Doenças Sexualmente Transmissíveis Associadas a Mulheres Portadoras do Vírus HIV
NewsLab A revista do laboratório moderno Ano VII - Nº 36 (Outubro/Novembro - 1999) Doenças Sexualmente Transmissíveis Associadas a Mulheres Portadoras do Vírus HIV Patrícia Haas, Berenice P. Nappi, Patrícia Tenconi, Ricardo Zastrow Departamento de Análises Clínicas - UFSC Resumo As infecções do trato genital feminino revestem-se de grande importância em ginecologia e na área da saúde pública devido à alta frequência, à diversidade de agentes etiológicos, às várias formas evolutivas, à variabilidade do quadro clínico e possibilidade de complicações. Os sintomas vulvovaginais estão entre os motivos mais comuns que levam as mulheres jovens a procurar atendimento médico. Na maioria das situações clínicas, a vaginose bacteriana é a causa mais comum dos sintomas vulvovaginais, em ordem de freqüência, é seguida logo depois pela candidíase vaginal. Várias evidências têm apontado para uma interferência da presença de DST no aumento da transmissão do HIV. Transportado por secreções vaginais, o HIV pode ser transferido através das úlceras genitais. Em pessoas infectadas pelo HIV, as DSTs podem ser mais resistentes ao tratamento. Palavras chave: vaginites, DST, HIV Introdução As infecções do trato genital feminino revestem-se de grande importância em Ginecologia e na área de Saúde Pública devido à alta freqüência, à diversidades de agentes etiológicos, às várias formas evolutivas, à variabilidade do quadro clínico e possibilidade de complicações. É sabido de todos, que a incidência de doenças sexualmente transmissíveis está atingindo hoje, números absurdos e que tem muito a ver com problemas de saúde pública (16). A baixa condição sócio-econômica e cultural, a desinformação sobre educação sexual, o mau preparo dos profissionais de saúde e educação, entre outros, estão de fato ocupando locais de destaque na concorrência para elevar cada vez mais estes índices. A falta de base educacional, principalmente na vida dos adolescentes, influi de forma decisiva para a perpetuação dessas patologias.
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NewsLab<br />
A revista <strong>do</strong> laboratório moderno<br />
Ano VII - Nº 36<br />
(Outubro/Novembro - 1999)<br />
<strong>Doenças</strong> <strong>Sexualmente</strong> <strong>Transmissíveis</strong> <strong>Associadas</strong> a <strong>Mulheres</strong> <strong>Porta<strong>do</strong>ras</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Vírus</strong> <strong>HIV</strong><br />
Patrícia Haas, Berenice P. Nappi, Patrícia Tenconi, Ricar<strong>do</strong> Zastrow<br />
Departamento de Análises Clínicas - UFSC<br />
Resumo<br />
As infecções <strong>do</strong> trato genital feminino revestem-se de grande importância em<br />
ginecologia e na área da saúde pública devi<strong>do</strong> à alta frequência, à diversidade de agentes<br />
etiológicos, às várias formas evolutivas, à variabilidade <strong>do</strong> quadro clínico e possibilidade de<br />
complicações. Os sintomas vulvovaginais estão entre os motivos mais comuns que levam<br />
as mulheres jovens a procurar atendimento médico. Na maioria das situações clínicas, a<br />
vaginose bacteriana é a causa mais comum <strong>do</strong>s sintomas vulvovaginais, em ordem de<br />
freqüência, é seguida logo depois pela candidíase vaginal. Várias evidências têm aponta<strong>do</strong><br />
para uma interferência da presença de DST no aumento da transmissão <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>.<br />
Transporta<strong>do</strong> por secreções vaginais, o <strong>HIV</strong> pode ser transferi<strong>do</strong> através das úlceras<br />
genitais. Em pessoas infectadas pelo <strong>HIV</strong>, as DSTs podem ser mais resistentes ao<br />
tratamento.<br />
Palavras chave: vaginites, DST, <strong>HIV</strong><br />
Introdução<br />
As infecções <strong>do</strong> trato genital feminino revestem-se de grande importância em<br />
Ginecologia e na área de Saúde Pública devi<strong>do</strong> à alta freqüência, à diversidades de agentes<br />
etiológicos, às várias formas evolutivas, à variabilidade <strong>do</strong> quadro clínico e possibilidade de<br />
complicações.<br />
É sabi<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s, que a incidência de <strong>do</strong>enças sexualmente transmissíveis está<br />
atingin<strong>do</strong> hoje, números absur<strong>do</strong>s e que tem muito a ver com problemas de saúde pública<br />
(16). A baixa condição sócio-econômica e cultural, a desinformação sobre educação sexual,<br />
o mau preparo <strong>do</strong>s profissionais de saúde e educação, entre outros, estão de fato ocupan<strong>do</strong><br />
locais de destaque na concorrência para elevar cada vez mais estes índices. A falta de base<br />
educacional, principalmente na vida <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, influi de forma decisiva para a<br />
perpetuação dessas patologias.
Os sintomas vulvovaginais estão entre os motivos mais comuns que levam as<br />
mulheres a procurar atendimento médico (10).<br />
Na maioria das situações clínicas, a vaginose bacteriana é a causa mais comum <strong>do</strong>s<br />
sintomas vulvovaginais, em ordem de freqüência, é seguida logo depois por Candida sp<br />
vaginal. Nos países desenvolvi<strong>do</strong>s, a tricomoníase é muito menos comum na maioria das<br />
situações.<br />
A tricomoníase vaginal e a vaginose bacteriana adquiridas no início da gravidez<br />
são fatores preditivos, independentes de parto prematuro. A vaginite pode ser uma<br />
manifestação inicial e marcante da síndrome <strong>do</strong> choque séptico e a candidíase vulvovaginal<br />
crônica ou recorrente ocorre mais comumente em mulheres com <strong>do</strong>enças sistêmicas, como<br />
diabetes melito ou infecção pelo <strong>HIV</strong> com imunossupressão (10).<br />
Portanto, os sinais e sintomas vulvovaginais devem ser cuida<strong>do</strong>samente<br />
investiga<strong>do</strong>s e trata<strong>do</strong>s com medicamentos específicos para a localização anatômica e tipo<br />
de infecção. Em geral, o exame pélvico cuida<strong>do</strong>so precede os exames mais invasivos e<br />
dispendiosos para avaliar as mulheres com sintomas vulvovaginais, pélvicos ou<br />
ab<strong>do</strong>minais.<br />
A infecção vaginal pode caracterizar-se por uma ou mais das seguintes<br />
manifestações: aumento <strong>do</strong> volume das secreções; coloração amarelada anormal das<br />
secreções, devida ao aumento da concentração de leucócitos polimorfonucleares; pruri<strong>do</strong>,<br />
irritação ou ardência vulvar, geralmente com disúria externa, dispareunia vulvar e o<strong>do</strong>r<br />
vaginal desagradável (10). Por causa disso, muitas vezes essa patologia corriqueira é causa<br />
de um atendimento de emergência (3).<br />
A cavidade vaginal é fisiologicamente úmida, isto é, contém o produto de secreção<br />
das glândulas vestibulares e en<strong>do</strong>cervicais, além da transudação da mucosa vaginal. Este<br />
conteú<strong>do</strong> vaginal altera-se em decorrência de influências hormonais, estímulo sexual e até<br />
<strong>do</strong> psiquismo, daí a natural variação individual na sua qualidade e quantidade.<br />
As vulvovaginites quase sempre são causadas por agentes biológicos (transmiti<strong>do</strong>s<br />
ou não pelo coito), mas também pode relacionar-se a fatores físicos, químicos, hormonais e<br />
anatômicos que agem, ora de forma predisponente, ora desencadeante <strong>do</strong> processo. Assim<br />
deve mencionar-se o diabetes, a ingestão de esteróides, os traumas, uso de lubrificantes,<br />
absorventes internos e externos, como fatores que podem fazer eclodir uma vulvovaginite.<br />
A depilação exagerada e freqüente, as roturas perineais, a prática de coito não<br />
convencional, e o uso de DIU além <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s hiper/hipoestrogênicos podem favorecer às<br />
vulvovaginites por modificarem a flora vaginal.<br />
As vaginites causadas por agentes etiológicos, e que são classifica<strong>do</strong>s como os<br />
causa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> aumento no índice de transmissão sexual <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>. Tricomoníase, candidíase<br />
vulvovaginal, vaginose bacteriana e as vaginites virais, com destaque para as causadas pelo<br />
Papiloma <strong>Vírus</strong> Humano e o <strong>Vírus</strong> Herpes Simples, são objetos desta revisão.<br />
A presença da infecção pelo <strong>HIV</strong> está relacionada com modificações no<br />
comportamento de algumas infecções <strong>do</strong> trato genital feminino. Várias evidências têm<br />
aponta<strong>do</strong> para uma interferência da presença de DST no aumento da transmissão <strong>do</strong> <strong>HIV</strong><br />
(15). Transporta<strong>do</strong> por secreções vaginais, o <strong>HIV</strong> pode ser transferi<strong>do</strong> através das úlceras<br />
genitais. Em pessoas infectadas pelo <strong>HIV</strong>, as DSTs podem ser mais resistentes ao<br />
tratamento (15).<br />
A candidíase vaginal recorrente ou pouco responsiva ao tratamento, a <strong>do</strong>ença<br />
inflamatória pélvica e as lesões intraepiteliais cervicais de alto grau passaram a ser
consideradas manifestações clínicas decorrentes <strong>do</strong>/ou agravadas pelo <strong>HIV</strong>, enquanto as<br />
úlceras herpéticas persistentes e o câncer cervical invasor, considera<strong>do</strong> defini<strong>do</strong>r de AIDS.<br />
Algumas infecções vulvovaginais podem produzir seqüelas graves, enquanto a<br />
tricomoníase e a candidíase vulvovaginal podem aumentar o índice de transmissão sexual<br />
<strong>do</strong> <strong>HIV</strong> (10). A vulvovaginite fúngica aguda ocorre freqüentemente entre mulheres<br />
infectadas pelo <strong>HIV</strong> e podem ser mais severas nessas pacientes. No entanto, as informações<br />
existentes ainda não são suficientes para determinar o manejo ideal neste grupo (3).<br />
Nos países industrializa<strong>do</strong>s, as infecções sexualmente transmissíveis pelo vírus<br />
herpes simples (HSV) são a causa mais comum de ulcerações genitais, que podem facilitar<br />
a transmissão <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>; a infecção pelo HSV transmitida durante o parto causa morbidade<br />
grave entre os lactentes. O aumento acentua<strong>do</strong> da eficácia da transmissão <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> pelas<br />
úlceras genitais e DST da mucosa genital agravam a urgência da prevenção e controle das<br />
DSTs (10).<br />
Lesões da sífilis em indivíduos com infecção pelo <strong>HIV</strong> costumam ser mais<br />
dura<strong>do</strong>uras e este mesmo grupo tem gonorréia com maior freqüência. Portanto, o <strong>HIV</strong><br />
aumenta sua própria transmissão, fazen<strong>do</strong> com que os sintomas das DSTs durem mais<br />
tempo, facilitan<strong>do</strong> com isto a disseminação da <strong>do</strong>ença (15).<br />
Vulvovaginites<br />
Para diagnóstico laboratorial nas análises microbiológicas utiliza-se o isolamento,<br />
identificação, classificação e testes de susceptibilidade de microorganismos. O papel <strong>do</strong><br />
setor citológico é quase exclusivamente diagnóstico, isto é, sugere ou identifica a presença<br />
de um agente infeccioso. Atualmente, uma grande medida como um resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> aumento<br />
<strong>do</strong> número de pacientes imunocomprometi<strong>do</strong>s, técnicas citológicas são freqüentemente a<br />
primeira escolha para detecção de agentes infecciosas. Não obstante o tipo <strong>do</strong> exemplar<br />
citológico, a presença de inflamação aguda ou crônica, abundantes macrófagos ou células<br />
gigantes multinucleadas, com ou sem granulomas e necroses, são traços que alertariam o<br />
citologista para a possibilidade de um processo infeccioso.<br />
A vaginose bacteriana representa, até o momento, a causa mais freqüente de queixa<br />
de corrimento vaginal. É atualmente a causa mais freqüente de infecção genital baixa em<br />
mulheres em idade fértil (7). É considerada um fator predisponente para <strong>do</strong>ença<br />
inflamatória pélvica, infecções pós-operatórias e puerperal.<br />
O corrimento vaginal que não estiver associa<strong>do</strong> a T. vaginalis, fungos ou infecção<br />
<strong>do</strong> colo uterino geralmente é causada pela vaginosa bacteriana (10). Essa síndrome<br />
caracteriza-se pelo o<strong>do</strong>r vaginal desagradável e secreção branca homogênea ligeira ou<br />
moderadamente aumentada, de pouca viscosidade e que recobre uniformemente a mucosa<br />
vaginal.<br />
Gardnerella vaginalis - É um coco-bacilo gram variável, imóvel e anaeróbico<br />
facultativo, cuja transmissão pode ocorrer através <strong>do</strong> ato sexual.<br />
A relação entre G. vaginalis e <strong>do</strong>ença não é um simples fenômeno de causa-efeito.<br />
O microorganismo é um constituinte relativamente comum da flora vaginal, pois apenas<br />
pequeno número de mulheres que abrigam a bactéria tem queixa de corrimento vaginal e/ou<br />
outros sintomas. Estu<strong>do</strong>s verificaram que durante a vaginose bacteriana, a G. vaginalis está<br />
freqüentemente associada a bactérias anaeróbias, assim como a bacilos curvos móveis,
observan<strong>do</strong> ainda diminuição na concentração ou mesmo ausência de lactobacilos. A<br />
proliferação da flora mista é acompanhada por perda da flora de lactobacilos, que em<br />
condições fisiológicas, são os pre<strong>do</strong>minantes no meio ambiente vaginal (7).<br />
Na vaginose bacteriana, a proliferação da G. vaginalis e anaeróbios é acompanhada<br />
por aumento na produção de aminas derivadas <strong>do</strong> metabolismo das bactérias. Em<br />
decorrência da elevação <strong>do</strong> pH vaginal, tais aminas se volatilizam e produzem o o<strong>do</strong>r<br />
amoniacal, semelhante ao de peixe ou de amônia. Em estu<strong>do</strong> multicêntrico brasileiro, a<br />
patologia foi observada em 45,6% das pacientes (7).<br />
O diagnóstico consistente nas variações na coloração <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> vaginal (amarelo,<br />
esverdea<strong>do</strong>, etc.) deve alertar para a possibilidade de associação com outros patógenos. A<br />
queixa de pruri<strong>do</strong> alerta para a presença de fungos. O encontro de numerosos<br />
polimorfonucleares à microscopia induz à pesquisa de outro agente que possa estar<br />
causan<strong>do</strong> o processo inflamatório, associa<strong>do</strong> aos patógenos presentes na vaginose<br />
bacteriana (7).<br />
Clamidia trachomatis - As clamídias podem ser consideradas bactérias Gramnegativas<br />
que carecem de mecanismo para a produção de energia metabólica e que,<br />
portanto, não podem sintetizar ATP. Este defeito as obriga a ter uma existência intracelular<br />
restrita, onde a célula hospedeira é que fornece os compostos intermediários ricos em<br />
energia. Por conseguinte, as clamídias são parasitas intracelulares obrigatórios (1). Nas<br />
mulheres, a C. trachomatis provoca uretrite, cervicite e <strong>do</strong>ença inflamatória pélvica,<br />
poden<strong>do</strong> resultar em esterilidade e predispor à gravidez ectópica. Qualquer um desses<br />
locais anatômicos de infecção pode dar origem a sinais e sintomas, ou a infecção pode<br />
permanecer assintomática, porém, contagiosa para os parceiros sexuais.<br />
A infecção genital por clamídias e a conjutivite de inclusão são <strong>do</strong>enças<br />
sexualmente transmissíveis, propagadas por contato com parceiros sexuais infecta<strong>do</strong>s. A<br />
conjuntivite de inclusão neonatal origina-se no trato genital infecta<strong>do</strong> da mãe. O recém<br />
nasci<strong>do</strong> contrai a infecção durante a passagem pelo canal <strong>do</strong> parto infecta<strong>do</strong>.<br />
A prevenção da <strong>do</strong>ença ocular neonatal depende <strong>do</strong> diagnóstico e <strong>do</strong> tratamento da<br />
gestante e de seu parceiro sexual. Como em todas as <strong>do</strong>enças sexualmente transmitidas, a<br />
presença de múltiplos agentes etiológicos (gonococos, treponemas, trichomonas, herpes<br />
etc.) deve ser considerada (1).<br />
Trichomonas vaginalis - Trichomonas vaginalis, um protozoário parasita, é o<br />
agente etiológico da tricomoníase, uma <strong>do</strong>ença sexualmente transmissível e de relevância.<br />
A <strong>do</strong>ença pode manifestar-se assintomaticamente à um esta<strong>do</strong> de inflamação e irritação<br />
severa com corrimento espumoso característico. Estu<strong>do</strong>s recentes têm demonstra<strong>do</strong> que a<br />
incidência de tricomoníase é maior que 170 milhões de casos/ano (20), sem contar os casos<br />
assintomáticos que não são trata<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> implicações médicas, sociais e econômicas<br />
muito importantes. <strong>Mulheres</strong> que são infectadas durante a gravidez estão predispostas a<br />
ruptura prematura das membranas placentárias, parto prematuro, e recém nasci<strong>do</strong>s abaixo<br />
<strong>do</strong> peso (2, 8, 13). Ainda associa<strong>do</strong> a tricomoníase está o câncer cervical (4, 12, 21),<br />
<strong>do</strong>enças inflamatórias pélvicas atípicas (9) e infertilidade (5,6).<br />
A tricomoníase pode apresentar-se de diferentes formas, desde um quadro<br />
assintomático a um esta<strong>do</strong> de inflamação e irritação severa. Cerca de 1/3 <strong>do</strong>s casos de<br />
tricomoníase assintomático tornam-se sintomáticos no prazo de seis meses (19). O T.<br />
vaginalis infecta o epitélio escamoso no trato genital. A infecção, uma vez estabelecida,
persiste por um longo perío<strong>do</strong> em mulheres e apenas por um curto perío<strong>do</strong> de tempo nos<br />
homens. É uma <strong>do</strong>ença pre<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> reprodutivo da mulher, sen<strong>do</strong> raramente<br />
observada antes da primeira menstruação (menarca) e após a menopausa. O perío<strong>do</strong> de<br />
incubação é de quatro a 28 dias em aproximadamente 50% <strong>do</strong>s indivíduos infecta<strong>do</strong>s. De<br />
acor<strong>do</strong> com o grau de severidade da infecção, tricomoníase pode ser classificada como<br />
aguda, crônica ou assintomática.<br />
Nas mulheres, a infecção normalmente se limita a vulva, vagina e ao colo uterino,<br />
não se estenden<strong>do</strong> ao útero. As superfícies mucosas podem apresentar-se <strong>do</strong>loridas,<br />
inflamadas, e rosadas e cobertas por uma secreção de coloração creme ou amarela<br />
espumosa. No homem, a próstata, as vesículas seminais e a uretra podem ser infectadas. Os<br />
sinais e sintomas nas mulheres, além <strong>do</strong> corrimento vaginal profuso, incluem sensibilidade<br />
local, pruri<strong>do</strong> vulvar e queimação. Cerca de 10% <strong>do</strong>s homens infecta<strong>do</strong>s apresentam uma<br />
secreção uretral branca e fina.<br />
Como a apresentação clínica da tricomoníase possui sinais comuns a outras DSTs,<br />
deve-se associar à estes da<strong>do</strong>s clínicos observa<strong>do</strong>s parâmetros laboratoriais como a<br />
microscopia, principalmente, técnicas de cultura ou ainda técnicas imunológicas. Dessa<br />
maneira é possível traçar um diagnóstico definitivo levan<strong>do</strong> a um tratamento adequa<strong>do</strong>,<br />
além de facilitar o controle epidemiológico da <strong>do</strong>ença.<br />
A secreção ou corrimento vaginal ou uretral devem ser examina<strong>do</strong>s ao microscópio<br />
óptico, numa gota de solução salina à procura da motilidade característica <strong>do</strong> T. vaginalis.<br />
Esfregaços desidrata<strong>do</strong>s podem ser cora<strong>do</strong>s pela hematoxilina ou outros corantes para<br />
estu<strong>do</strong> posterior. A cultura da secreção vaginal ou uretral, da secreção prostática ou de<br />
amostras de sêmen podem revelar microorganismos quan<strong>do</strong> o exame direto é negativo.<br />
Várias técnicas imunológicas que incluem aglutinação, fixação <strong>do</strong> complemento,<br />
hemaglutinação indireta, difusão em gel e ELISA, têm si<strong>do</strong> empregadas para se demonstrar<br />
a presença <strong>do</strong> anticorpo anti-trichomonas. No entanto, a resposta <strong>do</strong> hospedeiro depende de<br />
muitos fatores, como a natureza <strong>do</strong> antígeno/patógeno, sua forma ativa ou inativa, o local<br />
de concentração e a freqüência e duração da estimulação <strong>do</strong> sistema imunológico. E, como<br />
o anticorpo mantém-se por muito tempo após o tratamento, infecções atuais ou passadas<br />
não são diferenciadas.<br />
Candida albicans - A candi<strong>do</strong>se vaginal afeta milhares de mulheres adultas, sen<strong>do</strong><br />
precedida, em ordem de freqüência, apenas pela vaginose bacteriana, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e<br />
no Brasil. Estima-se que 75% das mulheres têm pelo menos um episódio de infecção<br />
fúngica em sua vida, e aproximadamente 40 a 50% destas vivenciam um novo surto. Uma<br />
parte das mulheres adultas, estimada em 5%, sofre de episódios recorrentes que molestam<br />
pacientes e médicos, já que a terapêutica efetiva torna-se extremamente difícil em tais<br />
situações. A incidência de candi<strong>do</strong>se vaginal tem aumenta<strong>do</strong> nos últimos anos. No Brasil,<br />
em estu<strong>do</strong> multicêntrico sobre agentes causa<strong>do</strong>res de vaginite, candi<strong>do</strong>se foi responsável<br />
por 23,7% (7).<br />
A Candida albicans é uma levedura que faz parte da microbiota normal das<br />
mucosas <strong>do</strong> trato respiratório, trato gastrointestinal e trato genital feminino. A diminuição<br />
<strong>do</strong> pH áci<strong>do</strong> na vagina predispõe à vulvovaginite por Candida, e este pH é manti<strong>do</strong> pela<br />
microbiota na vagina. O diabete, a gravidez, a progesterona e a antibioticoterapia<br />
predispõem à <strong>do</strong>ença poden<strong>do</strong> haver transmissão através <strong>do</strong> ato sexual.
O sintoma pre<strong>do</strong>minante da candidíase vulvovaginal é pruri<strong>do</strong> ou irritação vulvar.<br />
Em geral não há o<strong>do</strong>r característico e os sintomas <strong>do</strong> corrimento vaginal não são típicos.<br />
Eritema, edema e fissuras vulvares são comuns (10).<br />
O diagnóstico da candidíase vulvovaginal depende da confirmação <strong>do</strong> fungo por<br />
exame microscópico da secreção vaginal misturada com solução salina, KOH a 10% ou<br />
corada pelo Gram. A comprovação de pseu<strong>do</strong>-hifas ou hifas reforça o diagnóstico de<br />
vaginite devi<strong>do</strong> Candida albicans. Em geral também há leucócitos polimorfonucleares. O<br />
exame microscópico é menos sensível <strong>do</strong> que a cultura, porém correlaciona-se melhor com<br />
os sintomas (10). O exame especular pode revelar paredes vaginais hiperemiadas e<br />
recobertas por placas brancas ou amareladas semelhantes à leite talha<strong>do</strong>.<br />
As infecções fúngicas são de difícil tratamento, recorrentes em geral. O<br />
desenvolvimento mucocutâneo desse fungo é a manifestação mais comum com a<br />
progressão da infecção pelo <strong>HIV</strong>; entretanto o envolvimento pulmonar não é tão freqüente,<br />
parecen<strong>do</strong> ser uma complicação tardia ou terminal da infecção pelo <strong>HIV</strong> (14). É a<br />
manifestação clínica mais comum nas mulheres <strong>HIV</strong> (+).<br />
Viroses<br />
Embora as viroses individuais não possam ser detectadas por microscopia, seus<br />
efeitos citopáticos em células infectadas são freqüentemente visíveis, mesmo em<br />
preparações citológicas rotineiras.<br />
<strong>Vírus</strong> Herpes simples (HSV)<br />
(herpes vírus humanos 1 e 2: herpes labial, herpes genital e outras síndromes)<br />
- Herpes genital (HSV tipo 2) - Caracteriza-se por lesões vesiculoulcerativas no pênis ou<br />
no colo <strong>do</strong> útero, vulva, vagina e períneo. As lesões são mais graves durante a infecção<br />
primária, e podem acompanhar-se de febre, mal estar e linfadenopatia inguinal. Nas<br />
mulheres com anticorpos contra o herpes vírus, apenas o colo <strong>do</strong> útero ou a vagina são<br />
acometi<strong>do</strong>s, e a <strong>do</strong>ença, portanto, pode ser assintomática. A recidiva das lesões é comum. O<br />
vírus <strong>do</strong> tipo 2 permanece latente nos gânglios lombares e sacrais. A mudança <strong>do</strong>s padrões<br />
de comportamento sexual reflete-se em um número cada vez maior de herpes vírus de tipo<br />
1 isola<strong>do</strong>s de lesões genitais e herpes vírus tipo 2 em lesões faciais, provavelmente como<br />
resulta<strong>do</strong> da atividade sexual urogenital.<br />
Os anticorpos surgem de quatro a sete dias após a infecção; eles podem ser<br />
quantifica<strong>do</strong>s por prova de neutralização, reação de fixação <strong>do</strong> complemento, ELISA,<br />
radioimunoensaio e imunofluorescência. Os anticorpos atingem seu título máximo em duas<br />
a quatro semanas e persistem com pequenas flutuações por toda a vida <strong>do</strong> hospedeiro. A<br />
maioria <strong>do</strong>s adultos apresenta anticorpos em seu sangue por to<strong>do</strong> tempo.<br />
Papilomavírus humano<br />
Os papilomavírus são membros <strong>do</strong> gênero Papillomavirus da família Papovaviridae.<br />
São reconheci<strong>do</strong>s mais de 70 tipos de HPV e os tipos individuais estão associa<strong>do</strong>s a<br />
manifestações clínicas específicas. A maioria das verrugas genitais é causada pelos HPV<br />
tipos 6 e 11, que raramente ou nunca estão associa<strong>do</strong>s a cânceres invasivos (10).
Nos EUA, o número de consultas médicas devidas a verrugas genitais foi estima<strong>do</strong><br />
em mais de 1,2 milhões por ano. Entretanto, a maioria das infecções pelo HPV é subclínica<br />
e testes cada vez mais sensíveis para detectar este vírus mostram que a maioria <strong>do</strong>s homens<br />
e mulheres sexualmente ativos atendi<strong>do</strong>s nas clínicas de DST tem infecção genital pelo<br />
HPV, geralmente sem quaisquer anormalidades clínicas visíveis. A maioria das infecções<br />
genitais por HPV é transmitida por contato direto com lesões infecciosas (10).<br />
As manifestações clínicas da infecção por HPV dependem da localização das lesões<br />
e <strong>do</strong> tipo de vírus. Os papilomavírus humano (HPV) infectam seletivamente o epitélio da<br />
pele e das mucosas. Estas infecções podem ser assintomáticas, podem produzir verrugas ou<br />
estar associadas a várias neoplasias benignas e malignas. Nas mulheres, as verrugas<br />
aparecem em primeiro lugar no intróito posterior e lábios pudentos adjacentes. A seguir,<br />
disseminam-se para outras partes da vulva e afetam comumente a vagina e o colo uterino.<br />
Estas lesões podem ocorrer na ausência de verrugas externas.<br />
Na maioria <strong>do</strong>s casos, as verrugas são visíveis a olho nu e podem ser diagnosticadas<br />
corretamente por meio de história clínica e exame físico. A colposcopia é valiosa na<br />
avaliação das lesões vaginais e cervicais e pode ser útil no diagnóstico da <strong>do</strong>ença oral e<br />
cutânea <strong>do</strong> HPV. Os esfregaços de Papanicolau prepara<strong>do</strong>s a partir de raspa<strong>do</strong>s cervicais<br />
exibem com freqüência evidências citológicas de infecção por HPV.<br />
Os pacientes infecta<strong>do</strong>s pelo vírus da imunodeficiência humana (<strong>HIV</strong>) com<br />
freqüência apresentam manifestações clínicas graves da infecção por HPV e parecem exibir<br />
um risco notavelmente alto de neoplasias malignas <strong>do</strong> colo uterino e <strong>do</strong> ânus. A <strong>do</strong>ença por<br />
HPV em pacientes com infecção por <strong>HIV</strong> é difícil de tratar e quase sempre recidiva. As<br />
complicações das verrugas incluem pruri<strong>do</strong> e, em certas ocasiões, sangramento. Em raros<br />
casos, as verrugas tornam-se secundariamente infectadas por bactérias ou fungos. Grandes<br />
massas de verrugas podem causar problemas mecânicos, como obstrução <strong>do</strong> canal <strong>do</strong> parto.<br />
As mulheres soropositivas para o <strong>HIV</strong> são de alto risco de infecção pelo HPV<br />
cervicovaginal e vulvar. Elas podem se manifestar sob forma de lesões clínicas<br />
fluorescentes extensas e recidivantes, ou sob a forma de neoplasias intraepiteliais. Estas<br />
mulheres apresentam, ainda, problemas terapêuticos relaciona<strong>do</strong>s com a extensão das<br />
lesões, com a sua agressividade e quanto às recidivas em relação à imunossupressão.<br />
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