Cistatina C um novo biomarcador do infarto do miocárdio
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<strong>Cistatina</strong> C: <strong>um</strong> <strong>novo</strong> <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> <strong>do</strong> <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong><br />
Si<strong>um</strong>ara Tulio<br />
RESUMO<br />
As <strong>do</strong>enças cardiovasculares são a principal causa de morte no mun<strong>do</strong>. As cistatinas são<br />
proteínas inibi<strong>do</strong>ras das cisteínas proteases que regulam a atividade destas enzimas para<br />
evitar danos ao organismo, como processos inflamatórios, <strong>do</strong>enças neurológicas e<br />
formação de t<strong>um</strong>ores. Investigou-se a associação entre a elevação <strong>do</strong>s níveis séricos de<br />
<strong>Cistatina</strong> C e o risco <strong>do</strong> <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong> na população em geral, além da utilização<br />
deste marca<strong>do</strong>r no diagnóstico laboratorial. Foi realizada <strong>um</strong>a revisão bibliográfica<br />
utilizan<strong>do</strong> sites de busca para artigos científicos como: Pubmed, Biblioteca Virtual em<br />
Saúde (BVS), Google e Scielo. A cistatina C h<strong>um</strong>ana (HCC) é produzida e secretada<br />
pelos cardiomiócitos e sua síntese eleva-se quan<strong>do</strong> o coração está sob isquemia. A<br />
concentração plasmática de HCC independe de fatores extrínsecos como gênero, idade,<br />
inflamação, massa muscular e dieta. Quan<strong>do</strong> a produção endógena deste marca<strong>do</strong>r é<br />
constante, sua concentração plasmática está diretamente relacionada ao vol<strong>um</strong>e da<br />
filtração glomerular. A nefelometria e a turbidimetria têm si<strong>do</strong> os méto<strong>do</strong>s mais<br />
utiliza<strong>do</strong>s para a determinação <strong>do</strong>s níveis séricos desta proteína. Este estu<strong>do</strong> de revisão<br />
apresenta resulta<strong>do</strong>s clínicos relevantes para utilização da determinação da sérica da<br />
cistatina C como <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> de <strong>do</strong>enças cardíacas.<br />
Palavras-chave: Infarto <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>. <strong>Cistatina</strong> C. Fator de risco.<br />
ABSTRACT<br />
Cardiovascular diseases are the leading cause of death in the world. Cystatin is a protein<br />
inhibitor of cysteine proteases that regulates the activity of these enzymes to prevent<br />
damage to the body, such as inflammatory processes, neurological diseases and t<strong>um</strong>or<br />
formation. To investigate the association between elevated ser<strong>um</strong> Cystatin C levels and<br />
the risk of myocardial infarction in the general population, in addition to the use of this<br />
marker in laboratory diagnosis. Method: Review was performed searched articles<br />
indexed in Pubmed, Brazil BVS, Google and Scielo. H<strong>um</strong>an cystatin C (HCC) is<br />
produced and secreted by cardiomyocytes and its synthesis is elevated when the heart is<br />
under ischemia. The plasma concentration of HCC is independent of extrinsic factors<br />
such as gender, age, inflammation, muscle mass and diet. When the en<strong>do</strong>genous<br />
production of this marker is constant, its plasma concentration is directly related to the<br />
vol<strong>um</strong>e of the glomerular filtration. Nephelometry and turbidimetry have been the most<br />
used methods for the determination of the ser<strong>um</strong> levels of this protein. This review<br />
study presents relevant clinical results for the use of ser<strong>um</strong> cystatin C as a biomarker for<br />
heart disease.<br />
1
KeyWord: Myocardial infarction. Cystatin C. Risk factor.<br />
1.INTRODUÇÃO<br />
As <strong>do</strong>enças cardiovasculares são a principal causa de morte no mun<strong>do</strong>. No Brasil, 300<br />
mil pessoas morrem anualmente, sen<strong>do</strong> que, 30% <strong>do</strong>s casos são fatais (OPAS/OMS,<br />
2016) (23).<br />
As <strong>do</strong>enças cardiovasculares são <strong>um</strong> grupo de <strong>do</strong>enças que atingem o coração e os vasos<br />
sanguíneos, sen<strong>do</strong> as mais frequentes: cardiopatia isquêmica (<strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>),<br />
insuficiência cardíaca congestiva (ICC), arritmias cardíacas, miocardiopatias,<br />
cardiopatias congênitas e trombose venosa. Os ataques cardíacos geralmente são<br />
eventos agu<strong>do</strong>s causa<strong>do</strong>s principalmente pelo bloqueio da circulação <strong>do</strong> sangue para o<br />
coração ou para o cérebro, frequentemente ocasiona<strong>do</strong> pelo acúmulo de depósitos de<br />
gordura nas paredes internas <strong>do</strong>s vasos sanguíneos que irrigam o coração ou o cérebro.<br />
A causa <strong>do</strong>s ataques cardíacos inclui <strong>um</strong>a combinação de fatores comportamentais de<br />
risco, como o uso de tabaco, dietas inadequadas, obesidade, sedentarismo, uso de<br />
álcool, hipertensão, diabetes e hiperlipidemia. Portanto, a maioria das <strong>do</strong>enças<br />
cardiovasculares poderia ser prevenida por meio da redução <strong>do</strong>s fatores de risco e <strong>do</strong><br />
diagnóstico precoce (NACB LMPG COMIMITTEE MEMBERS et al., 2001) (20).<br />
Além <strong>do</strong> exame físico, <strong>do</strong> eletrocardiograma e <strong>do</strong>s exames de imagem os exames<br />
laboratoriais são imprescindíveis para avaliação das <strong>do</strong>enças cardíacas e <strong>do</strong> risco de<br />
desenvolvimento da <strong>do</strong>ença. De acor<strong>do</strong> com a Academia Nacional de Bioquímica<br />
Clínica (NACB) Americana para prevenção primária de <strong>do</strong>enças cardíacas é essencial<br />
que seja realizada a pesquisa sorológica de <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong>es, como as Lipoproteínas,<br />
Apoproteínas, Homocisteína, Fibrinogênio, Peptídeo Natriurético Cerebral (BNP),<br />
Proteína C Reativa e marca<strong>do</strong>res da função renal, como a <strong>Cistatina</strong> C (MYERS et al.,<br />
2009) (19). O diagnóstico laboratorial da <strong>do</strong>ença aguda deve ser realiza<strong>do</strong> por meio da<br />
determinação sérica de marca<strong>do</strong>res cardíacos, proteínas e enzimas liberadas na<br />
circulação quan<strong>do</strong> existe lesão celular, como a creatinofosfoquinase (CK) e a sua fração<br />
MB (CK-MB) e a mioglobina (CAVALCANTI et al., 1998) (5).<br />
2
A <strong>Cistatina</strong> C é <strong>um</strong>a proteína com massa molecular de aproximadamente 13 kD<br />
produzida em todas as células nucleadas (ABRAHAMSON et al., 1988) (1). Estu<strong>do</strong>s<br />
recentes têm demonstra<strong>do</strong> que a elevação sérica <strong>do</strong>s níveis de <strong>Cistatina</strong> C, utilizada<br />
atualmente como <strong>um</strong> marca<strong>do</strong>r da função renal, está relacionada ao a<strong>um</strong>ento <strong>do</strong> risco <strong>do</strong><br />
desenvolvimento de cardiopatias e morte (ASTOR et al., 2012) (3).<br />
Esta revisão bibliográfica tem o intuito de investigar a associação entre a elevação <strong>do</strong>s<br />
níveis séricos de <strong>Cistatina</strong> C e o risco <strong>do</strong> <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong> na população em geral,<br />
além da utilização deste marca<strong>do</strong>r no diagnóstico laboratorial.<br />
2. METODOLOGIA<br />
Foi realizada <strong>um</strong>a revisão bibliográfica com objetivo de selecionar artigos que<br />
relacionassem a determinação laboratorial da cistatica C em casos de <strong>infarto</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>miocárdio</strong>. Os artigos científicos foram obti<strong>do</strong>s por meio de busca nas principais base<br />
de da<strong>do</strong>s científicos: Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde, Google e Scielo. Foram<br />
seleciona<strong>do</strong>s 28 artigos publica<strong>do</strong>s nos últimos 15 anos sobre cistatina C e <strong>infarto</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>miocárdio</strong>. Os critérios de inclusão foram: 1) estu<strong>do</strong>s sobre cistatina C realiza<strong>do</strong>s em<br />
h<strong>um</strong>anos, 2) determinação laboratorial de cistatina C, 3) indivíduos que apresentaram<br />
<strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>. Empregaram-se as seguintes palavras chave para busca: cistatina<br />
C, <strong>do</strong>ença cardiovascular, <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong> e diagnóstico laboratorial. Foram<br />
excluí<strong>do</strong>s artigos que tratavam exclusivamente de <strong>do</strong>ença renal.<br />
3. DESENVOLVIMENTO<br />
3.1 CISTATINA C<br />
As proteases, enzimas proteolíticas, estão envolvidas em processos biológicos<br />
essenciais, como a coagulação sanguínea, apoptose celular e diferenciação de teci<strong>do</strong>s<br />
(GAW et. al., 2015) (9). Estas enzimas são classificadas em quatro grupos de acor<strong>do</strong><br />
com o sítio catalítico de ação na cadeia peptídica: serinas proteases, cisteínas proteases,<br />
proteases aspárticas e metaloproteases (TURK et al., 2008) (31).<br />
3
As cisteínas proteases (CPs) são proteínas com massa molecular de aproximadamente<br />
21-30 kDa e estão presentes em to<strong>do</strong>s os organismos vivos (RAWLINGS & BARRET,<br />
1999) (24). São responsáveis por muitos processos bioquímicos, principalmente a<br />
degradação de peptídeos e proteínas. Sua atividade é regulada pelo equilíbrio entre a<br />
síntese e a degradação celular e por meio de inibi<strong>do</strong>res específicos (GRZONKA et al.,<br />
2001) (12).<br />
As cistatinas são proteínas inibi<strong>do</strong>ras das cisteínas proteases que regulam a atividade<br />
destas enzimas para evitar danos ao organismo como processos inflamatórios, <strong>do</strong>enças<br />
neurológicas e formação de t<strong>um</strong>ores. Estas inibi<strong>do</strong>ras protegem a célula da proteólise<br />
inapropriada e estão envolvi<strong>do</strong>s no controle da degradação das proteínas (HENSKENS<br />
et al., 1996, TURK & BODE, 1991) (13,30).<br />
A superfamília das cistatinas h<strong>um</strong>anas está dividida em três famílias, na Família II<br />
encontra-se a cistatina C (HCC). A distribuição intracelular de cistatina C é<br />
pre<strong>do</strong>minante no retículo en<strong>do</strong>plasmático e nos corpúsculos de Golgi, na forma de<br />
dímeros inativos. Nas vesículas secretoras os dímeros dissociam-se e são secreta<strong>do</strong>s<br />
apenas monômeros ativos (NOVO, 2009) (22) (FIGURA 1). A proteína é codificada no<br />
cromossomo 20, contém 120-122 aminoáci<strong>do</strong> e apresenta massa molecular de<br />
aproximadamente 13 kDa (ABRAHAMSON et al, 1987, GRUBB & LOFBERG, 1982,<br />
SATOH et al, 1989) (1,10,25). A cistatina C é produzida e secretada pelos<br />
cardiomiócitos e sua síntese eleva-se quan<strong>do</strong> o coração está sob isquemia (SHILIPAK<br />
et al., 2005; TOUSOULIS et al., 2014) (26, 29). A proteína é eliminada exclusivamente<br />
por filtração glomerular seguida de reabsorção tubular para posterior catabolismo<br />
(COLL et al., 2000) (6).<br />
FIGURA 1-<strong>Cistatina</strong> C<br />
Fonte: Adapta<strong>do</strong> www.google.com.br/search?q=cistatina+c&source<br />
A HCC está amplamente distribuída nos fluí<strong>do</strong>s corporais, como líquor, saliva e plasma<br />
sanguíneo, o que a torna a principal proteína inibi<strong>do</strong>ra das CPs. O nível plasmático de<br />
HCC, geralmente entre 0,8-2,5 mg/L, é com<strong>um</strong>ente utiliza<strong>do</strong> como <strong>um</strong> marca<strong>do</strong>r<br />
4
endógeno da função renal devi<strong>do</strong> sua estabilidade e razão constante de produção<br />
(GRUBB, 1992) (11). A concentração plasmática de HCC independe de fatores<br />
extrínsecos como gênero, idade, inflamação, massa muscular e dieta. Quan<strong>do</strong> a<br />
produção endógena deste marca<strong>do</strong>r é constante, sua concentração plasmática está<br />
diretamente relacionada ao vol<strong>um</strong>e da filtração glomerular (FANOS et al., 1999) (7).<br />
Recentemente alguns estu<strong>do</strong>s têm demonstra<strong>do</strong> que o nível sérico eleva<strong>do</strong> de HCC está<br />
associa<strong>do</strong> com o a<strong>um</strong>ento <strong>do</strong> risco de <strong>do</strong>enças cardiovasculares, principalmente o<br />
<strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>, e mortalidade (JIAN, 2015; MUSLIMOVIC et al., 2015) (15,18).<br />
3.2 INFARTO DO MIOCARDIO<br />
A cardiopatia isquêmica é <strong>um</strong>a denominação genérica para <strong>um</strong> grupo de síndromes que<br />
resultam em isquemia miocárdica, pode ser dividida em Coronariopatia Aterosclerótica<br />
(CA), responsável pela maioria <strong>do</strong>s eventos cardíacos isquêmicos, e Coronariopatia<br />
Não-Aterosclerótica. A CA consiste no estreitamento focal das artérias coronárias<br />
devi<strong>do</strong> à proliferação de células musculares lisas e da deposição de lipídios<br />
(CAVALCANTI, et. al., 1998) (5). A CA é prevalente em homens com mais de 50 anos<br />
e com níveis séricos de colesterol a<strong>um</strong>enta<strong>do</strong>s. F<strong>um</strong>antes têm 60% mais probabilidade<br />
de desenvolver esta patologia <strong>do</strong> que os não f<strong>um</strong>antes. O tabagismo a<strong>um</strong>enta os níveis<br />
de monóxi<strong>do</strong> de carbono no sangue causan<strong>do</strong> lesão ao en<strong>do</strong>télio (NACB LMPG<br />
COMMITEE MEMBERS et al., 2001) (20).<br />
As manifestações clínicas da CA são consequência direta da insuficiência de suprimento<br />
sanguíneo para o coração. O <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong> (IM), <strong>um</strong>a das síndromes clínicas<br />
básicas para a CA, é defini<strong>do</strong> como a necrose <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> miocárdico devi<strong>do</strong> à isquemia<br />
prolongada e ocorre quan<strong>do</strong> o <strong>miocárdio</strong> é priva<strong>do</strong> de suprimento sanguíneo por <strong>um</strong><br />
perío<strong>do</strong> de tempo significativo. A rapidez e a extensão <strong>do</strong> processo de <strong>infarto</strong> são<br />
determinadas pela gravidade da redução <strong>do</strong> fluxo sanguíneo para a área afetada (NACB<br />
LMPG COMMITEE MEMBERS et al., 2001) (20).<br />
5
3.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL<br />
A insuficiência cardíaca provoca alterações celulares com diferentes intensidades, desde<br />
discretas perdas de propriedades da membrana celular até a citólise. Devi<strong>do</strong> estas<br />
modificações alg<strong>um</strong>as moléculas intracelulares são liberadas no espaço intersticial e na<br />
circulação sanguínea. O diagnóstico laboratorial <strong>do</strong> IM é realiza<strong>do</strong> por meio da<br />
determinação destas moléculas, denominadas marca<strong>do</strong>res de lesão cardíaca. Os<br />
principais <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong>es são: mioglobina, troponinas cardíacas T e I, a creatinina<br />
quinase (CK) em sua isoforma M (CK-MB) encontrada em maior porcentagem no<br />
<strong>miocárdio</strong> (GAW et al., 2015) (9).<br />
As troponinas são proteínas envolvidas no processo de contração das fibras musculares<br />
esqueléticas e cardíacas. A troponinas T e I são consideradas marca<strong>do</strong>res mais<br />
específicos e sensíveis da lesão <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>. Estas proteínas tornam-se detectáveis na<br />
circulação entre 4 a 6 horas após o IM, com <strong>um</strong> pico em 12 horas; seus níveis se<br />
mantêm eleva<strong>do</strong>s por 3 a 10 dias, o que permite realizar o diagnóstico <strong>do</strong> IM agu<strong>do</strong><br />
mesmo depois de alg<strong>um</strong> tempo <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> (GAW et al., 2015) (9).<br />
A CK-MB, encontrada em maior porcentagem no <strong>miocárdio</strong>, mas também presente em<br />
baixos níveis no músculo esquelético (1%), é considerada o indica<strong>do</strong>r mais específico<br />
de lesão cardíaca, no entanto, sua concentração eleva-se apenas após lesão isquêmica<br />
irreversível. A atividade da CK-MB a<strong>um</strong>enta dentro de 4-8 horas após o IM, com pico<br />
entre 24-48 horas, e retorna ao nível normal em aproximadamente 72 horas<br />
(CAVALCANTI et al.,1998, GAW et al., 2015) (5, 9).<br />
Os resulta<strong>do</strong>s laboratoriais utilizan<strong>do</strong> estes marca<strong>do</strong>res cardíacos são dependentes <strong>do</strong><br />
tempo decorri<strong>do</strong> entre o início <strong>do</strong>s sintomas e a coleta da amostra. Recomenda-se a<br />
coleta de amostras seriadas, em geral, após 3,6 e 9h <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s sintomas (GAW et al.,<br />
2015) (9).<br />
Recentemente pesquisa<strong>do</strong>res têm sugeri<strong>do</strong> a inclusão da cistatina C entre os<br />
<strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong>es cardíacos devi<strong>do</strong> a fortes evidências de que o a<strong>um</strong>ento da concentração<br />
de HCC está associa<strong>do</strong> ao IM (HUANG et al., 2017,TAGLIERI et al., 2010) (14,28).<br />
6
3.4 CISTATINA C-BIOMARCADOR DO IM<br />
Shilipak et al. (2006) (27) analisaram 4663 indivíduos i<strong>do</strong>sos, com e sem <strong>do</strong>ença renal<br />
crônica, e concluíram que a cistatina C é <strong>um</strong> <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> de risco de morte, risco de<br />
<strong>do</strong>ença cardiovascular e de <strong>do</strong>ença renal. Neste estu<strong>do</strong>, por meio da determinação sérica<br />
da cistatina C foi possível diagnosticar <strong>um</strong> esta<strong>do</strong> pré-clínico que não pôde ser<br />
detecta<strong>do</strong> com a determinação da creatinina sérica ou utilizan<strong>do</strong> o índice de filtração<br />
glomerular.<br />
Windhausen et al. (2009) (32) demonstraram resulta<strong>do</strong>s similares analisan<strong>do</strong> 1128<br />
pacientes com síndrome coronária aguda e com antecedente de troponina elevada.<br />
Em 2010 Taglieri et al. (28) analisan<strong>do</strong> pacientes com <strong>do</strong>ença renal crônica com risco<br />
de desenvolvimento de <strong>do</strong>ença cardiovascular, observaram que havia em a<strong>um</strong>ento na<br />
concentração sérica de cistatina C nestes pacientes.<br />
Em 2012, Astor et al. (3) publicaram <strong>um</strong> estu<strong>do</strong> onde acompanharam por <strong>um</strong> perío<strong>do</strong> de<br />
10 os níveis de cistatina C em 9.988 indivíduos e observaram que o a<strong>um</strong>ento da<br />
concentração deste marca<strong>do</strong>r estava associa<strong>do</strong> com maior risco de mortalidade por<br />
<strong>do</strong>enças cardiovasculares assim como, a perda da função renal.<br />
Negrusz-Kawecka et al. (2014) (21) ao analisar 63 pacientes com <strong>do</strong>ença coronária<br />
demonstrou que o a<strong>um</strong>ento <strong>do</strong> nível de cistatina C tinha <strong>um</strong> papel importante na<br />
patogênese <strong>do</strong> <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>.<br />
Minghui et al. (2015) ( 17) realizou <strong>um</strong> estu<strong>do</strong> de metanálise sobre os níveis de cistatina<br />
C em casos de <strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong> incluin<strong>do</strong> sete artigos publica<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de<br />
2005 a 2014. Este artigo reuniu estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em indivíduos com idade entre 62 a<br />
75 anos e concluiu que o a<strong>um</strong>ento sérico da cistatina C está associada ao maior risco de<br />
<strong>infarto</strong> <strong>do</strong> <strong>miocárdio</strong>.<br />
Zhao et al. (2016) (34) investigou a concentração de cistatina C em 525 chineses com<br />
<strong>do</strong>ença coronária e observou que os níveis eleva<strong>do</strong>s deste marca<strong>do</strong>r estavam<br />
relaciona<strong>do</strong>s com o prognóstico da <strong>do</strong>ença.<br />
7
Recentemente, Wu et al.(2017) (33) demonstrou que o nível sérico de catepsinas e <strong>do</strong><br />
inibi<strong>do</strong>r endógeno cistatina C pode ser utiliza<strong>do</strong> como <strong>um</strong> <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> no diagnóstico<br />
de <strong>do</strong>enças cardiovasculares.<br />
3.5 DETERMINAÇÃO LABORATORIAL DA CISTATINA C (HCC)<br />
A HCC pode ser determinada no sangue e em fluí<strong>do</strong>s corporais por meio de diferentes<br />
méto<strong>do</strong>s imunométricos. A nefelometria e a turbidimetria têm si<strong>do</strong> os méto<strong>do</strong>s mais<br />
utiliza<strong>do</strong>s para a determinação <strong>do</strong>s níveis séricos desta proteína (GRUBB, 1992) (11).<br />
Tanto a turbidimetria como a nefelometria são méto<strong>do</strong>s espectrofotométricos<br />
fundamenta<strong>do</strong>s na quantificação da energia l<strong>um</strong>inosa dispersada por soluções que<br />
contenham imunocomplexos. A nefelometria consiste em medir a turbidez desenvolvida<br />
após reação imunológica, o equipamento mede a difração da luz ao passar pela solução<br />
conten<strong>do</strong> os imunocomplexos, luz difundida (MEDEIROS, 2010) (16).<br />
A turbidimetria mede a redução da luz ao passar pelos imunocomplexos forma<strong>do</strong>s na<br />
reação, portanto a luz absorvida. Estes méto<strong>do</strong>s permitem quantificar o analito com<br />
precisão e exatidão em função <strong>do</strong> fundamento físico químico utiliza<strong>do</strong>. É possível<br />
detectar entre 0,23 a 7,25 mg/L da HCC sérica, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s reagentes e <strong>do</strong><br />
equipamento utiliza<strong>do</strong>s (MEDEIROS, 2010) (16).<br />
A HCC apresenta boa estabilidade para determinação laboratorial e não existem<br />
diferenças relevantes nos valores de referência entre indivíduos <strong>do</strong> sexo feminino e<br />
masculino. No entanto, pode haver a<strong>um</strong>ento da concentração sérica em i<strong>do</strong>sos, com<br />
idade superior a 60 anos, devi<strong>do</strong> à diminuição da função renal (GABRIEL et al., 2011;<br />
MEDEIROS, 2010) (8,16).<br />
4. DISCUSSÃO<br />
As <strong>do</strong>enças cardiovasculares são importantes causa de morte no Brasil e no mun<strong>do</strong> e os<br />
<strong>do</strong>entes renais crônicos têm maior risco de apresentarem <strong>do</strong>enças cardiovasculares.<br />
Devi<strong>do</strong> à ampla distribuição da HCC em fluí<strong>do</strong>s corporais como líquor, saliva e plasma<br />
8
sanguíneo a determinação sérica da cistatina C têm demonstra<strong>do</strong> ser <strong>um</strong> bom marca<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> vol<strong>um</strong>e de filtração glomerular em <strong>do</strong>entes renais crônicos (ASTOR et al., 2012) (3).<br />
Este estu<strong>do</strong> de revisão apresentou estu<strong>do</strong>s clínicos recentes que demonstraram que a<br />
determinação da sérica da cistatina C pode também ser utilizada como <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> de<br />
<strong>do</strong>enças cardíacas, devi<strong>do</strong> sua menor variabilidade sérica.<br />
A cistatina C é secretada pelos cardiomiócitos, sua síntese a<strong>um</strong>enta quan<strong>do</strong> o coração<br />
está sob isquemia e seu acúmulo pode desencadear efeitos adversos, como a deposição<br />
amiloide no interior <strong>do</strong>s vasos (GRUBB, 1992) (11).<br />
O a<strong>um</strong>ento na concentração sérica da cistatina C está fortemente associa<strong>do</strong> ao risco de<br />
desenvolvimento de <strong>do</strong>enças cardiovasculares (MINGHUI et al. 2015) (17). A HCC<br />
apresenta boa estabilidade para determinação laboratorial e não existem diferenças<br />
relevantes nos valores de referência entre indivíduos <strong>do</strong> sexo feminino e masculino<br />
(MEDEIROS, 2010) (16).<br />
Os resulta<strong>do</strong>s relata<strong>do</strong>s nesta revisão abrem novas perspectivas para que outros estu<strong>do</strong>s<br />
sejam realiza<strong>do</strong>s com o objetivo de investigar a utilidade da cistatina C como<br />
<strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> <strong>do</strong> diagnóstico de outras <strong>do</strong>enças cardiovasculares além <strong>do</strong> <strong>infarto</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>miocárdio</strong>.<br />
5. CONCLUSÃO<br />
A determinação sérica da cistatina C, <strong>um</strong>a proteína não glicosilada de baixa massa<br />
molecular, com<strong>um</strong>ente utilizada como <strong>um</strong> marca<strong>do</strong>r da filtração glomerular,<br />
demonstrou ser <strong>um</strong> promissor <strong>biomarca<strong>do</strong>r</strong> para predição <strong>do</strong> risco de <strong>infarto</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>miocárdio</strong> e útil para reduzir o risco de morte, se utiliza<strong>do</strong> rotineiramente na prática<br />
clínica. A performance da cistatina C como marca<strong>do</strong>r de <strong>do</strong>ença cardíaca tem si<strong>do</strong><br />
avaliada em diferentes populações de pacientes corraboran<strong>do</strong> sua utilidade diagnóstica.<br />
A determinação laboratorial com reagentes padroniza<strong>do</strong>s está disponível na maioria <strong>do</strong>s<br />
grandes laboratórios brasileiros, embora seu custo ainda seja relativamente eleva<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> aos outros marca<strong>do</strong>res.<br />
9
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Site consulta<strong>do</strong>:<br />
http://www.paho.org/bra/index<br />
Autora: Si<strong>um</strong>ara Tulio.<br />
Titulação: Doutora em Medicina Interna-UFPR<br />
Função: Assessora Científica da Capricorn Technologies.<br />
Endereço para correspondência: stulio@terra.com.br<br />
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