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edição de 18 de março de 2019

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Marketing & negócios<br />

AntonioGuillen/iStock<br />

Miopia, arapucas e<br />

coelhos da Páscoa<br />

Todos os dias nos damos<br />

conta do fenômeno da miopia<br />

em marketing e publicida<strong>de</strong><br />

Rafael Sampaio<br />

conceito <strong>de</strong> miopia é evi<strong>de</strong>ntemente<br />

O emprestado do artigo sobre miopia em<br />

marketing, <strong>de</strong> Ted Levitt, escrito em 1975<br />

para a Harvard Business Review, que se<br />

tornou um clássico entre os textos e concepções<br />

analíticas <strong>de</strong> nosso setor.<br />

A miopia no setor publicitário acontece<br />

em diferentes graus e ângulos, daqueles relacionados<br />

em aspectos aparentemente diferentes,<br />

mas na essência muito parecidos<br />

como acreditar que tudo que é tradicional<br />

está superado e tudo que é novo funciona<br />

melhor; que é possível usar in<strong>de</strong>finidamente<br />

a mesma abordagem, instrumento<br />

ou campanha, sem nenhuma atualização;<br />

que o simples fato <strong>de</strong> empregar uma novida<strong>de</strong><br />

pela primeira vez em uma categoria<br />

ou mercado é suficiente para se alcançar o<br />

sucesso; que uma mensagem excepcionalmente<br />

boa compensa um produto <strong>de</strong>ficiente<br />

ou um produto fantástico dispensa comunicação;<br />

que o fato <strong>de</strong> uma sacada inteligente<br />

que <strong>de</strong>u certo para uma campanha<br />

restrita a um público focado e uma marca<br />

<strong>de</strong> nicho vai dar certo para qualquer esforço,<br />

target e negócio; e assim por diante.<br />

Todos os dias nos damos conta do fenômeno<br />

da miopia em marketing e publicida<strong>de</strong>,<br />

inclusive na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uma excepcional<br />

ação <strong>de</strong> marketing é tão forte que po<strong>de</strong><br />

existir sem investimentos publicitários ou<br />

que gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> farão<br />

acontecer um plano <strong>de</strong> marketing medíocre.<br />

Outro problema recorrente é que esses<br />

pensamentos, atitu<strong>de</strong>s e ações míopes acabam<br />

sendo os principais responsáveis pela<br />

armação <strong>de</strong> arapucas pelos próprios marqueteiros<br />

ou publicitários, seja em relação<br />

a seus concorrentes, clientes ou superiores.<br />

A realida<strong>de</strong> é que parte importante - talvez<br />

a maior parte - das arapucas nas quais<br />

nos metemos em nosso dia a dia profissional<br />

é autoconstruída ou se aproveitou <strong>de</strong><br />

nossa contribuição, voluntária ou involuntária,<br />

para ser estruturada.<br />

E <strong>de</strong>pois, quando somos capturados<br />

pelo fracasso, ten<strong>de</strong>mos a culpar, exclusivamente,<br />

os outros por isso: o mercado, a<br />

crise, a concorrência predatória, os consumidores<br />

ultrapassados, os preços, nossos<br />

chefes, clientes, colegas e fornecedores,<br />

além do gran<strong>de</strong> azar que tivemos e assim<br />

por diante.<br />

Finalmente temos a questão <strong>de</strong> continuar<br />

acreditando em coelhinhos da Páscoa,<br />

Papais Noéis, duen<strong>de</strong>s irlan<strong>de</strong>ses, fadas<br />

madrinhas, gênios <strong>de</strong> garrafas e toda<br />

a sorte <strong>de</strong> elementos mágicos que vão nos<br />

socorrer a dar um jeito <strong>de</strong> que coisas mal<br />

feitas, tortas, pobres e burras darão magicamente<br />

certo.<br />

No fundo, todos dos setores <strong>de</strong> negócios,<br />

marketing e publicida<strong>de</strong> sabem que<br />

produto ou serviço sem comunicação não<br />

rola; que marcas com atitu<strong>de</strong>s esquizofrênicas<br />

não se fortalecem ou perduram; que<br />

mensagens bobas ou mal produzidas não<br />

conquistam corações, mentes e bolsos; que<br />

o barato funciona pouco ou acaba saindo<br />

caro; que fazer as coisas com pressa e sem<br />

planejamento vai elevar os custos e reduzir<br />

os retornos; que mentir ou ser preconceituoso<br />

é como dar um tiro no pé; que a gran<strong>de</strong><br />

massa dos consumidores não vai criar nem<br />

espalhar as mensagens da marca; que as<br />

mídias sem mensuração in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte estarão<br />

mentindo sobre seus números; que<br />

as agências que nunca fizeram uma gran<strong>de</strong><br />

campanha provavelmente vão continuar<br />

fazendo publicida<strong>de</strong> medíocre.<br />

Ao combinar perigosamente a miopia<br />

com o pouco cuidado em relação às arapucas<br />

e à crença <strong>de</strong> que haverá algum passe<br />

<strong>de</strong> mágica milagroso nós estamos dando<br />

muita moleza para o azar e o fracasso que<br />

vem correndo atrás <strong>de</strong>le. Como diria Geraldo<br />

Vandré, em outra circunstância e com<br />

outro objetivo, mas que serve como uma<br />

luva para o marketing e publicida<strong>de</strong> atuais,<br />

“quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.<br />

E, infelizmente, o que mais tem é gente<br />

que espera acontecer.<br />

Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />

rafael.sampaio@uol.com.br<br />

32 <strong>18</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark

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