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<strong>RELAÇÃO</strong> <strong>ENTRE</strong> <strong>SÍNDROME</strong> <strong>METABÓLICA</strong> E <strong>SÍNDROME</strong> <strong>DO</strong> <strong>OVÁRIO</strong><br />
<strong>POLICÍSTICO</strong><br />
Anne Caroline Cezimbra da Silva 1 , Luara da Silva 1 , Tássia Bombardieri Hoffmann 1 ,<br />
Eloir Dutra Lourenço 2 .<br />
1 Graduandas do Curso de Biomedicina, Universidade Feevale.<br />
2 Professor do Curso de Biomedicina, Universidade Feevale.<br />
Autor correspondente:<br />
Anne Caroline Cezimbra da Silva<br />
Rodovia RS-239, 2755 – Vila Nova<br />
Novo Hamburgo – RS, CEP – 93525-075<br />
Fone: (51) 8537-2555<br />
E-mail: anne.cezimbra@hotmail.com<br />
Resumo<br />
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma síndrome heterogênea que afeta<br />
aproximadamente 5 a 14% das mulheres em idade reprodutiva. Está associada a uma<br />
ampla variedade de alterações endócrinas e metabólicas, a maioria destas presentes na<br />
síndrome metabólica, que afeta aproximadamente 50% das pacientes diagnosticadas com<br />
SOP, aumentando duas vezes o risco de desenvolvimento de doenças vasculares<br />
ateroscleróticas e cinco vezes o risco do aparecimento de diabetes mellitus II. Esta revisão<br />
tem como objetivo evidenciar cientificamente a correlação existente entre a presença de<br />
síndrome do ovário policístico e síndrome metabólica, descrevendo as principais<br />
alterações observadas e demonstrando a relação existente entre essas desordens.<br />
Palavras-chave: síndrome do ovário policístico, síndrome metabólica, resistência à<br />
insulina, hiperandrogenismo.<br />
Abstract<br />
The polycystic ovary syndrome (PCOS) is a heterogeneous syndrome that affects<br />
approximately 5-14% of women in reproductive age. This coupled with a wide variety of
endocrine and metabolic disorders, most components of the metabolic syndrome, which<br />
affects about 50% of patients diagnosed with PCOS, increasing twice the risk of<br />
developing atherosclerotic vascular diseases and a 5-fold increase risk of diabetes<br />
mellitus II. This review aims to scientifically demonstrate the correlation between the<br />
presence of PCOS and metabolic syndrome, describing the main changes observed and<br />
demonstrating the relationship between these disorders.<br />
Key-words: polycystic ovary syndrome, metabolic syndrome, insulin resistance,<br />
hyperandrogenism.<br />
Introdução<br />
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma síndrome heterogênea que afeta<br />
aproximadamente 5 a 14% das mulheres em idade reprodutiva, é a causa mais comum de<br />
desordem endócrina e anormalidades reprodutivas (1; 2). Atualmente, o diagnóstico da<br />
SOP pode ser obtido através dos critérios de Rotterdam, que define na presença de dois<br />
dos três seguintes critérios: oligo e/ou anovulação; hiperandrogenismo clínico ou<br />
laboratorial e ovários com aspectos policísticos a ultrassom (12 ou mais folículos<br />
medindo entre 2-9mm de diâmetro ou volume ovariano aumentado >10cm). Deve-se<br />
ainda excluir outras causas de irregularidade menstrual e hiperandrogenismo, tais como:<br />
hiperprolactinemia, hipotireoidismo, hipertireoidismo, síndrome de Cushing, formas não<br />
claras das hiperplasias adrenais congênitas e neoplasias secretoras de andrógenos.<br />
Acredita-se que em condições intrauterinas como a restrição de crescimento,<br />
hiperinsulinemia, obesidade, hiperandrogenismo e, finalmente, a SOP possam determinar<br />
a cascata de efeitos metabólicos ao longo da vida da mulher (3).<br />
Está associada a uma ampla variedade de alterações endócrinas e metabólicas, sendo<br />
comum a presença de hiperinsulinemia, hiperglicemia, intolerância a glicose,<br />
dislipidemia, diabetes mellitus II, disfunção endotelial, hipertensão arterial sistêmica<br />
(HAS), alteração de marcadores pró-inflamatórios e obesidade, a maioria componentes<br />
da síndrome metabólica, que afeta aproximadamente 50% das pacientes diagnosticadas<br />
com SOP, atingindo principalmente mulheres com alto índice de massa corporal (IMC) e<br />
elevado nível de insulina, isso sugere que a SOP atue como uma forma sexo-específica<br />
de síndrome metabólica (2; 4; 5). A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de<br />
risco cardiovascular, abrange alteração na glicemia de jejum, obesidade central,<br />
dislipidemia e hipertensão arterial, além de outros fatores. Seu significado clínico, embora
ainda discutível, reside no fato de que pode prever um maior risco de eventos<br />
cardiovasculares.<br />
A resistência à insulina tem sido reconhecida como um elo comum entre essas<br />
anormalidades (6). A presença concomitante de SOP e síndrome metabólica aumentam<br />
duas vezes o risco de desenvolvimento de doenças vasculares ateroscleróticas e cinco<br />
vezes o risco do aparecimento de diabetes mellitus II em comparação com populações<br />
que não apresentam síndrome metabólica (7). Apesar de não fazer parte dos critérios<br />
diagnósticos da PCOS, a resistência insulínica (RI) com consequente hiperinsulinemia<br />
atua no centro da patogenia presente nas síndromes, eleva os riscos de desenvolvimento<br />
de doenças cardiovasculares e de síndrome metabólica, na SOP age direta e indiretamente<br />
através do estímulo da produção de androgênio pela glândula pituitária. (5; 7). Esta<br />
revisão tem como objetivo evidenciar cientificamente a correlação existente entre a<br />
presença de síndrome do ovário policístico e síndrome metabólica, descrevendo as<br />
principais alterações observadas e demonstrando a relação existente entre essas<br />
desordens.<br />
Metodologia<br />
O procedimento da pesquisa para revisão bibliográfica baseou-se na utilização de sites de<br />
busca de artigos, como Scielo, Pubmed, Google Acadêmico e Bireme, onde foram<br />
selecionados artigos que apresentassem as palavras chaves síndrome do ovário<br />
policístico, síndrome metabólica, bioquímica e resistência insulínica. Foram selecionados<br />
artigos com dados atualizados e que compreendessem o período de 2000 a 2015, escritos<br />
em português e inglês.<br />
Diagnóstico de Síndrome Metabólica<br />
Na literatura, existem diversos critérios diagnósticos para síndrome metabólica (SM), mas<br />
nem todos são bem aceitos pela comunidade científica. O primeiro critério sugerido pela<br />
Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçava a intolerância à glicose ou diabetes<br />
mellitus II, decorrente de resistência insulínica, como fatores principais para o<br />
diagnóstico da SM, acompanhados de pelo menos dois dos critérios a seguir: HAS,<br />
dislipidemia, obesidade ou microalbuminúria. Porém, o Grupo Europeu de Estudos sobre<br />
Resistência à Insulina alterou os critérios estabelecidos pela OMS, eliminando pacientes
diabéticos, mas passando a avaliar a hiperinsulinemia e a medição da circunferência<br />
abdominal, a fim de avaliar a obesidade.<br />
Em 2001, a Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) sugeriu<br />
uma nova definição para SM, que é fortemente questionada devido à imprecisão de seus<br />
critérios e pela baixa aplicabilidade em diferentes grupos étnicos. A NCEP sugere a<br />
presença de pelo menos três das seguintes alterações: circunferência abdominal maior que<br />
88 cm, glicose de jejum em níveis iguais ou superiores a 110 mg/dL, triglicerídeos iguais<br />
ou superiores a 150 mg/dL, HDL colesterol em níveis iguais ou inferiores a 50 mg/dL e<br />
pressão arterial de no mínimo 130/85 mmHg (7; 8). Posteriormente, foram aceitas duas<br />
novas definições para a SM, provenientes da OMS e da Europen Group for the Study of<br />
Insulin Resistance, que passaram a avaliar a resistência à insulina (RI) e tolerância à<br />
glicose, em vez de utilizar a dosagem de glicose em jejum, uma vez que os testes de RI a<br />
partir de metodologias complexas são mais específicos e os testes de tolerância à glicose<br />
são frequentemente realizados, porém esses critérios possuem melhor aplicabilidade na<br />
pesquisa, sendo menos utilizados na clínica.<br />
Atualmente, os critérios publicados pela International Diabetes Federation (IDF), com<br />
base em um consenso mundial, são os mais aceitos para o diagnóstico de SM, com boa<br />
aplicabilidade na prática clínica e diferenciação por grupos étnicos, apesar disso não<br />
possuem unanimidade (8). Segundo a IDF, o diagnóstico pode ser definido, pela presença<br />
de circunferência abdominal maior que 80 cm e pelo menos mais dois dos seguintes<br />
critérios: triglicerídeos em níveis iguais ou superiores a 150 mg/dL, HDL colesterol em<br />
níveis iguais ou inferiores a 50 mg/dL, pressão arterial acima de 130/85 mmHg e glicemia<br />
em níveis iguais ou superiores a 100 mg/dL. Devido à praticidade e simplicidade, a<br />
definição do NCEP é amplamente aceita e recomendada pela I Diretriz Brasileira de<br />
Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (7).<br />
Fatores associados à fisiopatologia da síndrome metabólica na síndrome do ovário<br />
policístico<br />
RESISTÊNCIA À INSULINA<br />
A resistência insulínica caracteriza-se pela diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação<br />
da insulina, gerando importantes implicações metabólicas. Na SOP, tem prevalência de<br />
50 a 70% e provoca deterioração da função das células beta do pâncreas, levando a
intolerância à glicose e causando uma hiperinsulinemia compensadora, que conduz a<br />
muitas das características presentes na SOP. (1; 9; 10). As mulheres obesas com SOP<br />
devem ser avaliadas quanto à presença de resistência à insulina, uma vez que quando<br />
presente contribui para características metabólicas, mas também às características<br />
reprodutivas, através do aumento da produção de andrógeno e dos níveis de andrógenos<br />
livres, diminuindo o nível de globulina ligadora de hormônios sexuais (11).<br />
Deve-se ainda pesquisar a ocorrência de outros agravos como hipertensão arterial,<br />
dislipidemia, obesidade central e intolerância à glicose, pois a ocorrência concomitante<br />
de todas estas alterações, associada a um quadro de resistência insulínica, compõe a<br />
síndrome metabólica, que cursa com importante aumento do risco de desenvolvimento de<br />
doenças cardiovasculares severas (12). Além disso, a presença concomitante de<br />
hiperinsulinemia e/ou hiperandrogenismo sustenta a patogenia envolvida na SOP. (11) A<br />
exata natureza dos mecanismos implicados nas alterações lipoprotéicas da síndrome de<br />
resistência insulínica não se encontra totalmente esclarecida, porém, a hiperinsulinemia<br />
tem papel central neste processo, visto que está implicada na modulação de enzimaschave<br />
do metabolismo lipídico. As condições que cursam com hiperinsulinemia, em<br />
geral, estão associadas a chamada tríade lipídica: aumento moderado de triglicerídeos,<br />
redução do HDL colesterol e presença de níveis aumentados de LDL colesterol.<br />
Nos adipócitos, a resistência insulínica causa aumento na liberação de ácidos graxos<br />
livres, enquanto no fígado determina menor supressão na síntese de VLDL. O resultado<br />
desse processo é a liberação de um excesso de grandes partículas de VLDL, ricas em<br />
triglicerídeos, que, por sua vez, geram uma cascata de eventos de troca que culminam<br />
com a redução nos níveis de HDL. Outras alterações, tais como a redução da ação da<br />
lipoproteíno-lipase e o aumento da ação da lipase hepática, são também necessárias para<br />
a completa expressão da tríade lipídica, contribuindo para a transformação de LDL em<br />
partículas de menor diâmetro e maior densidade, e ainda para a manutenção de um estado<br />
de lipemia pós-prandial, com a circulação de lipoproteínas remanescentes ricas em<br />
colesterol.<br />
Existem diversas técnicas para avaliar a resistência à insulina em pacientes com SOP,<br />
dentre elas, incluem-se: índice HOMA, medida da insulina em mUI/l x glicemia em<br />
mmol/dl, teste de intolerância oral à glicose, que consiste na administração de 75g de<br />
glicose e, faz-se a determinação da glicemia e insulina nos tempos 0, 30, 60 e 120<br />
minutos, teste de intolerância à glicose simplificado, no qual se faz a dosagem apenas nos
tempos 0 e 120 minutos e relação entre glicemia e insulina (G/I) de jejum, cujo valor<br />
considerado normal é menor que 4,5 (13).<br />
OBESIDADE<br />
A obesidade é considerada como importante determinante da hiperinsulinemia, parecendo<br />
ter um efeito independente, no risco de desenvolver a síndrome metabólica. Cerca de 50%<br />
das mulheres com SOP são obesas e a maioria apresenta distribuição de gordura tipo<br />
visceral ou abdominal que, por sua vez, está associada a um estado de resistência à<br />
insulina, hiperinsulinemia compensatória e hiperandrogenismo (3). A resistência à<br />
insulina acomete grande parte das mulheres portadoras da SOP. Embora, possa estar<br />
presente nas pacientes magras com SOP, a interação com a obesidade é um fator<br />
agravante de grande importância.<br />
Pacientes magras com SOP, quando comparadas a pacientes normais, apresentam<br />
sensibilidade à insulina reduzida, redução que é duas vezes maior em pacientes obesas.<br />
Além disso, essa interação confere às mulheres com SOP risco aumentado para o<br />
desenvolvimento de intolerância à glicose, diabetes mellitus II e doenças<br />
cardiovasculares. De fato, os estudos sugerem que aproximadamente 40% das mulheres<br />
portadoras da patologia apresentam intolerância à glicose, e que pelo menos 10%<br />
desenvolvem diabetes mellitus II por volta da sua quarta década de vida (14).<br />
Como o aumento do percentual de gordura e os fatores de risco para doenças crônicas não<br />
transmissíveis aumentam com o envelhecimento, torna-se preocupante o fato de mulheres<br />
jovens com SOP apresentarem tais alterações no perfil metabólico. Por isso, o papel do<br />
exercício físico e a importância da abordagem multidisciplinar têm sido explorados para<br />
modificações do estilo de vida.<br />
O exercício constitui-se num modulador positivo dos fatores de risco cardiovascular<br />
nessas mulheres, tornando-se sua prática elemento dispensável no planejamento<br />
terapêutico. Para que possam obter prognósticos favoráveis, as evidências atuais sugerem<br />
que a prática do exercício físico deve ser estimulada e mantida por longo prazo, uma vez<br />
que sua suspensão, mesmo que por curtos períodos, é capaz de gerar perdas relevantes,<br />
principalmente em relação aos aspectos metabólicos e cardiovasculares (15).<br />
Características e desordens da síndrome metabólica na síndrome do ovário<br />
policístico
HIPERANDROGENEMIA<br />
A abordagem diagnóstica recomendada para SOP inclui a dosagem dos andrógenos,<br />
avaliação das causas de hiperandrogenismo e avaliação adicional após o diagnóstico da<br />
síndrome, porém níveis elevados de andrógenos são encontrados em aproximadamente<br />
60 a 80% das pacientes com SOP (16; 17). A detecção de hiperandrogenemia irá depender<br />
da qualidade e tipo de ensaio usado e dos níveis da população controle, uma vez que há<br />
diferenças conforme a etnia da mulher (1). A testosterona plasmática é o principal<br />
andrógeno a ser dosado, níveis mais elevados de testosterona total vêm sendo reportado<br />
mais em mulheres obesas com SOP do que nas com peso normal (16; 18).<br />
O limite superior do normal de testosterona total em indivíduos do sexo feminino varia<br />
de 0,70 a 0,90 ng/mL. A maioria das mulheres com SOP apresenta valores inferiores a<br />
1,5 ng/mL. Níveis de testosterona total superior a 2 ng/mL são raros e sugerem a presença<br />
de um tumor virilizante. O doseamento da testosterona livre é uma medida mais sensível<br />
para detectar a presença de hiperandrogenismo, sendo cerca de 50% mais sensível que a<br />
testosterona total. A dehidroepiandrosterona é considerada um marcador de<br />
hiperandrogenismo de causa supra-renal, mas pode estar aumentada (superior a 8 µg/mL)<br />
em cerca de 50 a 75% de mulheres anovulatórias com SOP (16; 17). O excesso de<br />
andrógeno altera a relação de regulação dos hormônios femininos, resultando em níveis<br />
de estrógenos aumentados, irregularidade menstrual e infertilidade.<br />
As manifestações clínicas dermatológicas do hiperandrogenismo incluem: hirsutismo,<br />
acne, seborréia, alopecia e, nos casos mais graves, sinais de virilização (19). A acne e o<br />
hirsutismo geralmente se manifestam no período perimenarca, embora o hirsutismo possa<br />
aparecer mais tardiamente, uma vez que depende do tempo de exposição prévia aos<br />
androgênios (20). A ocorrência de desordens metabólicas e marcadores de risco<br />
cardiovascular em mulheres com hirsutismo tem se correlacionado com a severidade da<br />
hiperandrogenemia. Por esta razão, muitos autores tem reforçado a avaliação da<br />
hiperandrogenemia como um importante dado de SOP a ser avaliado (21).<br />
DISLIPIDEMIA E DETECÇÃO <strong>DO</strong> RISCO CARDIOVASCULAR<br />
A dislipidemia é uma anomalia metabólica muito comum nas mulheres com SOP,<br />
podendo atingir até 70% das pacientes. O perfil lipídico caracteriza-se habitualmente por
uma diminuição dos níveis de HDL colesterol e/ou elevação dos níveis de triglicerídeos/<br />
LDL colesterol (18). Essas alterações podem estar relacionadas com os efeitos da<br />
resistência à insulina e hiperandrogenismo, combinados com fatores ambientais como<br />
dietas e prática de atividade física (16).<br />
A dislipidemia está associada à obesidade e é um dos fatores que acarreta maior<br />
morbilidade cardiometabólica, devido ao aumento da aterogênese, resistência à insulina,<br />
estresse oxidativo, atividade pró-inflamatória e hiperatividade plaquetária (18). A<br />
hipertensão arterial, habitual na SOP, pode ser atribuída à hiperinsulinemia a partir de<br />
múltiplos mecanismos fisiopatológicos: aumento da volemia, redução da excreção renal<br />
de sódio e água, menor vasodilatação resultante da depleção de óxido nítrico e disfunções<br />
relacionadas à alteração do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Desta forma,<br />
mulheres com SOP apresentam mais predisposição à doença cardiovascular (22). As<br />
variáveis referentes ao perfil lipídico (colesterol total, LDL colesterol, HDL colesterol e<br />
triglicerídeos) apresentaram taxas elevadas, um achado que pode contribuir para o maior<br />
risco de desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV) (4).<br />
É comum mulheres com diagnóstico de SOP apresentarem resistência insulínica (RI),<br />
obesidade abdominal, disfunção endotelial, dislipidemia, hipertrigliceridemia, e<br />
diminuição da lipoproteína de alta densidade, hipertensão, diabetes mellitus II e síndrome<br />
metabólica, sendo todos estes importantes fatores de risco cardiovascular. Ademais, a<br />
utilização de indicadores antropométricos para a detecção do risco cardiovascular em<br />
portadoras de SOP é muito simples e prático. A circunferência da cintura (CC), relação<br />
cintura-quadril (RCQ) e relação cintura-estatura (RCEST) são os indicadores mais<br />
explorados e têm demonstrado bom desempenho no rastreamento do risco cardiovascular.<br />
Estudos demonstraram que a RCEST foi o melhor indicador para discriminar a<br />
hipertensão arterial, diabetes mellitus II e dislipidemia, além disso, foi caracterizado<br />
como o indicador mais bem correlacionado com o risco cardiovascular, assim como a CC<br />
e RCQ também apresentaram (16).<br />
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTEMICA<br />
A associação entre a HAS e a SOP ainda não está completamente esclarecida, embora a<br />
alteração dos níveis pressóricos já esteja englobada no contexto das manifestações da SM<br />
e possa ser relacionada com os distúrbios metabólicos comumente encontrados nessa<br />
população, há uma carência de estudos no que diz respeito à prevalência de níveis
pressóricos alterados em mulheres brasileiras com SOP e os fatores de risco<br />
cardiovasculares associados a essa condição (23).<br />
Contudo, essas pacientes tendem a apresentar um aumento da pressão arterial<br />
independente da sensibilidade à insulina, representando um estado pré-hipertensivo,<br />
indicando a presença de HAS em algum momento posterior e redução do comprimento<br />
vascular. Ademais, mulheres com SOP na pós-menopausa apresentam 2,5 vezes mais<br />
chances de HAS em comparação com mulheres controle (7). Fica evidente então que a<br />
investigação dessa problemática pode contribuir para o preenchimento de lacunas<br />
científicas em relação ao risco cardiovascular em pacientes com SOP, fornecendo<br />
embasamento para a prevenção e o diagnóstico precoce da HAS nessa parcela específica<br />
da população feminina (23).<br />
DISFUNÇÕES <strong>DO</strong> SISTEMA REPRODUTOR<br />
A menstruação irregular é a principal causa da ida das pacientes com SOP ao<br />
ginecologista e ocorre devido à presença anovulação ou oligovulação crônica, gerando<br />
uma irregularidade denominada de amenorréia ou oligomenorréia, que afeta entre 70 e<br />
80% das mulheres com SOP. As disfunções abrangem também, com menor frequência,<br />
sangramento uterino disfuncional e infertilidade (11). A anovulação crônica em mulheres<br />
com SOP é caracterizada pela alteração e inversão dos hormônios LH e FSH, (altas<br />
concentrações plasmáticas de LH associadas a concentrações normais ou reduzidas de<br />
FSH) (22).<br />
A presença de sangramento disfuncional ocorre devido a constante exposição do<br />
endométrio ao estrogênio, ocasionando um crescimento descontrolado que supera a<br />
capacidade de fornecimento de sangue, resultando em sangramento intenso,<br />
frequentemente confundido com período menstrual. (24). A SOP é a causa mais comum<br />
de infertilidade anovulatória, sendo responsável por 90 a 95% dos casos de infertilidade<br />
feminina presentes em clínicas de fertilização, porém cerca de 60% das mulheres com<br />
SOP são férteis. Do total de mulheres que possuem infertilidade juntamente com SOP,<br />
cerca de 90% estão acima do peso. A obesidade atua agravando de forma independente a<br />
infertilidade, reduzindo a eficácia do tratamento e induzindo a um risco aumentado de<br />
aborto (11).<br />
Os anticoncepcionais combinados são empregados em pacientes com anovulação ou com<br />
hiperandrogenismo, pois os estrogênios diminuem os níveis androgênicos circulantes ao
incrementar os níveis séricos de globulina ligadora de hormônios sexuais e diminuir a<br />
atividade da 5α-redutase. Contudo, as mulheres com SOP e SM têm alta prevalência de<br />
aterosclerose subclínica, refletindo na desregulação da função endotelial, bem como em<br />
anomalias na coagulação e no sistema fibrinolítico, aumentando o risco de fenômenos<br />
tromboembólicos. Por essa razão, alguns autores acreditam que a escolha de<br />
anticoncepcionais combinados representa um desafio para o clínico (25).<br />
ALTERAÇÃO NO METABOLISMO DA GLICOSE<br />
Mulheres com SOP apresentam elevado risco de desenvolvimento de anormalidades no<br />
metabolismo da glicose quando jovens, demonstrando uma conversão rápida para<br />
alterações na glicose em jejum e na tolerância à glicose, assim como para diabetes<br />
mellitus II (DM2) (7; 11). Estudos clínicos demonstram que cerca de 31 a 35% de<br />
pacientes com SOP possuem tolerância à glicose alterada e cerca de 7,5 a 10% apresentam<br />
DM2. Ademais, a SOP eleva de 5 a 10 vezes a chance de haver uma conversão da<br />
intolerância à glicose para DM2.<br />
A oligomenorréia atua como marcador substituto altamente preditivo para SOP e quando<br />
presente eleva a taxa de conversão para DM2 em duas vezes em comparação com<br />
pacientes que apresentam eumenorréia, independente da massa corporal, indicando que a<br />
oligomenorréia é um fator preditivo a parte para o desenvolvimento de DM2. Um estudo<br />
retrospectivo revelou que 27% de mulheres na pré-menopausa com DM2 tem SOP e que<br />
82% possuem ovário policístico (7). A IDF identificou a SOP como fator significativo<br />
não modificável associado a DM2. A tolerância à glicose alterada também é um fator<br />
preditivo para DM2, assim como para mortalidade de doenças cardiovasculares em<br />
mulheres com SOP (11).<br />
CONSEQUÊNCIAS NA GESTAÇÃO<br />
A SOP apresenta excesso de androgênio e hiperinsulinemia na gestação, fatores que<br />
afetam de uma forma adversa o período gestacional. Há risco elevado para presença de<br />
pré-eclampsia, dado o IMC elevado na presença de SOP e a alta taxa de gestações<br />
múltiplas, consequentes de tratamentos de fertilidade realizados pela paciente. (1).<br />
Entretanto, pacientes com gravidez única, assim como gestantes de múltiplos, apresentam
isco aumentado de diabetes mellitus gestacional (DMG), além de hipertensão induzida<br />
pela gestação e parto prematuro (1).<br />
A DMG possui prevalência de 0,2 a 20%, variando conforme o método de rastreio, idade<br />
gestacional e população de estudo, é definida como a redução da tolerância à glicose<br />
induzida pela gravidez, possivelmente como consequência de alterações fisiológicas no<br />
metabolismo da glicose (2). O descontrole da DMG leva a efeitos na mãe e no feto,<br />
podendo provocar macrosomia, presença de natimorto ou traumas no parto. As<br />
semelhanças entre a SOP e a DMG deixa clara a relação existente entre as patologias,<br />
alguns estudos demonstram a associação de SOP com DMG e resistência à insulina,<br />
deixando claro que atua de forma independente no desenvolvimento de DMG. Porém,<br />
outros estudos alegam que não há relação entre DMG e mulheres com SOP, uma vez que<br />
a prevalência não é elevada. (2)<br />
Considerações Finais<br />
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma desordem endócrino-metabólica<br />
frequente, que acomete mulheres em idade reprodutiva (3). A SOP apresenta fatores de<br />
risco para desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV), tais como resistência à<br />
insulina, dislipidemia, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, disfunção<br />
endotelial, obesidade central e marcadores pró-inflamatórios crônicos. Dessa forma,<br />
mulheres com SOP apresentam maior tendência para o desenvolvimento precoce de<br />
distúrbios clínicos desfavoráveis, como a síndrome metabólica (SM) (15). A SM não<br />
possui fisiopatologia esclarecida, mas a maioria dos estudos indica uma associação de<br />
fatores, estes envolvidos também na patogenia da SOP, são eles: resistência à insulina,<br />
obesidade e anormalidades vasculares e de coagulação (7). Visto a alta prevalência de<br />
SM em mulheres com SOP, principalmente na presença de resistência à insulina. É<br />
necessária uma triagem dessas pacientes, além disso, seus tratamentos devem abranger as<br />
complicadas inter-relacionais existentes com a dislipidemia, obesidade, resistência à<br />
insulina, síndrome metabólica e parâmetros hormonais, minimizando ao máximo o risco<br />
para o desenvolvimento de patologias de difícil manejo como a DM2, intolerância à<br />
glicose e DCV (1; 5).<br />
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