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Agência para a Modernização Administrativa, I.P. 65 - Junho 2018

Agência para a Modernização Administrativa, I.P.
65 - Junho 2018

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<strong>AMA</strong> — Agência para a Modernização Administrativa, I.P. • ama.gov.pt • ama@ama.pt • facebook.com/ama.gov.pt • twitter.com/ama_gov_pt<br />

JUNHO 2018<br />

06<br />

Ana Teresa<br />

Lehmann<br />

Secretária<br />

de Estado<br />

da Indústria<br />

dados.gov<br />

Portal<br />

nacional<br />

de dados<br />

abertos<br />

Câmara<br />

Municipal<br />

de Lisboa<br />

Inclusão<br />

e inovação<br />

Barbara<br />

Ubaldi<br />

Governo<br />

Digital<br />

OCDE<br />

Entrevista<br />

Projeto<br />

Boas Práticas<br />

Entrevista


Ficha técnica<br />

Índice<br />

Propriedade e Edição<br />

<strong>AMA</strong><br />

Agência para a Modernização<br />

Administrativa, I.P.<br />

Direção<br />

Pedro Silva Dias<br />

Coordenação Editorial:<br />

Comunicação /<strong>AMA</strong><br />

Editores<br />

Pedro Silva Dias<br />

Presidente Conselho Diretivo/<strong>AMA</strong><br />

António Cruz<br />

Chefe Equipa Comunicação/<strong>AMA</strong><br />

Regina Araújo<br />

Sérgio Coelho<br />

Equipa Comunicação/<strong>AMA</strong><br />

Fotografia<br />

Comunicação/<strong>AMA</strong><br />

Projeto gráfico<br />

RPVP Designers<br />

Paginação<br />

Elsa Perdigão<br />

Comunicação/<strong>AMA</strong><br />

Impressão<br />

Palmigráfica<br />

Tiragem<br />

1500 exemplares<br />

Periodicidade<br />

Trimestral<br />

ISSN<br />

2183-9751<br />

Depósito Legal<br />

423678/17<br />

Distribuição Gratuita<br />

<strong>AMA</strong><br />

Agência para a Modernização<br />

Administrativa, I.P.<br />

ama.gov.pt | ama@ama.pt<br />

facebook.com/ama.gov.pt<br />

twitter.com/ama_gov_pt<br />

3 Editorial<br />

Pedro Silva Dias<br />

António Cruz<br />

4 Opinião<br />

Dados Abertos<br />

8 Notícias<br />

10 Entrevista<br />

Ana Teresa Lehmann<br />

18 Artigo<br />

Open Government<br />

20 Projeto <strong>AMA</strong><br />

dados.gov<br />

24 Boas Práticas<br />

Câmara Municipal de Lisboa<br />

28 Artigo<br />

Reutilização de Dados Abertos<br />

32 GovTech<br />

34 OPP 2018<br />

36 Simplex+<br />

40 Entrevista<br />

Barbara Ubaldi<br />

44 Loja de Cidadão<br />

Viseu<br />

48 Estatísticas<br />

50 S<strong>AMA</strong>2020<br />

GeoPortal da Economia<br />

52 Regulamento Geral<br />

de Proteção de Dados<br />

54 Notícias<br />

55 Números<br />

56 Agenda


Editorial<br />

<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 3<br />

Pedro Silva Dias<br />

Editor<br />

Presidente — <strong>AMA</strong>, I.P.<br />

António Cruz<br />

Editor-Adjunto<br />

Comunicação — <strong>AMA</strong>, I.P.<br />

Dados abertos é o tema desta<br />

nossa edição.<br />

Historicamente, aceder<br />

e tratar informação livre<br />

tinha um alcance limitado<br />

a publicações estatísticas, trabalhos<br />

académicos e jornalísticos ou complexos<br />

dossiês de projetos.<br />

Hoje, num tempo em que a informação<br />

tratada nos pode chegar às mãos por via<br />

de aplicações para dispositivos móveis,<br />

com dados em tempo real, cruzamento de<br />

informação e camadas de georreferenciação,<br />

a informação pública, em tempo real<br />

e formatos abertos, ganha uma utilidade<br />

incomensurável, embora ainda pouco<br />

explorada.<br />

Por este motivo, os dados da Administração<br />

Pública podem ser uma enorme fonte de<br />

valor, em primeira instância para quem os<br />

trabalha e para quem desenvolve aplicações;<br />

numa segunda fase, para os cidadãos<br />

e empresas, aos quais a informação é<br />

disponibilizada das mais diversas formas<br />

e cruzada com todo o tipo de dados para<br />

os mais distintos fins. No fundo, trata-se<br />

de transformar os dados em produtos<br />

que sejam úteis para diferentes públicos,<br />

devidamente adaptados aos padrões<br />

de usabilidade de hoje, sob a forma<br />

de aplicações, plataformas ou serviços.<br />

Por tudo isto, falar de dados abertos já<br />

não é apenas uma questão de transparência,<br />

mas, acima de tudo, de serviço público.<br />

Neste número da <strong>Diagrama</strong> apresentamos<br />

diferentes perspetivas: a visão de quem<br />

disponibiliza, trata e beneficia da informação.<br />

Dados que ontem apenas eram de todos,<br />

mas que, acreditamos, amanhã serão<br />

para todos. ≤


4<br />

Opinião<br />

Dados abertos<br />

O que são e para que servem<br />

Em 2010, quando Portugal começou a dar os primeiros passos na adoção de políticas de<br />

abertura de dados, o contexto das conversas sobre os dados e a informação do setor público era<br />

bem diferente do que vivemos atualmente.<br />

Hoje, estamos mais atentos a questões relativas à privacidade e ao tratamento de dados, e<br />

também mais conscientes do potencial associado às aplicações de big data e à sua utilização em<br />

sistemas de inteligência artificial. As novas data-driven policies, políticas e serviços públicos<br />

baseados em ciência de dados, começam também a evidenciar caminhos muito interessantes<br />

na relação entre cidadãos e Estado, bem como o potencial de inovação dos serviços públicos.<br />

Deixou de ser necessário demonstrar o valor e o potencial da informação detida pelo Estado.<br />

Os dados abertos passaram a ser mais uma peça num debate mais global sobre a gestão e<br />

organização de todos os dados do setor público. Ainda assim, o princípio de base das iniciativas<br />

de dados abertos, um spin-off do movimento open source (pela abertura e partilha de<br />

software de código aberto), é cada vez mais atual e pertinente.<br />

Este princípio, de que as administrações públicas devem abrir os dados que produzem ou<br />

gerem para que a sociedade os possa reutilizar, seja para fins de transparência ou para gerar<br />

valor económico, mantém-se como uma extensão do direito fundamental que os cidadãos<br />

detêm de aceder aos documentos administrativos. Acresce ainda que, além do valor associado<br />

à transparência, é-lhes reconhecido um enorme potencial económico e social, no contexto de<br />

uma nova economia digital com baixos custos de desenvolvimento e novos mercados, na qual a<br />

inovação é fator diferenciador.<br />

Dados abertos e dados públicos<br />

Mais do que nunca, é importante reforçar que falar de abertura dos dados da Administração<br />

Pública não significa abrir todos os dados públicos. O movimento pelos dados abertos não<br />

se preocupa em abrir, de forma cega e sem critério, toda a informação do Estado. Existe, no<br />

entanto, um vasto manancial de dados públicos que, já sendo de acesso livre para qualquer<br />

cidadão, poderão estar disponíveis em linha.<br />

O que distingue os dados abertos dos dados públicos é que os primeiros estão libertos<br />

de qualquer restrição à sua utilização. Isto significa que qualquer cidadão, organização ou<br />

empresa pode utilizar estes dados — sem pedir autorização prévia — para criar as aplicações ou<br />

plataformas que pretender. Pode trabalhar, editar ou cruzar esses dados com outra informação,<br />

e, se assim o entender, lucrar com isso.<br />

Esta possibilidade será alcançada à medida que a Administração Pública for incorporando os<br />

princípios de abertura por defeito nos seus sistemas e aplicações, como tem sido feito noutros<br />

países, como França. Significa mudar o paradigma e, em vez de passarmos a perguntar se<br />

certos dados devem ser abertos, passar a perguntar se devem ser fechados.<br />

A preocupação de quem trabalha em dados abertos é que essa informação esteja disponível,<br />

organizada e licenciada de forma a facilitar a sua reutilização, sem restrições e para vários


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018<br />

5<br />

tipos de fins, incluindo o comercial. É esse<br />

o principal propósito de plataformas como<br />

o dados.gov, o catálogo nacional de dados<br />

abertos, ou de outros portais semelhantes.<br />

Estas plataformas não pretendem ser o<br />

produto final destas iniciativas, mas sim uma<br />

porta de entrada para que os cidadãos possam<br />

encontrar os dados de que necessitem, e, por<br />

outro lado, permitir à Administração Pública<br />

inventariar, catalogar e disponibilizar estes<br />

dados de forma útil.<br />

Abrir dados para quem?<br />

A abertura de dados traz enormes vantagens<br />

para vários tipos de reutilizadores. Beneficia<br />

o cidadão, que passa a poder aceder aos dados<br />

de forma sistematizada, criando visualizações<br />

sobre esses dados e extraindo deles<br />

informação ou conhecimento que poderá<br />

partilhar com quem entender.<br />

São também um filão interessante para<br />

pequenas ou grandes empresas, que podem<br />

oferecer produtos e serviços complexos,<br />

integrando informação pública, tal como<br />

dados meteorológicos ou dados relativos a<br />

infraestruturas públicas, entre outros.<br />

Permitem que as universidades e os<br />

investigadores possam olhar para novos<br />

tipos de utilização e criação de valor dos<br />

dados públicos, explorando, por exemplo,<br />

o potencial de utilização de dados semânticos.<br />

Reforçam também os mecanismos ao dispor<br />

dos jornalistas e ativistas e o papel de<br />

algumas organizações não governamentais,<br />

suportando a investigação jornalística baseada<br />

em factos e a monitorização de práticas<br />

transparentes na sociedade.<br />

Por fim, beneficiam a própria<br />

Administração Pública, que passa a poder<br />

aceder a dados que, nalguns casos, ainda<br />

têm de ser acedidos através de protocolos ou<br />

desenvolvimentos especiais, dado estarem<br />

alojados em sistemas ou áreas governativas<br />

diferentes.<br />

Mais além da abertura de dados<br />

Existe uma estreita ligação entre a<br />

Administração Aberta (Open Government)<br />

e o movimento pelos dados abertos, pelo<br />

que podemos antecipar que o futuro Plano<br />

de Ação Nacional de Administração Aberta,<br />

a ser preparado no âmbito da participação<br />

portuguesa na Open Government Partnership<br />

(OGP), trará iniciativas de valor para esta<br />

área.<br />

No entanto, conforme referimos no início<br />

do texto, a área dos dados abertos estende-<br />

-se para outros domínios, sendo cada vez<br />

mais relevante pensá-la estrategicamente<br />

na sua ligação às políticas TIC transversais à<br />

a área dos dados abertos estende-se para outros<br />

domínios, sendo cada vez mais relevante pensá-<br />

-la estrategicamente na sua ligação às políticas TIC<br />

transversais à Administração Pública


6<br />

Opinião André Lapa<br />

Administração Pública ou à transformação<br />

digital dos nossos serviços públicos,<br />

o que explica a inclusão de políticas de<br />

dados abertos no Eixo II — Inovação e<br />

competitividade da Estratégia TIC2020<br />

da Administração Pública.<br />

Iniciativas como o Catálogo de Serviços<br />

Públicos, em desenvolvimento pela Agência<br />

para a Modernização Administrativa<br />

(<strong>AMA</strong>), ou o concurso de Ciência dos Dados<br />

e Inteligência Artificial, lançado este ano<br />

pela Fundação para a Ciência e Tecnologia,<br />

demonstram que é cada vez mais importante<br />

desenvolver uma perspetiva geral sobre<br />

as políticas dos dados detidos pelo Estado,<br />

sejam públicos, abertos ou privados.<br />

Esta perspetiva conjuga-se com vários<br />

dos princípios que surgiram com a<br />

abertura de dados públicos: a importância<br />

da transparência, o reconhecimento do<br />

valor da informação detida pelo Estado e a<br />

importância do setor público ir ao encontro<br />

das necessidades dos empreendedores, dos<br />

ativistas, dos jornalistas, dos investigadores<br />

e de todos aqueles que queiram criar valor a<br />

partir de informação pública.<br />

Partindo dela, conseguimos potenciar<br />

outras iniciativas da transformação digital, seja<br />

pela aplicação do «once only principle» no<br />

desenvolvimento de serviços públicos ou pela<br />

criação de plataformas abertas públicas, que<br />

podem ser utilizadas por entidades públicas<br />

ou privadas (como no caso do novo dados.gov)<br />

para inovar e criar valor para todos: cidadãos,<br />

empresas e Administração Pública.<br />

André Lapa<br />

Colaborador da <strong>AMA</strong><br />

CRIAÇÃO DE VALOR DOS DADOS ABERTOS<br />

Administração<br />

Pública<br />

Portal<br />

de Dados Reutilizadores Sociedade<br />

Transparência, Informação, Confiança, Responsabilização


8<br />

Notícias<br />

«Administração Pública<br />

Portuguesa no Século XXI:<br />

Desafios do Governo Digital»<br />

Este foi o tema a que se subordinou a conferência que teve lugar no Instituto Superior de<br />

Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa a 29 de maio.<br />

Um evento onde estiveram em foco as mais recentes estratégias de modernização e<br />

simplificação administrativas que têm vindo a ser definidas pela Administração Pública, tendo<br />

sido igualmente debatidos exemplos concretos de inovação, como sejam produtos e serviços<br />

disponibilizados aos cidadãos e às empresas.<br />

Também a sustentabilidade, a interoperabilidade, a transparência e a segurança foram<br />

temas sob escrutínio, tendo saído vincada a necessidade de uma cidadania mais ativa, mais<br />

participada, mais exigente e mais colaborativa.<br />

A conferência contou com intervenção de abertura da Ministra da Presidência e da<br />

Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, à qual se seguiram os painéis<br />

«Perspetivas do digital na Administração Pública portuguesa» e «Estratégias da transformação<br />

digital no setor público em Portugal». Intervieram neste último representantes de diversas<br />

entidades públicas nacionais, incluindo a Agência para a Modernização Administrativa, na<br />

pessoa do seu Presidente, Pedro Silva Dias.<br />

Plataforma<br />

Gostaria de conhecer os custos associados ao internamento de pacientes numa unidade<br />

hospitalar do Serviço Nacional de Saúde? Qual a percentagem de notas positivas na prova de<br />

Matemática do 9.º ano? Qual o custo anual por cada aluno do ensino superior? Qual o custo<br />

diário por recluso em estabelecimento prisional?<br />

Estas são apenas algumas das informações disponibilizadas na plataforma online One Value,<br />

disponível em onevalue.gov.pt, uma iniciativa transversal a diversas áreas governativas e que<br />

se destina a divulgar informação relativa a investimento público em respostas sociais e políticas<br />

públicas.<br />

Formalmente apresentada a 20 de junho, e resultando de um protocolo entre o Estado<br />

português e a Fundação Calouste Gulbenkian, contempla informações relativas a áreas como<br />

a proteção social, educação, saúde, emprego e justiça, identificadas como prioritárias no<br />

respeitante a financiamento de políticas públicas. Disponibilizando dados quantitativos e<br />

qualitativos, são divulgados, para cada área, indicadores-chave tidos por relevante e custos<br />

unitários por tipologia de despesa. É também disponibilizada uma «calculadora do potencial de<br />

poupança», que possibilita a avaliação de ganhos de eficiência na implementação de projetos<br />

de inovação social.<br />

Futuramente, a coordenação da plataforma ficará sob responsabilidade da Estrutura de<br />

Missão Portugal Inovação Social, em articulação com cada uma das áreas governativas.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018<br />

9<br />

Workshop S<strong>AMA</strong>2020<br />

A 17 de maio, o auditório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa, serviu de<br />

palco para o workshop de abertura de candidaturas ao programa S<strong>AMA</strong>2020 (Sistema de Apoio<br />

à Modernização e Capacitação da Administração Pública).<br />

A sessão pública de divulgação e esclarecimento contou com perto de 190 participantes<br />

e com intervenções de representantes do programa COMPETE2020, da Agência para a<br />

Modernização Administrativa, do Instituto para a Mobilidade e Transportes, dos Serviços<br />

Partilhados do Ministério da Saúde e da Universidade de Aveiro.<br />

O S<strong>AMA</strong>2020 é um sistema de financiamento integrado no programa COMPETE2020,<br />

visando apoiar iniciativas e investimentos relacionados com a melhoria do acesso às tecnologias<br />

de informação e comunicação, com o reforço da capacidade institucional das entidades<br />

públicas e com a melhoria da eficiência da Administração Pública. A dotação financeira<br />

disponível é de 32 milhões de euros.


10<br />

Entrevista


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 11<br />

Ana Teresa Lehmann<br />

Secretária de Estado<br />

da Indústria<br />

Ana Teresa Lehmann tem uma vasta experiência ligada à<br />

academia, à consultoria a grandes organizações internacionais e à<br />

gestão empresarial e pública. Tendo sido presidente da European<br />

International Business Academy, entre outros cargos de relevo, é<br />

autora de diversas obras e de numerosas publicações em revistas<br />

científicas, sobretudo nos domínios da internacionalização, da<br />

inovação e da política industrial.<br />

Ocupando o cargo desde julho de 2017, tem em mãos um cenário<br />

de acentuada transformação do tecido económico e industrial.<br />

O programa Indústria 4.0 ou a Estratégia Nacional para o<br />

Empreendedorismo — Startup Portugal são algumas das iniciativas<br />

com que se procura responder aos desafios da transformação<br />

digital. Sobretudo, importa apelar à reinvenção da economia<br />

nacional e dos seus agentes. O programa Simplex+, o concurso<br />

GovTech, a Web Summit ou os investimentos naquilo que designa<br />

por «indústria do futuro» poderão contribuir para esse objetivo.<br />

Tem-se verificado um forte apelo à transformação digital da sociedade portuguesa,<br />

registando-se algumas estratégias e projetos inovadores em distintos setores<br />

económicos. No setor industrial, que projetos destacaria?<br />

Há diversos projetos que estão a contribuir para este processo. As empresas e<br />

diversas entidades coletivas que as representam, desde associações empresariais<br />

a clusters, passando por outros agentes, estão muito sensíveis e mobilizadas para<br />

o grande desafio e, sobretudo, para a enorme oportunidade que a transformação<br />

digital representa. No âmbito de projetos da Indústria 4.0, o programa de referência<br />

do Governo de Portugal para apoiar a transição das empresas para a digitalização,<br />

poderei, por exemplo, referir o FOOture 4.0, ligado à indústria do calçado,<br />

— programa integrado de modernização das fábricas, de capacitação, entre outros<br />

aspetos — e o projeto mobilizador do Produtech — cluster das tecnologias de<br />

produção avançada, com aplicabilidade transversal aos diversos setores industriais.<br />

No âmbito de outra área prioritária, a de fomentar a difusão de tecnologias por um<br />

número significativo de empresas, sobretudo pequenas e médias empresas [PME] e<br />

de estimular a experimentação, destaco as learning factories, por exemplo através da<br />

Academia Siemens, com o I-Experience 4.0 Center e o Building Automation Center<br />

para o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas. A Siemens Portugal acabou


12<br />

Entrevista Ana Teresa Lehmann<br />

A tradição constitui um<br />

ativo estratégico num<br />

mundo globalizado,<br />

em que o consumidor<br />

moderno exige<br />

personalização<br />

de anunciar um investimento de 5 milhões de<br />

euros em projetos em Portugal para acelerar<br />

a digitalização. São também de realçar os<br />

contributos de outras empresas âncora,<br />

como os da Bosch, da Altice ou da Huawei.<br />

O Instituto de Soldadura e Qualidade [ISQ] é<br />

uma das outras entidades que também tem<br />

vindo a lançar projetos de elevado potencial<br />

demonstrador e difusor, como o projeto<br />

PME Digital e o SIM i4.0, alinhados com a<br />

estratégia do Governo, e que, dada a sua<br />

relevância para o nosso tecido empresarial,<br />

contam com financiamento público.<br />

Acredito fortemente na importância das<br />

ações de demonstração, pelo que temos<br />

vindo a dinamizar diversos Open Days com o<br />

IAPMEI — Agência para a Competitividade e<br />

Inovação, e com a COTEC Portugal —<br />

— Associação Empresarial para a Inovação, em<br />

que boas práticas de determinadas empresas<br />

selecionadas são partilhadas com um vasto<br />

conjunto de PME.<br />

A outro nível, destaco também a prioridade<br />

conferida à criação de Digital Innovation<br />

Hubs. Em Portugal, temos já dois mapeados<br />

pela Comissão Europeia, o PRODUTECH e o<br />

i-MAN Norte Hub, nas áreas de tecnologias<br />

de produção avançadas, e há outros em<br />

desenvolvimento, desde a agricultura de<br />

precisão até à «Internet das coisas». Fixámos<br />

como objetivo ter dez Digital Innovation<br />

Hubs — espaços/plataformas de difusão de<br />

conhecimento e tecnologias, de acesso a<br />

serviços digitais — lançados até ao final de<br />

2018 em diversas áreas da indústria.<br />

A rápida alteração do mercado de trabalho<br />

e o ritmo da inovação tecnológica obrigam<br />

necessariamente a um reposicionamento<br />

de setores industriais tradicionais. Que<br />

estratégias têm vindo a ser adotadas pelo<br />

Governo e pelos agentes económicos para<br />

fazer face a este novo paradigma?<br />

A indústria portuguesa, que deve estar<br />

orgulhosa da sua rica e diversificada<br />

tradição, está a inovar e a adotar as<br />

tecnologias 4.0 de forma proativa. A<br />

tradição constitui um ativo estratégico num<br />

mundo globalizado, em que o consumidor<br />

moderno exige personalização e sentir que<br />

obtém produtos especiais, feitos para si e<br />

diferenciadores. E os setores com tradição<br />

são dos mais inovadores em Portugal.<br />

Vejam-se os casos dos têxteis técnicos, da<br />

metalomecânica, dos moldes, do calçado, do<br />

agroindustrial. Cada vez mais automatizada,<br />

digital e robotizada, nunca criou tantas<br />

oportunidades de emprego, mostrando<br />

que as máquinas são uma extensão e um<br />

complemento dos recursos humanos.<br />

Para esta transformação, desde logo, têm<br />

sido fundamentais as ações do Governo<br />

no âmbito da iniciativa Indústria i4.0, do<br />

Programa Interface — que aproxima centros<br />

tecnológicos, universidades e empresas e<br />

apoia a eficiência coletiva —, mas também<br />

as ações de formação e capacitação na área<br />

digital lançadas no contexto do programa<br />

INCODE2030. Um conjunto de medidas que,<br />

em articulação, estão a impactar a sociedade<br />

portuguesa a vários níveis.<br />

No setor empresarial, contamos também<br />

com projetos mobilizadores, por parte de<br />

clusters e de associações empresariais, e<br />

importantes projetos com grande potencial<br />

demonstrador de empresas âncora, como as<br />

que referi, entre outras.<br />

O programa Indústria 4.0, lançado no início<br />

de 2017, estrutura-se em diversos eixos de<br />

ação. Que balanço poderá ser efetuado das<br />

medidas já executadas e quais os eixos em


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 13<br />

que considera que se têm vindo a registar<br />

maiores progressos?<br />

Foi para apoiar a inovação e transformação<br />

da nossa indústria e preparar o futuro que o<br />

Governo lançou há pouco mais de um ano a<br />

estratégia para a Indústria 4.0, um programa<br />

a quatro anos liderado pela Secretaria de<br />

Estado da Indústria, no âmbito do Ministério<br />

da Economia. Este é um programa com seis<br />

eixos de atuação, desde a capacitação dos<br />

recursos humanos até à internacionalização<br />

das empresas, e inclui 64 medidas definidas<br />

com o apoio de mais de 120 entidades<br />

representativas de diversas áreas e setores. O<br />

modelo de governação adotado é inovador,<br />

materializado numa excelente parceria<br />

com a COTEC Portugal, que tem apoiado<br />

a dinamização do programa, através da<br />

Plataforma Digital Portugal i4.0 e do Comité<br />

Estratégico para a Indústria 4.0.<br />

Passou pouco mais de um ano e apraz-me<br />

registar que já contamos com mais de 80%<br />

dessas medidas executadas ou em execução,<br />

o que é um resultado assinalável em termos<br />

de implementação prática do programa.<br />

E estamos a lançar a execução das poucas<br />

medidas que falta colocar no terreno, que<br />

dependem sobretudo de entidades externas.<br />

E há muitas outras em plena execução e<br />

outras já executadas, que consubstanciam<br />

casos de importante e ágil coordenação<br />

interministerial e interinstitucional, e estreita<br />

cooperação com o setor privado, em que o<br />

Estado atua como incentivador e catalisador,<br />

num programa de trabalho conjunto e<br />

consistente. Saliento os avanços na esfera<br />

da capacitação de recursos humanos e da<br />

cooperação tecnológica, pela sua importância<br />

e transversalidade. O grande desafio agora é<br />

avançar com a digitalização em larga escala<br />

das PME, que são a esmagadora maioria<br />

do nosso tecido empresarial, e assegurar<br />

que as pessoas têm as competências para<br />

esta transição. A transformação digital é<br />

mais do que um fenómeno tecnológico — é<br />

um fenómeno intrinsecamente humano e


14<br />

Entrevista Ana Teresa Lehmann<br />

social. Sem recursos humanos qualificados e<br />

capacitados não há transformação digital.<br />

De entre as diversas medidas Simplex<br />

concebidas para simplificar a vida do setor<br />

industrial, quais destacaria?<br />

Considerando o foco da Secretaria de Estado<br />

da Indústria, a criação do Espaço Empresa é<br />

muito relevante. O projeto Espaço Empresa<br />

é uma iniciativa conjunta do Ministério da<br />

Presidência e Modernização Administrativa<br />

e do Ministério da Economia, em que a<br />

Secretaria de Estado da Indústria se insere,<br />

em estreita articulação com o Ministério dos<br />

Negócios Estrangeiros. Inicialmente designado<br />

no Programa Simplex+ 2016 como «Gabinete<br />

do Investidor», procurou-se desenvolver<br />

um projeto mais vasto de criação de uma<br />

rede única, multicanal, de atendimento<br />

empresarial — a «Rede Nacional de Apoio<br />

às Empresas e ao Investimento» ou «Rede<br />

Espaço Empresa».<br />

O desenvolvimento do Espaço Empresa<br />

depende da qualidade de entidades parceiras<br />

na sua formulação e operacionalização.<br />

É liderado operacionalmente pelo<br />

IAPMEI, tutelado pela Secretaria de Estado<br />

da Indústria, enquanto entidade pública<br />

especialmente vocacionada para o apoio<br />

às empresas, assumindo a Agência para<br />

Foi para apoiar a inovação e transformação da<br />

nossa indústria e preparar o futuro que o Governo<br />

lançou há pouco mais de um ano a estratégia para a<br />

Indústria 4.0


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 15<br />

a Modernização Administrativa [<strong>AMA</strong>],<br />

especializada na disponibilização de serviços<br />

eletrónicos às empresas e cidadãos e na<br />

gestão de redes de atendimento presencial de<br />

proximidade, e a Agência para o Investimento<br />

e Comércio Externo de Portugal [AICEP],<br />

especializada na captação de investimento,<br />

no apoio ao investimento direto português no<br />

estrangeiro [IDPE] e na internacionalização<br />

das empresas portuguesas, a qualidade de<br />

entidades parceiras na sua formulação e<br />

operacionalização.<br />

É, portanto, uma rede de pontos únicos de<br />

atendimento às empresas, através do canal<br />

presencial, numa lógica de proximidade e de<br />

atendimento personalizado, e canais online<br />

e telefónico. O atendimento multicanal<br />

permite o acompanhamento do empresário<br />

ao longo do ciclo de vida do seu investimento.<br />

O Espaço Empresa online é uma medida<br />

do Simplex+ 2018, que complementará,<br />

desta forma, a rede física que se estabelece<br />

localmente.<br />

Facilita os processos num único ponto<br />

de contacto, proporcionando um catálogo<br />

de mais de uma centena de serviços,<br />

beneficiando assim o tecido empresarial<br />

e a economia dos diferentes locais onde<br />

se instala. Logo na primeira fase, já 33<br />

municípios aderiram: 21 individuais e os 12<br />

que constituem a Comunidade Intermunicipal<br />

do Oeste. Registamos o interesse de mais um<br />

importante conjunto de municípios em aderir<br />

a esta iniciativa, bem como de diversos outros<br />

ministérios e entidades em agregar serviços ao<br />

vasto catálogo já disponível.<br />

A revisão do Código de Propriedade<br />

Industrial, designadamente no que respeita<br />

à proteção de patentes, poderá incentivar<br />

a criação de novas startups, com ideias e<br />

projetos inovadores?<br />

A revisão do Código de Propriedade Industrial<br />

irá simplificar os processos administrativos<br />

de forma a facilitar a proteção de invenções e<br />

marcas por parte das empresas, aproximando<br />

também a legislação entre Estados-membros.<br />

A transformação digital<br />

é mais do que um<br />

fenómeno tecnológico<br />

— é um fenómeno<br />

intrinsecamente humano<br />

e social. Sem recursos<br />

humanos qualificados<br />

e capacitados não há<br />

transformação digital.<br />

Esta simplificação está em linha com o<br />

esforço que este Governo tem feito para<br />

simplificar processos, pelo que é mais<br />

uma notícia positiva. Quer para novos<br />

empreendedores quer para empresários<br />

já estabelecidos.<br />

A Secretaria de Estado da Indústria associou-<br />

-se ao concurso GovTech, desenvolvido para<br />

incentivar as startups nacionais a apresentar<br />

propostas capazes de contribuir para<br />

alcançar os 17 objetivos de desenvolvimento<br />

sustentável definidos pela ONU. Qual a<br />

relevância desta iniciativa?<br />

É uma iniciativa que mereceu desde o<br />

primeiro momento todo o nosso apoio,<br />

por acreditarmos que tem um conceito<br />

inovador e muito relevante para a sociedade<br />

contemporânea, numa ótica holística de<br />

sustentabilidade económica, ambiental<br />

e social. O foco na procura de soluções<br />

globais atraiu-nos sobremaneira, bem como<br />

o desafio ser feito às startups e exigir que<br />

estas concorram já com base em produtos e<br />

serviços concretos, o que denota orientação<br />

para os resultados e um conceito robusto e<br />

particularmente promissor. Com o GovTech,<br />

estamos a apoiar startups, numa fase inicial,<br />

que estão a desenvolver produtos e serviços<br />

que estejam a contribuir positivamente<br />

para alcançarmos os 17 Objetivos de<br />

Desenvolvimento Sustentável que as Nações<br />

Unidas definiram na Agenda 2030. Mais do


16<br />

Entrevista Ana Teresa Lehmann<br />

que isso, estamos também a incentivar<br />

aspirantes a empreendedores a olharem<br />

para os grandes desafios nas áreas sociais<br />

e ambientais, a identificarem problemas e<br />

a usarem todo o seu talento e experiência<br />

para resolverem estes desafios. Nos maiores<br />

problemas do mundo também estão algumas<br />

das maiores oportunidades, sendo que<br />

âmbitos como os relacionados com energia,<br />

saúde e mobilidade, entre outros, provam<br />

isso mesmo.<br />

No processo de captação de investimento<br />

direto estrangeiro tem-se verificado uma<br />

certa focalização na atração de empresas<br />

tecnológicas, sendo a Cisco Systems ou a<br />

Google alguns dos nomes mais sonantes.<br />

Considera que a realização da Web<br />

Summit em Portugal desempenha um<br />

papel importante na atração desse tipo de<br />

investimentos e na renovação da imagem<br />

do país?<br />

A atração de empresas tecnológicas como<br />

as referidas tem na sua base um conjunto de<br />

determinantes e motivações, desde logo a<br />

qualidade do nosso talento, complementada<br />

por um conjunto de outras vantagens que<br />

configuram uma proposta de valor imbatível<br />

no contexto europeu.<br />

A Web Summit é um dos elementos de<br />

contexto, um dos ingredientes que tem<br />

reforçado a atratividade de Portugal e a sua<br />

afirmação como um país credível em termos<br />

de localização de investimentos intensivos<br />

em tecnologia. Em 2017, estiveram na<br />

A Web Summit é um dos<br />

elementos de contexto<br />

que tem reforçado a<br />

atratividade de Portugal<br />

e a sua afirmação como<br />

um país credível em<br />

termos de localização de<br />

investimentos intensivos<br />

em tecnologia<br />

Web Summit mais de 59 mil pessoas de 170<br />

países, entre os quais mais de 1200 oradores,<br />

1400 investidores e 2500 jornalistas. Esta forte<br />

presença de empreendedores internacionais,<br />

bem como de grandes empresas e de<br />

investidores reputados na Web Summit, em<br />

muito contribui para reforçar a imagem de<br />

Portugal como um país aberto ao negócio e<br />

ao investimento, com talento de topo a nível<br />

internacional e um ecossistema cada vez mais<br />

robusto. Sendo sem dúvida importante, a<br />

Web Summit é um elemento de um conjunto,<br />

de um todo em que o nosso país tem muito a<br />

oferecer aos investidores e empreendedores<br />

que cá se domiciliam. O ambiente que se vive<br />

hoje em dia no ecossistema de startups é<br />

também o reflexo de um caminho percorrido,<br />

de um percurso importante a diversos níveis.<br />

Nos maiores problemas do mundo também estão<br />

algumas das maiores oportunidades, sendo que<br />

âmbitos como os relacionados com energia, saúde e<br />

mobilidade, entre outros, provam isso mesmo.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 17<br />

Portugal é um país com substância, que<br />

apresenta vantagens concretas em diversos<br />

critérios de decisão de investimento. O<br />

talento português e a qualidade de vida que<br />

Portugal tem para oferecer a estrangeiros que<br />

cá se queiram fixar são ativos estratégicos<br />

que têm vindo a ser descobertos. E gostamos<br />

de ter deixado de ser o melhor segredo da<br />

Europa. O que vivemos hoje é reflexo de um<br />

conjunto de medidas de política pública, do<br />

esforço conjugado de múltiplos atores, que<br />

culminaram no momento particularmente<br />

positivo para Portugal que hoje vivemos em<br />

diversas áreas e que há que saber aproveitar e<br />

capitalizar.<br />

mobilizar mais empresas para este tipo de<br />

rede. Várias já estão a estudar e a preparar<br />

iniciativas com base neste modelo. Neste<br />

esforço de colocar Portugal num novo<br />

patamar, e numa lógica também de promoção<br />

da eficiência coletiva, acredito que os<br />

clusters poderão ter um papel mais ativo,<br />

contribuindo para a internacionalização dos<br />

setores em toda a sua abrangência, inclusive<br />

promovendo a «interclusterização» ou a<br />

fertilização cruzada entre setores, modelos<br />

e conceitos de negócio e a convergência de<br />

diversas tecnologias, com o potencial de<br />

adicionar valor que isso representa. ≤<br />

Para além dos programas e iniciativas<br />

mencionados, o que falta fazer para<br />

potencializar a marca «Portugal» no domínio<br />

industrial?<br />

A imagem do país no exterior constrói-se<br />

através da história e da tradição. Só com<br />

substância e bases concretas e sólidas há<br />

consistência e credibilidade. E com muito<br />

trabalho. Vivemos um momento muito bom<br />

para Portugal. Muitas das nossas empresas<br />

são reconhecidas internacionalmente<br />

em diferentes nichos e setores, mas é<br />

preciso ter mais escala e que as empresas<br />

existentes ganhem notoriedade no mercado<br />

internacional. É claro que temos de continuar<br />

a investir coletivamente para posicionar<br />

Portugal na área das tecnologias, não só<br />

enquanto país de produtores, mas também<br />

como localização para toda a cadeia de<br />

valor, desde a I&D até aos serviços ao<br />

consumidor final. A este nível, além da<br />

atração de investimento direto estrangeiro<br />

de prestígio, é muito importante que mais<br />

empresas portuguesas, estabelecidas ou<br />

startups, se posicionem de forma visível<br />

internacionalmente.<br />

Iniciativas como a do Clube de<br />

Fornecedores têm um grande potencial para<br />

posicionar as nossas PME nas cadeias de valor<br />

internacionais. Existe atualmente um Clube<br />

de Fornecedores da Bosch, e devemos<br />

Muitas das nossas<br />

empresas são reconhecidas<br />

internacionalmente em<br />

diferentes nichos e setores,<br />

mas é preciso ter mais escala


18<br />

Open Government<br />

Open Government<br />

Participação Portuguesa na<br />

Open Government Partnership<br />

Portugal apresenta um histórico relevante no desenvolvimento de<br />

iniciativas que visam promover a transparência da Administração<br />

Pública, diversificar os mecanismos de participação pública e fomentar<br />

a utilização das novas tecnologias para simplificar a relação entre o<br />

Estado e cidadão.<br />

Enquadram-se neste leque medidas emblemáticas como o Programa Simplex+, originalmente<br />

lançado em 2006 e que contempla já mais de mil medidas de simplificação administrativa,<br />

cocriadas com os cidadãos e com o setor privado; a obrigatoriedade da contratação pública<br />

eletrónica desde 2009, iniciativa inovadora a nível mundial; a adoção de normas abertas<br />

nos sistemas informáticos do Estado, estabelecida através da Lei n.º 36/2011, de 21 de<br />

junho; a criação do Portal Nacional de Dados Abertos, lançado em 2011 e reformulado em<br />

2018, permitindo aos cidadãos, empresas e academia aceder, estudar e (re)utilizar os dados<br />

produzidos pelo Estado; a consagração do «digital como regra», estabelecendo que os<br />

serviços públicos devem, sempre que possível, ser prestados de forma digital, fomentando<br />

os mecanismos de transparência e accountability (Decreto-Lei n.º 74/2014, de 13 de maio)<br />

e a comodidade do cidadão; o Orçamento Participativo Portugal, lançado em 2016 como o<br />

primeiro orçamento participativo de âmbito nacional do mundo e que configura um caso<br />

paradigmático de democracia participativa potenciada pela tecnologia; e o LabX — Laboratório<br />

de Experimentação da Administração Pública, criado em 2017 com o intuito de desenhar<br />

soluções inovadoras para serviços públicos com base nas necessidades dos cidadãos.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 19<br />

Também a Estratégia TIC2020 —<br />

— Estratégia para a Transformação Digital na<br />

Administração Pública, publicada em julho de<br />

2017 pela Resolução do Conselho de Ministros<br />

n.º 108/2017, contempla diversas medidas<br />

para promover a transparência do setor<br />

público, fomentar a participação dos cidadãos<br />

e garantir a inclusão de diferentes segmentos<br />

da população.<br />

Neste contexto, foi com naturalidade que<br />

Portugal formalizou, em dezembro de 2017, a<br />

sua adesão à Open Government Partnership<br />

(OGP), uma iniciativa multilateral lançada<br />

em 2011 pelos Chefes de Estado e de Governo<br />

de oito países (África do Sul, Brasil, Estados<br />

Unidos da América, Filipinas, Indonésia,<br />

México, Noruega e Reino Unido) com o<br />

propósito de promover a transparência,<br />

estimular a participação pública e combater<br />

a corrupção. A coordenação da participação<br />

Portuguesa na OGP é assegurada pela Agência<br />

para a Modernização Administrativa (<strong>AMA</strong>),<br />

que se constitui como ponto focal nacional<br />

para este processo.<br />

A entrada de Portugal nesta iniciativa<br />

de referência no âmbito da Administração<br />

Aberta, que congrega atualmente um<br />

total de 76 países, distribuídos pelos cinco<br />

continentes, reflete o reconhecimento<br />

internacional dos progressos alcançados pelo<br />

nosso país no domínio da Administração<br />

Aberta e coloca simultaneamente novos<br />

desafios, designadamente a preparação, até<br />

final de 2018, de um Plano de Ação Nacional<br />

de Administração Aberta, que deverá ser<br />

cocriado com a sociedade civil através de uma<br />

consulta pública.<br />

Este Plano será elaborado, executado<br />

e supervisionado pela Rede Nacional de<br />

Administração Aberta, um fórum criado<br />

em maio de 2018 e que integra as seguintes<br />

entidades da Administração Pública e da<br />

Sociedade Civil, que aceitaram prontamente o<br />

convite endereçado pela <strong>AMA</strong>: Ministério da<br />

Presidência e da Modernização Administrativa;<br />

Autoridade Tributária; Provedor de Justiça;<br />

Comissão de Acesso aos Documentos<br />

Administrativos; Conselho de Reitores das<br />

Universidades Portuguesas; Associação Nacional<br />

de Jovens Empresários; Associação Nacional<br />

de Municípios Portugueses; Plataforma de<br />

Associações da Sociedade Civil; Transparência e<br />

Integridade; e a própria <strong>AMA</strong>, que coordena os<br />

trabalhos.<br />

A primeira reunião da Rede decorreu no<br />

dia 15 de junho, no Palácio Foz, em Lisboa, e<br />

contou com a participação de peritos da OGP,<br />

que partilharam exemplos concretos de boas<br />

práticas no âmbito da Administração Aberta, o<br />

que contribuiu para uma melhor integração de<br />

todos os participantes com a recente iniciativa.<br />

Do mesmo modo, foram debatidos o modelo de<br />

funcionamento do próprio fórum e possíveis<br />

linhas de ação para o desenvolvimento do<br />

Plano de Ação Nacional de Administração<br />

Aberta, firmando-se desde logo as bases para<br />

uma plataforma de diálogo e cocriação que se<br />

pretende de abrangência nacional e com canais<br />

de participação presencial e online.<br />

Toda esta informação poderá ser consultada,<br />

em breve, numa página de Internet que será<br />

criada para o efeito e que poderá ser acedida a<br />

partir do Portal de Cidadão, centralizando toda<br />

a informação relativa a estas matérias. Esta<br />

página disponibilizará ferramentas próprias<br />

para fomentar a participação da sociedade<br />

civil, recolher os contributos dos cidadãos e<br />

garantir o subsequente feedback por parte da<br />

Administração Pública.<br />

A próxima Conferência Global da OGP terá<br />

lugar na Geórgia, entre os dias 17 e 19 de julho,<br />

e contará com a participação da <strong>AMA</strong>, que<br />

apresentará um estudo de caso sobre a Rede<br />

de Espaços Cidadão e o modo como o referido<br />

projeto de atendimento digital assistido<br />

contribui quer para aumentar a confiança dos<br />

cidadãos na utilização de serviços públicos<br />

digitais quer para promover a literacia digital. ≤


20<br />

Projeto <strong>AMA</strong><br />

Portal de dados abertos da Administração Pública<br />

DOCUMENTAÇÃO DADOS ABERTOS NOTÍCIAS CONTACTOS<br />

ABRIR, PARTILHAR, CONSTRUIR<br />

O catálogo central de dados abertos em Portugal<br />

Bem-vindo ao dados.gov +, a versão melhorada do portal nacional de dados abertos. Caso já seja um reulizador de dados, consulte<br />

a área de Documentação ou entre em contato connosco.<br />

VER DADOS<br />

dados.gov<br />

Novo portal nacional de dados<br />

abertos<br />

Está já disponível a nova versão do portal dados.gov, que funcionará<br />

como catálogo central de dados abertos da Administração Pública.<br />

Totalmente renovado, resulta da aplicação das melhores práticas<br />

internacionais no domínio das plataformas de dados públicos,<br />

incorporando soluções inovadoras no respeitante a navegação,<br />

integração de dados e participação de todas as partes interessadas.<br />

Incentivando a partilha e reutilização de dados de interesse público,<br />

a plataforma encontra-se aberta a todos os tipos de utilizadores.<br />

Em nome da transparência e da Administração Aberta.<br />

Disponibilizado na sua versão renovada em início de maio, o dados.gov é o portal de dados<br />

abertos da Administração Pública.<br />

Substituindo a plataforma homónima, disponibilizada desde 2012, o número de conjuntos<br />

de dados (datasets) disponíveis é agora de 1695, comparando com os 786 da versão anterior,<br />

representando um aumento de 113%. Neste momento, é disponibilizada informação de 60<br />

organismos, um aumento de 125% face aos 26 organismos da versão anterior.<br />

Assumindo um compromisso de raiz com os princípios da transparência, da participação e<br />

da colaboração, institui-se como o catálogo de dados abertos da Administração Pública.<br />

Tendo por base a plataforma udata, desenvolvida pela ETALAB — unidade de missão do<br />

Governo francês criada para promover a Administração Aberta e a partilha de dados abertos,


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 21<br />

Tendo por base a plataforma udata,<br />

desenvolvida pela ETALAB – unidade de missão do<br />

Governo francês criada para promover a<br />

Administração Aberta<br />

esta centralizada no domínio data.gouv.fr —,<br />

o dados.gov apresenta-se como o catálogo<br />

central de dados abertos de Portugal. É<br />

desenvolvido e gerido pela Agência para a<br />

Modernização Administrativa, I.P. (<strong>AMA</strong>),<br />

sendo disponibilizado em open source.<br />

O dados.gov apresenta melhorias<br />

substanciais face à versão anterior, tanto ao<br />

nível da navegação e da usabilidade quanto<br />

no respeitante à estrutura de conteúdos.<br />

Assumindo como propósitos fundamentais<br />

a agregação, a referenciação e o alojamento<br />

de dados abertos apresenta-se agora com<br />

robustas funcionalidades de interação com<br />

outros portais e catálogos de dados.<br />

Pretende igualmente incentivar e promover<br />

a reutilização de dados, bem como agregar e<br />

veicular informação geral sobre dados abertos<br />

e Administração Aberta.<br />

A promoção da reutilização é precisamente<br />

uma das marcas distintivas face aos designados<br />

«dados públicos» já disponibilizados em<br />

diversas plataformas eletrónicas públicas, por<br />

iniciativa dos organismos e entidades ou por<br />

determinação legal.<br />

Encontra-se aberto a qualquer utilizador<br />

que, em nome próprio ou de uma entidade<br />

ou organização pública ou privada, pretenda<br />

disponibilizar conjuntos de dados de interesse<br />

público.<br />

O objetivo maior do dados.gov, bem como<br />

o de qualquer portal público de dados abertos,<br />

passa por facilitar o acesso aos dados e a sua<br />

reutilização, com vista à criação de valor para<br />

um amplo leque de grupos e setores sociais:<br />

cidadãos, instituições governamentais, setor<br />

empresarial, investigadores e comunicação<br />

social, academia ou organizações não-<br />

-governamentais, entre outros perfis de<br />

utilizadores.<br />

As temáticas disponíveis englobam<br />

praticamente todas as áreas governativas<br />

(Ambiente, Finanças, Administração Pública,<br />

Saúde, Educação…), nelas não se esgotando.<br />

Para esse efeito, contribui também o aumento<br />

expressivo da informação oriunda do Instituto<br />

Nacional de Estatística.<br />

Abrir, partilhar, construir<br />

Como verdadeiro portal de dados abertos,<br />

o dados.gov pretende promover todas<br />

as operações e interações suscetíveis<br />

de acrescentar valor à informação<br />

disponibilizada. Neste sentido, encontram-<br />

-se contempladas múltiplas operações de<br />

carregamento e de tratamento de dados:<br />

• Integração e carregamento: qualquer<br />

cidadão ou organização pode registar-se<br />

no dados.gov e publicar dados que sejam<br />

considerados de interesse público. Assim<br />

que a conta estiver criada, bastará escolher<br />

a opção «contribuir» e caraterizar o<br />

conjunto de dados a carregar.<br />

Cada conjunto de dados poderá ter mais<br />

do que um recurso associado, como<br />

sejam ficheiros de distinto formato.<br />

A multiplicação de formatos para um<br />

mesmo conjunto de dados é precisamente<br />

identificado como um fator promotor e<br />

facilitador da reutilização.<br />

• Indexação: em alternativa ao<br />

carregamento de dados, qualquer<br />

utilizador poderá optar pela sua<br />

indexação, bastando para o efeito<br />

introduzir um URL que remeta para a<br />

origem dos dados. Esta funcionalidade<br />

é recomendada para organismos que<br />

tradicionalmente disponibilizem os seus


22<br />

Projeto <strong>AMA</strong><br />

A promoção da<br />

reutilização é<br />

precisamente uma das<br />

marcas distintivas<br />

face aos designados<br />

«dados públicos»<br />

ficheiros de dados nas suas próprias<br />

páginas ou portais web. Em tal caso, a<br />

gestão dos dados será invariavelmente<br />

efetuada na fonte de origem.<br />

• Metainformação: no caso de um organismo<br />

possuir os seus próprios portais ou canais<br />

de dados abertos, o processo de publicação<br />

poderá ser efetuado através de sistema<br />

coletor de dados (data harvester), que<br />

recolherá a metainformação em causa<br />

de forma regular e completamente<br />

automatizada. A configuração dessa<br />

funcionalidade coletora é efetuada pela<br />

<strong>AMA</strong>, com a colaboração da entidade<br />

sempre que necessário.<br />

• Reutilização: este é um dos principais<br />

desígnios dos portais agregadores de<br />

conjuntos de dados abertos provenientes<br />

de distintas fontes. O cruzamento e<br />

reagregação de dados poderá revelar-<br />

-se benéfico para amplos setores sociais,<br />

que, de outro modo, teriam de recorrer<br />

a múltiplas fontes para obter a mesma<br />

informação, tendo de efetuar os seus<br />

próprios cruzamentos quando pretendido.<br />

• Interação e criação de valor: um dos<br />

principais objetivos da reutilização de<br />

dados é precisamente o da criação de<br />

valor, que se poderá traduzir tanto na<br />

obtenção numa única fonte pública de<br />

uma grande diversidade de informação<br />

proveniente de fontes distintas quanto<br />

na exploração para fins comerciais, entre<br />

outras possibilidades.<br />

O dados.gov, e qualquer portal de dados<br />

abertos, beneficiará da interação com a<br />

comunidade de reutilizadores, na medida<br />

em que estes se constituem como parceiros<br />

de referência no respeitante às categorias<br />

de dados a disponibilizar ou a outras<br />

melhorias passíveis de implementação.<br />

Um dos mecanismos para o efeito passa<br />

por consultas públicas aos principais<br />

interlocutores e partes interessadas<br />

no sentido, por exemplo, de ajustar a<br />

tipologia de dados a disponibilizar, entre<br />

outras sugestões de melhoria. Também<br />

a organização de eventos e workshops<br />

poderá contribuir para a promoção destas<br />

interações. A <strong>AMA</strong> constitui-se como um<br />

parceiro neste processo, disponibilizando-<br />

-se a auxiliar em quaisquer interações que<br />

venham a ser desenvolvidas.<br />

• Certificação: de modo a diferenciar os<br />

conjuntos de dados provenientes de<br />

fontes oficiais do Estado, as organizações e<br />

entidades da Administração Pública serão<br />

certificadas com um selo de «Fornecedor<br />

Oficial». A certificação pode ser requerida<br />

através do e-mail dados@ama.pt.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 23<br />

facilitar o acesso aos dados e a sua reutilização,<br />

com vista à criação de valor para um amplo leque<br />

de grupos e setores sociais<br />

Quadro legal e licença de reutilização<br />

O dados.gov resulta da aplicação do estipulado na Lei n.º 26/2016, de 12 de agosto, enquanto<br />

transposição das diretivas 2003/4/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de janeiro,<br />

e 2003/98/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de novembro.<br />

Quanto à licença de reutilização, é uma das condições essenciais para disponibilizar e<br />

publicar dados abertos. É a licença que estipula a possibilidade de reutilização dos dados para<br />

vários fins, incluindo a reutilização comercial.<br />

A licença utilizada por defeito no dados.gov é a CC BY 4.0 (Creative Commons Atrribution 4.0).<br />

Pressupondo a menção da fonte original dos dados, possibilita qualquer tipo de uso. Também<br />

é permitido carregar dados com outras licenças abertas, como, por exemplo, CCZero (Creative<br />

Commons CC0 1.0). Em casos excecionais, e quando o interesse público o justificar, poderão ser<br />

inseridos dados com licenças restritivas.<br />

Open Government Partnership<br />

O lançamento do novo dados.gov assinalou ainda a participação Portuguesa na OpenGovWeek,<br />

um evento promovido pela Open Government Partnership (OGP), à qual Portugal aderiu em<br />

dezembro de 2017, e que agregou, entre os dias 7 e 11 de maio de 2018, uma série de iniciativas<br />

internacionais sobre o tema da Administração Aberta. ≤


24<br />

Boas Práticas<br />

Câmara Municipal de Lisboa:<br />

Lisboa Aberta<br />

Entre as entidades públicas que já disponibilizam dados abertos em<br />

Portugal, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) destaca-se claramente<br />

com a sua plataforma «Lisboa Aberta», um exemplo de boas práticas<br />

daquilo que pode ser feito dentro desta temática.<br />

Paralelamente, no portal dados.gov, a autarquia da capital é o segundo<br />

maior disponibilizador de dados abertos, contando já com cerca de 300<br />

conjuntos de dados, entre os quais podemos encontrar informação ligada<br />

à história da cidade, à sua geografia, à educação ou a diversas outras<br />

atividades camarárias.<br />

A <strong>Diagrama</strong> quis saber como tem decorrido todo este processo e foi falar<br />

com João Tremoceiro, Coordenador da Política de Dados Abertos da CML.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 25<br />

mais de 300 conjuntos de dados em<br />

formatos abertos, com informação relativa<br />

à cidade de Lisboa.<br />

No site da Câmara Municipal de Lisboa (CML)<br />

é possível aceder ao portal Lisboa Aberta. O<br />

que podem os munícipes encontrar por lá?<br />

No portal Lisboa Aberta estão disponíveis<br />

mais de 300 conjuntos de dados em formatos<br />

abertos, com informação relativa à cidade<br />

de Lisboa. Tentamos disponibilizar dados<br />

em diversas áreas, que possam interessar<br />

a um público alargado de estudantes,<br />

investigadores, empreendedores e, claro, de<br />

munícipes com curiosidade nestas matérias.<br />

Os dados estão publicados em vários<br />

formatos, desde o simples xls até formatos<br />

mais complexos, como Json e GeoJson.<br />

Disponibilizamos também conjuntos de dados<br />

através de web services, sendo este o formato<br />

preferencial para os futuros conjuntos de<br />

dados que venham a integrar o portal, por<br />

serem os mais procurados pelos utilizadores<br />

que pretendem, por exemplo, desenvolver<br />

aplicações informáticas assentes, sempre<br />

que possível, em dados mais dinâmicos e em<br />

tempo real.<br />

Quais são os objetivos da autarquia com a<br />

disponibilização de dados abertos?<br />

Consideramos que a informação produzida<br />

pelos serviços, pelas empresas do universo<br />

municipal e pelos diversos atores que<br />

exercem atividade na cidade deve ser<br />

disponibilizada de forma aberta a todos<br />

os que a procurem, contribuindo para<br />

uma política de transparência, para o<br />

envolvimento dos cidadãos, para a prestação<br />

de melhores serviços e para a promoção do<br />

desenvolvimento económico.<br />

Em abril de 2016, o município aprovou<br />

a sua Carta de Princípios da Política de<br />

Dados Abertos e respetivo plano de ação. O<br />

portal Lisboa Aberta é uma das formas de<br />

concretização desta política.<br />

E o que podem os reutilizadores fazer com os<br />

dados abertos disponibilizados?<br />

Sabemos hoje que ter dados armazenados não<br />

é suficiente, sendo necessário colocar esses<br />

dados acessíveis às comunidades académica,<br />

científica e empreendedora, para que os<br />

reutilizem e devolvam soluções inovadoras<br />

que resolvam os problemas urbanos.<br />

O nosso objetivo ao disponibilizar dados<br />

abertos sobre Lisboa é estimular a criação<br />

de valor para a cidade, o desenvolvimento<br />

de produtos e serviços que promovam a<br />

qualidade de vida de quem vive, trabalha ou<br />

visita Lisboa.<br />

Quais são os parceiros da CML nesta área?<br />

E que importância têm no processo de<br />

disponibilização de dados abertos?<br />

A CML conseguiu estabelecer, até ao<br />

momento, uma excelente rede de parcerias<br />

para alimentar o portal Lisboa Aberta. Numa<br />

primeira fase, o portal apenas disponibilizou<br />

dados gerados pelos serviços municipais.<br />

Esta fase coincidiu com o início de um outro<br />

projeto estruturante para a CML, a criação do<br />

Centro Operacional Integrado (COI), através


26<br />

Boas Práticas Câmara Municipal de Lisboa<br />

do qual a CML pretende melhorar a gestão<br />

operacional de Lisboa, otimizando a sua<br />

capacidade de resposta face aos problemas<br />

que se colocam no dia a dia de quem tem a<br />

responsabilidade de gerir a cidade.<br />

Inerente à implementação do COI, e<br />

essencial para o seu funcionamento, foi<br />

desenvolvida uma plataforma informática de<br />

suporte, a Plataforma de Gestão Inteligente de<br />

Lisboa (PGIL), que permite integrar diversos<br />

sistemas de informação municipais e externos<br />

à autarquia, disponibilizando essa informação<br />

em dashboards e menus de gestão, de<br />

forma coerente e integrada. Para viabilizar a<br />

integração desta informação na PGIL foram<br />

estabelecidas parcerias com várias entidades<br />

externas, o que veio potenciar a identificação<br />

de novos conjuntos de dados a disponibilizar<br />

no portal Lisboa Aberta. As 13 entidades<br />

externas com as quais já foi celebrado<br />

protocolo de parceria e que já disponibilizam<br />

informação no portal contribuem com<br />

um total de 78 conjuntos de dados, com<br />

informação sobre várias temáticas.<br />

A par dos serviços e empresas do universo<br />

municipal, o contributo dos parceiros<br />

externos tem enriquecido muito a informação<br />

disponibilizada no portal e, do nosso ponto<br />

de vista, a publicação de dados abertos<br />

produzidos por entidades externas reforça a<br />

nossa visão de sermos o maior portal de dados<br />

sobre Lisboa.<br />

Estão previstas medidas de incentivo à<br />

disponibilização de novos conjuntos de<br />

dados?<br />

A identificação de nova informação relevante<br />

para publicação no portal é um processo<br />

contínuo. Neste sentido, a CML promove uma<br />

rede de interlocutores, interna e externa,<br />

estando previsto o estabelecimento de novas<br />

parcerias.<br />

Um fator que motivou as parcerias<br />

existentes foi a realização do workshop<br />

«Think Open Data Lisboa», que reuniu<br />

um grupo de trabalho composto por<br />

representantes dos serviços municipais e<br />

convidados externos ligados à temática dos<br />

dados abertos. Este evento permitiu criar<br />

uma rede de parceiros que colaboraram na<br />

definição do primeiro Plano de Dados Abertos<br />

para a Cidade de Lisboa, que se mantêm em<br />

contacto desde então e que contribuem para a<br />

disponibilização de novos conjuntos de dados.<br />

A PGIL vai permitir disponibilizar mais<br />

dados sobre a cidade de Lisboa, sendo por isso<br />

uma das principais fornecedoras do portal<br />

Lisboa Aberta.<br />

Que balanço faz a CML das iniciativas de<br />

dados abertos — portal, eventos, concursos —<br />

que têm vindo a promover nos últimos anos?<br />

O balanço que fazemos, desde 2016, é<br />

muito positivo. Desde que assumimos esta<br />

responsabilidade de promover a política<br />

O nosso objetivo ao<br />

disponibilizar dados<br />

abertos sobre Lisboa é<br />

estimular a criação de<br />

valor para a cidade


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 27<br />

O portal Lisboa Aberta está inserido num conceito<br />

mais abrangente, no âmbito das iniciativas de<br />

Smart Cities, o Lisboa Inteligente<br />

de dados abertos, foi possível melhorar a<br />

oferta de dados já disponíveis, com base<br />

no envolvimento dos serviços municipais e<br />

entidades externas.<br />

Foi igualmente possível identificar alguns<br />

aspetos a melhorar, bem como redirecionar o<br />

caminho a seguir.<br />

Em 2017, pela primeira vez, Lisboa<br />

levou a cabo um plano para a promoção e<br />

dinamização dos dados abertos, elaborado<br />

em parceria com os serviços municipais,<br />

entidades do universo municipal e entidades<br />

externas que se associaram ao município neste<br />

desafio.<br />

O ano de 2018 trouxe novos desafios a<br />

nível interno, com a previsão de entrada em<br />

funcionamento da PGIL, que suportará o<br />

Centro Operacional Integrado (COI) e também<br />

os serviços municipais, potenciando uma<br />

nova visão sobre a gestão da cidade e sobre os<br />

serviços prestados ao cidadão.<br />

Estamos atualmente a preparar uma nova<br />

versão do portal Lisboa Aberta, com uma<br />

abordagem mais integrada e dinâmica, que<br />

disponibilizará novas funcionalidades para<br />

uma melhor exploração dos dados. Contamos<br />

em breve poder dar mais notícias sobre o novo<br />

portal.<br />

O portal Lisboa Aberta está inserido<br />

num conceito mais abrangente, no âmbito<br />

das iniciativas de Smart Cities, o Lisboa<br />

Inteligente, do qual fazem parte outros<br />

projetos, como o Laboratório de Dados<br />

Urbanos de Lisboa. Este Laboratório reutiliza<br />

os dados do portal, desenvolve soluções de<br />

analítica — descritiva, preditiva e prescritiva —<br />

para melhorar o planeamento e gestão da<br />

cidade e produz novos dados que serão<br />

disponibilizados no portal.<br />

A Câmara Municipal de Lisboa é um dos<br />

primeiros organismos do setor público<br />

em Portugal a ter um Chief Data Officer<br />

(Coordenador da Política de Dados Abertos).<br />

O que implica essa função?<br />

O CDO tem a seu cargo a responsabilidade<br />

de coordenar, executar e gerir o Plano de<br />

Dados Abertos da cidade, em articulação com<br />

os interlocutores dos serviços e empresas<br />

municipais. Hoje, o maior desafio do CDO<br />

é assegurar a disponibilização sustentável<br />

de dados de qualidade, promovendo a<br />

transparência e a sua reutilização, tanto ao<br />

nível do município quanto junto do dinâmico<br />

ecossistema inovador da cidade. ≤


28<br />

Artigo<br />

Reutilização de dados abertos<br />

Vantagens e criação de valor<br />

Os portais de dados abertos, como é o caso<br />

do dados.gov, têm no incentivo à reutilização<br />

um dos seus principais desígnios. Os países<br />

europeus tidos por mais proativos e avançados<br />

no domínio dos dados abertos, como sejam<br />

a Irlanda, Espanha, Holanda, França ou<br />

Finlândia, destacam-se precisamente<br />

por elevados índices de reutilização.<br />

Com efeito, são muitas as vantagens<br />

da reutilização, que, no seu conjunto, se<br />

traduzem num verdadeiro ciclo de criação<br />

de valor para a informação disponibilizada.<br />

Promover a reutilização<br />

A diversificação das fontes de informação<br />

é um meio de promover a reutilização de<br />

dados, fazendo com que a mesma informação<br />

se torne acessível a públicos mais alargados e<br />

a diferentes setores sociais. Essa diversificação<br />

sairá potencializada se os conjuntos de dados<br />

forem disponibilizados numa diversidade de<br />

formatos, desde que adequados à tipologia<br />

de informação em causa.<br />

Esta multiplicação da oferta potencia<br />

o cruzamento de dados provenientes de<br />

distintas fontes, alargando o leque de<br />

possibilidades de análise e incentivando<br />

à criação de novas soluções geradoras de<br />

valor. Tais plataformas poderão mesmo<br />

constituir-se como dinamizadoras de novas<br />

reutilizações junto de públicos-alvo diversos,<br />

como sejam, entre outros, o meio académico,<br />

a comunicação social, determinados setores<br />

profissionais e sociais.<br />

Esta dinâmica ganha ainda maior projeção<br />

através de interações entre as diversas<br />

partes envolvidas no circuito de divulgação<br />

e reutilização de dados. Por exemplo,<br />

poderão ser desenvolvidas interações entre<br />

fornecedores de dados e utilizadores, como<br />

sejam mecanismos e canais para troca<br />

de comentários, pedidos de informações<br />

complementares ou propostas de melhoria.<br />

Eventos, workshops ou outros tipos de<br />

encontros presenciais são uma outra solução<br />

promotora de interações e melhorias<br />

contínuas. Ao assumirem este papel, os<br />

portais públicos de dados abertos estarão<br />

também a incentivar as reutilizações.<br />

Por outro lado, o reconhecimento da<br />

utilidade da informação pelas diferentes<br />

partes interessadas leva as entidades<br />

originalmente responsáveis pela<br />

divulgação dos dados a desenvolverem<br />

cuidados acrescidos e novas estratégias de<br />

disponibilização.<br />

Neste sentido, não basta às entidades<br />

públicas e aos portais públicos de dados<br />

abertos desenvolverem políticas e estratégias<br />

de abertura e de divulgação de dados.<br />

Idealmente, na decisão e no exercício<br />

Diversificação<br />

e acessibilidade<br />

Cruzamento<br />

e reagregação<br />

CONTRIBUTOS PARA A<br />

ADMINISTRAÇÃO ABERTA<br />

REUTILIZAÇÃO<br />

DE<br />

DADOS<br />

Interações<br />

Transparência<br />

Criação<br />

de valor


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 29<br />

de divulgação deverão já estar incluídas<br />

estratégias potenciadoras da reutilização.<br />

Criação de valor<br />

Toda esta dinâmica poderá traduzir-se<br />

num ciclo virtuoso de criação de valor:<br />

valor para os cidadãos e para a sociedade<br />

globalmente considerada, que acederão a mais<br />

e melhor informação; valor para as empresas,<br />

que poderão explorar comercialmente os<br />

dados disponibilizados; valor para a própria<br />

Administração Pública, que passará a ter<br />

uma perceção dos dados mais valorizados,<br />

desenvolvendo melhores estratégias<br />

de divulgação.<br />

Os ganhos resultam evidentes no domínio<br />

da transparência: existindo a possibilidade<br />

de um maior e mais diversificado escrutínio<br />

da informação pública, as autoridades<br />

públicas terão consciência de que também<br />

a possibilidade de responsabilização e de<br />

exigência de transparência por parte da<br />

sociedade civil aumenta exponencialmente.<br />

Por outro lado, esse conhecimento<br />

acrescido e mais informado da realidade<br />

pública poderá conduzir a uma maior<br />

participação dos cidadãos nos assuntos<br />

públicos. Todo um conjunto de elos de uma<br />

cadeia que se completa no desígnio maior<br />

da Administração Aberta.<br />

Qualidade dos dados<br />

Não basta abrir e divulgar dados ou<br />

promover a sua reutilização. É relevante<br />

que os passos atrás descritos se integrem<br />

numa genuína estratégia de abertura e<br />

de reutilização de dados.<br />

Para esse efeito, os fornecedores públicos<br />

de dados abertos, e o próprio portal público<br />

que os disponibiliza, terão de depositar o<br />

maior cuidado em determinadas caraterísticas<br />

dos conjuntos de dados que disponibilizam.<br />

O primeiro passo é o da seleção de<br />

dados, ao qual se seguirá a sua agregação<br />

em conjuntos de dados relacionáveis. Para<br />

esse efeito, não basta proceder à abertura<br />

de dados indiscriminadamente e sem<br />

critério. Haverá que ter em conta, entre<br />

outros aspetos, os formatos em que serão<br />

disponibilizados, o público a que se destinam<br />

ou as tipologias de reutilizações de que<br />

poderão ser alvo. Por exemplo, a inclusão<br />

de dados de georreferenciação permitirá<br />

desenvolver diversas aplicações e formatos de<br />

apresentação, como sejam mapas interativos.<br />

Ainda que os conjuntos ou catálogos de<br />

dados devam idealmente ser integrados no<br />

portal nacional de dados abertos, na medida<br />

em que isso nem sempre sucederá, é também<br />

importante que sejam concebidos em fonte<br />

aberta e em conformidade com normas<br />

abertas, tendo em conta que tais cuidados<br />

facilitarão a indexação por parte do referido<br />

portal nacional.<br />

Também a metainformação assume a<br />

maior relevância, na medida em que poderá<br />

incentivar e enriquecer futuras realizações,<br />

promovendo a criação de valor dos dados<br />

publicados.<br />

Em Portugal, não existe ainda um<br />

grande conjunto de reutilizações ligadas a<br />

dados abertos. Ou, pelo menos, de grande<br />

visibilidade pública, se excetuarmos os<br />

cruzamentos e reagregações publicados em<br />

trabalhos académicos, como sejam séries<br />

temporais ou representações gráficas que<br />

possam incluir indicadores e informações<br />

provenientes de fontes distintas.<br />

Todavia, sendo o cruzamento e reagregação<br />

de dados uma das principais funções das<br />

reutilizações, poderá considerar-se que<br />

essa função tem vindo a ser suprida por<br />

diversas soluções de visualização de dados<br />

disponibilizadas por distintos portais<br />

públicos.<br />

Como exemplos, poderão ser referidos<br />

os portais partilha.justiça.gov, o Portal da<br />

Transparência Municipal, o portal Lisboa<br />

Aberta ou o próprio Mapa do Cidadão.<br />

Já a área das contas públicas é uma daquelas<br />

em que, por múltiplas razões, recai uma<br />

maior exigência e um dever acrescido de<br />

transparência. A Direção-Geral do Orçamento<br />

(DGO) tem vindo a apresentar soluções


30<br />

Artigo<br />

neste domínio, disponibilizando no seu sítio Internet, entre outras soluções, um conjunto de<br />

aplicações parametrizáveis que permitem dar a «Conhecer» os principais números inerentes<br />

às três grandes fases do ciclo orçamental: Orçamento do Estado, execução orçamental e Conta<br />

Geral do Estado (CGE).<br />

Cabe ainda mencionar o trabalho de catalogação desenvolvido na área da saúde, como sejam o<br />

portal Transparência — com alguns dados em tempo real e catálogos de dados bem classificados<br />

e de fácil consulta — ou o portal da Direção-Geral de Saúde, que disponibiliza inclusive alguns<br />

dados em formato de dashborad.<br />

European Data Portal<br />

Em final de 2015, a Comissão Europeia lançou o European Data Portal, uma plataforma que<br />

agrega metadados de informação do setor público publicados nos portais públicos de dados<br />

abertos de 32 países europeus, disponibilizando também o acesso a esses portais.<br />

Não se limitando à agregação de metadados, o European Data Portal define como seu principal<br />

objetivo estratégico a melhoria da acessibilidade e a maximização do valor acrescentados dos<br />

dados abertos. Neste sentido, procede a diversas análises quantitativas e qualitativas relacionadas<br />

com os portais nacionais, promovendo análises individuais e publicando uma diversidade de<br />

indicadores e de dados estatísticos. No total, disponibiliza atualmente mais de 800 000 conjuntos<br />

de dados.<br />

De uma análise global, constata-se que, tendo por base dados de 2017, países como a Irlanda,<br />

França, Finlândia, Holanda ou Espanha estão entre aqueles que revelam melhores resultados.<br />

Portugal integra o lote de países com indicadores mais baixos, ainda que a renovação do portal<br />

dados.gov, em maio deste ano, venha alterar certamente esta classificação.<br />

Adicionalmente, a Comissão Europeia promove diversas iniciativas em prol dos dados abertos,<br />

como sejam eventos ou grupos de trabalho, existindo também diversos projetos com vista<br />

à atualização das diretivas europeias nesta matéria. ≤<br />

DADOS ABERTOS EM PAÍSES EUROPEUS (2017)<br />

4000<br />

3500<br />

3000<br />

AVALIAÇÃO<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

Políticas de dados abertos<br />

Maturidade do portal<br />

Impacto dos dados abertos<br />

0<br />

Espanha<br />

Finlândia<br />

França<br />

Holanda<br />

Irlanda<br />

Islândia<br />

Liechenstein<br />

Malta<br />

Portugal<br />

Suíça<br />

Fonte: Comissão Adaptado de Europeia European (Adaptado Data Portal de European Data Portal)


32<br />

GovTech<br />

GovTech<br />

Porque mudar o mundo só depende de nós<br />

2 de maio, foi apresentado o GovTech, no Museu Nacional de História Natural<br />

e da Ciência, num evento que contou com a presença das Secretárias de Estado<br />

Adjunta e da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, dos Negócios<br />

Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, e da Indústria, Ana Teresa<br />

Lehmann. AEsta iniciativa do Governo tem como objetivo premiar e apoiar produtos e serviços<br />

inovadores, criados por startups, que se enquadrem à solução de um dos 17 objetivos de<br />

Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030, numa resposta nacional aos<br />

desafios que se colocam a Portugal e ao mundo.<br />

A submissão de candidaturas terminou a 11 de junho. Há agora 113 projetos a votação, que<br />

teve início a 25 de junho e terminará a 15 de setembro, e serão selecionados, pelo júri e pelo<br />

público, seis protótipos finalistas.<br />

Com um prémio de 30 000 euros cada, existirão três vencedores, que terão ainda direito<br />

a um protocolo de colaboração com o Estado para desenvolver e testar o produto ou serviço,<br />

espaço numa incubadora nacional, apoio à internacionalização e dois bilhetes Alpha para a Web<br />

Summit, com a possibilidade de expor o produto ou serviço durante um dia no evento.<br />

Todas as fases decorrem em govtech.gov.pt, através de uma infraestrutura de blockchain,<br />

com a moeda virtual «GOVTECH», e após a criação de uma conta no respetivo site, utilizando<br />

a Chave Móvel Digital.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 33<br />

Os «Sustainable Development Goals», ou «Objetivos de Desenvolvimento Sustentável»,<br />

são 17 objetivos aprovados pela Organização das Nações Unidas para «Transformar o nosso<br />

mundo até 2030». É uma agenda global para o desenvolvimento sustentável!<br />

1 2<br />

3 4 5 6<br />

7<br />

9<br />

8 10 11 12<br />

13<br />

14 15 16 17<br />

1. Erradicar a Pobreza; 2. Erradicar a Fome; 3. Saúde de Qualidade; 4. Educação de Qualidade;<br />

5. Igualdade de Género; 6. Água Potável e Saneamento; 7. Energias Renováveis e Acessíveis;<br />

8. Trabalho Digno e Crescimento Económico; 9. Indústria, Inovação e Infraestruturas;<br />

10. Reduzir as Desigualdades; 11. Cidades e Comunidades Sustentáveis; 12. Produção e<br />

Consumo Sustentáveis; 13. Ação Climática; 14. Proteger a Vida Marinha; 15. Proteger a Vida<br />

Terrestre; 16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes; 17. Parcerias para a Implementação dos<br />

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.


34<br />

OPP 2018<br />

OPP 2018<br />

Já começou a votação!<br />

A<br />

a todos os cidadãos, que tradicionalmente ocorre no «dia<br />

fase de submissão de propostas para o<br />

Orçamento Participativo Portugal 2018<br />

terminou no dia 25 de abril, no Palácio<br />

de São Bento, aproveitando a abertura da<br />

residência oficial do Primeiro-Ministro<br />

da liberdade». Foram mais de 1400 propostas recolhidas<br />

online e nos 38 encontros participativos que decorreram<br />

por todo o país, nos quais participaram mais de 1500<br />

pessoas.<br />

Este ano, todas as áreas de governação podiam receber propostas e foi isso mesmo que<br />

aconteceu, sendo a educação, a cultura, a saúde e a solidariedade social aquelas que reuniram<br />

o maior número de ideias, com 53% do total de propostas apresentadas, seguidas por<br />

agricultura, ambiente e florestas, a que se destinaram 20% das ideias submetidas.<br />

Após a análise técnica efetuada pelas respetivas áreas governativas, e tendo decorrido o<br />

prazo para reclamações, as propostas dos portugueses originaram 692 projetos, que estão<br />

agora sujeitos à votação dos cidadãos. Esta fase teve início a 11 de junho e decorrerá até 30 de<br />

setembro, cabendo agora aos portugueses decidirem onde querem ver investidos os 5 milhões<br />

de euros do Orçamento do Estado que este ano estão destinados ao Orçamento Participativo<br />

Portugal.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 35<br />

Como votar<br />

Cada cidadão tem direito a dois votos, podendo escolher um projeto de âmbito nacional e<br />

outro de âmbito regional.<br />

É possível votar por SMS gratuito, enviando uma mensagem para o 3838, com o texto<br />

«opp _ número do projeto _ número de identificação civil», ou online, em www.opp.pt,<br />

podendo dirigir-se a qualquer um dos mais de 580 Espaços Cidadão ou a uma das bibliotecas<br />

da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. ≤


36<br />

Simplex+<br />

Parece magia, mas é Simplex<br />

Simplex já tem 11 anos e com ele foram concretizadas mais de 1200 medidas,<br />

que vieram tanto simplificar a vida dos cidadãos e das empresas na sua relação<br />

com o Estado quanto modernizar os serviços públicos.<br />

O impacto das medidas Simplex na vida dos cidadãos e das empresas é<br />

muito significativo: são menos deslocações, menores tempos de espera e a Oeliminação de burocracias desnecessárias. Hoje, um cidadão entrega o IRS e renova a carta de<br />

condução sem sair de casa, simula a sua pensão com apenas alguns cliques e regista o filho logo<br />

na maternidade. Uma empresa é constituída na hora e os gerentes e administradores podem<br />

assinar digitalmente em nome da empresa.<br />

Em 2018, foi feita mais uma volta Simplex, percorrendo o país em reuniões com<br />

empresários das mais diversas áreas, em encontros promovidos por associações empresariais.<br />

Paralelamente, decorriam as sessões Simplex Jam, nas quais os funcionários públicos voltaram<br />

a ser ouvidos sobre a modernização que ainda pode ser feita na nossa Administração Pública.<br />

Foram recolhidos os contributos de todos, pois são eles que podem levar o Simplex cada vez<br />

mais longe.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 37<br />

Hoje, um cidadão entrega o IRS e renova a carta<br />

de condução sem sair de casa, simula a sua<br />

pensão com apenas alguns cliques e regista o filho<br />

logo na maternidade.<br />

E a 6 de junho este roteiro nacional chegou ao fim, com um evento no Páteo da Galé, em<br />

Lisboa, onde foram apresentados o balanço do Simplex 2017 e o programa Simplex para 2018,<br />

do qual constam 175 medidas a serem implementadas para simplificar ainda mais a relação<br />

das empresas e dos cidadãos com o Estado.<br />

Contando com a presença de Luís de Matos, que protagoniza uma série de filmes de<br />

publicidade institucional sobre diferentes medidas Simplex, a sessão teve intervenções da<br />

Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, da Ministra da<br />

Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, e do Primeiro-<br />

-Ministro, António Costa.


38<br />

Simplex+<br />

Simplex+ 2018<br />

Em 2018, o programa Simplex passou a estar organizado por etapas de vida, levando os<br />

cidadãos a perceberem que as medidas Simplex os acompanham em todas as fases importantes,<br />

começando logo no momento do nascimento.<br />

Assim está dividido o Simplex, com medidas que mudam a sua vida:<br />

NASCIMENTO NTO<br />

TRABALHO<br />

REFORMA<br />

SAÚDE<br />

EMPRESA<br />

LAZER<br />

EDUCAÇÃO<br />

CASA<br />

AO LONGO DA VIDA<br />

VEÍCULOS<br />

FAMÍLIA<br />

MORTE<br />

Em www.app.simplex.gov.pt é possível obter mais informações e<br />

aceder aos serviços associados. ≤


40<br />

Entrevista<br />

Barbara Ubaldi<br />

Chefe da Equipa de Governo<br />

Digital e Dados Abertos da OCDE<br />

Desde 2013, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Económico (OCDE) tem vindo a desenvolver diversas iniciativas e<br />

projetos no domínio dos dados abertos, uma área chave na modernização<br />

do setor público e na consolidação de políticas de Administração Aberta.<br />

Um compromisso reafirmado por Barbara Ubaldi, que lidera o grupo de<br />

trabalho da OCDE nas áreas do governo digital, dados abertos e abertura<br />

de dados públicos. Durante vários anos, liderou também o programa de<br />

governo eletrónico e de gestão do conhecimento da Organização<br />

das Nações Unidas. À <strong>Diagrama</strong>, fala dos objetivos do Projeto de<br />

Dados Abertos Públicos da OCDE, do ranking OUR Index ou,<br />

entre outras matérias, do papel dos dados abertos no contexto da<br />

transformação digital.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 41<br />

Quando e porquê foi criado o Projeto de<br />

Dados Abertos Públicos [Open Government<br />

Data Project] da OCDE?<br />

O Projeto de Dados Abertos Públicos<br />

(PDAP) da OCDE teve início em 2013 para<br />

responder à solicitação dos países membros<br />

de assistência e recomendações de políticas,<br />

na medida em que estavam a dar os<br />

primeiros passos na formulação de estratégias<br />

e iniciativas destinadas a promover as<br />

respetivas agendas de dados abertos<br />

públicos.<br />

Quais são os principais objetivos desta<br />

iniciativa da OCDE?<br />

O objetivo inicial era auxiliar os países<br />

a compreender melhor o potencial das<br />

políticas de dados abertos, com ênfase<br />

particular no impacto dos dados e na respetiva<br />

geração de valor. Pretendia-se promover<br />

uma compreensão mais informada dos<br />

requisitos e implicações dos dados abertos<br />

junto dos diversos Governos, ampliando um<br />

entendimento até então frequentemente<br />

limitado à publicação de dados em portais,<br />

muitas vezes não estando sequer em formatos<br />

abertos. À medida que os Governos<br />

foram ultrapassando as etapas iniciais de<br />

implementação das suas políticas de<br />

dados abertos, e verificando-se que a maioria<br />

conseguiu efetivamente implementar<br />

programas de dados abertos, o principal<br />

objetivo do nosso trabalho passou a ser<br />

auxiliar esses Governos a garantir a<br />

continuidade dos esforços e a sustentabilidade<br />

dos resultados a longo prazo. Contudo,<br />

o nível de maturidade das políticas e<br />

iniciativas de dados abertos permanece<br />

muito diversificado entre países. Assim,<br />

também temos como prioridade fomentar<br />

um conhecimento coletivo sobre o que<br />

funciona e o que não funciona, facilitando<br />

a aprendizagem entre pares.<br />

A OCDE tem dedicado particular atenção<br />

aos domínios da reutilização de dados<br />

e da criação de valor (económico ou social).<br />

Como tem evoluído essa abordagem<br />

ao longo dos anos?<br />

Com efeito, temos vindo a focalizar-nos na<br />

reutilização, na medida em que consideramos<br />

tratar-se de um requisito fundamental — e<br />

até uma pré-condição — para a criação de<br />

valor. Se, numa fase inicial, os Governos<br />

estavam sobretudo interessados nos valores<br />

relacionados com a boa governança pública<br />

— integridade do setor público, transparência,<br />

combate à corrupção —, foram ganhando<br />

consciência crescente dos benefícios sociais<br />

e económicos que dela poderiam advir.<br />

Trata-se de uma consequência do progressivo<br />

desenvolvimento, nas sociedades nacionais,<br />

da capacidade de expressar reivindicações<br />

e necessidades de modo mais ativo.<br />

Adicionalmente, os Governos tornaram-se<br />

cada vez mais sensíveis a oportunidades,<br />

até então inexploradas, de melhorar o<br />

desempenho do setor público por via da<br />

promoção dos dados abertos e do incentivo<br />

à sua reutilização por parte dos funcionários<br />

públicos.<br />

Que lições têm vindo a ser apreendidas<br />

e qual a importância do ranking OURData<br />

Index 1 e dos Relatórios sobre Dados Abertos<br />

que a OCDE tem produzido sobre países<br />

específicos (i.e. Open Government Data<br />

Review of Mexico, 2016; Open Government<br />

Data Review of Poland, 2016)?<br />

O índice e os relatórios são ferramentas<br />

complementares que nos permitem e aos<br />

países membros identificar tanto as grandes<br />

tendências globais quanto os pontos fortes e<br />

fracos nacionais, em grande parte partilhados<br />

e comuns. Possibilitam a aprendizagem<br />

entre pares e a troca de opiniões entre<br />

intervenientes «no terreno» sobre o que<br />

funciona e o que não funciona com vista a<br />

enfrentar os atuais desafios. O índice fornece<br />

efetivamente um retrato das áreas em que<br />

cada país deverá priorizar esforços. Já os<br />

relatórios são instrumentos que possibilitam<br />

uma compreensão mais profunda dos<br />

contextos nacionais, com vista a auxiliar os


42<br />

Entrevista Barbara Ubaldi<br />

os Governos tornaram-se cada vez mais sensíveis<br />

a oportunidades, até então inexploradas,<br />

de melhorar o desempenho do setor público<br />

por via da promoção dos dados abertos<br />

países por via de recomendações políticas<br />

mais direcionadas e concretizáveis.<br />

Até ao momento, aprendemos e temos<br />

vindo a constatar, em primeiro lugar,<br />

que os países persistem em atribuir<br />

importância insuficiente à criação de valor<br />

e à monitorização do impacto. Isso significa<br />

que, em muitos países, os indicadores e os<br />

instrumentos de avaliação permanecem pouco<br />

explorados e ainda são insuficientemente<br />

utilizados.<br />

Em segundo lugar, o conhecimento sobre<br />

a «procura» de dados permanece limitado,<br />

verificando-se esforços escassos com vista<br />

a interagir significativamente com as partes<br />

interessadas.<br />

Em terceiro lugar, as políticas relativas a<br />

dados abertos — que ultrapassam o âmbito<br />

institucional — continuam, em muitos casos,<br />

a revelar-se desadequadas, o que coloca em<br />

risco a sustentabilidade das estratégias e<br />

esforços desenvolvidos a longo prazo<br />

e a respetiva continuidade.<br />

Existem diferentes abordagens para<br />

incentivar a reutilização de dados, com<br />

vista a que os esforços nacionais se<br />

revelem sustentáveis? Que estratégias têm<br />

demonstrado melhores resultados?<br />

As abordagens diferem consoante os<br />

objetivos pretendidos e os atores sociais<br />

visados. Iniciativas do tipo hackaton 2<br />

traduzem-se frequentemente em mecanismos<br />

bastante úteis para envolver programadores,<br />

atores do setor privado e jovens geeks<br />

em reutilizações que promovam novas<br />

oportunidades económicas, novos produtos<br />

ou serviços. A criação de valor social —<br />

Disponibilidade dos dados Acessibilidade dos dados Incentivos do Governo à reutilização<br />

1<br />

0.9<br />

0.8<br />

0.7<br />

0.6<br />

0.5<br />

0.4<br />

0.3<br />

0.2<br />

0.1<br />

0<br />

Coreia do Sul<br />

França<br />

Japão<br />

Reino Unido<br />

México<br />

Espanha<br />

OCDE<br />

Eslováquia<br />

Portugal<br />

Suécia<br />

Suíça<br />

Dinamarca<br />

Lituânia<br />

Turquia<br />

Fonte: Adaptado de OECD Survey on Open Government Data (2017)


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 43<br />

— por exemplo, através de novas formas de<br />

participação pública — pode ser alcançada<br />

através de abordagens focalizadas na solução<br />

de problemas e que possam colocar a definição<br />

de políticas na esfera pública, com vista<br />

a solicitar o desenvolvimento de soluções<br />

participadas e concertadas.<br />

Todavia, uma participação mais inclusiva<br />

de um diversificado conjunto de atores<br />

sociais, com vista a reutilizações sustentadas<br />

e que criem valor também para os segmentos<br />

populacionais mais desfavorecidos — por<br />

exemplo, por via de um melhor acesso<br />

aos serviços públicos — implica também<br />

o envolvimento de atores com menor<br />

proeminência e o estabelecimento de contacto<br />

com eles onde quer que se encontrem. Estou<br />

a referir-me, por exemplo, a organizações<br />

da sociedade civil e à necessidade de não<br />

limitar o leque de intervenientes ao círculo<br />

dos «suspeitos do costume». Identificar as<br />

diferentes comunidades e criar incentivos ao<br />

seu envolvimento deve ser uma prioridade.<br />

Como se distinguem os países que lideram<br />

os índices internacionais de dados abertos?<br />

Os países de vanguarda neste domínio<br />

priorizaram claramente a implementação<br />

de abordagens orientadas para a procura.<br />

Deste modo, têm desenvolvido esforços<br />

consideráveis para conhecer o ecossistema,<br />

compreender e satisfazer a procura de<br />

dados e incentivar a sua reutilização.<br />

Complementarmente, reconhecem a<br />

importância da acessibilidade dos dados e,<br />

em virtude disso, desenvolveram portais que,<br />

mais do que meros repositórios de dados,<br />

são vistos como plataformas colaborativas.<br />

Utilizam campanhas de comunicação<br />

e sensibilização para promover tanto a<br />

componente de acessibilidade quanto<br />

a criação de uma comunidade inclusiva.<br />

Em suma, instituíram uma estrutura de<br />

governança que facilitará a sustentabilidade<br />

de ações a longo prazo.<br />

Que papel desempenham os dados abertos<br />

no processo de transformação digital?<br />

Os dados abertos, como elo da cadeia de<br />

valor dos dados públicos, estão no coração<br />

da transformação digital dos nossos setores<br />

públicos. As tecnologias digitais oferecem<br />

cada vez mais oportunidades aos nossos<br />

Governos para usarem os dados com vista<br />

a melhorarem processos de conceção,<br />

implementação e monitorização de políticas.<br />

Basta pensar na importância dos dados<br />

no domínio da inteligência artificial para<br />

compreender o respetivo valor estratégico,<br />

sobretudo à medida que os Governos,<br />

no âmbito da sua transformação digital,<br />

vão aumentando a adoção de tecnologias<br />

emergentes.<br />

Que tendências emergentes poderão ser<br />

identificadas?<br />

Verifica-se uma clara tendência emergente,<br />

relacionada com o reconhecimento por parte<br />

dos Governos da importância dos seus dados<br />

enquanto ativo estratégico fundamental.<br />

Consequentemente, os dados abertos públicos<br />

começam a integrar uma discussão mais<br />

ampla relativa à cadeia de valor dos dados, à<br />

arquitetura de dados, às infraestruturas de<br />

dados tendo por base os registos existentes, às<br />

capacidades individuais e ao desenvolvimento<br />

da liderança. Tratam-se de questões todas<br />

elas fundamentais, que necessitam de ser<br />

abordadas com urgência com vista a que, por<br />

um lado, as diferentes iniciativas se revelem<br />

concretizáveis, e, por outro, que o seu<br />

impacto seja maximizado, sob o risco de que<br />

aquelas que possam florescer permaneçam<br />

esforços isolados. ≤<br />

1<br />

Acrónimo anglosaxónico para Abertos (O), Úteis (U) e Reutilizáveis (R). A designação será equivalente<br />

a «Índice de Dados Abertos, Úteis e Reutilizáveis», um ranking publicado anualmente pela OCDE.<br />

2<br />

Termo formado a partir de hacker («pirata informático») e marathon (maratona). Tratam-se usualmente de «maratonas<br />

de programação», no âmbito das quais especialistas informáticos se reúnem por períodos prolongados com vista a<br />

explorar dados abertos, desvendar códigos e avaliar sistemas, discutir novas ideias ou desenvolver projetos.


44<br />

Loja de Cidadão


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 45<br />

Loja de Cidadão de Viseu<br />

Inaugurada a 20 de dezembro de 2000, a Loja de Cidadão de<br />

Viseu completará este ano o seu 18.º aniversário.<br />

Com uma média anual superior a 600 mil utentes e um total<br />

acumulado que já ultrapassou os 11 milhões de atendimentos,<br />

esta Loja encontra-se atualmente na 8.ª posição do TOP das<br />

Lojas com maior número de atendimentos.<br />

Gerida pela Agência para a Modernização Administrativa, é<br />

coordenada localmente pela Ana Sofia Fernandes, que nos<br />

recebeu e contou como é o dia a dia por lá.<br />

Como é o dia a dia da Loja de Cidadão de Viseu?<br />

O funcionamento da Loja de Cidadão de Viseu é um reflexo da «vida» da cidade<br />

onde se encontra inserida.<br />

Assim, na abertura da Loja há normalmente um elevado número de utentes que<br />

a procuram, o que é motivado pelos horários dos transportes dos arredores para o<br />

interior da cidade, bem como pelo início do horário laboral, que, por regra, começa<br />

às 08h00.<br />

O decurso do funcionamento do seu dia a dia não apresenta um padrão, uma<br />

vez que ocorrem todos os dias situações diferenciadas, quer a nível dos parceiros<br />

existentes na Loja quer a nível do cidadão que nos procura, o que motiva a<br />

necessidade da Unidade de Gestão se moldar às diferentes necessidades que possam<br />

ocorrer.<br />

O funcionamento da Loja de Cidadão de Viseu<br />

é um reflexo da «vida» da cidade onde se<br />

encontra inserida.


46<br />

Loja de Cidadão de Viseu<br />

tem-se seguido a métrica da abordagem inicial ao<br />

cliente, ouvindo-o e tentando entender a perspetiva<br />

do mesmo.<br />

Como gere os conflitos e reclamações?<br />

No caso da Loja de Cidadão de Viseu, o rácio<br />

existente entre o volume de reclamações<br />

versus número de atendimentos é<br />

relativamente baixo, sendo que o tipo de<br />

reclamações se encontra já tipificado pela<br />

Unidade de Gestão.<br />

Contudo, quando estas existem, tem-<br />

-se seguido a métrica da abordagem<br />

inicial ao cliente, ouvindo-o e tentando<br />

entender a perspetiva do mesmo. Com este<br />

conhecimento, e tendo presente que não<br />

devem ser criados obstáculos à reclamação,<br />

devemos, na medida do possível, esclarecer<br />

o reclamante sobre o assunto em causa, em<br />

conjunto com o coordenador do posto. Esta<br />

solução é, na maioria das vezes, pacífica,<br />

tendo em conta o cidadão que nos procura<br />

e contando sempre com o bom senso e a<br />

capacidade de mediação do conflito.<br />

Já alguma vez recebeu um aplauso?<br />

Tal já ocorreu diversas vezes. As situações<br />

que para nós têm maior relevância são<br />

aquelas em que é possível encontrar uma<br />

solução para o problema e o cidadão sai<br />

satisfeito da Loja e isto só é possível com o<br />

apoio de toda a equipa de trabalho.<br />

As situações que<br />

para nós têm maior<br />

relevância são aquelas<br />

em que é possível<br />

encontrar uma solução<br />

para o problema e o<br />

cidadão sai satisfeito<br />

da Loja


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 47<br />

Quer contar uma história?<br />

De entre muitas histórias, podemos partilhar<br />

uma que ocorreu recentemente.<br />

Um utente pretendia cessar um contrato<br />

de fornecimento de eletricidade e foi-lhe<br />

pedida, entre outros documentos, a leitura do<br />

contador.<br />

Dado que não conseguiu obtê-la, por<br />

desconhecimento dos dados a retirar,<br />

contornou esta limitação arrancando<br />

o contador e os respetivos cabos de<br />

alimentação, apresentando-se novamente no<br />

posto de atendimento com o equipamento<br />

debaixo do braço. ≤<br />

Loja de Cidadão de Viseu<br />

Rua Eça de Queirós, lote 8-10, 3500-419 Viseu<br />

t. 707 241 107<br />

Horário:<br />

Dias úteis das 08h30 às 19h00<br />

Sábados das 09h00 às 15h00<br />

Limitação de Horário:<br />

Entidades com horário diferente:<br />

IMPIC – Dias úteis das 08h30 às 19h30<br />

Espaço Empresa – Encerrado aos sábados<br />

ocorrem todos os dias situações<br />

diferenciadas


48<br />

Estatísticas<br />

TRANSPARÊNCIA NA SAÚDE<br />

Uma política estruturada de dados abertos implica uma adequada seleção dos<br />

conjuntos de dados a disponibilizar, sobretudo tendo em conta futuras reagregações<br />

e reutilizações. É igualmente conveniente enriquecê-los com a metainformação<br />

tida por mais adequada, como sejam dados de georreferenciação, capaz de facilitar<br />

processos de indexação do modo mais automatizado possível. Para o mesmo efeito,<br />

é também relevante disponibilizar esses conjuntos de dados na maior diversidade<br />

de formatos possível.<br />

ATENDIMENTOS EM URGÊNCIA HOSPITALAR POR TRIAGEM DE MANCHESTER<br />

3,000,000<br />

2,500,000<br />

2,000,000<br />

Vermelha<br />

1,500,000<br />

1,000,000<br />

500,000<br />

Laranja<br />

Amarela<br />

Verde<br />

Azul<br />

0<br />

Jun 17<br />

Jul 17<br />

Ago 17<br />

Set 17<br />

Out 17<br />

Nov 17<br />

Dez 17<br />

Jan 18<br />

Fev 18<br />

Mar 18<br />

Abr 18<br />

Mai 18<br />

Branca<br />

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS UNIDADES DE SAÚDE FAMILIAR (2018)<br />

ARS Norte<br />

243<br />

48.21%<br />

ARS Centro<br />

70<br />

13.89%<br />

ARS Lisboa e Vale do Tejo<br />

159<br />

31.55%<br />

ARS Alentejo<br />

17<br />

3.37%<br />

ARS Algarve<br />

15<br />

2.98%


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 49<br />

Todos estes aspetos foram tomados em consideração no catálogo de dados abertos do<br />

Serviço Nacional de Saúde, alojado no seu «Portal da Transparência» e acessível em<br />

transparência.sns.gov.pt. Os conjuntos de dados podem ser pesquisados por temática<br />

ou organismo editor dos dados, podendo ser descarregados em diversos formatos. Na área<br />

de abertura do portal é possível aceder a dados em tempo real. Merece também referência<br />

o portal da Direção-Geral de Saúde, com especial destaque para a área de dashboards,<br />

em dgs.pt/dashboard, com a informação disponibilizada acessível em distintos formatos.<br />

«NASCER UTENTE» E «NOTÍCIAS NASCIMENTO DIGITAL»<br />

6000<br />

N.º Notícias Nascimento Digital<br />

N.º de Nascer Utente<br />

5000<br />

4660<br />

4922<br />

4000<br />

4100<br />

4057<br />

4351<br />

3000<br />

2758<br />

2845<br />

2945<br />

3157<br />

2000<br />

2211<br />

1000<br />

0<br />

Jan 18<br />

Fev 18<br />

Mar 18<br />

Abr 18<br />

Mai 18<br />

DESMATERIALIZAÇÃO ELETRÓNICA DA RECEITA<br />

2016<br />

2017<br />

2018<br />

50%<br />

121.200.955<br />

5%<br />

11.979.395<br />

3%<br />

3.589.499<br />

50%<br />

119.608.713<br />

95%<br />

215.826.893<br />

97%<br />

130.572.269<br />

Receitas com papel<br />

Receitas sem papel<br />

Fonte: Serviço Nacional de Saúde (transparencia.sns.gov.pt)


50<br />

S<strong>AMA</strong>2020<br />

GeoPortal da Economia<br />

A disponibilização de dados georreferenciados das temáticas da Energia e Geologia, sempre<br />

que possível em formato aberto, tem sido uma das preocupações do Laboratório Nacional de<br />

Energia e Geologia, I.P. (LNEG) no âmbito da missão que lhe está atribuída.<br />

Esta preocupação tem a sua maior expressão no atual GeoPortal, que permite a partilha,<br />

pesquisa, visualização e análise, de modo gratuito, do repositório de dados geocientíficos<br />

relevantes para o país.<br />

Cientes das potencialidades do GeoPortal e alinhados com orientações nacionais e<br />

internacionais ao nível das Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE), cedo se tornou<br />

evidente a necessidade de melhorar o seu desempenho, através da introdução de novas<br />

funcionalidades que acompanhassem a evolução digital e garantissem o acesso facilitado à<br />

informação geocientífica, quer através do acesso direto aos dados, quer do acesso aos serviços<br />

disponibilizados.<br />

Este desenvolvimento obriga a uma interoperabilidade dos serviços e dados em plataformas<br />

distintas para cumprir com Diretivas Europeias, e.g. INSPIRE (2007/2/EC) e a Diretiva PSI<br />

(2003/98/CE).<br />

Para a concretização desta evolução, começámos a trabalhar num novo modelo de gestão e<br />

disponibilização da informação que permitisse alargar as temáticas atuais a todas as matérias<br />

compreendidas no universo do Ministério da Economia (ME).<br />

Confiantes de que tal solução é do interesse de todas as entidades do ME, surgiu então<br />

a ideia de desenvolver o GeoPortal para a Economia — GeoPortal2020 — como plataforma<br />

multisserviços com capacidade tecnológica para agregar e disponibilizar toda a informação<br />

espacial do ME, orientada para dar resposta às exigentes necessidades do cidadão/utilizador<br />

nas diferentes áreas e setores da economia.<br />

A infraestrutura de suporte aos ambientes de desenvolvimento, qualidade e produção do<br />

novo GeoPortal para a economia, concebida de raiz para ficar alojada no «Centro de Dados de<br />

referência do ME», teve por base uma ampla reorganização interna, resultando na definição<br />

(i) de um modelo de gestão de identidades integrado com um sistema de gestão de segurança<br />

de informação, que reflete o alinhamento com a ISO 27001 e com o Regulamento Geral de<br />

Proteção de Dados (RGPD), (ii) na desmaterialização de processos e (iii) na opção de reforçar<br />

a virtualização iniciada em 2012, estendendo-a aos postos de trabalho dos utilizadores (VDI),<br />

tudo no estrito alinhamento com as políticas TIC da Administração Pública (AP) em vigor.<br />

Importa destacar que o GeoPortal2020 foi concebido para estar alinhado com as políticas<br />

da União Europeia no que respeita ao tema «Dados Abertos — Open Data», respeitando o<br />

princípio de que a informação da AP deve ser de grande fiabilidade e reutilizável, sob condições<br />

que permitam o seu uso generalizado.


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 51<br />

Com a implementação deste projeto, o LNEG tem a expetativa de alcançar importantes<br />

transformações, onde se destacam os seguintes impactos:<br />

• Simplificação de processos e procedimentos com incremento da produtividade<br />

e na qualidade dos serviços prestados ao cidadão;<br />

• Maior segurança, fiabilidade, celeridade e qualidade da informação disponibilizada;<br />

• Promoção da interação da comunidade de investigadores/académicos com potenciais<br />

empreendedores e público em geral;<br />

• Racionalização dos modelos de gestão, promovendo a Administração Pública em rede;<br />

• Contribuição da otimização das TIC através da partilha de infraestruturas e do saber<br />

adquirido na execução do projeto;<br />

• Desenvolvimento de metodologias e protocolos para o tratamento da informação<br />

geocientífica nas várias fases até à sua disponibilização;<br />

• Tratamento, catalogação e georreferenciação da informação técnica e científica de<br />

arquivos, facilitando a sua pesquisa;<br />

• Disponibilização da informação geocientífica harmonizada em modelos de dados<br />

compatíveis com a diretiva INSPIRE;<br />

• Desenvolvimento de ferramentas de aquisição de informação no terreno com interface<br />

direta ao geoportal;<br />

• Simplificação do acesso ao geoportal via dispositivos móveis;<br />

• Visualização 3D dinâmica da informação geológica;<br />

• Melhoria das condições na disponibilização de conjuntos de dados geográficos no âmbito<br />

de políticas de dados abertos.<br />

Atendendo à ambição dos objetivos atrás citados e aos custos que lhe estão necessariamente<br />

associados, apenas foi possível, para o LNEG, avançar com a implementação do projeto<br />

recorrendo à fonte de financiamento comunitária disponibilizada pelo programa promovido<br />

pela Agência para a Modernização Administrativa, I.P.<br />

O conjunto de resultados esperado com a boa execução do Financiamento Europeu vai<br />

alavancar e sustentar, direta e indiretamente, os planos de atividades do LNEG a médio e longo<br />

prazo.<br />

Professora Teresa Ponce de Leão<br />

Presidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I.P.<br />

S<strong>AMA</strong> – Sistema de Apoio à Modernização e Capacitação<br />

da Administração Pública


52<br />

Regulamento Geral de Proteção de Dados<br />

Regulamento Geral de Proteção de Dados<br />

Breve nota sobre o Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu<br />

e do Conselho de 27 de abril de 2016 (RGPD), publicado a 4 de maio de 2016<br />

O RGPD está longe de inaugurar um novo direito quando trata da proteção de dados. O tema,<br />

do ponto de vista legislativo, foi inicialmente tratado pelo estado alemão do Hesse (1970) e, dando-se<br />

o exemplo de um país, pela Suécia (1973).<br />

No plano das organizações internacionais, a Convenção n.º 108 do Conselho da Europa (1981) tratou<br />

inicialmente da proteção de dados pessoais, incluindo muitos direitos dos titulares dos dados, e<br />

princípios jurídicos ainda hoje completamente atuais no quadro da legislação da União Europeia (UE).<br />

A chegada da proteção de dados à legislação da UE, com a Diretiva n.º 95/46/CE, de 24 de<br />

outubro, integra-se essencialmente na necessidade de construir o mercado único sem que a<br />

informação pessoal pudesse ser invocada como obstáculo para a circulação de pessoas e de dados<br />

a estas respeitantes — já a sua integração na Carta Europeia de Direitos Fundamentais tem na base<br />

propósitos mais garantísticos, associados à fundamentalidade do direito (artigo 8.º). Daí que exista<br />

um importante propósito de manter uma legislação europeia harmónica sobre proteção de dados.<br />

Esta razão costuma ser utilizada para explicar a transição de tratamento do tema.<br />

Para explicar a forma de ato escolhida para o RGPD refere-se no considerando 9 que:<br />

«(…) os objetivos e os princípios da Diretiva 95/46/CE continuam a ser válidos, mas não evitaram a<br />

fragmentação da aplicação da proteção dos dados ao nível da União, nem a insegurança jurídica ou o<br />

sentimento generalizado da opinião pública de que subsistem riscos significativos para a proteção das<br />

pessoas singulares, nomeadamente no que diz respeito às atividades por via eletrónica. As diferenças<br />

no nível de proteção dos direitos e das pessoas singulares, nomeadamente do direito à proteção dos<br />

dados pessoais no contexto do tratamento desses dados nos Estados-Membros, podem impedir a<br />

livre circulação de dados pessoais na União. Essas diferenças podem, por conseguinte, constituir um<br />

obstáculo ao exercício das atividades económicas a nível da União, distorcer a concorrência e impedir<br />

as autoridades de cumprirem as obrigações que lhes incumbem por força do direito da União.»<br />

Ou seja, através da figura do regulamento — que não carece de transposição interna, como<br />

acontece com a diretiva — procurou-se estabelecer regras mais aproximadas nos diferentes Estados<br />

da UE. Há, porém, a notar que a utilização do regulamento não fecha a possibilidade de os Estados<br />

nacionais emitirem legislação diferenciada sobre temas identificados no RGPD.<br />

Numa matéria com as implicações económica e de cultura jurídica da proteção de dados, seria<br />

muito difícil atingir-se um acordo completo e sem diferenças de regime entre todos os Estados da UE.<br />

Uma maior harmonização legislativa será atingida pelo procedimento de controlo de coerência<br />

(artigo 63.º e seguintes do RGPD) e pela intervenção do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE).<br />

Perspetiva institucional<br />

Do ponto de vista institucional, os aspetos fundamentais do RGPD traduzem-se na alteração<br />

do modelo de supervisão até aí existente, modificando o controlo prévio da Diretiva por uma<br />

intervenção posterior de controlo corretivo, cuja influência se torna mais notória quando<br />

consideradas as molduras das contraordenações (artigo 83.º).<br />

Releva notar que a intervenção das autoridades de controlo, no capítulo da aplicação do direito<br />

sancionatório, não se limita à aplicação de coimas. Existe um vasto conjunto de intervenções<br />

possíveis e, frequentemente, pouco citadas. Considere-se em particular o n.º 2 do artigo 58.º do<br />

RGPD, segundo o qual constituem poderes de correção, por exemplo: advertir o responsável pelo<br />

tratamento ou o subcontratante quando as operações de tratamento previstas sejam suscetíveis de


<strong>Diagrama</strong> • junho 2018 53<br />

violar as disposições do presente regulamento (alínea a); repreender o responsável pelo tratamento<br />

ou o subcontratante sempre que as operações de tratamento tiverem violado as disposições do<br />

presente regulamento (alínea b); ordenar ao responsável pelo tratamento que comunique ao titular<br />

dos dados uma violação de dados pessoais (alínea e); impor uma limitação temporária ou definitiva<br />

ao tratamento de dados, ou mesmo a sua proibição (alínea f); ordenar a retificação ou o apagamento<br />

de dados pessoais ou a limitação de tratamentos de dados (alínea g); retirar certificações (alínea h);<br />

aplicar coimas (alínea i).<br />

Importa, assim, notar que a aplicação de coimas não é a única forma de intervenção das<br />

autoridades de controlo, devendo atentar-se ao considerando 148 do RGPD :<br />

«Em caso de infração menor, ou se o montante da coima suscetível de ser imposta constituir<br />

um encargo desproporcionado para uma pessoa singular, pode ser feita uma repreensão em<br />

vez de ser aplicada uma coima. Importa, porém, ter em devida conta a natureza, gravidade e<br />

duração da infração, o seu caráter doloso, as medidas tomadas para atenuar os danos sofridos,<br />

o grau de responsabilidade ou eventuais infrações anteriores, a via pela qual a infração chegou<br />

ao conhecimento da autoridade de controlo, o cumprimento das medidas ordenadas contra o<br />

responsável pelo tratamento ou subcontratante, o cumprimento de um código de conduta ou<br />

quaisquer outros fatores agravantes ou atenuantes.»<br />

As competências e atribuições das autoridades de controlo no RGPD estão muito longe de se<br />

traduzirem numa «carta de sanções», mesmo no capítulo de natureza corretiva.<br />

Encarregado da proteção de dados<br />

O encarregado da proteção de dados é componente fundamental no novo modelo de supervisão.<br />

O seu perfil tem por base conhecimentos especializados no «domínio do Direito e das práticas de<br />

proteção de dados» (n.º 5 do artigo 38.º).<br />

Entende-se que a especificidade da função dificilmente dispensará intervenção interdisciplinar,<br />

em que intervenham indivíduos com competências organizacionais, tecnológicas e jurídicas.<br />

A função de encarregado da proteção de dados deve ser exercida por uma pessoa singular, cuja<br />

identificação deve ser publicamente comunicada (n.º 7 do artigo 37.º).<br />

O encarregado da proteção de dados não tem competências decisórias, como resulta do artigo<br />

39.º, consistindo numa função essencialmente consultiva (alíneas a e c) e ligada à cooperação, quer<br />

com outras entidades, quer com o autoridade de controlo (alíneas d e e).<br />

O RGPD traça um quadro funcional independente do encarregado da proteção de dados, que deve<br />

ter uma relação direta com o topo da organização: o responsável pelo tratamento e o subcontratante<br />

não dão ordens ou instruções ao encarregado para o exercício da sua função (n.º 3 do artigo 38.º);<br />

o encarregado não pode ser sancionado por consequências relacionadas com o exercício das suas<br />

funções (idem); o encarregado da proteção de dados informa diretamente a direção ao mais alto nível<br />

do responsável pelo tratamento ou do subcontratante (idem).<br />

Como decorre da natureza da função, o encarregado da proteção de dados está vinculado ao sigilo<br />

e à confidencialidade no exercício das suas funções (n.º 5 do artigo 38.º).<br />

Nos termos do artigo 37.º, o encarregado da proteção de dados é de designação necessária quando<br />

estejam em causa entidades públicas.<br />

No capítulo institucional, são estes os principais desafios do RGPD. O tempo ajudará à construção<br />

de um novo Direito, sendo a ocasião ainda muito precoce para definir o quadro de aplicabilidade da<br />

nova legislação.<br />

Alexandre Sousa Pinheiro<br />

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa


54<br />

Notícias<br />

Lojas de Cidadão e senhas<br />

eletrónicas na rede TOMI<br />

Desde 26 de junho, os cidadãos já podem aceder a todos os serviços<br />

disponibilizados no Mapa do Cidadão nos quiosques digitais da rede<br />

TOMI. No caso de pretender obter senhas virtuais de atendimento, o<br />

utilizador poderá selecionar no quiosque TOMI o serviço e a Loja de<br />

Cidadão pretendidos, recebendo a respetiva senha por SMS no seu<br />

telemóvel.<br />

Este novo serviço resulta de um protocolo de colaboração celebrado entre a Agência para a Modernização<br />

Administrativa, I.P. (<strong>AMA</strong>) e a empresa TOMI WORLD. A apresentação do serviço, que contou com a presença<br />

da Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, teve lugar no dia de<br />

celebração do protocolo, com a assinatura pela <strong>AMA</strong> a ser efetuada pelo seu Presidente, Pedro Silva Dias,<br />

com Chave Móvel Digital.<br />

A rede de quiosques digitais TOMI estende-se a 100 cidades portuguesas. Na cidade de Lisboa é possível<br />

encontrar 50 quiosques, nos quais, no espaço de um ano, tiveram origem 6,7 milhões de interações.<br />

Ciclo de Encontros «Construir Hoje a<br />

Administração Pública do Futuro»<br />

No dia 27 de junho, decorreu no Teatro Camões, em Lisboa, com organização do INA — Direção-geral dos<br />

Trabalhadores em Funções Públicas, a terceira sessão do Ciclo de Encontros «Construir Hoje a Administração<br />

Pública do Futuro», com o tema Inovação na Gestão da Administração Pública.<br />

A abertura do evento contou com intervenções do Primeiro-Ministro, António Costa, da Ministra da<br />

Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, e do Ministro das Finanças, Mário<br />

Centeno, a que se seguiram dois painéis de debate: «Inovação no Setor Público» e «Envolver os Trabalhadores<br />

na Inovação».<br />

A Agência para a Modernização Administrativa marcou presença no encontro, no qual paralelamente<br />

decorreram os workshops «Pro’LabX — Introdução à metodologia de design de serviços na Administração<br />

Pública», organizado pelo LabX, e «Inovação e Instrumentos de Gestão Pública», da responsabilidade do INA.


Números <strong>Diagrama</strong> • junho 2018 55<br />

Orçamento Participativo<br />

Portugal 2018<br />

+1,4 mil<br />

propostas recebidas<br />

GovTech<br />

113<br />

candidaturas<br />

validadas<br />

Simplex+ 2018<br />

175<br />

medidas<br />

dados.gov<br />

+1,6 mil<br />

conjuntos de dados<br />

disponibilizados<br />

Chave<br />

Móvel Digital<br />

+150 mil<br />

ativações realizadas<br />

Espaço Cidadão Móvel<br />

2,5 mil<br />

atendimentos realizados<br />

APP Simplex+<br />

112<br />

medidas<br />

disponibilizadas<br />

APP.gov.pt<br />

+30<br />

aplicações<br />

disponibilizadas


Agenda<br />

17 a 19 JULHO<br />

5 TH OPEN GOVERNMENT PARTNERSHIP<br />

Tbilisi, Geórgia<br />

11/12SETEMBRO<br />

CARRIERS WORLD 2018<br />

Londres, Victoria Park Plaza<br />

16 a 18 SETEMBRO<br />

IDC EUROPEAN CIO SUMMIT 2018<br />

Cascais, Grande Real Villa Italia<br />

Hotel & Spa<br />

17 SETEMBRO<br />

OPEN SOURCE 2018<br />

Lisboa<br />

18 SETEMBRO<br />

IDC MOBILITY FORUM — ENTERPRISE<br />

MOBILITY IN THE DIGITAL ECONOMY<br />

Lisboa, Centro Empresarial<br />

Torres de Lisboa<br />

22/23 SETEMBRO<br />

DIGITAL NOMADS X FESTIVAL<br />

Lisboa<br />

26 SETEMBRO<br />

28.º DIGITAL BUSINESS CONGRESS<br />

Lisboa, Centro Cultural de Belém<br />

DIAGR<strong>AMA</strong> • <strong>AMA</strong> — Agência para a Modernização<br />

Administrativa, I.P. • n.º 06 JUNHO 2018<br />

ama.gov.pt • ama@ama.pt • facebook.com/ama.<br />

gov.pt • twitter.com/ama_gov_pt

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