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Revisão imunológica e bioquímica do hipotireoidismo

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REVISÃO IMUNOLÓGICA E BIOQUÍMICA DO HIPOTIREOIDISMO<br />

Caroline Carrer, Diogo de Fraga Rosa, Elisabeth Philippsen, Luiz Guilherme<br />

Hendrischky e Matheus Pires.<br />

Universidade Feevale, Novo Hamburgo – RS, Brasil.<br />

Resumo:O <strong>hipotireoidismo</strong> é uma patologia que pode acometer indivíduos de<br />

todas as faixas etárias, por isso a importância de investir cada vez mais na<br />

investigação de novos tratamentos e na monitoração <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res desta<br />

<strong>do</strong>ença. A tireoide é uma das maiores glândulas endócrinas, localizada na parte<br />

anterior <strong>do</strong> pescoço. A sua principal função é sintetizar os hormônios T3<br />

(Triio<strong>do</strong>tironina) e T4 (Tiroxina), controla<strong>do</strong>s via feedback negativo forma<strong>do</strong> pelo<br />

eixo hipotálamo – hipófise e tireoide, que por sua vez são controla<strong>do</strong>s pelos<br />

hormônios TSH, TRH e HT, forman<strong>do</strong> a tríade de feedback negativo. Os sinais<br />

e sintomas se apresentam de diversas formas, tornan<strong>do</strong> o diagnóstico clínico<br />

difícil de ser determina<strong>do</strong>.. O diagnóstico laboratorial comumente se dá através<br />

da <strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> nível sérico de TSH e T4 livre (T4L). O teste de TSH é<br />

considera<strong>do</strong> padrão-ouro para a avaliação da função tireoidiana,<br />

comsensibilidade de 98% e especificidade de 92% para definição <strong>do</strong> diagnóstico.<br />

Porém, a função tireoidiana pode ser avaliada por uma grande variedade de<br />

testes.<br />

Palavras-chave: Hipotireoidismo; Tireoide; T3; T4; TSH; Diagnóstico; Dosagem<br />

Hormonal.<br />

Abstract:Hypothyroidism is a condition that can affect individuals of all ages, so<br />

the importance of investing in research focused on new treatments and patient<br />

monitoring is ever increasing. The thyroid is one of the largest en<strong>do</strong>crine glands,<br />

located at front of the neck. Its main function is the synthesis of hormones T3<br />

(triio<strong>do</strong>thyronine) and T4 (thyroxine) which is controlled via negative feedback<br />

from the hypothalamic, pituitary and thyroid , which are controlled by the


hormones TSH , TRH and HT, forming the triad of negative feedback. The TSH<br />

test is considered the gold standard for evaluation of thyroid function.<br />

The signs and symptoms appear in different ways, that makes it difficult to identify<br />

during clinical diagnosis. Laboratory diagnosis commonly occurs through the<br />

measure of TSH and free T4 (FT4) in the blood serum. The TSH test is<br />

considered the gold standard for evaluation of thyroid function with sensitivity of<br />

98% and specificity of 92% in defining the diagnosis. However, thyroid function<br />

can be evaluated by a variety of tests.<br />

Keywords: Hypothyroidism; Thyroid; T3; T4; TSH; Diagnosis; Hormonal<br />

Dosage.


1. INTRODUÇÃO<br />

As <strong>do</strong>enças tireoidianas acometem em torno de 12% da população em<br />

geral, com maior prevalência em i<strong>do</strong>sos <strong>do</strong> sexo feminino e indivíduos com<br />

anticorpos antitireoidianos (AAT) [29], possuin<strong>do</strong> elevada prevalência no Brasil<br />

[30].<br />

O <strong>hipotireoidismo</strong> primário tem como principais etiologias as <strong>do</strong>enças<br />

autoimunes de tireoide, deficiência de io<strong>do</strong>, redução <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> tireoidiano por<br />

io<strong>do</strong> radioativo ou por cirurgia usada no tratamento de Doença de Graves ou <strong>do</strong><br />

Câncer de Tireoide [30].<br />

Visto que o <strong>hipotireoidismo</strong> é uma das <strong>do</strong>enças endócrinas mais comuns<br />

na atualidade, com inúmeros efeitos indesejáveis, o presente artigo tem como<br />

objetivo apresentar as principais características <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> como as<br />

<strong>do</strong>sagens hormonais juntamente com as meto<strong>do</strong>logias mais utilizadas, além das<br />

alterações <strong>bioquímica</strong>s mais comuns nestes pacientes.<br />

2. VISÃO GERAL DO HIPOTIROIDISMO<br />

A tireoide é uma das maiores glândulas endócrinas, localizada na parte<br />

anterior <strong>do</strong> pescoço. A sua principal função é sintetizar os hormônios T3<br />

(Triio<strong>do</strong>tironina) e T4 (Tiroxina), controla<strong>do</strong>s via feedback negativo forma<strong>do</strong> pelo<br />

eixo hipotálamo – hipófise e tireoide, que por sua vez são controla<strong>do</strong>s pelos<br />

hormônios TSH, TRH e HT, forman<strong>do</strong> a tríade de feedback negativo [1].<br />

Os hormônios T3 e T4 promovem o crescimento e o desenvolvimento normal<br />

das pessoas e regulam uma variedade de funções homeostáticas, como a<br />

produção de energia e calor, diferenciação e maturação <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> sistema<br />

nervoso central. Também atuam como regula<strong>do</strong>res <strong>do</strong> metabolismo de<br />

carboidratos e gorduras. São hormônios de grande importância para o bom<br />

funcionamento <strong>do</strong> corpo humano, por isso qualquer alteração que leve ao<br />

desequilíbrio <strong>do</strong>s hormônios secreta<strong>do</strong>s haverá sintomas que precisarão ser<br />

investiga<strong>do</strong>s. [2]<br />

O hipotiroidismo é defini<strong>do</strong> como uma diminuição ou ausência da produção<br />

<strong>do</strong>s hormônios da tireoide. [3] Estafalha na produção <strong>do</strong>s hormônios é


classificada conforme a sua origem. [4] O <strong>hipotireoidismo</strong> primário é a disfunção<br />

tiroidiana mais frequente, caracterizada pela diminuição <strong>do</strong>s níveis circulantes<br />

de tiroxina (T4) e triio<strong>do</strong>tironina (T3), levan<strong>do</strong> a um aumento da produção TSH e<br />

ocasiona<strong>do</strong> por uma falência da própria glândula, mas também pode ocorrer<br />

<strong>hipotireoidismo</strong> por uma diminuição da produção <strong>do</strong> TSH pela hipófise ou <strong>do</strong> TRH<br />

(hormônio libera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> TSH) pelo hipotálamo, sen<strong>do</strong> denomina<strong>do</strong><br />

<strong>hipotireoidismo</strong> central ou secundário. Nessa situação, as concentrações séricas<br />

<strong>do</strong>s hormônios tireoidianos se encontram diminuídas e a <strong>do</strong> TSH encontra-se<br />

diminuída, inapropriadamente normal ou até discretamente elevada devi<strong>do</strong> à<br />

secreção de TSH biologicamente inativo [6].<br />

No <strong>hipotireoidismo</strong> central ocorre estímulo insuficiente da glândula tireoide<br />

pelo TSH, por prejuízo na secreção ou função <strong>do</strong> hipotálamo (<strong>hipotireoidismo</strong><br />

terciário) ou hipófise (<strong>hipotireoidismo</strong> secundário). A clínica <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong><br />

central é menos exuberante que a <strong>do</strong> primário e o seu monitoramento deve ser<br />

feito através da <strong>do</strong>sagem de T4 (tiroxina) livre e não <strong>do</strong> TSH (hormônio<br />

tireoestimulante) [6].<br />

O hipotiroidismosubclínico (HSC) é uma situação comum, especialmente<br />

entre as mulheres conforme o avançar da idade, é diagnostica<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os<br />

níveis de hormônios tireoidianos estão dentro <strong>do</strong> valor de referência <strong>do</strong><br />

laboratório, embora o hormônio estimulante da tireoide (TSH) esteja eleva<strong>do</strong>. O<br />

manuseio <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> subclínico é controverso e pode representar o<br />

estágio inicial de uma deterioração progressiva da função tireoidiana, sen<strong>do</strong> que<br />

em alguns casos esta função pode permanecer inalterada durante anos ou<br />

mesmo se normalizar [7].


Figura 1- Avaliação Laboratorial <strong>do</strong> Hipotireoidismo<br />

TSH – hormônio tireoestimulante ou tireotrofina (valor normal: 0,3 – 0,4 um/L)<br />

T4L – tiroxina livre (valor normal: 0,7 – 1,5 ng/dL)<br />

2.1 SINTOMAS<br />

Os sintomas <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> não são específicos e podem se apresentar<br />

de diversas formas, por isso é importante o médico responsável avaliar cada um<br />

<strong>do</strong>s sintomas e interpretá-los se podem ser decorrentes da falta hormonal, ou<br />

não [8].<br />

Os sinais e sintomas mais frequentes se apresentam como bradicardia,<br />

reflexo aquileulentifica<strong>do</strong>, pele grossa e seca, fraqueza, letargia, fala lenta,<br />

edema de pálpebras, sensação de frio, diminuição da su<strong>do</strong>rese, pele fria,<br />

macroglossia, edema facial, cabelo seco e sem brilho, aumento da área cardíaca<br />

(ao raio-x), palidez de pele, perturbações da memória, constipação, ganho de<br />

peso, perda de cabelo, dispneia, edema periférico, rouquidão, anorexia,<br />

nervosismo, menorragia, surdez, palpitações, abafamento de bulhas cardíacas,<br />

<strong>do</strong>r precordial, e baixa acuidade visual, entre muitos outros [9].<br />

Após os sinais clínicos terem si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s e avalia<strong>do</strong>s, o médico deve<br />

seguir com a investigação através de exames bioquímicos e imunológicos, se o<br />

<strong>hipotireoidismo</strong> for confirma<strong>do</strong>, é importante que a sua etiologia também seja<br />

verifica<strong>do</strong> para que haja o correto tratamento [9].


2.2 HIPOTIREOIDISMO NO ADULTO, CRIANÇA & GESTANTE<br />

O termo <strong>hipotireoidismo</strong> primário significa a redução da secreção <strong>do</strong>s<br />

hormônios tireoidianos por fatores que afetam a própria glândula. A queda das<br />

concentrações séricas <strong>do</strong>s hormônios tireoidianos causa um aumento na<br />

secreção de TSH, consequentemente, há uma elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de<br />

TSH. Outros fatores que podem afetar a secreção desses hormônios são a baixa<br />

estimulação da tireoide pelo TSH, devi<strong>do</strong> à fatores que interferem na liberação<br />

pituitária de TSH (<strong>hipotireoidismo</strong> secundário) e a diminuição indireta da<br />

liberação <strong>do</strong> hormônio libera<strong>do</strong>r de tireotrofina (TRF) pelo hipotálamo<br />

(<strong>hipotireoidismo</strong> terciário). Na clínica médica, a diferenciação entre<br />

<strong>hipotireoidismo</strong> secundário e terciário é complexa, pois normalmente são<br />

consequências <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> central [3].<br />

O diagnóstico precoce de <strong>hipotireoidismo</strong> em crianças e a<strong>do</strong>lescentes é muito<br />

importante. Pesquisas recentes mostram que o diagnóstico precoce segui<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

tratamento adequa<strong>do</strong> pode melhorar as funções cognitivas <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de<br />

<strong>hipotireoidismo</strong>. Pesquisa<strong>do</strong>res estão sugerin<strong>do</strong> que o <strong>hipotireoidismo</strong><br />

subclínico, caracteriza<strong>do</strong> por um ligeiro aumento de TSH em conjunto à níveis<br />

séricos normais de tiroxina livre (T4L), é um fator de risco para o<br />

desenvolvimento de <strong>do</strong>enças sistêmicas, como <strong>do</strong>enças cardiovasculares,<br />

aterosclerose e desordens neuropsiquiátricas [12].<br />

A gravidez produz um efeito reversível na tireoide e suas funções. Durante a<br />

gravidez, há estimulação excessiva da tireoide, fazen<strong>do</strong> com que seu tamanho<br />

aumente. Além disso, as alterações hormonais geram um aumento na produção<br />

de T4 e T3, enquanto níveis de TSH diminuem, especialmente no primeiro<br />

trimestre. Em consequência dessas características fisiológicas da gravidez, as<br />

gestantes podem ter sintomas que são observa<strong>do</strong>s em casos de<br />

hipertireoidismo. Entretanto, gestantes também podem ter sintomas iguais aos<br />

<strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong>, incluin<strong>do</strong> fatiga, constipação, ansiedade e ganho de peso.<br />

Em decorrência disso, o diagnóstico de <strong>hipotireoidismo</strong> durante a gravidez pode<br />

ser difícil. O hipertireoidismo e <strong>hipotireoidismo</strong> podem produzir diversos efeitos<br />

severos no feto. A recomendação para um diagnóstico livre de resulta<strong>do</strong>s<br />

incorretos é a aplicação testes trimestrais específicos para cada tipo de<br />

população [13].


3. DIAGNÓSTICO CLÍNICO<br />

Os sintomas clínicos <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> são inespecíficos e acometem a<br />

maioria <strong>do</strong>s órgãos e sistemas devi<strong>do</strong> a deficiência tireoidiana presente, fadiga,<br />

cansaço, queda de cabelo, alteração de peso, intolerância ao frio, irregulares<br />

menstruais são os sintomas e sinais mais presentes em pacientes com este<br />

diagnóstico [10].<br />

Figura 2 – Sinais e sintomas <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong><br />

SINTOMAS<br />

Sensação de frio, su<strong>do</strong>rese ↓<br />

Fraqueza; ↓ apetite<br />

Défict de memória, cognição e concentração;<br />

Depressão; psicoses; distúrbios bipolares;<br />

demência;<br />

Constipação intestinal<br />

Ganho de peso<br />

Queda de cabelos<br />

Dispnéia, tolerância ↓ aos exercícios<br />

Rouquidão<br />

Anorexia<br />

Menorragia<br />

Palpitações<br />

Surdez<br />

Dor precordial<br />

Cefaleia, tonturas, zumbi<strong>do</strong>s<br />

Parestesias<br />

Cegueira noturna<br />

SINAIS<br />

Pele seca, áspera, fria<br />

Letargia, fala lenta, hiporreflexia<br />

Edema palpebral, facil, periférico<br />

Lingua grossa<br />

Cabelos ásperos<br />

Palidez cutânea<br />

Bradicardia<br />

Hipertensão arterial diastólica<br />

Cardiomegalia<br />

Derrame pericárdio<br />

↓ da motilidade gastrointestinal<br />

↓ absorção intestinal<br />

hipotonia da vesícula biliar<br />

Doença hepática gordurosa não<br />

alcoólica<br />

Apneia <strong>do</strong> sono<br />

Ataxia cerebelar<br />

Ascite<br />

3.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL<br />

O diagnóstico laboratorial comumente se dá através da <strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> nível<br />

sérico de TSH e T4 livre (T4L). O teste de TSH é considera<strong>do</strong> padrão-ouro para<br />

a avaliação da função tireoidiana, com sensibilidade de 98% e especificidade de<br />

92% para definição <strong>do</strong> diagnóstico [10].<br />

Apresentan<strong>do</strong> o paciente níveis séricos normais de TSH, nenhum outro<br />

teste é necessário, porém em casos em que o TSH é eleva<strong>do</strong>, T4L deve ser feito


para determinar o grau de <strong>hipotireoidismo</strong> e em casos em que o há a diminuição<br />

sérico de TSH, T4L deve ser feito para determinar o grau de hipertireoidismo.<br />

Em casos em que o TSH encontra-se altera<strong>do</strong>, porém T4L encontra-se normal,<br />

T3 total é indica<strong>do</strong>. Em duas situações clínicas distintas são feitas inicialmente e<br />

conjuntamente os <strong>do</strong>is testes, tanto TSH como T4 que são os casos de suspeita<br />

de <strong>do</strong>enças hipofisárias ou hipotalâmicas e quan<strong>do</strong> o paciente apresenta clínica<br />

convincente <strong>do</strong> quadro de disfunção tireoidiana [11].<br />

Figura 3 - Possíveis alterações laboratoriais, <strong>do</strong> eletrocardiograma (ECG) e<br />

hormonais <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong>.<br />

ALTERAÇÕES LABORATORIAIS/ECG<br />

Colesterol Total e LDL ↑<br />

HDL-2: ↑ modesto; HDL-3: Sem alteração<br />

Triglicerídeos: sem alteração ou ↑ modesto<br />

Transaminases, CPK, DHL e CEA: ↑<br />

PCR, homocisteína, lipoproteína (a): ↑<br />

Sódio sérico: ↓<br />

Proteínas no líquor: ↑<br />

ALTERAÇÕES HORMONAIS<br />

Prolactina, ADH, PTH e 1,25 (OH) 2 D: ↑<br />

Resposta <strong>do</strong> GH aos testes de estímulo:<br />

↓<br />

IGF-1 e EGFBP3: ↓<br />

SHBG, testosterona e estradiol totais: ↓<br />

Resposta <strong>do</strong> LH/FSH ao GnRH: ↓<br />

ECG: baixa voltagem; distúrbios de condução e<br />

mudanças específicas <strong>do</strong> ST-T<br />

CPK (creatinofosfoquinase); DHL (desidrogenas lática); CEA (antígeno carcinoembrionário); ADH (hormônio<br />

antidiurético); PTH (paratormônio); GH (hormônio <strong>do</strong> crescimento); IGF-1 (fator de crescimento semelhante à<br />

insulina); IGFBP3 (proteína liga<strong>do</strong>ra-3 <strong>do</strong> IGF); SHBG (globulina liga<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s hormônios sexuais); GnRH (hormônio<br />

libera<strong>do</strong>r de gona<strong>do</strong>trofinas).<br />

Figura 4 - Fluxograma para avaliação diagnóstica (Hipot = <strong>hipotireoidismo</strong>; N =<br />

normal; RM = ressonância magnética; ↑ = aumenta<strong>do</strong>; ↓ = baixo).


4. DINÂMICA E MONITORAÇÃO DO TRATAMENTO COM LEVOTIROXINA<br />

Consiste na reposição de levotiroxina (LT4), que na maioria <strong>do</strong> casos é<br />

mantida indefinitivamente. Atualmente a Levotiroxina esta disponível no merca<strong>do</strong><br />

como, Euthyrox (Merck), Levoid (Aché), Puran T4 (Sanofi) e Synthroid (Abbott),<br />

além da medicação genérica [10]. O uso de levotiroxina é proporcional ao nível<br />

sérico de TSH, se o TSH esta alto, a <strong>do</strong>se precisa ser aumentada, caso o TSH<br />

esteja baixo a <strong>do</strong>se precisa ser reduzida [11].<br />

Uma vez atingida a <strong>do</strong>se de manutenção adequada, faz-se a reavaliação<br />

da função tireoidiana a cada 6-12 meses. A <strong>do</strong>se de LT4 pode ser ajustada<br />

devi<strong>do</strong> a situações clínicas ou/e uso de substâncias concomitantes<br />

administradas que interferem sua absorção, metabolização ou relação com a<br />

TBG (proteína liga<strong>do</strong>ra de hormônios tireoidianos) [10].<br />

5. HORMÔNIOS DOSADOS<br />

A American TrhyroidAssociation (ATA) vem, nos últimos anos, publican<strong>do</strong><br />

diversos artigos científicos auxilian<strong>do</strong> significativamente o diagnóstico das<br />

<strong>do</strong>eças tireoidianas através <strong>do</strong>s testes laboratoriais.<br />

A função tireoidiana pode ser avaliada por uma grande variedade de<br />

testes, tais como: Dosagen de T3 e T4, T3 e T4 livres ou Índice de Tiroxina Livre<br />

(ITL), <strong>do</strong>sagem de tireoglobulina, T3 reverso, TSH, teste de estímulo <strong>do</strong> TSH<br />

(<strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> TSH antes e após TRH), anticorpo anti-tireoglobulina (anti-Tg),


anticorpo anti-peroxidase (anti-TPO), anticorpo anti-receptor de TSH (TRAB),<br />

teste de captação <strong>do</strong> io<strong>do</strong> radioativo, testes que avaliam o tamanho e a<br />

morfologia da glândula, biopsia, além de testes observacionais <strong>do</strong>s efeitos<br />

hormonais tireoidianos sobre os teci<strong>do</strong>s periféricos.<br />

5.1 DOSAGEM DE TSH<br />

No <strong>hipotireoidismo</strong> primário, o TSH sérico é o primeiro teste a ser solicita<strong>do</strong>,<br />

devi<strong>do</strong> a relação long-linear inversa entre as concentrações de TSH e T4 livre,<br />

onde se pode observar que pequenas variações na concentração de T4 livre<br />

estão associadas a um aumento exponencial nas concentrações de TSH [9].<br />

O hormônio estimulante da tireóide, tireotrofina ou TSH é produzi<strong>do</strong> pela<br />

adenohipófise ou hipófise anterior devi<strong>do</strong> a estímulos provenientes <strong>do</strong> TRH. O<br />

TSH é secreta<strong>do</strong> de maneira circadiana, com valores mais eleva<strong>do</strong>s entre as 2<br />

e 4 horas da manhã, e valores mais diminutos entre as 5 e 6 horas da tarde. [2]<br />

A ATA recomenda que toda as avaliações da função tireoidiana iniciem-se<br />

com a <strong>do</strong>sagem de TSHs, visto que os ensaios sensíveis <strong>do</strong> TSH são muito<br />

bons para confirmar um <strong>hipotireoidismo</strong> primário ou hipertireoidismo.<br />

A amostra biológica de escolha é preferencialmente o soro, porém, plasma<br />

colhi<strong>do</strong> em EDTA ou heparina também podem ser utiliza<strong>do</strong>s. A conservação das<br />

amostras biológicas deve ser feita sempre à temperatura de 2 - 8 °C por no<br />

máximo 5 dias quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>sagem não puder ser feita no mesmo dia, evitan<strong>do</strong><br />

sempre congelar e descongelar o soro por repetidas vezes. Evita-se sempre<br />

trabalhar com amostras hemolisadas ou lipêmicas, entretanto tais características<br />

exercem efeitos pequenos sobre a <strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> TSH. Hemólises acentuadas<br />

diluem a amostra, consequentemente, diminuin<strong>do</strong> os valores de TSH, já as<br />

amostras turvas devem sempre passar por centrifugação prévia ao ensaio. [2]<br />

Os méto<strong>do</strong>s disponíveis são: Imunoensaio por Quimioluminescência (CLIA),<br />

Imunoensaio por Fluorescência Polarizada (FPIA), Enzima Imunoensaio (EIA),<br />

Ensaio Imunoabsorvente Liga<strong>do</strong> a Enzima (ELISA) e ainda Radioimunoensaio<br />

(RIA). Os valores de referência para o TSH, normalmente, variam de 0,3 à 0,4<br />

mUl/L, porém podem existir variações de acor<strong>do</strong> com a meto<strong>do</strong>logia empregada<br />

[2].


Os imunoensaios são considera<strong>do</strong>s o procedimento padrão para a <strong>do</strong>sagem<br />

<strong>do</strong> TSH no laboratório clínico. O radioimunoensaio (RIA) tradicional para o TSH<br />

é basea<strong>do</strong> na competição entre o hormônio endógeno presente no soro e no<br />

padrão e o radiomarca<strong>do</strong> pelos sítios de ligação <strong>do</strong> anticorpo. Desta forma, a<br />

quantidade de TSH marca<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> ao anticorpo é inversamente proporcional a<br />

quantidade de TSH não marca<strong>do</strong> na amostra de soro ou padrão [2].<br />

Os ensaios imunométricos (IMA) possuem além de melhor sensibilidade,<br />

maior rapidez com faixa ampla (0,1 a 50,0 mU/L) quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com os<br />

RIAs tradicionais. Estes dispõem de uma molécula <strong>do</strong> TSH <strong>do</strong> soro ou padrão<br />

forma uma ponte entre 2 ou mais anticorpos distintos anti-TSH, onde o primeiro<br />

anticorpo (Ac de captura), de origem monoclonal, é direciona<strong>do</strong> à sub-unidade<br />

específica e é ancora<strong>do</strong> ao sistema de separação em fase sólida. Esse anticorpo<br />

está presente em excesso e seletivamente imunoextrai a maioria das moléculas<br />

de TSH <strong>do</strong> soro e <strong>do</strong> padrão. Desta forma, o TSH liga<strong>do</strong> é <strong>do</strong>sa<strong>do</strong> através de um<br />

segun<strong>do</strong> anticorpo (Ac de detecção), de origem monoclonal ou policlonal, contra<br />

o TSH. Esse segun<strong>do</strong> anticorpo é direciona<strong>do</strong> contra um local antigênico<br />

distintamente diferente da molécula de TSH, por exemplo, a subunidade. O<br />

anticorpo de detecção é marca<strong>do</strong> com uma molécula sinaliza<strong>do</strong>ra que pode ser<br />

um radioisótopo, fluoróforo ou luminescente [2].<br />

5.2 DOSAGEM DE TIROXINA (T4)<br />

A tiroxina ou T4 é o principal composto secreta<strong>do</strong> pela tireóide, este é<br />

transporta<strong>do</strong> no sangue liga<strong>do</strong> às proteínas transporta<strong>do</strong>ras (TBG, prealbumina<br />

e albumina), e sua fração livre compreende a forma metabolicamente ativa. A<br />

secreção de T4 é estimulada pelo TSH hipofisário, com controle de secreção por<br />

feedback negativo a nível de eixo-hipotálamo-hipófise-tireóide. O T4 é converti<strong>do</strong><br />

à T3 nos teci<strong>do</strong>s periféricos. [2]<br />

Os valores de T4 sofrem influência <strong>do</strong>s níveis das proteínas carrea<strong>do</strong>ras,<br />

drogas como clofibrato, estrógeno, anticoncepcionais orais, andrógenos, lítio,<br />

além de durante a gravidez, entre outros. A escolha de amostra biológica,<br />

conservação e manipulação seguem os mesmos parâmetros da <strong>do</strong>sagem de<br />

TSH [2].


Os valores de referência para o T4, normalmente, variam de 4,5 à 12,0<br />

µg/dL em adultos acima de 12 anos, porém podem existir variações de acor<strong>do</strong><br />

com a meto<strong>do</strong>logia empregada [2].<br />

Os imunoensaios atuais necessitam da dissociação <strong>do</strong> hormônio de suas<br />

proteínas de transporte. Para este fim, emprega-se o uso de um tampão de<br />

barbital ou agentes bloquea<strong>do</strong>res, em função disso os imunoensaios podem ser<br />

classifica<strong>do</strong>s em isotópicos ou não isotópicos. Nos isotópicos temos o<br />

Radioimunoensaio, onde o Io<strong>do</strong> 125 é amplamente utiliza<strong>do</strong> como marca<strong>do</strong>s<br />

para acompanhar e medir a distribuição <strong>do</strong> T4 entre as frações <strong>do</strong> anticorpo. Já<br />

nos méto<strong>do</strong>s não isotópicos existe uma disponibilidade grande de meto<strong>do</strong>logias<br />

como o Imunoensaio por Quimioluminescência (CLIA), Imunoensaio por<br />

Fluorescência Polarizada (FPIA), Enzima Imunoensaio (EIA), ELISA = Enzyme-<br />

LinkedImmunosorbentAssay, etc. Os fundamentos químicos destes ensaios são<br />

semelhantes aos <strong>do</strong> RIA, diferencian<strong>do</strong>-se apenas na medida da atividade<br />

enzimática (poden<strong>do</strong> esta ser fluorescente ou quimioluminescente em<br />

substituição à medida da radioatividade) [2].<br />

5.3 DOSAGEM DE TRIIDOTIRONINA (T3)<br />

T3 é um hormônio tireoidiano produzi<strong>do</strong> principalmente pela conversão<br />

periférica <strong>do</strong> T4, este é transporta<strong>do</strong> no sangue liga<strong>do</strong> 100% às TBGs, por isso<br />

seus níveis sofrem uma grande influencia, pois qualquer alteração (seja aumento<br />

ou diminuição) na concentração dessa proteína provocará um aumento ou<br />

diminuição nos valores de T3. Sua secreção é estimulada pelo TSH hipofisário<br />

com controle de secreção por feedback negativo a nível de eixo-hipotálamohipófise-tireóide.<br />

Seus fatores interferentes e amostra biológica são iguais aos já<br />

vistos para T4 [2].<br />

Os valores de referência para o T3 em adultos varia de 80 à 200 ng/dL,<br />

porém podem existir variações de acor<strong>do</strong> com a meto<strong>do</strong>logia empregada. Como<br />

para a <strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> T4, são emprega<strong>do</strong>s as meto<strong>do</strong>logias de imunoensaios<br />

isotópicos e não isotópicos [2].<br />

5.4 DOSAGEM DE TIREOGLOBULINA


A tireoglubina (Tg) é uma glicoproteína com característica de auto peso<br />

molecular. É formada por duas subunidades idênticas que estão unidas por uma<br />

ligação não-covalente. É codificada por um gene que está localiza<strong>do</strong> no<br />

cromossomo 8 [16,15]. Esta glicoproteína apresenta uma estrutura <strong>imunológica</strong><br />

de extrema complexidade que está envolvida em diversas respostas<br />

<strong>imunológica</strong>s.<br />

Sua síntese é de exclusividade <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> tireoidiano, normal ou neoplásico<br />

e é a proteína quantitativamente mais importante da tireóide [18]. Tem função<br />

como proteína de estoque para iodeto e hormônios tireoidianos [16].<br />

Quan<strong>do</strong> ocorre a hormonogense controlada pelo TSH, a tireoglobulina é<br />

incorporada ao lúmen <strong>do</strong> folículo tireoidiano, porém pequenas quantidades<br />

dessa proteína estão sen<strong>do</strong> secretadas na circulação, portanto, podem ser<br />

quantificadas [18].<br />

A <strong>do</strong>sagem de tireoglobulina sérica está indicada para o<br />

acompanhamento de pacientes com carcinoma papilífero ou folicular de tireoide<br />

após dectomia, diagnostico de hipertireoidismo factício, predizer efeito da terapia<br />

para hipertireoidismo, diagnóstico de agenesia tireoidiana em neonatos, entre<br />

outros [17].<br />

Os valores podem estar aumentos quan<strong>do</strong>, carcinoma diferencia<strong>do</strong> de<br />

tireoide, hipertireoidismo, tireoidite silenciosa, bócio endêmico, insuficiência<br />

hepática marcada. Valores podem estar diminuí<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> agenesia tireoidiana<br />

em neonatos e tireoidectomia total ou destruição por radiação [17].<br />

5.5 PESQUISA DE ANTICORPOS ANTITIREOIDIANOS<br />

5.5.1 ANTICORPO ANTIMICROSSOMAL (aTPO)<br />

O anticorpo antimicrossomal, também conheci<strong>do</strong> como auto anticorpo<br />

antiperoxidase (aTPO), é um anticorpo que deve ser solicita<strong>do</strong> em toda suspeita<br />

de <strong>do</strong>ença autoimune [19].<br />

Este auto-anticorpo está altera<strong>do</strong> em todas as situações de citoxicidade<br />

celular e é encontra<strong>do</strong> claramente eleva<strong>do</strong> (aTPO>500 U/ml) em 59% <strong>do</strong>s casos<br />

de tireoidites de qualquer tipo . Quan<strong>do</strong> tireoidites de Hashimoto, tem-se o aTPO


altera<strong>do</strong> em 88% <strong>do</strong>s casos; consideran<strong>do</strong> o ponto de corte 200 U/ml, encontrase<br />

sensibilidade de 96% e especifidade de 100% [20].<br />

O aTPO é um marca<strong>do</strong>r de extrema importância para diagnóstico de<br />

<strong>do</strong>enças autoimunes e, se não utiliza<strong>do</strong>, uma grande quantidade de pacientes<br />

irão permanecer sem o diagnóstico correto [21]. Paciente que é porta<strong>do</strong>r de<br />

<strong>hipotireoidismo</strong>, devi<strong>do</strong> a tireioidite de Hashimoto, após 50 meses utiliza<strong>do</strong><br />

levotiroxina para tratamento, tem declíneo <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> aTPO, entretanto, a<br />

minoria <strong>do</strong>s pacientes consegue negativá-lo totalmente [22]. Devi<strong>do</strong> a este fato,<br />

não recomenda-se a monitorização em série de seu nível sérico. O tratamento<br />

sempre é direciona<strong>do</strong> para consequencia (disfunção tireoidiana) e não para a<br />

casa (autoimunidade).<br />

5.5.2 ANTICORPOS ANTI-RECEPTORES DE TSH(TRAb)<br />

Indica<strong>do</strong> para diagnóstico de <strong>do</strong>ença tireoidiana autoimune, é utiliza<strong>do</strong> no<br />

diagnóstico diferencial de hipertireoidismo, na disfunção tireoidiana fetal e<br />

neonatal devi<strong>do</strong> ao fato da passagem transplacentária de TRAb materno e<br />

também no prognóstico da <strong>do</strong>ença de Graves tratada com fármacos que são<br />

antitireoidianos.Pode mimetizar a ação <strong>do</strong> TSH e causar hipertireoidismo ou ser<br />

antagonista causan<strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> [17].<br />

Nos pacientes hipertireóideos, a presença de TRAb é específica para a<br />

<strong>do</strong>ença de Graves, evidencia<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença na forma ativa. Quan<strong>do</strong> ocorrre a<br />

diminuição <strong>do</strong> nível de TRAb, paciente que é hipertireóideo, é considera<strong>do</strong> em<br />

remissão clínica após o tratamento com fármacos específicos antireoidianos<br />

[17].<br />

O TRAb é importante para avaliação de gestantes que possuam história<br />

de <strong>do</strong>ença autoimune, devi<strong>do</strong> ao fato de que há um risco da passagem<br />

transplacentária deste anticorpo anti-receptor de TSH para o feto. Quan<strong>do</strong> os<br />

níveis de TRAb estão aumenta<strong>do</strong>s no terceiro trimestre de gestação, sugere-se<br />

o risco aumenta<strong>do</strong> de disfunção da tireoide neste neonato, isto é, 2-10% destes<br />

recém-nasci<strong>do</strong>s apresentam hipertireoidismo [17].


5.5.3 ANTICORPO ANTITIREOGLOBULINA (ANTI-Tg)<br />

Este anticorpo é utiliza<strong>do</strong> na maior parte das vezes para determinação da<br />

tireoglobulina sérica e a tendência atual é que não se utilize mais a <strong>do</strong>sagem de<br />

anti-Tg na pesquisa de <strong>do</strong>enças tireioidianas autoimunes, devi<strong>do</strong> ao fato de que,<br />

95% <strong>do</strong>s pacientes são positivos para este anticorpo e são também positivos<br />

para o anti-TPO. Quan<strong>do</strong> comparamos com o inverso, isto é, a recíproca, não é<br />

verdadeira, pois somente 50-60% <strong>do</strong>s pacientes que são positivos para o anti-<br />

TPO não são para o anti-Tg [17].<br />

Títulos na <strong>do</strong>ença de Graves são geralmente mais baixos <strong>do</strong> que os<br />

valores encontra<strong>do</strong>s na tireoidite de Hashimoto. Quan<strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong><br />

subclínico, é um marca<strong>do</strong>r de extrema utilidade para a progressão de<br />

<strong>hipotireoidismo</strong> franco, e em áreas com deficiência de io<strong>do</strong>, pode se tornar eficaz<br />

para detectar <strong>do</strong>ença tireoidiana autoimune. Quan<strong>do</strong> pacientes apresentarem<br />

bócio nodular e também para monitorar terapia com io<strong>do</strong> em bócio endêmico<br />

[17].<br />

5.5.4 OUTROS TESTES DE APLICAÇÃO NA AVALIAÇÃO DA<br />

FUNÇÃO TIREOIDIANA<br />

Dentre os inúmeros testes disponíveis para a avaliação da função<br />

tireoidiana, podemos citar também a <strong>do</strong>sagem da carrea<strong>do</strong>ra TBG, que é útil em<br />

casos onde suspeita-se de deficiência congênita da TBG; teste <strong>do</strong> T3 reverso,<br />

bastante utiliza<strong>do</strong> para verificar desvios <strong>do</strong> metabolismo periférico <strong>do</strong>s<br />

hormônios tireoidianos; teste de estímulo com TRH, atualmente emprega<strong>do</strong> para<br />

o estu<strong>do</strong> das reservas hipofisária de TSH; pesquisa de anticorpos antireceptores<br />

de TSH (TRAB) útil na confirmação da <strong>do</strong>ença de Base<strong>do</strong>w Graves<br />

e no diagnóstico diferencial de hipertireoidismo; e ainda a <strong>do</strong>sagem de<br />

calcitonina, empregada no acompanhamento de pacientes com carcinoma<br />

medular de tireóide com origem nas células parafoliculares [11].


6. ALTERAÇÕES EM EXAMES BIOQUÍMICOS<br />

Hormônios tireoidianos têm grande efeito em diversas ações metabólicas<br />

<strong>do</strong> organismo, por isso, um paciente diagnostica<strong>do</strong> com <strong>hipotireoidismo</strong> pode<br />

apresentar alterações em exames bioquímicos, como o aumento <strong>do</strong> colesterol e<br />

trigliceri<strong>do</strong>es, hiponatremia devi<strong>do</strong> a deficiência na produção <strong>do</strong> hormônio<br />

antidiurético, o aumento de enzimas musculares séricas (CK), anemia sem<br />

causa aparente [23] e aumento na glicogenólise e na gliconeogênese na<br />

tentativa <strong>do</strong> organismo balancear o uso eleva<strong>do</strong> de glicose. [24]<br />

6.1 AUMENTO DO COLESTEROL<br />

Os hormônios da tireoide aumentam a expressão <strong>do</strong>s receptores de<br />

colesterol LDL na superfície das células <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> e em outros teci<strong>do</strong>s. Nos<br />

pacientes com <strong>hipotireoidismo</strong> a quantidade de receptores para o colesterol LDL<br />

é menor, resultan<strong>do</strong> em um aumento de colesterol nos níveis séricos desses<br />

pacientes. O <strong>hipotireoidismo</strong> também pode elevar o colesterol devi<strong>do</strong> uma ação<br />

nas proteínas Niemann-Pick C1, que fornecem um papel fundamental na<br />

absorção de colesterol no intestino. [25]<br />

To<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>entes com hipercolesterolemia devem ser investiga<strong>do</strong>s no<br />

senti<strong>do</strong> de ser excluí<strong>do</strong> hipotiroidismo antes <strong>do</strong> início de fármacos<br />

antilipidemiantes. [27]<br />

6.2 DIMINUIÇÃO DO SÓDIO SÉRICO<br />

Hiponatremia é definida como uma concentração de sódio sérico [Na+]<br />

abaixo <strong>do</strong>s limites inferior da normalidade, onde na maioria <strong>do</strong>s laboratórios o<br />

valor referencial é de [Na+] < 135 meq/L. [26]. É um acha<strong>do</strong> frequente em casos<br />

de <strong>hipotireoidismo</strong> modera<strong>do</strong> a grave, resultan<strong>do</strong> da diminuição <strong>do</strong> filtra<strong>do</strong><br />

glomerular, com consequente diminuição da excreção de água e redução das<br />

concentrações de sódio por hemodiluição. [27]


6.1 AUMENTO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE CK<br />

Outro acha<strong>do</strong> laboratorial em casos de <strong>hipotireoidismo</strong> é o aumento <strong>do</strong>s<br />

níveis séricos de CK, transferase que catalisa a formação da fosfocreatina a<br />

partir de ADP e creatina; essa reação permite o armazenamento da energia <strong>do</strong><br />

ATP em forma de fosfocreatina. A ação <strong>do</strong>s hormônios tireoidianos ao nível<br />

muscular pode alterar a permeabilidade da membrana plasmática pelo aumento<br />

<strong>do</strong>s canais de cálcio <strong>do</strong> retículo sarcoplasmático. Por isso, o <strong>hipotireoidismo</strong><br />

pode levar a diminuição <strong>do</strong>s canais de cálcio causan<strong>do</strong> miopatia e muitos relatos<br />

de queixas de <strong>do</strong>res musculares. [28]<br />

Em geral ocorre aumento leve a modera<strong>do</strong> das enzimas musculares,<br />

particularmente da creatinaquinase (CK), ocorren<strong>do</strong> em 29% a 78% <strong>do</strong>s casos,<br />

porém os níveis de CK são normaliza<strong>do</strong>s com o tratamento hormonal adequa<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> incomum ocorrer grandes aumentos de CK e a manutenção de queixas<br />

musculares. Nos casos de deficiência hormonal grave o nível de CK pode ser<br />

muito alto (> 5000 U/L), sen<strong>do</strong> fundamental a reposição hormonal com<br />

levotiroxina. [31]<br />

7. ASSOCIAÇÃO DE HIPOTIREOIDISMO NA POPULAÇÃO DE PACIENTES<br />

COM DIABETES<br />

A associação entre diabetes mellitus (DM) e <strong>do</strong>ença tireoidiana é<br />

amplamente conhecida. Os distúrbios metabólicos observa<strong>do</strong>s no DM podem<br />

interferir nos níveis sanguíneos de T4 e T3 livres, assim como nos de TSH, e as<br />

disfunções tireoidianas também podem influenciar o controle glicêmico. A<br />

prevalência da disfunção tireoidiana em populações de diabéticos varia entre os<br />

estu<strong>do</strong>s, mas é maior que a observada na população em geral.<br />

A DM <strong>do</strong> tipo 1 é uma patologia auto-imune que sofre interação de fatores<br />

genéticos e ambientais e esta associada ao <strong>hipotireoidismo</strong> primário, estan<strong>do</strong><br />

presente em 12% a 24% das mulheres e 6% <strong>do</strong>s homens com este distúrbio.<br />

Aproximadamente 50% <strong>do</strong>s pacientes com DM1A desenvolvem <strong>hipotireoidismo</strong><br />

num perío<strong>do</strong> de 10 anos. Estes pacientes têm maior risco de desenvolver


<strong>do</strong>enças tireoidianas autoimunes devi<strong>do</strong> a presença de genes de suscetibilidade<br />

compartilha<strong>do</strong>s tanto para o DM como para as tireopatias (Sistema HLA e gene<br />

CTLA-4).<br />

Em relação aos pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), a disfunção<br />

tireoidiana tem si<strong>do</strong> menos frequente, sen<strong>do</strong> entre 3 a 6%, descritos com<br />

<strong>hipotireoidismo</strong> primário. Portanto, a triagem tireoidiana em pacientes com DM,<br />

tanto tipo 1 como tipo 2, é justificada por prevenir o desenvolvimento de<br />

disfunção tireoidiana clínica.<br />

Além disso, o diagnóstico e o tratamento <strong>do</strong> <strong>hipotireoidismo</strong> evitam os<br />

efeitos adversos da diminuição <strong>do</strong>s hormônios tireoidianos sobre o controle<br />

glicêmico (maior tendência à hipoglicemia) e também impedem a piora da<br />

intolerância à glicose. É recomenda<strong>do</strong> o controle e investigação <strong>do</strong>s pacientes<br />

com DM1, por desenvolverem disfunção tireoidiana em idade mais precoce que<br />

a população geral, independente da idade.<br />

Entretanto, atualmente não há consenso na literatura sobre a meto<strong>do</strong>logia<br />

empregada para a identificação da disfunção tireoidiana em pacientes com DM.<br />

Porém a maioria <strong>do</strong>s autores concordam que a avaliação por méto<strong>do</strong>s<br />

ultrassensíveis <strong>do</strong>s níveis séricos de TSH é a melhor maneira de se diagnosticar<br />

disfunção tireoidiana assintomática em pacientes com DM.<br />

8. CONCLUSÃO<br />

O <strong>hipotireoidismo</strong> é uma patologia que, se não diagnosticada e tratada<br />

com urgência, pode desencadear uma série de consequências para o paciente.<br />

Um <strong>do</strong>s fatores que tornam o <strong>hipotireoidismo</strong> uma <strong>do</strong>ença que necessita ser<br />

constantemente investigada é o fato dele acometer pessoas de ambos os sextos<br />

e de todas faixas etárias. Como descrevemos anteriormente no artigo, existem<br />

diferentes tipos de <strong>hipotireoidismo</strong> com diferentes manifestações clínicas. A nãoespecificidade<br />

da sintomatologia torna o diagnóstico difícil, fazen<strong>do</strong> com que o<br />

médico responsável avalie cada um <strong>do</strong>s sintomas cuida<strong>do</strong>samente para<br />

interpretar eles podem ser decorrentes da falta hormonal, ou não.


Diversas alterações <strong>bioquímica</strong>s são relatadas em pacientes com<br />

<strong>hipotireoidismo</strong>, ocorri<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> alterações <strong>do</strong>s hormônios tiroidianos, que<br />

possuem diversas funções metabólicas no organismo. Atualmente, podemos<br />

realizar diversos testes laboratoriais para <strong>do</strong>sar os principais hormônios<br />

envolvi<strong>do</strong>s, que são o T3, T4 e TSH. Também há testes para <strong>do</strong>sar tireoglubina,<br />

anticorpo antimicrossomal, anticorpos anti-receptores de TSH, anticorpo<br />

antitireoglobulina, entre outros. Precisamos continuar investigan<strong>do</strong>,<br />

desenvolven<strong>do</strong> novos tipos de tratamentos e monitoran<strong>do</strong> de perto as alterações<br />

que o <strong>hipotireoidismo</strong> causa no organismo <strong>do</strong>s pacientes.


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