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Deram-se os braços e atravessaram o aposento escuro com a cautela de um gato idoso.<br />
Ao chegar ao topo da escada, Amelia inspirou fundo, mas não conseguiu detectar nada<br />
além dos aromas familiares de sabão, cera, poeira e óleo de lamparina.<br />
– Não sinto o cheiro de fumaça.<br />
– Seu nariz ainda não acordou. Tente de novo.<br />
Dessa vez havia mesmo um leve odor de algo queimando. Sentiu-se alarmada. Pensou em<br />
Leo, sozinho com a lanterna, a chama e o óleo... imediatamente soube o que havia<br />
acontecido.<br />
– Merripen! – Sua voz soou como uma chibatada e fez Poppy dar um salto. Amelia agarrou<br />
o braço da irmã para ajudá-la a recuperar o equilíbrio. – Chame Merripen. Acorde todo<br />
mundo. Faça todo o barulho que puder.<br />
Poppy obedeceu de pronto, correndo para os quartos das irmãs, enquanto Amelia descia a<br />
escada. Um brilho turvo veio da direção da sala de visitas, um cintilar ameaçador de luz<br />
vazando por debaixo da porta.<br />
– Leo!<br />
Ela abriu a porta e recuou ao sentir uma lufada de ar escaldante envolver seu corpo. Uma<br />
parede ardia em chamas, que crepitavam e subiam, como tentáculos escaldantes. Em meio à<br />
névoa da fumaça, a forma volumosa do irmão estava visível, no chão. Ela correu para ele,<br />
agarrou as dobras de sua camisa e puxou com tanta força que o tecido começou a se esgarçar<br />
e as costuras a ceder.<br />
– Leo, levante, levante agora! – gritou.<br />
Mas ele estava desacordado.<br />
Aos berros, Amelia insistiu em que ele acordasse e voltasse a si, puxando e arrastando, sem<br />
sucesso. Lágrimas de frustração brotaram de seus olhos sensíveis por causa da fumaça. Mas<br />
Merripen apareceu, afastando-a sem muita gentileza. Curvando-se, ele levantou Leo e<br />
jogou-o sobre seu ombro largo com um grunhido.<br />
– Venha – disse ele para Amelia, ríspido. – As meninas já estão lá fora.<br />
– Sairei em um instante. Preciso pegar algumas coisas lá em cima.<br />
Ele lhe lançou um olhar sinistro.<br />
– Não.<br />
– Mas não temos roupas... vou subir e...<br />
– Saia agora!<br />
Como em todos aqueles anos Merripen jamais elevara a voz ao se dirigir a ela, Amelia ficou<br />
atônita e obedeceu. Os olhos continuavam a arder e a lacrimejar, mesmo depois de terem<br />
atravessado a porta da frente e saído para a escuridão que os aguardava no acesso de pedras<br />
que levava à casa. Win e Poppy estavam ali, debruçadas sobre Leo, tentando fazer com que<br />
ele despertasse e se sentasse. Como Amelia, as meninas usavam apenas camisolas, xales e<br />
chinelos.<br />
– Onde está Beatrix? – perguntou Amelia.