L+D 71
Edição: novembro| dezembro de 2018
Edição: novembro| dezembro de 2018
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
SESC BIRIGUI (BIRIGUI)<br />
SESC 24 DE MAIO (SÃO PAULO) | CASA FIRJAN (RIO DE JANEIRO)<br />
MERCADO DA BOCA (BELO HORIZONTE) | DOUBLE BAY RESIDENCE (AUSTRÁLIA)<br />
HUMANA (SUÉCIA) | FOTO LUZ FOTO: MAJA PETRIĆ<br />
1
2 3
Temos um compromisso em<br />
agosto de 2019...<br />
15 e 16 de agosto<br />
Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />
São Paulo | Brasil<br />
Semana da Luz 2019<br />
Edição especial de 10 anos!<br />
Save the date!<br />
ledforum.com.br<br />
@ledforum<br />
#ledforum10<br />
4 5
SUMÁRIO<br />
novembro | dezembro 2018<br />
edição <strong>71</strong><br />
44<br />
50<br />
56<br />
62 66<br />
70<br />
74<br />
10<br />
44<br />
¿QUÉ PASA?<br />
SESC BIRIGUI<br />
50<br />
SESC 24 DE MAIO<br />
A luz da cidade<br />
56<br />
CASA FIRJAN<br />
62<br />
66<br />
70<br />
74<br />
MERCADO DA BOCA<br />
Água na boca e brilho nos olhos<br />
DOUBLE BAY RESIDENCE<br />
Luxo, calma e volúpia<br />
HUMANA<br />
Conceitos e soluções em amadurecimento:<br />
todos têm direito a uma vida de qualidade<br />
FOTO LUZ FOTO<br />
Maja Petrić<br />
6 7
Romulo Fialdini<br />
Thiago Gaya<br />
publisher<br />
SESC BIRIGUI (BIRIGUI)<br />
Iluminação: foco luz & desenho<br />
Foto: Nelson Kon<br />
Orlando Marques<br />
editor-chefe<br />
PUBLISHER<br />
Thiago Gaya<br />
EXERCÍCIO CIDADÃO<br />
EDITOR-CHEFE<br />
Orlando Marques<br />
DIRETORA DE ARTE<br />
Thais Moro<br />
Além do voto, da liberdade e da saúde, é direito assegurado pela Constituição<br />
brasileira o acesso ao lazer, à cultura, à educação, dentre outros.<br />
Nesta edição apresentamos os projetos de duas unidades do Sesc, instituição<br />
cuja missão assegura muitos desses direitos. O Sesc 24 de Maio, em São Paulo, teve<br />
projeto de arquitetura de Paulo Mendes da Rocha e de iluminação de Rosane Haron e<br />
Altimar Cipriano, cujo conceito de luz se apoiou na percepção dos contrastes visuais.<br />
O Sesc Birigui, no interior do estado, teve projeto de iluminação da foco luz & desenho,<br />
inspirado pelas possiblidades de integração entre a luz e o espaço construído, com<br />
projeto da Teuba Arquitetura e Urbanismo.<br />
Apresentamos também a Casa Firjan, cujo edifício é parte do patrimônio histórico<br />
e cultural do Rio de Janeiro, com projeto de iluminação do Studio iluz; e o Mercado<br />
da Boca, em Belo Horizonte, projeto de Sônia Mendes. Os projetos internacionais<br />
desta edição estão representados pelo lar de idosos Humana, na Suécia, projeto<br />
do escritório Ljusrum, de Estocolmo; e pela residência Double Bay, em Melbourne,<br />
Austrália, projeto do escritório Point of View.<br />
Destacamos as matérias da seção ¿Qué Pasa? sobre o mais recente trabalho<br />
da artista Maja Petrić, também destaque na seção Foto Luz Foto. Trazemos também<br />
a cobertura do fórum anual internacional Lighting Detectives, este ano sediado em<br />
Santiago, Chile, e muito mais.<br />
A todos os leitores, colaboradores, patrocinadores e à comunidade da iluminação,<br />
agradecemos por mais um ano de sucesso da <strong>L+D</strong>.<br />
REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />
Carlos Fortes, Chris Fraser, Débora Torii, Gilberto Franco,<br />
Maja Petrić, Mariana Novaes, Orlando Marques<br />
REVISÃO<br />
Débora Tamayose<br />
CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />
Márcio Silva<br />
PUBLICIDADE<br />
Lucimara Ricardi | diretora<br />
Avany Ferreira | contato publicitário<br />
Paula Ribeiro | contato publicitário<br />
PARA ANUNCIAR<br />
comercial@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
PARA ASSINAR<br />
assinaturas@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
ADMINISTRAÇÃO<br />
administracao@editoralumiere.com.br<br />
T 11 3062.2622<br />
Boa leitura e até 2019!<br />
Orlando Marques<br />
TIRAGEM E CIRCULAÇÃO AUDITADAS POR<br />
John White, Studio Phocasso<br />
O ¿Qué Pasa? duplo<br />
desta edição apresenta<br />
um depoimento exclusivo<br />
do artista estadunidense<br />
Chris Fraser sobre seu<br />
mais recente trabalho,<br />
ainda sem título.<br />
PUBLICADA POR<br />
Editora Lumière Ltda.<br />
Rua João Moura, 661 – cj. 72, 05412-001<br />
São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />
www.editoralumiere.com.br<br />
8 9
Imagens: Álvaro de la Fuente<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LIGHTING DETECTIVES SANTIAGO<br />
O coletivo Lighting Detectives – ou Tantendian (TNT), em<br />
japonês – é uma organização internacional sem fins lucrativos,<br />
que tem como objetivo o entendimento da cultura da luz por<br />
meio de sua leitura urbana. Formado por alguns dos maiores<br />
e mais reconhecidos lighting designers do mundo, o grupo<br />
se reúne anualmente, sempre em uma localidade diferente,<br />
para a realização de atividades de exploração urbana que,<br />
com a participação de estudantes e de profissionais, buscam<br />
identificar os heróis e os vilões da iluminação da cidade. Em<br />
outubro foi a vez de Santiago, no Chile, sediar o evento, que<br />
contou com a apoio da <strong>L+D</strong> – a única mídia especializada a<br />
cobrir o evento.<br />
No dia 18 de outubro, o fórum foi aberto com a masterclass<br />
do lighting designer japonês Kaoru Mende – um dos<br />
fundadores do coletivo. Em seguida, cada lighting designer<br />
convidado, apresentou seus próprios “heróis” e “vilões”<br />
em formato Pechakucha (20 imagens, 20 segundos cada).<br />
Participaram ainda Jan Ejhed, Charles Stone, Ulrike Brandi,<br />
Ignacio Valero, Christof Fielstette, Reiko Kasai, Aleksandra<br />
Stratimirovic, Uno Lai, Paulina Villalobos, Acharawan Chutarat<br />
e Lisbeth Skindbjerg, membros principais do coletivo, além<br />
dos membros do núcleo japonês Noriko Higashi, Koki<br />
Iwanaga e Mikine Yamamoto e dos chilenos Douglas Leonard<br />
e Alejandra Ramos.<br />
Após a apresentação, os 200 participantes – entre<br />
estudantes de arquitetura e iluminação e lighting designers –<br />
foram organizados em cinco grupos para a realização de Night<br />
Walks em busca dos “heróis” e dos “vilões”, em cinco diferentes<br />
roteiros pelo centro de Santiago: Setor Santa Lucia, ao redor<br />
do Cerro de Santa Lucia; Eixo Parque Forestal, entre o Museo<br />
Bellas Artes e a Plaza Baquedano; Setor Centro Histórico, desde<br />
a Plaza de Armas; Setor do Eixo Bulnes, com saída do Palácio<br />
de la Moneda; e Setor Paris-Londres, partindo da Igreja de São<br />
Francisco até a Universidade do Chile.<br />
No dia seguinte, foi apresentada a palestra “A quarta<br />
dimensão da Luz”, no auditório da Faculdade de Arquitetura<br />
(FAU) da Universidade do Chile, pela arquiteta Josefina Almada,<br />
da Erco. Em seguida, cada um dos cinco grupos apresentou<br />
suas impressões noturnas resultantes das caminhadas da noite<br />
anterior, que foram analisadas e trabalhadas em um workshop<br />
coletivo, com o objetivo de gerar propostas de intervenções<br />
de luz para cada um dos percursos. As propostas finais foram<br />
apresentadas ao final do dia, em um evento aberto ao público, e<br />
serão entregues às autoridades do município de Santiago.<br />
As conclusões finais do workshop foram apresentadas<br />
na reunião de encerramento, realizada no dia 20, em uma<br />
vinícola. Em breve será anunciada a cidade sede para o Lighting<br />
Detectives 2019. (D.T.)<br />
10 11
1 2<br />
3 4<br />
Imagens: LAMP<br />
¿QUÉ PASA?<br />
L A M P COMPETITION 2018<br />
Foram entregues no dia 18 de setembro os prêmios para os<br />
vencedores da edição 2018 da Annual International Lighting<br />
Design Competition, promovida pela L A M P (Lighting<br />
Architecture Movement Project). A cerimônia de gala, realizada<br />
em Vancouver, Canadá, ocorreu em paralelo a uma<br />
exposição na qual foram exibidos protótipos dos 20 produtos<br />
selecionados como finalistas pelo júri, que, neste ano, contou<br />
com nomes de peso, como os dos designers Ingo Maurer e<br />
Michael Anastassiades.<br />
Foram recebidas 142 inscrições de 28 países diferentes<br />
para a edição 2018, cujo tema foi “equilíbrio”. Na categoria<br />
Estudante, foi premiada a luminária Driftwood 1 , criada pelo<br />
canadense Nathan Siu, e composta de uma peça de madeira<br />
que flutua sobre uma base de concreto por meio da ação de<br />
ímãs, e cuja luz indireta e difusa remete à refração da luz pela<br />
água. Representando a categoria Emergente, o vencedor foi<br />
o pendente Highwire 2 , de autoria do também canadense<br />
Anony Studio, que criou um conjunto de luminárias em forma<br />
de discos difusos que causam tensão sobre cabos elétricos<br />
por meio da força da gravidade. A grande vencedora da noite,<br />
na categoria Consagrado, foi a coleção Mito 3 4 –, assinada<br />
pelo designer australiano Tom Fereday, em parceria com o<br />
estúdio Rakumba Lighting –, que une técnicas precisas de<br />
fabricação ao acabamento artesanal de peças de pedra e de<br />
madeira, as quais funcionam como refletores para os módulos<br />
de iluminação indireta posicionados na delicada haste que<br />
“costura” todos os componentes.<br />
As inscrições para a edição de 2019 do prêmio, que terá<br />
como tema “textura”, estão abertas até o dia 31 de janeiro. Mais<br />
informações estão disponíveis no site welovelamp.ca. (D.T.)<br />
12 13
Imagens: Tom Dixon<br />
1 2 3<br />
4 5 6<br />
¿QUÉ PASA?<br />
O MÊS DA ILUMINAÇÃO<br />
A marca britânica Tom Dixon, especializada no design<br />
de luminárias e de itens de mobiliário, decidiu declarar<br />
o mês de outubro o “Lighting Month”, em resposta ao<br />
equinócio de outono no hemisfério norte no mês anterior,<br />
quando os dias começam a ficar gradativamente mais<br />
curtos e as noites, mais longas. Assumindo o prazer contido<br />
na arte e no ofício de iluminar essa escuridão, a marca<br />
produziu três curtas-metragens, lançados semanalmente<br />
durante o mês de outubro, nos quais descrevem sua visão<br />
da iluminação ideal para comer, para beber e para dormir,<br />
por meio da narração do próprio Tom Dixon. Os filmes<br />
também funcionaram como meios de divulgação de três<br />
coleções de luminárias do portfólio da marca, aplicadas a<br />
cada um desses momentos.<br />
O primeiro a ser lançado foi Eat 1 2 , no qual é<br />
descrito o cuidadoso equilíbrio necessário entre uma<br />
iluminação adequada e a criação da atmosfera ideal em<br />
locais destinados à alimentação. Os pendentes Cut são<br />
os que aparecem nas imagens, descritos por Dixon como<br />
“luminárias caleidoscópicas e fortemente geométricas,<br />
capazes de gerar reflexões no espaço quando acesas e<br />
adquirindo um aspecto sólido e metálico quando apagados”.<br />
Na semana seguinte, foi a vez de Drink 3 4 , em que são<br />
mostradas as possibilidades de efeitos e texturas geradas<br />
pelos pendentes Etch e Etch Web. Feitas de aço inoxidável<br />
perfurado, as luminárias filtram a luz e, ao mesmo tempo,<br />
permitem sua reflexão no interior das superfícies brilhantes<br />
da cúpula, gerando um jogo de sombras que transformam<br />
completamente a atmosfera do ambiente, além de serem<br />
objetos atraentes mesmo quando apagados.<br />
Por último, Sleep 5 6 atesta a constante busca da marca<br />
por criar designs que pareçam inte ressantes tanto durante<br />
o dia quanto à noite, o que é uma de suas assinaturas. A<br />
luminária Melt, destacada no vídeo, se comporta dessa<br />
maneira, assemelhando-se a uma pérola ou um globo<br />
metálico distorcido, de formato totalmente orgânico quando<br />
apagada. Quando acesa, gera reflexões suaves e orgânicas<br />
em seu interior, produzindo iluminação aconchegante e<br />
bastante naturalista, ideal para um dormitório.<br />
“Eu aprecio trabalhar com lighting design, projetar<br />
iluminação, porque é uma área na qual há constantes<br />
inovações técnicas e também parece ser o campo no qual<br />
as pessoas se sentem felizes em experimentar e em trazer<br />
modernidade aos seus lares”, declara o designer. Todos os<br />
vídeos estão disponíveis no canal Tom Dixon Studio, no<br />
YouTube. (D.T.)<br />
14 15
16 17
Imagens: Carol Quintanilha<br />
¿QUÉ PASA?<br />
LUZ TAMBÉM É ARTE<br />
Além de apoio para uma obra de arte, a luz pode ser o<br />
trabalho de arte em si. Isso é o que apresenta a exposição<br />
Luz e Arte – reflexão e emissão, em cartaz desde o mês de<br />
outubro no Farol Santander, em São Paulo. Composta de<br />
duas instalações, distribuídas em dois andares do antigo<br />
Edifício Altino Arantes, com 300 metros quadrados cada,<br />
a mostra é apresentada pelo Ministério da Cultura e conta<br />
com direção artística de Facundo Guerra e direção de<br />
produção de Angela Magdalena.<br />
No 22º pavimento do centro cultural é apresentada a<br />
inédita obra Entreter, desenvolvida pelos artistas Gisela<br />
Motta e Leandro Lima. São apresentadas sete versões<br />
miniaturizadas das tradicionais atrações de um parque de<br />
diversões, como uma roda-gigante, uma montanha-russa<br />
e um carrossel, em escala aproximada de 5 : 1. Motta e<br />
Lima buscaram, por meio da simplificação das formas das<br />
estruturas, suprimir seu sentido de uso físico, com o intuito<br />
de estimular o exercício da observação e a memória de cada<br />
um dos visitantes, conforme circulam entre as instalações.<br />
Além disso, o movimento físico de cada atração também<br />
foi substituído pelo movimento audiovisual, executado por<br />
meio da programação dos pontos de luz que desenham os<br />
contornos das estruturas e que emulam a sua movimentação.<br />
Já no andar acima, os artistas italianos do NONE<br />
Collective apresentam a também inédita No Strata. Descrita<br />
como uma “paisagem nebulosa de uma cidade” e como uma<br />
“complexa floresta tecnológica”, a obra é uma metáfora das<br />
grandes metrópoles e simula a sua organização em camadas,<br />
por meio de 44 placas douradas vibratórias, instaladas em<br />
diferentes alturas e que, feitas de cobre, produzem sons<br />
metálicos. Ao caminhar entre elas, o visitante pode observar<br />
o contraste entre a escuridão das camadas mais baixas e a<br />
luminosidade das mais altas, iluminadas por 20 projetores,<br />
instalados no teto, que parecem “escanear o ambiente e o<br />
público, como um radar”, descrevem os autores. A obra é<br />
um convite para contemplar a paisagem da cidade, porém<br />
de maneira sinestésica, contrapondo o interior e o exterior<br />
do edifício no qual está instalada.<br />
Ambas as instalações contam com acessibilidade para<br />
pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida e também<br />
oferecem audioguias para deficientes visuais. A exposição<br />
ficará em cartaz até o início de janeiro de 2019. (D.T.)<br />
18 19
LINHA<br />
Imagens: Maja Petrić<br />
¿QUÉ PASA?<br />
RASTROS DE LUZ<br />
Os ambientes construídos e a forma como são ocupados<br />
podem ter uma incrível capacidade de moldar as relações entre<br />
seus ocupantes, gerando um rastro de laços entre essas pessoas,<br />
que, na maioria das vezes, são invisíveis. Por meio da instalação<br />
imersiva We are all made of light, a artista croata, radicada nos<br />
Estados Unidos, Maja Petrić buscou torná-los visíveis, por meio<br />
do uso da tecnologia como ferramenta artística.<br />
A presença e a movimentação dos visitantes da exposição<br />
no espaço são registradas por uma combinação de luzes<br />
interativas, sons ambientes e inteligência artificial, que geram<br />
rastros audiovisuais individuais, encapsulados pelas luzes. A<br />
cada novo visitante, cresce a quantidade de trajetos registrados,<br />
o que reflete o desenvolvimento da história desse espaço. Uma<br />
espécie de universo estrelado se forma a partir da acumulação<br />
desses dados, que, em constante mutação, produzem espécies<br />
de constelações nas quais os rastros da presença de cada<br />
uma das pessoas que já esteve ali são conectados, unindo<br />
indivíduos do passado com os do presente e conectando-os<br />
com os futuros visitantes.<br />
O objetivo da instalação é explorar a interconectividade<br />
entre os humanos, revelando os invisíveis vínculos entre cada<br />
indivíduo e o restante do mundo. Com o passar do tempo, a<br />
instalação se tornará um arquivo da presença das pessoas e<br />
evidenciará a maneira como se conectam. “Meu desejo é que<br />
tal experiência leve à resposta para as seguintes perguntas:<br />
se pudéssemos vislumbrar os rastros deixados por nossos<br />
companheiros humanos, seríamos capazes de enxergar como<br />
configuramos, de maneira semelhante, a memória espacial do<br />
nosso ambiente? O que a experiência de estar inseridos nessa<br />
rede de rastros poderia nos ensinar acerca do entendimento um<br />
do outro e da nossa experiência coletiva?”, filosofa Petrić.<br />
A trilha sonora foi composta pelo artista local James<br />
Wenlock, e os componentes tecnológicos da obra foram<br />
desenvolvidos em colaboração com o diretor de pesquisa da<br />
Microsoft Mihai Jalobeanu, Ph.D. em inteligência artificial e<br />
robótica. A instalação foi aberta ao público no mês de setembro<br />
e ficará em exposição até o dia 1º de dezembro no MadArt<br />
Studio em Seattle, Estados Unidos – cidade onde a artista está<br />
estabelecida –, que atua em prol da divulgação de artistas locais<br />
e do incentivo ao desenvolvimento de obras de grande escala e<br />
desenvolvidas especificamente para o local. (D.T.)<br />
Fotógrafo Henrique Queiroga | Arquiteto David Guerra | Produção Sílvia Fraga | Loja Franccino BH.<br />
20 21<br />
@
Imagens: Playmodes<br />
¿QUÉ PASA?<br />
INSTRUMENTO AUDIOVISUAL<br />
Comandado por uma equipe híbrida composta de artistas,<br />
designers, músicos e engenheiros, o estúdio audiovisual<br />
espanhol Playmodes utiliza tecnologias de software e hardware,<br />
desenvolvidas por eles mesmos, como ferramentas para a<br />
criação de impressionantes instalações imersivas e cenografias<br />
digitais. Declaradamente apaixonados por arte, música, ciência,<br />
programação e natureza, o grupo conseguiu reunir todos esses<br />
elementos em sua mais recente instalação, Espills, em exibição<br />
no teatro Ateneu de Celrà, em Girona, Espanha.<br />
A escultura dinâmica de luz é constituída de raios e<br />
leitores laser e de espelhos robóticos, os quais geram imagens<br />
geométricas que sugerem, de maneira abstrata, a transmutação<br />
da matéria, do caos à ordem. A principal inspiração de seus<br />
criadores foram as formações cristalinas, cujo ciclo de formação<br />
buscaram emular, demonstrando a transformação da areia em<br />
cristal e sua posterior erosão, tornando-se novamente pó. As<br />
projeções luminosas são acompanhadas de trilha sonora gerada<br />
por meio da “tradução” de cada uma das formações de luz em<br />
algoritmos sonoros.<br />
A própria equipe desenvolveu e construiu todos os<br />
equipamentos e programas utilizados na instalação. Os<br />
projetores móveis do tipo moving heads, usados nos teatros,<br />
tiveram suas luminárias substituídas por espelhos, o que tornou<br />
possível o redirecionamento dos raios laser por meio de sua<br />
reflexão. Para controlar todos esses elementos, a equipe criou<br />
um software utilizando sua própria plataforma de programação<br />
visual, a OceaNode.<br />
O conjunto de projetores e espelhos móveis foi fixado<br />
em um perfil octogonal de 4 metros de diâmetro, instalado<br />
no teatro, onde os designers trabalharam durante dois meses<br />
na criação das cenas audiovisuais. A equipe havia decido,<br />
inicialmente, desenvolver uma narrativa preestabelecida, o que<br />
se transformou conforme avançavam com as experimentações<br />
in loco, que os fizeram perceber que a geração de conteúdo em<br />
tempo real seria muito mais interessante e impactante. Sendo<br />
assim, além de uma escultura luminosa, Espills é um instrumento<br />
musical audiovisual capaz de gerar sons em tempo real por<br />
meio das formas criadas pela luz. Os designers consideram não<br />
haver chegado ainda à forma final da instalação, entendendo<br />
que há um potencial expressivo muito maior a ser explorado.<br />
Uma amostra em vídeo da instalação está disponível em vimeo.<br />
com/288981563. (D.T.)<br />
22 23
Imagens: Sean O’Neill – Arup<br />
Sahar Coston-Hardy<br />
Melvin Epps<br />
¿QUÉ PASA?<br />
NÉVOA VIVA<br />
A zona central da cidade de Filadélfia, na Pensilvânia,<br />
Estados Unidos, é tida como um dos mais importantes e<br />
populosos centros financeiros de todo o país. Ali, no chamado<br />
Center City, foi inaugurado em 2014 o Dilworth Park, que é<br />
público, como parte das iniciativas de requalificação dessa<br />
zona visando torná-la mais atrativa e segura. A organização<br />
sem fins lucrativos Center City District (CCD), responsável<br />
pelo gerenciamento do projeto, contratou a artista norteamericana<br />
Janet Echelman para desenvolver uma instalação<br />
permanente no local, com o objetivo de torná-lo um ponto<br />
focal do projeto.<br />
Assim nasceu Pulse, inaugurada no último mês de<br />
setembro. Integrada à nova fonte aquática do parque, de<br />
mais de mil metros quadrados, a instalação marca, na<br />
superfície, o traçado das linhas de metrô e de bonde que<br />
convergem sob esse local, transportando, diariamente,<br />
mais de 70 mil passageiros. Por meio de um sistema de<br />
vapor de alta pressão, bombas especializadas liberam<br />
cortinas de névoa fresca que viajam pela superfície da<br />
fonte, espelhando o movimento dos trens subterrâneos.<br />
A bruma ganha vida ao ser tingida pelas cores produzidas<br />
por uma série de projetores de LED RGB instalados em<br />
postes e sob grelhas no piso, sobre as quais os visitantes<br />
podem caminhar e interagir com a dinâmica instalação. As<br />
combinações de cores escolhidas por Echelman tiveram<br />
como inspiração as pinturas etéreas do artista norteamericano<br />
Mark Rothko e foram ajustadas para funcionar<br />
tanto durante o dia quanto à noite.<br />
A artista descreve o trabalho como um “raio X vivo do<br />
sistema de circulação da cidade”, cujas cortinas de névoa<br />
coloridas também fazem referência ao vapor exalado pela<br />
primeira estação de bombeamento de água da cidade,<br />
construída nesse exato local no início do século XIX, além de<br />
remeter ao vapor liberado pelos trens da Estação Ferroviária<br />
da Pensilvânia, que se situava do outro lado da rua. “Quando<br />
comecei a desenvolver o trabalho, esse era um local<br />
abandonado. Portanto, é emocionante ver as cores darem<br />
vida a esse belo parque. A obra também traça as camadas<br />
da história da água na Filadélfia, com água”, declara a artista.<br />
Esse é o primeiro trecho planejado para a instalação,<br />
que acompanha a chamada linha verde do sistema de<br />
transportes da cidade. Foram planejados ainda outros dois<br />
trechos (acompanhando as linhas azul e laranja), cuja<br />
construção depende da arrecadação de fundos, que a CCD<br />
espera conseguir atrair após o sucesso da inauguração<br />
dessa primeira fase. (D.T.)<br />
24 25
1<br />
Imagens: Divulgação<br />
2<br />
3<br />
4<br />
¿QUÉ PASA?<br />
NOVA DIMENSÃO<br />
O duo japonês NONOTAK, formado pelo arquiteto e<br />
músico Takami Nakamoto e pela ilustradora Noemi Schipfer,<br />
utiliza a tecnologia de forma personalizada para transformar<br />
a vivência do público com a arte e estimular a interação entre<br />
eles. A maioria de suas criações envolve artes cinéticas<br />
e luzes, além de trilha sonora especial, caracterizando-se<br />
como experiências imersivas e inovadoras, que também<br />
atuam como uma homenagem à cultura japonesa,<br />
mesclando ancestralidade com novas mídias.<br />
Sua mais recente exposição está sendo apresentada<br />
desde o início de outubro na Japan House, em São Paulo.<br />
Trata-se de 次 元 Dimensão, um conjunto de três instalações<br />
imersivas e sensoriais que propõem a quebra dos limites<br />
entre as artes visuais e a arquitetura, gerando também<br />
uma reflexão sobre o constante avanço da tecnologia e sua<br />
influência sobre as artes. A mostra ficará em cartaz até o dia<br />
6 de janeiro de 2019.<br />
A instalação sensorial Magnitude 1 é composta de<br />
barras LED cuja programação avançada reage à presença dos<br />
visitantes, propondo uma imersão visual comandada pela<br />
interferência tecnológica. Na também imersiva Daydream<br />
V.5 Infinite 2 3 , os designers utilizaram projeções laser,<br />
espelhos e efeitos sonoros para a geração de distorções<br />
espaciais que convidam o espectador a distanciar-se da<br />
realidade em um espaço de aspecto infinito, abstrato e<br />
virtual. Já em Zero Point Two 4 , o duo propõe uma inovadora<br />
instalação de fibras ópticas laser, que projetam feixes de<br />
luz aleatórios segundo uma programação, criando diversas<br />
formas geométricas que transformam completamente o<br />
espaço diante dos olhos do espectador. (D.T.)<br />
26 27
Elif Simge Fettahoglu<br />
Elif Simge Fettahoglu<br />
Saverio Lombardi Vallauri<br />
Omer Kanipak<br />
¿QUÉ PASA?<br />
DE ONDE VOCÊ É?<br />
Em resposta ao tema “Emotional States” (estados emocionais),<br />
proposto pela London Design Biennale 2018, que foi<br />
realizada durante o último mês de setembro, os arquitetos do<br />
escritório turco Tabanlıoğlu Architects (TA_) representaram seu<br />
país no evento londrino com a instigante instalação housEmotion,<br />
acompanhada da seguinte indagação: “Ela se parece com uma<br />
casa, mas pode ser considerada um lar?”.<br />
A forma do pavilhão baseia-se na mais elementar ideia de<br />
uma residência: um cubo, construído por meio de uma série de<br />
hastes brancas que delimitam o espaço. As lacunas entre esses<br />
tubos conferem certa transparência à estrutura, atraindo os<br />
visitantes e, ao mesmo tempo, permitindo que a construção se<br />
dissolva no local no qual se insere, o pátio da Somerset House –<br />
um palácio neoclássico do século XVIII, transformado em centro<br />
cultural e sede da Biennale. No centro da “casa”, foi colocado um<br />
divã, que acolhe e convida os visitantes a permanecer no espaço<br />
e relaxar, como o “colo de uma mãe”, segundo os arquitetos.<br />
Por meio das diferentes alturas das hastes, o espaço interior<br />
do cubo tem a forma de uma casa em negativo, cuja volumetria<br />
é evidenciada à noite, quando as dezenas de luzes pontuais<br />
integradas a esses elementos acendem, transformando a<br />
instalação em uma lanterna brilhante – ou talvez em um coração<br />
caloroso, como sugerem seus criadores.<br />
Com a instalação, a equipe do TA_ buscou explorar o<br />
significado emocional de um lar, especialmente em uma era<br />
marcada pela crescente transitoriedade. Para os arquitetos, o<br />
significado de “lar”, para cada indivíduo, é bastante variável nos<br />
tempos atuais, o que permite as mais diversas interpretações<br />
do sentimento de pertencimento, que deixa de estar vinculado<br />
somente ao âmbito da casa. (D.T.)<br />
28 29
Imagens: Julien Philippy<br />
¿QUÉ PASA?<br />
NEON POWER<br />
Bastante atual, o empoderamento feminino tem sido<br />
cada dia mais discutido mundialmente. Por esse motivo, o<br />
tema vem inspirando mulheres e marcas de todo o mundo,<br />
como a Nemozena, uma grife internacional de roupas<br />
femininas caracterizadas pela inovação, pela versatilidade e<br />
pela reinvenção.<br />
Para a Semana de Moda de Paris, a marca convidou a artista<br />
britânica Liz West para desenvolver uma instalação imersiva<br />
que refletisse a visão da marca, além de encantar o público.<br />
Assim foi concebida Aglow, inaugurada no fim de setembro<br />
no pátio interno do Museu Nissim de Camondo, na capital<br />
francesa. A artista dispôs sobre o piso 169 tigelas côncavas,<br />
feitas de acrílico colorido fluorescente, conformando um<br />
grande hexágono. O formato, bastante presente na natureza,<br />
foi escolhido por ser considerado pela artista o mais prático e<br />
espacialmente econômico dentre os polígonos.<br />
As bordas das tigelas brilham como neon, como se<br />
fossem alimentadas por energia elétrica, e retratam o<br />
interesse (recorrente) da artista acerca da relação entre<br />
cor e luz e sua habilidade de, em conjunto, intensificar a<br />
percepção do observador. “As tigelas de acrílico oferecem<br />
superfícies côncavas altamente refletivas que estimulam a<br />
oportunidade do espectador de enxergar seu entorno de uma<br />
nova maneira, tingido de luz fluorescente”, explica West. As<br />
tigelas individuais também atuam como coletores de águas<br />
pluviais, que igualmente se comportam como superfícies<br />
refletivas, acrescentando dimensão extra à instalação.<br />
Traduzindo os ideais da marca, Aglow é uma metáfora para<br />
o brilho e a vitalidade das mulheres ao redor do mundo. Além<br />
de Paris, a obra será exibida em Dubai, Emirados Árabes, e<br />
em Milão, Itália, onde se localizam, respectivamente, a sede<br />
e o centro de produção da marca. (D.T.)<br />
30 31
32 33
Imagens: Ed Reeve for American Hardwood Council<br />
¿QUÉ PASA?<br />
MÚLTIPLAS CAMADAS<br />
Fruto do equilíbrio entre simplicidade, complexidade e<br />
interação, a instalação MultiPly confronta duas importantes<br />
questões da atualidade: o deficit habitacional e o combate às<br />
mudanças climáticas. Construído a partir da visão do escritório<br />
de arquitetura londrino Waugh Thistleton Architects – cujos<br />
projetos são caracterizados pelo baixo impacto ambiental<br />
e pelo forte engajamento social –, o pavilhão esteve aberto<br />
para visitação durante o último mês de setembro no novo<br />
pátio do Victoria & Albert Museum, na capital inglesa, por<br />
ocasião do London Design Festival 2018, como um de seus<br />
Landmark Projects (que são as instalações com maior escala<br />
e destaque). A proposta dos arquitetos une os sistemas<br />
modulares aos materiais de construção sustentáveis como<br />
uma solução possível para as duas questões propostas.<br />
Em parceria com a multidisciplinar Arup, os arquitetos<br />
projetaram uma estrutura modular pré-fabricada, constituída<br />
de painéis de madeira laminada cruzada (CLT) de reúso e com<br />
emissão de carbono zero, que se assemelham a uma série de<br />
caixas empilhadas. O pavilhão apresenta-se, ao mesmo tempo,<br />
sólido e permeável e instiga os visitantes a explorar seus diferentes<br />
espaços e níveis por meio de aberturas, escadas e pontes.<br />
Os lighting designers do SEAM Design – parceiros de<br />
longa data do LDF – buscaram enfatizar esses conceitos<br />
por meio da iluminação, desenvolvendo um sistema préplanejado<br />
e cuidadosamente integrado aos painéis ainda<br />
durante seu estágio de fabricação, previamente à montagem<br />
in loco. A principal premissa do projeto foi a utilização de<br />
um detalhe único na resolução de todo o pavilhão que<br />
simplificasse sua execução, além de causar impacto visual<br />
e atrair os visitantes. Dessa forma, perfis de LED de alta<br />
performance foram integrados a ranhuras precisamente<br />
entalhadas nas bordas dos módulos de madeira, ressaltando<br />
as aberturas e a geometria da estrutura. O uso de controles<br />
Bluetooth possibilitou ainda que o sistema de iluminação<br />
fosse dinâmico, minimizando a infraestrutura elétrica<br />
necessária para tal.<br />
“MultiPly contém inúmeras camadas de complexidade<br />
com relação aos seus níveis e às direções pelas quais as<br />
pessoas podem transitar, o que influenciou o desenho da<br />
luz. Mas é a complexidade da iluminação entrelaçada à<br />
arquitetura o que torna a experiência verdadeiramente<br />
agradável”, concluem os lighting designers. (D.T.)<br />
34 35
Imagens: ©Ellsworth Kelly Foundation. Photo courtesy Blanton Museum of Art, The University of Texas at Austin<br />
¿QUÉ PASA?<br />
TEMPLO DAS CORES<br />
Pouco antes de sua morte, em 2015, o pintor, escultor<br />
e gravurista Ellsworth Kelly, conhecido por seus trabalhos<br />
minimalistas e coloridos, doou ao Blanton Museum of Art –<br />
pertencente à Universidade do Texas em Austin, nos Estados<br />
Unidos – o projeto “Austin”, seu primeiro e único projeto de<br />
um edifício, baseado em esboços criados para uma capela<br />
durante uma visita à França, na década de 1950, e sobre os<br />
quais trabalhou durante toda a sua vida. Após um longo<br />
período de arrecadação de fundos, o projeto pôde finalmente<br />
ser construído e inaugurado neste ano.<br />
A construção de pedra calcária, de aproximadamente<br />
250 metros quadrados, tem planta em forma de cruz, com<br />
quatro alas cujos tetos são arqueados. Três de suas fachadas<br />
apresentam vitrais coloridos que referenciam temáticas<br />
desenvolvidas durante a carreira do artista: na entrada,<br />
que corresponde à fachada sul, encontra-se Color Grid, que<br />
apresenta uma grade com nove cores, presente em diversas<br />
criações do artista em sua busca pela “não hierarquia” (em<br />
que todos os elementos têm pesos visuais iguais); já Starburst,<br />
na fachada oeste, e Tumbling Squares, na fachada leste, são<br />
compostas de 12 janelas cada, com as cores do espectro,<br />
um tema explorado por Kelly por meio de seu instinto e sua<br />
percepção em detrimento do viés teórico e científico. Todas as<br />
33 janelas são feitas de vidro soprado e proporcionam poéticas<br />
e dinâmicas reflexões coloridas da luz natural, que tingem os<br />
revestimentos de cores claras no interior do espaço.<br />
Em contraste, são exibidos nas paredes internas 14 paneis<br />
de mármore quadrados, que representam um dos temas<br />
mais recorrentes da obra de Kelly: a exploração das formas<br />
usando somente os pigmentos branco e preto. Sua série<br />
Black and White evoca a oposição simbólica e elementar<br />
representada por essas duas cores. No caso da série<br />
apresentada em Austin, o artista explorou essa conotação,<br />
concebendo-a como uma versão abstrata da iconografia<br />
católica conhecida como a Via Crúcis.<br />
A ala voltada para o norte não contém aberturas, e ali<br />
foi instalado um totem de madeira de sequoia, com mais de<br />
5 metros de altura, que se apresenta como um ponto focal<br />
logo ao entrar no edifício. O formato era o mais comum<br />
dentre as esculturas de Kelly e apresenta faces côncavas que<br />
correspondem a segmentos de um círculo imaginário com um<br />
raio de aproximadamente 70 metros.<br />
Apesar de ter sido concebido com a forma de uma capela,<br />
o artista relatou que imaginou a edificação como um espaço de<br />
alegria e de contemplação, mais do que um local atrelado a um<br />
programa religioso. (D.T.)<br />
36 37
Imagens: Ben Glezer<br />
¿QUÉ PASA?<br />
#NOFILTER<br />
Os arquitetos do escritório australiano Studio Y foram<br />
contratados pelos lighting designers conterrâneos do Ambience<br />
Lighting com a importante missão de projetar sua nova sede<br />
em Bundoora, um subúrbio de Melbourne, capital do estado de<br />
Victoria, na Austrália. Como resultado, criaram um ambiente<br />
que mescla harmonicamente luz natural, sombras e cores com<br />
luz artificial, em resposta ao ethos da consultoria luminotécnica,<br />
“making light work” (ou “fazendo a luz funcionar”).<br />
O conceito dos arquitetos partiu da imagem irreverente da<br />
própria marca do Ambience, inspirada no comportamento óptico<br />
dos prismas. Sua capacidade de decompor a luz nas diferentes<br />
cores do espectro foi traduzida pelo Studio Y por meio de<br />
paredes angulares pintadas em tons pastéis unidas a divisórias<br />
de vidro revestidas de filmes dicroicos, criando ambientes<br />
reservados e, ao mesmo tempo, proporcionando diferentes<br />
percepções do espaço dependendo do ponto de vista ou do<br />
horário e da condição climática do dia. As sombras dinâmicas<br />
e os efeitos prismáticos são descritos pelos arquitetos como<br />
“filtros de Instagram da vida real”, o que estimula e inspira a<br />
equipe de lighting designers e impressiona seus clientes quando<br />
visitam o escritório.<br />
A iluminação artificial também foi pensada para trabalhar<br />
em conjunto com os filtros. Sobre as estações de trabalho, os<br />
lighting designers desenvolveram uma solução customizada<br />
incorporada aos painéis duplos do forro acústico, que conta<br />
com perfurações circulares retroiluminadas, criando iluminação<br />
uniforme, difusa e confortável. A forma geométrica circular se<br />
repete em outros elementos do projeto e foi escolhida por seu<br />
caráter divertido, atuando também como contraponto às linhas<br />
fortes e angulares impostas pelas paredes e pelo piso.<br />
Os arquitetos disponibilizaram um vídeo em timelapse<br />
que mostra as diferentes cores, luzes e sombras que<br />
podem ser observadas durante um dia no escritório: vimeo.<br />
com/289030694. (D.T.)<br />
38 39
20 - 23 março de 2019<br />
Bastião de Carmen, Colônia do Sacramento - Uruguai<br />
OS PALESTRANTES<br />
palestrantes renomados já confirmaram a sua presença no Encontro<br />
Encontro Ibero-Americano de Lighting Design EILD nasce como uma iniciativa sem<br />
fins lucrativos concebida por um grupo de profissionais independentes e apaixonados<br />
pela luz.<br />
É um espaço para reflexão e troca de ideias entre designers de iluminação<br />
íbero-americanos que propõem novas maneiras de transmitir seus valores através da<br />
comunicação e da colaboração entre todas as disciplinas relacionadas à profissão.<br />
EILD iniciou sua jornada em 2010 em Valparaíso (Chile), continuou em Querétaro<br />
(México) em 2012, Medellín (Colômbia) em 2014 e Ouro Preto (Brasil) em 2016,<br />
sempre contando com o apoio e a participação de importantes marcas de fabricantes<br />
de equipamentos de iluminação profissional, associações e instituições internacionais<br />
e nacionais de cada país anfitrião.<br />
Nathalie Rozot<br />
Estados Unidos<br />
Dê uma olhada no nosso<br />
Vídeo EILD 2019:<br />
youtu.be/aCW06ULdQ7Y<br />
Mais informações em eild.org<br />
Mark Major<br />
Reino Unido<br />
Patrocinan:<br />
Parceiros:<br />
Mídia<br />
Associações.<br />
LEDiL OY / TECTRONISA<br />
LUMINOTECNIA<br />
OSRAM OPTO / LUCCIOLA<br />
40 41<br />
Informação: infoeild2019@gmail.com
¿QUÉ PASA?<br />
O ESPAÇO TECIDO PELA LUZ<br />
Este trabalho é o resultado de uma descoberta pessoal<br />
feita há dez anos, de que uma câmera pinhole se transforma<br />
em um projetor quando você altera a relação claro/escuro<br />
– mudando da configuração tradicional de interior claro/<br />
exterior escuro para exterior escuro/interior claro. Embora<br />
no passado eu já tenha trabalhado com lâmpadas, sinto que<br />
esse projeto lança mão daquela descoberta inicial de forma<br />
adequada. Para mim, esse projeto sempre esteve relacionado<br />
à forma da luz. As sombras em um espaço assumem a forma<br />
da luz que as origina. Para esse projeto, a forma adotada foi a<br />
sinuosa linha de um filamento incandescente. Mas poderia ser,<br />
simplesmente, a circularidade do sol ou a linearidade de uma<br />
lâmpada fluorescente.<br />
A forma obtida por meio das projeções foi fortemente<br />
influenciada pelo tecido jacquard, feito pela máquina de<br />
tear, que utiliza uma tela perfurada, e por outras mídias<br />
binárias, como os antigos cartões para programação de<br />
computadores ou os rolos de música para pianolas. Para<br />
mim, o poder dessa forma reside na relação entre dados e<br />
informações, nos materiais brutos do mundo e na maneira<br />
como os organizamos. Nessa analogia, a lâmpada representa<br />
os dados, a tela perfurada seria um tipo de programa, e a<br />
projeção, a informação resultante. O efeito geral é de um<br />
espaço da luz tecida.<br />
Cada um dos projetores usados para a produção dessas<br />
imagens foi equipado com uma lâmpada incandescente<br />
60 W. As pequenas variações nas formas dos filamentos<br />
desempenham um papel significativo na geração dos padrões<br />
das projeções. Não existem duas lâmpadas capazes de produzir<br />
um mesmo desenho. Tenho a convicção de que, com a queima<br />
da lâmpada, sua projeção será perdida. (Por Chris Fraser, versão<br />
para o português Débora Torii e Orlando Marques.)<br />
42 43
No saguão de entrada, o ambiente é iluminado de maneira<br />
uniforme por meio de luminárias com difusor translúcido para<br />
lâmpada fluorescente T5, 25 W, 3.000 K, Ra > 80, fixadas<br />
de forma solidarizada em eletrocalha na lateral da viga de<br />
borda do vazio, e também por luminárias LED 18 W, 3.000 K<br />
e, embutidas em placas de madeira.<br />
SESC BIRIGUI<br />
Texto: Orlando Marques | Fotos: Nelson Kon<br />
A<br />
cidade de Birigui, localizada no noroeste paulista,<br />
recebeu no final do ano passado a esperada unidade<br />
do Sesc Birigui, conjunto sociocultural, desportivo e<br />
odontológico, com projeto do escritório Teuba Arquitetura e<br />
Urbanismo, das titulares Rita de Cassia Alves Vaz e Christina<br />
de Castro Mello, e projeto de iluminação do escritório foco luz<br />
& desenho, das sócias Ana Karina Camasmie e Junia Azenha.<br />
O edifício foi projetado com o intuito de preservar seu<br />
entorno e conviver em harmonia com a cidade, de maneira<br />
sustentável. Adotaram-se soluções holísticas construtivas e<br />
projetuais que respeitassem o meio ambiente e contribuíssem<br />
para “o convívio dos usuários consigo mesmos, com o outro e<br />
com seu entorno”. Vale destacar a redução de 80% dos resíduos<br />
destinados a aterros sanitários e o aproveitamento de quase<br />
metade do terreno de 9.500 metros quadrados destinados<br />
a áreas verdes, dentre elas, a extensa cobertura verde do<br />
edifício, projetada para contribuir com o aumento do ciclo<br />
de oxigênio na atmosfera e para aumentar a permeabilidade<br />
do solo, reduzindo também o impacto das águas pluviais na<br />
bacia hidrográfica. Além disso, a estrutura metálica do edifício<br />
é inteiramente aparafusada – e não soldada –, permitindo seu<br />
reaproveitamento.<br />
44 45
Nos ambientes da academia e das salas de aula, foi mantido o conceito de distribuição linear das luminárias, alterando somente a<br />
distribuição fotométrica da luz de acordo com o uso do espaço. Nas salas de aula, foram especificadas luminárias com aletas para<br />
controle de ofuscamento e, na academia, com visor translúcido para luz difusa.<br />
Luminárias de 18 W e 3.000 K embutidas no forro de madeira complementam a iluminação uniforme proveniente das luminárias<br />
com lâmpadas fluorescentes fixadas nas laterais das vigas de borda do vazio. As rampas foram iluminadas por luminárias<br />
pendentes para iluminação indireta e direta com lâmpadas T5, 3.000 K.<br />
Os espaços são caracterizados por ambientes amplos e<br />
iluminados, distribuídos em três pavimentos, mais o pavimento<br />
de cobertura. Foram projetados grandes vazios internos e<br />
externos e aberturas em sheds e nas fachadas, promovendo aos<br />
usuários uma relação de troca entre eles, o edifício e a cidade.<br />
Muitos ambientes possuem usos diversos e podem variar<br />
de acordo com a programação da unidade. Os acabamentos<br />
em geral têm cores claras ou acabamentos naturais, como o<br />
forro de madeira em algumas áreas de circulação e o piso de<br />
cimento queimado.<br />
O projeto de iluminação partiu do conceito “espaço único,<br />
luz única”, elaborado sobre os três pilares que constituem o<br />
trabalho da Foco – valorização dos espaços, bem-estar dos<br />
usuários e economia de energia. Foram desenvolvidas soluções<br />
utilizando o menor repertório possível de equipamentos de<br />
iluminação. Os espaços foram iluminados de maneira uniforme,<br />
por meio de layouts que criam linhas contínuas de luz, permitindo<br />
a execução das tarefas visuais com conforto e de acordo com<br />
o uso de cada espaço. Ambientes de permanência mais longa,<br />
por exemplo, receberam equipamentos com aletas visando<br />
evitar ofuscamentos desconfortáveis para a realização de<br />
tarefas com demandas de maior acuidade visual. Outras<br />
áreas receberam iluminação difusa ou direta, com distribuição<br />
luminosa uniforme e níveis de luz que ajudassem a diminuir o<br />
contraste entre a luminosidade das áreas externas e internas<br />
durante o dia.<br />
46 47
Na comedoria, a parede é iluminada por luminárias com refletor assimétrico e lâmpada fluorescente T5, 25 W, 3.000 K.<br />
Para a iluminação das mesas, luminárias LED embutidas no forro de madeira 35 W, 3.000 K. No auditório, painéis de<br />
madeira são destacados em silhueta por meio de perfis de LED 4,8 W/m, 3.000 K.<br />
Na brinquedoteca foi criada uma distribuição regular de luminárias LED 18 W, 3.000 K, embutidas no forro de madeira,<br />
para iluminação homogênea no piso. Abaixo, vista do edifício no contexto urbano de Birigui.<br />
A extensa duração do projeto permitiu que algumas<br />
especificações e modos de controle fossem atualizados para<br />
atender às demandas das certificações ambientais LEED<br />
BD-C e Procel, não contratadas no início do projeto. Algumas<br />
luminárias foram especificadas novamente com menor consumo<br />
energético e mais eficácia luminosa. O zoneamento de controle<br />
das luminárias foi redefinido, criando-se grupos de luminárias<br />
localizados junto às aberturas das fachadas. Essas zonas são<br />
automaticamente acionadas conforme a luz natural.<br />
À noite, o edifício torna-se uma lanterna, emanando luz<br />
através das suas aberturas. O brilho do edifício convida a<br />
população ao lazer, à cultura, à troca e a conviver em comunidade,<br />
viveres importantes num Estado democrático de direito como<br />
o nosso. Nesse sentido, a integração entre arquitetura e luz<br />
também colaboram para o exercício cívico.<br />
SESC BIRIGUI<br />
Birigui, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
foco luz & desenho<br />
Ana Karina Camasmie e Junia Azenha<br />
(arquitetas titulares)<br />
Adriana Leite (arquiteta coordenadora)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Teuba Arquitetura e Urbanismo<br />
Christina de Castro Mello e Rita de<br />
Cassia Alves Vaz (arquitetas titulares)<br />
Fornecedores:<br />
Lumini<br />
48 49
A linguagem linear das rampas que compõem o acesso vertical do edifício é<br />
reforçada por luminárias de sobrepor montadas em linha e fixadas acima do forro<br />
metálico. Visibilidade e espacialidade são garantidas por meio da distribuição<br />
difusa e homogênea da luz nesses percursos, em conjunto com a entrada de luz<br />
natural proveniente das fachadas envidraçadas.<br />
A LUZ DA CIDADE<br />
Texto: Mariana Novaes | Fotos: Nelson Kon<br />
Foram 16 anos entre o início do projeto e a inauguração<br />
do Sesc 24 de Maio, em agosto de 2017. Os arquitetos<br />
e lighting designers Rosane Haron e Altimar Cypriano<br />
desenvolveram o projeto de iluminação tendo como principal<br />
diretriz alinharem-se ao projeto e ao partido arquitetônico, de<br />
autoria do arquiteto Paulo Mendes da Rocha e do escritório MMBB<br />
Arquitetos. O projeto buscou transformar o edifício, antiga sede<br />
da loja de departamentos Mesbla, localizado no centro de São<br />
Paulo, em um novo espaço para a prática de atividades culturais<br />
e esportivas, para a convivência e para a educação à cidadania,<br />
de acordo com o ethos da instituição.<br />
Atenta à memória urbana construída no seu entorno,<br />
a intervenção arquitetônica proposta, com 28 mil metros<br />
quadrados de área construída, preservou a estrutura original<br />
do edifício, adequando-o a novos usos, funções e necessidades<br />
normativas. Novas rampas compõem a circulação vertical,<br />
dando acesso às mais diversas áreas recreativas e de serviços<br />
da unidade, buscando assim promover a integração visual<br />
e física entre o novo espaço e a cidade. Segundo Rosane,<br />
“o projeto de iluminação buscou reforçar essa narrativa de<br />
maneira sóbria e comedida, por meio de sistemas integrados<br />
aos elementos da arquitetura, evidenciando os aspectos dos<br />
espaços projetados”.<br />
O pavimento térreo do edifício abriga uma praça que interliga<br />
as ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, mantendo o caráter<br />
de algumas galerias de lojas do centro de São Paulo: o livre<br />
acesso e o deslocamento das pessoas entre elas e a cidade.<br />
50 51
No sentido anti-horário, acima à esquerda, espaço destinado à dança no 10º andar; abaixo à esquerda, biblioteca no<br />
4º andar; acima, a área de convivência no 3º andar, com aberturas para o entorno. Todos esses espaços contam com soluções<br />
padronizadas de iluminação de forma a atender e flexibilizar seus diferentes usos, ocupações e demandas – de movimento,<br />
de estudos e pesquisas, e de lazer e descanso.<br />
Novas fachadas de vidro permitem “o ver através” entre o<br />
exterior e o interior do edifício, ao mesmo tempo que reflete<br />
os edifícios vizinhos. Os espaços são abertos ao público e<br />
permeáveis ao olhar, convidando-o a participar das inúmeras<br />
atividades da unidade. Aberturas criadas nas fachadas permitem<br />
a observação do entorno e da cidade.<br />
Nesse contexto, nos ambientes de convivência ou de<br />
passagem, a iluminação foi pensada como uma continuação<br />
do que ocorre na cidade: luz e sombra, por meio de diferentes<br />
contrastes e intensidades luminosas, estão presentes em<br />
alguns espaços do edifício, como na praça do térreo e no café<br />
do teatro, no subsolo; na área de convivência e de multiuso<br />
do 3º andar; no jardim do 11º andar; e na área da piscina ao<br />
ar livre, na cobertura, um dos destaques arquitetônicos desta<br />
unidade do Sesc.<br />
Os demais espaços, destinados a atividades variadas,<br />
contam com soluções padronizadas de iluminação de forma<br />
a atender e flexibilizar seus usos. Nas áreas de esporte,<br />
administração, restaurante, biblioteca, oficinas e dança, a<br />
iluminação é homogênea e difusa, e seus equipamentos são<br />
distribuídos linearmente, ao longo de tetos e paredes.<br />
O projeto de iluminação também definiu, em todos os<br />
pavimentos tipo, uma altura constante de 2,80 metros do<br />
piso acabado para a instalação da infraestrutura de fixação<br />
das linhas de luminárias, em razão das diversas dimensões<br />
do vigamento da estrutura do edifício original. Dessa forma,<br />
as soluções foram gabaritadas para que os equipamentos de<br />
iluminação ficassem instalados abaixo das vigas e das demais<br />
instalações existentes. Isso permitiu que o projeto de iluminação<br />
ajudasse a organizar visualmente os espaços arquitetônicos.<br />
52 53
Alinhando-se ao projeto de arquitetura, a iluminação artificial<br />
não deveria acontecer em excesso nem “ser exibicionista”, mas<br />
prezar pelo conforto visual e convidar as pessoas a participar<br />
dos espaços. Os lighting designers adotaram a temperatura<br />
de cor de 3.000 K para todas as soluções e tipologias de<br />
equipamentos, variando apenas a distribuição espacial da luz,<br />
desenhando uma iluminação geral uniforme para as áreas de<br />
trabalho e de atividades esportivas e modulando a iluminação<br />
de destaque pontual, para garantir os desejados contrastes de<br />
luz e sombra nos espaços abertos e de convivência. Essa ruptura<br />
visual na percepção de contrastes entre luz uniforme e pontual,<br />
de forma a destacar as diferentes atividades e funções dos<br />
espaços, foi intencional e, segundo os autores, inspirada nos<br />
conceitos de pontos nodais criados pelo urbanista Kevin Lynch.<br />
O projeto de iluminação também se ateve em especificar<br />
sistemas e adotar soluções com alta eficiência energética,<br />
levando-se em conta a vida útil, a manutenção e a operação dos<br />
equipamentos, privilegiando, seu custo-benefício e mantendo<br />
as fontes luminosas da base da iluminação geral por meio<br />
de lâmpadas fluorescentes T5, lâmpadas de vapor metálico<br />
para os pés-direitos mais altos e diversas luminárias com<br />
LED integrado.<br />
De acordo com Rosane e Altimar, entre o desenvolvimento<br />
do projeto e a obra concluída, foram anos de uma rica relação<br />
entre os lighting designers, os autores do projeto de arquitetura<br />
e o Sesc, sempre pautada por discussões de ideias e soluções ao<br />
longo de todo o processo. Esse vínculo contribuiu para que luz<br />
e arquitetura convivessem em harmonia no Sesc 24 de Maio.<br />
No teatro, foram utilizados projetores para lâmpadas<br />
PAR 30, LED 30°, 15 W em trilhos eletrificados sobre a<br />
plateia e luminárias embutidas nas paredes laterais para o<br />
balizamento de piso em tecnologia LED 9 W, 35°. Abaixo,<br />
vista para o Sesc, localizado na esquina das ruas 24 de Maio<br />
e Dom José de Barros. Suas fachadas, ao mesmo tempo<br />
reflexivas e permeáveis ao olhar, ora revelam seu interior, ora<br />
refletem seu entorno.<br />
Na cobertura, foram<br />
distribuídos postes para<br />
lâmpada vapor metálico com<br />
rebatedores de luz (Spiegel<br />
System), refletindo luz<br />
indireta na área do entorno<br />
da piscina. No jardim da<br />
varanda, ao lado, claro e<br />
escuro fazem a continuação<br />
do que ocorre na cidade e<br />
no entorno do Sesc. Trilhos<br />
eletrificados com projetores<br />
para lâmpadas PAR 30,<br />
LED 25°, 13 W fazem a<br />
distribuição dessas diferentes<br />
intensidades luminosas. Estes<br />
espaços são um convite à<br />
apreciação do skyline do<br />
centro de São Paulo.<br />
SESC 24 DE MAIO<br />
São Paulo, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
Rosane Haron e Altimar Cypriano (arquitetos titulares)<br />
Ana Cristina Bernardo, Giovanni Grigio, Moille Schug e<br />
Patricia Utiama (estagiários)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Paulo Mendes da Rocha<br />
MMBB Arquitetos<br />
Fernando Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga<br />
Fornecedores:<br />
Lumini, Osram<br />
54 55
Mini projetores de 3 W iluminam as esculturas art nouveau e as mansardas. Perfis de alumínio extrudado com fitas de LED IP 66<br />
(4,2W/m / 3.000 K) iluminam as cimalhas e projetores lineares de facho elíptico (19° X 38°) iluminam os telhados de ardósia.<br />
CASA FIRJAN<br />
Texto: Carlos Fortes | Fotos: André Nazareth<br />
PALACETE LINEU DE PAULA MACHADO<br />
Situado no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de<br />
Janeiro, o Palacete Lineu de Paula Machado, de 1906, compõe<br />
um conjunto de imóveis preservados, que abrigam em sua<br />
maioria equipamentos culturais, como a Casa de Rui Barbosa, os<br />
museus do Índio e Villa-Lobos, o Palácio do Catete e o Palácio<br />
da Cidade, sede da prefeitura. Implantado em um terreno<br />
de 10 mil metros quadrados, constitui parte do patrimônio<br />
histórico e cultural do Rio de Janeiro.<br />
Foi construído em estilo art nouveau, que marcou a Europa<br />
entre o final do século XIX e o início do XX, com foco na<br />
arquitetura decorativa, na valorização de ornamentos, em<br />
cores vivas e em curvas sinuosas. A restauração, iniciada em<br />
2011, revitalizou detalhes em pierre de taille (argamassa que<br />
imita pedra) e paredes em boiserie (revestimento em madeira),<br />
recuperando as cores originais e as texturas de itens como<br />
vitrais, azulejos e bancadas.<br />
O palacete conta um pedaço da história da cidade. Foi<br />
construído por Eduardo Pallasin Guinle, fundador da Companhia<br />
Docas de Santos e avô de Octávio Guinle, fundador do hotel<br />
Copacabana Palace – ambos projetados pelo arquiteto francês<br />
Joseph Gire. Pertenceu à família até 2005, tendo sido residência<br />
de Celina Guinle e seu marido, Lineu de Paula Machado, e<br />
posteriormente do industrial Guilherme Guinle, fundador da<br />
Companhia Siderúrgica Nacional.<br />
A Casa Firjan é um complexo cultural que abre as portas para<br />
a discussão e o estudo de diferentes propostas de economia<br />
criativa, focadas na inovação e no futuro do mercado de<br />
trabalho. Seu programa inclui exposições, música, cinema,<br />
restaurante, café, palestras, debates e cursos livres.<br />
O PROJETO DE ILUMINAÇÃO<br />
Iniciado em 2014, o projeto de iluminação do Studio iLuz,<br />
da arquiteta Ines Benevolo, passou por três fases até sua im plantação<br />
em 2018. Inicialmente previa o mínimo de intervenções,<br />
com reaproveitamento de quase todas as luminárias existentes<br />
e poucos acréscimos. A iluminação das fachadas seria frontal,<br />
com projetores fixados em postes, sem a criação de pontos de<br />
alimentação no corpo do edifício.<br />
Após algum tempo paralisado, foi retomado em 2016.<br />
Nesse momento, foi solicitada uma revisão dos conceitos,<br />
visando à adequação dos espaços internos ao programa<br />
multiuso. Assim, ambientes onde inicialmente a iluminação<br />
se daria por meio do restauro das luminárias existentes,<br />
com a renovação das fontes de luz, passaram a ter sistemas<br />
contemporâneos que agregam aos espaços a flexibilidade<br />
desejada. Esse novo conceito preservou algumas das<br />
luminárias originais em equilíbrio com os novos sistemas<br />
de iluminação propostos.<br />
56 57
Na recepção, luminárias pendentes difusas sinalizam o balcão. Nas molduras de<br />
estuque, foram embutidos perfis lineares de LED com difusor (14,4 W/m, 3.000 K)<br />
para iluminação das colunas ou do arco. Os três plafoniers originais foram mantidos.<br />
No hall principal, luminárias pendentes circulares para iluminação indireta<br />
(17,5 W/m, 3.000 K) e iluminação direta (3,8 W, 45°, 3.000 K) foram customizadas<br />
para o projeto. As arandelas com cúpulas translúcidas existentes foram restauradas.<br />
No café, um sistema de luminárias pendentes ramificadas a partir de um único<br />
ponto provê iluminação difusa para as paredes e iluminação direta para as mesas.<br />
Luminárias decorativas junto aos sofás e às bancadas complementam o ambiente.<br />
No hall superior, três claraboias de vitrais de época foram restauradas e iluminadas por luminárias lineares orientáveis de facho<br />
elíptico (13° X 81°). Para as paredes, uma linha contínua de luminária tipo wallwasher com facho assimétrico (22,9 W/m,<br />
3.000 K), ilumina as fotografias do Rio de Janeiro expostas e equilibra a luz do ambiente. Na sala de reuniões, o ponto central<br />
serviu de alimentação para o o sistema do pendente decorativo. Originalmente composto de cinco cúpulas para iluminação direta<br />
e difusa, o pendente foi especialmente produzido com sete cúpulas, distribuídas simetricamente sobre a mesa de reuniões.<br />
AS ÁREAS INTERNAS – TÉRREO<br />
Em 2017, o projeto passou por uma nova revisão, visando a<br />
uma adequação orçamentária, mas, preservando os conceitos<br />
e as soluções propostas tanto para as áreas internas quanto<br />
para as fachadas.<br />
No acesso principal ao palacete, voltado para a rua Dona<br />
Mariana, no primeiro ambiente – um alpendre que faz as vezes de<br />
pórtico de entrada – foi mantido apenas o lustre original. Logo em<br />
seguida, o ambiente, que hoje funciona como recepção, recebeu<br />
intervenções para valorizar os ornamentos e reforçar a iluminação<br />
geral, já insinuando o partido adotado nas demais áreas internas.<br />
Luminárias pendentes difusas sinalizam o posicionamento<br />
lateral do balcão em relação ao acesso. Para iluminação indireta,<br />
as molduras de estuque passaram a abrigar um nicho para a<br />
fixação de perfis lineares de LED com difusor. Os três plafoniers<br />
originais foram mantidos.<br />
No hall principal, as arandelas foram mantidas. Nesse<br />
ambiente, era possível o acesso por cima do teto, criando-se<br />
novos pontos de alimentação. Assim, em resposta ao novo conceito<br />
de dotar os espaços de sistemas contemporâneos flexíveis para<br />
iluminação geral e iluminação de destaque, foram desenhadas<br />
luminárias pendentes circulares – duas com iluminação direta<br />
e indireta e duas apenas com iluminação indireta. A iluminação<br />
direta tem rigoroso controle do ofuscamento e facho aberto. Os<br />
sistemas são dimerizados em circuitos independentes e foram<br />
desenvolvidos especialmente para o Palacete. Os capitéis que<br />
coroam as pilastras dos pórticos e os arcos que dão acesso à<br />
escada principal foram destacados, ora com iluminação direta<br />
rasante, ora com iluminação indireta.<br />
No café, antigas copas-cozinhas da residência, os revestimentos<br />
originais de azulejaria e as bancadas de mármore foram preservados.<br />
Cada ambiente tem um ponto central no teto. Um sistema de<br />
luminárias pendentes ramificadas a partir desse único ponto<br />
provê iluminação difusa para as paredes e iluminação direta para<br />
as mesas. A iluminação é complementada por poucos pontos<br />
embutidos no forro, entre as molduras de estuque e as paredes,<br />
e por luminárias decorativas junto aos sofás e às bancadas.<br />
PAVIMENTO SUPERIOR<br />
No hall do segundo pavimento, que dá acesso à sala de<br />
reunião principal e à sala da presidência, três vitrais de época<br />
localizados no teto foram restaurados. Sobre eles, foram<br />
instaladas luminárias lineares orientáveis de facho elíptico,<br />
para iluminação direta, que reproduzem o efeito da iluminação<br />
natural, sem ofuscamento. Em complemento, uma linha<br />
contínua pendente próximo à parede, com facho assimétrico<br />
tipo wallwasher, garante iluminação para as fotografias do Rio<br />
de Janeiro expostas, balanceando a luz do ambiente.<br />
Na sala de reuniões, o ponto central, localizado em uma<br />
rosácea ricamente trabalhada, serviu de alimentação para<br />
o sistema de iluminação. Originalmente composto de cinco<br />
cúpulas para iluminação direta e difusa, foi especialmente<br />
produzido com sete cúpulas, distribuídas simetricamente<br />
sobre a mesa de reuniões. A iluminação foi complementada<br />
por luminárias de facho aberto embutidas no forro.<br />
Na sala da presidência, a rosácea de estuque recebeu<br />
um tratamento diferenciado. Em vez de servir de ponto de<br />
alimentação, foi iluminada de baixo para cima. O mesmo sistema<br />
circular de iluminação direta e indireta do hall principal foi<br />
instalado aqui, criando no teto um efeito dramático de luz e<br />
sombra. Como complemento, para equilibrar a modelagem do<br />
ambiente, as estantes receberam iluminação difusa embutida<br />
na marcenaria.<br />
58 59
Na sala da presidência, a rosácea de estuque foi iluminada de baixo para cima, criando no teto um dramático efeito de luz e<br />
sombra por luminária pendente circular – para iluminação indireta (17,5 W/m, 3.000 K – e para iluminação direta (3,8 W, 45°,<br />
3.000 K). Nichos selecionados da estante foram iluminados com perfis lineares de LED com difusor (9,6 W/m, 3.000 K).<br />
Vista da fachada principal do Palacete em estilo art<br />
noveau. Abaixo, detalhes da composição luminosa<br />
dos elementos decorativos e arquitetônicos.<br />
FACHADAS<br />
Com a mudança de conceito e a abertura para maiores<br />
intervenções, incluindo a possibilidade de criar novos pontos<br />
de alimentação elétrica, descortinou-se uma nova linguagem<br />
para valorização e ênfase dos elementos ornamentais.<br />
Na fachada principal, voltada para a rua Dona Mariana, o<br />
corpo principal do edifício recebeu maior destaque em relação<br />
ao volume recuado, à direita, que foi iluminado uniformemente<br />
com luminárias de facho aberto e assimétrico, fixadas no piso.<br />
Ao nível do térreo, luminárias de facho médio concentrado<br />
foram embutidas no piso, próximo à edificação. Assim, as<br />
texturas foram realçadas, definindo-se claramente o elemento<br />
horizontal em relevo que coroa o térreo. A profundidade e<br />
a volumetria foram reforçadas pela iluminação direta das<br />
esculturas localizadas em nichos, pela iluminação difusa do<br />
pendente do pórtico de entrada e pela iluminação interna do<br />
edifício que vaza através das portas e das janelas.<br />
No pavimento superior, luminárias fixadas no piso dos<br />
terraços também iluminam as paredes de forma rasante,<br />
enfatizando os frontões e os ornamentos que encimam os vãos<br />
das portas e das janelas. Tais luminárias estão sobrepostas ao<br />
piso – a troca do revestimento permitiu a criação dos pontos<br />
de alimentação elétrica, mas não havia altura suficiente para<br />
embutir as luminárias. Essa solução junto à fachada libera o<br />
uso dos terraços. As esculturas localizadas em nichos têm uma<br />
luminária difusa que simulam tochas.<br />
No coroamento, as cimalhas foram iluminadas homogeneamente,<br />
com perfis lineares de LED. Projetores destacam<br />
as mansardas, e os telhados de ardósia foram iluminados em<br />
pontos estratégicos, de maneira que sua volumetria seja realçada.<br />
CONCLUSÃO<br />
O projeto de iluminação apresenta claramente propostas<br />
que se alinham com o estilo art nouveau do edifício, valorizando<br />
e destacando elementos ornamentais da fachada e das<br />
áreas internas. A decisão corajosa de introduzir sistemas<br />
contemporâneos de iluminação – claramente destacados na<br />
arquitetura – está de acordo com o programa da Casa Firjan,<br />
que propõe discussões e reflexões sobre o momento atual<br />
do mercado de trabalho. Assim, o equilíbrio entre passado e<br />
presente, história e futuro também se apresenta na arquitetura<br />
e no lighting design, respeitoso e ousado, que não passa<br />
despercebido e se impõe em harmonia com a expressiva<br />
arquitetura do início do século XX.<br />
CASA FIRJAN<br />
Rio de Janeiro, Brasil<br />
Projeto de iluminação:<br />
Studio iluz<br />
Ines Benevolo (arquiteta titular)<br />
Rebeca Albuquerque (arquiteta colaboradora)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Atelier 77<br />
Projeto de restauro:<br />
Velatura<br />
Projeto de paisagismo:<br />
Daniela Infante<br />
Fornecedores:<br />
Flos, Illuminare, Iluminar, Jader Almeida,<br />
Lightsource e Luxion<br />
60 61
À esquerda, a entrada principal do Mercado, cujos degraus foram iluminados por perfis LED 4,4 W, 2.700 K integrados. Para<br />
destaque da logo, foram utilizadas luminárias embutidas no piso com LED 18 W 3.000 K 30°. Nesta página, acima, a escultura<br />
de panelas instalada na área de pé-direito duplo foi iluminada por projetores orientáveis com LED 27 W 2.700K e fachos de 10°<br />
e de 40°, instalados em diferentes alturas. A iluminação geral do pavimento inferior é feita por lâmpadas de filamento LED 4 W,<br />
2.700 K, posicionadas no interior de algumas das fôrmas da laje nervurada. Abaixo, o pavimento superior do mercado, cujo efeito<br />
de “céu estrelado” foi obtido com o uso de minilâmpadas de filamento LED 2 W, 2.400 K, suspensas sob as vigas.<br />
ÁGUA NA BOCA E BRILHO NOS OLHOS<br />
Texto: Débora Torii | Fotos: Jomar Bragança<br />
O<br />
estado de Minas Gerais é bastante conhecido e procurado, dos tradicionais mercados de comida europeus, contando com<br />
entre outros atrativos, por sua rica e marcante gastronomia. a presença de renomados chefs e restaurantes que oferecem<br />
Com o intuito de estimular o prazer de comer bem suas criações a preços acessíveis, propondo a democratização<br />
e de valorizar os produtos locais, nasceu o Mercado da Boca, do acesso à alta gastronomia. O amplo ambiente de 4 mil metros<br />
inaugurado no mês de março deste ano em Belo Horizonte. O quadrados oferece ainda lojas com produtos exclusivos e espaços<br />
estabelecimento propõe uma adaptação moderna ao conceito para cursos, eventos e atividades voltadas ao público infantil.<br />
Originalmente construído para outro fim, o edifício que abriga o<br />
mercado foi remodelado pelo escritório Gustavo Penna Arquiteto &<br />
Associados, cujo projeto conferiu ao espaço um caráter fortemente<br />
industrial, por meio das cores e dos materiais utilizados – o que<br />
contribui com a ambientação despojada esperada para o Mercado.<br />
Coube à lighting designer Sônia M. S. Mendes, titular do escritório<br />
Arquitetura e Luz, a concepção e o desenvolvimento do projeto<br />
de iluminação, por meio do qual buscou enfatizar os elementoschave<br />
da arquitetura, em um processo marcado pela intensa<br />
colaboração entre as duas disciplinas.<br />
O espaço interno conta com dois pavimentos, cujo funcionamento<br />
é bastante similar: os quiosques destinados à venda de comida<br />
estão localizados no perímetro do salão, configurando uma<br />
ampla praça de alimentação no centro, onde se situam também<br />
os quiosques que oferecem as bebidas. Em razão do desnível<br />
do terreno, o acesso principal se dá pelo pavimento superior,<br />
onde, antes mesmo de entrar, já saltam aos olhos o brilho<br />
das centenas de lâmpadas nuas no teto, remetendo a um céu<br />
estrelado. O projeto de iluminação obteve esse efeito por meio<br />
da instalação de um conjunto de cabos elétricos longitudinais<br />
fixados abaixo das vigas, dos quais foram suspensos pendurais<br />
com soquetes que alimentam as minilâmpadas de filamento LED,<br />
com temperatura de cor 2.400 K. Os acabamentos na cor preta,<br />
tanto da estrutura do edifício quanto da infraestrutura elétrica,<br />
potencializam ainda mais o brilho pontual das lâmpadas. Sônia<br />
conta que a quantificação e o posicionamento final dessas luzes<br />
62 63
À esquerda, a escada externa que une os dois pavimentos foi iluminada com miniprojetores LED 3 W, 2.700 K, 24°, instalados nas<br />
extremidades dos degraus, de forma alternada. No centro, a área semicoberta do pavimento inferior, foi iluminada por lâmpadas<br />
LED 3 W, 2.700 K, integradas aos caixotes de madeira que recobrem os pilares. Já a mesa linear no setor descoberto conta com a<br />
iluminação indireta dos projetores LED 10 W, 3.000 K, 110°, integrados aos ombrelones.<br />
A transparência da fachada do edifício permite visualizar, desde o exterior, o brilho das lâmpadas suspensas que iluminam todo<br />
o salão superior. Abaixo, um dos banheiros do estabelecimento, cujo teto foi revestido de penicos metálicos, nos quais foram<br />
integradas minilâmpadas LED 2 W, 2.700 K.<br />
e a determinação de sua temperatura de cor se deram com<br />
base em cálculos e testes em obra, realizados para garantir a<br />
obtenção da solução mais aconchegante possível e certificando<br />
que o nível de iluminância não fosse excessivo no local, apesar<br />
da grande quantidade de lâmpadas.<br />
No piso inferior, foram mantidas as premissas de simplicidade<br />
da solução de iluminação, dessa vez adaptada à estrutura em laje<br />
nervurada, deixada à vista pelo projeto de arquitetura. A lighting<br />
designer criou uma malha ortogonal de lâmpadas instaladas no<br />
interior de algumas fôrmas da laje, valorizando seu aspecto formal<br />
e evitando que desaparecesse em meio ao acabamento escuro.<br />
Nesse caso, a quantidade menor e a posição recuada das luzes<br />
determinaram a escolha de lâmpadas de filamento LED de maior<br />
fluxo e com temperatura de cor 2.700 K. Essa mesma linguagem<br />
foi utilizada – de forma metafórica – nos banheiros, onde o projeto<br />
de interiores criou um divertido teto conformado por penicos<br />
metálicos, em alguns dos quais foram instaladas minilâmpadas<br />
LED 2.700 K. Complementando a brincadeira, os espelhos foram<br />
fixados dentro de bacias metálicas, em cujo interior foram integrados<br />
perfis lineares de LED para iluminação indireta.<br />
Esse pavimento conta ainda com um terraço semicoberto,<br />
onde foram dispostas algumas mesas e bancos coloridos. Esse<br />
espaço é iluminado unicamente pelas lâmpadas integradas<br />
aos caixotes de madeira que revestem os pilares, criando um<br />
divertido jogo de sombras, texturas e cores. Na área descoberta,<br />
a grande mesa longitudinal de madeira recebe a proteção de<br />
ombrelones, nos quais foram instalados pequenos projetores,<br />
para iluminação suave e indireta.<br />
Em ambos os pisos, a lighting designer propôs ainda a instalação<br />
de projetores orientáveis que iluminassem funcionalmente os<br />
balcões dos quiosques centrais. Sua fixação junto à estrutura e<br />
seu acabamento na cor preta os fazem desaparecer no espaço,<br />
mantendo o protagonismo da iluminação das lâmpadas nuas de<br />
aspecto vintage. Já os quiosques perimetrais contam com uma<br />
testeira metálica contínua – onde são exibidos os nomes dos<br />
estabelecimentos –, na qual a lighting designer integrou uma<br />
solução de iluminação linear, que reforça o nível de iluminância<br />
sobre os balcões, além de enfatizar o caráter longitudinal e a<br />
continuidade desse elemento arquitetônico no espaço.<br />
Sônia conta que a colaboração entre as disciplinas de arquitetura,<br />
de engenharia e de luminotécnica foi o ponto-chave para<br />
a obtenção de um resultado final que agradasse a todos. “A luz<br />
inserida nos elementos arquitetônicos, como se fosse uma só<br />
unidade. Esse é o ponto que considero forte neste projeto.”<br />
MERCADO DA BOCA<br />
Belo Horizonte<br />
Projeto de iluminação:<br />
Arquitetura e Luz<br />
Sônia M. S. Mendes (lighting designer titular)<br />
Camila Ferreira e Lais Rocha (colaboradoras)<br />
Projeto de arquitetura e interiores:<br />
Gustavo Penna Arquiteto & Associados<br />
Gustavo Penna, Laura Penna e Norberto<br />
Bambozzi<br />
AR.Lo Arquitetos<br />
Priscila Dias de Araujo e Ricardo Lopes<br />
BLOC Arquitetura<br />
Alexandre Nagazawa<br />
Projeto de paisagismo:<br />
Casa Verde Paisagismo<br />
Wagner Correa (paisagista titular)<br />
Construtora:<br />
EPO Engenharia<br />
Fornecedores:<br />
Fornecedores: Itaim e Templuz (Brilia,<br />
Philips e Stella)<br />
64 65
Um sistema linear, em tonalidade quente, escondido na<br />
arquitetura ilumina o forro de madeira que coroa o conjunto.<br />
Perfis lineares de LED, cuidadosamente integrados às<br />
molduras dos muxarabis, criam um espesso bloqueio luminoso<br />
à noite, ao mesmo tempo que definem de modo singular a<br />
arquitetura da casa.<br />
LUXO, CALMA<br />
E VOLÚPIA<br />
Texto: Gilberto Franco | Fotos: Adam Letch<br />
A ARQUITETURA<br />
Situada em uma pequena reentrância do extenso porto natural<br />
de Sydney, Austrália, esta luxuosa e bem-acabada residência de uma<br />
jovem família é um exemplo de convívio e interação arquitetônica<br />
com a natureza, alternando formas orgânicas e retilíneas e extensos<br />
planos de madeira com empenas de concreto aparente e vidro.<br />
Por ter suas fachadas à vista da rua, engenhosas telas translúcidas<br />
de policarbonato trançado na cor cinza (chamados de kaynemaile)<br />
funcionam como muxarabis, permitindo a visão de dentro para fora<br />
e obstruindo sua recíproca. Formas orgânicas, como o fechamento<br />
de ripas da escada, contrastam com a extensa cobertura de madeira<br />
que se debruça e emoldura a exuberante paisagem externa.<br />
No pavimento térreo, poucas são as divisões entre ambientes –<br />
as separações se dão em geral por desníveis ou escadas, permitindo<br />
ampla visualização do exterior, em particular a vista da baía. A<br />
casa é estruturada em “U”, com a entrada ao meio e um grande<br />
átrio central dividindo o lado da baía, onde se encontra a piscina<br />
mais as áreas de fruição externa, e o lado oposto, mais formal.<br />
O jardim, ligeiramente mais elevado, garante a privacidade da<br />
casa, além de dissolver a percepção de limite entre a propriedade<br />
e a área da baía, o que é reforçado pela orientação da piscina no<br />
sentido longitudinal, unindo visualmente ambas as áreas.<br />
O escritório de arquitetura SAOTA, sediado na África do<br />
Sul, utilizou-se também de materiais que se integrassem ao<br />
cenário de beira-mar: vidro, madeira, paredes brancas e pisos de<br />
travertino, mas sem perder sua assinatura, expressa em superfícies<br />
de concreto aparente e muxarabis translúcidos. Obras de arte<br />
permeiam todo o espaço.<br />
66 67
À esquerda, apenas a luz da vegetação e da água indicam o caminho da rampa que conduz o visitante. Os muxarabis deixam<br />
entrever detalhes da iluminação interna. À direita, um único ponto de luz junto à porta marca a chegada; de fora se vislumbram os<br />
sarrafos da escada, iluminados por fachos concentrados e, por detrás dos muxarabis, os pendentes brilhante do hall interno.<br />
Acima, dois poderosos pendentes definem a mesa de refeições do terraço, tudo coroado pela cobertura iluminada em tom quente.<br />
Abaixo, luminárias em régua foram customizadas para proporcionar iluminação em LED em branco variável, reproduzindo nos LEDs<br />
dimerização idêntica à de lâmpadas halógenas.<br />
OS MUXARABIS E AS VISTAS EXTERNAS<br />
A iluminação dos anteparos cinza em kaynemaile é um dos<br />
elementos fortes da composição de luz desta casa, formada por<br />
perfis lineares de LED com lentes cuidadosamente integradas ao<br />
desenho das molduras, criando um espesso bloqueio luminoso à<br />
noite, ao mesmo tempo que define a casa de modo singular. Esse<br />
efeito é complementado por um sistema de iluminação linear e<br />
quente para o forro de madeira, escondido na arquitetura, criando um<br />
coroamento de luz para as vistas externas. A vegetação propriamente<br />
dita, assim emoldurada, recebe uma fraca iluminação de baixo para<br />
cima, vinda do piso. Por serem telas externas de malha de plástico,<br />
parte proeminente da edificação, sua iluminação foi cuidadosamente<br />
testada (espaçamento, ângulos de facho, detalhes de integração,<br />
densidade das retículas), de modo a garantir o melhor resultado.<br />
INGRESSANDO NA RESIDÊNCIA<br />
Uma suave rampa sobre um espelho-d’água conduz o visitante,<br />
já protegido pela generosa cobertura de madeira, à porta de<br />
entrada. Um único ponto de luz junto à porta ilumina essa chegada;<br />
o restante do caminho é marcado apenas pela iluminação da<br />
vegetação, à esquerda, e da água, à direita. De fora já se vislumbra<br />
o volume curvilíneo da escada que leva à área íntima, já erguido<br />
a meio-plano, e ladeado por sarrafos de madeira iluminados<br />
sutilmente um a um por fachos de luz concentrados, tanto para<br />
cima como para baixo. No hall de entrada, de pé-direito duplo,<br />
um conjunto de pendentes brilhantes define a luz do espaço.<br />
ÁREAS DE ESTAR<br />
Uma parede em “L” do lado esquerdo da entrada, revestida<br />
por lâminas verticais de madeira, conduz o caminho para as áreas<br />
abertas de estar e de jantar. Iluminação linear lava as superfícies<br />
dessas lâminas, dando tridimensionalidade e definindo o perímetro<br />
dessa transição. A luz refletida que emana dessa marcenaria<br />
enfatiza o efeito de sobreposição dos planos do teto. Alguns itens<br />
de mobiliário e planos de trabalho recebem discreta iluminação<br />
downlight escondida entre as lâminas do forro de madeira,<br />
sempre complementada por luminárias de piso e decorativas,<br />
que adicionam um toque de sofisticação. A iluminação embutida<br />
na marcenaria acentua a tridimensionalidade do espaço e cria<br />
um ambiente mais suave em cenas de relaxamento. Obras de<br />
arte espalhadas por toda a residência, itens muito queridos<br />
aos proprietários, receberam iluminação dedicada a cada uma.<br />
A TECNOLOGIA INVISÍVEL<br />
Para obter o perfeito equilíbrio entre diferentes fontes de<br />
luz, sendo a maioria de LED, e sem abrir mão dos produtos<br />
que desejavam, o escritório Point of View, responsável pelo<br />
projeto de iluminação, desenvolveu com um fabricante uma<br />
régua de cinco pontos de LED, de modo customizado às suas<br />
necessidades. Em vez de cinco pontos em 3.000 K passou<br />
a ter três pontos em 2.300 K e dois em 4.000 K. Para dar<br />
consistência a esse aparato, as peças foram ligadas a um<br />
sistema de dimerização que reproduz exatamente a curva<br />
de temperatura de cor da lâmpada halógena: quanto mais<br />
dimerizado, mais quente, e vice-versa. O sistema de controle<br />
utilizado acomoda os vários protocolos de dimerização,<br />
sendo a interface do usuário disposta em painéis de teclas<br />
com as cenas prefixadas. À noite, sensores de movimento<br />
nas suítes ativam iluminação em nível baixíssimo, apenas<br />
para permitir orientação segura. Todo o sistema de controle<br />
é conectado a tablets.<br />
LUXO, CALMA, VOLÚPIA<br />
Vê-se na arquitetura uma busca incessante pelo equilíbrio<br />
entre planos, volumes e texturas, de modo a deixar as<br />
vistas livres para a natureza. Isso também se nota na<br />
iluminação; uma constante e precisa composição dos<br />
elementos luminosos, sem clarões ou contrastes excessivos.<br />
Quase não se percebe a presença de pontos visíveis, exceto<br />
quando há imponentes luminárias decorativas. Luxo? Sem<br />
dúvida. Mas também a tranquilidade necessária ao usufruto<br />
da exuberante paisagem.<br />
DOUBLE BAY RESIDENCE<br />
Sydney, Austrália<br />
Projeto de iluminação:<br />
Point of View, Austrália<br />
Mark Elliot (lighting designer titular)<br />
Duncan Johns, Simon Lefort, Ana Spina (colaboradores)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
SAOTA, África do Sul<br />
Erin Gibbs (arquiteto coordenador)<br />
Projeto executivo:<br />
TKD, Austrália<br />
Projeto de interiores:<br />
ARRCC, África do Sul<br />
Sarika Jacobs (arquiteta responsável)<br />
Projeto de paisagismo:<br />
Wyer & Co.<br />
Fornecedores:<br />
Dynalite, iGuzzini, LiteSource and Control, Megabay, Precision<br />
Lighting e Simes<br />
68 69
Nas áreas comuns, como a sala de estar com vista para a varanda e a sala de jantar, a percepção da passagem do tempo é<br />
fortalecida com a ajuda da luz. Luminárias pendentes com tecnologia branco dinâmico (3.000 K a 6.000 K), distribuem a luz<br />
para o forro e para o mobiliário. É possível ajustar situações parecidas com a luz do dia, mais fria, bem como com temperaturas de<br />
cor mais aconchegantes. A luz direta foi programada em 3.000 K e a indireta, em 4.500 K. Para outras unidades da Humana, as<br />
temperaturas de cor estão sendo ajustadas de 2.200 K a 6.000 K, após pedidos dos residentes e dos cuidadores.<br />
Nos apartamentos, a cama possui um painel com iluminação integrada especialmente projetado pelos designers. Inclui luz indireta<br />
atrás do painel de madeira e luz direta para baixo sob a prateleira. Na parte inferior do painel, há sensores de movimento que<br />
detectam quando o residente sai da cama durante a noite, acendendo a luz geral de acordo com o cenário noturno. No banheiro,<br />
outro sensor acionado pela abertura da porta ilumina ligeiramente o espaço. Ao voltar para a cama, a luz é dimerizada lentamente<br />
até desligar. Essa solução também segue a curva de variação espectral da luz do dia: mais fria pela manhã e mais quente no final da<br />
tarde e à noite.<br />
CONCEITOS E SOLUÇÕES EM<br />
AMADURECIMENTO: TODOS TÊM<br />
DIREITO A UMA VIDA DE QUALIDADE<br />
O<br />
rápido envelhecimento da população mundial não é mais<br />
um fato desconhecido. Conceitos como “aging in place”<br />
(envelhecimento no lar) estão sendo pesquisados em diversos<br />
países, buscando soluções contemporâneas ao desenvolvimento<br />
tecnológico e científico para o suporte desse processo natural.<br />
Contudo, permanecer em casa nem sempre é possível, uma vez que<br />
Texto: Mariana Novaes | Fotos: Max Plunger<br />
a senilidade pode trazer dificuldades motoras (osteoporose, artrose,<br />
redução do equilíbrio), visuais (catarata, degeneração macular,<br />
glaucoma, retinopatia diabética) e/ou neurológicas (Alzheimer,<br />
Parkinson), apenas para mencionar algumas.<br />
Dentre as maiores consequências visuais do envelhecimento<br />
estão o aumento da sensibilidade à luz, à escuridão e ao ofuscamento<br />
e da necessidade de maior contraste e o comprometimento dos<br />
ciclos circadianos. Os sistemas visual e circadiano respondem<br />
diferentemente à estimulação luminosa, o que exige maior<br />
profundidade no desenvolvimento de soluções. Novos lares para<br />
idosos, dedicados ao atendimento de suas dificuldades, seguem em<br />
constante evolução para atender aos diversos aspectos da saúde,<br />
o que confere complexidade ao uso do espaço por seus residentes.<br />
Como reunir o cuidado de tantas necessidades diferentes em um<br />
mesmo espaço e também atender aos requisitos necessários à<br />
realização do trabalho da equipe de cuidadores e enfermeiros?<br />
Esses foram alguns dos desafios encontrados pela equipe do<br />
escritório sueco Ljusrum ao desenvolver o projeto de iluminação<br />
e de interiores do lar de idosos Humana, inaugurado em março<br />
de 2016 em Gävle, cidade ao norte de Estocolmo.<br />
Tendo como lema “todos têm direito a uma vida de qualidade",<br />
a Humana é uma empresa escandinava que oferece ampla gama<br />
de serviços de cuidados e de enfermagem. O objetivo da Humana<br />
com o projeto foi se distanciar dos conceitos e das impressões<br />
institucionais comuns a esse tipo de residência, quase hospitalares.<br />
Com projeto de arquitetura do escritório White Arkitekter,<br />
a equipe do Ljusrum trabalhou integralmente as disciplinas de<br />
design de interiores e de iluminação, as quais serviram de base<br />
para o desenvolvimento das demais disciplinas complementares.<br />
Cores, tipos de material e diferentes soluções de iluminação foram<br />
trabalhados em conjunto, de forma a privilegiar as experiências<br />
visuais e táteis dos residentes e da equipe. Uma extensa pesquisa<br />
bibliográfica e visitas a lares de idosos existentes foram feitas de<br />
forma a embasar o escritório em suas propostas.<br />
O lar de Gävle possui 81 apartamentos, distribuídos em cinco<br />
andares e nove departamentos, sendo estes divididos em circulações<br />
ou esplanadas, áreas de convivência (salas de jantar e estar, cozinha),<br />
apartamentos privativos e áreas técnicas para os funcionários.<br />
Todos os andares têm acesso a varandas envidraçadas. O último<br />
andar possui um pátio externo e um terraço com uma sauna.<br />
70 <strong>71</strong>
A iluminação dos corredores foi projetada<br />
para comunicar a rotina dos residentes,<br />
estimulando-as: na hora das refeições, por<br />
exemplo, as luminárias perto da sala de<br />
jantar aparecem com mais intensidade e,<br />
nas pontas dos corredores, em direção aos<br />
quartos, com menos. À noite, a intensidade<br />
das luminárias do teto é reduzida,<br />
acendendo pequenas arandelas próximas às<br />
portas dos apartamentos.<br />
É possível individualizar a luz dinâmica.<br />
Quando um novo morador chega, uma<br />
enfermeira define os valores apropriados<br />
para a iluminação depois de uma entrevista<br />
com o idoso e seus familiares. O software<br />
pode ser controlado por meio de um<br />
aplicativo. Sua facilidade de uso é verificada<br />
durante a operação, a fim de incorporar<br />
possíveis otimizações em projetos futuros.<br />
A iluminação direta é dimerizada em<br />
três níveis, usando botões com símbolos<br />
projetados para a Humana, à escolha e<br />
controle do próprio residente: sol (mais luz),<br />
pôr do sol (nível médio) ou lua (menos luz).<br />
As soluções de iluminação basearam-se nas diferentes<br />
necessidades dos residentes, na busca de uma atmosfera residencial,<br />
de conforto e de bem-estar e também de funcionalidade para<br />
residentes e funcionários. Também foi considerado estimular os<br />
ritmos circadianos, apoiar a compreensão e a orientação espacial<br />
e criar diferentes variações para a interpretação e a impressão<br />
dos espaços, de luminoso e arejado a acolhedor e atmosférico.<br />
Diante da diversidade de demandas a serem atendidas, a equipe<br />
de designers entendeu que o melhor caminho a ser seguido era o uso<br />
combinado de soluções de iluminação com controles de automação.<br />
Uma iluminação flexível permitiu a combinação de diferentes<br />
fontes de luz com distintas características de emissão, espectros<br />
e temperaturas de cor. Os controles permitiram possibilidades de<br />
dimerização e de variação de temperatura de cor, de diferentes<br />
cenas de luz, de níveis de iluminância variados para suportar o<br />
ritmo circadiano e de ajustes individuais da luz, para cada pessoa,<br />
na medida do possível. Para isso, os funcionários entrevistam os<br />
parentes dos novos moradores, de forma a obter um histórico<br />
das condições, das necessidades e das preferências individuais.<br />
Um conceito interessante foi trabalhado nos corredores, onde<br />
as luminárias são mais densamente posicionadas. A iluminação<br />
é dinâmica e facilmente alterada, comunicando a passagem do<br />
tempo ao longo do dia e estimulando uma melhor percepção<br />
das atividades cotidianas. Nesse caso, o nível de iluminância é<br />
elevado quando se deseja atrair os moradores para a socialização.<br />
Durante a noite, a iluminação é dimerizada, de forma a orientar<br />
os moradores que é hora de dormir. Esse reforço da compreensão<br />
do ritmo do dia foi confirmado pela equipe de cuidadores, que<br />
constatou que os moradores reagem intuitivamente à maneira<br />
como a iluminação foi planejada. Por exemplo, quando a luz é<br />
atenuada durante a noite, nas áreas comuns, eles preferem se<br />
retirar, ir para a cama, ajudando o trabalho da equipe.<br />
Entretanto, residentes de casas de repouso, em geral, tendem<br />
a passar a maior parte do tempo em seus interiores. Portanto,<br />
especialmente para os residentes da Humana, uma solução de<br />
iluminação que captasse a dinâmica da luz natural poderia ser<br />
interessante. Com esse propósito, pendentes foram instalados nas<br />
áreas comunitárias, e programados para emissão de luz indireta<br />
branca fria, refletindo no espaço a temperatura de cor durante o<br />
dia. Como resultado, a luz ativadora mais fria, com alta porção<br />
de azul no seu espectro luminoso, contribui para a inibição da<br />
produção de melatonina, hormônio do sono nesse período. À<br />
noite, os pendentes emitem uma luz de aparência mais quente,<br />
aconchegante, contribuindo para o equilíbrio do ciclo circadiano.<br />
"Todas as soluções de iluminação, dinâmicas ou não, estão<br />
sendo monitoradas pela equipe médica e de pesquisadores<br />
junto à instituição, de forma a comprovar seus efeitos nos<br />
residentes. O resultado ainda não é suficiente para planejar uma<br />
iluminação efetivamente circadiana. O sistema de automação<br />
permite infinitas configurações de cenários, como, por exemplo,<br />
cenas diferentes para as quatro estações do ano, por meio de<br />
um aplicativo, assim como que seja instalado um sensor no<br />
teto para que a luz mude de acordo com o dia ensolarado ou<br />
nublado”, explica Jonas Lindahl, titular da Ljusrum Lighting.<br />
“No entanto, mais estudos sobre o bem-estar e a luz do dia<br />
são necessários para ir mais longe. Talvez, tantas mudanças<br />
não signifiquem um ambiente melhor. Graças aos controles<br />
modernos, podemos ajustar as cenas de luz a novos insights<br />
e otimizá-los sempre”, continua.<br />
Vencedora do Svenska Ljuspriset 2017, prêmio de iluminação<br />
sueco, a Ljusrum segue desenvolvendo projetos para outras<br />
unidades da Humana, como, em Växjö e Åkersberga, tendo a<br />
de Gävle como projeto piloto e referência para melhorias dos<br />
demais. O projeto da Humana mostra que a importância do<br />
design de iluminação artificial em combinação com a luz natural<br />
vai muito além de fazer o idoso enxergar melhor.<br />
HUMANA OMSORG<br />
Gävle, Suécia<br />
Projeto de iluminação e de interiores:<br />
Ljusrum<br />
Jonas Lindahl, Anton Martiin, Eva Bratell, Carolin<br />
Fisher e Hanne Secher (lighting designers)<br />
Emma Kruuse e Eva Bratell (designers de interiores)<br />
Projeto de arquitetura:<br />
White Arkitekter<br />
Lotta Lindh e Mats Johansson<br />
Programação:<br />
Wennerström Ljuskontroll<br />
Henrik Sewring<br />
Fornecedores:<br />
Elektroskandia, Fagerhult, Inventron, Luce & Light,<br />
Lumino, Maxel, Prolicht, Welight e Zero<br />
72 73
FOTO LUZ FOTO<br />
MAJA PETRIĆ<br />
Esta imagem é um registro da instalação de arte<br />
imersiva We are all made of light. Por meio da utilização de<br />
luz interativa, a instalação busca criar um instante no qual<br />
tempo e espaço perdem suas configurações, permitindo que<br />
o visitante vivencie apenas a riqueza visceral da luz e do som,<br />
que emulam o vasto e interconectado Universo.<br />
Nesta imagem, o visitante está imerso em um ambiente<br />
escuro, iluminado apenas pela luz da projeção que<br />
representa um “buraco de minhoca”. O registro capturou<br />
o envolvimento do visitante com a natureza atemporal da<br />
obra. Não foi usado qualquer recurso de pós-produção na<br />
obtenção da imagem final.<br />
Maja Petrić é artista e utiliza luz e tecnologia de ponta para a criação de experiências espaciais inovadoras que evocam a sublimidade da natureza.<br />
Maja já foi agraciada com diversos prêmios, dentre os quais o Microsoft Research Residency Award, o Richard Kelly Light Art Award, dois Thunen<br />
Lighting Awards, além de receber o Doctoral Fellowship da Croatian Science Foundation. Seu trabalho também recebeu indicações aos prêmios<br />
Arts Innovator Award, FastCo. Innovation by Design Awards e International Light Art Award pelo Centre for International Light Art Unna.<br />
74 75
76