidade de Mariana. A revista é um passo importante para a divulgação e pesquisa de<br />
conteúdos sobre a cidade. Esperamos que as matérias publicadas possam contribuir para a<br />
formação de uma consciência de preservação e que incentivem pesquisas. Neste mês de julho, a<br />
Revista Mariana Histórica e Cultural em parceria com a MASTERIX Sistemas está disponibilizando<br />
na rede mundial de computadores o site: www.marianahistoricaecultural.com.br. A finalidade<br />
desta plataforma é permitir ao público o acesso virtual e gratuito às informações sobre cultura,<br />
história e turismo de Mariana.<br />
A revista eletrônica, a edição especial de Julho (impressa) e a plataforma de pesquisa (site) não<br />
receberam nenhum recurso ou apoio dos governos municipal, estadual ou federal.<br />
Assim, agradeço, imensamente, a todos que colaboram com esta publicação. A revista impressa<br />
do mês de julho destinará o lucro das vendas para a Associação de Pais e Amigos dos<br />
Excepcionais - APAE Mariana.<br />
Cristiano Casimiro dos Santos<br />
Revista Mariana histórica e Cultural<br />
ORGANIZAÇÃO PESQUISA AGRADECIMENTOS<br />
Antônio Carlos de Oliveira<br />
Bruna Santos<br />
Cássio Sales<br />
César do Carmo<br />
Deyvson Ribeiro<br />
Eliete da Silva Lopes<br />
Fábio Júlio<br />
Felipe Avelar<br />
Fernando Marques de Souza<br />
Flávio Brigoline Neme<br />
Arquivo Casa Setecentistas de Mariana<br />
Arquivo do Museu da Música de Mariana<br />
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana<br />
Arquivo Eclesiástico – Arquidiocese de Mariana<br />
Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal<br />
Livro Termo de Mariana I /ICHS UFOP<br />
Livro Casa de Câmara e Cadeia de Mariana /UFMG<br />
George César da Silva<br />
Gislaine Padula<br />
José Eduardo Liboreiro<br />
Josinéia Godinho<br />
Luciano Laje Torres Alves<br />
Márcio Eustáquio de Souza Lima<br />
Rhelman Urzedo de Queiroz<br />
Sandra Aparecida dos Reis<br />
Sinésio Silva Cunha<br />
Vitor Gomes<br />
Diagramação e Arte: Cristiano Casimiro dos Santos<br />
Revisão: Thália Gonçalves e Sandra Aparecida dos Reis<br />
Fotografias: Photocarmo : César do Carmo, Fábio Júlio, Vitor Gomes<br />
Arquivo Márcio Lima, Avelarsports, Márcio Eustáquio de Souza<br />
Lima e Cristiano Casimiro dos Santos.<br />
Capa: Cristiano Casimiro dos Santos<br />
Tiragem: 1.000 exemplares<br />
Gráfica: Gráfica Ed Del Rey Ind. comércio Eireli<br />
Rua Geraldo Antonio de Oliveira, 88<br />
Bairro Inconfidentes - Contagem/MG
Índice:<br />
MARIANA: ENTRE O PASSADO E O FUTURO 02<br />
Antônio Carlos de Oliveira<br />
MARIANA 322 ANOS 06<br />
Cristiano Casimiro dos Santos<br />
307 ANOS DA CÂMARA DE MARIANA 28<br />
Deyvson Ribeiro<br />
PRIMEIRA ELEIÇÃO EM MINAS 32<br />
Cristiano Casimiro dos Santos<br />
UMA ESCUTA GUIADA PELO MUSEU DA MÚSICA DE MARIANA 34<br />
Vitor Gomes<br />
16 ANOS DA 16 DE JULHO 44<br />
Acervo: Márcio Lima
MARIANA: ENTRE O PASSADO E O FUTURO<br />
Antônio Carlos de Oliveira<br />
Promotor de Justiça Aposentado<br />
Em uma sociedade denominada<br />
líquida, porquanto permeada por<br />
valores que se volatilizam muito<br />
repentinamente, uma questão que deve ser<br />
pautada o quanto antes, tanto pelos nossos<br />
governantes quanto pelas comunidades é a da<br />
preservação do patrimônio histórico.<br />
Esse termo – patrimônio histórico – nos remete<br />
tanto a uma instituição quanto a uma mentalidade.<br />
Designa-se “patrimônio histórico” como bens<br />
destinados ao usufruto de uma sociedade<br />
constituída pela cumulação continua de uma<br />
diversidade de objetos matérias e imateriais<br />
que se aglutinam por seu passado comum<br />
sejam eles obras, edifícios, lugares, objetos e<br />
trabalhos de todos os saberes.<br />
Desde logo o problema que se apresenta é o<br />
financeiro. Por que se investir nessa causa<br />
diante de um quadro de tantas carência sem<br />
outras searas públicas tão sensíveis como a<br />
saúde, a segurança pública, a educação, os<br />
esportes, etc.<br />
Diante da mediocridade dos serviços públicos<br />
em geral – por escassez mesmo ou, muitas<br />
vezes, pela malversação dos recursos públicos<br />
-porque se preocupar com velhos prédios que<br />
se desmancham em ruínas ou com tradições<br />
locais?<br />
Num mundo pontuado pelos valores econômicos<br />
tal questão é preponderante nessa discussão.<br />
Mas, além dessa questão prática há, ainda, a<br />
ausência de compreensão por parte da imensa<br />
maioria das pessoas da comunidade da importância<br />
mesma da preservação como forma de<br />
identificação social e provocação de discussão<br />
dos valores sociais arraigados e materializados<br />
simbolicamente nesse patrimônio.<br />
E são esses dois pontos que instauram a<br />
problemática do patrimônio histórico: para que<br />
se preservar o patrimônio sem, muitas vezes,<br />
não encontrar respaldo na coletividade? Seria<br />
mesmo possível se estabelecer uma efetiva<br />
proteção desse patrimônio sem o aval e a<br />
participação das pessoas das comunidades em<br />
que se estabelecem ?<br />
02<br />
Qual seria a razão última de uma proteção com<br />
reduzida legitimidade social ?<br />
Hoje, mais do que nunca, é preciso refletir sobre<br />
tais questões.<br />
Penso que a resposta a esses questionamentos<br />
deva perpassar dois pontos de vista: o<br />
filosófico e o econômico.<br />
Sob o ponto de vista filosófico os questionamentos<br />
sobre o patrimônio histórico acabam<br />
por revelar as condições intrínsecas de uma<br />
sociedade que se apresenta deteriorada e<br />
esgarçada em seus valores e que é, portanto,<br />
incapaz de estabelecer um itinerário seguro<br />
entre o seu passado e o seu futuro.Não me<br />
parece possível que osindivíduos e a sociedade<br />
consigam desenvolver e aprimorar a sua<br />
identidade senão pela duração e pela memória.<br />
Com efeito, uma comunidade alheia à sua<br />
história próxima ou remota, aos valores que<br />
fundaram a vida de seus antepassados, sem<br />
identidade originária, é incapaz de criar estruturas<br />
discursivas que permitam questionar<br />
valores éticos e morais que se perpetuam no<br />
tempo e espaço, por vezes rompendo com os<br />
mesmos, num movimento dialético que assuma<br />
e ultrapasse seu sentido histórico original.<br />
Ou, na boca do poeta:“Quando eu penso no<br />
futuro, não esqueço o meu passado.”<br />
O patrimônio histórico pode servir, assim, como<br />
uma alegoria destinada ao aprendizado desse<br />
novo paradigma: perceber além daquilo que se<br />
vê.<br />
Pois, sim, um prédio, um sítio arqueológico,<br />
uma atividade religiosa, carregam em si mesmos<br />
conteúdos valorativos e afetivos inimagináveis<br />
aos olhos despreparados. E aprender a<br />
ver e a sentir precisamos todos, todos os dias.<br />
E a educação patrimonial pode ser uma maneira<br />
efetiva de se criar uma mentalidade voltada<br />
para a internalização de valores que se desejam<br />
em uma comunidade.<br />
Refiro-me, aqui, a uma educação verdadeira e<br />
não à meramente formal. A “paidéia” dos<br />
nossos antepassados gregos.
Uma abertura de consciência para uma nova<br />
visão de mundo em que se estabeleçam<br />
premissas que se pretendam consolidadas em<br />
nosso futuro: o cuidado para com as coisas e<br />
para com os outros; à escuta do diferente; a<br />
atenção e o respeito à história em geral e, em<br />
decorrência, às histórias de cada um.<br />
A internalização constante desse novo paradigma<br />
deve ser concretizada na efetiva participação<br />
das pessoas no cuidado diário e constante<br />
do patrimônio cultural que lhes pertence porque,<br />
mais do que prédios e tradições, há, agora,<br />
histórias povoadas de valores ali simbolizadas.<br />
A legitimação desse cuidado passará, ainda,<br />
por um envolvimento na causa, através da<br />
utilização desse patrimônio no dia-adia,permitindo-se<br />
uma adequação de uma<br />
história a um presente, vívido e interessante.<br />
Exemplo dessa utilização pode-se encontrar<br />
mundo afora. Veja-se, por exemplo, o que se fez<br />
em Buenos Aires, transformando-se um antigo<br />
e abandonado porto num local aprazível e<br />
destinado a encontros a participação social:<br />
Puerto Madero.<br />
Mas além do discurso teórico, a questão é:<br />
como se avançar nesse desiderato?<br />
A intervenção do Poder Público é fundamental,<br />
por meio de adequação dos currículos escolares,<br />
com o fomento de palestras e atividades<br />
culturais específicas, audiências públicas de<br />
debates, criação de grupos de estudos, e,<br />
convênios com a UFOP que sedia nesta cidade<br />
um curso de história e, por meio de extensão<br />
universitária pode desenvolver projetos nesse<br />
sentido envolvendo não só os jovens escolares<br />
como também as comunidades em diversos<br />
rincões.<br />
Veja-se que são atividades que demandam<br />
muito mais visão e vontade política do que<br />
recursos propriamente ditos.<br />
Também a comunidade, por meio de lideranças<br />
comunitárias, pode se envolver em projetos.<br />
Numa cidade como esta de tantos bens patrimoniais<br />
não se tem uma organização social<br />
ativa em defesa do patrimônio histórico!<br />
Não creio que não haja pessoas preocupadas<br />
com esse assunto. A mim me parece que<br />
carecem de uma liderança que as uma num<br />
propósito efetivo de concretização de uma<br />
política protecionista baseada na legitimação<br />
popular.<br />
Talvez o Conselho do Patrimônio de Mariana<br />
possa servir de catalizador nesse sentido,<br />
estimulando lideranças nesse propósito,<br />
03<br />
auxiliando-o, inclusive.<br />
Sob o ponto de vista econômico a relevância é<br />
inconteste. Mariana vive às custas de uma<br />
atividade econômica minerária que, à par de<br />
discussões éticas e ambientais, impertinentes<br />
para esta oportunidade, lhe rende recursos de<br />
monta, e oferece oportunidades de trabalho.<br />
História recente, todavia, mostrou que se trata<br />
de atividade precária e que pode deixar a<br />
cidade em situação de extrema dificuldade.<br />
Além da possibilidade de desastres ambientais<br />
ou quedas nos comodities internacionais, há,<br />
ainda, o inexorável exaurimento das reservas,<br />
cedo ou tarde.<br />
Ainda assim não se vêm atitudes no sentido de<br />
preservar, valorizar e estimular fortemente o<br />
turismo na região, seja ele histórico, religioso ou<br />
ecológico.<br />
Sabidamente o turismo vem sendo em muitos<br />
países a mola propulsora da economia, gerando<br />
riquezas de forma limpa e altamente capilar<br />
– hotéis, restaurantes, etc.etc.<br />
As cidades históricas podem ser transformadas<br />
em produto de consumo cultural, desde que<br />
passem, por óbvio, por estudos criteriosos,<br />
unindo-se a sua preservação e participação da<br />
comunidade local a uma fonte de renda, num<br />
círculo virtuoso.<br />
Ora, a preservação patrimonial tem, assim,<br />
residualmente, um papel importante no futuro<br />
de Mariana, aglutinando ao mesmo tempo uma<br />
forte fonte econômica a valores de sensibilidade,<br />
especialmente estéticos.<br />
E não se vê atitude concreta quer seja por parte<br />
dos governantes, quer seja por parte do empresariado<br />
local, no sentido de se estimular essa<br />
atividade. Incompreensível essa cegueira.<br />
Quando se perceber essa importância talvez<br />
seja tarde demais e somente restarão ruínas,<br />
pouco atrativas aos turistas.<br />
Mariana se encontra numa encruzilhada entre<br />
o seu passado e o seu futuro e decisões precisam<br />
ser tomadas urgentemente.<br />
Qual cidade desejaremos viver daqui a vinte,<br />
trinta anos ? Qual civilização estamos criando ?<br />
Quais valores sociais e culturais estamos<br />
cultivando ?<br />
Essa é uma dentre tantas questões importantes<br />
que se apresentam em nossa cidade.<br />
Editorial
Foto: AvelarSports
Ela é mãe de toda Minas<br />
Ela é Maria e Ana.<br />
É a primeira...<br />
Na suas brumas a história de Minas foi tecida.<br />
Nas suas montanhas as ideias de liberdade<br />
foram lançadas.<br />
Em teu ribeirão-ventre, Minas nasceu.<br />
Mariana, onde Minas Mostra seus Segredos.<br />
Cristiano Casimiro
Mariana 322 Anos
EEm 16 de julho será celebrado o aniversário de 322<br />
anos de Mariana, a primeira cidade de Minas<br />
Gerais. Conhecer e orgulhar da nossa história é,<br />
também, um exercício de reflexão para o futuro.<br />
A história de Mariana começa assim:<br />
As notícias da descoberta de ouro na região do Sertão<br />
dos Cataguases, atual Minas Gerais, se espalharam<br />
pelo Brasil e chegaram a Portugal, motivando milhares<br />
de pessoas a acorreram à região em busca de riqueza.<br />
Entre as pessoas que foram para a região estavam os<br />
bandeirantes paulistas, liderados por Salvador<br />
Fernandes Furtado de Mendonça, que encontraram<br />
ouro em um rio que batizaram de Ribeirão Nossa<br />
Senhora do Carmo em homenagem à virgem do monte<br />
Carmo. O capelão da comitiva, Padre Francisco<br />
Gonçalves Lopes, ergueu o primeiro altar da terra<br />
mineira, em uma tarde de Domingo, no dia 16 de julho<br />
de 1696.<br />
Às suas margens, nasceu o arraial de Nossa Senhora<br />
do Carmo que logo assumiria uma função estratégica<br />
no jogo de poder determinado pelo ouro. O local se<br />
transformou em um dos principais fornecedores desse<br />
minério para Portugal.<br />
Entre 1708 e 1710, ocorreram vários conflitos armados<br />
na zona aurífera, envolvendo de um lado paulistas e do<br />
outro portugueses e sujeitos vindos de diversas regiões<br />
do Brasil. Esses conflitos ficaram conhecidos como<br />
Guerra do Emboabas. Os episódios deste conflito<br />
levaram a Metrópole (Portugal) a desmembrar do Rio de<br />
Janeiro a capitania constituída por São Paulo e Minas<br />
Gerais, a fim de melhor policiar a região, enviando para<br />
o primeiro povoamento em 1709, o Arraial do Ribeirão<br />
do Carmo, o governador Antônio de Albuquerque<br />
Coelho de Carvalho, que ali fixou residência,<br />
conseguindo, em pouco tempo, serenar os espíritos e<br />
estabelecer a ordem.<br />
Em 1711, sendo já considerável o desenvolvimento do<br />
arraial, um ato do citado governador, de 8 de abril,<br />
elevou-o à categoria de vila, sob a denominação de Vila<br />
de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo de<br />
Albuquerque. O nome foi modificado por dom João V,<br />
em 14 de abril de 1712, para Vila Leal de Nossa<br />
Senhora do Ribeirão do Carmo. Esse acontecimento<br />
exigiu a implantação, segundo as determinações<br />
metropolitanas, de uma estrutura administrativa e<br />
judiciária. Assim, em 04 de julho de 1711, foi criada a<br />
primeira Casa de Câmara das Minas do Ouro na Vila do<br />
Carmo, tendo o mesmo status da Câmara da cidade do<br />
Porto em Portugal.<br />
07
Mapa da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro<br />
Detalhe: Vila de Nossa Senhora do carmo
A vila, em pouco tempo, transformou-se em principal centro de<br />
comércio das Minas Gerais. O sucessor de Albuquerque, Dom<br />
Brás Baltazar, encontrou várias dificuldades em solucionar a<br />
cobrança do quinto por bateia utilizada na exploração do ouro.<br />
Temendo uma guerra civil, comunicou-se o governo metropolitano,<br />
que ordenou fosse o imposto cobrado sobre o montante<br />
do metal extraído e sobre as indústrias e profissões. Essa<br />
providência acalmou momentaneamente os ânimos.<br />
Retirando-se Dom Baltazar e tendo assumido o governo Dom<br />
Pedro de Almeida Portugal, Conde de Assumar, rompeu-se o<br />
equilíbrio penosamente mantido pelos seus antecessores,<br />
lavrando nos espíritos o incêndio da revolta. Assumar pede ao<br />
Rei de Portugal tropas para conter o grande fluxo de pessoas e<br />
a instabilidade da região. Em 1719, chegam a Minas Gerais<br />
duas companhias de dragões enviadas de Lisboa, que constituíram<br />
os famosos Dragões Reais de Minas ou Tropa de<br />
Dragões do Conde de Assumar. Os soldados “Dragões”<br />
tiveram um papel importante na revolta de Vila Rica, motim<br />
chefiado por Filipe dos Santos. Como decorrência desse<br />
acontecimento foi criada, em 2 de dezembro do mesmo ano, a<br />
capitania Independente de Minas Gerais.<br />
No dia 29 de outubro de 1730, João Lopes de Lima estabeleceu<br />
uma linha de Correio Ambulante entre Rio de Janeiro-São<br />
Paulo-Minas do Ouro, a fim de que, dada a extensão do<br />
crescimento demográfico da nova terra descoberta: o eldorado<br />
mineiro que atraía numerosas caravanas de aventureiros à<br />
cata de ouro, pudesse ter melhores e mais rápidos meios de<br />
comunicação, sendo, então, a Vila do Carmo o ponto convergente<br />
de todo o movimento extrativo do ouro.<br />
Em 1745, por ordem do rei de Portugal D. João V, a Vila de<br />
Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo foi elevada à cidade<br />
com o nome de Mariana – uma homenagem à rainha Maria<br />
Ana D'Austria, sua esposa. No mesmo ano, pela bula Candor<br />
lucisaeternae, o Papa Bento XIV criou a diocese de Mariana,<br />
desmembrada do Rio de Janeiro, juntamente, com a diocese<br />
de São Paulo e as prelazias de Goiás e Cuiabá. A criação<br />
dessa diocese marca um novo momento na geopolítica da<br />
colonização do sertão mineiro. Com sua instalação, modificam-se<br />
as relações entre as diversas esferas do poder. Tornase<br />
mais complexo o quadro de forças políticas configurado<br />
pela atuação das irmandades, câmaras locais, clero e autoridades.<br />
A igreja matriz dedicada à Nossa Senhora da Conceição foi<br />
elevada à categoria de catedral de Nossa Senhora da<br />
Assunção. Transformando-se no centro religioso da capitania<br />
das Minas do Ouro, nessa mesma época, a cidade passou a<br />
ser sede do primeiro bispado mineiro.<br />
09
“Mapa da Cidade de Mariana” que se encontra na Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro.<br />
José Fernandes Pinto Alpoim - Nasceu em Viana do Castelo (Portugal) a 14 de julho de<br />
1700. Foi um militar português e um dos principais nomes da arquitetura do século XVIII no<br />
Brasil colonial.<br />
Estudoou na Academia de Viana do Minho, e posteriormente aprofundou seus estudos na<br />
Academia Militar em Lisboa. Nos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo encontra-se a carta<br />
patente de Alpoim como sargento-mor de Artilharia, datada de 19 de agosto de 1738.<br />
Chegou ao Rio de Janeiro em 1738, passando a trabalhar em estreita colaboração com o<br />
governador Gomes Freire de Andrade. Trabalhou no Rio, em Minas Gerais e no Rio Grande<br />
do Sul. Em 1760, foi promovido a brigadeiro.<br />
Entre suas obras no Rio de Janeiro contam-se a reforma do Aqueduto da Carioca e a<br />
edificação do convento de santa Teresa, do convento da Ajuda, da Casa dos Governadores<br />
(Paço Imperial), a igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, entre muitas outras<br />
obras.<br />
Em Minas Gerais, desenhou a planta da Cidade de Mariana (antiga Vila do Ribeirão do<br />
Carmo) e o Palácio dos Governadores de Ouro Preto. Morreu em 1765 no Rio de Janeiro.
Para isso, foi enviado, do Maranhão, o<br />
bispo D. Frei Manoel da Cruz. Sua jornada<br />
entre São Luis do Maranhão até a<br />
Mariana, realizada por terra, durou um<br />
ano e dois meses e foi considerada uma<br />
epopeia. A chegada do bispo as terras<br />
mineiras foi celebrada com a maior festa<br />
do período colonial: O Áureo Trono<br />
Episcopal – festa ocorrida em Mariana<br />
para homenagear o primeiro bispo de<br />
Minas.<br />
Um projeto urbanístico se fez necessário<br />
para a Primeira Capital das Minas Gerais,<br />
sendo elaborado pelo engenheiro militar<br />
José Fernandes Pinto de Alpoim. Ruas<br />
em linha reta e praças retangulares são<br />
características da primeira cidade planejada<br />
de Minas e uma das primeiras do<br />
Brasil. O livro, Temo de Mariana I, publicado<br />
pelo departamento de história da<br />
Universidade Federal de Ouro Preto<br />
(UFOP), descreve o espaço urbano da<br />
nova cidade:<br />
“Nesta época alguns preceitos e procedimentos<br />
da “escola” de engenharia militar<br />
portuguesa são incorporados às cartas<br />
régias, como normas a serem seguidas<br />
na fundação de cidades. Os documentos<br />
mencionam a determinação de um local<br />
para uma praça e para os principais<br />
edifícios públicos e faz-se exigências<br />
quanto a abertura de ruas, que deveriam<br />
ser “largas e direitas”, e quanto ao aspecto<br />
das moradias, “...sempre fabricadas na<br />
mesma figura uniforme pela parte<br />
exterior, ainda que na outra parte interior<br />
as faça cada um conforme lhes parecer<br />
para que desta sorte se conserve sempre<br />
a mesma formosura da Villa e nas ruas<br />
della a mesma largura ”. Dom João V não<br />
fez grandes exigências em relação à<br />
forma que deveriam ter as habitações em<br />
Mariana. A ideia da época era que todas<br />
as casas fossem iguais, apesar do plano<br />
em Mariana não ser tão detalhado como<br />
em outros locais, os quais chegavam a<br />
metrificar a fachada dos edifícios.”<br />
Em Mariana, há uma exceção à regra<br />
geral das fachadas mineiras: a Rua<br />
Direita. O antigo “caminho de cima” só<br />
recebeu sua feição atual a partir de 1745,<br />
quando foi “arruado” (regularizado)<br />
segundo o plano de Alpoim. Havia um<br />
documento, um acórdão da Câmara, o<br />
qual determinava que todos os pretendentes<br />
a edificações do lado esquerdo da<br />
rua as fizessem “de maior nobreza” dando<br />
os fundos para o Palácio de Assumar, que<br />
se tornou mais tarde residência episcopal.<br />
Assim, até hoje, podemos perceber<br />
que desse lado da rua as casas têm, em<br />
geral, dois andares e sacadas, enquanto<br />
do lado oposto, são em geral, casas mais<br />
baixas, de um só pavimento.<br />
Com a instalação da Diocese de Mariana<br />
as preocupações do Clero em formar<br />
padres e a carência de um estabelecimento<br />
para ensino levaram o Bispo Dom<br />
Frei Manoel da Cruz, em 20 de dezembro<br />
de 1750, a criar em Mariana o Seminário<br />
Nossa Senhora da Boa Morte, primeira<br />
instituição formal de ensino da capitania<br />
das Minas do Ouro.<br />
O Seminário Menor de Mariana prestou<br />
relevantes serviços à educação, tanto na<br />
época da colônia como em todo o século<br />
XIX. O edifício apresenta a elegante<br />
disposição em dois blocos enquadrando a<br />
capela, formando um E. Sua construção é<br />
de grande simplicidade, com as numerosas<br />
janelas de guilhotinas com vãos de<br />
vergas retas. Possui uma pequena<br />
escada de entrada, no ângulo das alas do<br />
Seminário coberto por alpendre. O<br />
Seminário Menor de Mariana prestou<br />
relevantes serviços à educação, tanto na<br />
época da colônia como em todo o século<br />
XIX. O edifício apresenta a elegante<br />
disposição em dois blocos enquadrando a<br />
capela, formando um E. Sua construção é<br />
de grande simplicidade, com as numerosas<br />
janelas de guilhotinas com vãos de<br />
vergas retas.<br />
11
Barão de Eschewege<br />
Ludwig von Eschwege, conhecido entre os mineiros como o Barão de<br />
Eschwege. Eschwege nasceu em Hessen, na Alemanha, formou-se nas<br />
universidades de Gottingen, de Marburg, e na Academia de Minas de Clausthal.<br />
Em 1802, foi contratado pelo governo português, tendo trabalhado sob a<br />
direção de José Bonifácio, então Intendente Geral das Minas e Metais do Reino.<br />
No início de 1810 embarcou para o Rio de Janeiro, aonde chegou em 29 de<br />
março, recebendo a patente de Sargento Mor do Real Corpo de Engenheiros.
Quando os depósitos de ouro aluvinoar<br />
(ouro retirado do rio) começaram a escasseara,<br />
no final do século XVIII, a situação<br />
econômica da região se deteriora, iniciando<br />
um período de estagnação, com predominância<br />
da economia agrícola de subsistência,<br />
em solo revolto de terras ferrosas,<br />
montanhosas e pouco produtivas, por mãos<br />
i n á b e i s a o c u l t i v o d o s o l o .<br />
Consequentemente houve, o enfraquecimento<br />
dos governos, o empobrecimento e a<br />
miséria da população o abandono parcial da<br />
cidade de Mariana.<br />
A abundância do metal, antes farto no leito<br />
dos rios, passou a ser rarefeito nos filões<br />
incrustados na rocha dura das serras íngremes,<br />
tornando difícil a extração, à luz da<br />
pouca tecnologia lusitana na colônia.<br />
A presença da Corte Portuguesa no Brasil, a<br />
partir de 1808, e as políticas adotadas por D.<br />
João VI introduziram profundas transformações<br />
no Sistema Colonial como a tecnologia<br />
na mineração. Em 1811, buscando uma<br />
alternativa para a mineração de ouro que se<br />
encontrava em decadência, convidou a se<br />
instalar no Brasil o engenheiro alemão<br />
Willein Von Eschewege, que veio com o<br />
propósito de estabelecer uma indústria<br />
siderúrgica na região central de Minas<br />
Gerais.<br />
Em 1817 é editada a Carta Régia escrita<br />
com a colaboração de Eschewege, que<br />
dispõe sobre os procedimentos legais para<br />
formação e funcionamento das sociedades<br />
de mineração no Brasil.<br />
O Barão de Eschewege, estabeleceu-se em<br />
Mariana em 1819 e aproveitando dos dados<br />
coletados por seus sócios ingleses da<br />
Geological Royal Society, adquiriu diversas<br />
frentes de lavra mineral na região. Até<br />
meados de 1821, lavrou ouro a céu aberto e<br />
iniciou a lavra de subsolo no antigo arraial de<br />
São Vicente, hoje, atual distrito de<br />
Passagem de Mariana, tendo fundado ali a<br />
primeira empresa de mineração do Brasil – a<br />
Sociedade Mineralógica de Passagem.<br />
Em 1859, Eschewege cedeu os direitos da<br />
Sociedade Mineralógica de Passagem, ao<br />
sócio inglês Thomas Bawden. Bawden,<br />
identificado historicamente como Senador<br />
Bawden, por sua passagem no Senado da<br />
Câmara de Mariana no final do século XIX,<br />
dedicou-se à formação do povoado de<br />
Passagem de Mariana, rompendo com a<br />
ocupação do morro de São Vicente e trazendo<br />
o núcleo urbano para mais próximo da<br />
jazida de ouro.<br />
Neste período a mineração de ouro estava<br />
em pleno vapor e a região começou a prosperar<br />
novamente. Assim, ocorreu uma<br />
modificação significativa na educação em<br />
Mariana com o início das atividades do<br />
Colégio Providência, em 10 de março de<br />
1850, sendo o primeiro Estabelecimento de<br />
Ensino Secundário para a juventude feminina<br />
de Minas Gerais. O Colégio Providência é<br />
parte da obra de doze irmãs Filhas da<br />
Caridade, enviadas como missionárias para<br />
o Brasil, a pedido do Bispo de Mariana D.<br />
Viçoso.<br />
Mariana - Primeiro descobrimento, primeira<br />
vila, primeira cidade, primeiro Bispado e<br />
Arcebispado, primeira Comarca Judiciária,<br />
primeira Câmara Municipal, primeira cidade<br />
na instalação da escola primária e normal,<br />
primeira Capital de Minas e a pioneira no<br />
setor das comunicações, em Minas Gerais,<br />
ao receber a instalação do Correio<br />
Ambulante.<br />
A Cata do ouro em águas cristalinas no<br />
Ribeirão do Carmo fez surgir os primeiros<br />
povoamentos das Minas Gerais. A fé do<br />
povo e a riqueza do ouro criaram um dos<br />
mais importantes cenários da religião,<br />
cultura e arte.<br />
Professor Cristiano Casimiro<br />
Termo de Mariana I<br />
Arquivo Eclesiástico de Mariana<br />
Arquivo Histórico da Câmara Municipal<br />
de Mariana<br />
13
01 04<br />
02<br />
03<br />
Primeiro Povoamento de Minas Em 16 de<br />
julho de 1696, bandeirantes paulistas,<br />
liderados por Salvador Fernandes Furtado<br />
de Mendonça, encontraram ouro em um rio<br />
que batizam de Ribeirão Nossa Senhora<br />
do Carmo. Às suas margens, nasceu o<br />
arraial de Nossa Senhora do Carmo que<br />
logo assumiria uma função estratégica no<br />
jogo de poder determinado pelo ouro. O<br />
local se transformou em um dos principais<br />
fornecedores deste minério para Portugal.<br />
Primeira Vila Entre 1707 e 1709, ocorreram<br />
vários conflitos armados na zona aurífera,<br />
envolvendo de um lado paulistas e de outro<br />
portugueses e sujeitos vindos de vários<br />
pontos do Brasil. Esses conflitos ficaram<br />
conhecidos como Guerra do Emboabas.<br />
Sendo já considerável o desenvolvimento<br />
do Arraial do Ribeirão do Carmo, o governador<br />
Antônio de Albuquerque Coelho de<br />
Carvalho, em 8 de abril de 1711, elevou-o à<br />
categoria de vila, sob a denominação de<br />
Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do<br />
Carmo de Albuquerque.<br />
Primeira Câmara Esse acontecimento<br />
exigiu a implantação, segundo as determinações<br />
metropolitanas, de uma estrutura<br />
administrativa e judiciária representada<br />
pela Casa Câmara e Cadeia na Vila de<br />
Nossa Sra. do Ribeirão do Carmo. Assim,<br />
em 04 de julho de 1711, foi criada na Vila de<br />
Nossa senhora do Carmo a primeira<br />
Câmara de Minas Gerais com mesmo<br />
status da Câmara da cidade do Porto em<br />
Portugal.<br />
05<br />
06<br />
07<br />
Primeira Eleição nas Minas Gerais Na<br />
eleição da Câmara da Vila do Carmo, em<br />
1711, foram eleitos: O capitão Mor Pedro<br />
Frazão de Brito, para juiz mais velho,<br />
Joseph Rebello Perdigão, para juiz mais<br />
moço, Manoel Ferreyra de Sá, para vereador<br />
mais velho, Francisco Pinto de<br />
Almendra, para segundo vereador, Jacinto<br />
Barboza Lopez, para terceiro vereador e<br />
Torquato Teyxeira de Carvalho, para<br />
procurador.<br />
Primeira Comarca judiciária nas Minas<br />
Com a eleição da Câmara da Vila do<br />
Carmo foi também estabelecido o poder<br />
judiciário em Minas, sendo o quadro de<br />
camaristas eleitos membros da primeira<br />
comarca judiciária da capitania.<br />
Primeira Sede de Governo da Capitania<br />
Os episódios da Guerra dos Emboabas<br />
levaram a Metrópole (Portugal) a desmembrar<br />
do Rio de Janeiro a capitania constituída<br />
por São Paulo e Minas Gerais, a fim de<br />
melhor policiar a região, enviando para ao<br />
1º povoamento de minas , em 1709, o<br />
governador Antônio de Albuquerque<br />
Coelho de Carvalho, que ali fixou residência,<br />
conseguindo, em pouco tempo, serenar<br />
os espíritos e estabelecer a ordem<br />
Primeiro Quartel Militar Em 20 de junho de<br />
1719, por Carta Régia do Dom João V<br />
mesmo ano, cria-se na Vila de Nossa<br />
Senhora do Carmo, duas Companhias de<br />
Cavalaria criadas e o Primeiro Quartel de<br />
Dragões da Capitania de Minas Gerais<br />
para abrigar as referidas Companhias de<br />
Cavalaria.
08<br />
09<br />
10<br />
11<br />
12<br />
Primeira linha de Correios Em 29 de outubro<br />
de 1730, João Lopes de Lima, morador<br />
em Atibaia - SP,de comum acordo com o<br />
Governador Arthur de Sá Menezes, estabeleceu<br />
a primeira linha de Correio Ambulante<br />
entre Rio- São Paulo-Mariana<br />
Primeira Cidade de Minas A Carta Régia<br />
de 23 de abril de 1745, expedida por dom<br />
João V, elevou a vila à categoria de cidade,<br />
com o nome de Mariana, em homenagem à<br />
rainha dona Maria Ana d'Áustria. Mariana<br />
foi a primeira vila de Minas Gerais e a<br />
primeira localidade da capitania a receber<br />
foros de cidade.<br />
Primeira Cidade Planejada de Minas Um<br />
projeto urbanístico se fez necessário para a<br />
Primeira Capital das Minas Gerais, sendo<br />
elaborado pelo engenheiro militar José<br />
Fernandes Pinto de Alpoim. Ruas em linha<br />
reta e praças retangulares são características<br />
da primeira cidade planejada de Minas.<br />
Primeiro Bispado Em 6 de dezembro de<br />
1745, foi criado o primeiro bispado das<br />
Minas Gerais, mediante bula do papa Bento<br />
XIV, sendo seu primeiro titular Dom Frei<br />
Manuel da Cruz. Foi ele o responsável pela<br />
conclusão da Sé, a fundação do seminário e<br />
o lançamento da pedra fundamental da<br />
igreja de São Francisco.<br />
Primeira Escola Superior Em 20 de<br />
dezembro de 1750, foi criada em Mariana a<br />
primeira Escola Superior em Minas Gerais.<br />
O Seminário de Mariana foi instituído pelo<br />
seu primeiro bispo, dom Frei Manoel da<br />
Cruz, no auge do ciclo do ouro, sob a proteção<br />
de Nossa Senhora da Boa Morte.<br />
Inicialmente foi confiado à direção da<br />
Companhia de Jesus, no entanto, com a<br />
perseguição do Marquês de Pombal e a<br />
consequente expulsão dos jesuítas, o<br />
Seminário foi entregue aos cuidados do<br />
próprio clero local.<br />
13<br />
14<br />
15<br />
16<br />
Primeira Empresa de Mineração do Brasil<br />
Por sugestão do Barão Eschwege, o Rei<br />
Dom João VI publica, em 12 de agosto de<br />
1817, Carta Régia que apresenta os estatutos<br />
das sociedades de mineração, que<br />
estabeleciam as bases para a fundação da<br />
primeira companhia mineira do Brasil. Em<br />
1819, foi criada a primeira companhia de<br />
mineração, pelo Barão Eschwege - a<br />
Sociedade Mineralógica - para explorar o<br />
ouro da mina de Passagem em Mariana.<br />
Primeiro Arcebispado de Minas Pelo<br />
decreto Sempiternumhumani generis da<br />
então Congregação Consistorial, datado de<br />
1º de maio de 1906, a diocese de Mariana<br />
foi elevada à categoria de arquidiocese,<br />
tendo como sufragâneas as dioceses de<br />
Goiás, Diamantina e Pouso Alegre, e Dom<br />
Silvério constituído seu primeiro arcebispo<br />
Primeira Escola para Mulheres em Minas<br />
Colégio Providência iniciou suas atividades<br />
no dia 10 de março de 1850. É o primeiro<br />
Estabelecimento de Ensino Secundário<br />
para a juventude feminina de Minas Gerais.<br />
O Colégio é parte da obra de doze irmãs<br />
Filhas da Caridade, enviadas como missionárias<br />
para o Brasil, a pedido do Bispo de<br />
Mariana D. Viçoso. Estas Irmãs ministravam<br />
as aulas curriculares, bem como aulas<br />
de piano, pintura, desenho e outros.<br />
Dia do Estado de Minas Na constituição do<br />
Estado de Minas Gerais, no artigo 256 –<br />
considera magna do Estado – Dia de Minas<br />
o dia 16 de julho;<br />
§ 1º - As semanas em que recaírem os dias<br />
16 de julho é denominadas Semana de<br />
Minas e constituirão períodos de celebrações<br />
cívicas em todo o território do Estado.<br />
§ 2º - A Capital do Estado será transferida<br />
simbolicamente para a cidade de Mariana<br />
no dia 16 de julho.
Águas Claras
Foto: AvelarSports<br />
Pico do Itacolomi
As Terras do Ribeirão Carmo<br />
Foto: Márcio Lima<br />
A ocupação das Terras do Ribeirão do<br />
Carmo se deu a partir de 1696 quando<br />
houve a divisão das terras descobertas,<br />
assim os homens que lideram as bandeiras<br />
e os primeiros camaristas apossaram<br />
das novas terras e criando pequenos<br />
povoados destinados à mineração e<br />
agricultura.<br />
Tomando posse da região do Ribeirão do<br />
Carmo e nele iniciando a mineração,<br />
Salvador Fernandes levantar as primeiras<br />
cabanas ao longo da praia, no Matacavalos<br />
(bairro Santo Antônio), assim a<br />
capela que foi dedicada inicialmente ao<br />
Menino Jesus, sendo mudada a invocação<br />
sucessivamente para Nossa Senhora<br />
do Bom Sucesso e Nossa Senhora da<br />
Conceição, nela oficiando a primeira<br />
missa o Capelão da comitiva, padre<br />
Francisco Lopes Gonçalves. Salvador<br />
Fernandes regressou depois disso a São<br />
Paulo , de onde retornou, em 1699, em<br />
companhia do guarda-mor Garcia<br />
Rodrigues, para a medição e distribuição<br />
dos descobertos, o que foi feito, começando-se<br />
pelo de Miguel Garcia, no<br />
ribeirão que antes já havia encontrado e<br />
no qual fundou o arraial da Vargem do<br />
Itacolimi, e seguindo-se no ribeirão do<br />
Carmo, onde feita a meditação em nome<br />
de Manoel Garcia de Almeida.<br />
Outros povoados vieram depois, e novos<br />
arraiais foram surgindo, tais como o de<br />
Camargos, fundado por Tomaz Lopes de<br />
Camargo e seus irmãos, Cachoeira do<br />
Brumado, por João Pedroso; São<br />
Sebastião, por Sebastião Fagundes<br />
Varela; Furquim, e Bento Pires, que<br />
recebeu o nome do seu próprio fundador.<br />
Alastrou-se em pouco tempo por toda a<br />
área do ribeirão do Carmo uma grande<br />
área de mineração.<br />
A coroa Portuguesa voltou assim a suas<br />
atenções para as Minas e resolveu criar a<br />
nova Capitania de São Paulo e Minas de<br />
Ouro, separada do Rio de Janeiro, sendo<br />
nomeado primeiro governador o capitãogeneral<br />
Antônio Albuquerque Coelho de<br />
Carvalho, que logo promoveu a criação<br />
das três primeiras vilas em Minas Gerais,<br />
a saber, a Vila de Nossa Senhora do<br />
Carmo de Albuquerque, a vila Rica, e a<br />
vila de Sabará, esta última na região do rio<br />
das Velhas, onde o ouro já havia sido<br />
também descoberto.<br />
Ocorreu isto em 1711: E o governador<br />
Antônio Albuquerque, assim como os<br />
seus sucessores, D. Braz Baltazar da<br />
Silveira e D. Pedro de Almeida Conde de<br />
Assumar, apesar de ser em São Paulo a<br />
sede da Capitania, tiveram de fixar<br />
residência em ribeirão do Carmo, pois a<br />
mineração do ouro havia deslocado<br />
quase por completo o centro de interesse<br />
da Coroa Portuguesa para as Minas<br />
Gerais. Não tardaram a surgir as lutas e<br />
os conflitos na residência oposta aos<br />
rigorosos métodos adotados na fiscalização<br />
da saída do ouro, para a cobrança<br />
dos pesados tributos exigidos pelo Rei de<br />
Portugal.
Foto: Márcio Lima<br />
Igreja Nossa Senhora da Conceição - Camargos<br />
Cristiano Casimiro
Ÿ<br />
Ÿ<br />
Ÿ<br />
Ÿ<br />
.Formação Administrativa de Mariana<br />
Elevado à categoria de vila com a<br />
denominação de Albuquerque, em 08-<br />
04-1711. Instalada em 05-08-1711 ou<br />
22-01-1712.<br />
Pela carta régia de 14-04-1712, a vila<br />
de Albuquerque tomou o nome de<br />
Ribeirão do Carmo.<br />
Pela lei provisão de 16-02-1718 e<br />
também 1740, foram criados os<br />
distritos de Barra Longa, Furquim,<br />
Piranga, Nossa Senhora de Nazaré do<br />
Inficionado, Santa Rita Durão e<br />
Sumidouro e anexados ao município<br />
d e R i b e i r ã o d o C a r m o ( e x -<br />
Albuquerque).<br />
Elevada à condição de cidade com a<br />
denominação de Mariana, pela carta<br />
Régia de 23-04- 1745.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 50, de 08-04-<br />
1836, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, foram criados os distritos de<br />
Camargos e São Caetano do Ribeirão<br />
Abaixo e anexados ao município de<br />
Mariana.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 209, de 07-04-<br />
1841, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado o · d i s t r i t o d e S ã o<br />
Sebastião e anexado ao município de<br />
Mariana.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 471, de 01-06-<br />
1850, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado odistrito de Cachoeira<br />
do Brumado e anexado ao município<br />
de Mariana.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 1262, de 19-12-<br />
1865, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado o distrito de Conceição<br />
do Turvo e anexado ao município de<br />
Mariana<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 1537, de 20-07-<br />
1868, desmembra do município de<br />
Mariana osdistritos de Piranga e<br />
Conceição do Turvo, para constituir a<br />
nova vila de Piranga<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 2085, de 24-12-<br />
1874, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado o distrito de São<br />
Gonçalo do Ubá e anexado ao<br />
município de Mariana.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 2762, de 12-12-<br />
1881, e pela lei estadual nº 2, de 14-<br />
09-1891, foram criados os distritos de<br />
São Domingos e Vargem Alegre e<br />
anexado ao município de Mariana.<br />
Ÿ Pela lei provincial nº 3798, de 16-08-<br />
1889, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado o distrito de Boa Vista e<br />
anexado ao município de Mariana.<br />
Ÿ Pelo decreto estadual nº 23, de 01-03-<br />
1890, desmembra do município de<br />
Mariana o distrito de Vargem Alegre,<br />
para constituir a nova vila de São<br />
Domingos do Prata.<br />
Ÿ Pelo decreto estadual nº 155, de 26-<br />
07-1890, e lei estadual nº 2, de 14-09-<br />
1891, é criado o distrito de Passagem<br />
e anexado ao município.<br />
Ÿ<br />
Pela lei municipal de 22-06-1895, o<br />
distrito de Nossa Senhora de Nazaré<br />
do Inficionado tomou o nome de Santa<br />
Rita Durão.<br />
Em divisão administrativa referente ao<br />
ano de 1911, o município é constituído de<br />
13 distritos: Mariana, Barra Longa, Boa<br />
V i s t a , C a c h o e i r a d o B r u m a d o ,<br />
Camargos, Furquim, Passagem, Santa<br />
Rita Durão, São Caetano do Ribeirão<br />
Abaixo, São Domingos, São Gonçalo do<br />
Ubá, São Sebastião e Sumidouro.<br />
N o s q u a d r o s d e a p u r a ç ã o d o<br />
recenseamento geral de 01-09-1920, o<br />
município é constituído de 13 distritos:<br />
Mariana, Barra Longa, Boa Vista,<br />
Cachoeira do Brumado, Camargos,<br />
Furquim, Passagem, Santa Rita Durão,<br />
São Caetano (ex-São Caetano do<br />
Ribeirão Abaixo), São Domingos, São<br />
Gonçalo do Ubá, São Sebastião e<br />
Sumidouro.<br />
21
Foto: Cristiano Casimiro<br />
Igreja de São Caetano - Monsenhor Horta
Ÿ Pela lei estadual nº 843, de 07-09-1923,<br />
o município de Mariana sofreu as<br />
seguintes modificações: o distrito de<br />
Barra Longa foi transferido de Mariana<br />
para o município de Ponte Nova; os<br />
distrito de Boa Vista, São Domingos e<br />
São Gonçalo do Ubá. Em divisão<br />
administrativa referente ao ano de 1911,<br />
o município é constituído de 13 distritos:<br />
Mariana, Barra Longa, Boa Vista,<br />
Cachoeira do Brumado, Camargos,<br />
Furquim, Passagem, Santa Rita Durão,<br />
São Caetano do Ribeirão Abaixo, São<br />
Domingos, São Gonçalo do Ubá, São<br />
Sebastião e Sumidouro.<br />
N o s q u a d r o s d e a p u r a ç ã o d o<br />
recenseamento geral de 01-09-1920, o<br />
município é constituído de 13 distritos:<br />
Mariana, Barra Longa, Boa Vista, Cachoeira<br />
do Brumado, Camargos, Furquim,<br />
Passagem, Santa Rita Durão, São Caetano<br />
(ex-São Caetano do Ribeirão Abaixo), São<br />
Domingos, São Gonçalo do Ubá, São<br />
Sebastião e Sumidouro.<br />
Ÿ Pela lei estadual nº 843, de 07-09-1923,<br />
o município de Mariana sofreu as<br />
seguintes modificações: o distrito de<br />
Barra Longa foi transferido de Mariana<br />
para o município de Ponte Nova; os<br />
distrito de Boa Vista, São Domingos, São<br />
Gonçalo do Ubá e São Sebastião tiveram<br />
seus nomes mudados para Cláudio<br />
Manuel, Vasconcelos, Acaiaca e<br />
Bandeirantes, Respectivamente.<br />
Ÿ Pela lei estadual nº 1048, de 25-09-1928,<br />
o distrito de Vanconcelos (ex-São<br />
Domingos) recebeu a denominação de<br />
Diogo de Vanconcelos.<br />
Ÿ Em 1933, o município é constituído de 12<br />
distritos: Mariana, Acaiaca (ex-São<br />
Gonçalo do Ubá), Bandeirante (ex-São<br />
Sebastião), Cachoeira do Brumado,<br />
Camargos, Cláudio Manuel (ex-Boa<br />
Vista), Diogo de Vasconcelos (ex- São<br />
Domingos),Furquim, Passagem, Santa<br />
Rita Durão, São Caetano (ex-São<br />
C a e t a n o d o R i b e i r ã o A b a i x o ) e<br />
Sumidouro.<br />
Ÿ<br />
23<br />
Ÿ Pelo decreto-lei estadual nº 148, de 17-<br />
12-1938, é criado o distrito de Mainart e<br />
anexado ao município de Mariana o<br />
distrito de Passagem tomou o nome de<br />
Passagem de Mariana e o distrito de<br />
Sumidouro foi extinto por este mesmo<br />
decreto-lei, sendo sua área anexada ao<br />
distrito sede do município de Mariana.<br />
No quadro fixado para vigorar no período de<br />
1939-1943, o município é constituído de 12<br />
distritos: Mariana, Acaiaca, Bandeirante,<br />
Cachoeira do Brumado, Camargos, Cláudio<br />
Manuel, Diogo de Vasconcelos, Furquim,<br />
Mainart, Passagem de Mariana (ex-<br />
Passagem), Santa Rita Durão e São<br />
Caetano,<br />
Ÿ Pelo decreto-lei estadual nº 1058, de 31-<br />
12-1943, o distrito de São Caetano<br />
passou a denominar-se Monsenhor<br />
Horta.<br />
Ÿ No quadro fixado para vigorar no período<br />
de 1944-1948, o município é constituído<br />
de 12 distritos: Mariana, Acaiaca,<br />
Bandeirante, Cachoeira do Brumado,<br />
Camargos, Cláudio Manuel, Diogo de<br />
Vasconcelos, Furquim, Mainart,<br />
Monsenhor Horta (ex-São Caetano),<br />
Passagem de Mariana e Santa Rita<br />
Ÿ<br />
Durão.<br />
Pela lei nº 336, de 27-12-1948, o distrito<br />
de Mainart tomou a denominação de<br />
Padre Viegas e cria o Sub-distrito de<br />
Mainart.<br />
Ÿ Em divisão territorial datada de 01-07-<br />
1950, o município é constituído de 12<br />
distritos:<br />
Mariana, Acaiaca, Bandeirante, Cachoeira<br />
do Brumado, Camargos, Cláudio Manuel,<br />
D i o g o d e Va s c o n c e l o s , F u r q u i m ,<br />
Monsenhor Horta, Padre Viegas (ex-<br />
Mainart), Passagem de Mariana e Santa<br />
Rita Durão.<br />
Assim permanecendo em divisão territorial<br />
datada de 01-07-1960.<br />
Ÿ Pela lei estadual nº 2764, de 30-12-1962,<br />
desmembra do município de Mariana os<br />
distritos de Acaiaca e Diogo de<br />
Vasconcelos. Elevados á categoria de<br />
município.
Igreja Nossa Senhora de Nazaré - Santa Rita Durão<br />
Foto: Márcio Lima
Assim permanecendo em divisão territorial<br />
datada de 01-07-1960.<br />
Ÿ Pela lei estadual nº 2764, de 30-12-1962,<br />
desmembra do município de Mariana os<br />
distritos de Acaiaca e Diogo de<br />
Vasconcelos. Elevados á categoria de<br />
município.<br />
Em divisão territorial datada de 31-12-1963,<br />
o município é constituído de 10 distritos:<br />
Mariana, Bandeirante, Cachoeira do<br />
Brumado, Camargos, Cláudio Manuel,<br />
Furquim, Monsenhor Horta, Padre Viegas<br />
(ex-Mainart), Passagem de Mariana e Santa<br />
Rita Durão.<br />
Ÿ Em 2016 o sub-distrito de Águas Claras<br />
foi elevada a categoria de Distrito pela<br />
C â m a r a M u n i c i p a l d e M a r i a n a .<br />
Esperando a outorga do Estado de Minas<br />
Gerais<br />
Arquivo Público Mineiro<br />
Livro: Termo de Mariana I (ICHS -UFOP)<br />
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana<br />
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros<br />
Foto: César do Carmo
05 Casa Lugares de Câmara para e visitar Cadeia em Julho<br />
Praça Minas Gerais<br />
É reconhecida como um dos conjuntos arquitetônicos mais notáveis do Brasil por reunir em um só espaço<br />
construções singulares: a Casa de Câmara e Cadeia (1768), as igrejas da ordem terceira de São<br />
Francisco de Assis (1763) e Nossa Senhora do Carmo (1784) e também um pelourinho. Com a construção<br />
dos três monumentos, a praça passou a congregar os símbolos de justiça e dos poderes civil e religioso,<br />
apontando assim as elites que compunham a sociedade da época.<br />
Cristiano Casimiro<br />
Mina da Passagem<br />
A Casa Capitular, onde está instalado o Museu<br />
Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, é um dos mais<br />
belos edifícios em estilo Rococó do Brasil.<br />
O Museu de Arte Sacra se encontra na Categoria de<br />
Acervo Histórico e Artístico, tendo como temática a Arte<br />
Sacra criada em Minas Gerais no período áureo do<br />
Barroco Mineiro; formado por peças oriundas das Igrejas,<br />
Capelas, Seminários e Palácio Episcopal, bem como<br />
doações e legados.<br />
3<br />
Rua Frei Durão, 49 | Centro |Mariana<br />
Telefone: (31) 3557-2581<br />
Terça a Domingo, de 9h às 12h e de 13h às<br />
17h<br />
Há taxa de entrada.<br />
Maior mina de ouro aberta a visitação do mundo,<br />
a Mina da Passagem guarda segredos e<br />
mistérios que encantam a todos. A descida para<br />
as galerias subterrâneas se faz de modo<br />
incomum, através de um trolley. O percurso tem<br />
315 metros de extensão e chega a 120 metros<br />
de profundidade, onde se vê um maravilhoso<br />
lago de águas cristalinas<br />
2<br />
Aberto : todos os dias<br />
Verificar taxa de visitação<br />
https://mariana.minasdapassagem.com.br/<br />
Museu Arquidiocesano de Mariana<br />
Márcio Lima<br />
Cristiano Casimiro Cristiano Casimiro
Museu da Música de Mariana<br />
De importância ímpar para música brasileira,<br />
seu acervo de manuscritos musicais, o Museu<br />
da Música de Mariana recebeu, do Programa<br />
Memória do Mundo da UNESCO, o Diploma<br />
do Registro Regional para a América Latina e<br />
o Caribe (MOWLAC) denominado Memória<br />
do Mundo, tornando-se, assim, a primeira<br />
instituição brasileira do gênero com esse tipo<br />
de distinção.<br />
4<br />
Vitor Gomes<br />
O Museu da Música está aberto para visitação:<br />
Terça a Sexta-feira: 8:30h às 12:00h /<br />
13:30h às 17:00h<br />
Sábados: 8:30h às 12:00h<br />
Entrada: Gratuita<br />
http://www.mmmariana.com.br/<br />
Estação de Mariana e Trem Turístico Mariana - Ouro Preto<br />
Fábio Júlio<br />
5<br />
A imponente estação ferroviária de Mariana em estilo<br />
eclético é o local de embarque para o passeio de uma<br />
hora conta com uma vista exuberante das paisagens<br />
do trecho, bem como narrativas sobre a história do<br />
trem, da ferrovia e das duas cidades que juntas<br />
constituem um dos pontos turísticos mais<br />
expressivos da estrada real: Mariana primeira capital<br />
mineira cujo centro histórico de majestosa<br />
arquitetura e Ouro Preto, tombada pela UNESCO<br />
como Patrimônio Cultural da Humanidade.<br />
O trem passou por reformas para receber um sistema<br />
de áudio moderno e melhorias infraestruturais, mas<br />
ainda conta com sua ambientação clássica de<br />
móveis compostos por bancos, piso, maleiro e<br />
janelas de madeira mantidos desde a década de 30.<br />
Uma novidade recente é a presença de uma cafeteria<br />
nos passeios, que trouxe a sofisticação de poder<br />
saborear um café, capuchino, chás ou uma cerveja<br />
artesanal a bordo dos vagões panorâmico ou<br />
convencionais, adquirindo-se o bilhete tanto pela<br />
internet quanto pessoalmente na bilheteria.<br />
Tarifa Comunidade Aplicável somente na classe<br />
Convencional - Os naturais de Ouro Preto e Mariana<br />
que apresentarem comprovante de residência, em<br />
nome da pessoa que está solicitando o bilhete e<br />
documento de identificação com foto terão descontos<br />
nas passagens:<br />
Ida: R$ 20,00 Ida e volta: R$ 29,00<br />
http://www.vale.com/brasil/PT/business/logistics/rail<br />
w a y s / t r e m - t u r i s t i c o - o u r o - p r e t o -<br />
mariana/Paginas/default.aspx
Foto: AvelarSports<br />
307 anos da Câmara de Mariana
As Câmaras Municipais, também conhecidas como “Domus Municipalis”, eram<br />
a sede da administração e da justiça, sempre construída em um local nobre da<br />
cidade, na praça central ou do mercado.<br />
Em geral, seus traços marcantes são os pórticos destinados às feiras e<br />
mercados; as escadarias na entrada do edifício e as varandas para pregões. Ao<br />
centro do edifício, geralmente, colocava-se a torre de sinos. Sinos estes que<br />
controlavam a vida da cidade, com o toque de recolher, o anúncio de mortes, de<br />
celebrações, dentre outros acontecimentos.
Cristiano Casimiro<br />
A Primeira Câmara de Minas<br />
E<br />
Em 1711, com o fim da Guerra dos<br />
E m b o a b a s , D o m A n t ô n i o d e<br />
Albuquerque, com o intuito de<br />
conseguir um maior controle da região<br />
mineradora, criou as primeiras vilas. Nessa<br />
época, o arraial do Carmo contava com uma<br />
numerosa população, o que justificava a<br />
ascensão a um novo patamar: o de vila.<br />
Assim, em abril daquele ano, o povoado<br />
passou a Vila de Nossa Senhora do<br />
Ribeirão do Carmo de Albuquerque.<br />
A primeira providência a ser tomada quando<br />
da criação de uma vila era a determinação<br />
do seu termo, ou seja, as fronteiras do novo<br />
município, e a delimitação do rossio, terreno<br />
público administrado pela Câmara,<br />
segundo as Ordenações do Reino. Outras<br />
premissas para criação de uma Vila eram a<br />
construção de uma casa para abrigar a<br />
Câmara e a Cadeia, a edificação de um<br />
pelourinho, símbolo da justiça e da<br />
autonomia do município, e a adequada<br />
conservação da Igreja Matriz.<br />
Deyvson Ribeiro<br />
Vice-presidente da Câmara de Mariana<br />
A Câmara Municipal de Mariana foi fundada<br />
em 1711 sendo, portanto, a mais antiga de<br />
Minas Gerais. No dia 4 de abril de 1711,<br />
convocou-se a junta para se preparar a<br />
eleição da nova Câmara de Vila do Carmo.<br />
Exatamente três meses depois, dia 4 de<br />
julho, ocorreu, no Palácio em que morava o<br />
Governador e Capitão Geral Antônio de<br />
Albuquerque Coelho de Carvalho, a<br />
primeira eleição livre do Estado de Minas<br />
Gerais e, no dia seguinte, tomaram posse<br />
os eleitos: o Capitão-Mor Pedro Frazão de<br />
Brito para juiz mais velho, Joseph Rebello<br />
Perdigão para juiz mais moço, Manoel<br />
Ferreyra de Sá, para vereador mais velho,<br />
Francisco Pinto de Almendra, para segundo<br />
vereador, Jacinto Barboza Lopez, para<br />
terceiro vereador e Torcato Teyxeira de<br />
Carvalho, para procurador. As eleições dos<br />
membros da Câmara no Reino e nas<br />
colônias seguiam as Ordenações do Reino.<br />
A Câmara de Mariana, a primeira de Minas<br />
Gerais, tinha o mesmo “status” da Câmara<br />
do Porto de Portugal, e foi uma das mais<br />
importantes Câmaras do período colonial .<br />
Acervo: Márcio Lima
O Prédio da Casa de Câmara e Cadeia de<br />
Mariana na Praça Minas Gerais, projetado<br />
por José pereira dos Santos e construído<br />
por José Pereira Arouca completa neste ano<br />
250 anos do início da construção ( 1768 –<br />
2018). É um modelo das prisões brasileiras<br />
existentes do período colonial. A Cadeia<br />
Pública dividia o mesmo prédio com a<br />
Câmara Municipal, possuindo dois<br />
pavimentos, sendo o primeiro ocupado pela<br />
cadeia e o segundo pela Câmara.<br />
O interior das prisões possuía alguns<br />
compartimentos, como as enxovias, salas e<br />
celas onde ficavam os presos. Para<br />
penetrar no seu interior, era necessário<br />
descer por escadas de mão móveis. Havia<br />
as salas-livres, indicadas pela Justiça para o<br />
cumprimento de prisão fora do cárcere, e as<br />
salas fechadas ou salas fortes para<br />
guardarem presos. Ainda existia uma sala<br />
denominada de segredo ou moxinga, onde<br />
eram realizados interrogatórios - podendo<br />
ser aplicado torturas -, de presos que<br />
tivessem cometidos crimes graves.<br />
Planta baixa do prédio de Casa de Câmara e Cadeia de Mariana<br />
Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro<br />
31 21
Primeira Eleição em Minas<br />
EEm<br />
04 de julho de 1711, ocorreu na Vila<br />
de Nossa Senhora do Ribeirão do<br />
Carmo a primeira eleição livre em<br />
Minas Gerais, sendo que os eleitos tomaram<br />
posse para Câmara da Vila do Carmo.<br />
As Câmaras eram formadas por seis integrantes:<br />
o "mais velho" e o "mais moço"<br />
eram os juízes, que dividiam a presidência<br />
da Casa, três vereadores e um procurador.<br />
A eleição era feita no sistema Chamado<br />
Ordenação de Pelouro, um sistema eleitoral<br />
estabelecido em Portugal por Dom João I,<br />
em 1391, considerado o mais antigo e<br />
clássico sistema eleitoral.<br />
A Ordenação dos pelouros normatizava a<br />
eleição do corpo político camarário (juízes,<br />
vereadores e procuradores) que presidia e<br />
representava a comunidade. A Lei dos<br />
Pelouros determinava que em cada vila ou<br />
cidade se organizassem, permanentemente,<br />
listas de pessoas idôneas ao exercício<br />
dos referidos cargos, chamados “homens<br />
bons”. Cada nome aí recenseado seria<br />
escrito em papel, recolhido numa bola de<br />
cera e guardadas numa arca dos pelouros,<br />
onde se fazia o sorteio.<br />
A eleição era indireta, competia ao corregedor<br />
chamar à Câmara juízes, vereadores,<br />
procurador e homens bons para escolher<br />
seis pessoas, que duas a duas, separadamente,<br />
indicariam pessoas idôneas para o<br />
exercício dos cargos, em rol distinto para<br />
cada um deles. Ao corregedor régio, mas<br />
também ao ouvidor, em terras de donatário<br />
ou ao juiz mais velho na falta de magistrado<br />
régio letrado na terra, competia, associando<br />
os votos, selecionar os mais votados, apurando<br />
uma lista "pauta" dos eleitos. Cada um<br />
dos nomes da pauta era encerrado num<br />
pelouro, guardado em uma arca, para<br />
oportuno sorteio por uma criança de até 7<br />
anos de idade. (O nome pelouro advém do<br />
formato das bolas de cera que eram similares<br />
ao feitio de projéteis usados em certas<br />
armas de artilharia.).<br />
Símbolo da primeira eleição em Minas<br />
Gerais, a urna de madeira utilizada na<br />
votação de 1711 é uma das relíquias preservadas<br />
pelo Museu Arquidiocesano de Arte<br />
Sacra em Mariana. O objeto, segundo a<br />
entidade, foi esculpido em cedro com detalhes<br />
em ouro, é de origem portuguesa.<br />
(Foto)<br />
Foto: Cristiano Casimiro
Inspiradas na organização política que<br />
existia em Portugal na época, as antigas<br />
Câmaras concentravam funções dos atuais<br />
Três Poderes: Executivo (executar obras e<br />
administração da localidade), Legislativo<br />
(fazer leis)e Judiciário (julgar sentenças).<br />
Assim, era a Câmara quem punia, fiscalizava,<br />
criava as leis e ainda administrava a vila,<br />
como também, o camarista, senador ou juiz<br />
(nomes dados aos integrantes das Câmaras<br />
do período colonial até o início do século XX)<br />
tinham poderes bem amplos.<br />
Em uma época em que ainda não havia a<br />
separação dos poderes, as câmaras<br />
possuíam amplas funções: cuidavam das<br />
leis gerais e das posturas do Município, dos<br />
abastecimentos de gêneros alimentícios, da<br />
higiene e da saúde local, da segurança, das<br />
obras e construções de necessidade, da<br />
assistência social e fiscalização e cobrança<br />
de taxas.<br />
As atas de reuniões da Câmara de Mariana<br />
que estão no Arquivo Histórico da Câmara<br />
Municipal de Mariana (AHCMM) revelam<br />
detalhes curiosos sobre as funções dos<br />
vereadores, que se reuniam às quartasfeiras<br />
e sábados e trabalhavam de graça.<br />
Era um trabalho voluntário, exercido<br />
geralmente por pessoas mais velhas e que<br />
usufruíam de “certo” respeito na vila.<br />
Ata da primeira eleição da<br />
Casa de Câmara da Vila de<br />
Nossa senhora do Carmo<br />
04de julho de 1711<br />
Termo eleição da Câmara da Vila de Nossa Senhora do Monte Carmo<br />
Aos quatro dias do mês de mil e setecentos e onze nesta Vila de Nossa Senhora do Carmo de Albuquerque,<br />
novamente erigida neste Arraial do distrito do Ribeirão de Nossa Senhora do Monte Carmo. No Palácio em que<br />
mora o Senhor Governador e Capitão Geral Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho , sendo ali convocado o<br />
povo e principal nobreza deste distrito, foi por ele dito Senhor Governador dito geralmente a todos se devia fazer<br />
eleição para a governança e oficiais da Câmara da dita Vila, pois se achava levantada na forma das ordens de Sua<br />
Majestade que deus guarde, assim lhe recomendava votassem e chegassem a seis sujeitos capazes para eleitores<br />
, e se fazer a dita eleição na forma e como dispõe a ordenação do Reino, e sendo por todos a mais votos eleitos<br />
o Capitão-Mor Pedro Frazão de Brito, Manoel de Campo, Domingos Fernando Pinto, José Rebelo Perdigão, José<br />
de Campos, Paulo da Costa e Rafael da Silva. (as) os quais o dito Senhor Governador e Capitão Geral lhe (s) deu<br />
logo o juramento na forma do estilo, e divididos na mesma casa dois a dois, fizeram seus róis que, digo, assinados<br />
que apresentaram ao dito Senhor Governador, o qual conferindo-os , conformando –se com os votos, melhor<br />
conhecimento dos sujeitos, e atendendo ao mais conveniente( como constados mesmos róis) ficaram eleitos para<br />
servirem n Câmara o presente ano: para Juiz mais Velho Pedro Frazão de Brito, e mais moço José rebelo<br />
Perdigão, vereador mais velho Manuel Ferreira de Sá, 2º francisco Pinto de Almeida, 3º Jacinto Barbosa lopes, e<br />
procurador Torquarto Teixeira de Carvalho, e de como assim fez, e finda a dita eleição, mandou o senhor<br />
Governador e Capitão Geral fazer aqui neste termo, que assinou, ordenando-me remetesse logo a cópia dele para<br />
registrar nos livros da Câmara assim que os oficiais dela procurarem: e eu Manuel Pegado, secretário deste<br />
governo o escrevi – Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho.<br />
Transcrição: Revista do Arquivo Público Mineiro, 1897- Ano 2<br />
atualização: Gustavo Campos Vieira- Revisão Ronald Polito<br />
33<br />
Referência:<br />
Arquivo Público Mineiro<br />
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana
ESCUTA GUIADA<br />
Museu da Música de Mariana<br />
Foto:Vitor Gomes
Uma Escuta Guiada pelo<br />
Museu da Música de Mariana<br />
Vitor Gomes<br />
Músico - Mestre em Educação<br />
Ofazer musical na cultura brasileira<br />
tem grande importância, basta<br />
notarmos como seu uso se capilariza<br />
por diversas instâncias das nossas<br />
interações. É possível compreender a<br />
música como produto da convivência e<br />
explicar aspectos importantes do desenvolvimento<br />
humano ao observar o costume<br />
musical dos indivíduos. Há lugares, espaços<br />
físicos que definem as categorias das<br />
quais a música faz parte. Embora não seja<br />
simples, é possível perceber que cada<br />
espaço de encontro possui sua sonoridade,<br />
parâmetros de intensidade, duração e uma<br />
ou mais músicas que lhe são recorrentes.<br />
A relação com o trabalho musical, dinâmica<br />
nos espaços em que a música soa, demanda<br />
sujeitos que se ocupem do seu preparo e<br />
execução. A obra, determinada pela linguagem<br />
que concerne à música enquanto arte,<br />
desencadeia sentidos subjetivos nos integrantes<br />
da cadeia, ouvinte, intérprete,<br />
compositor dentre outros, pelos quais o som<br />
é intencionalmente dirigido. Muito é tematizado<br />
no conteúdo dessas obras musicais,<br />
fala-se do próprio homem, sobre o bem, o<br />
mal, a vida, a morte, o amor, o encontro, a<br />
separação, Deus, deuses e tudo que é<br />
desencadeado pela sua existência. Por isso<br />
a música é pré-histórica no que diz respeito<br />
aos sujeitos, suas invocações e inspirações,<br />
seja pela textualidade verbal ou essencialmente<br />
musical.<br />
No Museu da Música de Mariana é possível<br />
vivenciar, por meio de fontes documentais,<br />
experiências musicais muito atípicas. É<br />
como transitar em meio a uma prática<br />
musical que não coexiste em nosso tempo.<br />
Percebe-se a força de um antigo meio de<br />
transmissão das obras que, sobretudo com<br />
36<br />
a simplicidade do acesso ao registro eletrônico<br />
digital, se tornou específico e sinônimo<br />
da alta erudição no tempo presente: a<br />
cultura manuscrita musical.<br />
O Museu da Música de Mariana é uma<br />
instituição fundada em 06 de julho de 1973,<br />
por Dom Oscar de Oliveira, terceiro<br />
Arcebispo de Mariana. Por isso, há uma<br />
prévia vocação ao recolhimento de documentos<br />
musicais, partituras e instrumentos<br />
do contexto da Igreja Católica, que tiveram<br />
lugar no ciclo do ouro. Estima-se que a<br />
primeira coleção de fontes musicais do<br />
contexto colonial recolhidas ao Arquivo<br />
Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, de<br />
onde se desmembrou o Museu da Música,<br />
foi proveniente da Catedral de Mariana.<br />
O início da história da instituição é marcado<br />
pela série de 13 artigos intitulados “música<br />
sacra e liturgia” publicados por Dom Oscar<br />
de Oliveira no jornal marianense “O<br />
Arquidiocesano”, pela qual tornou-se<br />
amplamente conhecida na região arquidiocesana<br />
a iniciativa deste Museu. Tal divulgação,<br />
associada às visitas pastorais do<br />
Arcebispo às mais de 180 paróquias da<br />
Arquidiocese na década de 1970, possibilitou<br />
a integração de fundos documentais<br />
provenientes de outras 29 localidades da<br />
região mineradora central do estado, tornando<br />
a Coleção Dom Oscar de Oliveira<br />
uma das mais importantes seções documentais<br />
sobre a produção da música sacra<br />
dos séculos XVIII e XIX.<br />
Dada a condição singular das fontes que<br />
compõem tal acervo, a Unesco atribuiu-lhe,<br />
em 2010, o importante Registro Regional da<br />
América Latina e o Caribe.
Foto:Vitor Gomes
Após quase 50 anos sucessivos de sistemática<br />
organização e da passagem de inúmeros<br />
especialistas, cruciais à organização do<br />
Acervo do Museu da Música, a Coleção<br />
Dom Oscar de Oliveira, bem como outras<br />
seções integradas a posteriori, chegaram<br />
ao século XXI sob devido tratamento arquivístico-musical,<br />
contando com a publicação<br />
de 10 livros, 09 álbuns musicais, a abertura<br />
e expansão de módulos expositivos destinados<br />
mediação das fontes documentais,<br />
onde o visitante pode ter impressões sonoras<br />
e visuais adjacentes ao conteúdo musical<br />
que ora se apresentaria apenas manuscrito<br />
ou impresso no documento.<br />
Quando um lote de manuscritos chega ao<br />
Museu da Música, vem ainda envolvido pelo<br />
trato de seu arconte primário, conduzido<br />
pela essência arquivística do mesmo. Na<br />
apreensão desse sentido também se<br />
estende o ato educativo: discutimos, para<br />
além do valor estético destas fontes musicais,<br />
seu teor educativo na atualidade.<br />
O conceito de exposição adotado pelo<br />
Museu da Música possibilita atualmente<br />
que os visitantes percorram quatro salas,<br />
sendo apresentados, na primeira, a antigos<br />
livros que serviram à organização musical<br />
do calendário litúrgico. Trata-se de livros<br />
vindos de Portugal a partir de 1745 que,<br />
datados entre o século XVI e o século XX,<br />
contêm a mais elaborada prática de notação<br />
musical do Canto Gregoriano.<br />
O canto Gregoriano é o canto próprio da<br />
Igreja Católica, composto sobre textos<br />
bíblicos, orações e salmos. Originalmente,<br />
tem a função de aumentar o decoro das<br />
ações litúrgicas convocando a atenção dos<br />
fiéis aos textos sagrados. É um gênero de<br />
música vocal monofônica, monódica, tem<br />
ritmo livre e não medido, seguindo o ritual<br />
litúrgico católico romano. Um dos aspectos<br />
que tornam tão singular o vislumbrar dos<br />
livros de canto, missais e graduais está no<br />
fato de serem muitos deles manuscritos,<br />
apresentando neumas correntes desde a<br />
idade média.<br />
Desde 1711, a edificação que viria ser a Sé<br />
marianense, recebeu o título de Matriz<br />
37<br />
c o n s a g r a d a a N o s s a S e n h o r a d a<br />
Conceição. Em 1745, com a criação da<br />
Diocese de Mariana, a matriz foi elevada a<br />
Catedral tendo como orago Nossa Senhora<br />
da Assunção. Não é possível um entendimento<br />
claro sobre o patrimônio históricomusical<br />
brasileiro, sem abordarmos nossa<br />
história eclesiástica já contada a partir de<br />
pesquisas realizadas e textos já escritos.<br />
Dom Frei Manoel da Cruz, o primeiro bispo<br />
de Mariana, ainda no ano de sua chegada,<br />
passou à constituição do cabido: quatro<br />
dignidades (arcediago, arcipreste, chantre e<br />
tesoureiro mor); dez cônegos; doze capelães;<br />
um mestre de cerimônias do bispo; um<br />
mestre de cerimônias do cabido; quatro<br />
moços de coro, um sacristão, dois mestres<br />
de capela, um organista, dois sacristãos e<br />
um porteiro de massa. A esse Cabido, o<br />
agrupamento de cônegos e outros sacerdotes,<br />
instituído para assegurar o serviço<br />
religioso e colaborar no governo da diocese,<br />
serviram os livros que ora estão em exposição.<br />
O canto gregoriano, no contexto teórico<br />
musical, é também usado para a análise da<br />
condução e abertura das vozes, o exercício<br />
do contraponto e o desenvolvimento da<br />
polifonia que, na música chamada ocidental,<br />
após uma extensa transformação,<br />
acarreta práticas específicas de afinação e<br />
harmonização, cuja normatização ainda<br />
vigora até o presente. Dada sua conformação<br />
litúrgica, tais livros serviram de fonte<br />
primária aos compositores que de alguma<br />
maneira se vincularam ao contexto eclesiástico<br />
catedralício de Mariana e seu<br />
entorno, para criar e adaptar as belíssimas<br />
obras polifônicas da música colonial.<br />
Na segunda sala, onde é possível ver de<br />
perto e ouvir a música grafada nos manuscritos<br />
dos séculos XVIII e XIX, hoje soam<br />
como inéditos. Vê-se o texto musical gregoriano,<br />
seus neumas e melismas, vigentes na<br />
Europa no século XVIII, lado a lado a exemplos<br />
de seu respectivo uso na polifonia<br />
transcrita pelos músicos mineiros.
Foto:Vitor Gomes
Nesta sala, figura a continuidade de uma<br />
incrível trajetória, a da cultura do escrito<br />
musical que, em terras mineiras, tem aspectos<br />
próprios a começar pelos sujeitos que se<br />
ocuparam, exclusivamente, desta forma de<br />
fazer circular a música, fazendo-a educativa<br />
e alcançando seu letramento, sua alfabetização,<br />
seu repertório.<br />
Na terceira sala, ouve-se o conteúdo relacionado<br />
às práticas musicais mineiras já<br />
descontinuadas. Compõe-se de repertório<br />
de peças que problematizam aspectos<br />
identitários vigentes nas representações<br />
culturais feitas nas instâncias domésticas,<br />
nas quermesses, nas danças de salão e,<br />
finalmente, nos coretos das praças. O uso<br />
da música para a educação da mulher no<br />
final do século XIX, a cultura impressa que<br />
relativiza a moda por meio das capas das<br />
peças para piano, uma história da educação<br />
musical pouco explorada, que descortina<br />
outros pontos de partida para a música<br />
popular de hoje.<br />
Na quarta sala, em clássica expografia<br />
desenhada em 2007, é possível conhecer o<br />
maior projeto desenvolvido até os dias hoje<br />
no contexto musicológico brasileiro, pela<br />
qual soa a música de compositores que<br />
atuaram profissionalmente compondo<br />
música para coro e orquestra. Apontam-se<br />
aspectos da sua biografia e do labor para<br />
que fosse composta a sua obra. Ressaltase,<br />
na sua trajetória, o fato de serem negros<br />
e pardos e ascenderem socialmente por<br />
meio do fazer musical, usando elementos<br />
que caracterizam a música mineira pela<br />
sonoridade e pelos traços de quem a faz.<br />
A seguir é possível ainda visitar uma pequena<br />
mostra tridimensional onde estão exibidos<br />
instrumentos de teclado, de uso característico<br />
na região, ver partes do incrível<br />
órgão da Sé, instalado no começo da<br />
segunda metade do século XVIII; e instrumentos<br />
descontinuados, oriundos de<br />
corporações musicais centenárias de<br />
Mariana e do entorno.<br />
Os projetos sociais do Museu da Música, ao<br />
completar 45 anos de sua instituição, tem<br />
como eixo principal ações educativas que<br />
visam mediar as fontes documentais,<br />
situando o público sobre as condições em<br />
que foram produzidas. O resultado almejado<br />
é que o público possa ressignificar esse<br />
espaço e as fontes, criando novos significados<br />
no tempo presente.<br />
Foto:Vitor Gomes
Foto:Vitor Gomes
Foto: Márcio Lima
Órgão Arp Schnitger da Catedral de Mariana<br />
43<br />
A catedral da Sé de Mariana guarda um<br />
precioso tesouro musical – um órgão<br />
construído em 1701, em Hamburgo<br />
(Alemanha), por Arp Schnitger (1648-<br />
1719), um dos maiores construtores de<br />
órgãos de todos os tempos. Enviado<br />
inicialmente a uma Igreja Franciscana em<br />
Portugal, o órgão chegou ao Brasil em<br />
1753, como presente da coroa portuguesa<br />
ao primeiro Bispo de Mariana.<br />
É um instrumento de grande importância,<br />
tanto pela sua antiguidade e comprovada<br />
autoria, quanto por ter sido objeto de um<br />
amplo trabalho de restauração. Entre os<br />
órgãos da manufatura Schnitger que<br />
sobreviveram até hoje, esse é um dos<br />
exemplares mais bem conservados e o<br />
único que se encontra fora da Europa. O<br />
instrumento está sendo estudado, a fim<br />
de fazer parte do tombamento internacional<br />
de órgãos da manufatura Arp<br />
Schnitger pela Unesco.<br />
Construído na Alemanha, provavelmente<br />
em 1701, esse órgão passou um período<br />
em Portugal e, tendo sido colocado à<br />
venda em 1747, foi adquirido das mãos do<br />
organeiro João da Cunha pelo Rei D.<br />
João V que pretendeu enviá-lo à Mariana,<br />
mas que faleceu antes disso acontecer.<br />
Assim, seu filho D. José I fez do órgão um<br />
presente à récem criada Diocese de<br />
Mariana que, já em 1748, mantinha, em<br />
sua Sé, um organista: Pe. Manuel da<br />
Costa Dantas e um mestre de capela: Pe.<br />
Gregório dos Reis Melo.<br />
Desde sua instalação, em 1753, o órgão<br />
Arp Schnitger foi o centro de uma intensa<br />
atividade musical na Sé de Mariana, cuja<br />
memória escrita é o acervo de partituras<br />
do Museu da Música, que abriga obras de<br />
compositores do período colonial. São<br />
compositores de várias cidades do<br />
Estado e do país. Após muitos anos de<br />
funcionamento ininterrupto, nos quais por<br />
algumas vezes recebeu algumas modificações<br />
visando adaptá-lo ao gosto<br />
vigente na época, por volta da década de<br />
30 o órgão da Sé parou de funcionar.<br />
Somente na década de 70, após pesquisas<br />
sobre a sua procedência e do reconhecimento<br />
de sua importância para o<br />
acervo de instrumentos musicais não só<br />
brasileiro, mas também mundial, foi feito<br />
um esforço concentrado para a restauração<br />
do instrumento.<br />
Na década de 1970 o organista alemão<br />
Karl Richter esteve em Mariana a convite<br />
do Arcebispo D. Oscar de Oliveira para<br />
fazer uma avaliação do instrumento que<br />
continha, no interior de sua caixa, um<br />
grande número de peças originais preservadas<br />
e considerou esse instrumento um<br />
órgão muito importante, saído provavelmente<br />
da manufatura de Arp Schnitger.<br />
Após essa visita, os elementos musicais<br />
do órgão foram enviados a Hamburgo,<br />
Alemanha, onde foram reformados.<br />
Reinaugurado em 1984 o Órgão Arp<br />
Schnitger voltou a ser centro da vida<br />
musical de Mariana, acompanhando<br />
missas e celebrações litúrgicas, além de<br />
ser apresentado em concertos regulares.<br />
No ano de 1997, ocorreu a outra restauração.<br />
A afinação foi mudada para um<br />
sistema mais condizente com a época de<br />
construção do instrumento e alguns<br />
r e g i s t r o s f o r a m r e c o n s t r u í d o s<br />
Juntamente com a restauração foi refeita<br />
a pesquisa histórica do instrumento,<br />
visando o levantamento de mais dados<br />
desde a sua construção até a chegada em<br />
Minas, assim como suas diferentes<br />
funções ao longo de sua história.<br />
É um instrumento de grande importância,<br />
tanto pela sua antiguidade e comprovada<br />
autoria, quanto por ter sido objeto de um<br />
amplo trabalho de restauração. Entre os<br />
órgãos da manufatura Schnitger que<br />
sobreviveram até hoje, esse é um dos<br />
exemplares mais bem conservados e o<br />
único que se encontra fora da Europa.<br />
Nos últimos anos foi alvo de estudos, a fim<br />
de fazer parte do tombamento internacional<br />
de órgãos da manufatura Arp<br />
Schnitger pela Unesco.<br />
Referência:<br />
www.orgaodase.com.br
16 anos da 16 de Julho<br />
Mariana é a cidade mineira com maior<br />
número de corporações musicas (bandas<br />
sinfônicas) são onze: Três das bandas civis<br />
de Mariana estão localizadas na sede e oito<br />
estão nos distritos.<br />
A aniversariante do mês de julho é a<br />
Sociedade Musical 16 de Julho. Fundada<br />
no dia 16 de julho de 2002, por Nely Gomes<br />
de Freitas, Geraldo Magela Reis, Iraci<br />
Ramos Reis e Magaly do Reis de Freitas,<br />
Parabéns<br />
passou a ter expressiva participação nas<br />
festividades da comunidade.<br />
É uma instituição sem fins lucrativos que<br />
teve como princípio base para sua fundação<br />
o resgate da cultura da banda e um meio de<br />
alegrar e abrilhantar as festividades da<br />
comunidade, é a banda mais nova do<br />
município.<br />
Sociedade Musical 16 de Julho !<br />
Arquivo da Corporação Musical
A Revista Mariana Histórica e Cultural disponibiliza gratuitamente, em parceria com a<br />
MASTERIX Sistemas, o mais completo site sobre a cultura e a história de Mariana na<br />
rede mundial de computadores. A empresa MASTERIX é referência em sistemas<br />
e soluções inteligentes para web há mais de doze anos.<br />
www.marianahistoricaecultural.com.br