GAZETA DIARIO 790

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06 Opinião Foz do Iguaçu, segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
O espelho do nosso Narciso
Fui tomado por um longo período de introspecção ao
saber do falecimento do meu grande amigo Narciso Valiati,
na manhã do sábado. Movido pelo instinto, dei alguns
passos e cheguei à grade que separa a minha casa do Clube
Hípico. E foi lá que o filme rolou, uma fita longa, com centenas
de cenas, cada uma com a sua emoção reservada e
riqueza de detalhes, remontando há quase 40 anos, nos
tempos de instalação da Facisa, hoje Unioeste. Depois, em
doces lembranças, os eventos do Lions, o Country Club, a
presidência de Narciso na ACIFI, com campanhas envolvendo
a comunidade em prol do comércio. Fora o trabalho,
sempre sobrava tempo para a taça de vinho, embaixo do
parreiral que havia na bela casa construída com troncos de
árvore e vitrais, na Rua Antônio Raposo. Lá a gente via o
outro Narciso, o intelectual, homem conhecedor da natureza
humana, dono de um tino comercial impecável, pessoa
sensível e benemérita.
Não saberia dizer com exatidão quantas pessoas o
Narciso ajudou, mas sei relatar com justeza o quanto ele me
ajudou, sobretudo nessas aventuras de fazer jornal, ou em
projetos na área de comunicação, alguns robustos sobretudo.
Narciso foi um mecenas de ideias, algo raro num empresário;
acreditava no imaterial, e a força creditada por ele não
era apenas financeira, mas motivacional, rica em conselhos e
ensinamentos. Minha dívida com o Narciso é perpétua e
imensamente moral.
E de volta à hípica, com os torneios de finais de semana, a
escolinha, viagens e a ousadia em trazer para a cidade o
melhor da categoria, por meio de campeonatos com cavaleiros
olímpicos, os melhores do mundo. Era assim que Narciso
trabalhava a formação dos atletas locais, além de outros
resultados alvissareiros, movimentando a hotelaria, companhias
aéreas e todo o segmento da equitação. Em certo
momento, ouvi de Nelson Pessoa, o maior cavaleiro da
história: "Competir em Foz é como correr de Fórmula 1 em
Mônaco". Ele praticamente saltou nos mais consagrados
concursos mundiais e jogos olímpicos. Jorge Gerdau
Johannpeter questionou: "Como o Narciso Valiati e a Maeli
conseguem realizar em Foz o que, muitas vezes, não conseguimos
em cidades como São Paulo, Rio e Porto Alegre?".
Conhecendo o ímpeto do Narciso e a força de Maeli, não é
difícil saber como realizavam tanto.
Por conselho do Narciso é que fui morar ao lado da
hípica, onde meus filhos cresceram, entre o esplendor da
natureza e o lombo dos cavalos. Foi lá também a última vez
que conversei com ele, porque logo depois sua doença se
agravou e ele ficou sem mobilidade. Um cérebro como
aquele preso a um corpo inerte. Imagina? Não poderia haver
dor maior para alguém como ele. E assim permaneceu por
quase uma década.
Alguns amigos que iam visitá-lo regressavam transtornados.
Diziam que Narciso, sem poder mexer-se nem falar,
esboçava sofrimento, como fosse explodir. Em algumas
ocasiões, encontrei Maeli e perguntei se poderia vê-lo, mas
ela, com muita sutileza, sempre gentil, demovia-me. Eu
entendia, porque afetaria a mim e ao meu amigo, tirando-o
de uma zona de conforto muito sensível. Eu entendia
perfeitamente a situação e, mesmo lá no fundo, lamentando,
sentia-me compensado pelo fato de guardar as boas
lembranças dele por inteiro. Vi quando apareceu pela
primeira vez com a bengala e, garanto, foi muito triste vê-lo
na cadeira de rodas, sabendo que a situação iria piorar. Não
houve um dia em que eu não me lembrasse dele e não
orasse pelo seu conforto.
Agora Narciso descansa, leva consigo o amor dos filhos,
noras e netos, o amor dos amigos, porque amá-lo, como
semelhante, era natural. Deixa-nos o espelho de sua vida, às
avessas daquilo que reza a mitologia grega, pois o nosso
Narciso não era um apaixonado pela própria figura, mas por
tudo e todos que o rodeavam e com ele, de alguma forma,
interagiam. Tomara que Foz encontre discernimento para
homenageá-lo à altura, porque poucos tiveram tanta coragem
e capacidade de superação. No tempo em que vivo, não
conheci alguém tão teimoso em não se desgrudar da vida.
Numa de nossas conversas reservadas e avançadas, numa
das mesas do restaurante que há no Clube Hípico, em certa
ocasião ele revelou: "Se houver a vida, depois de tudo, dentre
os meus desejos, quero subir uma escarpa nos Alpes e apanhar
uma edelweiss". A pequena flor tornou-se o símbolo do
escudo de sua família. Certamente, a esta altura, Narciso está
apreciando a vista alpina, inalando o cheiro de edelweiss.
Aqui, os meus sinceros votos de conforto a Maeli,
Gustavo Winston, esposas e filhos.
Rogério Romano Bonato
Reparo
Este Corvo publicou que em
Foz há uma "provisória" do PSD.
Na verdade não há, uma lista foi
enviada a Curitiba e, até o momento,
não recebeu atenção por
parte do partido. Ou seja, ainda
não há resposta.
Vergonha
No momento em que o país
esperava por uma manifestação
sóbria do Legislativo, viu-se um
picadeiro de circo; uma baderna
generalizada durante a escolha
da mesa no Senado da República.
Praticamente 24 horas de
picuinhas e lances dignos de investigação
policial. Diante da medíocre
exposição, muitos brasileiros
se perguntam: para qual finalidade
precisamos do Senado?
81 votos
É ultrajante imaginar que
numa eleição de 80 membros
surgissem 81 votos. Essa matemática
mágica e funesta demonstrou
o peso da ganância
pelo poder, como os demais
membros da Casa fossem idiotas,
não soubessem contar, e a
população fosse formada por
tolos. É necessário mencionar
que os dois votos em um único
envelope eram para Renan
Calheiros.
Chuvarada
Moradores antigos de Foz do
Iguaçu juram de pés juntos que jamais,
em época alguma, despencou
uma chuva tão forte como a da
noitinha de sábado. Havia cataratas,
pororocas, ondas, redemoinhos e
tudo o que se pode imaginar envolvendo
água. O vento, aliás, foi assustador
em algumas localidades.
De tudo um pouco
Ata retirada das mãos
do presidente em exercício;
candidato presidindo
o ato; Kajuru declamando
poemas e cantando;
Fernando Collor falando
em credibilidade da nação;
enfim, a escolha do
papa foi mais rápida e
tranquila. Que barbaridade!
Seu Renan
Muita cara de pau, depois
de uma Casa renovada
em 70%, um representante
da política fora de
moda querer avantajar-se
na escolha de uma mesa
diretora. Pelo menos venceu
a renovação, com a
eleição de Davi
Alcolumbre. Tomara que
faça por merecer.
Na Câmara
Não houve surpresa na
reeleição de Rodrigo Maia.
Fez muitos votos além do
necessário, embora a torcida
contra de Onyx
Lorenzoni. Mas os observadores
garantem que Maia
ainda era a melhor opção
para Bolsonaro. Vermelho
disse que foi com Maia.
Mistério
Por incrível que possa parecer,
há quem defenda o João de Deus.
E nas redes sociais houve bateboca
entre adoradores do médium
e detratores. O motivo seria
o suicídio de uma das principais
ativistas no rol das acusações
contra o João de Deus, Sabrina
Bittencourt. Aconteceu em Barcelona,
onde vivia. Disse que se juntaria
com Marielle e se foi. Sabrina
tratava um câncer linfático.
BR-469
Estadualizar a Rodovia das Cataratas
pode ser a solução para a
duplicação. Na semana passada,
alguém ligou para o Corvo informando
que o prefeito Chico estava
pensando em municipalizar a
BR-469 e a BR-600, duas estradas
federais que começam e terminam
na cidade. Chico, deixe isso
para os outros. No fim das contas
é melhor.
Dona Cláudia
Contaram para o Corvo que o
ex-prefeito Reni Pereira é o maior
freguês dos cafezinhos nas proximidades
do gabinete do governador.
Corre a miúde que a ex-deputada
Cláudia seria a primeira da lista
para compor a chefia da Sanepar
em Foz. A amizade entre eles —
Reni, Cláudia e Ratinho — é pra lá
de antiga. Desde que iniciou a carreira,
Ratinho tem levado a reboque
muita gente, inclusive o casal.
Conversas
Como hoje há pouco espaço,
o Corvo vai adiar para a edição de
amanhã o que ficou sabendo sobre
vários encontros políticos na
capital, por ocasião dos eventos
de posse na Assembleia
Legislativa. A todos um bom início
de semana.
Sarrinhos
Apesar da desgraça, pois muitas pessoas sofreram com
a tempestade, o povo não desperdiçou a oportunidade.
Várias gravações foram espalhadas, algumas de arrancar
risos, como a do cidadão mergulhando, com máscara e
pés de pato, em uma lagoa que se formou no Jardim São
Paulo. Impressionante! O aguaceiro também suplantou
os canteiros da Avenida das Cataratas, tamanha a força
da enxurrada. Algumas árvores despencaram, como é o
caso do registro realizado pelo site NãoViu?.