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começou a puxar as cortinas, tentando abri-las.<br />
– Obrigada, Sr. Rohan, mas, como pode ver, está tudo sob controle.<br />
– Acho que vou ficar. Depois de impedi-la de cair por uma janela, detestaria vê-la<br />
despencar pela outra.<br />
– Isso não vai acontecer. Ficarei bem. Está tudo sob...<br />
Ela puxou com mais força e a vara despencou do mesmo modo que a anterior. Mas,<br />
diferentemente da outra cortina, que era forrada com veludo envelhecido, essa era revestida<br />
com um tecido cintilante e farfalhante, uma espécie de...<br />
Amelia ficou paralisada de terror. A parte de baixo da cortina estava coberta de abelhas.<br />
Abelhas. Centenas. Não, milhares delas, com asas iridescentes que se agitavam num zumbido<br />
furioso e incessante. Erguiam-se em massa, saindo do veludo amassado, enquanto mais delas<br />
surgiam de uma rachadura na parede, onde fervilhava uma imensa col<strong>meia</strong>. Deviam ter<br />
entrado por algum buraco aberto na parede externa. Os insetos agitavam-se como chamas<br />
em torno de Amelia, que estava paralisada.<br />
Ela sentiu o sangue se esvair de seu rosto.<br />
– Ai, meu Deus...<br />
– Não se mexa. – A voz de Rohan estava surpreendentemente calma. – Não as espante.<br />
Ela nunca havia sentido tanto medo, brotando de sua pele, vazando por cada poro.<br />
Nenhuma parte de seu corpo parecia estar sob controle. O ar fervilhava com abelhas e mais<br />
abelhas.<br />
Não seria uma forma agradável de morrer. Fechando os olhos com força, Amelia obrigouse<br />
a ficar parada, quando todos os seus músculos se tensionavam e imploravam que ela se<br />
movesse. Os insetos se movimentavam descrevendo desenhos sinuosos em volta dela,<br />
minúsculos corpos tocando suas mangas, mãos, ombros.<br />
– Elas sentem mais medo de você do que você delas – disse Rohan.<br />
Amelia tinha muitas dúvidas quanto a isso.<br />
– Não parecem abelhas a... amedrontadas. – Sua voz estava presa. – São abelhas f... furiosas.<br />
– Parecem mesmo um pouco irritadas – concedeu Rohan, aproximando-se dela devagar. –<br />
Talvez seja por causa do seu vestido. Abelhas não gostam de cores escuras. – Uma breve<br />
pausa. – Ou pode ser porque você destruiu metade da col<strong>meia</strong> delas.<br />
– Como você con... consegue se divertir com essa situação... – Ela interrompeu a frase e<br />
cobriu o rosto com as mãos, toda trêmula.<br />
A voz reconfortante de Rohan se sobrepôs ao zumbido em volta deles.<br />
– Fique parada. Está tudo bem. Estou aqui com você.<br />
– Tire-me daqui – sussurou Amelia, desesperada.<br />
Seu coração batia com tanta força que fazia seus ossos tremerem, impedindo-a de pensar<br />
com coerência. Ela sentiu que ele afastava alguns insetos curiosos de seu cabelo e de suas<br />
costas. Seus braços a enlaçaram, seu ombro firme sob seu rosto.<br />
– Vou levá-la, querida. Ponha seus braços em volta do meu pescoço.