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seguros | grandes riscos<br />
Fim ao canteiro de obras?<br />
Troca de governo anima mercado de seguros<br />
e resseguros que aguarda ansiosamente a<br />
retomada dos grandes projetos de infraestrutura<br />
represados com a crise no País. Apenas reativar<br />
o que ficou pelo caminho ajudaria o segmento<br />
voltar, ao menos, ao porte de quatro anos atrás,<br />
quando movimentava R$ 600 milhões em<br />
prêmios<br />
Manuela Almeida<br />
Depois de sentir os reflexos da<br />
crise no País com a queda dos<br />
investimentos em grandes<br />
obras e projetos de infraestrutura,<br />
o mercado de seguros de grandes<br />
riscos tem, em meio à troca de governo<br />
a partir de 2019, a esperança de uma<br />
nova alavanca para voltar à trajetória de<br />
crescimento no Brasil. As expectativas de<br />
seguradores e resseguradores estão calcadas,<br />
principalmente, no projeto da futura<br />
administração de concluir as construções<br />
que ficaram paradas por falta de recursos<br />
e problemas de corrupção. O novo governo<br />
tem prometido impulsionar, principalmente,<br />
o investimento privado com a<br />
renovação antecipada de contratos já em<br />
curso e ainda a relicitação de projetos<br />
problemáticos. Na mira, estão os setores<br />
de ferrovias, rodovias e aeroportos. Se<br />
cumprir as promessas ventiladas durante<br />
a campanha, o governo de Jair Bolsonaro,<br />
candidato eleito pelo PSL, pode reverter<br />
o desenho do setor de infraestrutura visto<br />
nos últimos anos e que transformou<br />
o Brasil em um verdadeiro canteiro de<br />
obras inacabado. De 2010 para cá, o investimento<br />
privado minguou. Passou de<br />
US$ 142 bilhões para US$ 49,3 bilhões<br />
no ano passado, conforme levantamento<br />
da Sociedade Brasileira de Estudos de<br />
Empresas Transnacionais e da Globalização<br />
Econômica (Sobeet) com base nos<br />
investimentos privados anunciados para<br />
30<br />
o setor de infraestrutura e compilados<br />
pelo Ministério da Indústria, Comércio<br />
Exterior e Serviços (MDIC).<br />
No mercado de seguros, não foi<br />
diferente. Um dos segmentos que melhor<br />
demonstra o impacto da queda dos<br />
investimentos em infraestrutura no País<br />
é a carteira de riscos de engenharia. Após<br />
atingir seu ápice em 2011, ao movimentar<br />
mais de R$ 900 milhões em prêmios no<br />
ano seguinte do maior crescimento do<br />
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro,<br />
de 7,5%, o segmento caminhou ladeira<br />
abaixo. Manteve um patamar de R$<br />
600 milhões até 2014, mas desde então<br />
encolhe ano após ano. No acumulado de<br />
2018 até setembro, a carteira de riscos<br />
de engenharia soma R$ 243 milhões em<br />
prêmios diretos, cifra praticamente estável<br />
à vista em todo o exercício passado,<br />
segundo dados da Superintendência de<br />
Seguros Privados (Susep), sem correção<br />
inflacionária. “Se aplicarmos a inflação, a<br />
queda do mercado é ainda maior e exemplifica<br />
o quanto o mercado de grandes<br />
riscos foi penalizado com a recessão no<br />
País. Além de não termos obras novas,<br />
ainda tivemos o cancelamento de projetos<br />
em andamento”, lembra o presidente da<br />
resseguradora Allianz Global Corporate<br />
& Specialty (AGCS), Angelo Colombo.<br />
Em São Paulo, as obras do Metrô, que<br />
eram para terem sido entregues ainda no<br />
primeiro mandato da ex-presidente Dilma<br />
Rousseff, estão paradas em diversos pontos<br />
tanto na linha 6-Laranja, que ligará a<br />
já existente estação São Joaquim à Linha<br />
1-Azul, e a Linha 15-Prata, de monotrilho.<br />
Exemplos não faltam. Estudo recente da<br />
Confederação Nacional da Indústria (CNI)<br />
indica um total de 2.796 obras paralisadas<br />
no Brasil, sendo que 517, equivalente a<br />
18,5%, são do setor de infraestrutura. Somente<br />
reativar as obras paradas, conforme<br />
Colombo, da AGCS, ajudaria ao seguro de<br />
risco de engenharia voltar, ao menos, ao<br />
patamar dos R$ 600 milhões de prêmios,<br />
visto há quatro anos, antes da eclosão da<br />
Operação Lava Jato, maior esquema de<br />
corrupção da história do País.<br />
Após um 2018 praticamente parado<br />
para o setor de infraestrutura, o analista<br />
Lucas Marquiori, do banco Safra, prevê,<br />
em relatório ao mercado, um reaquecimento<br />
do segmento já no próximo ano,<br />
o primeiro do governo de Bolsonaro. Sua<br />
expectativa está ancorada na sinalização<br />
da futura administração de que vai aprimorar<br />
marcos regulatórios para estimular<br />
investimentos. Ainda que as previsões do<br />
especialista se concretizem, o impacto<br />
no mercado de seguros, no entanto, não<br />
será imediato. Seguradores e resseguradores<br />
lembram que há uma sequência de<br />
acontecimentos até que o setor comece a<br />
sentir ventos mais favoráveis sob o ponto<br />
de vista de aumento de negócios. Uma<br />
retomada é esperada a partir do do segun-