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— Em seus últimos instantes, ele falou de você — disse ele, e senti um<br />
nó na garganta. — Como desejou ter sido um homem melhor para você, que tipo<br />
de vida poderia ter tido com você. Ele riu, sorriu e morreu, feliz pensando em<br />
você. Obrigado por isso, também.<br />
Respirando fundo, enxuguei as lágrimas dos olhos antes de forçar um<br />
sorriso.<br />
— Falar sobre tudo isso sóbria é um pouco torturante.<br />
— Você quer...<br />
— Não — respondi rapidamente. — Quis essa vida que ele falou e, em<br />
vez de me dar isso, ele se foi e disse para você enquanto morria e, nem sequer<br />
me procurou... Eu o amei e o odiei.<br />
— Eu também.<br />
Nós ficamos em silêncio. Ele não desviou o olhar do meu rosto um<br />
segundo sequer e, em seus olhos, vi sua dor e solidão. O peso do mundo estava<br />
sobre seus ombros.<br />
— Naquela noite, eu estava desolado. Não conseguia sentir ou pensar em<br />
nada além de dor. E você estava certa, eu queria me sentir melhor, mas não<br />
acreditava que fosse possível. Não achei que me sentiria melhor. Naquele<br />
momento, você me fez sentir vivo. Se não estivesse lá, não sei o quão fundo eu<br />
teria caído, se até mesmo teria chegado vivo na manhã seguinte. Agora também<br />
quero ajuda-la.<br />
— Obrigada, mas não quero ser o seu caso de caridade — retruquei,<br />
colocando o cartão na mesa.<br />
— Não é caridade, é direito seu — respondeu ele. Dorian se levantou,<br />
pegou um tablet e se aproximou, mostrando-o para mim.<br />
— O que é isso? — perguntei, olhando para a lista e os gráficos.<br />
— Donovan e eu brigamos, e cortei não só o contato, mas também o<br />
acesso ao dinheiro da família na esperança de que voltasse para pedir ajuda. Ele<br />
não voltou, mas jamais toquei em sua herança. Eu a guardei para que ele não<br />
acabasse com tudo. No final, ele deixou para você e Alaric. Não é caridade. É<br />
seu. Por lei. Foi o único desejo em seu testamento.<br />
— Como é que é? — Suspirei.<br />
Ele riu, voltando a mostrar o aplicativo para mim.<br />
— Vê esse oito e todos os zeros atrás dele? É seu, junto com os carros e a<br />
casa...<br />
— Pare. Estou sonhando? — Cobri os olhos com a mão. — Coisas assim<br />
não acontecem comigo.<br />
— Mas deviam. — Ele me abraçou, e foi tão acolhedor, tão gentil, que eu<br />
não queria me afastar. Quando nos separamos, a cabeça dele estava perto da