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Marketing & negócios<br />
AntonioGuillen/iStock<br />
Miopia, arapucas e<br />
coelhos da Páscoa<br />
Todos os dias nos damos<br />
conta do fenômeno da miopia<br />
em marketing e publicida<strong>de</strong><br />
Rafael Sampaio<br />
conceito <strong>de</strong> miopia é evi<strong>de</strong>ntemente<br />
O emprestado do artigo sobre miopia em<br />
marketing, <strong>de</strong> Ted Levitt, escrito em 1975<br />
para a Harvard Business Review, que se<br />
tornou um clássico entre os textos e concepções<br />
analíticas <strong>de</strong> nosso setor.<br />
A miopia no setor publicitário acontece<br />
em diferentes graus e ângulos, daqueles relacionados<br />
em aspectos aparentemente diferentes,<br />
mas na essência muito parecidos<br />
como acreditar que tudo que é tradicional<br />
está superado e tudo que é novo funciona<br />
melhor; que é possível usar in<strong>de</strong>finidamente<br />
a mesma abordagem, instrumento<br />
ou campanha, sem nenhuma atualização;<br />
que o simples fato <strong>de</strong> empregar uma novida<strong>de</strong><br />
pela primeira vez em uma categoria<br />
ou mercado é suficiente para se alcançar o<br />
sucesso; que uma mensagem excepcionalmente<br />
boa compensa um produto <strong>de</strong>ficiente<br />
ou um produto fantástico dispensa comunicação;<br />
que o fato <strong>de</strong> uma sacada inteligente<br />
que <strong>de</strong>u certo para uma campanha<br />
restrita a um público focado e uma marca<br />
<strong>de</strong> nicho vai dar certo para qualquer esforço,<br />
target e negócio; e assim por diante.<br />
Todos os dias nos damos conta do fenômeno<br />
da miopia em marketing e publicida<strong>de</strong>,<br />
inclusive na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uma excepcional<br />
ação <strong>de</strong> marketing é tão forte que po<strong>de</strong><br />
existir sem investimentos publicitários ou<br />
que gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> farão<br />
acontecer um plano <strong>de</strong> marketing medíocre.<br />
Outro problema recorrente é que esses<br />
pensamentos, atitu<strong>de</strong>s e ações míopes acabam<br />
sendo os principais responsáveis pela<br />
armação <strong>de</strong> arapucas pelos próprios marqueteiros<br />
ou publicitários, seja em relação<br />
a seus concorrentes, clientes ou superiores.<br />
A realida<strong>de</strong> é que parte importante - talvez<br />
a maior parte - das arapucas nas quais<br />
nos metemos em nosso dia a dia profissional<br />
é autoconstruída ou se aproveitou <strong>de</strong><br />
nossa contribuição, voluntária ou involuntária,<br />
para ser estruturada.<br />
E <strong>de</strong>pois, quando somos capturados<br />
pelo fracasso, ten<strong>de</strong>mos a culpar, exclusivamente,<br />
os outros por isso: o mercado, a<br />
crise, a concorrência predatória, os consumidores<br />
ultrapassados, os preços, nossos<br />
chefes, clientes, colegas e fornecedores,<br />
além do gran<strong>de</strong> azar que tivemos e assim<br />
por diante.<br />
Finalmente temos a questão <strong>de</strong> continuar<br />
acreditando em coelhinhos da Páscoa,<br />
Papais Noéis, duen<strong>de</strong>s irlan<strong>de</strong>ses, fadas<br />
madrinhas, gênios <strong>de</strong> garrafas e toda<br />
a sorte <strong>de</strong> elementos mágicos que vão nos<br />
socorrer a dar um jeito <strong>de</strong> que coisas mal<br />
feitas, tortas, pobres e burras darão magicamente<br />
certo.<br />
No fundo, todos dos setores <strong>de</strong> negócios,<br />
marketing e publicida<strong>de</strong> sabem que<br />
produto ou serviço sem comunicação não<br />
rola; que marcas com atitu<strong>de</strong>s esquizofrênicas<br />
não se fortalecem ou perduram; que<br />
mensagens bobas ou mal produzidas não<br />
conquistam corações, mentes e bolsos; que<br />
o barato funciona pouco ou acaba saindo<br />
caro; que fazer as coisas com pressa e sem<br />
planejamento vai elevar os custos e reduzir<br />
os retornos; que mentir ou ser preconceituoso<br />
é como dar um tiro no pé; que a gran<strong>de</strong><br />
massa dos consumidores não vai criar nem<br />
espalhar as mensagens da marca; que as<br />
mídias sem mensuração in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte estarão<br />
mentindo sobre seus números; que<br />
as agências que nunca fizeram uma gran<strong>de</strong><br />
campanha provavelmente vão continuar<br />
fazendo publicida<strong>de</strong> medíocre.<br />
Ao combinar perigosamente a miopia<br />
com o pouco cuidado em relação às arapucas<br />
e à crença <strong>de</strong> que haverá algum passe<br />
<strong>de</strong> mágica milagroso nós estamos dando<br />
muita moleza para o azar e o fracasso que<br />
vem correndo atrás <strong>de</strong>le. Como diria Geraldo<br />
Vandré, em outra circunstância e com<br />
outro objetivo, mas que serve como uma<br />
luva para o marketing e publicida<strong>de</strong> atuais,<br />
“quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.<br />
E, infelizmente, o que mais tem é gente<br />
que espera acontecer.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
32 <strong>18</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark