Análise Quanto a Ocorrência de Parasitas Intestinais em Amostras Fecais Processadas em um Laboratório de Criciúma – SC
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A revista do laboratório mo<strong>de</strong>rno<br />
ANO XI - Nº 56<br />
(Fevereiro/Março <strong>de</strong> 2003)<br />
<strong>Análise</strong> <strong>Quanto</strong> a <strong>Ocorrência</strong> <strong>de</strong> <strong>Parasitas</strong> <strong>Intestinais</strong> <strong>em</strong> <strong>Amostras</strong> <strong>Fecais</strong><br />
<strong>Processadas</strong> <strong>em</strong> <strong>um</strong> <strong>Laboratório</strong> <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong> <strong>–</strong> <strong>SC</strong><br />
Geny A. Cantos 1 , Rosilene L. Dutra 1 , Taisonara Hilsen<strong>de</strong>ger 2 , Ana Rosa C.Guidis 3<br />
1 - Professoras do Departamento <strong>de</strong> <strong>Análise</strong>s Clínicas (ACL), Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa<br />
Catarina <strong>–</strong> Florianópolis - <strong>SC</strong><br />
2 - Aluna da disciplina Estágio Supervisionado <strong>–</strong> ACL <strong>–</strong> UF<strong>SC</strong><br />
3 <strong>–</strong> Farmacêutica-Bioquímica do <strong>Laboratório</strong> Dal Pont - <strong>Criciúma</strong> - <strong>SC</strong><br />
Res<strong>um</strong>o<br />
O estudo das parasitoses intestinais no laboratório Dal Ponte <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong> <strong>–</strong> <strong>SC</strong>, Brasil, foi<br />
realizado com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a ocorrência das parasitoses intestinais naquela região.<br />
Foram feitos 1.411 testes parasitológicos, no período <strong>de</strong> janeiro a maio <strong>de</strong> 2002, on<strong>de</strong> foram<br />
utilizados os métodos <strong>de</strong> Baermann, Lutz e Faust. Das 1.411 amostras analisadas 138 (9,8%)<br />
apresentaram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> parasito, sendo eles: Giardia lamblia (43,1%), Entamoeba<br />
histolytica (15,3%); Entamoeba coli (13,1%), Endolimax nana (10,9%), Enterobius<br />
vermiculares (6,6%), Ascaris l<strong>um</strong>bricoi<strong>de</strong>s (4,3%); Ancilostomí<strong>de</strong>os (2,25%); Strongyloi<strong>de</strong>s<br />
stercoralis (2,25%), Hymenolepis (1,1%) e Iodamoeba butschilli (1,1%). Estes resultados<br />
reforçam as possíveis associações entre a situação sócio-econômica da população analisada e o<br />
resultado dos exames.<br />
Palavras-chave: <strong>Ocorrência</strong>, parasitoses, condições sócio-econômicas<br />
S<strong>um</strong>mary<br />
A study of the intestinal parasites in the Dal Ponte laboratory of the <strong>SC</strong> State <strong>–</strong> Brazil,<br />
was carried with the aim of <strong>de</strong>tect the ocurrence of intestinal parasites in the region. Were<br />
analyzed 1411 samples, in the period of January until May of 2002. The samples were<br />
processed using the Baermann, Faust and Lutz methods. Of the 1411 sample analyzed 138<br />
(9,8%) presented infection by protozoans with this ocurrence: Giardia lamblia: (43,1%),<br />
Entamoeba histolytica (15,3%); Entamoeba coli (13,1%), Endolimax nana (10,9%), Enterobius<br />
vermiculares (6,6%), Ascaris l<strong>um</strong>bricoi<strong>de</strong>s (4,3%); Ancilostomí<strong>de</strong>os (2,25%); Strongyloi<strong>de</strong>s<br />
stercoralis (2,25%), Hymenolepis (1,1%) and Iodamoeba butschilli (1,1%). This results<br />
suggesting a possible association between socio-economic conditions of the citizens.<br />
Keywords: Ocurrence, parasitic diseases, socioeconomical conditions<br />
Introdução<br />
1
As parasitoses intestinais constitu<strong>em</strong> <strong>um</strong> probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no cenário da<br />
saú<strong>de</strong> pública do Brasil. A distribuição das parasitoses t<strong>em</strong> vários fatores intervenientes, como<br />
a presença <strong>de</strong> hospe<strong>de</strong>iros apropriados, as migrações h<strong>um</strong>anas, as condições ambientais<br />
(t<strong>em</strong>peratura, <strong>um</strong>ida<strong>de</strong>, altitu<strong>de</strong>) favoráveis, entre outros (Gatti et al., 1999). A principal fonte,<br />
que contribui para a contaminação do ser h<strong>um</strong>ano, encontra-se no solo e na água, sendo que o<br />
mesmo contribui para contaminar o meio ambiente, lançando os <strong>de</strong>jetos in natura, não dando<br />
<strong>um</strong> <strong>de</strong>stino a<strong>de</strong>quado aos mesmos, através <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esgotos e estações <strong>de</strong> tratamento. Os<br />
ovos, os cistos e as larvas dos parasitos, contaminam a água, a qual transporta estes el<strong>em</strong>entos à<br />
longas distâncias, promovendo, <strong>de</strong>ssa forma, a infecção <strong>de</strong> novos hospe<strong>de</strong>iros (Wenzel, 1999).<br />
Os parasitas estão s<strong>em</strong>pre associados com os locais sujos, como esgotos, córregos,<br />
lagoas e riachos contaminados, pois estes po<strong>de</strong>m ac<strong>um</strong>ular gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos e fezes<br />
eliminados por pessoas enfermas. Também o lixo cost<strong>um</strong>a atrair n<strong>um</strong>erosos insetos e roedores<br />
o que facilita a proliferação <strong>de</strong> certos parasitas (Cavinato, 1994).<br />
Dentro <strong>de</strong>ste contexto, o controle <strong>de</strong> enteroparasitoses <strong>de</strong>ve fazer parte do conjunto <strong>de</strong><br />
medidas que vis<strong>em</strong> monitorar as más condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população, com<br />
relação à habitação e o saneamento básico, associadas a <strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a educacional, <strong>de</strong> modo que<br />
o indivíduo tenha menor exposição a doenças infecto contagiosas e parasitárias (Costa-Cruz et<br />
al., 1995; Cantos et al., 1999; Gulletta, 2000).<br />
Aspectos importantes no que se refere às enteroparasitoses são os sintomas causados<br />
pelos mesmos, que geralmente são inespecíficos. Dessa maneira, torna-se importante a<br />
realização dos exames <strong>de</strong> fezes a fim <strong>de</strong> que se tenha o diagnóstico correto <strong>de</strong> tais parasitas.<br />
Muitas vezes outros materiais, como urina, escarro, secreções urogenitais, aspirados, tecidos,<br />
conteúdo duo<strong>de</strong>nal e espécimes obtidos por biópsia possam ser utilizados para a i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> certas espécies. Na realida<strong>de</strong>, <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntificação segura e correta <strong>de</strong> <strong>um</strong> parasito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
critérios morfológicos, os quais estão sujeitos a <strong>um</strong>a colheita b<strong>em</strong> feita e a <strong>um</strong>a boa preservação<br />
dos espécimes (De Carli & Oliveira, 1999).<br />
Objetivo<br />
Este trabalho t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> discutir as parasitoses intestinais <strong>de</strong> maior<br />
ocorrência, <strong>em</strong> <strong>um</strong>a pequena população, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong>.<br />
Material e Métodos<br />
Este trabalho foi realizado baseado <strong>em</strong> resultados <strong>de</strong> 1.411 testes parasitológicos<br />
realizados no <strong>Laboratório</strong> Dal Pont, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong>, entre os meses <strong>de</strong> janeiro a maio <strong>de</strong><br />
2001.<br />
Os métodos utilizados foram: Faust (solução <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> zinco a 33%, <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
1.180); Lutz (sedimentação espontânea <strong>de</strong> estruturas parasitárias nas fezes) e Baermann (termohidrotopismo<br />
das larvas <strong>de</strong> n<strong>em</strong>ató<strong>de</strong>os encontradas nas fezes, associado à ação da gravida<strong>de</strong>)<br />
(De Carli, 2002).<br />
Resultados<br />
Do total <strong>de</strong> 1.411 testes parasitológicos analisados, 9.8% dos indivíduos foram<br />
parasitados (138) e 90.2% (1.273) não apresentaram parasitas <strong>em</strong> suas fezes. A ocorrência dos<br />
2
enteroparasitas está na Tabela 1, sendo que o mais prevalente foi a Giardia lamblia, seguido da<br />
Entamoeba histolytica.<br />
Tabela 1 - Enteroparasitas encontrados <strong>em</strong> amostras fecais processadas no <strong>Laboratório</strong> Dal<br />
Pont - <strong>Criciúma</strong>-<strong>SC</strong>, entre os meses <strong>de</strong> janeiro à maio <strong>de</strong> 2001<br />
PARASITAS TOTAL (%)<br />
Giardia lamblia 59 43,1<br />
Entamoeba histolytica 21 15,3<br />
Entamoeba coli 18 13,1<br />
Endolimax nana 15 10,9<br />
Enterobius vermicularis 9 6,60<br />
Ascaris l<strong>um</strong>bricoi<strong>de</strong>s 6 4,30<br />
Ancilostomí<strong>de</strong>os 3 2,25<br />
Strongyloi<strong>de</strong>s stercoralis 3 2,25<br />
Hymenolepis nana 2 1,10<br />
Iodamoeba butschilli 2 1,10<br />
Discussão<br />
A erradicação <strong>de</strong> parasitas intestinais requer melhorias das condições sócio-econômicas,<br />
no saneamento básico e na educação sanitária, além <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> certos hábitos culturais<br />
(Castello Branco Jr., 1999).<br />
No coprodiagnóstico parasitológico utilizam-se diversas metodologias, com<br />
fundamentos distintos com o objetivo <strong>de</strong> a<strong>um</strong>entar a acurácia diagnóstica e, conseqüent<strong>em</strong>ente,<br />
diminuir os resultados falso-negativos. Está também estabelecido que a coleta múltipla <strong>de</strong><br />
amostras <strong>em</strong> diferentes dias a<strong>um</strong>enta a eficácia do diagnóstico (De Carvalho et al., 2002).<br />
Assim, para que se consi<strong>de</strong>re os índices <strong>de</strong> parasitoses <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>terminada Região,<br />
<strong>de</strong>ve-se levar <strong>em</strong> conta os fatores que interfer<strong>em</strong> na distribuição geográfica das parasitoses e<br />
também as diversas metodologias <strong>em</strong>pregadas por cada pesquisador, <strong>de</strong> forma que os<br />
resultados possam ser comparados epi<strong>de</strong>miologicamente.<br />
Dada a importância <strong>de</strong>ste t<strong>em</strong>a, neste trabalho procurou-se conhecer a ocorrência <strong>de</strong><br />
parasitas intestinais <strong>de</strong> 1.411 indivíduos resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> <strong>Criciúma</strong>, através <strong>de</strong> exames fecais<br />
realizados no <strong>Laboratório</strong> Dal Pont <strong>de</strong>sta Cida<strong>de</strong>. Os resultados mostraram que somente 9,8%<br />
<strong>de</strong>sses indivíduos apresentaram alg<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> parasita. Este resultado foi inferior ao encontrado<br />
por Cantos et al. (1996), os quais verificaram <strong>um</strong>a ocorrência <strong>de</strong> 22,7%, <strong>em</strong> Florianópolis.<br />
Mais recent<strong>em</strong>ente, Cantos et.al. (2002a), examinando as amostras fecais <strong>de</strong> outro laboratório<br />
<strong>de</strong> Florianópolis, encontraram <strong>um</strong>a ocorrência <strong>de</strong> 25,38 %.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a metodologia <strong>em</strong>pregada tanto nos laboratórios <strong>de</strong> Florianópolis<br />
como <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong> são similares, po<strong>de</strong>mos pois verificar que a população <strong>de</strong> <strong>Criciúma</strong><br />
3
apresenta menor parasitismo, <strong>de</strong> forma que po<strong>de</strong>-se, <strong>em</strong> <strong>um</strong> primeiro momento, sugerir que<br />
estas pessoas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter melhores condições <strong>de</strong> saneamento básico, educação sanitária e melhor<br />
condição sócio econômica.<br />
Contudo, há <strong>de</strong> se levar <strong>em</strong> conta, que quando se consi<strong>de</strong>ra <strong>um</strong>a pequena população,<br />
este agrupamento aleatório não dá <strong>um</strong>a visão abrangente do coletivo. S<strong>em</strong> dúvida, t<strong>em</strong>-se<br />
consciência que quando se quer estudar o impacto que <strong>um</strong>a parasitose exerce sobre a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida <strong>de</strong> <strong>um</strong>a população, <strong>de</strong>ve-se ainda ter acesso a <strong>um</strong>a área <strong>de</strong> conhecimento bastante<br />
ampla e muito mais complexa, não só quantificando mas também verificando as relações<br />
estabelecidas nos ecosist<strong>em</strong>as, a faixa etária, o sexo, entre outros fatores. De qualquer forma, os<br />
resultados <strong>em</strong> questão permit<strong>em</strong> levantar hipóteses sobre os possíveis fatores que <strong>de</strong>terminam a<br />
prevalência <strong>de</strong> certas parasitoses intestinais.<br />
Em relação a Giardia lamblia, esta é <strong>um</strong>a protozoose que acomete, principalmente,<br />
crianças <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> pré-escolar intestinal <strong>de</strong> maior prevalência, (Ferreira et al., 2000), sendo este<br />
o parasita <strong>de</strong> maior ocorrência nas amostras analisadas neste trabalho (43,1%).<br />
Comparativamente, estes dados foram similares àqueles encontrados por Miranda et al., (1998),<br />
cujo índice <strong>de</strong>sta parasitose, entre indígenas do Panakã do Estado do Pará, foi <strong>de</strong> 46.7%,<br />
<strong>em</strong>bora esta seja <strong>um</strong>a população b<strong>em</strong> diferente à analisada neste trabalho. Outro estudo feito<br />
por Kobayashi et al. (1995), nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Campinas, mostrou que a prevalência média<br />
<strong>de</strong>sta parasitose foi <strong>de</strong> 37,8%, sendo a G. lamblia, o protozoário que mais ocorreu na população<br />
estudada por esses autores.<br />
Comparando estes dados com a literatura, po<strong>de</strong>-se verificar que esta ocorrência é<br />
relativamente elevada, mesmo porque no presente trabalho a população <strong>em</strong> estudo não foi<br />
extratificada por faixa etária. A ex<strong>em</strong>plo, t<strong>em</strong>-se o trabalho realizado com moradores <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
bairro <strong>em</strong> Montes Claros - MG, on<strong>de</strong> a prevalência <strong>de</strong> enteroparasitas foi <strong>de</strong> 67,73%, sendo que<br />
a ocorrência <strong>de</strong> G. lamblia foi <strong>de</strong> apenas 11,9% (Figueiredo et al., 1999). Também <strong>em</strong> São<br />
Carlos - SP, nos trabalhos realizados com crianças <strong>de</strong> rua, mesmo utilizando somente os<br />
métodos diretos <strong>de</strong> Lutz, po<strong>de</strong>-se observar <strong>um</strong>a alta prevalência <strong>de</strong> enteroparasitoses 51,4%,<br />
sendo que o encontro <strong>de</strong> G. lamblia foi <strong>de</strong> 19,0% (Wenzel et al.,1999). E ainda merece atenção<br />
o trabalho realizado por Becker et al., (2002), os quais trabalharam com amostras fecais <strong>de</strong><br />
alunos <strong>de</strong> primeira a quinta série e mesmo usando somente o método <strong>de</strong> Lutz, encontraram<br />
53,85% <strong>de</strong> enteroparasitas, sendo que o encontro <strong>de</strong> G. lamblia foi <strong>de</strong> 22,9%.<br />
Em relação à Entamoeba histolytica, mais <strong>um</strong>a vez a ocorrência <strong>de</strong>sta parasitose<br />
encontrada neste trabalho foi superior, quando comparada a outros inquéritos parasitógicos,<br />
como por ex<strong>em</strong>plo: 0,7% (Cantos et al., 2002a); 1,5% (Ferreira et al., 1994); 2,0 e 3,6%<br />
(Wenzel et al., 1999). Segundo Rey (1992), a prevalência <strong>de</strong>ste protozoário na maioria dos<br />
inquéritos parasitológicos realizados no Estado <strong>de</strong> São Paulo varia <strong>de</strong> 10 a 20%.<br />
Para justificar a alta prevalência <strong>de</strong>stas duas parasitoses, nesta pesquisa, po<strong>de</strong>-se<br />
arg<strong>um</strong>entar que a transmissão da E. histolytica e G. lamblia ocorre pela ingestão <strong>de</strong> cistos<br />
maduros através <strong>de</strong> alimentos contaminados (água, frutas e verduras cruas) e po<strong>de</strong> estar<br />
ocorrendo a transmissão <strong>de</strong>stas protozooses <strong>em</strong> alguns focos específicos <strong>de</strong>sta Região. Diga-se<br />
que o número <strong>de</strong> cistos nas fezes, <strong>em</strong> infecções médias por Giardia lamblia, varia <strong>de</strong> 300<br />
milhões a 14 bilhões <strong>de</strong> cistos (Rey, 1992) e que estes cistos viv<strong>em</strong> no exterior, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 60<br />
dias, <strong>em</strong> boas condições (Pessoa & Martins, 1982). Calcula-se também que <strong>em</strong> cada evacuação,<br />
contendo 100g <strong>de</strong> material fecal, po<strong>de</strong> conter 6 milhões <strong>de</strong> cistos <strong>de</strong> E. histolytica, (Neves,<br />
1997).<br />
Em relação ao Enterobius vermicularis, sabe-se que este helminto t<strong>em</strong> alta prevalência<br />
nas crianças <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> escolar e a transmissão é <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente doméstica ou <strong>de</strong> ambientes<br />
4
coletivos fechados (creches, asilos, enfermarias, etc) (Neves, 1997). Para pesquisa <strong>de</strong>sta<br />
parasitose o correto é que se faça o método <strong>de</strong> Graham, pois a fêmea <strong>de</strong>ste helminto coloca 11<br />
mil ovos n<strong>um</strong>a bolsa (útero) e a faz a postura dos seus ovos na região anal (Rey, 1992).<br />
Inquérito parasitológico realizado por Cantos et al. (1999), utilizando o método <strong>de</strong> Graham<br />
mostrou <strong>um</strong>a ocorrência <strong>de</strong> 12,4% nas creches da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> Florianópolis.<br />
Neste trabalho, como o método <strong>de</strong> Graham não foi realizado, consi<strong>de</strong>ra-se alta<br />
prevalência <strong>de</strong>ste helminto se comparado a outros inquéritos parasitológicos. A ex<strong>em</strong>plo têm-se<br />
trabalhos realizados por Cantos et al., (2002a) e Figueiredo et al., (1999), cujos resultados<br />
foram <strong>de</strong> 2,2 e 2,3%, respectivamente. Contudo, Wenzel et al. (1999) encontraram 7,7%,<br />
similar ao encontrado nesta pesquisa. Apesar da ocorrência <strong>de</strong>sta helmintíase neste trabalho ter<br />
sido relativamente alta, s<strong>em</strong> a realização <strong>de</strong> <strong>um</strong> método específico, <strong>de</strong>ve ficar claro que <strong>em</strong><br />
suspeita <strong>de</strong>sta parasitose, ou <strong>em</strong> inquéritos realizados <strong>em</strong> creches ou lugares fechados, o<br />
método <strong>de</strong> Graham não po<strong>de</strong> ser omitido.<br />
O Ascaris l<strong>um</strong>bricoi<strong>de</strong>s é o parasita <strong>de</strong> maior prevalência na maioria dos inquéritos<br />
realizados (Goia, 1992; Ferreira et al., 1994; Cantos et al., 1996). O método <strong>de</strong> Lutz é b<strong>em</strong><br />
conhecido e <strong>de</strong>tecta mais facilmente ovos pesados (Holanda, 1993). A importância <strong>de</strong>ste<br />
método para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>sses ovos, sobretudo <strong>de</strong> A. l<strong>um</strong>bricoi<strong>de</strong>s, Taenia sp. e Schistosoma<br />
mansoni têm sido enfatizada por Cantos et al. (2002b). Nesta pesquisa, <strong>em</strong>bora o método <strong>de</strong><br />
Lutz tenha sido utilizado, a ocorrência <strong>de</strong>ste parasito foi relativamente baixa, comparado a<br />
outros inquéritos parasitológicos (Gioia, 1992; Cantos et al., 1996; Gatti et al., 1999; Macedo<br />
et al., 1998). A alta ocorrência <strong>de</strong>sta helmintíase <strong>de</strong>ve-se ao fato que os ovos <strong>de</strong>ste helminto são<br />
muito resistentes às condições do meio exterior e quando estas lhes são favoráveis, seus ovos<br />
po<strong>de</strong>m resistir durante seis a sete anos (Pessoa & Martins, 1982). Uma hipótese para a baixa<br />
ocorrência <strong>de</strong>sta parasitose nesta pesquisa, talvez seja <strong>um</strong> menor contato que essas pessoas<br />
possam ter com a terra, <strong>um</strong>a vez esses ovos necessitam <strong>de</strong> <strong>um</strong> t<strong>em</strong>po no meio externo para se<br />
tornar<strong>em</strong> infectantes.<br />
Um último comentário ainda será sobre a ocorrência <strong>de</strong> ancilostomí<strong>de</strong>os e Strongyloi<strong>de</strong>s<br />
stercoralis. De maneira geral, a ocorrência do primeiro é maior que o do segundo (Kobayashi<br />
et al., 1995; Wenzel et al., 1999; Cerqueira et al., 2002) dado ao fato das larvas filariói<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ancilostomí<strong>de</strong>os (estas <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> <strong>um</strong>a bainha protetora) viver<strong>em</strong> mais no meio externo que<br />
as larvas <strong>de</strong> S. stercoralis (Cantos, 1997a).<br />
Dado a biologia do S. stercoralis, o diagnóstico do mesmo é realizado pelo encontro <strong>de</strong><br />
larvas nas fezes. Tradicionalmente os métodos mais utilizados são o <strong>de</strong> Rugai e Baermann.<br />
Muitos autores têm utilizado os métodos <strong>de</strong> Harada-Mori (Jozefzoon & Oosburg, 1994) e mais<br />
recent<strong>em</strong>ente o método <strong>de</strong> cultura <strong>em</strong> Placa <strong>de</strong> ágar t<strong>em</strong> sido indicado para suspeita <strong>de</strong>stas<br />
helmintíases, por apresentar melhor sensibilida<strong>de</strong> (Kobayaski et al., 1996; Cantos et al.,<br />
1997b).<br />
Nesta pesquisa o método <strong>de</strong> Baermann foi realizado e a ocorrência <strong>de</strong> Ancilostomí<strong>de</strong>os<br />
e S. stercoralis foi a mesma. Estes resultados foram similares a outros inquéritos<br />
parasitológicos realizados por Beker et al. (2002), os quais encontraram 1,4% e 2,9%,<br />
respectivamente, para estes helmintos e por Cantos et al., (1996), os quais encontraram 2,2%<br />
para ambos helmintos. Em outros inquéritos a ocorrência <strong>de</strong> S.stercoralis foi superior ao dos<br />
Ancilostomí<strong>de</strong>os (Figueiredo et al., 1999; Cantos et al., 2002a).<br />
Concluímos que a situação epi<strong>de</strong>miológica das enteroparasitoses no Brasil não se<br />
apresenta uniforme, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo, entre outros fatores, da distribuição <strong>de</strong> renda e das condições<br />
<strong>de</strong> higiene ambiental. Assim, torna-se necessária a realização <strong>de</strong> constantes inquéritos<br />
parasitológicos <strong>de</strong> maneira a se obter informações especialmente quanto aos hábitos higiênicos<br />
5
da população <strong>em</strong> estudo e quanto ao nível <strong>de</strong> extensão e saneamento básico e <strong>um</strong>a Região. De<br />
posse <strong>de</strong>stas informações é necessário tomar medidas que interrompam o ciclo parasitário,<br />
através da prevenção e controle das parasitoses.<br />
Correspondência para:<br />
Geny A. Cantos<br />
E-mail: geny@ccs.ufsc.br<br />
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