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Revista Apólice #238

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seguros | grandes riscos<br />

Fim ao canteiro de obras?<br />

Troca de governo anima mercado de seguros<br />

e resseguros que aguarda ansiosamente a<br />

retomada dos grandes projetos de infraestrutura<br />

represados com a crise no País. Apenas reativar<br />

o que ficou pelo caminho ajudaria o segmento<br />

voltar, ao menos, ao porte de quatro anos atrás,<br />

quando movimentava R$ 600 milhões em<br />

prêmios<br />

Manuela Almeida<br />

Depois de sentir os reflexos da<br />

crise no País com a queda dos<br />

investimentos em grandes<br />

obras e projetos de infraestrutura,<br />

o mercado de seguros de grandes<br />

riscos tem, em meio à troca de governo<br />

a partir de 2019, a esperança de uma<br />

nova alavanca para voltar à trajetória de<br />

crescimento no Brasil. As expectativas de<br />

seguradores e resseguradores estão calcadas,<br />

principalmente, no projeto da futura<br />

administração de concluir as construções<br />

que ficaram paradas por falta de recursos<br />

e problemas de corrupção. O novo governo<br />

tem prometido impulsionar, principalmente,<br />

o investimento privado com a<br />

renovação antecipada de contratos já em<br />

curso e ainda a relicitação de projetos<br />

problemáticos. Na mira, estão os setores<br />

de ferrovias, rodovias e aeroportos. Se<br />

cumprir as promessas ventiladas durante<br />

a campanha, o governo de Jair Bolsonaro,<br />

candidato eleito pelo PSL, pode reverter<br />

o desenho do setor de infraestrutura visto<br />

nos últimos anos e que transformou<br />

o Brasil em um verdadeiro canteiro de<br />

obras inacabado. De 2010 para cá, o investimento<br />

privado minguou. Passou de<br />

US$ 142 bilhões para US$ 49,3 bilhões<br />

no ano passado, conforme levantamento<br />

da Sociedade Brasileira de Estudos de<br />

Empresas Transnacionais e da Globalização<br />

Econômica (Sobeet) com base nos<br />

investimentos privados anunciados para<br />

30<br />

o setor de infraestrutura e compilados<br />

pelo Ministério da Indústria, Comércio<br />

Exterior e Serviços (MDIC).<br />

No mercado de seguros, não foi<br />

diferente. Um dos segmentos que melhor<br />

demonstra o impacto da queda dos<br />

investimentos em infraestrutura no País<br />

é a carteira de riscos de engenharia. Após<br />

atingir seu ápice em 2011, ao movimentar<br />

mais de R$ 900 milhões em prêmios no<br />

ano seguinte do maior crescimento do<br />

Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro,<br />

de 7,5%, o segmento caminhou ladeira<br />

abaixo. Manteve um patamar de R$<br />

600 milhões até 2014, mas desde então<br />

encolhe ano após ano. No acumulado de<br />

2018 até setembro, a carteira de riscos<br />

de engenharia soma R$ 243 milhões em<br />

prêmios diretos, cifra praticamente estável<br />

à vista em todo o exercício passado,<br />

segundo dados da Superintendência de<br />

Seguros Privados (Susep), sem correção<br />

inflacionária. “Se aplicarmos a inflação, a<br />

queda do mercado é ainda maior e exemplifica<br />

o quanto o mercado de grandes<br />

riscos foi penalizado com a recessão no<br />

País. Além de não termos obras novas,<br />

ainda tivemos o cancelamento de projetos<br />

em andamento”, lembra o presidente da<br />

resseguradora Allianz Global Corporate<br />

& Specialty (AGCS), Angelo Colombo.<br />

Em São Paulo, as obras do Metrô, que<br />

eram para terem sido entregues ainda no<br />

primeiro mandato da ex-presidente Dilma<br />

Rousseff, estão paradas em diversos pontos<br />

tanto na linha 6-Laranja, que ligará a<br />

já existente estação São Joaquim à Linha<br />

1-Azul, e a Linha 15-Prata, de monotrilho.<br />

Exemplos não faltam. Estudo recente da<br />

Confederação Nacional da Indústria (CNI)<br />

indica um total de 2.796 obras paralisadas<br />

no Brasil, sendo que 517, equivalente a<br />

18,5%, são do setor de infraestrutura. Somente<br />

reativar as obras paradas, conforme<br />

Colombo, da AGCS, ajudaria ao seguro de<br />

risco de engenharia voltar, ao menos, ao<br />

patamar dos R$ 600 milhões de prêmios,<br />

visto há quatro anos, antes da eclosão da<br />

Operação Lava Jato, maior esquema de<br />

corrupção da história do País.<br />

Após um 2018 praticamente parado<br />

para o setor de infraestrutura, o analista<br />

Lucas Marquiori, do banco Safra, prevê,<br />

em relatório ao mercado, um reaquecimento<br />

do segmento já no próximo ano,<br />

o primeiro do governo de Bolsonaro. Sua<br />

expectativa está ancorada na sinalização<br />

da futura administração de que vai aprimorar<br />

marcos regulatórios para estimular<br />

investimentos. Ainda que as previsões do<br />

especialista se concretizem, o impacto<br />

no mercado de seguros, no entanto, não<br />

será imediato. Seguradores e resseguradores<br />

lembram que há uma sequência de<br />

acontecimentos até que o setor comece a<br />

sentir ventos mais favoráveis sob o ponto<br />

de vista de aumento de negócios. Uma<br />

retomada é esperada a partir do do segun-

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